ARTIGO - DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO À EMPREENDEDOR DE SUCESSO - CONFRONTAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA

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DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO À EMPREENDEDOR DE SUCESSO – CONFRONTAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA Leandro Luiz de Oliveira 1 Nivaldo Manoel Vicente 2 RESUMO Este trabalho tem por finalidade estudar a passagem de um funcionário público, por dezessete anos, para empreendedor de seu próprio negócio. Por meio de entrevista estruturada, o referido estudo de caso buscará a confrontação entre aspectos relevantes contidos na literatura sobre empreendedorismo e a realidade dos passos práticos seguidos no dia a dia, durante dezessete anos, que levaram o funcionário público a um empreendedor de sucesso. Palavras-chave: Empreendedor. Gerente empreendedor. Ex-funcionário. 1 Pós-graduando do Curso de Especialização em Desenvolvimento Gerencial/2008. Universidade Federal de Santa Catarina. Rua Izidoro Braz da Silva, 240 – Itacorobi – Florianópolis/SC – CEP 88034-166 – [email protected] 2 Pós-graduando do Curso de Especialização em Desenvolvimento Gerencial/2008. Universidade Federal de Santa Catarina. Av. Pequeno Principe, 710 – Campeche – Florianópolis/SC – CEP 88063-000 – [email protected]

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DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO À EMPREENDEDOR DE SUCESSO –

CONFRONTAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA

Leandro Luiz de Oliveira1

Nivaldo Manoel Vicente2

RESUMO

Este trabalho tem por finalidade estudar a passagem de um funcionário público, por

dezessete anos, para empreendedor de seu próprio negócio.

Por meio de entrevista estruturada, o referido estudo de caso buscará a confrontação

entre aspectos relevantes contidos na literatura sobre empreendedorismo e a realidade

dos passos práticos seguidos no dia a dia, durante dezessete anos, que levaram o

funcionário público a um empreendedor de sucesso.

Palavras-chave: Empreendedor. Gerente empreendedor. Ex-funcionário. 1 Pós-graduando do Curso de Especialização em Desenvolvimento Gerencial/2008. Universidade Federal de Santa Catarina. Rua Izidoro Braz da Silva, 240 – Itacorobi – Florianópolis/SC – CEP 88034-166 – [email protected] 2 Pós-graduando do Curso de Especialização em Desenvolvimento Gerencial/2008. Universidade Federal de Santa Catarina. Av. Pequeno Principe, 710 – Campeche – Florianópolis/SC – CEP 88063-000 – [email protected]

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ABSTRAT

This paper has the pourpose of to study the transistion of a Public Service's employee

for seventeen years to starting his own business as an entrepreneur.

Throughout an structured interview, this case study, will search que facing between

relevant aspects, present in reference books about entrepreneurship and the reality of

day-by-day activities, during this period of seventeen years before he became an

successful entrepreneur.

Keywords: Entrepreneur. Entrepreneur manager. Former employee.

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1 INTRODUÇÃO

Ultimamente, após trinta e cinco anos de menosprezo ao mercado de produção

da classe média, ou seja, a de pequeno e médio porte, algumas das instituições

americanas tradicionais de serviços de produção ou fábrica começaram a aceitar sua

existência e importância. Entretanto, hoje se tornaram inovadoras novamente, pois até

os anos de 1880 existiam várias pequenas oficinas que empregavam no máximo vinte a

vinte cinco pessoas e eram vistas com respeito, porém com a industrialização essas

pequenas empresas foram sufocadas (DRUCKER, 2002 a).

A partir do século XX aconteceram várias transformações no mundo em curtos

períodos de tempo, principalmente no que se refere às invenções que revolucionaram o

estilo de vida das pessoas. Por traz dessas invenções, existem pessoas ou equipes de

pessoas com características especiais que são visionárias, questionam, arriscam, querem

algo diferente, fazem acontecer e empreendem; hoje denominadas pessoas

empreendedoras. Assim, uma vez que os empreendedores estão revolucionando o

mundo, seu comportamento e o próprio processo empreendedor devem ser estudados e

entendidos.

Em consonância com o exposto acima e na tentativa de encontrar argumentos

para tal premissa, realizou-se uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratória, em uma

empresa do segmento de fabricação e comércio de produtos para laboratório, tendo em

vista que o fundador-proprietário e ex-funcionário público era técnico de fabricação de

produtos para laboratório. Assim, justifica-se uma análise das relações entre técnico de

produção de material de laboratório na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

para empreendedor do mesmo produto.

Nesta linha, o presente trabalho tem por objetivo buscar resposta; por meio de

entrevista estruturada (17 perguntas); para as decisões tomadas por um ex-servidor

público que o levaram a ser um empreendedor de sucesso.

Este artigo encontra-se dividido em: referencial teórico, por meio do qual se

explica o assunto em questão; metodologia, em que são destacados os principais

aspectos referentes ao método de pesquisa; identificação do entrevistado, cujos

resultados da pesquisa e o comentário justificam-se no embasamento teórico; e por fim,

a conclusão.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Apresenta-se inicialmente uma síntese sobre o conceito de empreendedor,

gerente-empreendedor, ex-funcionário para empreendedor e, finalmente, técnico e

empreendedor.

