Artigo O Campo Enquanto Territrio Resistencia
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O CAMPO ENQUANTO TERRITÓRIO DE RESISTÊNCIA: O PAPEL DA
EDUCAÇÃO DO CAMPO E DO TRABALHO
Jeinni Kelly Pereir P!"i#l$
Iri"el% Mr&in' %e S#!" e Sil()
RESUMO: Este artigo apresenta reflexões iniciais sobre o papel do Trabalho e Educação do Campo
enquanto agentes de produção e transformação da realidade do território camponês. É parte da
temtica da dissertação de !estrado em desen"ol"imento no #rograma de #ós$graduação em
Educação da %ni"ersidade Estadual de !aring. & categoria de anlise geogrfica $ o território $
especificamente o território camponês como a base estruturante da pesquisa. #arte$se do pressuposto
que as relações não ocorrem no "cuo' mas são materiali(adas nos territórios que podem representar
espaços de dominação ou resistência. )esse sentido * abordada a Educação do Campo' constru+da no
interior do !o"imento dos Trabalhadores ,urais -em Terra !-T/. & Educação * entendida como
território imaterial que atua direta e indiretamente na modificação do território material camponês. 0
trabalho' categoria fundante do homem' * constituinte das dimensões territoriais' atua de maneira
interati"a e completi"a com a produção' cultura' organi(ação pol+tica e educação. 1essa forma' *
considerada a relação intr+nseca entre trabalho e a educação na luta por uma formação profissional
para a população do campo' condi(ente não somente com a "i"ência cotidiana' mas com a busca da
reali(ação de todas as dimensões da existência humana. 0 referencial teórico$metodológico deste
estudo busca explicitar o "+nculo org2nico entre a economia do capital e a "ida social. 0s ob3etos de
in"estigação cr+tica' território' trabalho e educação' são situados no contexto histórico$mundial atual
no intuito de se esclarecer o complexo de mediações concretas que influem diretamente sobre aqueles
no bo3o das transformações oriundas da mundiali(ação do capital. & perspecti"a territorial qualifica a
pesquisa na medida em que parte da cr+tica do próprio espaço onde são desen"ol"idas as relações
sociais. Compreender o trabalho e a educação do campo "inculados ao território amplia as
possibilidades de negação 4 subalternidade imposta pelos interesses do capital.
PALA*RAS+CHA*E: Território. Trabalho. Educação do Campo. Campo.
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5)T,01%670
8O Território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as
paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é
onde a história do homem plenamente se realiza a partir das
manifestações da sua existência” !ilton "antos#$
Este artigo' parte compositi"a da temtica da dissertação de mestrado em andamento
no #rograma de #ós$graduação em Educação da %ni"ersidade Estadual de !aring' apresenta
discussões iniciais sobre o papel do Trabalho e Educação do Campo' protagoni(ada pelo
!o"imento dos Trabalhadores ,urais -em Terra !-T/' enquanto agentes de transformação
do território camponês em espaço de resistência' a partir das relações contraditórias
estabelecidas no interior da sociedade capitalista.
0 território $ categoria de anlise geogrfica 9 * discutido aqui não como território em
si mesmo' mas pelo seu uso enquanto espaço humano e habitado. Essa categoria tem sido
amplamente utili(ada por outras ciências que se dedicam ao estudo da produção e
transformação do espaço. )a maioria das "e(es' o território * utili(ado de maneira superficial
e apenas como palco das relações sociais como se não exercesse influência sobre as relações
que nele se constituem.
)um primeiro momento' ob3eti"a$se' uma bre"e anlise dessa categoria' subdi"idindo$
a em território material e imaterial no qual serão abordados' de maneira espec+fica' o território
material camponês e o território imaterial' ou se3a' a educação do campo. #ara tanto' far$se$
um bre"e resgate do contexto histórico' pol+tico e econ:mico a partir da d*cada de ;<=>'
per+odo de reestruturação produti"a do capital' que forneceu as bases para globali(ação dosterritórios e espaços que assistimos na atualidade.
