Artigo Franciscodeassis Genero Grupomarquesmelo

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    SBPJor Associao Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

    10 Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

    Curitiba Pontifcia Universidade Catlica do Paran Novembro de 2012

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    Gneros e formatos jornalsticos:

    critrios e escolhas na obra de Jos Marques de Melo

    Francisco de Assis1

    Resumo: A pesquisa brasileira sobre os gneros jornalsticos, bem como os estudos acerca des-se objeto, passa necessariamente pelas consideraes de Jos Marques de Melo, autor que maisse dedicou questo, oferecendo contributos comunidade acadmica reunida em torno dosfenmenos da imprensa. Compreender sua obra, no entanto, exige bem mais do que a leitura doslivros resultantes de seu principal trabalho a tese de livre-docncia, defendida em 1983 ou

    de outras publicaes dispersas, as quais tambm se ocupam do assunto. Esse exerccio requeruma apreciao crtica de todo o conjunto, com indicaes sobre as opes e sobre as posturasque esto por trs de sua taxionomia. Isto o que buscamos fazer neste trabalho, amparados porpesquisa bibliogrfica, que teve seu foco tanto nas publicaes do prprio autor, quanto nasanlises j realizadas sobre esses materiais. Dessa maneira, reforamos a vinculao terica(funcionalista, embasada principalmente por autores ibero-americanos) e metodolgica (empri-ca) de um trabalho que tem sido desenvolvido h vrias dcadas.

    Palavras-chave: gneros jornalsticos; jornalismo brasileiro; taxionomia; pesquisa; Jos Mar-ques de Melo.

    1. Trabalho de SsifoOs esforos de teorizao do jornalismo entendido, aqui, como sendo fenme-

    no social que implica ordens que no somente a do exerccio profissional tambm

    abrangem conceituaes sobre a tipologia das matrias que a imprensa faz circular

    (PENA, 2005, p. 65-66). Naturalmente, como toda investida que se d no plano da re-

    1 Professor do curso de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP). Douto-

    rando e Mestre em Comunicao Social pela Universidade Metodista de So Paulo (Umesp). Vice-coordenador do grupo de pesquisa (GP) Gneros Jornalsticos da Sociedade Brasileira de Estudos Inter-disciplinares da Comunicao (Intercom). e-mail: [email protected]

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    flexo, os tratados sobre os gneros jornalsticos no se constituem como totalizadores,

    estticos ou impassveis de reviso. Classificar gneros , na realidade, tarefa que muito

    tem em comum com o trabalho de Ssifo, segundo nos narra a mitologia: afazer que

    nunca termina, que sempre retoma ao ponto de partida. A diferena entre o que feito

    pelos observadores do jornalismo e o castigo dado ao personagem mtico est no desen-

    cadeamento das aes: enquanto, na histria lendria, o empenho nunca resulta em fru-

    tos sendo necessrio realizar tudo novamente, sempre e sempre ( intil) , na anlise

    da produo jornalstica, conseguimos formar repertrios, acumular conhecimento e

    avanar no pensamento sobre o objeto, bem como na sua anlise, muito embora tambm

    necessitemos refazer certos percursos um sem nmero de vezes (tem resultados).

    Essa dinmica de retomadas traduz o prprio movimento do jornalismo, capaz

    de se reinventar conforme o desenvolvimento da tcnica que o compreende, a evoluo

    da tecnologia que o ampara e as alteraes das necessidades informacionais apresentadas

    pela sociedade a que se dirige. Independentemente de qualquer categorizao cientfi-

    ca ou do senso comum , gneros e formatos surgem, se modificam e se transformam,

    compondo um sistema em contnuo movimento (LAURINDO, 2003, p. 66). Por issomesmo, impossvel estabelecer uma ordenao completa (REZENDE, 2010, p.

    312), universal (MEDINA, 2001, p. 53) ou definitiva, sendo necessrio realizar per-

    manentemente o trabalho classificatrio.

    Assim tem sido o percurso de Jos de Marques de Melo. Autor brasileiro cuja

    obra a propsito dos gneros jornalsticos considerada a mais importante do pas

    (CHAPARRO, 2008, p. 108) por resolver questes, levantar hipteses e ser a mais

    difundida entre pesquisadores, professores, alunos e alguns profissionais , ele se dedicaao assunto desde sua graduao em jornalismo, concluda em 1964, tendo avanado

    mais significativamente nessa problemtica poca do concurso de livre-docncia pres-

    tado na Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo (ECA-USP), em

    1983, e em estudos posteriores.

