Artigo Sobre Possibilidade Do Uso Do Programa Audacity
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Audacity, uma das várias possibilidades de acervo de ideias.
Deisi Geneci Sander1
A sociedade atual convive com o apogeu das Tecnologias de Informação
e Comunicação (TICs) de tal forma que seu comportamento, sua forma de
pensar e sua maneira de aprender modificaram-se. Dificilmente encontraremos
alguma comunidade, mesmo distante de centros urbanos, que não utilize, não
manipule algum artefato tecnológico na sua rotina. Esse uso não se restringe à
televisão2, trazida, ao Brasil, por Assis Chateaubriand, na década de 1950, nem
ao rádio3, inaugurado oficialmente, no país, em 7 de setembro de 1922, pois,
além desses, está presente o aparelho de celular, suporte de mídias diferentes,
tornando-se uma ponte a seus usuários à comunicação e à informação.
Esse novo jeito de a sociedade relacionar-se e compartilhar informações
traz mudanças à Educação, a qual deve adaptar-se a elas, porque, como
menciona Tânia Maria Esperon Porto:
As tecnologias põem à disposição do usuário amplo conjunto de informações/conhecimentos/linguagens em tempos velozes e com potencialidades incalculáveis, disponibilizando a cada um que com elas se relacione, diferentes possibilidades e ritmos de ação. (PORTO, p. 5, 2006)
Por isso, essa realidade lança um desafio às escolas, pois não basta
equipá-las com salas de informática, com aparelhos de DVD, TV, data-show, já
que, como afirmou Porto (2006), a simples manipulação de algum artefato
tecnológico não garante uma efetiva ação pedagógica. É preciso que
professores recebam formação adequada para pensarem as tecnologias
midiáticas como recursos pedagógicos e de que forma podem contribuir ao uso
crítico delas por parte dos alunos. De acordo com José Manuel Moran, em seu
artigo Educação inovadora na Sociedade da Informação, “Temos que repensar
1 Graduada em Letras: Português – Licenciatura Plena (Unisinos); Estudante do curso de especialização Mídias na Educação (UFPEL); Professora de Língua Portuguesa e Literatura na rede pública de ensino.2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Televis%C3%A3o_no_Brasil <acesso em 07.10.12>3 http://www.abert.org.br/site/images/stories/pdf/AHistoriadoR%C3%A1dionoBrasiVERSaO%2020112.pdf <acesso em 07.10.12>
seriamente os modelos aprendidos até agora. Ensinar e aprender com
tecnologias telemáticas é um desafio que até agora não foi enfrentado com
profundidade.”
Assim, com o objetivo de aprofundar as relações entre mídias e
educação a fim encontrar resultados promissores no processo ensino-
aprendizagem, nasce este projeto que será aplicado em uma turma de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), na escola Ildo Meneghetti, em Ivoti/RS.
Município e escola
Inserida dentro do processo de colonização do país, de acordo com o
site oficial do município4, em meados de 1826, diversas famílias de origem
germânica, instalaram-se nos 48 lotes de terra, distribuídos ao longo do Arroio
Feitoria e nas Colônias de Bom Jardim. Em 1966, os dirigentes municipais
contribuíram à diversidade cultural, destinando uma área de terras para serem
ocupadas por 26 famílias de imigrantes japoneses, surgindo, assim, a Colônia
Japonesa, produtora de uvas de mesa, kiwi, hortaliças e flores.
Fundada em 19 de outubro de 1964 e com população de 20.160
habitantes (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- 2009) dos
quais 14.354 são eleitores (TRE –Tribunal Regional Eleitoral - , 21/06/2010),
Ivoti, a cidade das flores, abriga-os numa área de 63,14 km², a 55 quilômetros
da capital gaúcha. Para atender sua população em relação à saúde, oferece
um hospital com 41 leitos, 5 postos de saúde, 1 unidade móvel e 1 centro de
Fisioterapia.