&pós abordar tais questões' serão discutidas as relações entre a categoria trabalho e a
Educação do Campo na formação humana da população que acompanha o mo"imento do
!o"imento. -er enfati(ado o papel do !-T enquanto su3eito pedagógico que rei"indica
escolas que contemplem a sua realidade social' e se utili(am da educação território imaterial/
e do trabalho para constituir o campo em território material de resistência 4s prticas pol+ticas
que não identificam a realidade social e cultural desse espaço.
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0 !-T' al*m de sua tarefa histórica 9 produ(ir alimentos nas reas aprisionadas pelo
latif?ndio 9' tamb*m auxilia na formação de seres humanos' na teoria e na prtica pedagógica
no interior de uma coleti"idade em mo"imento preocupada com a educação das gerações
futuras. & educação do campo tem' como princ+pio' a dimensão do trabalho' o que reforça o
lugar das relações sociais na formação humana' e' nesse sentido' o su3eito educati"o não
precisa ser uma pessoa ou estar na escola. %ma fbrica' um sindicato' um partido ou um
mo"imento social podem ser su3eitos educati"os @,&!-C5' ;<AB/.
#ara a reali(ação de tal pesquisa' adotou$se um referencial teórico$metodológico capa(
de explicitar a relação org2nica entre o modo de produção capitalista e a "ida social. -itua$se
o ob3eto de in"estigação cr+tica no contexto da sociedade burguesa em suas condições de
mundiali(ação' e"idenciando as m?ltiplas determinações que o "inculam a totalidade concreta
do capitalismo mundial.
Estudar' portanto' a realidade do território camponês e as possibilidades de
transformações positi"as' em prol do homem do campo' pressupõe a negação das condições
de precariedade laboral e educação burguesa "oltadas para a realidade da cidade' e a luta por
uma formação profissional capa( de gestar no"as estrat*gias para a organi(ação da "ida e do
trabalho no campo' e"idenciando a relação dial*tica da educação enquanto território imaterial
com o território material de resistência no qual se constitui * tarefa que nos propomos.
1estacam$se a import2ncia das categorias geogrficas para a compreensão da
educação do campo' suas lutas e o trabalho em sua totalidade' uma "e( que a realidade
histórico$mundial e suas modificações não ocorrem suspensas no ar' mas em determinado
espaço. Como enfati(ou o geógrafo aesbaert D>>' p. D>/F 8G...H não h como definir o
indi"+duo' o grupo' a comunidade' a sociedade sem ao mesmo tempo inseri$los num
determinado contexto geogrfico' IterritorialJK.
O Terri&,ri# n# -#n&e.&# /l#0l
&o longo da história humana se obser"ou que o espaço geogrfico sempre representou
ob3eto de compartimentação de acordo com os interesses de cada *poca. Com a globali(ação
dos espaços' tal prtica foi acirrada e nenhuma fração do #laneta escapou 4 influência
econ:mica e pol+tica do homem. Como alertou -antos D>>A' p. A;/F 8Com a globali(ação'
todo e qualquer pedaço da superf+cie da Terra se torna funcional 4s necessidades' usos e
apetites de Estados e empresas nesta fase históricaK. )esse contexto' a abordagem territorial
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surge como categoria que permite explicar o papel do contexto e do espaço social como fator
de desen"ol"imento.
)uma situação de extrema competiti"idade' caracter+stica do capitalismo global' o
espaço geogrfico ganhou no"as definições' os territórios são reprodu(idos e organi(ados por
relações sociais de classes e re"elam os mo"imentos de dominação e resistência. 0 estudo
desta não * no"idade' pois o surgimento deste conceito tem por base os estudos do geógrafo
Lriedrich ,at(el no contexto da unificação alemã em ;A=;. E' posteriormente' foi sendo
desen"ol"ido e aperfeiçoado por outros geógrafos como o norte$americano' Mean @ottmann'
na d*cada de ;<=>' o francês' Claude ,affestin' os brasileiros' !ilton -antos e Nertha NecOer'
em ;<A>' o norte$americano' ,obert -acO' em ;<AP' e' mais recentemente' o norte$americano'
1a"id ar"eQ' na d*cada de ;<<>' entre outros.