    De l para c, o professor vem retrabalhando sua classificao, submetendo-se a

    crticas e a autocrticas, reorganizando sua proposta e identificando demandas e tendn-

    cias do fazer jornalstico (MARQUES DE MELO, 2010a, p. 25). E o faz, principalmente,com o auxlio de alunos de ps-graduao, muitos dos quais seus orientandos, que apro-

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    fundam ou redirecionam debates gerais e setoriais , ao elaborarem dissertaes de mes-

    trado e teses de doutorado, inserindo novos elementos em sua taxionomia original.

    Concordando ou no com suas exposies, adotando-as como parmetro ou pro-

    pondo mudanas, aceitando-as ou criticando-as, toda uma gerao possivelmente mais

    de uma de estudiosos interessados pelos gneros jornalsticos reconhece nos textos de

    Marques de Melo um referencial para seus trabalhos. Podemos at afirmar que, no Bra-

    sil, a pesquisa e o estudo sobre esse assunto especialmente os que so desenvolvidos

    nos limites do campo da Comunicao passam necessariamente pelos pressupostos

    por ele esboados.

    Por isso mesmo, parece-nos oportuno trazer para estas linhas uma leitura crtica

    do percurso trilhado pelo autor2, o que inclui observar referenciais tericos, estratgias

    metodolgicas e outras noes tangenciais que sustentam a classificao dos gneros

    proposta no conjunto que d corpo sua obra. No cumprimento desse objetivo, o que-

    bra-cabea que se nos pe constitudo pelos fragmentos de um panorama histrico das

    iniciativas tocantes a uma organizao das classes textuais praticadas pela imprensa

    brasileira. A tarefa mont-lo. Tentemos.

    2. Um longo percursoA dedicao de Jos Marques de Melo aos gneros jornalsticos tem se mostrado

    uma tarefa cumprida em trs estgios sequenciais: 1) extensa reviso bibliogrfica, a

    qual confere especial destaque aos autores ibero-americanos (MARQUES DE MELO,

    2003b, p. 194) principalmente os que tambm fazem classificaes, sejam elas cient-

    ficas ou de ordem prtica (manuais, por exemplo) ; 2) observao atenta dos materiais

    produzidos pela imprensa nacional o que inclui aspectos textuais, estilsticos, estrutu-

    rais e, ainda, possveis finalidades ; e 3) ordenao que procura somar os pressupostos

    consultados s anlises empricas.

    2 Muito embora este trabalho seja voltado a uma histria autoral, no iremos nos estender em anotaesbiogrficas sobre o pesquisador que ilustra nossa reflexo, por conta do curto espao de que dispomos

    para fazer outras consideraes fundamentais. Aos que se interessarem, h livros sobre a trajetria emquesto (MARQUES DE MELO, 2009b; HOHLFELDT, 2010), alm de um cibermemorial, espao on-line com informaes sobre sua vida acadmica (http://www.marquesdemelo.pro.br/).

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    Suas principais contribuies para aquilo que podemos chamar de sistematiza-

    o brasileira dos gneros jornalsticos a qual, vale dizer, comumente apontada

    como sendo a classificao Marques de Melo, em reconhecimento ao autor de seu

    desenho foram dadas a partir da tese de livre-docncia Gneros opinativos no jorna-

    lismo brasileiro, defendida na ECA-USP, em 1983, como aludimos anteriormente, e dos

    trabalhos desenvolvidos em parceria com mestrandos e doutorandos da prpria Univer-

    sidade de So Paulo e, tambm, da Universidade Metodista de So Paulo (Umesp), ins-

    tituio localizada em So Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que se tornou, nos

    ltimos anos, um dos principais centros de reflexo sobre o assunto no pas.

    Antes disso, no entanto, ele havia adentrado no terreno dos gneros superficial-

    mente, em discusses mais amplas, sobre aspectos gerais do jornalismo. O ponto de

    partida foi a pesquisa de iniciao cientfica sobre a crnica policial na imprensa de Re-

    cife (PE), realizada em 1965, na Universidade Catlica de Pernambuco (Unicap), sob

    orientao do professor Luiz Beltro, na qual identificou as caractersticas do noticirio

    apresentado nas editorias de polcia mantidas por trs jornais editados na capital per-

    nambucana:Dirio de Pernambuco,Jornal do Commercio e ltima Hora3. Sua conclu-so, dentre outros aspectos, foi a de que os fatos policiais nos matutinos do Recife so

    divulgados atravs de: a) notcias; b) registros; c) comentrios, sendo as duas primeiras

    as formas preferenciais (MARQUES DE MELO, 2003a, p. 147).