2.1 EMPREENDEDOR

Empreendedor palavra de origem francesa (entrepreneur) “que quer dizer

aquele que assume riscos e começa algo novo” (DORNELAS, 2005, p. 29). O primeiro

uso do termo empreendedorismo pode ser creditado a Marco Pólo, que assinou um

contrato com um capitalista (naquela época “homem de dinheiro”) para vender suas

mercadorias na rota comercial para o Oriente. Marco Pólo, o aventureiro empreendedor,

assumia papel ativo, correndo riscos físicos e emocionais, enquanto o capitalista era

alguém que assumia risco de forma passiva. Mas na Idade Média o empreendedor não

assumia grandes riscos, apenas gerenciava os projetos, utilizando os recursos do

governo. No século XVII, Richard Cantillon, importante escritor e economista, “é

considerado por muitos como um dos criadores do termo empreendedorismo, tendo sido

um dos primeiros a diferenciar o empreendedor – aquele que assumia riscos – daquele

que fornecia o capital”. (DORNELAS, 2005, p. 30).

Finalmente, no século XVIII, foi definida a diferença entre capitalista e

empreendedor, certamente pelo início da industrialização que ocorria no mundo.

Entretanto, no final do século XIX até os dias atuais os empreendedores são

freqüentemente confundidos com gerentes ou administradores. Para Kotler (2001), o

empreendedor é um administrador, mas com diferenças consideráveis em relação aos

gerentes ou executivos de organizações tradicionais, pois os empreendedores são mais

visionários que os gerentes.

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Segundo Drucker (2002 b, p. 37),

O empreendedor, por definição, transfere recursos de áreas de baixa produtividade e rendimento para áreas de produtividade e rendimento mais elevados. Naturalmente existem os riscos de o empreendedor não ser bem- sucedido. Porém, se ele pelo menos for moderadamente bem-sucedido, os retornos devem ser mais que suficientes para compensar qualquer risco que possa haver.

O bom empreendedor utiliza seu capital intelectual para criar valor para a

sociedade, com a geração de empregos, dinamizando a economia e inovando sempre sua

criatividade em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas. Desta forma, suas

principais características são: visionários, indivíduos que fazem a diferença,

determinados e dinâmicos, dedicados, otimistas e apaixonados pelo que fazem,

independentes e constroem o próprio destino, líderes e formadores de equipes, bem

relacionados, organizados, sabem fazer planejamentos, assumem riscos calculados,

possuem conhecimento, ficam ricos, sabem tomar decisões, sabem explorar ao máximo

as oportunidades e, por fim, criam valor para a sociedade (KOTLER, 2001).

Existem diversas definições para empreendedor como descreve Drucker

(2002): é aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva em

um ambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades, na ordem presente.

Para Degen (1989), é aquele que cria novos negócios, mas pode também inovar dentro

de empresa já constituída. Desta forma, o empreendedor tem pelo menos três aspectos:

iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz; utiliza o recurso disponível

de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico onde vive; aceita

assumir os riscos calculados e a possibilidade de fracassar. Portanto, o empreendedor é

aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ela,

assumindo risco calculado.

2.2 GERENTE-EMPREENDEDOR

Gerente-empreendedor, palavra de origem inglesa (intrapreneur), que é aquele

que executa coisas, que faz acontecer baseado na sua capacidade de realização. Em

outras palavras, faz acontecer e realiza no prazo e não espera que as coisas sejam

simplesmente encaminhadas, ele tem a capacidade de fazer acontecer em tempo e hora.

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Suas principais características são: iniciativa; capacidade de fazer; capacidade de

realização; confiabilidade; e ética (KOTLER, 1982).

Nesse mundo globalizado de hoje, competitivo e muito pressionado pelas

organizações nos aspectos interno, cada vez mais procuram-se pessoas para dar

respostas aos problemas internos. A aclamação é de características de empreendedor, ou

seja, gerente-empreendedor, nesse caso este indivíduo não necessariamente terá que ser

“um gerente”, esse indivíduo poderá estar como presidente, diretor, supervisor, enfim o

cargo que ele ocupa é o que menos interessa, o importante é que ele está ali fazendo as

coisas acontecerem (KOTLER, 2001).

O gerente-empreendedor difere dos outros gerentes pela sua motivação. Degen

(1989) afirma que são precisamente aqueles com alta necessidade de realização, que são

sensíveis a mudanças ambientais com relação às oportunidades econômicas, e descreve

o empreendedor, fundamentalmente, por sua estrutura motivacional. Desta forma, a

motivação de realização e características comportamentais são os fatores essenciais para

o crescimento econômico dos indivíduos e são a explicação para a aparente indiferença

de muitos e a sensibilidade de poucos para oportunidades econômicas do ambiente.

No Brasil, tem-se tornado cada vez mais freqüente a ocorrência de eventos que situam como objeto central para discussão o tema pequenas e médias empresas. Ao mesmo tempo, verifica-se que esta preocupação não se tem restringido somente ao âmbito regional ou nacional, mas tem sido ampliada por todo o mundo. (SEBRAE, 2007).

Segundo Kotler (1982, p. 19), “gerentes, empreendedores, microempresários e

empresários são palavras que podem significar a mesma coisa”, sendo que a “mente

empreendedora se ocupa de questões substancialmente diferentes” e permeia as demais

quando promove: a construção de uma grande companhia; reconhece o crescimento

como antídoto do fracasso; busca a inovação constantemente; tem o foco na

oportunidade; é visionário; gosta de mudanças e riscos; persegue o desenvolvimento

contínuo de habilidades e o sucesso é situação freqüente na sua carreira.

