ARTIGO DE OPINIÃO...Um argumento popular contra a redução da maioridade penal para 16 anos é: e...

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ARTIGO DE OPINIÃO Prof. Ademar Nogueira Teoria

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ARTIGO DE OPINIÃOProf. Ademar Nogueira

Teoria

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ARTIGO DE OPINIÃO - CARACTERÍSTICAS

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✓ Texto argumentativo que aborda assuntos e/ou

acontecimentos polêmicos atuais, recentemente

noticiados e de interesse público, cuja finalidade é a

de difundir opinião sobre essas polêmicas.

✓ Circula nos meios de comunicação em geral, por

exemplo, jornais, revistas e outros.

✓ Geralmente, no jornalismo, são escritos por

especialistas num determinado assunto, pessoas

publicamente reconhecidas por suas posições,

autoridade etc.

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✓ Tem como estrutura básica uma ideia central (que

resume o ponto de vista do autor) e sua

fundamentação com base em argumentos,

construídos a partir de verdades.

✓ Dirige-se a um leitor que o jornal considera como

potencialmente envolvido no debate, na qualidade de

cidadão;

✓ Exige a variedade padrão da língua, porém esta

não chega a um grau significativo de formalidade, de

intelectualidade.

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✓ No jornalismo, o artigo é assinado, mas nos

vestibulares isso não é indicado. A menos que a

Banca o exija ou mande você adotar um codinome,

caso da UFU (JOSÉ ou JOSEFA), por exemplo.

✓ Título obrigatório.

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ARTIGO DE OPINIÃO - COMO PRODUZIR

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✓ Seja convincente, agradável, persuasivo.

✓ Valem: o apelo emotivo, acusações, humor

satírico, ironia, exclamações, interrogações,

perguntas retóricas, figuras de linguagem, tudo isso

para ajudar na arte de persuadir o leitor.

✓ Valem: orações no imperativo: ˝seja˝, ˝exija˝.

✓ Vale também marcar um interlocução com o leitor:

“e não vão pensar que…”, “acaso alguém pode achar

que estou errado, mas…”.

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✓ Use a 1ª pessoa do plural ou a 3ª do singular. (Na

mídia, de forma geral, pode aparecer tanto em 1ª,

quanto em 3ª pessoa. Depende do estilo do

articulista. Nas redações dos vestibulares, o

candidato deve usar a 1ª pessoa - com equilíbrio -,

para que fique marcado para a Banca Examinadora

que você está produzindo um artigo de opinião).

✓ Empregue verbos predominantemente no

presente do indicativo (o fato deve ser expresso no

momento em que se fala).

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✓ Use de argumentos contrários àquele que você

defende, e desconstrua-os ao longo do seu artigo.

✓ Construa períodos curtos, com no máximo duas

ou três linhas, evitando orações intercaladas ou

ordem inversa desnecessária.

✓ Empregue vocabulário escolarizado, evitando

termos coloquiais, adjetivação desnecessária,

gírias, afirmações extremas e generalizações.

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✓ Capriche no título: ele deve servir,

antecipadamente, a sua argumentação. Portanto, o

título não é mera peça decorativa do artigo, ele é

sim uma estratégia argumentativa.

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ARTIGO DE OPINIÃO ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS

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ARGUMENTO DE CAUSA E CONSEQUÊNCIA:

Propor uma relação com uma causa e consequência

em sua argumentação.

ARGUMENTO DE AUTORIDADE:

Sempre usar uma fonte, ou um estudo confiável para

ter uma credibilidade ao que você defende.

ARGUMENTO DE EXEMPLIFICAÇÃO:

Mostrar comparações e exemplos para ilustrar o seu

argumento.

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O ARTIGO DE OPINIÃO

NO JORNALISMO

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Ele não sabe o que faz

Mais um assassino covarde tira proveito da lei paternalista no Brasil, que

considera os menores de 18 anos incapazes de responder criminalmente por seus atos.

Como não sentir vergonha diante dos pais do universitário Victor Hugo Deppman,

assaltado e morto na calçada de casa em São Paulo? Como convencê-los a se conformar

com o Estatuto da Criança e do Adolescente, que protege o homicida de 17 anos que deu

um tiro na cabeça de seu filho após roubar seu celular? Como conviver com a perda

brutal de um filho e saber que seu algoz será internado por no máximo três anos porque

“não sabia o que estava fazendo”?