    Em seguida, e tambm antes de realizar estudos avanados, o jovem pesquisador

    incluiu os gneros de notcia como categoria de anlise em uma pesquisa realizada em

    1966, perodo em que cursava ps-graduao no Centro Internacional de Estudios Supe-

    riores de Periodismo para Amrica Latina (Ciespal), sediado na cidade de Quito, capitaldo Equador. O enfoque, dessa vez, recaiu sobre o Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), o

    3 O trabalho A crnica policial na imprensa do Recife foi publicado originalmente em 1965, na segundaedio de Comunicaes & Problemas primeiro peridico cientfico da rea de Comunicao do Brasil,editado pelo Instituto de Cincias da Informao (Icinform) , e republicada em 2003, no terceiro nmerodeIdade Mdia, publicao do Centro Universitrio Fiam-Faam. No editorial da revista editada na dcadade 1960, l-se o seguinte: Ainda nesta edio, oferecemos, em primeira mo, o estudo morfolgico decontedo e de repercusso social do noticirio de fatos policiais, durante uma semana (1 a 7 de setembrode 1963), na imprensa pernambucana. Este trabalho de investigao cientfica foi realizado pelos alunosdo Curso de Jornalismo da Universidade Catlica, liderados pelo hoje bacharel em Jornalismo Jos Mar-

    ques de Melo (coordenador e relator da matria), sob a orientao do prof. Luiz Beltro. Na parte de esta-tstica, recebeu a colaborao tcnica do prof. Carolino Gonalves, do Instituto Joaquim Nabuco de Pes-quisas Sociais, ao qual mais uma vez manifestamos o nosso reconhecimento.

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    Jornal do Commercio (Recife) e o Correio da Paraba (Joo Pessoa). Os resultados,

    publicados em seu livro de estreia no mercado editorial Comunicao social: teoria e

    pesquisa (MARQUES DE MELO, 1970, p. 146) , apontaram para a vigncia de trs

    classes textuais nos referidos dirios: 1) noticirio informativo (predominante); 2) noti-

    cirio interpretativo (mais usual noJB, emergente noJCe residual no CP); e 3) notici-

    rio opinativo (que aparecia em menor escala, em todos os componentes da amostra).

    Nesses dois primeiros momentos, justamente por no situar os gneros como t-

    nica de suas investidas, o autor no faz revises sobre tal assunto e tampouco se apro-

    funda na leitura do dado emprico. Isso o que ir fazer posteriormente, nas investiga-

    es realizadas, individual ou coletivamente, na USP e na Metodista, os dois espaos

    que se ofereceram para ele e para seus discpulos se acercarem do objeto central deste

    ensaio. Por isso mesmo, para melhor entendermos esse itinerrio, conveniente separ-

    lo em dois perodos sequenciais, guiados pela demarcao institucional.

    2.1.USPA tese elaborada para concorrer ao ttulo de livre-docente , sem dvida, o mais

    importante dentre seus trabalhos relacionados aos gneros jornalsticos. Se no apenas

    em razo das defesas ali expostas haja vista que algumas delas foram revistas, atuali-

    zadas ou modificadas , assim o pelo fato de ter sido o texto em torno da questo mais

    difundido no pas, como j dissemos, e o mais citado, consequentemente4. H de se des-

    tacar, ainda, que ali esto diludas pistas para a compreenso dos gneros, como a ideia

    de que estud-los exerccio que ajuda a visualizar a identidade do jornalismo

    (MARQUES DE MELO, 2003b, p. 11) e que, por isso mesmo, deve levar em conta as-

    pectos culturais, geogrficos, ideolgicos, etc. Em razo disso, ele sustenta que os g-

    neros jornalsticos so manifestaes especficas do campo do jornalismo que, no Bra-

    sil, conjugam influncias externas com particularidades autctones, como avalia Jorge

    Pedro Sousa (2010, p. 55).

    O prprio Marques de Melo (2006c, p. 68-69) afirmou, em livro posterior:

    4 A tese de livre-docncia de Jos Marques de Melo ganhou duas edies pela Editora Vozes (1985;

    1994), sob o ttulo A opinio no jornalismo brasileiro. Revisto e adaptado para fins didticos, circulounovamente no mercado editorial, pela Editora Mantiqueira, em 2003, com o nome Jornalismo opinativo:gneros opinativos no jornalismo brasileiro.