0 território não * aqui considerado somente um espaço de go"ernança' pois se
consideram os di"ersos interesses que produ(em diferentes territórios. & conceituação aqui
defendida entende o território como um espaço determinado por relações de poder e"identes
ou não. Tem como referencial o lugar' espaço do cotidiano onde se desen"ol"em relações
internas e externas ?teis para o estudo de processos sociais e' sobretudo' para o estudo do
desen"ol"imento do campo. Como bem analisou Lernandes D>><' p. /F
0 território compreendido pela diferencialidade pode ser utili(ado
para a compreensão das di"ersidades e das conflitualidades das
disputas territoriais. G...H #artiremos do território como espaço de
go"ernança' mas reconhecemos outros tipos de territórios fixos e
fluxos' material e imaterial' formados pelas diferentes relações sociais
e classes sociais G...H.
#ara ,affestin ;<<R/' o território * entendido como a manifestação espacial do poderfundamentada em relações sociais e no qual existem m?ltiplos poderes al*m do Estado. )esse
sentido' NecOer afirma que 8face 4 multidimensionalidade do poder' o espaço reassume sua
força e recupera$se a noção de território. Trata$se' pois' agora de uma geopol+tica de relações
multidimensionais de poder em diferentes n+"eis espaciaisK ;<AR' p.=/. #autado nesse
referencial' se fa( necessrio recuperar o contexto do modo de produção capitalista' da d*cada
de ;<=>' definido como a ,eestruturação #roduti"a do Capital onde os n+"eis espaciais de
influência econ:mica e pol+tica foram ampliados. & modificação da organi(ação produti"a dotrabalho caracter+stica do taQlorismoSfordismo * substitu+da pela acumulaç%o flex&'el baseada
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em no"as tecnologias e na descentrali(ação produti"a mundial' o que sucinta a retomada dos
debates sobre a dimensão espacial e territorial da locali(ação da produção capitalista
&,EU' ;<<R/.
& crescente desterritoriali(ação da produção caracter+stica desse no"o momento' o
deslocamento das unidades produti"as para outros espaços na busca de maiores lucros e
menores despesas' tornou$se comum. &s relações' processos' mercadorias' pessoas e ideias
mo"imentam$se por distintas regiões do globo' de maneira intensa e desenfreada. #ara 5anni
;<<<' p. <B/F
& desterritorializaç%o manifesta$se tanto na esfera da economia como
na da pol+tica e cultura. Todos os n+"eis da "ida social' em alguma
medida' são alcançados pelo deslocamento ou dissolução de
fronteiras' ra+(es' centros decisórios' pontos de referências. &s
relações' os processos e as estruturas globais fa(em com que tudo se
mo"imente em direções conhecidas e desconhecidas' conexas e
contraditórias.
,ealidades e problemas nacionais mesclam$se com realidades e problemas mundiais'
ou se3a' o local' regional' nacional ou mesmo continental entram no 3ogo das relações
internacionais. )o lugar da sociedade nacional' surge a sociedade global. &s atuações do
mercado financeiro permeiam a sociedade global no 2mbito pol+tico' econ:mico e social e
promo"em a fragmentação desta. 1e acordo com -antos D>>A' p. =</F 80s territórios tendem
a uma compartimentação generali(ada' onde se associam e se chocam o mo"imento geral da
sociedade planetria e o mo"imento particular de cada fração' regional ou local da sociedade
nacionalK.
0 sentido da disputa est na essência do território' princ+pios como intencionalidade econflitualidade são os respons"eis pelo desen"ol"imento dos espaços sociais contido no
espaço geogrfico' como' por exemplo' o campo. Cabe' neste momento' um esclarecimento de
Lernandes D>><' p. /F 8G...H * preciso esclarecer que o espaço social est contido no espaço
geogrfico' criado originalmente pela nature(a e transformado continuamente pelas relações
sociais' que produ(em di"ersos outros tipos de espaços materiais e imateriaisK.