Outra abordagem relevante ao estudo de Kotler (1982) refere-se às

características dos gerentes gerais, que procuram mostrar o que os gerentes eficientes

realmente fazem. Esses gerentes-empreendedores criam e modificam agendas, incluindo

metas e planos para sua organização e desenvolvem redes de relacionamentos

cooperativos para implementá-los. Em sua maioria, esses gerentes são ambiciosos,

buscam o poder, são especializados, têm temperamento imparcial e muito otimismo.

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Portanto, existe também o gerente-empreendedor e empreendedor-gerente: o

primeiro é um típico empreendedor corporativo, que atua na sua organização de forma

criativa, inovando seus processos e desenvolvendo projetos audaciosos e promissores; o

segundo, pode muito bem ser um empreendedor start up, que já possui seu negócio

estável e precisa adotar práticas organizacionais, como implantar departamentos e criar

processos burocráticos, para depois gerir com todas as ferramentas que a ciência

administrativa dispõe (KOTLER, 2001).

2.3 EX-FUNCIONÁRIO PARA EMPREENDEDOR

Os estudos científicos que analisam o comportamento empreendedor procuram

dimensionar comportamentos, ações e atitudes que o diferenciem do ser humano

“normal”, estruturando características pessoais de sucesso que norteiam aqueles que

desejam trabalhar por conta própria. É cada vez crescente o número de estudos e

pesquisas realizadas na tentativa de entender as forças psicológicas e sociológicas que

movem o empreendedor de sucesso. Cada pesquisador, usando uma lógica e uma

metodologia estabelecida em seus próprios campos, tem direcionado esforços

significativos na identificação das características empreendedoras (SEBRAE, 2007).

Segundo SEBRAE (2007), pessoas que abrem negócios também são ex-

funcionários de companhias públicas ou privadas com o objetivo de buscar fazer algo

que não rompa de vez com sua atual área de atuação, daí abrir seu próprio negócio,

tornando-se empreendedor de seu próprio negócio. Um empreendedor deve sempre

estar procurando maneiras de fazer as coisas melhor. Com o constante aumento do

desemprego, muitos ex-funcionários buscam trabalho na área informal e muitas das

vezes sem nem perceberem tornam-se um grandes empreendedores.

Dornelas (2005, p. 66) afirma que “as barreiras de entrada para novos

competidores e até para os competidores atuais constituem uma grande vantagem

competitiva que a empresa deve saber aproveitar.” Entretanto, esse autor faz a seguinte

observação ao funcionário empreendedor que queira ser autônomo, ou seja,

proprietário-empreendedor:

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Algumas perguntas cabem nesse caso: você está disposto a largar o emprego atual para encarar o desafio, mesmo sabendo que pode ficar anos sem receber uma remuneração compatível com que recebia antes, os mesmos benefícios e regalias? Essa é a oportunidade de sua vida? Você se vê trabalhando nesse ramo de negócio e explorando essa oportunidade daqui a cinco, dez, ou 15 anos? Sua família o apóia nessa iniciativa? Você está disposto a se desfazer de bens pessoais para investir nessa idéia? Você conhece pessoas que fizeram algo semelhante e já foi conversar com elas a respeito? [...]. Enfim, procure evitar que o entusiasmo sobressaia em relação à análise crítica do negócio. Caso as análises anteriores sejam positivas, procure entender o que diz o seu feeling e de seu conselheiro, caso possua um, a respeito do assunto.

Nesse sentido é interessante conceituar a origem do termo empreendedorismo,

pois é uma livre tradução que se faz da palavra entrepreneurship, designando uma área

de grande abrangência e que trata de outros temas, além da criação de empresas:

� geração de auto-emprego (trabalhador autônomo); � empreendedorismo comunitário (como as comunidades empreendem); � intra-empreendedorismo (o empregado empreendedor); � políticas públicas (políticas governamentais para o setor); � um indivíduo que cria uma empresa, qualquer que seja ela; � pessoa que compra uma empresa e introduz inovações, assumindo riscos, seja na forma de administrar, vender, fabricar, distribuir, seja na forma de fazer propaganda dos seus produtos e/ou serviços, agregando novos valores; � empregado que introduz inovações em uma organização, provocando o surgimento de valores adicionais. (DOLABELA, 1999, p. 29).

. Dolabela (1999) constatou que o empreendedorismo é um fenômeno cultural,

ou seja, é fruto dos hábitos, práticas e valores das pessoas. Existem campos de estudos

sobre o tema; no entanto, sem grandes avanços ao consenso sobre a palavra

empreendedorismo. Uns atribuem aos empreendedores as características de criatividade,

persistência, internalidade e liderança, outros tendem a concordar que os

empreendedores estão associados à inovação e são vistos como forças direcionadoras de

desenvolvimento.

Portanto, segundo Kotler (2001), o empreendedor é aquele que faz acontecer

baseado na sua capacidade de realização com motivação e segurança. Para prever o

sucesso de um empreendedor são levados em conta dois valores: a diversidade e a

profundidade da experiência e das qualificações adquiridas por ele no setor em que

pretende atuar.

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2.4 TÉCNICO E EMPREENDEDOR

Vale destacar, segundo Chér (2005), que o oficio técnico não define a abertura

de um negócio; porém, a junção dos conhecimentos, como a formação do negócio, para

depois planejar como será a empresa que materializará. Entretanto, é interessante

descrever a diferença entre empresa e negócio: empresa é o conjunto estruturado de

recursos materiais, humanos e financeiros; negócio tem o foco nas necessidades do

mercado (nesse caso a técnica de produção do produto a ser comercializado). Assim,

para tornar-se empreendedor, este deve ofertar bens e serviços que o mercado demanda,

será missão desses bens e serviços atenderem a tais necessidades, superando-as sempre

que possível.