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    compreender os gneros jornalsticos significa, portanto, estabelecer

    comparaes, buscar identidades, indagar procedncias. Da a neces-sidade de encontrar na bibliografia internacional aquelas refernciascapazes de elucidar certas nuanas caractersticas do jornalismo quepraticamos no Brasil contemporneo. [...] Nosso jornalismo contem-poraneamente o resultado cultural desse conjunto de motivaes for-neas, sem que isso queira significar a existncia de uma fisionomiaamorfa, produzida pelo entrecruzamento dos padres estrangeiros.

    Assim sendo, o que fez o professor, naquele comeo dos anos 1980, foi elaborar,

    inicialmente, um panorama das classificaes que haviam sido propostas nos Estados

    Unidos, na Europa e, principalmente, na Amrica Latina. Em seu mapeamento, constamos nomes de 12 pesquisadores5 que se dedicaram a encontrar parmetros para a defini-

    o dos contedos publicados na mdia impressa. Cada autor revisitado observa a divi-

    so dos gneros de forma distinta: Emil Dovifat, por exemplo, entende-os como formas

    de expresso jornalstica que se definem pelo estilo e assumem expresso prpria pela

    obrigao de tornar a leitura interessante e motivadora; Joseph Folliet, por outro lado,

    diz que os os gneros surgem da correspondncia de textos que os jornalistas escrevem

    em relao s inclinaes e aos gostos do pblico (MARQUES DE MELO, 2003b, p.

    43); outros, contudo, no oferecem grandes explicaes sobre os critrios que os leva-

    ram a dada listagem, dedicando-se exclusivamente a dizer quais caractersticas marcam

    cada um dos gneros indicados.

    No exerccio de avaliao dessas possibilidades, Marques de Melo (2003b, p.

    43) percebe embates nos conceitos e no tratamento conferido s observaes sobre os

    gneros. o que evidencia, ao afirmar que a literatura norte-americana sobre jornalis-

    mo demonstra reduzida ateno a [...] questes epistemolgicas ou taxionmicas, reve-

    lando interesse mais pragmtico pela descrio ou interpretao dos processos jornals-

    ticos ou buscando aprender suas tendncias concretas.

    Do conjunto de autores, Luiz Beltro assumidamente sua principal fonte de refe-

    rncia, tanto pelo fato de ter sido o pioneiro dos estudos brasileiros sobre gneros jorna-

    lsticos (MARQUES DE MELO, 2010a, p. 25, grifo nosso) proximidade geogrfica

    5 So eles: Joseph Folliet e Jacques Kayser (Frana); Fraser Bond (EUA); Emil Dovifat (Alemanha);

    Domenico De Gregorio (Itlia); Martn Vivaldi e Martnez Albertos (Espanha); Juan Gargurevich (Peru);Eugenio Castelli (Argentina); Raul Rivadeneira Prada (Bolvia); Julio Cabello (Venezuela); Luiz Beltro(Brasil).

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    quanto por adotar postura metodolgica tambm assumida pelo ex-aluno, sendo ambos

    adeptos da empiria como estratgia de pesquisa afinidade metodolgica e da noo do

    jornalismo como referencial que contempla variveis comuns ao prprio objeto, sendo

    necessrio perceb-las para compreender o contexto (SOUSA, 2010, p. 47).

    As percepes de Beltro sobre as diferentes formas do jornalismo se encontram

    diludas em uma trilogia produzida com finalidade didtica6. Atento ao mercado, o mes-

    tre de Marques de Melo reproduz, em seu trabalho, as mesmas definies do senso co-

    mum estabelecido entre profissionais de sua poca, no obstante busque ancoragem em

    bibliografia nacional e estrangeira.

    J os critrios que orientam Marques de Melo (2003b, p. 64) se apresentam em

    duas frentes. Primeiro, na inteno da empresa jornalstica ao transmitir determinado

    acontecimento: a maneira como a instituio quer difundir os fatos o que determina,

    por exemplo, se ele ser relatado sem qualquer juzo de valor ou, ento, se ser impresso

    com alguma carga analtica. J o segundo aspecto destacado, referente estrutura, no

    diz respeito somente s caractersticas textuais que configuram seu estilo , mas deno-

    ta a articulao que existe do ponto de vista processual entre os acontecimentos (real),sua expresso jornalstica (relato) e a apreenso pela sociedade (leitura).

    Embora se guie por Beltro, o autor questiona os critrios classificatrios de seu

    antecessor, os quais tomaram por base o que era comumente aceito por jornalistas da

    poca. Ao criticar tal proposta, acaba banindo algumas separaes, como a diviso entre

    reportagem e reportagem em profundidade por considerar que no h atributos

    suficientes para serem entendidas como gneros separados , e contesta a autonomia da

    fotografia e dos demais recursos visuais, defendendo que se tratam apenas de cdigosutilizados para o registro e para a documentao dos acontecimentos.