O -12#: &erri&,ri# 1&eril
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0 campo * uma fração do espaço geogrfico' e' portanto' um território com
caracter+sticas particulares. 1esde os primórdios' a agricultura * ati"idade re"eladora das
relações profundas entre as sociedades humanas. 0 a"anço da ci"ili(ação proporcionou o
desen"ol"imento do campo e pode$se falar ho3e de uma agricultura cient+fica. Como ponderou
-antos D>>A' p. AA/F
0s ?ltimos s*culos marcaram' para a ati"idade agr+cola' com a
humani(ação e a mecani(ação do espaço geogrfico' uma
consider"el mudança de qualidade' chegando$se recentemente' 4
constituição de um meio geogrfico a que podemos chamar de meio
t*cnico$cient+fico$informacional' caracter+stico não apenas da "ida
urbana mas tamb*m do mundo rural' tanto nos pa+ses a"ançados como
nas regiões mais desen"ol"idas dos pa+ses pobres. É desse modo que
se instala uma agricultura propriamente cient+fica' respons"el por
mudanças profundas quanto 4 produção agr+cola e quanto 4 "ida de
relações.
0 território camponês abriga os "etores da globali(ação e' para se enquadrar ao
modelo econ:mico' de"e se submeter aos usos e apetites do Estado e das empresas
multinacionais. #or*m' pode representar$se tamb*m como território de resistência que nega as
condições precrias as quais sobre"i"em e lutam por uma realidade diferente. -antos D>>A/'
ao analisar tais questões' "erificou' no interior dos territórios e dos lugares cotidiano de
determinada população/' a existência de esquizofrenias' definidas por ele comoF
0 território tanto quanto o lugar são esqui(ofrênicos' porque de um
lado acolhem os "etores da globali(ação' que neles se instalam paraimpor sua no"a ordem' e' de outro lado' neles se produ( uma contra$
ordem' porque h uma produção acelerada de pobres' exclu+dos'
marginali(ados -&)T0-' D>>A' p. ;;/.
Território e lugar não são apenas categorias de anlise' mas espaços "i"idos que
podem apresentar manifestações de contraface ao pragmatismo caracter+stico da sociedade
burguesa globali(ada. & partir das no"as mutações da sociedade' tem$se a construção de um
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no"o espaço e de um no"o funcionamento do território por meio de horizontalidades e
'erticalidades' definidas a seguirF
&s "erticalidades podem ser definidas' num território' com um
con3unto de pontos formando um espaço de fluxos. G...H 0 sistema de
produção que se ser"e desse espaço de fluxos * constitu+do por redes 9
um sistema reticular 9' exigente de fluide( e sequioso de "elocidade.
-ão os atores do tempo rpido' que plenamente participam do
processo' enquanto os demais raramente tiram todo pro"eito da fluide(
p. ;>B$;>P/. G...H &s hori(ontalidades são (onas da contigVidade que
formam extensões cont+nuas. G...H a existência de um 8espaço banalK
em oposição ao espaço econ:mico. 0 espaço banal seria o espaço de
todosF empresas' instituições' pessoasW o espaço das "i"ências. G...H
Trata$se' aqui' da produção local de uma integração solidria' obtida
mediante solidariedades hori(ontais internas' cu3a nature(a * tanto
econ:mica' social e cultural como propriamente geogrfica
-&)T0-' D>>A' p. ;>A$;;>/.
)o interior da realidade global' as 'erticalidades representam os espaços regidos por
um relógio despóticoR a ser"iço dos atores hegem:nicos em detrimento das horizontalidades
de carter solidrio org2nico que representam a sobre"i"ência em con3unto dos espaços
banais$ )esse processo' emerge uma anlise basilar para a compreensão dos pap*is das
categorias geogrficas nas lutas sociais e na contribuição da Educação do Campo' enquanto
instrumento de elaboração de contra(racionalidade que podem constituir$se na base das
horizontalidades em contraponto 4s racionalidades caracter+sticas das 'erticalidades
-&)T0-' D>>A/.&o contrrio da ordem que se impõe aos espaços em redes marcados pela fluide('
rapide(' alienação e obediência dos atores hegem:nicos' podem ser criados espaços banais'
ou se3a , no"as formas de resistência e existência. É por isso que o território e o lugar são
esqui(ofrênicos' pois abrigam desde os pragmatismos hegemoni(ados at* as contrar$
racionalidades.
