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ARTIGO FINAL – PDE 2010
A CHARGE – HUMOR E REFLEXÃO – UM ELO INTERDISCIPLINAR
ARLETE FERREIRA DE MORAIS ANDRÉ
FOZ DO IGUAÇU- PR
2012
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL – PDE
1
ARLETE FERREIRA DE MORAIS ANDRÉ
A CHARGE – HUMOR E REFLEXÃO – UM ELO
INTERDISCIPLINAR
Artigo final apresentado ao Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, da
Secretaria de Estado da educação – SEED do
Paraná, como requisito para o cumprimento
das atividades propostas pelo Programa de
Formação Continuada, sob a orientação da
Professora MS. Deise da Silva Guttierres da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná -
UNIOESTE.
FOZ DO IGUAÇU – PR
2012
2
A CHARGE – HUMOR E REFLEXÃO – UM ELO INTERDISCIPLINAR
Autora: Arlete Ferreira de Morais André1
Orientadora: MS. Deise da Silva Guttierres2
RESUMO. O presente Artigo é parte integrante das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, ofertado pelo Governo do Estado do Paraná para a formação continuada do professor. Este Artigo apresenta como objetivo central a análise e o estudo da utilização do gênero charge e suas variações como elemento motivador de leitura e como artifício mediador entre textos interdisciplinares. Nele se encontra o resultado da Implementação Pedagógica do Projeto: “A charge – humor e reflexão – um elo interdisciplinar” aplicado à turma de 1º Ano A – Ensino Médio do Colégio Estadual Almirante Tamandaré – Ensino Fundamental e Médio, do NRE de Foz do Iguaçu – PR. O interesse se deve ao fato de que, justamente, nos Anos finais do Ensino Fundamental e nas Séries iniciais do Ensino Médio o educando tende a demonstrar menor interesse pela leitura, pelo fato das mesmas oferecerem maior complexidade, exigindo que o estudante realize a compreensão e a reflexão sobre tudo que venha ler. Sendo assim, para início deste estudo, foi aplicado um questionário com a finalidade de constatar qual era o interesse de leitura dos jovens da turma, objeto da pesquisa. A partir daí, propusemos a utilização de charges elaboradas pelo chargista Heitor Fernandez, bem como outras charges (estáticas e animadas) como chamariz de leituras interdisciplinares. Como subsídio de nossas constatações, elegemos como apoio teórico as ideias defendidas por Bakhtin (2003; 2004), Kleiman (2004,) Koch & Elias (2010), Dolz & Schneuwly (1998), Silva (2002), dentre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Charge; Interdisciplinaridade; Tecnologias.
1 Pós-graduação em Literatura pela FAFIJAN, Graduação Letras Anglo-Portuguesas FAFIJAN,
professora dos Anos Finais de Ensino Fundamental e Séries Iniciais do Ensino Médio, Col. Est. Almirante Tamandaré- Foz do Iguaçu –PR.
2 Mestre em Linguística pela UNESP, Professora e Coordenadora do Colegiado de Letras pela
UNIOESTE – Campus Foz do Iguaçu- PR.
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ABSTRACT: This article is part of the activities of the Educational Development Program - PDE, offered by the Government of Paraná State for continuing education of teachers. This article presents as its central objective analysis and study of the use of charge genre and its variations as motivation element for reading and as a mediator between interdisciplinary texts. In this, there is already the result of the implementation Pedagogical Project: "The charge - humor and reflection - a link interdisciplinary" applied to the class of Year 1 A - Almirante Tamandaré School - Elementary and Secondary Education, NRE of Foz do Iguacu - PR. The interest is due to the fact that precisely in the final years of Primary and Elementary School, the student tends to show less interest in reading, because it offer them more complex, requiring the student to understand and perform reflection on all that come to read. So to start this study using Questions that was applied in order to see what was the reading interests of young people in the class, object of research. From there, we proposed the use some charges drawn by cartoonist and Heitor Fernandez, as well as other charges (static and animated) as a decoy for interdisciplinary readings. In support of our findings, we choose as theoretical support the ideas espoused by Bakhtin (2003,2004), Kleiman (2004) Elias & Koch (2010), Dolz & Schneuwly (1998), Silva (2002), each others.
KEYWORDS: Charge; Reading; Interdisciplinary; Technology
1 INTRODUÇÃO
O incentivo à leitura tem sido motivo de estudo de diversos especialistas
na área de educação e, além disso, uma constante preocupação para os
professores. Com tantos recursos tecnológicos disponíveis, fica difícil chamar a
atenção de nossos alunos para o exercício de ler. Por essa razão, os docentes
precisam estar em constante aprimoramento de suas metodologias e
estratégias para envolver o estudante na atividade de Leitura. A partir desta
inquietação é que iniciamos nosso estudo com o intuito de buscar recursos que
possam auxiliar os professores na tarefa de ensinar e instigar a Leitura.
Para melhor compreender a justificativa do estudo deste tema, faz-se
necessário, primeiramente, situar o estabelecimento e identificar o público para
o qual aplicamos este projeto de Intervenção. O Colégio Estadual Almirante
Tamandaré- Ensino Fundamental e Médio localiza-se no Bairro Vila Yolanda,
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Foz do Iguaçu-Pr, atendendo a 32 turmas, distribuídas nos períodos matutino,
vespertino e noturno, totalizando 1.065 estudantes, sendo 546 alunos do
Ensino Fundamental e 519 do Ensino Médio. O atendimento não se restringe
somente a alunos do Bairro Vila Yolanda, mas também a localidades próximas,
constituindo um grupo de alunos com situação econômica relativamente
estável. Neste ambiente que se encontrava o público alvo da aplicação deste
Projeto de Intervenção, especificamente o 1º ano do Ensino Médio.