    Marques de Melo (2003b, p. 61) tambm coloca em xeque a independncia que

    Beltro atribui histria de interesse humano, afirmando que, na prtica, o que ocorre

    a sua distino como matria fria (de atualidade permanente), permitindo-se o jorna-

    lista que a escreve recorrer ao arsenal narrativo peculiar ao universo da fico. Tempos

    depois, como veremos, tal postura foi repensada.

    6A imprensa informativa: tcnica da notcia e da reportagem no jornal dirio (1969),Jornalismo inter-pretativo: filosofia e tcnica (1976) eJornalismo opinativo (1980).

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    Com base no quadro terico aqui resumido e observando a realidade da impren-

    sa no perodo indicado, Marques de Melo (2003b, p. 65) props, nessa primeira fase de

    seu trabalho, a classificao dos gneros do jornalismo brasileiro em conformidade com

    duas classes (informao e opinio), as quais correlacionam os critrios intencionalida-

    de e natureza estrutural dos relatos. Sua diviso, portanto, apresenta-se assim:

    a) Jornalismo informativo (nota, notcia, reportagem, entrevista).b) Jornalismo opinativo (editorial, comentrio, artigo, resenha, coluna, crni-

    ca, caricatura, carta).

    interessante notar, aqui, uma mudana de posicionamento que ir se acentuar

    nas dcadas seguintes relacionada aos agrupamentos dos textos jornalsticos. Na tese

    de livre-docncia, o professor percebe fragilidades nas tendncias rotuladas como jor-

    nalismo interpretativo ejornalismo diversional, afirmando que ambas no encontram

    ancoragem na prxis jornalstica observada no pas (MARQUES DE MELO, 2003b,

    p. 64). Sua ideia, poca, era a de que interpretao e diverso so recursos adota-

    dos, vez ou outra, pelojornalismo informativo, muito embora, na pesquisa realizada no

    Ciespal, tenha dado autonomia aos noticirios interpretativos.Dando continuidade aos testes empricos, Marques de Melo ainda desenvolveu

    pesquisa, em 1985, com um grupo de alunos de mestrado e doutorado da ECA-USP

    matriculados na disciplina Gneros opinativos na imprensa diria , os quais se dedi-

    caram a analisar a Folha de S.Paulo, poca o jornal de maior tiragem no pas. Foram

    estudados seis gneros opinativos (artigo, caricatura, carta, comentrio, crnica e editori-

    al) e um nico gnero informativo (entrevista). A fotografia tambm fez parte desse rol,

    muito embora o autor no a considere um gnero, mas, sim, um cdigo utilizado pararegistrar fatos ou document-los (MARQUES DE MELO, 1992, p. 12), sendo seu argu-

    mento o de que um cdigo no suficiente para categorizar qualquer gnero jornalstico.

    Alguns dos autores que assinam Gneros jornalsticos na Folha de S.Paulo

    livro resultante da anlise acima mencionada avanaram nas discusses em trabalhos

    prprios e mais amplos. o caso, por exemplo, de Cremilda Medina (1986), que tratou

    da entrevista em sua tese de doutoramento, e de Manuel Carlos Chaparro (2008), que

    dedicou seu ps-doutorado a uma classificao dos gneros que pudesse servir obser-vao do jornalismo praticado tanto no Brasil quanto em Portugal.

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    2.2. Metodista

    A segunda era das ideias do autor, sobre o objeto aqui discutido, tem incio no

    final da dcada de 1990, com a reviso do que foi defendido anteriormente. De certa

    forma, isso j havia sido previsto. Quando realizou o estudo com os alunos da ECA-

    USP, Marques de Melo (1992, p. 13) deixou claro que os gneros jornalsticos refletem

    momentos especficos do trabalho da imprensa e que precisam ser observados constan-

    temente, para que possam ser compreendidos dentro de um panorama evolutivo. Na

    apresentao do livro por ele organizado, destaca o seguinte:

    importante explicitar que o exerccio feito conjuntamente com osmeus alunos para analisar a relao teoria-prtica dos gneros jornals-ticos num dirio paulistano trouxe muitos elementos para confirmartendncias encontradas na bibliografia cientfica do Jornalismo. Noentanto, os resultados coligados no permitem fazer generalizaespara o jornal Folha de S.Paulo como um todo. Eles refletem o com-portamento do veculo naquela semana estudada ou, quando muito,naquela conjuntura. Um perfil mais duradouro dos gneros jornalsti-cos nessa publicao exigiria uma vasta pesquisa, captando amostrasde diferentes momentos histricos.