Dessa forma, Degen (1989) descreve que o sucesso empresarial não consiste

apenas no desenvolvimento de habilidades específicas, tais como finanças, marketing,

produção, nem apenas de incentivos creditícios e ou fiscais, mas também das

habilidades atitudinais empreendedoras por meio do aperfeiçoamento de tais

características. Segundo os estudos de Degen, balizados por muitas pesquisas e

experimentos, o indivíduo empreendedor tem uma estrutura motivacional diferenciada

pela presença marcante de uma necessidade específica: a de realização.

Drucker (2002 a) analisa o empreendedor como aquele que pratica a inovação

sistematicamente. O empreendedor busca as fontes de inovação e cria oportunidades.

Para o autor, o significado da palavra empreendedorismo está associado àquela pessoa

que pratica uma empreitada laboriosa e difícil.

De acordo com Drucker (20002 a), existem sete fontes para uma oportunidade

inovadora: 1) o inesperado; 2) uma contradição entre o que é e o que deveria ser; 3) uma

necessidade; 4) uma mudança estrutural; 5) mudanças demográficas; 6) mudança na

percepção; e 7) conhecimento científico novo.

Portanto, na verdade apresentou-se no referencial teórico três fatores essenciais

para o desenvolvimento da pesquisa, assim sendo, no próximo item, são destacados os

principais aspectos referentes ao método de pesquisa.

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3 METODOLOGIA

A característica adotada na pesquisa está ligada à mescla dos métodos

exploratório e qualitativo. Segundo Gil (1999), a pesquisa exploratória é um sistema

mais flexível que envolve diversas técnicas de coleta de dados, sem rigidez de

planejamento que visa desenvolver, esclarecer ou modificar idéias e conceitos,

objetivando a proposição de problemas mais precisos e de verificação posterior. De

acordo com Alvarenga e Rosa (2001), é também um "estudo prévio da temática a ser

investigada, visando tornar familiar o assunto a ser abordado, gerando propostas mais

específicas de pesquisa ou formulação de hipóteses, deixando implícitas as variáveis

abordadas". Para Oliveira (2001), é uma forma de pesquisa mais precisa para elaboração

de hipóteses.

Conforme Yan (2001), é uma metodologia indicada para ocasiões nas quais as

questões a serem questionadas são do tipo como ou porque, quando o objetivo é um

fenômeno entre alguns contextos da vida real, quando o investigador tem algum

controle sobre o evento. A pesquisa realizada caracteriza-se também como um estudo

de caso. Para Gil (1999), o estudo de caso corresponde ao estudo profundo e exaustivo

de um ou de poucos objetos que permita o seu desempenho e conhecimento. A pesquisa

foi realizada na empresa “Distribuidora Indústria Comércio e Serviço Ltda.”.

Assim, elaborou-se um questionário com 15 perguntas no qual, segundo

Triviños (1987), entrevista semi-estruturada é aquela que parte de determinados

questionamentos básicos, fundamentados em teorias e hipóteses, que são interessantes à

pesquisa, e que, em seguida, oferta grande campo de questionamentos, proveito de

novas hipóteses, que vão aparecendo de modo que se admitem as respostas ao

informante. Desta maneira, o informante, seguindo sem intervenção, com

espontaneidade, alinhando seu pensamento e suas experiências dentro do foco principal

colocado pelo entrevistador, começa a participar da elaboração do conteúdo da

pesquisa.

Conforme Martins e Lintz (2000), na entrevista semi-estruturada o pesquisador

procura adquirir informações e opiniões salientes através de uma conversa objetiva.

Sendo esta pesquisa de caráter qualitativa, Roesch (1999) afirma que a entrevista é uma

das técnicas mais utilizadas nas pesquisas com este caráter. Para Gil (1999), a

entrevista, dentre outras técnicas de coleta de dados, é seguramente a mais flexível.

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De acordo com Roesch (1999), é uma técnica demorada e requer muita

habilidade do entrevistador, tendo como objetivo a obtenção de uma visão geral do

problema da pesquisa. De acordo com Richardson (1999), as perguntas dependem do

entrevistador e o entrevistado tem a liberdade de expressar-se como ele quiser, guiado

pelo entrevistador.

Na abordagem qualitativa, de acordo com Triviños (1987), os dados tendem a

ser estudados indutivamente, preocupa-se com o processo e não somente com os

resultados e o produto; tende-se a um compromisso com o significado.

Para Silva e Menezes (2001), na pesquisa qualitativa existe uma relação ampla

entre o mundo real e o sujeito, ou seja, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo

e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. As classificações

dos fenômenos e atribuição de significados são essenciais no processo qualitativo, não

exige uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para a

coleta de dados, e o pesquisador é o instrumento chave.

Segundo Marcone e Lakatos (2006) a abordagem qualitativa são as leis

experimentais que dão origem a características observável ou experimental de um

determinado objeto. Para Barbetta (2003) a pesquisa qualitativa analisa-se

detalhadamente um pequeno numero de elementos sem uma formulação criteriosa das

características a serem levantadas. Assim, abordar-se-á no próximo capitulo os

resultados, análise e discussão da pesquisa.

4 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO

Nesta seção abordar-se-à primeiramente o perfil do entrevistado e sua empresa.

Em seguida será apresentada a entrevista realizada por meio de um questionário semi-

estruturado pelos autores deste trabalho, cujas respostas do entrevistado serão analisadas

com base em referencial teórico, bem como a discussão que será apresentada a seguir.