É justamente nestas turmas iniciais do Ensino Médio que se percebe
nitidamente a dificuldade de entendimento e compreensão, por parte dos
alunos ao tomarem contato com textos reflexivos, de temas e disciplinas
variadas. Notava-se que por se tratar de assuntos que exigiam reflexão e
tomada de opinião, os educandos tendiam a desanimar diante destes textos,
optando por leituras menos complexas. Por estas razões, justificava-se a
aplicação deste Projeto de Intervenção no 1º ano do Ensino Médio, pois é
neste período em que a aproximação e o contato com leituras mais
aprofundadas e de maior complexibilidade torna-se imprescindível. É nesta
época que todas as disciplinas – Língua Portuguesa - Geografia- História –
Filosofia- Sociologia e outras passam a exigir que o aluno participe ativamente
da sua construção do saber, opinando e refletindo sobre os temas comentados.
Para que esse problema não ocorra, o professor deve utilizar-se de
metodologias que façam o intermédio entre o lazer e a reflexão. É neste
contexto que a “Charge” poderá ser usada como recurso provedor de humor,
lazer, reflexão, e aproximação de leituras mais complexas (textos filosóficos,
históricos, de cunho social e reflexivo, informativos, etc.) pertinentes a todas as
disciplinas. Para tal introdução destes textos, utilizaremos de algumas charges
do jornalista e cartunista Francisco Heitor Fernandez, morador de Foz do
Iguaçu - PR e charges animadas elaboradas especificamente para a
implementação deste Projeto.
É importante ainda ressaltar que o processo de leitura em sala de aula
torna-se mais atraente a partir do momento em que o professor estimula,
instiga, cria hipóteses e expectativas para o que se pretende propor como
leitura, visto que por natureza somos motivados pela curiosidade. Com base no
5
exposto acima o professor é o mediador permanente no processo de formação
do leitor. Na concepção de Angela B. Kleiman ensinar a ler é:
Criar uma atitude de expectativa prévia com relação ao conteúdo referencial do texto, isto é, mostrar a criança que quanto mais ela prever o conteúdo, maior será a compreensão. (…) é ensinar a utilização de múltiplas fontes de conhecimento – linguísticas, discursivas, enciclopédicas (…) é ensinar, antes de tudo, que o texto é significativo (…) criar uma atitude que faz da leitura a procura pela coerência. (2004, p.151)
Neste mesmo viés, Ezequiel Theodoro da Silva acrescenta:
A qualificação e a capacitação contínua dos leitores ao longo das séries escolares colocam-se como uma garantia de acesso ao saber sistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornar disponíveis aos estudantes (2002, p. 07).
Contudo, não podemos deixar de analisar que, de fato, nossos jovens ao
ingressarem no Ensino Médio ainda não possuem a maturidade para certos
textos que fazem parte do currículo escolar. As Diretrizes Curriculares de
Língua Portuguesa (DCE, 2008, p.74) apontam que este distanciamento entre
o texto e o aluno pode ser minimizado, através do emprego de novas
estratégias de leituras. Neste sentido, o gênero Charge é um elemento
bastante rico de significados, tanto verbais quanto não verbais, o qual
possibilitará criar uma “ponte” ou um “chamariz” entre a leitura lazer e a leitura
reflexiva e, portanto justifica-se um estudo de práticas que possibilitem a
utilização deste recurso não somente na disciplina de Língua Portuguesa, mas,
nas demais envolvidas no currículo disciplinar da série já citada.
Especificamente, neste estudo, focalizaremos o trabalho com a Leitura, visando
à interdisciplinaridade entre Português, Literatura, Biologia e História.
Desenvolver o hábito de leitura é um papel fundamental que Família e
Escola deveriam buscar juntas, no decorrer da vida escolar da criança.
Infelizmente, esta parceria ocorre na minoria dos casos. Nesta situação, caberá
somente à Escola desempenhar esta tarefa tão importante, ou seja, a formação
do leitor.
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Criar metodologias para incentivar o gosto pela leitura é o que propõe as
DCE. Nesta formação de um sujeito ativo no processo de leitura, o trabalho do
professor será fundamental. Ao realizar esta tarefa, torna-se necessário
escolher a leitura de forma adequada, sempre de acordo com a idade e o
interesse do aluno.
Já despertado o interesse e o gosto pela leitura, o aluno traz consigo o
entusiasmo, a curiosidade por assuntos variados e, especialmente, leituras de
lazer. É aí que se encontra o dilema enfrentado por muitos professores no
decorrer de seu trabalho – apresentar ao aluno leituras mais complexas, sem
que haja um desinteresse, uma vez que estes acostumados à leitura “fácil” se
deparam com assuntos que exigem muito mais que um simples decodificar de
palavras.
Diante desta realidade, nos questionamos: Como apresentar aos alunos
assuntos e textos de caráter reflexivo, sem que a leitura se torne maçante e
cansativa? Como se utilizar do gênero Charge (e suas variações) como
estratégias de incentivo à leitura nas diferentes áreas do conhecimento? Como
evitar o jogo de “empurra-empurra” entre as disciplinas na tarefa de ensinar o
aluno a refletir sobre o que lê?
Na busca por estas respostas das questões, acima mencionadas, nos
apoiamos nos documentos das diretrizes Curriculares de Português e nos
estudos de vários estudiosos, tais como Bakhtin (2003; 2004), Kleiman (2004,)
Koch & Elias (2010), Dolz & Schneuwly (1998), Silva (2002), Maringoni (1996),
dentre outros. A partir deste estudo e, com o uso das charges do cartunista e
chargista Heitor Fernandez foi elaborado o Material impresso e multimídia que
serviu de apoio na Implementação do Projeto.