    A nova etapa, a exemplo do que ocorreu na outra instituio, teve origem em

    sala de aula. Agora, no programa de ps-graduao da Metodista, no mbito do qual

    tem oferecido, at 2012, em semestres alternados, disciplinas voltadas para os gneros

    da comunicao de massa ou, especificamente, para os gneros jornalsticos.

    Desenvolvida com base em reviso de literatura e em anlise de jornais e revis-

    tas que circularam em 1997, a nova classificao proposta por Marques de Melo foi

    alm das fronteiras entre informao e opinio. Buscando novas bibliografias acerca do

    assunto e vigilante s mudanas ocorridas no jornalismo brasileiro, na primeira dcada

    aps a redemocratizao do pas, o autor reconhece que outras categorias passaram a

    figurar na imprensa, adquirindo autonomia ou sendo mais bem exploradas.

    O primeiro registro dessa outra proposta classificatria encontra-se documentado

    nos anais do 21 Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao, realizado pela So-

    ciedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao (Intercom), em setem-

    bro de 1998, na cidade de Recife. Nopaperque recebeu o ttulo Gneros e formatos na

    comunicao massiva periodstica: um estudo do jornal Folha de S.Paulo e da revis-

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    ta Veja7, esto projetadas novas reflexes, com a afirmao de que os veculos nacio-

    nais produzem cinco gneros, os quais so desdobrados em formatos:

    a) Gnero informativo (nota, notcia, reportagem, entrevista).b) Gnero interpretativo (anlise, perfil, enquete, cronologia)8.c) Gnero opinativo (editorial, comentrio, artigo, resenha, coluna, crnica,

    caricatura, carta).

    d) Gnero diversional (histria de interesse humano, histria colorida).e) Gnero utilitrio (indicador, cotao, roteiro, chamada, obiturio)9.Os critrios de classificao continuaram a ser, basicamente, os mesmos de ou-

    trora: a conjugao da intencionalidade com o aspecto estrutural. Entretanto, como j foi

    dito, nessa segunda fase h uma separao entre gnero (classe) eformato (forma), sen-

    do o segundo um desdobramento do primeiro. A terminologia que remete aos contor-

    nos dos textos jornalsticos foi emprestada dos estudos miditicos, que hegemonica-

    mente o adotam em categorizaes voltadas produo miditica, nas suas mais diver-

    sas manifestaes (MCQUAIL, 2003, p. 339).

    No que concerne ao circuito terico a que sua proposta se vincula, importanteanotar outra tentativa de articulao entre mais de um elemento. No material didtico

    que tem disponibilizado aos alunos, o professor Marques de Melo considera que a cate-

    gorizao por ele proposta est alicerada sobre duas correntes que, de modo aparente,

    se opem: o funcionalismo e a teoria crtica. Como j apontamos em outra reflexo,

    alm da finalidade dos textos caracterstica da primeira frente terica a que nos refe-

    rimos , os gneros tambm so definidos em consonncia com o esteretipo encrava-

    do nas normas que regem o trabalho dos jornalistas de redao (ASSIS, 2011, p. 216),ou seja, tambm devem ser pensados a partir de hipteses frankfurtianas, de acordo com

    o olhar do autor aqui estudado.

    7 Opaperfoi assinado pelos pesquisadores Paulo da Rocha Dias, Rosemary Bars Mendez, Daniella Cres-pin Villalta e Glubio Batista, sob coordenao do professor Jos Marques de Melo. Os autores eram, ocasio, mestrandos e doutorandos da Universidade Metodista de So Paulo, e realizaram o estudo explo-ratrio em torno do jornal Folha de S.Paulo e da revista Veja.8 Nos trabalhos mais recentes, o autor incluiu, na lista do gnero interpretativo, o formato dossi(MARQUES DE MELO, 2009a, p. 36).9 necessrio explicar que, em 1998, a classificao sugeria que o gnero utilitrio incorporava os forma-

    tos chamada o qual orienta os leitores sobre o contedo de uma edio e obiturio dados sobrefalecimentos. Todavia, em trabalhos elaborados posteriormente, Marques de Melo (2006a; 2006b; 2009a)deixou de considerar tais contedos como formatos, substituindo-os pela forma servio.