Sua economia dividi-se em três setores: primário (acácia negra,
hortifrutigranjeiros, flores, laticínios, milho, mandioca, feijão), secundário
(indústria de calçados, couros, laticínios, malhas, rações e sucos) e terciário
(serviços em geral), colaborando para um PIB per capita de R$ 16.863,00
(IBGE 2007). Politicamente, a cidade é representada por diferentes partidos
4 http://www.ivoti.rs.gov.br/ <acesso em 06.12.110>
políticos no Poder Legislativo: Partido dos Trabalhadores (PT), Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Democratas (DEM), Partido
Socialista Brasileiro (PSB), Partido Progressista (PP), Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) e Partido da Social Democracia (PSDB) e, no poder executivo,
sua representante é Maria de Lourdes Bauermann do PP.
Em relação à Educação, de acordo com o levantamento de dados,
realizado pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), em 2010,
Ivoti tem 2.632 matrículas em seus estabelecimentos de ensino, os quais estão
distribuídos da seguinte maneira: Educação Infantil (inclui Pré-A e Pré-B e
creches) - 2 municipais e 4 particulares; Ensino Fundamental - 2 estaduais, 9
municipais, 1 particular; Ensino Médio - 1 estadual e 1 particular; Ensino
Superior - 1 particular.
Entre as escolas municipais de Ensino Fundamental, está a EMEF
Engenheiro Ildo Meneghetti, localizada na Rua Sapiranga, n º 354, no bairro
Morada do Sol, pertencente à zona urbana do município, onde atuo como
professora contratada na modalidade de ensino EJA. Para fazer um
levantamento de dados e impressões da escola, conversei com a vice-diretora
Marlise Pires de Arruda e a coordenadora pedagógica Carla Isabel Haupenthal.
Haupenthal relatou-me que o bairro Morada do Sol é formado por
imigrantes de diversas regiões do Estado e de Estados vizinhos, como Santa
Catarina e Paraná. Disse que eles foram atraídos pela oferta de emprego no
setor coureiro-calçadista e que hoje é considerado, pela cidade, o bairro que
abriga a população mais carente economicamente. Depois dessa informação,
Arruda acrescentou:
Desde sua fundação em 1984, apesar da comunidade ser carente, os pais são efetivamente participativos. Comparecem em peso a todas as atividades e promoções que a escola oferece. E, por causa dessa participação, ela é o que é hoje. E junto com o trabalho da equipe diretiva e dos professores estamos conseguindo transformar a realidade dessas pessoas.
Quando a vice-diretora disse “ela é o que é hoje”, estava referindo-se ao
espaço físico que a escola tem atualmente, pois se tornou, com o passar dos
anos, uma das maiores escolas do município, com 29 salas de aula, 6
banheiros, uma cozinha ampla, 2 laboratórios de informática, 1 laboratório de
aprendizagem, 1 biblioteca com um amplo acervo, 1 laboratório de Ciências, 1
sala para a equipe diretiva, 1 sala para a coordenação, 1 sala para atendimento
psicológico, 1 sala para a secretaria, uma recepção e um ginásio de esporte,
anexo à escola, e um espaço ao cultivo das tradições gaúcha chamado de
“Piquete: porteira do futuro”. Além disso, há áreas de recreação cobertas e ao
ar livre. Para ter ideia de seu crescimento, a escola, no ano de sua fundação,
contava com apenas 2 salas de aula, 1 pequena cozinha e 1 banheiro. O
gráfico mostra o desenvolvimento que a escola apresentou ao longo dos anos.
Fonte:Plano Político Pedagógico da escola, escrito em
2010.
Distribuição de alunos por série/ano/etapa
Fonte: Plano político Pedagógico da escola, escrito em 2010.