Terri&,ri# i1&eril: E%!-34# %# C12#
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Compreender o Campo como um território implica discutir a educação para o seu
desen"ol"imento. & educação de"e ser pensada para a realidade espec+fica do território
camponês e se constitui' portanto' com um território imaterial que est relacionado ao controle
e dom+nio dos processos de construção do conhecimento. & Educação do Campo' prioridade
histórica e pol+tica do !-T' reali(a a formação dos sem$terra com funções intelectuais que
não incorporem uma educação "inda de fora' mas que aqueles se tornem su)eitos de sua
própria pedagogia C&X1&,T' D>>' p. R;D/. & intencionalidade no processo de formação
est no próprio carter do !-T' al*m da luta pelo cumprimento de sua tarefa histórica'
entendido com a produção de alimentos nos latif?ndios improduti"os' e busca formar seres
humanos que entendam e contestem prticas sociais impostas pela sociedade "igente.
,oselQ Caldart' em seu li"ro *edagogia do !o'imento "em Terra +-# fa( uma
ampla discussão sobre a Educação do Campo' e"idenciando a import2ncia do mo"imento
social para a reno"ação do mo"imento pedagógico. & autora esforça$se em demonstrar que a
pedagogia do !-T não se fundamenta estritamente nas relações pedagógicas educador e
educando/' mas na própria din2mica social' na qual cabem ressaltar a reciprocidade entre as
prticas educati"as e a din2mica da sociedade. Como analisou !arx D>>=' p. PP/' 8G...H as
circunst2ncias fa(em os homens assim como eles fa(em as circunst2nciasK. @eograficamente
falando' são os territórios imateriais' no caso de nossa anlise' a Educação do Campo' que
produ(em e reprodu(em os territórios materiais' no caso' o Campo.
0s territórios imateriais representam a base de sustentação de todos os territórios. -ão
os territórios imateriais que materiali(am' por meios das lutas' no"as formas de "ida
LE,)&)1E-' D>><' p. ;=/. 0 !-T' como su3eito pedagógico' produ( e transforma
identidades ao longo de sua tra3etória histórica com diferentes "i"ências e realidades que dão
"ida ao mo'imento do !o'imento. -ua história e a pedagogia são transformadas
constantemente e procura$se consolidar uma pedagogia do mo"imento e não para o
mo"imento. 1e acordo com as reflexões de Caldart D>>' p. R;=/F
0 !-T 3unta em si esses dois su3eitos' o que torna' parece$me' um
ob3eto bastante pri"ilegiado de estudo tamb*m nesse campo. Trata$se
aqui' pois' de compreender uma pedagogia do !o"imento e não para
o !o"imento' no duplo sentido de ter o !o"imento como su3eito
educati"o e como su3eito de reflexão intencionalidade pedagógica/
sobre sua própria tarefa de fa(er educação ou formação humana.
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É nesse sentido que o !-T' por meio da Educação do Campo e da "alori(ação no
cotidiano' atua na construção de contrar$racionalidades dos lugares e dos territórios. #or meio
das manifestações' tem$se a contraface do pragmatismo en"ol"ido por um denso sistema
ideológico. 0 mo"imento tornou$se uma organi(ação popular que luta pela conquista de
territórios e sua cont+nua transformação.