Não consigo enxergar jovens de 16 anos como “adolescentes” ou “menores”. Eles

votam, fazem sexo, chegam em casa de madrugada ou de manhã. Por que considerá-los

incapazes de discernir o certo do errado? Ao tornar jovens de 16 anos responsáveis por

seus atos diante da Justiça, o objetivo não é encarcerar todos os delinquentes dessa

idade, mas, quem sabe, reduzir os crimes hediondos juvenis. A mudança na lei reforçaria

o status que eles próprios já reivindicam em casa diante dos pais: “Eu não sou mais

criança”. E não é mesmo.

RUTH DE AQUINO (Revista Época, 2013)

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Para quem argumenta que de nada adiantará reduzir a maioridade penal para 16

anos, respondo com uma pergunta: longas penas para assassinos adultos acabam

com o crime bárbaro? Não, claro. Então, vamos acabar com as cadeias porque elas

são custosas e inócuas? Não, claro. Longas penas servem para reduzir a impunidade

e dar às famílias de vítimas a sensação de que foi feita justiça. Não se trata de

“vingança”. É um ritual civilizatório. Matou? E ainda por cima por motivo torpe? Tem

de pagar.

Um argumento popular contra a redução da maioridade penal para 16 anos é: e

se um adolescente de 14 ou 15 anos matar alguém, mudaremos de novo a legislação?

Sempre que escuto isso, lembro um caso na Inglaterra, em 1993. Dois garotos

ingleses de 10 anos foram condenados à prisão perpétua por ter mutilado e matado

um menino de 2 anos. A repercussão foi tremenda. Os assassinos foram soltos após

oito anos de prisão. Mas não foram tratados com benevolência no julgamento. O

recado para a sociedade era claro: não se passa a mão na cabeça de quem comete um

crime monstruoso. Mesmo aos 10 anos de idade.

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Outro argumento comum no Brasil contra a redução da maioridade penal afirma

que só com boa educação e menos desigualdade social poderemos reduzir a

criminalidade juvenil. Essa é uma verdade parcial. Há muitos países pobres em que

jovens assaltam, mas não matam por um celular ou uma bicicleta. Eles têm medo da

punição, medo da Justiça. Também acho injusto atribuir aos pobres uma maior

tendência ao crime bárbaro. Tantos ricos são bandidos de primeira grandeza...

Melhorar a educação e reduzir a pobreza são obrigações. Isso não exclui outra

obrigação nossa: uma sociedade que valoriza a vida e a honestidade precisa acabar

com a sensação de que o crime compensa. Para menores e maiores de 18 anos.

Os filósofos de plantão que nunca perderam o filho num assalto apelam à razão.

Dizem que não se pode legislar sob impacto emocional. Ah, sim. Quero ver falar isso

diante de Marisa e José Valdir Deppman, pais enlutados de Victor Hugo, que ouviram

o tiro de seu apartamento, no 9º andar. Uma família de classe média que livrou o filho

da asma com plano de saúde privado e investiu com esforço em seus estudos. A mãe

falava com Victor Hugo todos os dias pelo celular. “Eu sempre falava para ele não

reagir, porque a vida não vale um celular ou um carro. Ele não reagiu, mas foi morto.

Estou estraçalhada por dentro.”

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Victor Hugo, o Vitão, era santista fanático, um dos artilheiros do “Inferno

vermelho”, apelido do time da Faculdade Cásper Líbero, onde estudava rádio e TV.

Sonhava em virar locutor esportivo e estava apaixonado. A câmera do prédio mostra o

momento em que sua vida acabou. Mostra a covardia do rapaz, cujo nome nem pôde

ser divulgado por ser “inimputável”. Na sexta-feira passada, o assassino de Vitão,

infrator conhecido na Febem, completou 18 anos.

Seu futuro pode ser o mesmo do menor E., que, aos 16 anos, ajudou a matar

no Rio de Janeiro, em 2007, o menino João Hélio. Ele pertencia ao bando que arrastou

João Hélio pelas ruas, pendurado na porta de um carro que havia sido roubado de sua

mãe. Após três anos numa instituição para jovens infratores, foi libertado. A Justiça o

incluiu temporariamente num programa de proteção a adolescentes ameaçados de

morte, o PPCAAM. Ridículo. Ezequiel Toledo de Lima foi preso em março de 2012, aos

21 anos, por posse ilegal de arma, tráfico e corrupção ativa. Ezequiel não tinha

antecedentes criminais como adulto – apesar de ter matado com requintes de

crueldade um menino de 6 anos. É ou não é uma inversão total de valores?