Apesar de iniciar suas atividades em 1985, a gestão da escola passou a
ser democrática somente a partir de 1998, ano em que a comunidade escolar
passou a eleger o(a) diretor(a), que escolhe sua equipe, inclusive seus
coordenadores pedagógicos. Haupenthal informou que os vice-diretores e
coordenadores pedagógicos não atuam por turnos, e sim por etapas de ensino:
séries iniciais, séries finais e EJA. Assim, tem-se o seguinte quadro: sob a
direção geral da escola está o professor Antônio Osmar Bervanger, na vice-
direção (Ed. Infantil a 4ª série) a professora Ângela Dilly Graeff e a
coordenadora pedagógica é a professora Márcia Werlang Berghan. De 6º a 9º
ano na vice-direção está a professora Neiva Isabel Mielke Silva e a
coordenadora pedagógica é a professora Juliana Petry e, na Educação de
Jovens e Adultos (EJA), a vice-diretora é a professora Marlise Pires Arruda e a
coordenadora pedagógica é a professora Carla Isabel Haupenthal
O EJA foi implantado, na escola, no ano de 2010, com etapas 1, 2, 3 e 4,
correspondendo a séries do Ensino Fundamental. Atualmente recebe cerca de
60 alunos com idade entre 15 a 55 anos.
A turma
Antes de apresentar a turma na qual será aplicado este projeto é
importante trazer informações sobre a população atendida na EMEF Ildo
Meneghetti. De acordo com Plano Político Pedagógico da escola, a maioria dos
pais dos alunos, cerca de 80%, é casada e tem casa própria. Em relação à
escolaridade, mais de 50% estudou até a 4º série e cerca de 10% continua os
estudos. A escola, antes de escrever seu PPP, também fez pesquisa entre os
alunos da modalidade de ensino EJA, a qual revelou que metade desses
alunos tem menos de 25 anos.
A modalidade EJA, na escola, é oferecida com um currículo
diferenciado, o qual engloba o desenvolvimento de projetos cujos temas são
escolhidos pelas turmas. Além disso, a escola oferece a oportunidade de
avanço de etapas antes do tempo para alunos que apresentam um bom
rendimento escolar a fim de diminuir a discrepância entre idade do estudante e
a série em que está.
Em relação à turma que participará deste projeto, 4B, que corresponde a
4ª e última etapa do EJA, 74% dos alunos que a compõem são menores de
idade (15 a 17 anos), e 26% dos alunos maiores de idade (18 a 40 anos).
Cerca de 90% deles era/foi estudante da escola anteriormente. A maioria dos
alunos dessa turma mantém uma postura positiva em relação aos estudos, ou
seja, presta atenção nas explicações do professor, faz as atividades
solicitadas, é participativa e questionadora. Somente alguns alunos, menores
de idade, demonstram certa displicência diante das aulas e de seus estudos.
Essa diferença, no entanto, não gera conflitos na turma, pois aqueles que se
apresentam desinteressados, em algum momento, não atrapalham o ritmo das
aulas. Cerca de 40% dos estudantes da turma costuma participar das
discussões, em sala, contribuindo, com opiniões, para o debate. Para que o
restante da turma participe oralmente é necessária minha intervenção. Em
relação a um aproveitamento dos estudos, há quatro estudantes que se
destacam, ambos do sexo feminino, três maiores de idade que permaneceram
fora da escola por mais de sete anos e uma menor de idade que pediu
transferência do regular há um ano. O restante da turma, exceto quatro alunos
que haviam parado de estudar há 22 anos, alcança notas um pouco acima do
conceito bom. Esse quatro alunos aos quais me referi apresentam dificuldades
de leitura e de escrita. Por isso, exigem atenção dos professores de maneira
particular.
De acordo com pesquisa realizada por mim, a qual levantava aspectos
relacionados a níveis de satisfação e de insatisfação em relação à escola e às
aulas, a maioria dos alunos confirmou gostar da escola e das aulas. No
entanto, em conversas informais entre nós desde o início de minhas atividades
nessa escola (maio de 2012), já havia constatado que os alunos menores de
idade, os quais vieram do ensino regular, oferecido no diurno, reclamaram das
aulas, julgando-as chatas e monótonas. Mesmo que eu tentasse com que
aprofundassem suas justificativas em relação às aulas do diurno, eles não
conseguiam explicar o porquê consideravam chatas e monótonas, apenas
alegavam não se adequarem a elas. Situação que fez com que repetissem o
ano diversas vezes. A insatisfação registrada por eles, no momento da
pesquisa, tem relação com a merenda, oferecida pela escola.