Terri&,ri#5 E%!-34# %# C12# e Tr0l6#
&s compreensões de endramini D>>=/ contribuem amplamente para o entendimento
da relação entre educação e trabalho no território camponês. & escola de"e estar em sintonia
com as mudanças que ocorrem no território onde se locali(a e buscar uma formação
profissional que contemple a realidade. #ara endramini D>>=' p. ;D</F
& educação do campo ganha um no"o sentido' quando associada a um
mo"imento social que defende a educação articulada com a criação de
condições materiais para a "ida no campo. & defesa de uma educação
do campo tem como sustentação o reconhecimento de uma realidade
de trabalhadores e trabalhadoras que têm resistido para continuar
produ(indo sua "ida no espaço rural.
& situação atual do campesinato não * nada confort"el frente 4 moderni(ação e 4
presença massi"a de multinacionais por todo o globo. Lernandes' ao analisar a realidade do
campo na atualidade' salientaF
0 campesinato "em sendo destru+do e recriado continuamente de
di"ersas formasF por pol+ticas de compra de terras para pequenosagricultores' com apoio do Nanco !undial' pelo arrendamento de
terras pelos grandes proprietrios e pelas ocupações de terras' que
ocorrem na &m*rica Xatina' na Yfrica e na Ysia. & diminuição da
população camponesa em todo o mundo não pode ser compreendida
sem a anlise das pol+ticas agr+colas que os excluem' das pol+ticas de
desen"ol"imento urbano que estão produ(indo cidades insustent"eis
e da territoriali(ação das multinacionais que controlam cada "e( mais
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a terra e gua nos pa+ses em desen"ol"imento LE,)&)1E-' D>>P'
p. D/.
0 campo * tratado' pela maioria dos pa+ses' como algo residual em meio a uma sociedade que
tem se moderni(ado amplamente frente aos imperati"os do capital mundiali(ado. #or*m' *
primordial analisar que a mesma moderni(ação que re"olucionou os espaços industriais da
cidade gerou o desemprego estrutural e que a cidade não * capa( de absor"er a mão de obra
"inda do campo' e' nesse sentido' a agricultura familiar * "ista como uma opção para a
geração de trabalho e desen"ol"imento territorial camponês.
É 3ustamente nesse contexto que se enquadra a ação do !-T que' por meio das lutas'
atua constantemente no campo' questionando a pol+tica do agronegócio. Como bem analisou
Lernandes D>>P' p. D/F
Essa luta se constitui no campo das possibilidades dos processos de
transformação da sociedade. Esse tem sido um mo"imento de a"anços
e refluxos de um processo em permanente construção. Caminhando na
contra$corrente das teses do capitalismo agrrio' compreendemos o
campesinato como uma forma de organi(ação e desen"ol"imento
fundamental para a construção de um mundo mais 3usto.
0s mo"imentos sociais desen"ol"em no"as funções para o território e' transformam o
espaço geogrfico. &dquirem "ida e participam de uma dial*tica 3unto 4 sociedade'
transformando paisagens e resignificando lugares -&)T0-' D>>P/. #ara tanto' * 3ustificada a
grande import2ncia dada 4 educação pelo !-T' que busca a qualificação profissional para
melhor atuar no campo.
1e acordo com dados que tratam da educação no !-T "erificaram$se ;>>.>>> semterras alfabeti(ados' ;>.>>> que atuam em escolas de assentamentos e acampamentos sem$
terra' .>>> professores 3 foram formados no !o"imento' RB>.>>> 3 se formaram em cursos
de alfabeti(ação' ensino fundamental' m*dio' superior e cursos t*cnicos. #ossui D.DB> escolas'
das quais ;.A>> at* a Z s*rie e >> at* o ensino fundamental completo. E h' atualmente
RB>.>>> sem$terra' entre criança' 3o"ens e adultos' que estudam !-T' D>></.