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4.1 IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO

■ Entrevistado – Dagoberto Tagliapietra

- Grau de escolaridade – nível superior

- Estado civil – casado

■ Empresa (Razão social) – Distribuidora Indústria Comércio e Serviços Ltda.

- Endereço – Rua Servidão Mauricia Luiza Laureano, n. 50, Bairro Saco

Grande, Florianópolis, SC

- Início das atividades – agosto de 1996

- Ramo de atividade – Fabricação e Comércio de Produtos para Laboratório

- Número de empregados – 10

- Número de sócio – 01 (esposa)

4.2 ENTREVISTA E ANÁLISE

Por meio desta entrevista realizada com o empreendedor Dagoberto

Tagliapietra, mostram-se alguns fatores que são relevantes na tomada de decisão de uma

pessoa para empreender um negócio. Segundo Dolabela (2006, p. 28), “se uma pessoa

vive em um ambiente em que ser empreendedor é visto como algo positivo, então terá

motivação para criar o seu próprio negócio”.

Nesse caso específico, o entrevistado faz um relato sucinto da sua vida

profissional enquanto funcionário da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

bem como da sua importante decisão de pedir demissão para tornar-se um

empreendedor, decisão que caracteriza o empreendedorismo. A literatura designa uma

área de grande abrangência e trata de outros temas, além da criação de empresas sendo:

geração do auto-emprego; empreendedorismo comunitário; intra-empreendedorismo;

políticas públicas (DORNELAS, 2005).

Diante dos fatos, dúvidas, sentimentos, enfim, que borbulham no imaginário de

uma pessoa, é preciso ser consciente, saber o que se quer e, principalmente, saber fazer.

E, assim, Dagoberto mostra a sua trajetória neste caminho das pedras que é, de certa

maneira, para se alcançar o sucesso no mundo dos negócios.

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4.2.1 Perguntar-se ao entrevistado que o levou a pedir a demissão como

funcionário público para iniciar seu empreendimento.

O entrevistado prontamente responde: “foi uma decisão imediata, nunca

tinha imaginado sair da UFSC para montar algum negócio, mas como surgiu em

1996 o PDV (pedido de demissão voluntária) resolvi aderir e pedir demissão”. Para

Chér (2002, p. 25), um dos motivos que levam à decisão de ser empresário “após a

demissão e o fato de que abrir o próprio negócio pode ser não apenas uma alternativa,

mas muitas vezes a única, em razão da difícil recolocação do profissional no mercado

de trabalho [...]”.

4.2.2 Em seguida pergunta-se ao entrevistado que fatores o influenciaram a se

tornar um empreendedor.

O entrevistado muito à vontade responde: “oportunidade e experiência na

fabricação de vidrarias para laboratório”. Segundo Dolabela (2006, p. 33), “o

empreendedorismo não é ainda uma ciência, embora seja uma das áreas onde mais se

pesquisa e se publica. Isso quer dizer que não existem paradigmas”. Entretanto,

Dornelas (2005, p. 41) descreve que “essa decisão ocorre devido a fatores externos,

ambientais e sociais, aptidões pessoais ou a um somatório de todos esses fatores, que

são críticos para o surgimento e o crescimento de uma nova empresa.” O autor

exemplifica alguns fatores que mais influenciam esse processo durante a fase da

aventura empreendedora, e vale destacar dois: fatores pessoais – realização pessoal,

assumir riscos, valores pessoais, educação, experiência; fatores ambientais –

oportunidade criatividade.

Para Drucker (2002 b, p. 45), o que sempre proporciona oportunidade para o

empreendedor é o novo e o diferente, “a inovação sistemática, portanto, consiste na

busca deliberada e organizada de mudanças, e na análise sistemática das oportunidades

que tais mudanças podem oferecer para a inovação econômica ou social”.

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4.2.3 Pergunta-se ao entrevistado que pessoas o influenciaram.

O entrevistado responde que “não houve nenhuma influência”. Nesse caso

contradiz as diversas literaturas como, por exemplo, Drucker (2002a, 2002b), Chér

(2005), entre outras. Contudo, vale destacar que, conforme Dolabela (2006, p. 33), nas

pesquisas verificou-se “que os empresários de sucesso são influenciados por

empreendedores de seu círculo de relações (família, amigos) ou por líderes ou figuras

importantes, tomados como ‘modelos’”.

4.2.4. Pergunta-se ao entrevistado como surgiu a oportunidade do negócio.

Muito seguro, o entrevistado responde: “a oportunidade surgiu devido a

carência que havia na área de fabricação de equipamento (de vidro) para

laboratório, na época. Nesse sentido Dornelas (2005, p. 121) confirma que “em

primeiro lugar, a pessoa tem de perceber um bom nicho de mercado, isto é, algo que não

exista ou então não seja explorado de forma eficiente; que ela tenha o pé no chão e que

acredite sempre no seu potencial”.

4.2.5 Pergunta-se ao entrevistado que experiência de trabalho teve antes de abrir

seu próprio negócio e até que ponto tal experiência contribuiu para o sucesso do

seu empreendimento.

O entrevistado faz uma rápida reflexão e responde: “trabalhava na fabricação

de vidrarias para laboratório na UFSC. A experiência contribuiu em cem por

cento, pois a atuação na UFSC foi de muitos anos e a cada dia surgiam novidades

no ramo, e isto contribui muito para o aprendizado e aperfeiçoamento”. Segundo

Dornelas (2005, p. 121), “o lado positivo de um bom empreendedor é ter a vantagem de

perceber com maior facilidade um nicho de mercado em algo simples e inovador [...]”.