Quanto ao levantamento de dados referentes ao uso de mídias, tanto
pelos estudantes quanto por seus familiares, todos disseram que usam as
mídias diariamente, principalmente para se comunicarem. Apesar disso,
apenas 2 dos 30 alunos da turma sugeriram o uso do notebook em substituição
de cadernos e canetas durante as aulas. Somente 16 alunos confirmaram ter
internet em casa, realidade que aos poucos está mudando, pois o município
firmou contrato com empresa de telefonia para disponibilizar sinal a todos os
moradores da cidade. De maneira geral, posso dizer que a turma ainda não vê
possibilidades de uma nova abordagem no processo ensino-aprendizado pelas
mídias, os 2 alunos que sugeriram o uso de notebook, na aula, pensaram-no
apenas como mudança de suporte. Sobre esse aspecto, posso dizer que cabe
ao professor propiciar a inclusão digital para esses alunos com o objetivo de
apresentar um novo paradigma de educação, com a mesma visão de Porto
Não propomos a apologia das tecnologias, mas a utilização destas como uma das alavancas para reflexão na sala de aula, como um dos elementos desencadeadores de percepções sobre as complexidades do mundo atual e como mediadoras de processos comunicacionais. (PORTO, 2009, p. 48)
A visão dos professores e da coordenadora pedagógica do EJA sobre o
uso das TICs é positiva. Em vários momentos do nosso planejamento,
realizado em conjunto, todos afirmaram que deveríamos utilizar, como recurso
pedagógico, o uso da internet e programas nas aulas. Essa afirmativa sempre
veio justificada pela oportunidade de apresentarmos a convergência de mídias
aos alunos mais velhos, os quais ainda apresentam resistência ao manipulá-las
e de orientarmos o olhar dos alunos que já as usam frequentemente no seu
cotidiano.
Mesmo que o grupo reconheça a importância de se incluir a tecnologia
no planejamento pedagógico, ironicamente há um frequente enfrentamento
com o uso que os alunos fazem de seus celulares no momento em que estão
na aula ou quando usam os computadores da escola. Muitos alunos
frequentemente interrompem sua atenção durante a explicação do professor ou
o desenvolvimento de alguma atividade para lerem ou mandarem mensagens
no celular ou acessarem sites de relacionamento. Em relação a isso já se
discutiu a possibilidade de dar liberdade aos alunos para utilizarem as mídias
na escola, mas a maioria do grupo de professores afirma que os alunos não
têm maturidade para usufruírem dessa liberdade.
Como trabalho em outra escola, posso dizer que essa situação não é
exclusiva do grupo de professores da Ildo Meneghetti. Pelo menos percebo
que, nesta, talvez por planejarmos nossas aulas em grupo, discute-se o uso
das tecnologias midiáticas nas aulas, diferentemente daquela que, aliás, pouco
discute sobre os rumos da educação no país ou sobre uma nova abordagem
de ensino. É necessário que todos os educadores envolvam-se em transformar
a Educação, como já mencionou Edméa Santos:
Entendemos a Educação, com letra maiúscula, como um processo amplo que vai além da modalidade de organização dos processos de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, as tecnologias digitais em rede podem potencializar a educação em geral (presencial ou online) e a formação de educadores, pois permitem: extensão e novas arquiteturas da sala de aula para além da localização física, acesso a diversos objetos de aprendizagem, interfaces e informações em rede, comunicação interativa entre seres humanos e objetos técnicos, formação de comunidades de prática e de aprendizagem para além das fronteiras institucionais, vivenciar novas relações com a pesquisa em suas diversas fases. (SANTOS, 2011, p. 26)
Sobre esse aspecto e como professora que já conheceu diversas
realidades escolares durante 11 anos de carreira, afirmo que o que mais me
perturba no meu trabalho é justamente a pouca oportunidade de discutirmos
sobre a Educação em nosso país e nas nossas escolas. Percebo que ainda
mantemos uma atuação solitária no nosso ambiente de trabalho, esquecendo-
nos de que Educação se faz compartilhando informações e experiências.