2 A FORMAÇÃO DO LEITOR E O CONTATO COM A DIVERSIDADE DE
GÊNEROS
Observando as DCE de Língua Portuguesa, no intuito de refletir sobre os
objetivos e constante evolução desta disciplina, percebeu-se a necessidade de
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um estudo contínuo acerca do Ensino e Aprendizagem de Leitura. Isto porque
para ensinar, é necessário, anteriormente, desenvolver técnicas para cativar e
seduzir o educando incentivando-o a ler. Especificamente no que se refere ao
uso do Gênero Charge como elemento motivador para posteriores leituras de
caráter interpretativo e reflexivo.
Para entender o objetivo deste estudo, faz-se necessário, primeiramente
analisar os diferentes gêneros textuais que estão presentes no nosso cotidiano
quer em produções escritas, quer na oralidade. Cada gênero possui forma-
padrão relativamente estável, isto é, ao nos comunicarmos, sabemos
exatamente qual gênero devemos usar e qual sua função. Uma carta de amor,
um bilhete, uma piada, um telegrama, uma palestra, todos estes gêneros e
muitos outros foram sendo criados por todos nós, conforme nossas
necessidades, no decorrer de nossa vivência. Neste consenso Ingedore
Villaça Koch e Vanda Maria Elias dizem que: “Todos nós falantes/ouvintes,
escritores/leitores, construímos, ao longo de nossa existência uma
competência metagenérica, que diz respeito ao conhecimento de gêneros
textuais, sua caracterização e função”. (2010, p.54). Por essa razão, sabemos
exatamente que devemos usar alguns gêneros, em determinadas situações, e
evitar outros. Para ilustrar as situações comentadas acima podemos dizer que
ninguém contaria uma piada de judeu estando em uma sinagoga, nem tão
pouco cantaria o hino de seu time, estando no meio de uma arquibancada
repleta de torcedores do time adversário. Ainda seguindo esse mesmo
raciocínio, notamos que em muitos casos, aproveitamos a estratégia de uso de
um gênero para chegar até outro, como é o caso que pretendemos relatar
neste projeto: o uso da charge como motivação para leituras mais complexas.
Ensinar através do uso de gêneros é uma estratégia já difundida por
muitos estudiosos na área de Educação, entre eles Dolz & Schneuwly (1998)
apontam para o uso de sequências didáticas. Quanto mais se conhece
variedades de gêneros, maior será a habilidade de persuasão do nosso
discurso, tanto oral quanto escrito, além de ampliar as possibilidades de
leituras. A perspicácia presente em um discurso oral e escrito instrumentaliza-
se pelo uso de diversos gêneros, mesclando-os, articulando-os, conduzindo
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ouvinte/leitor para a persuasão. Neste sentido, Joaquim Dolz, Roxane Gagnon
e Fabrício Decânio afirmam que:
Os gêneros são nomeados, identificados e categorizados pelos seus usos. Trabalhar a partir das representações sociais facilita construir “o sentido” das aprendizagens. A representação de gênero fixa o horizonte de expectativa para o produtor e permite que o receptor interiorize determinados critérios para ter êxito em seu projeto comunicativo. Ele orienta não só as atividades de estratégias de leitura e de escrita do aprendiz, mas também permite o desenvolvimento de estratégias de intervenção organizadas, em função dos conhecimentos existentes sobre as estratégias utilizadas
pelos leitores e pelos escritores iniciantes (2010, p. 47).
Entretanto, ao falarmos em gêneros, é preciso lembrar que ao longo do
tempo e das necessidades do homem e da criação de novas tecnologias, o
número de gêneros ampliou-se de tal forma, que hoje seria impossível saber
exatamente quantos são. Sobre isso, Mikhail Bakhtin, pensador russo, que deu
início aos estudos sobre gêneros, frisava que:
Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão relacionadas com a utilização da língua. Não é de se surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana. (...) (1992).
Essa ideia reforça, em nós, professores, que o contato com esta
diversidade de gêneros se faz necessário para nossos alunos, isto porque
quanto mais acesso às diferentes formas de expressão, maior será a facilidade
de leitura e compreensão.
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2.1 CONHECENDO O GÊNERO CHARGE E SUA EVOLUÇÃO
3Figura 1. Charge de Heitor Fernandez, produzida especialmente para o Material Didático: “A charge, humor e
reflexão, um elo interdisciplinar” – Unidade Didática de História.
Para se compreender melhor o gênero charge é necessário considerar
que as raízes deste gênero encontram-se no francês, vem da palavra carga
“carga de cavalaria”. A charge está carregada, em si, de humor e seriedade.
Ela surgiu, inicialmente, para satirizar e criticar acontecimentos sócio-político-
econômicos, mas sua abrangência se ampliou com o passar do tempo e hoje o
texto chárgico é utilizado em todas as situações, nos mais variados meios de
comunicação, inclusive na internet. Das folhas de jornal, a charge ganhou
espaço e, além do desenho estático, na mídia tem se apresentado evoluída
como “charges animadas” abrangendo temas distintos que vão desde a
política, passando pelo esporte, pela arte e até em situações corriqueiras do
cotidiano, envolvendo não só celebridades, mas pessoas comuns.
Segundo Maringoni (1996, p. 85), “a sátira, o comentário e a banalização
dos fatos cotidianos e da política nacional fazem parte da prática do chargista”.
São justamente estas características, que transitam entre o cômico e o sério
presente no Gênero charge que atraem e seduzem a atenção do leitor.
3 Figura. Charge de Heitor Fernandez, produzida especialmente para o Material Didático: “A charge,
humor e reflexão, um elo interdisciplinar” – Unidade Didática de História.
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Neste sentido, Bakhtin (1981, p.106) afirma que os gêneros que mantêm
relação com as tradições do cômico-sério ainda reservam o fermento do
carnavalesco. Para Alexandra Bressanin (2006, p.3) “os estudos sobre a
carnavalização e polifonia são importantes para a compreensão da charge”.