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4.2.6 Complementando a questão anterior, pergunta-se ao entrevistado se o fato de

ter sido funcionário público o ajudou no desenvolvimento da sua empresa.

O entrevistado responde que: “o fato de ter sido funcionário público

propriamente dito não seria o caso de ter me ajudado. Mas, o fato de ter sido

funcionário público dentro da UFSC contribuiu muito, pois convivi muitos anos

com pessoas inteligentes, educadas e trabalhadoras, dos quais sempre tentei

absorver o máximo que pude para poder cada vez mais aprimorar e produzir mais

em prol da pesquisa e do aprendizado dos alunos que por ali passaram, sem contar

com as oportunidades que tive enquanto funcionário, como participação em

cursos, congressos, sempre com o aval e apreciação dos meus superiores”.

Dolabela (2006, p. 34, grifo nosso) admite haver outras influências para o

indivíduo se tornar um empreendedor e cita três, as quais chama de primário – família e

conhecidos; secundário – ligações em torno de determinada atividade redes de

ligações; e terciário – cursos, livros, viagem e congressos. Verifica-se que o

entrevistado encaixa-se no secundário.

4.2.7 Pergunta-se ao entrevistado, se elaborou um plano de negócio e se fez alguma

pesquisa de mercado.

O entrevistado responde que: “a principio foi definido somente a fabricação

e consertos de vidraçarias, mais tarde fomos ampliando e passamos a

comercializar uma linha mais ampla na área, pois como em qualquer coisa que

você se propõe a fazer é necessário ir aperfeiçoando-se, adequando-se dia a dia”.

Para Chér (2005, p. 28 - 29), “isso não é magia ou coisa parecida. Na realidade,

os empreendedores de sucesso parecem acreditar que o mundo é suficientemente grande

para lhes assegurar prosperidade material”. Outra característica marcante nos

empreendedores de sucesso é o autoconhecimento, pois antes de tudo, “esses

empresários são íntimos de si próprios, sabem exatamente do que gostam [...] para eles,

a missão fundamental de seus negócios é materializar suas visões de futuro, tornando-se

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realidade”. Assim, as grandes personagens de empreendedores sabem chegar onde

querem chegar, eles têm uma visão de vida que perseguem diariamente.

4.2.8 Pergunta-se ainda ao entrevistado qual o montante econômico/financeiro

utilizado para iniciar o negócio.

O entrevistado informa: “foi R$10.000,00 (dez mil reais)”. Para Dornelas

(2005), é muito importante que a questão relativa à análise de recursos necessários para

o início do negócio seja a última a ser feita, para evitar que o empreendedor restrinja a

análise da oportunidade, pois deve ser a primeira das tarefas a ser realizada.

4.2.9 Perguntar-se ao entrevistado sobre suas qualidades e defeitos como

empreendedor.

O entrevistado prontamente responde: “minhas qualidades é ser uma pessoa

bem conhecida e dinâmica, ter conhecimento do que faço, e procuro sempre estar

aprimorando-me e acompanhando o seguimento no mercado”. Segundo Dolabela

(2006, p. 38), o empreendedor de sucesso “cria situações para obter feedback sobre o

seu comportamento e sabe utilizar tais informações para seu aprimoramento”; o autor

ainda descreve que “o empreendedor de sucesso conhece muito bem o ramo que atua”;

e também, “cria método próprio de aprendizagem [...], aprende a partir do que faz”.

Portanto, “mantém um alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a

para detectar oportunidades de negócios”. Quanto aos defeitos, o entrevistado responde

que: “é querer resolver os problemas de todo mundo, e não saber cobrar muito dos

funcionários; em vez de mandar mais e exigir mais, tento eu mesmo resolver as

coisas, e com isso acabo deixando às vezes de fazer algo mais importante”. Nesse

sentido, Drucker (2002b) afirma: “uma decisão precisa ser tomada quanto às tarefas que

merecem prioridade e àquelas menos importantes. [...] de qualquer modo, as tarefa serão

ajustadas ao tempo disponível e as oportunidades se tornarão disponível apenas à

medida que as pessoas capazes estão por perto.” Por outro lado, o empreendedor é líder.

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Cria um sistema próprio de relações com empregados. É comparado a um “líder da

banda”, que dá liberdade a todos, extraindo deles o que têm de melhor. (DOLABELA,

2006).

4.2.10 O entrevistador solicita ao entrevistado que relate o que ocorreu quando

atendeu ao primeiro cliente.

O entrevistado relata que: “é difícil lembrar o primeiro cliente, pois faz

tanto tempo, mas sei que foi muito bom iniciar os trabalhos. Quando fiz a primeira

venda, eu me lembro, foi um trabalho desenvolvido junto com um professor da

UFSC, e foi uma experiência muito boa, pois fechamos o negócio, foi bom para

ambos, e o equipamento funciona até hoje, e isto serviu como propaganda e

referência.” Para Dolabela (2006), o empreendedor aprende indefinidamente. Aprende

a partir do que faz, e suas emoções e afeto são determinantes para explicar o seu

interesse.

Segundo Drucker (2002a), os empreendedores querem mais, não se contentam

em simplesmente melhorar o que já existe, ou em modificá-lo. Eles procuram criar

valores novos e diferentes, e satisfações novas e diferentes, convertendo um material em

um recurso, ou combinar recursos existentes em uma nova e mais produtiva

configuração.

4.2.11 Solicita-se ainda que o entrevistado relate o momento de maior dificuldade e

como foi superado.