Acredito que a atuação solitária dá-se pelo fato de os professores não
terem um momento para isso a não ser no intervalo das aulas, que tem
duração média de 15 minutos. Muitas escolas ainda mantêm um horário de
planejamento isolado para esses profissionais, o que dificulta a construção de
um projeto em conjunto e a socialização de fracassos e sucessos da atuação
de cada um. Sem um tempo devido para refletir a prática e as mudanças da
sociedade será inviável uma mudança de paradigma educacional e dificilmente
dará uma boa resposta, como menciona Libâneo (2010), em entrevista para o
SIMPROSP5, “à complexidade desse mundo contemporâneo.” Em
contrapartida, percebo que a maioria das escolas dá liberdade de atuação aos
seus professores e respeita a concepção pedagógica de cada.
5 http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=6kk__FXVwC0
Ideia pesquisada
O currículo do EJA, na escola Ildo Meneghette, em Ivoti/RS, é construído
por projetos cujas temáticas são escolhidas pelas turmas. Essa escolha,
deliberada pelo grupo de professores e pela coordenação da escola, está
embasada na semelhante ideia de Maria Elisabette Brisola Brito Prado (2005)
Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo de produzir, levantar dúvidas, pesquisar e criar relações que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e reconstruções de conhecimento. Portanto, o papel do professor deixa de ser aquele que ensina por meio da transmissão de informações – que tem como centro do processo a atuação do professor – para criar situações de aprendizagem cujo foco incida sobre as relações que se estabelecem nesse processo, cabendo ao professor realizar as mediações necessárias para que o aluno possa encontrar sentido naquilo que está aprendendo a partir das relações criadas nessas situações. (Prado, 2005)
A turma 4B, na qual aplicarei meu projeto, decidiu investigar as
mudanças pós-guerra e, nós, professores, em conjunto, delimitamos objetivos,
gerais e específicos de cada disciplina, que queremos alcançar com ele. Como
eu já conhecia algumas curiosidades sobre o pós-guerra, ocorreu-me trabalhar
com os alunos sobre o rádio, já que a radiodifusão iniciou-se no fim da 2ª
guerra mundial. Assim, decidi fazer pesquisas na internet a fim de encontrar
algum projeto que incluísse o rádio no seu programa de estudos.
No site “Portal do professor”, encontrei o trabalho da professora Juliana
Gomes de Souza Dias, com participação de Eziquiel Menta, cujo nome é “Nas
ondas do rádio”6. A ideia original do projeto é fazer com que os alunos
pesquisem a história do rádio e sua influência no cotidiano das pessoas. Havia
mais projetos relacionados com o rádio, mas o de Dias chamou-me atenção
6 http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=2062
pelo fato de incluir, no seu planejamento, a manipulação de variadas mídias.
Numa visão geral de sua proposta pedagógica, seus alunos deveriam
pesquisar, na internet, sobre a história do rádio, sobre as principais rádios,
sobre as radionovelas, sobre os principais programas de rádio, sobre as
diferenças entre rádios AM e FM. Após a pesquisa, deveriam postá-las em um
blog criado, em conjunto, por eles. Postadas as informações no blog, os alunos
deveriam criar uma rádio física ou uma virtual (web rádio), para a realização
deste, precisavam pesquisar sobre como fazer um podcast. Apesar de julgar 4
aulas de 50 minutos, como descrito no site, pouco tempo para a realização do
projeto, acredito que a ideia de Dias revela sua criatividade e seu compromisso
com uma aula inovadora, ampliando, como mencionou André Lemos (2005, p.