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ARTIGO DE OPINIÃO SUGESTÃO DE UMA ESTRUTURA

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O ARTIGO DE OPINIÃO

E

O NOSSOS VESTIBULARES

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Exemplo 01

Estado laico: uma necessidade

O Estado laico tem sido nos últimos anos uma discussão frequente emalgumas esferas sociais em função de decisões do Superior Tribunal Federal(STF) em favor do direito ao aborto de anencefálicos e da união civil entrehomossexuais. Como antropólogo, entendo que ainda deve ser considerada aatuação nada laica de políticos de bancadas religiosas na Câmara Federalcontra os interesses da maioria da população. Por isso, defendo anecessidade da reafirmação de um pacto civil em defesa da laicidade doGoverno.

De início, quero dizer que essa minha defesa sustenta-se não só nofato de muitos países tornados teocracias terem tido perdas significativasde garantias presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, mastambém no fato de haver perda considerável na diversidade de ideiasartísticas, políticas e, evidentemente, religiosas, quando um Estado deixade ser laico. Afirmo isso porque a laicidade de instituições é uma defesavigorosa da liberdade religiosa, pois, via de regra, todo estado laico defato é multireligioso, como ainda é o caso do Brasil.

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Defender esse estado laico é, ainda, uma maneira de prezar pelaliberdade religiosa. Mesmo não sendo uma pessoa crente, entendo que issoé uma conquista das sociedades democráticas, a qual deve ser defendidapor todos. Vejo essa questão assim, pois reconheço o quanto a diversidadereligiosa é influente no campo das artes, dos costumes, da gastronomia, porexemplo. Ou seja, suprimi-la seria o mesmo que suprimir um dos principaisgeradores de manifestações culturais que se tem notícia. Seriaindiscutivelmente um golpe duro contra várias etnias e culturas, contramilhões de pessoas e contra a cultura brasileira.

Logo, defendo o Estado laico não por ser contra quaisquer religiões,mas, ao contrário, por defendê-las como um direito de escolha de todas aspessoas, para que possamos continuar a ter um país marcado por tradiçõesdemocráticas, por diversidade cultural e por liberdade de pensamento e deexpressão.

José

Disponível em: http://www.opera10.com.br/search/label/artigo%20de%20opini%C3%A3o.Acesso em 31 de março de 2019. Modificada

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(UNIEVANGÉLICA 2018/1)

ARTIGO DE OPINIÃO é um gênero discursivo cujo objetivo é manifestar a perspectivaassumida por um autor. Geralmente é veiculado em um jornal ou revista e consideradiferentes pontos de vista sobre uma questão relevante em termos políticos, sociais,culturais. Deve ter caráter informativo e argumentativo.Assuma a função de um articulista de um jornal fictício. Para elaborar seu artigo deopinião, leia os excertos a seguir

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TEXTO 1

O jobless growth encontra-se em maior ou menor grau em todos os países avançados edepende de pelo menos sete fatores concomitantes: o progresso tecnológico, quedifunde máquinas cada vez mais capazes de substituir o homem tanto no trabalho físicoquanto no intelectual; o desenvolvimento organizacional, pelo qual, havendo paridadenos fatores produtivos, consegue valorizar esses fatores obtendo maior produção; asmídias, com as quais é possível fornecer por toda parte informações em tempo real; ainstrução, com a qual é possível adquirir os instrumentos intelectuais para extrair asinformações e decodificá-las; a globalização, que determina a abertura crescente dastrocas em escala supranacional, uma oferta cada vez mais integrada, umainterdependência cada vez mais próxima entre as economias e as culturas, umaconcorrência planetária, com a consequente equiparação progressiva tanto dos saláriosquanto do estado social; a divisão internacional do trabalho, pela qual uma partecrescente de trabalho é transferida para os locais onde a mão de obra é mais barata, osdireitos trabalhistas são menos garantidos e as condições objetivas são mais vantajosas;as privatizações, que comportam grandes recuperações de eficiência e, portanto,drásticas reduções de pessoal.