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    Essa nova classificao se assim podemos cham-la ainda no est dispo-

    nvel em livro individual, muito embora tenha o autor demonstrado, em alguns de seus

    textos e em alocues, interesse em faz-lo. Ainda assim, algumas obras que publicou

    recentemente (MARQUES DE MELO, 2009a; 2010b; 2012) oferecem breves aborda-

    gens conceituais e esquemas a respeito de muitos dos aspectos discutidos nestas linhas.

    A elas, soma-se a coletnea que tivemos a oportunidade de organizar em conjunto, reu-

    nindo textos seus e de seus alunos e/ou ex-alunos que balizam a proposta classifica-

    tria e/ou ajudam a entender opes e direcionamentos que o levaram ao panorama ex-

    posto h pouco (MARQUES DE MELO & ASSIS, 2010).

    Um aspecto singular a ser salientado diz respeito ao lugar que ocupam os gne-

    ros jornalsticos. Na contramo do que pressupem as Cincias da Linguagem, que en-

    tendem o jornalismo como gnero do discurso (BENETTI, 2007), Marques de Melo

    situa os gneros dentro do universo processual da comunicao, relacionando-os dire-

    tamente comunicao de massa. Critrio apresentado inicialmente em forma de dia-

    grama, no trabalho emprico desenvolvido pelos alunos da Metodista, no final da dcada

    de 1990 (DIAS et al, 1998, p. 3), foi posteriormente organizado nesses termos:

    O campo da comunicao constitudo por conjuntos processuais, en-tre eles a comunicao massiva, organizada em modalidades significa-tivas, inclusive a comunicaoperiodstica (jornal/revista). Esta es-truturada, por sua vez, em categorias funcionais, como o caso dojornalismo, cujas unidades de mensagem se agrupam em classes, maisconhecidas como gneros, extenso que se divide em outras, denomi-nadasformatos, os quais, em relao primeira, so desdobrados emespcies, chamadas tipos (MARQUES DE MELO, 2009a, p. 35).

    Nessa perspectiva, gneros jornalsticos so classes que agrupam formas de ex-presso jornalstica, organizadas conforme determinado propsito (informar, interpretar,

    opinar, divertir, ser til, segundo a classificao em relevo). Os formatos, por conse-

    guinte, so as mensagens jornalsticas estruturadas com certos caracteres, sendo estes os

    responsveis por sua identidade (por exemplo, notcia, coluna, roteiro, etc.). Finalmente,

    os tipos so os desdobramentos dessas formas, cujas caractersticas so capazes de dife-

    renciar unidades dentro de um conjunto (grande reportagem, coluna de miscelnea,

    etc.). Em linhas gerais, seria esta a hierarquia de organizao dos trabalhos da imprensa,conforme os parmetros estabelecidos por Marques de Melo.

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    Por fim, vale dizer que essa classificao a que tem guiado boa parte das pes-

    quisas sobre o assunto realizadas na Universidade Metodista de So Paulo, tais como as

    dissertaes de Paulo da Rocha Dias (1999), Lailton Alves da Costa (2008), Tyciane

    Viana Vaz (2009), Maria de Jesus Daiane Rufino Leal (2011), Maria de Lourdes Cres-

    pan (2012), alm do nosso prprio trabalho (ASSIS, 2009), e as teses de Virgnia Salo-

    mo (2009) e Janine Lucht (2009), entre outras. medida que os pesquisadores avan-

    am em suas discusses setoriais, tambm oferecem contribuies ao orientador, que

    em alguns casos chega a acrescentar ou a excluir itens de sua taxionomia10.

    3. Sntese da sntese: entre a teoria e a prtica preciso produzir teoria estribada na prxis e no reflexes ancoradas apenas

    na bibliografia importada. Quem disse isso foi o prprio Marques de Melo (2003c, p.

    14), em entrevista concedida a Tatiana Teixeira e cujo teor est publicado na edio n 5

    da revista Pauta Geral, que tem o ncleo temtico dedicado questo dos gneros

    jornalsticos. Acreditamos que esse pensamento resume bem os interesses e as ideias do

    autor, primeiro por deixar claro que a teoria do jornalismo na qual acredita aquela que

    busca no cotidiano da imprensa elementos para se sustentar; depois, por valorizar os

    referenciais prximos no somente em termos geogrficos, mas culturais, principal-

    mente , entendendo serem tambm eles definidores da identidade do jornalismo.