02), a “...conexão entre homens e homens, máquinas e homens, e máquinas e
máquinas motivadas pelo nomadismo tecnológico da cultura contemporânea...”
Metodologia
Determinado o tema do projeto da turma 4B, iniciarei meu projeto
propondo pesquisa sobre o rádio e slogans de programas de rádio da região,
na internet, sem, inicialmente, direcioná-los a sites selecionados por mim a fim
de averiguar os caminhos que os alunos irão percorrer.
O suporte digital on-line permite que, por meio dos links , o leitor adentre, construa seus próprios caminhos de leitura, não mais preso à linearidade das páginas da apostila ou do livro. O fim no hipertexto é sempre um novo começo caleidoscópico, no qual podemos, simultaneamente, ler vários textos (janelas mixadas), cortar, colar e criar intertextos. (SILVA e SANTOS, 2009, p. 127)
Além dessa pesquisa, a fim de contemplar o tema escolhido pelos
alunos, solicitarei que busquem, na internet, inovações trazidas pelo pós-
guerra. Assim que fizerem essa pesquisa, a turma será dividida em grupos, os
quais ficarão responsáveis por: elaborarem dois programas de rádio, slogans e
propagandas de rádio. Cada grupo deverá escrever seu próprio planejamento.
De maneira pormenorizada, um grupo ficará responsável por criar um
programa de rádio que terá como tema curiosidades do pós-guerra
(invenções), outro grupo ficará responsável por criar um programa de rádio que
traga como tema a história do rádio, alguns alunos ficarão responsáveis por
gravarem os slogans e propagandas, que serão inseridos na programação das
duas rádios. Na programação, deverá constar a participação de ouvintes e a
participação de pessoas que serão entrevistadas pelos respectivos locutores.
Assim que todos tiverem o planejamento do que irão apresentar,
mostrarei um tutorial de como manipular o programa Audacity e proporei a
gravação da programação. Salientarei que, para ocorrer a gravação, a turma
trabalharia por etapas para perfeita captação do som e que, para isso, a
professora Pauline Leopoldo, responsável pela informática, ficará responsável
por essa gravação, enquanto permanecerei com os outros alunos em sala.
Além disso, deixarei os alunos a par da informação de que terão de, no final do
trabalho, avaliarem o projeto e que ele será apresentado na semana de
socialização dos trabalhos, realizados pelas turmas do EJA.
Aplicação do projeto
Primeiro encontro
Como introdução do projeto sobre o rádio, iniciei um diálogo, com os
alunos, sobre as rádios locais. Perguntei quais rádios gostavam e o porquê. Em
seguida, solicitei que relembrassem de slogans de rádio e fui listando-os
no quadro branco. Durante esse tempo, foi mencionada a importância do rádio
como difusor de informação e o quanto a população brasileira tem apreço pela
comunicação oral.
Depois desse momento, expliquei o projeto que eu iria aplicar na turma,
justificando sua relevância para a pesquisa, que a turma escolheu realizar
durante o trimestre, “Mudanças pós-guerra”, já que a radiodifusão iniciou-se
com o fim da 2ª guerra mundial. A partir disso, a turma foi conduzida à sala de
informática, onde deveriam pesquisar sobre a história do rádio e sobre
invenções surgidas durante e depois da guerra. Para essa pesquisa, não
direcionei o olhar dos alunos para nenhum site, pois gostaria de averiguar qual
site de busca selecionariam para sua pesquisa, que palavras-chave
escolheriam para realizá-la e quais sites escolheriam como fonte de informação
e se seriam seduzidos a clicarem em outros links, pois, como mencionaram
Silva e Santos (2009, p. 127)
O suporte digital on-line permite que, por meio dos links , o leitor adentre, construa seus próprios caminhos de leitura, não mais preso à linearidade das páginas da apostila ou do livro. O fim no hipertexto é sempre um novo começo caleidoscópico, no qual podemos, simultaneamente, ler vários textos (janelas mixadas), cortar, colar e criar intertextos.