O texto chárgico tem em si a capacidade de fazer relações com outros
textos, por isso é polifônico. Nesta mesma visão, Edson Carlos Romualdo diz
que:
As relações intertextuais da charge com os outros textos podem ser convergentes e divergentes, isto é, a charge pode retomar o outro texto para seguir a mesma orientação de sentido proposta por ele, ou se posicionar em sentido contrário a primeira orientação (2000, p. 6).
Este elo pode ser estabelecido entre o gênero chárgico e um texto de
cunho reflexivo, despertando no leitor certa curiosidade e interesse pelo texto a
ser lido.
Pode-se também fazer o caminho inverso e, a charge venha ser o
resultado de um texto lido, apresentando pontos convergentes e divergentes,
enfocando para uma posterior discussão a respeito do objeto de leitura, visto
que a charge em si já é uma forma de expressar a opinião de alguém sobre
aquilo que foi lido.
Portanto, é possível fazer uso deste gênero discursivo como “chamariz”
para os mais variados assuntos e temas em sala de aula, pois as charges
apresentam doses de comicidade, crítica e irreverência suficientes para
contribuir com o ensino de leitura na escola. A partir delas, é possível montar
uma sequência didática capaz de estimular com eficácia o interesse pela leitura
nas diferentes áreas do conhecimento. Assim, esperamos contribuir na
formação da cidadania destes educandos, desenvolvendo a capacidade de
compreender e atuar nas diferentes situações que envolvem valores e
posicionamentos, tanto na oralidade quanto na escrita.
Considerando as DCE de Língua Portuguesa, nota-se que o “saber ler”
independe exclusivamente da disciplina de Língua Portuguesa, e sim do
conhecimento geral que o leitor adquire ao longo de sua vida. Neste sentido
Koch & Elias, em Ler e Compreender os Sentidos do Texto, afirmam:
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Na atividade de leitores ativos, estabelecemos relações entre nossos conhecimentos anteriormente constituídos e novas informações contidas no texto, fazemos inferências, comparações (...) processamos, criticamos, contrastamos e avaliamos as informações que nos são apresentadas, produzindo sentido para o que lemos (2010, p.18).
O Ensino e Aprendizagem de Leitura tem sido uma tarefa bastante árdua
a ser desenvolvida no decorrer da vida escolar do aluno. Neste enfoque, o
emprego da linguagem não-verbal proposta no Gênero charge oferece um
leque de informações abrangentes que através do lúdico busca a reflexão.
Para ilustrar esta situação citamos Mario Quintana que dizia “Quem não
compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação”. Neste
mesmo diálogo, acredita-se que o Gênero Charge, sendo um elemento que
exige observação, possa ao mesmo tempo conciliar o humor com a intenção do
diálogo/reflexão com o leitor, principalmente através das imagens, que devem
ser compreendidas e contextualizadas dentro do momento e situação históricos
em que são apresentadas.
Para Silva (2005, p.16), em A Produção de Leitura na Escola: “a leitura
ocupa, sem dúvida, um espaço privilegiado não só no ensino da Língua
Portuguesa, mas no de todas as disciplinas acadêmicas que objetivam a
transmissão de cultura e de valores para as novas gerações”. Este autor
reforça a importância do esforço conjunto de todas as áreas do conhecimento
na formação do leitor competente, respondendo nossa indagação inicial a
respeito da responsabilidade de ensinar a ler. Desta forma, a proposta deste
Projeto de Intervenção Pedagógica procura abranger e interagir com as demais
disciplinas curriculares das séries envolvidas neste trabalho, na busca da
formação do leitor ativo e crítico.
Porém, sabe-se o quão difícil é manter o interesse pela leitura com
tantos artifícios tecnológicos disponíveis no mercado (televisão, computador,
vídeo games, entre outros) como comenta Flávio Gikovate em A arte de
Educar:
(...) É difícil para um livro competir com a televisão, ao menos para aqueles que se habituaram a gastar muito tempo diante dela. O livro
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requer um empenho ativo de leitura (...) devemos nos concentrar nas palavras e delas conseguir “voar” na direção daquilo que o texto evoca (2000, p.49).
É sob a ótica do lúdico, que se aponta para o uso da Charge -
elaboradas pelos cartunistas Francisco Heitor Fernandez, e ainda para
versões/estilos contemporâneos da charge como atrativos para posteriores
leituras interdisciplinares mais aprofundadas.
As imagens produzidas nas charges são provocativo-convidativas e
exigem uma reação do leitor. Segundo Will Eisner:
Para que a leitura de imagem possa contribuir na produção do sentido, a percepção do leitor precisa estar afinada, é necessário responder aos estímulos provocativos da imagem. A mente, a sensibilidade e a criatividade neste processo leitor são intensificadas, pois a linguagem visual é questionadora, e neste trabalho indagativo o leitor elabora múltiplas respostas em sua atividade discursiva (2001, p. 24).
Evidentemente, neste aspecto, as charges poderão ser úteis e
farão o “gancho” para textos mais maduros que permitirão o diálogo entre o
mundo de conhecimento do aluno e o que ainda lhe é desconhecido.
3 A CONSTRUÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO
A produção do Material Didático para Implementação do Projeto de
Intervenção Pedagógica englobou propostas de atividades diferenciadas em
TRÊS UNIDADES DIDÁTICAS que contemplaram as disciplinas de Português,
Biologia e História. Estas Unidades valeram-se do gênero charge4 como
elemento motivador de leituras, servindo de chamariz para possíveis reflexões
dos temas abordados. Além disso, um Material Multimídia foi organizado como
auxílio aos professores, sob o recurso de Apresentação de Power Point com os
temas:
4 As charges utilizadas no Material Didático-Pedagógicos são de autoria do jornalista e chargista
Heitor Fernandez.
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“A História da Charge”
“Biografia de um chargista”
“Interpretando charges”
“Charges para Debate”.