O entrevistado declara que: “a maior dificuldade no início foi conseguir

matéria-prima com fornecedores, pois quando você está começando tem que

conquistar os fornecedores para que eles te atendam com rapidez, tenham bons

preços e qualidade. Depois, com o passar de alguns meses, você mostra que tem

vontade e que quer trabalhar sério, automaticamente as portas se abrem e você vai

encontrando as facilidades e novas oportunidades”.

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Segundo Dornelas (2005, p.45), dificuldades existirão no processo de

implantação de uma empresa, “a equipe empreendedora deverá saber como lidar com os

riscos de forma calculada, analisando as várias possibilidades existentes e as possíveis

conseqüências para o negócio e para eles mesmos.” Ainda, para esse autor existem

algumas barreiras para iniciar um negócio e uma delas é o acordo com os fornecedores e

distribuidores, contudo deve saber agregar um conhecimento singular como foi

verificado na resposta do entrevistado, acima.

4.2.12 Bem como solicita-se que o entrevistado relate o momento de maior

satisfação

O entrevistado diz que: “o momento de maior satisfação foi quando construí

a sede própria da empresa, hoje me sinto aliviado, com uma segurança que é difícil

de ressaltar, pois, além de fugir do aluguel, não fico na dúvida de até quando vou

ficar neste endereço, quando vai aumentar o aluguel, etc. Estando na sede própria,

podemos fazer as reformas e adequar à área de acordo com as nossas

necessidades”. Para Drucker (2002a), os empreendedores bem-sucedidos tentam criar

valor e fazer uma contribuição diante de qualquer que seja a motivação pessoal –

dinheiro, poder, curiosidade, ou desejo de fama ou reconhecimento.

4.2.13 Pede-se ao entrevistado que fale sobre cinco características essenciais para o

sucesso de um empreendedor.

O entrevistado cita prontamente: “primeiro de tudo é ter caráter e educação,

pois é a base para todo sucesso; segundo é ter domínio do que se propõe a fazer;

conhecer a sua clientela; ter relacionamento amigável com seus fornecedores; ter

credibilidade nas áreas financeiras; ter funcionários treinados e de confiança,

entre outros”. As características citada pelo entrevistado vêm ao encontro das

literaturas (DOLABELA, 2006; DRUCKER, 2002 a, b; CHÉR, 2002). Dornelas (2005),

por exemplo, cita como fatores pessoais: educação, experiência e caráter; fatores

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organizacionais: equipe treinada, estratégia, estrutura, cultura e produto; ambiente:

competidores, clientela; investidores e fornecedores.

4.2.14 Pergunta-se ao entrevistado como a carreira de empreendedor afetou sua

vida.

O entrevistado faz uma reflexão: “foi muito difícil, pois atuei durante 17

anos como funcionário de uma instituição federal, a UFSC, no caso, e, de repente,

do dia para a noite resolvi largar tudo e virar dono de meu próprio negócio, e com

90% das pessoas falando, você está ficando louco, vai largar o certo pelo duvidoso

e que vai quebrar a cara, com filhos para criar e outras coisas mais... O que eu

ouvi foi para me deixar perturbado, mas eu tinha um ideal que era ser um bom

empresário, que iria vencer, pois se na UFSC eu já era uma pessoa conhecida e

respeitada pelo meu trabalho, porque fora seria diferente...? ... e fui em frente,

continuo a mesma pessoa, atendo aos clientes da mesma forma que atendia aos

meus colegas na UFSC, e assim a vida continua”.

Segundo Drucker (2002b), cada pessoa tem sua própria maneira de conseguir

um bom desempenho, de acordo com sua personalidade. Quer a personalidade seja

decorrente da natureza ou da educação, certamente ela é formada muito antes de a

pessoa começar a trabalhar. E a maneira como uma pessoa exerce o seu desempenho é

herdada. Também aquilo em que uma pessoa se destaca é algo herdado. Pode ser

modificado, mas é impossível que se transforme totalmente. E, assim como as pessoas

atinge resultados ao fazer aquilo em que se destacam, elas têm resultados ao seguir sua

maneira própria de agir.

2.4.15 Pergunta-se ao entrevistado se ele está arrependido e gostaria de voltar a ser

funcionário público. Em caso negativo – se faria tudo de novo e o que faria de

diferente.

O entrevistado prontamente responde: “não, não estou arrependido, graças a

Deus, mas confesso que tenho muitas saudades, pois durante o tempo que atuei na

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UFSC conquistei meu espaço, tendo sempre o apoio dos professores, funcionários e

alunos, com muito respeito e carinho, sem contar com as oportunidades que tive no

aprendizado”. E, quanto a fazer tudo de novo, responde: “eu faria tudo novamente

sim, com um pouco de cautela e com menos euforia, pois às vezes a gente quer mais

do que pode e isso acaba prejudicando um pouco, mas no geral procederia da

mesma maneira que foi”.

Tornar-se empreendedor é se dar oportunidades e transformar a vida em

mudanças, o rumo que dela pode e deve trazer é saudades da vida anterior, pois assim

verifica que se tornou não por imposição e sim por vocação (DEGEN, 1989). Segundo

Dolabela (2002), o bom empreendedor não se arrepende de tornar-se empreendedor.

Contudo, para Dornelas (2005), a falta de planejamento pode trazer armadilhas, mas ter

presença de espírito empreendedor aumenta a eficiência na administração do negócio.