Todos os alunos escolheram, como site de busca, o Google, talvez não
por escolha própria, mas pela configuração dos computadores da escola. Os
mais velhos tiveram alguma dificuldade de encontrar sites que oferecessem
informações que buscavam, pois digitaram palavras muito amplas, como rádio,
segunda guerra mundial. Assim, tive que orientá-los a como filtrar suas
pesquisas. Além disso, chamei atenção de todos para a escolha do site,
dizendo que usassem informações de sites onde pessoas assinavam seus
textos, que evitassem utilizar informações de blogs ou que conferissem a
mesma informação em outras fontes, que prestassem atenção se havia
patrocinadores mantendo a página (ninguém patrocinaria um site com
conteúdos duvidosos). De acordo com José Manuel Moran ,
A WEB é uma fonte de avanços e de problemas. Podemos encontrar o que buscamos, e também o que não desejamos. A facilidade traz também a multiplicidade de fontes diferentes, de graus de confiabilidade diferentes, de visões de mundo contraditórias. É difícil
selecionar, avaliar e contextualizar tudo o que acessamos. (MORAN, 2012)
Alguns alunos saíram do foco de pesquisa para entrarem em links,
trazidos pelos sites, que fugiam do tema proposto. Menciono a atuação de um
aluno que clicou em um rótulo “vídeos estranhos” e visualizou o vídeo do
ursinho TED . Tive que adverti-lo, já que não dispúnhamos de muito tempo
para a realização da tarefa, pois tínhamos apenas duas semanas para a
realização do projeto, dentro do horário da disciplina Português, equivalente a 8
horas.
Dos sites pesquisados , alguns estudantes copiaram as informações em
seus cadernos e outros solicitaram impressão das informações, justificando
que esta prática facilitaria a possibilidade de releituras. Observei, nesse
momento, que os alunos apresentavam dificuldades em usar suas próprias
palavras para registrarem as informações.
Segundo encontro
No início da aula, solicitei que os alunos organizassem-se em grupos de
acordo com as seguintes propostas: programa de rádio que abordasse sobre
as curiosidades pós-guerra, programa de rádio que abordasse a história do
rádio, slogans para os dois programas e para as rádios, propagandas.
Organizados, passei a orientação que deveriam planejar os programas com o
máximo de autoria, evitando a transcrição literal das informações coletadas na
web. Esse foi o processo mais demorado para os grupos, especialmente para
os mais velhos, pois a tarefa exigia, de todos, a compreensão do que leram a
fim de construírem seus próprios textos. Assim, detive-me mais no grupo de
alunos que estava mais tempo fora da escola na tentativa de alcançar o que
propôs Moran :
Do ponto de vista metodológico, o educador precisa aprender a equilibrar processos de organização e de “provocação” na sala de aula. Uma das dimensões fundamentais do ato de educar é ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos, organizá-las numa síntese coerente, mesmo que momentânea, compreendê-las. Compreender é organizar, sistematizar, comparar, avaliar, contextualizar. Uma segunda dimensão pedagógica procura questionar essa compreensão, criar uma tensão para superá-la, para modificá-la, para avançar para novas sínteses, outros momentos e formas de compreensão. Para isso, o professor precisa questionar, criar tensões produtivas e provocar o nível da compreensão existente. (MORAN, 2012)
Restando 15 minutos para o término da aula, apesar de alguns grupos
não terem terminado a tarefa, disponibilizei um tutorial, feito pelo professor
Guilherme da Rosa, para a disciplina “Oficina de TV e Vídeo”, do curso de
especialização “Mídias na Educação”, oferecido pela UFPEL, de como
manipular o programa Audacity, informando que, na próxima aula, iniciariam a
gravação, com o auxílio da professora de informática Pauline Leopoldo, já que
a captação de som seria feita em partes e só com a presença dos integrantes
do grupo, na sala de informática.