As apresentações acima mencionadas dão sequência ou motivação para
leituras, pesquisa e debates, complementando o material desenvolvido para
cada disciplina. Ainda, no transcorrer das Unidades Didáticas foi oportuno
também, a indicação de alguns endereços eletrônicos para acessos às Leituras
complementares, exercícios e busca de charges dos temas que estavam sendo
estudados. Além disso, compõem o Material várias charges5 para a
interpretação, comparação com outras charges e contextualização com textos
lidos.
Cabe explicar que a charge, por essência, tem função polivalente e
interdisciplinar. Ela é capaz de unir o cômico ao sério. Ao mesmo tempo em
que faz rir, também provoca reflexão. Portanto, cabe salientar aqui, que no
material didático: “A charge – humor e reflexão – um elo interdisciplinar” o
gênero charge foi utilizado como elo, e não como tema interdisciplinar.
Buscou-se, na construção do Material Didático, mostrar a versatilidade e
a riqueza do gênero charge, o qual pode e deve ser explorado por todas as
disciplinas que compõem a grade curricular. Este gênero não deve ser objeto
de estudo unicamente da disciplina de Língua Portuguesa, pois em si, o texto
chárgico abrange inúmeros assuntos da forma e do modo peculiar que
somente a charge pode abordar, permitindo contextualizar assuntos dos mais
variados temas (política, educação, economia, cotidiano entre outros) em
diferentes momentos da História. A partir de uma charge é possível provocar o
riso, entretanto pode-se abrir um leque de discussões, pois o que é retratado
pelo chargista pode trazer humor, ironia e ao mesmo tempo fazer uma crítica,
provocando reflexão sobre um fato cotidiano, uma situação política ou de uma
notícia.
Hoje, pode-se facilmente localizar charges em jornais, revistas e na
internet para quase todos os assuntos que se pretende abordar. Além disso, é
possível encontrá-la, não somente em seu formato estático, mas também no
5 Charges elaboradas exclusivamente para o material didático, outras coletadas do Jornal
Primeira Linha e do Livro Pega-Ladrão , todas de autoria do jornalista e chargista Heitor Fernandez.
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estilo “charges animadas”, constituindo assim, um rico material de apoio para
todas as disciplinas.
É importante salientar que o Material Multimídia foi elaborado juntamente
com as orientações para uso do professor. Além disso, buscamos associar
atividades de LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA, utilizando de recursos
tecnológicos durante as aulas, possibilitando aos jovens maior motivação e
aproximação do(s) conteúdo(s) a ser (em) trabalhado(s), uma vez que os
mesmos se encontram inseridos neste ambiente e familiarizados com uso
destes equipamentos. Por meio de atividades orientadas cada aluno trabalhou,
inicialmente, de forma individual na construção de seu conhecimento, e
posteriormente, em grupos, expondo o resultado de suas pesquisas e de seu
aprendizado.
4 A IMPLEMENTAÇÃO
No terceiro bimestre do ano letivo de 2011, iniciou-se a implementação
do Projeto com a aplicação do Material Didático-Pedagógico: “A charge –
humor e reflexão – um elo interdisciplinar” com a turma do 1º Ano A - Ensino
Médio do Colégio Estadual Almirante Tamandaré – Foz do Iguaçu – PR.
Simultaneamente, as três Unidades Didáticas foram aplicadas na turma
do 1º A – Ensino Médio pelas professoras Isléia Cristina Dominguez de
Biologia, professora Danielle Antunes Garcia de História e por Arlete F. de M.
André de Português, professora cursista do PDE.
Antes da aplicação do Material Didático, inicialmente propusemos aos
estudantes uma entrevista para melhor conhecermos os gostos literários de
nossos alunos. A partir desta entrevista foi possível ponderar os resultados
obtidos, de acordo com a análise abaixo.
4.1 ANÁLISE DA PESQUISA SOBRE LEITURA
Após coleta dos dados, observou-se, primeiramente, conforme
apresentado no GRÁFICO 1, que somente (02) dois, dentre os entrevistados
tinham o hábito constante de leitura. Quanto aos demais, (12) doze deles
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costumavam ler somente quando o assunto era do seu interesse, e (16)
dezesseis estudantes liam por exigência do professor.
Gráfico 1. Hábito de leitura
Os mesmos dados acima são constatados quando os estudantes foram
questionados sobre “Quais leituras costumavam fazer?”, conforme mostra o
GRÁFICO 2, confirmando claramente que os educandos liam mais por
obrigação que por hábito, visto que (20) vinte deles faziam leituras de textos
escolares e somente (10) apontaram por leituras de lazer, entretenimento,
aventura e romance.
Gráfico 2. Preferências de Leitura
2 estudantes
12 estudantes 16 estudantes
QUANDO VOCÊ COSTUMA LER?
LEIO SEMPRE.
LEIO SOMENTE QUANDO O ASSUNTO ME INTERESSA.
LEIO SOMENTE QUANDO O PROFESSOR PEDE.
20 estudantes
10 estudantes
QUAIS LEITURAS VOCÊ COSTUMA FAZER?
LEITURAS DE TEXTOS ESCOLARES
LEITURAS DE TEXTOS VARIADOS
16
As razões pelas quais os educandos mostraram-se distantes da leitura
foram elementos consideráveis que comprovaram a necessidade do uso de
outras metodologias e recursos que possibilitassem essa aproximação dos
jovens com os textos, conforme anteriormente constatado nos documentos das
DCE, (2008, p.74).
Um elemento importante averiguado foi que, embora não apresentando
o hábito de ler constantemente, todos os estudantes reconheceram o quão a
Leitura é essencial para a sua formação pessoal e profissional, conforme dados
obtidos no GRÁFICO 3.