MAIS, Domenico de. Alfabeto da sociedade desorientada: para entender o nosso tempo. Trad. Silvana Cobucci, Federico Carotti. São Paulo: Objetiva, 2017. p. 224. (Adaptado)

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TEXTO 2

Estudo da consultoria McKinsey estima que, até 2055, com margem de erro de 20anos para mais ou para menos, 51% dos postos de trabalho no mundo deixarão deexistir devido à automação. Devemos lamentar ou celebrar isso? A questão não énova e já ocupou a atenção de economistas do calibre de John Maynard Keynes.Num texto de 1930 intitulado “Possibilidades Econômicas para os Nossos Netos”,ele afirma que dentro de cem anos (em 2030) as sociedades já produziriam osuficiente para satisfazer as necessidades básicas de todos. As pessoas não teriamde trabalhar mais do que poucas horas por semana e isso levaria a uma espécie deemancipação moral do homem: a acumulação de riquezas deixaria de serpercebida como importante e estaríamos livres para desfrutar a vida e retornar auma ética que condena a avareza e a usura.

SCHWARSMAN, Hélio. O futuro do emprego. Folha de S. Paulo. Domingo, 13 ago. 2017. A 2. Opinião. (Adaptado)

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Nasce, cresce e morre Autora: Nathália Costa C. Braga (nota 9,75 )

Diponível em Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JaIiMHlk4Ug

Desemprego: falta de motor à vida. Falta de razão à vida. Como articulista deste jornal,não poderia definir tal palavra diferentemente. Isso se dá porque, hodiernamente, nossociclo de vida passou de "nasce, cresce, reproduz e morre” para “nasce, cresce, trabalha,trabalha, trabalha e morre". Nada se mostra mais inquietante do que se retirar o quemonopoliza a maior parte da vida dos seres (in)tensos do mundo: o emprego. Assim, osfatos que levam ao fim dos cargos ocupados pelos homens encarregam versões do futuroda humanidade.

51%. Tal dado alarma. O fato de que perderemos nossos postos de trabalho paramáquinas desconforta. E não venha dizer que isso é só no plano das ideais e do futuroainda. O futuro já chegou. A Revolução Verde gerou desemprego em massa dos setoresrurais. E não venha dizer que os desempregados acharam empregos dignos nasmetrópoles. A Revolução Técnico-Científica substituiu o homem, "inteligência concreta”,pela Inteligência artificial. E não venha dizer que "Homo sapiens sapiens" achou umaresolução para esse quadro caótico ou vai achar lugar para todos se encaixarem nessaroleta-russa do capital, que cega e exclui capacitados. Então, seriam as "revoluções"ações que visam o progresso humano? Que dão combustível ao motor humano? Que dãorazão à vida humana? Ou será que teriam a função de tirar isso, com a substituição dohomem por uma "melhor versão dele", que não é humana e foi criada por ele mesmo?

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E agora, José? O que acontece com os netos que habitarão o planeta, desempregados?Vão ser secundarizados. Com poucas horas, cumprirão seus afazeres diários. Serãoalimentados sentados, por robôs. Serão emancipados pela letargia. Serão coisas,coisamente. Mas isso se tiverem dinheiro ou o que estará movendo o mundo no futuro. Aversão da mídia, com pessoas felizes, pregados nos filmes futuristas, é a idealização.Se, para Freud, psicanalista, o homem não pode ser feliz na civilização desde os temposmais antigos, em que todos tinham trabalho, pense no futuro. A população vai viver emum mal-estar constante. Não terá mãos dadas, e o mundo novo não será nada admirável.Tivessem os fatos sido diferentes, não haveria as piores versões instauradas, compessoas desempregadas e mortas, sem combustível.

Logo, caro leitor, há que se ter a avaliação dos fatos, pelo fim do desemprego. Há quese ter a utilização de máquinas pela ajuda do homem e pelo fim da substituição dele. Háque se ter trabalhos para todos, pelo fim das piores versões futuras. Pela visãofuturística midiática. Pela felicidade. E, por fim, pela não recriação do ciclo da vida,que, na falta de emprego, motor e razão da vida dos homens, mostra-se prestes ametamorfosear-se em "nasce, cresce e morre", desempregado.

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UnBProf. Ademar Nogueira

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(UnB 2017)

A utopia é, no seu sentido mais imediato, a representação imagética de umestado humano nunca até agora ocorrido. É sobretudo como arepresentação de um estado futuro da humanidade que ela adquirerelevância no discurso político. Na utopia política, é representado um estadode felicidade até então inalcançado. E tal representação tem a missão muitoespecífica de dotar a ação política de um entusiasmo mobilizador.