2.4.16 Pergunta-se ao entrevistado como se mantém informado.

O entrevistado responde: “participamos de eventos como congressos, feiras

e intercâmbios com outras empresas do ramo”. Para Chér (2002), empreender

significa preponderantemente inovar. Não se inova apenas quando se cria um novo

produto ou serviço, mas também quando se dão novas formas aos produtos já existentes,

quando se prestam de uma forma diferente os mesmos serviços oferecidos pela

concorrência. Ainda afirma Chér (2002, p. 80) a respeito: “considero esse aspecto um

dos mais importantes fundamentos da atividade empresarial”.

2.4.17 Por fim, pergunta-se qual o conselho que daria a uma pessoa que deseja

abrir seu próprio negócio.

O entrevistado diz: “depende muito do tipo de negócio, principalmente do

tipo de clientela, depois disso só vai depender dele, do conhecimento que tem do

que se propõe a fazer, ter informações da concorrência, do local e principalmente

das pessoas ou empresas que de uma forma ou outra irão colaborar para o

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andamento dos negócios”. Nesse sentido, Dornelas (2005, p. 123) afirma: “um bom

plano de negócio deve mostrar claramente a competência da equipe, potencial do

mercado-alvo e uma idéia realmente inovadora; culminando em um negócio

economicamente viável, com projeções financeiras realistas”.

4.3 DISCUSSÃO

O este trabalho tem como objetivo geral analisar os fatores que influenciaram o

servidor técnico de laboratório da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC na

tomada de decisão, em relação ao pedido de demissão voluntária, para abrir seu próprio

negócio. Percebe-se na entrevista nas seções 4.2.1, 4.2.2, 4.2.4, 4.2.5, 4.2.6 e 4.2.7 que o

conhecimento e as experiências foram fatores determinantes para a abertura do seu

empreendimento. Além disso, neste caso específico, houve a percepção da oportunidade

deste empreendedor no que se refere à carência existente nessa área. Diante das

demandas decorrentes da rotina nos laboratórios da UFSC, como por exemplo:

adaptação de equipamentos e criação de novos modelos e fórmulas de materiais,

principalmente de vidraçaria para uso de laboratório, atividades que contribuirão para a

sua experiência no seu empreendimento.

Segundo Dornelas (2005), o aspecto mais importante da descrição do negócio é

mostrar que a empresa possui pessoas qualificadas e comprovadamente experientes nos

níveis de comando. E isso, o entrevistado demonstrou ter. Outro fator importante que

também contribuiu com o sucesso da empresa do entrevistado foi a realização de um

estudo do tipo de negócio que ele quis explorar, e, ainda, conhecer bem o que se propôs

a fazer, ter informações da concorrência e fornecedores de matéria-prima.

Além das perguntas sugeridas, foram acrescentadas mais duas (encontram-se

nas seções 4.2.6 e 4.2.15) para buscar mais informações sobre as experiências

profissionais do entrevistado, e até entender melhor a sua tomada de decisão quanto ao

pedido de demissão na UFSC. As respostas revelaram dados importantes, desde suas

experiências, o que motivou a sua demissão (PDV), bem como o sentimento de saudade

que manifestou em relação aos ex-colegas de trabalho. É interessante salientar aqui, que

Degen (1989) descreve que o ex-funcionário e atual empreendedor pode e deve sentir

saudades da vida anterior, pois, assim, verifica que se tornou empreendedor não por

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imposição e sim por vocação. Percebe-se, ainda, na entrevista a paixão pelo que fazia e

faz. Esses depoimentos demonstram que o entrevistado tem o perfil do empreendedor

bem-sucedido. Por fim, na próxima seção faz-se a conclusão do estudo deste artigo.

5 CONCLUSÃO

Esta pesquisa mostrou que além do conhecimento, experiência, disposição,

estudo do tipo de negócio, para ser um empreendedor, é necessário ter ousadia, querer

fazer, e, acima de tudo, ter coragem.

O resultado de valiosas reflexões sobre os fatores que influenciaram o servidor

técnico de laboratório da UFSC na tomada de decisão, em relação ao pedido de

demissão voluntária, para abrir seu próprio negócio, e, ainda, mostra uma visão mais

clara do papel do empreendedor no alcance de metas de um negócio e seu

desenvolvimento no mercado. Foram identificadas como fatores determinantes do

sucesso da empresa do ex-funcionário público, liderada pelo gerente-proprietário e

também técnico do material “carro forte”, cujo comportamento empreendedor ajudou-

lhe a superar expectativas de mercado e concretizar oportunidades em negócios efetivos.

Por meio do relato da história de transição do funcionário empreendedor, a

análise de idéias escrita de forma íntegra pelos autores da pesquisa, além da

identificação de características pessoais empreendedoras do gerente-proprietário,

constatou-se que uma força propulsora movimenta o seu ser: a necessidade de auto-

realização. Alguns aspectos subjetivos também foram observados durante a entrevista: a

emoção ao falar sobre o processo de construção. Os resultados obtidos caracterizam o

empreendedor como um funcionário ou empresário com alguns diferenciais, que

apresenta posturas atitudinais distintas e que tem influência direta na dinâmica de seu

negócio.

No que concerne à literatura atual, observam-se uma preocupação científica

sobre o tema e um consenso sobre a figura do empreendedor entre os autores. Portanto,

essa pesquisa é uma constituição para futuras pesquisas e pode servir de fonte de dados

para a elaboração de proposta. Desta forma, não se pretende substituir obras que

expressam sobre o tema e nem que o presente trabalho seja o ponto final, mas que seja

um ponto de reflexão.

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