Gráfico 3. Importância da Leitura
Observa-se com isso, que os jovens estão conscientes da importância
da Leitura, entretanto mostram-se imaturos diante da responsabilidade de ler,
priorizando ocuparem-se com outros artifícios e tecnologias (televisão,
videogames, computador entre outros) os quais exigem menos esforços,
reforçando o que já comprovara Doutor Flávio Gikovate, em estudos e análises
em A arte de Educar:
É difícil para um livro competir com a televisão, ao menos para
aqueles que se habituaram a gastar muito tempo diante dela. O livro
29 estudantes
1 estudante
A LEITURA É IMPORTANTE PARA A SUA FORMAÇÃO?
SIM
NÃO
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requer um empenho ativo de leitura de leitura; as páginas não se
movem por si; para nos entretermos, devemos nos concentrar nas
palavras. (...) Qualquer desatenção e teremos de retomar a leitura
algumas linhas para trás. No caso da televisão, nada disso acontece:
se nos distrairmos, a história continuará a ser contada e pegaremos o
fio da meada um pouco mais adiante sem qualquer esforço (2000,
p.49).
Este desinteresse pelo material de leitura impresso fez com que nos
questionemos que era necessário diversificar a oferta de informação aos
alunos, oportunizando-os leituras em diferentes mídias, criando assim a
aproximação do aluno com conhecimento, não somente em material palpável,
impresso, mas utilizando recursos virtuais, como computador com acesso à
comunicação em rede, livros, jornais e revistas virtuais entre outros. Desta
forma, a atividade de leitura poderá ser mais dinâmica, com a interatividade,
conforme os modelos de sociedade e de Educação atual exigem.
Na sequência desta pesquisa, (GRÁFICO 4) observou-se que (15)
quinze dentre os entrevistados não consideraram os textos escolares atrativos,
(13) treze deles avaliaram os textos como interessantes e (02) não souberam
responder.
Gráfico 4. Textos escolares
13 estudantes
15 estudantes
2 estudantes
OS TEXTOS ESCOLARES SÃO ATRATIVOS?
SIM
NÃO
NÃO SOUBERAM RESPONDER
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Quanto ao uso das imagens, conforme resultados obtidos no (GRÁFICO
5), quase todos foram unâmines ao responder que elas são elementos que
incentivam e cativam o leitor, influenciando-o a ler, reforçando a estratégia do
uso do gênero charge como chamariz para Leituras.
Gráfico 5. Imagens e Leitura
Outro dado fundamental, que deve ser mencionado, é que quando os
entrevistados foram questionados a respeito da influência de seus professores,
instigando-os a leituras, a grande maioria, (26) vinte seis deles, responderam
que seus docentes esforçavam-se para incentivá-los (conforme GRÁFICO 6),
entretanto não alcançavam êxito que se esperava: formação do indivíduo leitor
assíduo.
Então, há de se considerar, a respeito deste resultado, a necessidade da
permanente da capacitação e da qualificação dos docentes, no que diz respeito
a metodologias atuais de incentivo a leitura. A grande maioria dos professores,
independente da disciplina que ministra, tem conhecimento de suas
responsabilidades na formação do aluno leitor, entretanto, poucos conhecem
diferentes práticas eficazes e dinâmicas de incentivo à leitura.
29 estudantes
1 estudante
AS IMAGENS ESTIMULAM VOCÊ A LER?
SIM
NÃO
19
Gráfico 6. Professores incentivam a leitura
Quando interrogados por quais razões então não liam, os mesmos
argumentaram que as leituras oferecidas eram difíceis, não lhes chamavam a
atenção e não eram interessantes. Estes dados apresentados apontaram que
não é por falta de incentivo que os educandos não leem, mas por carência de
uma Literatura adequada à faixa etária, que atenda às necessidades e
interesses dos educandos ou ainda, pelo uso inadequado de metodologias e
recursos de incentivo à leitura. O levantamento acima se confirma, conforme se
pode notar (GRÁFICO 7) no qual (20) vinte dos educandos pesquisados
relataram que já se sentiram interessados por leituras feitas por seus
professores, contudo, logo depois perderam o interesse, visto que estes textos,
somente serviram como pretextos para avaliações e questionários.
Gráfico 7. Leitura do Professor
26 estudantes
4 estudantes
SEUS PROFESSORES INCENTIVAM A LEITURA?
SIM
NÃO
20 estudantes
10 estudantes
A LEITURA DE SEU PROFESSOR JÁ O MOTIVOU PARA LER?
SIM
NÃO
20
No último gráfico deste estudo (GRÁFICO 8), o público alvo foi
questionado sobre o gênero charge. Do total de (30) trinta alunos, (22) vinte e
dois, expuseram serem atraídos por este gênero, por ser engraçado e por
retratar a realidade. Os outros (08) oito, disseram não gostarem de charges
por sentirem dificuldades em compreendê-las. Com base neste resultado,
observa-se a ausência de leitura e desinteresse pelos fatos cotidianos destes
últimos (08) oito estudantes.
Gráfico 8. Aceitação do gênero charge
4.2 ANÁLISE DO PERCURSO
Após a sondagem realizada, iniciou-se o processo de Implementação do
Projeto: “A charge – humor e reflexão – um elo interdisciplinar”. Com o auxílio
do material didático-pedagógico elaborado com metodologias e estratégias de
leituras especificas, buscou-se por meio do uso de charges e de recursos
tecnológicos (computador, filmadoras, câmeras fotográficas) estimular a
procura e o interesse dos estudantes por Literaturas e leituras variadas.
22 estudantes
8 estudantes
VOCÊ APRECIA O GÊNERO CHARGE?
SIM
NÃO
21
Nas três Unidades Didáticas elaboradas (Português, Biologia e História)
houve a preocupação de se levar em conta os resultados obtidos na pesquisa,
anteriormente tabulada e analisada para que houvesse o êxito esperado.