    Muito embora no se apresente como uma teoria dos gneros jornalsticos, as-

    sumindo-se como proposta classificatria, a obra de Jos Marques de Melo e aqui

    inclumos os livros originados da livre-docncia, as coletneas que organizou e os textos

    dispersos em anais de congresso e em antologias ambiciona problematizar os gneros

    jornalsticos estabelecendo rupturas entre o objeto real ou concreto e o objeto cient-

    fico, ao mesmo tempo em que o constri como sendo esse ltimo, fato caracterstico da

    instncia epistemolgica na qual se origina todo o processo de produo do conheci-

    mento na esfera da cincia (LOPES, 2005, p. 121). Isso significa reconhecer que suas

    10

    Um exemplo: os resultados do trabalho de Lailton Costa levaram o orientador a cogitar que a histriade viagem pode ser tida como formato especfico, a ser submetido ao gnero diversional (MARQUESDE MELO, 2010a, p. 34).

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    reflexes contribuem para a formao de bases tericas caso no a teoria em si ou,

    como diz o prprio autor, servem de referencial para a pesquisa emprica, a ser utili-

    zada como estratgia para mais adequadamente pensar o jornalismo, marcado pela

    efemeridade e pela caducidade precoce (MARQUES DE MELO, 2003b, p. 181).

    Tambm devemos pensar que, embora alguns considerem estudar os gneros um

    passatempo anacrnico (TODOROV, 1981, p. 45), o professor sempre defendeu a

    necessidade de discutir os padres estabelecidos pela imprensa. No por acaso, a finali-

    dade didtica de seu livro destacada logo na apresentao, quando se afirma obra

    tanto para estudantes quanto para professores de jornalismo, bem como outros educado-

    res e cidados interessados em conhecer os bastidores da produo jornalstica

    (MARQUES DE MELO, 2003b, p. 11). Desse modo, ambiciona atingir os cursos espec-

    ficos afinal, onde comea a prxis , mas no se inibe em colocar-se disposio de

    outra parcela da sociedade, constituda por leitores crticos da imprensa.

    Esses interesses se tornaram, mais recentemente, objetivos do grupo de pesquisa

    (GP) que Marques de Melo fundou, em 2009, na estrutura da Intercom, cujo intento

    maior sistematizar as reflexes nacionais sobre o objeto em questo. Coordenado ateste 2012 por seu fundador tendo em ns a vice-coordenao , o GP Gneros Jorna-

    lsticos, subordinado Diviso Temtica de Jornalismo, espera alcanar as seguintes

    metas, a curto e mdio prazo: 1) revisar criticamente o conhecimento acumulado sobre

    gneros jornalsticos, elaborando relatos peridicos sobre o estado da arte; 2) observar

    sistematicamente a natureza dos gneros jornalsticos cultivados pela mdia brasileira,

    disseminando estudos que possam suscitar o dilogo com os seus produtores e usu-

    rios; 3) elaborar material didtico sobre gneros jornalsticos para uso nas universida-des e escolas de segundo grau de todo o pas; e 4) manter permanente dilogo com os

    membros da comunidade acadmica mundial que se dedicam ao estudo desse objeto

    (MARQUES DE MELO, 2010a, p. 36).

    Dentre as muitas consideraes que tm sido feitas pelos pesquisadores, nas reu-

    nies anuais do GP, realizadas durante os congressos nacionais da Intercom, a mais sig-

    nificativa aquela que refora a necessidade da elaborao de investigaes avanadas

    e constantes sobre esse panorama, principalmente em razo das mudanas provocadaspelas novas tecnologias nos processos jornalsticos. isso o que Jos Marques de Melo,

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    seus discpulos e outros pesquisadores, ligados direta ou indiretamente a ele, tm procu-

    rado fazer, ainda que alguns se submetam a matrizes tericas que no as desse autor.

    Importa colocar, ainda, que no negamos nem desconhecemos que a obra em fo-

    co seja questionada e que apresente algumas fragilidades e lacunas, possivelmente resul-

    tado das muitas alteraes feitas ao longo dos anos. Todavia, reconhecer isso no re-

    neg-la. Ao contrrio, ajuda-nos a fazer uso de suas consideraes como base para no-

    vas investidas, mesmo que, em alguns casos, seja necessrio regressar ao ponto inicial.

    Referncias

    ASSIS, Francisco de. Contribuies do funcionalismo e da teoria crtica para os estudos sobregneros jornalsticos. Logos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 215-233, 2 sem. 2011.

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    DIAS, Paulo da Rocha. Os enviados especiais da Igreja Catlica: o uso da imprensa para acriao de uma mentalidade ad gentes entre os catlicos brasileiros. Anlise de trs revistas

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