Terceiro encontro
O início da gravação iniciou-se com o grupo responsável pela
elaboração de slogans e propagandas, enquanto o restante da turma e eu
terminávamos o planejamento dos programas de rádio. Nessa aula, dois alunos
– os quais seriam os locutores dos programas – trouxeram material,
pesquisado na internet, explicando como fazer a abertura de um programa de
rádio, evidenciando a motivação na realização do projeto.
Além de auxiliá-los no planejamento, solicitei que começassem a ensaiar
a apresentação, com o objetivo de compreenderem que teriam de usar a voz
de outra maneira, com mais desempenho, entonação, clara e atraente,
principalmente por parte do apresentador do programa. Esse momento, trouxe
situações descontraídas na turma, em os próprios alunos riam de si mesmos,
devido a experimentação de uma atividade que nunca realizaram, deixando
transparecer também a timidez de cada um.
Assim que o primeiro grupo terminou a gravação, outro grupo
encaminhou-se à sala de informática para iniciar a gravação do programa
“Curiosidades” da rádio Vida e, como restavam poucos minutos para o término
de minha aula, solicitei a ausência desses alunos para o professor do próximo
horário, o qual permitiu tranquilamente. Assim, o grupo conseguiu terminar a
gravação no mesmo dia em que inicou.
Quarto encontro e conclusões do projeto
Enquanto o último grupo encaminhava-se para a sala de informática
para gravarem o programa “ A história do rádio”, da rádio “Ildo Meneghette”,
disponibilizei o resultado da gravação dos outros grupos e solicitei uma
avaliação da proposta pedagógica por escrito com algumas perguntas
norteadoras. De acordo com o aluno 1, realizar esse trabalho foi significativo
para ele, pois nunca havia ouvido sua voz por meio de um artefato tecnológico
e que sentiu certo constrangimento no início, mas que, com o tempo,
familiarizou-se com ela. Essa fala lembrou-me da assertiva de Dione (2008):
Esses projetos podem trazer enormes benefícios para a escola, pois enquanto ação educativa priorizam a auto estima e autovalorização dos membros da comunidade, permitindo sua expressão através de sua voz, associada aos exercícios de
elaboração coletiva da programação a ser veiculada. (DIONE p. 19, 2008)
Apesar de o projeto não ser a manutenção de uma rádio na escola, já
serviu para que os alunos refletissem sobre a construção de uma rádio e sobre
seus processos. A aluna 2, relatou que mudou sua voz instantaneamente no
momento em que a professora Pauline dizia “gravando”. Disse que isso era
resultado de sua memória como ouvinte de rádio, que ela não poderia falar
como falava com amigos ou no corredor da escola, pois não era uma fala tão
descontraída.
De acordo com as leituras que fiz das avaliações de todos os alunos,
percebi que alguns se sentiram motivados na realização do trabalho pelo fato
de perceberem o quanto a leitura competente é importante para qualquer
atividade na vida, conclusão que me deixou satisfeita já que refletiram sobre si
mesmos e, consequentemente, mudaram sua relação com os estudos. Ainda,
foi possível observar a postura positiva que mantiveram ao trabalharem juntos
para alcançar um mesmo objetivo. Durante todo o processo, os alunos
compartilharam informações e experiências, ajudaram-se a superar
dificuldades, elogiaram-se a cada percepção de algum talento evidenciado.
A comunicação, compreendida como troca de conhecimentos, possui uma dimensão educativa que deve ser levada em conta já que educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados (FREIRE; 1992, p.69).
Devido ao entusiasmo pelo resultado do trabalho, os alunos sugeriram
que ele fosse postado no blog da escola. Essa ideia chegou aos ouvidos dos
professores que pensaram em criar um blog para o EJA da escola, o qual já
está sendo planejado. Além disso, durante a discussão avaliativa,
compreenderam que podem usar o programa “audacity” em outras situações,
em futuros trabalhos ou, até mesmo, para realizarem podcasts.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PORTO, Tania Maria Esperon. As tecnologias de comunicação e informação na escola; relações possíveis... relações construídas. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, número 31, PP 43-57, ano/vol. 11,jan-abril.
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