As charges do cartunista Heitor Fernandez foram utilizadas como
chamariz, dentre outras encontradas nas redes de comunicação impressa e
virtual (jornal, internet, etc.). As diferentes variações da charge na mídia
também foram essenciais para o incentivo a diferentes leituras.
Os conteúdos contemplados em Português, História e Biologia faziam
parte do Plano de Trabalho Docente, anteriormente elaborado para o 3º
Bimestre. Desta forma, para a disciplina de Biologia, o material foi
desenvolvido com ênfase em Educação Ambiental. Em História focou-se para o
tema: Formação do Estado Europeu: Decadência do Feudalismo – Ascensão
da Burguesia – Formação do Estado. Em Língua Portuguesa, destacamos a
Leitura, Debates, Interpretação e Produção de Charges Estáticas e Animadas.
Todos os assuntos foram trabalhados e apresentados por meio de
atividades de Pesquisas em diferentes recursos (impressos e virtuais),
Debates, Montagens de Charges Estáticas e Animadas vieram como
complemento ao estudo que vinha sendo realizado. Ora o gênero charge serviu
de motivação, instrumento de reflexão, ora serviu de resultado para Leituras e
Debates. Houve também interpretações de charges estáticas e animadas e
ainda o uso do Material Multimídia que ofereceu recursos para estabelecer o
elo entre as Leituras/ Charges/ Debates.
Todas as atividades levaram os estudantes a realizarem leituras e
reflexões de modo dinâmico, interativo, possibilitando que a tarefa de ler e
interpretar, anteriormente consideradas pelos mesmos como “enfadonhas e
cansativas”, fluísse de maneira natural. A dinamicidade, a interatividade com
os diferentes recursos virtuais utilizados na implementação do projeto foram
fundamentais para o sucesso do mesmo. Propiciar que o aprendiz desenvolva
suas leituras de modo a buscar seu conhecimento permite com que o mesmo
atribua sentido ao seu aprendizado.
A palestra com o jornalista, cartunista e chargista Heitor Fernandez,
consolidou nos educandos a necessidade e a importância de se desenvolver o
hábito de ler. Em suas falas, Heitor Fernandez mostrou como é a criação de
uma charge. Ele ainda enfatizou que além da leitura, do saber enciclopédico
22
acumulado ao longo dos anos, é necessária muita criatividade e humor na
elaboração de charges capazes de cativar o leitor.
4.3 OS ENTRAVES NA IMPLEMENTAÇÃO
No decorrer de todo e qualquer trabalho é natural que haja entraves e
percalços, entretanto o bom senso e a criatividade entram em ação para que
estes atropelos sejam contornados. Ocorre que em 2010, período de
elaboração do Projeto de Implementação, o Colégio Almirante Tamandaré
adotava o Ensino Médio, no Sistema de Bloco, com previsão de 4 (quatro)
aulas semanais para a Disciplina de Língua Portuguesa. No ano seguinte,
2011, este Sistema de Ensino foi alterado para Anual, consequentemente
reduzindo a carga horária para apenas 2 (duas) aulas semanais de Língua
Portuguesa. Desta forma, foram necessárias que várias atividades e
atribuições planejadas fossem realizadas fora do horário escolar, devido à
escassez de tempo. Outro entrave de igual relevância que dificultou a
implementação do Projeto PDE foi à precariedade de recursos tecnológicos
que a Escola disponibilizava. Por diversas vezes, a rede de comunicação via
internet entrou em colapso devido à sobrecarga no sistema, pelo fato de todos
os computadores estarem sendo usados ao mesmo tempo. Sendo assim,
houve a compreensão e colaboração de grande parte dos alunos que
trouxeram seus notebooks e aparelhos eletrônicos para a sala de aula, para
que pudéssemos desenvolver as atividades propostas.
4.4 OS RESULTADOS POSITIVOS
Nas três disciplinas em que o Projeto foi desenvolvido notou-se,
consideravelmente, o interesse e o envolvimento dos estudantes na realização
de leituras que, ora complementavam as charges, ora compunham-se de
temas que discordavam com o desenho representado pelas charges. As
23
pesquisas, os debates e os demais trabalhos apresentados em sala foram
executados e tiveram a participação ativa, constante e dinâmica dos
estudantes.
Os estudantes puderam por em prática habilidades e conhecimentos
anteriormente não explorados, e ainda, fizeram uso de instrumentos
tecnológicos para construir e buscar sua aprendizagem, dando significado
maior para tudo o que estava sendo ensinado.
É interessante ressaltar o quanto o gênero charge se faz versátil nos
temas que englobam conteúdos de Português, História, Biologia e outras
disciplinas, observações unânimes dos três professores que aplicaram o
Projeto na turma.
5 SOCIALIZAÇÃO DO PROJETO PDE COM O GRUPO DE TRABALHO EM
REDE (GTR)
É importante registrar que durante a implementação, houve a
socialização do Projeto PDE, bem como de todo Material Multimídia aos
participantes do Grupo de Trabalho em Rede.
Nos estudos e em debates, através do GTR, realizados com (15) quinze
professores de várias regiões do Estado do Paraná, os participantes também
fizeram a experiência do uso de Estratégias de Leitura com o gênero charge,
por meio da aplicação de algumas Atividades que compunham o Material
Didático-Pedagógico. As opiniões formam unânimes quanto à eficiência da
técnica aplicada no incentivo à leitura por meio de charges. Houve a
constatação do elo que a charge permite com a leitura e com diferentes áreas
do conhecimento.
Os professores participantes do GTR elogiaram o Material Didático,
enfatizando a versatilidade do mesmo, que pôde ser adaptando à faixa etária/
série/ ano/ região das quais os educandos pertenciam. Eles também
consideraram que os principais problemas encontravam-se no uso das salas de
informáticas (computadores sucateados) e na dificuldade do professor de fazer
uso das tecnologias em suas metodologias.