& luta por cursos t*cnicos e superiores tem crescido amplamente no !o"imento. 0
5nstituto )acional de Coloni(ação e ,eforma &grria 5)C,&/' em parceria comuni"ersidades p?blicas' e com o apoio do #rograma )acional de Educação na ,eforma
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&grria #,0)E,&/' tem propiciado o Ensino t*cnico em &gropecuria' &groecologia e
Enfermagem em alguns Estados brasileiros. Cursos nas reas de licenciatura como istória'
Ciências &grrias e #edagogia. @arantir a Educação do Campo * um desafio. Xutar 3unto aos
go"ernos e uni"ersidades para a ampliação e continuidade do processo educati"o' plane3ado
de forma sistemtica e representado pelas iniciati"as escolares que "ão desde a alfabeti(ação
aos cursos superiores' não tem sido tarefa fcil.
Cabe ressaltar que' al*m do conhecimento sistemtico representado pela educação
formal' existe tamb*m o aprendi(ado presente nas próprias lutas do !o"imento' por meio da
ocupação da terra' reuniões' manifestações p?blicas' "ida nos acampamentos' enfrentamentos'
entre outros. Como analisou @ramsci' o trabalho também é um princ&pio educati'o
)0-EXX&' ;<<D/. #ara endramini D>>=/ são de extrema import2ncia a sintonia entre a
escola e as mudanças do território local' pois as no"as necessidades geram as bases para a
formação profissional de acordo com o modo de "ida e o trabalho em constante
transformação.
Al/!1' -#n'i%er37e'
&s considerações aqui apresentadas não "isam concluir a temtica' posto que 3 foi
mencionado ser o artigo reflexões de uma dissertação de !estrado em processo de
construção. Nuscou$se e"idenciar a import2ncia de se utili(ar a categoria território para a
compreensão de questões sociais' econ:micas e pol+ticas' uma "e( que ele * o espaço onde se
materiali(am as relações sociais que podem produ(ir e transformar modos de "ida.
Licou e"idente que' em meio 4 condição de globali(ação do capital' que acentua ainda
mais a concentração de terras' o agronegócio tende a se proliferar pela maioria dos territórioslocali(ados no campo. #or*m' os territórios de resistência camponesa' 3unto aos territórios
imateriais' buscam auxiliar na tomada de consciência da realidade' ob3eti"am lutar contra essa
racionalidade que coloca a classe trabalhadora do campo em condições precrias de "ida
marcada pela informalidade e ausência de pol+ticas p?blicas.
É "alido esclarecer que a prtica educati"a não * aqui entendida como a solução para
os problemas da sociedade burguesa em "igência' mas como instrumento de luta que ob3eti"a
des"endar' pela rai(' o carter alienante do discurso hegem:nico e construir no"asconsciências a partir da realidade material que se constitui sob o modo de produção
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capitalista. & luta pelos cursos t*cnicos e superiores' especificamente para a população ligada
ao !-T' * algo de extrema import2ncia para o desen"ol"imento do campo uma "e( que *
primordial ha"er profissionais qualificados tanto para o culti"o da própria terra' quanto para
perpetuar o ensino entre os assentamentos e acampamentos.
0 trabalho' categoria fundante do ser social' aliada 4 educação' sua categoria
deri"ati"a' pode promo"er mudanças na realidade social. )ão sob a perspecti"a economicista
que priori(a uma educação alienada e submissa aos ditames capitalistas' mas no interior de
uma prxis emancipatória que transcenda a lógica do capital. Essa educação que tem o
trabalho como princ+pio educati"o fa( parte' no interior da realidade do campo' de um pro3eto
que busca soluções para al*m dos problemas agrrios. & transformação do território
camponês em espaço de resistência constitui$se na "alori(ação da realidade particular do
campo' enquanto espaço "i"ido e na negação da racionalidade hegem:nica' caracter+stica da
temporalidade global' imposta pelo modelo econ:mico capitalista.
Re8er9n-i'
NEC[E,' N. [. 0 uso pol+tico do territórioF questões a partir de uma "isão do terceiro
mundo. 5nF NEC[E,' N. [W C0-T&' ,W -5XE5,&' C. org./. A0#r%/en' 2#l&i-' %
e'2-ili%%e. ,io de ManeiroF %L,M' ;<AR. p. ;$D;.