Alexandre Franco de Sá. Haverá ainda lugar para a utopia política? 2000. Internet: <www.lososofia.net> (com adaptações).

Bons tempos é o nome que damos ao passado — qualquer passado. São osbons tempos, é o nosso tempo. Passei a adolescência e parte da juventudesob a ditadura militar, e isso não impede que me pegue com frequência aacalentar uma estranha utopia em retrospecto, de que "no meu tempo" avida tinha mais graça. De todas as formas de escapismo inventadas peloshomens para suportar o osso duro da vida real, talvez a mais inconscienteseja a idealização do passado. Mas não é de hoje que tudo fica cada vez pioraos olhos das gerações presentes. "Esse mundo tá perdido, sinhá!" — era obordão da ex-escrava tia Nastácia nos livros infantis de Monteiro Lobato.

Maria Rita Kehl. O passado é um lugar seguro. Teoria e Debate, n.º 70, mar.-abr./2007 (com adaptações).

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(UnB 2017)

Arnaldo Antunes. Internet: <www.arnaldoantunes.com.br>.

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(UnB 2017)

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(UnB 2017)

Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade et al. O melhor da poesia brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.

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(UnB 2017)

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(UnB 2017)

Considerando que os fragmentos apresentados têm caráter motivador, redijaum texto a ser publicado na coluna Opinião, na edição de domingo de umjornal de grande circulação. Seu texto deve começar com a seguinte frase.ENTRE O FUTURO IMAGINÁRIO E O PASSADO IDEALIZADO, O PRESENTE...

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Autor: Gabriel Mota Nascimento Aluno Extensão do Texto - Ademar Nogueira

Entre o futuro imaginário e passado idealizado, o presente faz-se presente. É umapequena vírgula, às vezes com ponto-final ou quem sabe leves reticências entre o quejá foi dito e o será falado no texto da vida. Ainda me lembro de quando comecei aescrever neste jornal. Tudo era novo e fantástico e parece-me, hoje, que era maisfeliz também. Diante disso, sinto-me comovido a buscar os motivos de minhasidealizações tão saudosistas. Para isso, é importante lembrar a epistemologia de DavidHume. Nela, o grande pensador revela a preponderância das impressões sobre asideias, que são sempre mais fracas do que as sensações vividas momentaneamente.Dessa forma, é possível depreender que o nosso cérebro nos engana ao informar-nos,ilusoriamente, que o passado era utopicamente maravilhoso.

Essas idealizações, porém, não se restringem ao tempo vivido anteriormente, mastambém o futuro. Desde a escrita do Apocalipse por João (discípulo de Cristo) até aobra “Utopia”, de Thomas Morus, o homem preocupa-se com os possíveis caminhos desua sociedade. Essa prática surge do anseio por dias melhores, por uma sociedadetolerante e politizada capaz de incomodar-se com as injustiças sociais. A partir disso,Karl Marx, com a publicação do “Manifesto Comunista”, foi um dos primeirospensadores a preocupar-se com as ações necessárias para que o futuro seja modificadode forma substancial.

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Nesse contexto de valorização do presente, inúmeros questionamentos surgem acercade sua validade. Muitos dizem que idealizações sobre o passado ou sobre o futuro sãonecessárias para que o presente, caótico e corrompido, seja esquecido. É indubitável,não obstante, que essa forma de pensar é responsável pela descrença generalizadaencontrada em tempos de crise. Isso é visto no “Ensaio sobre a cegueira”, de JoséSaramago, no qual, em meio a uma cegueira epidêmica e o consequente isolamentosocial, muitos cegos imaginavam, de forma incessante, um futuro melhor; enquantooutros relembravam, de forma exaustiva, o passado. Ao decorrer a história, contudo,os personagens que conseguem melhores condições de sobrevivência são aqueles quepensam de forma especial no presente.

A partir disso, é notório que o passado e o futuro devem, para o bem social eindividual, orbitar em torno do presente. Devemos estar atentos ao que podemos fazeragora para minimizar possíveis erros anteriores e potencializar melhores condiçõesfuturas. Dessa forma, podemos perceber que, para que possíveis utopias sejamalcançadas, o presente deve ser valorizado sobremaneira. Mesmo que o agora sejaduro e difícil, é preciso que ele seja vivido para que o amanhã possa ser melhor.