24
Ao fazerem uso do Material Multimídia: “A charge – humor e reflexão-
um elo interdisciplinar” teceram elogios quanto às estratégias e a riqueza de
imagens que compunham a íntegra do trabalho. Observaram também, a
eficácia do uso da charge e suas variações como estímulo ao ato de ler e
compreender o sentido dos textos interdisciplinares, destacando que puderam
desenvolver atividades conjuntas com outras disciplinas, o que também era um
dos objetivos do presente projeto.
Para finalizar a análise desta implementação do Projeto PDE: “A charge
- humor e reflexão – um elo interdisciplinar” em sala de aula, faz-se o uso aqui
das palavras do jornalista e chargista Gilberto Maringoni, que destaca a
estratégia do uso das charges, em alguns tabloides, como isca para leituras e
venda de jornais.
A charge é parte desses "penduricalhos" que o jornal apresenta como
material de opinião. Não é à toa que ela sempre está colocada na
página de editoriais, a página nobre. A charge acaba sendo uma
espécie de "editorial gráfico", como dizia o Fortuna, um dos grandes
profissionais da área que este país já teve. Com uma diferença,
lembrava ele: enquanto num artigo o autor pode, após um
contundente ataque, emendar um "mas-contudo-todavia", na charge
estes malabarismos de estilo não são muito permitidos.(...) . A
charge ou é contra ou é a favor. É porrada ou não. (MARINGONI,
1986,p.86).
Sendo assim, se o jornal faz uso deste artifício, utilizemo-nos dele
também, nós, professores, para atrair o nossos leitores, persuadindo-os
através da imagem e do cômico para, posteriormente, levá-los ao exercício da
leitura e reflexão.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após estudos e análises de diversos especialistas na área da Leitura e
das Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa, observou-se que a
25
tarefa do incentivo à leitura deve ser contínua e interdisciplinar. Além disso,
também foi comprovado nas teorias dos autores que serviram de subsídios
para este trabalho e na prática de sala de aula que o incentivo à leitura não é
único e exclusivo trabalho do professor de Língua Portuguesa. Todos os
docentes devem estar imbuídos nesta empreitada.
É imprescindível lembrar que, a faixa etária e as fases da leitura devem
ser levadas em conta, para que o indivíduo tome consciência da importância da
leitura na formação profissional e intelectual e com isso desenvolva o hábito de
ler e refletir.
A utilização de diferentes gêneros textuais constitui-se de um poderoso
instrumento na formação do leitor. Há de se destacar aqui, o gênero textual
CHARGE, que por ser um elemento polifônico, constitui um elo entre o leitor e
o texto. Por meio deste gênero podemos atrair o leitor, pois a charge agrega
simultaneamente o cômico e a reflexão.
Ainda é importante ressaltar que é primordial desenvolver metodologias
de ensino modernas que visem incentivar os novos leitores. Metodologias
ultrapassadas comprometem ou não são eficazes, conforme demonstrado nas
pesquisas analisadas neste artigo. A cada geração, novas formas e recursos
tecnológicos são criados, e estes, por sua vez, devem fazer parte do arsenal de
recursos metodológicos no incentivo a leitura.
Lembramos, ainda, que desde os mais remotos tempos a humanidade
tem passado por mudanças na esfera dos conhecimentos. A cada período e a
cada Era foram exigidas e desenvolvidas diferentes formas e maneiras de se
Ensinar e Aprender.
Dentre estas mudanças, podemos mencionar três distintas Revoluções
de destaque que marcaram significativamente a nossa evolução. A primeira
Revolução ocorreu em um período denominado de ‘Pré-História’, há mais ou
menos 10 mil atrás quando, por intermédio da observação constante da
natureza, o ser humano aprendeu e desenvolveu técnicas de cultivo da terra,
de plantio e de sementes e mudas, dando início a Revolução Neolítica. A
segunda Era foi iniciada no Reino Unido em meados do século XVIII, expandiu-
se pelo mundo a partir do século XIX. A Era da Revolução Industrial, quando foi
necessária a produção em grande escala de diversos produtos, sendo preciso
aliar uma Educação voltada ao desenvolvimento e capacitação de pessoas
26
para o trabalho e produção em massa. Hoje, atravessamos um período em que
se privilegia e se destacam a globalização e a agilidade com as informações e
conhecimentos são transmitidos. Estamos então, vivendo a Revolução do
Conhecimento. A informática, a Biotecnologia e agilidade das informações são
o tripé que alicerçam a Revolução do Conhecimento.
A WEB (World Wide Web) tem sido a principal ferramenta utilizada para
a disseminação das informações pelo mundo a fora. Por meio de
computadores, IPODs, celulares e outros instrumentos com acesso a rede de
comunicação (WEB) marcada pelo uso da internet o mundo todo socializa
informações e conhecimentos.
Sobre tudo isso, o filósofo da Informação, Pierre Lévy sintetiza que:
Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início de seu percurso profissional estarão obsoletas no fim de sua carreira. (...) Trabalhar quer dizer, cada vez mais, aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos. ( LÉVY, 1999, p.157)
Com mesmo pensamento de Lévy finalizamos este Artigo, destacando
que a Sociedade do Conhecimento exige de nós, professores, a constante
atualização e renovação de informações, e ainda, diferentes formas e maneiras
de se Ensinar e Aprender. A charge é somente um dos gêneros interligados a
essa nova sociedade que vivemos que pode servir de elemento motivador de
leituras. Há milhares de maneiras de se incentivar a busca pelo conhecimento
por meio da Leitura. O que jamais podemos nos esquecer é de que há sempre
a necessidade de se inovar as metodologias e encontrar uma infinidade de
recursos para propor leitura, em todas as disciplinas, sem que a mesma se
torne uma tarefa árdua e cansativa.
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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