C&X1&,T' ,' -. Pe%/#/i %# M#(i1en&# Se1 Terr; -ão #auloF Expressão #opular'
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LE,)&)1E-' N. !. O' -12#' % 2e'>!i' e1 E%!-34# %# C12#: espaço e território
como categorias essenciais. sS data 9 C. 1ispon+"el emF
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@,&!-C5' &. O' in&ele-&!i' e #r/ni"34# % -!l&!r; BZ Ed. -ão #auloF Ci"ili(ação
Nrasileira' ;<AB.
&E-N&E,T' ,. O 1i&# % %e'&erri&#rili"34#: %# ?8i1 %#' &erri&,ri#'@
1!l&i&erri&#rili%%e. ,io de ManeiroF Nertrand Nrasil' D>>.
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!&,_' [. A I%e#l#/i Ale14; -ão #auloF !artin Claret' D>>=.
!-T !o"imento dos Trabalhadores ,urais -em Terra/. & educação do !-T. 5)F J#rn%
N-i#nl %e L!& %#' Se1 Terrin6; 0utubro' D>><. )` RD. 1ispon+"el emF
\httpFSS]]].mst.org.brSnodeSAR>D^ &cesso emF >B mar. D>;>.
)0-EXX&' #. A e'-#l %e r1'-i; #orto &legreF &rtes !*dicas' ;<<D.
,&LLE-T5)' C. P#r !1 /e#/r8i %# 2#%er. -ão #auloF Ytica' ;<<R.
-antos' !. A N&!re" %# E'23#: T*cnica e Tempo' ,a(ão e Emoção. $ . ed. D. reimpr. $
-ão #auloF Editora da %ni"ersidade de -ão #aulo' D>>P.
-&)T0-' !. P#r !1 #!&r /l#0li"34# $ do pensamento ?nico 4 consciência uni"ersal.
-ão #auloF ,ecord' D>>A.
E)1,&!5)5' C. ,. E%!-34# e Tr0l6#: reflexões em torno dos mo"imentos sociais do
campo. Cad. Cedes' Campinas' "ol. D=' n. =D' p. ;D;$;RB' maioSago. D>>= ;D;. 1ispon+"el
emF \httpFSS]]].cedes.unicamp.br ̂ . &cesso emF ;P fe". D>;>.
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; @raduada em @eografia pela %ni"ersidade Estadual de !aring. !estranda do #rograma de
#ós$graduação em Educação da %ni"ersidade Estadual de !aring $ ##ES%E!. #esquisadora
do @rupo de Estudos e #esquisas em #ol+ticas e @estão Educacional @E##@E $ C)#q/. E$
mailF 3einniOellQhotmail.com
Co$orientação do mestradoF 1rZ. !aria &parecida Cec+lio. %ni"ersidade Estadual de !aring.
E$mailF maaceciliohotmail.com
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D 1ocente do curso de #edagogia e do #rograma de #ós$graduação em Educação ##E/ da
%ni"ersidade Estadual de !aring 9 %E!. X+der do @rupo de Estudos e #esquisas em
#ol+ticas e @estão Educacional @E##@E $ C)#q/. E$mailF iri(mssQahoo.com.br
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R 8G...H com a interdependência globali(ada dos lugares e a planetari(ação dos sistemas
t*cnicos dominantes' estes parecem se impor como in"asores' ser"indo como par2metro na
a"aliação da eficcia de outros lugares e de outros sistemas t*cnicos. É nesse sentido que o
sistema t*cnico hegem:nico aparece como algo absolutamente indispens"el e a "elocidade
resultante como um dado dese3"el a todos que pretendem participar' de pleno direito' da
modernidade atualK -&)T0-' D>>A' p. ;D/.
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0 #ronera foi criado em ;P de &bril de ;<<A e * um #rograma de Educação do Campo "oltado
especificamente para trabalhadores das reas de reforma agrria executado pelo 5)C,&' no !inist*rio do
1esen"ol"imento &grrio !1&/' em parceria com diferentes esferas de go"erno' 5nstituições de Ensino'
mo"imentos sociais e organi(ações sociaisSsindicais.