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    | 17 |Rev. SOBeCC, SO PaulO. jan./maR. 2015; 201: 1723

    | ARTIGO ORIGINAL |

    RePROCeSSamentO de PROdutOS PaRa Sade:ANLISE DA QUALIDADE SANITRIA

    EM HOSPITAIS PBLICOSReprocessing of medical devices: sanitary quality analysis in public hospitals

    Reprocesamiento de productos para la salud: anlisis de la cualidad sanitaria in hospitales pblicos

    Eliana Auxiliadora Magalhes Costa1, Ezinete de Oliveira Drea2, Mrcia Anglica Alves2, Ftima Nery2,

    Hgia Schettini2, Marilene Belmonte2, Valdiva Santana2, Gracimara Jesus Santos2, Lorena Pastor2

    1Profssor a uirsi o eso Bhi. tcic dirori vigici Siri abi Bhi. e-i: [email protected] Pi, 269/902. Pib. CeP 41830-270. Sor, Ba, Brsi. tfo: (71) 9935-8094.2tcic dirori vigici Siri abi Bhi. e-is: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]:26 ago. 2014 aproo:21 fev. 2015dOI:10.5327/Z1414-4425201500010003

    RESUMO:Objetivo:Analisar as condies tcnicas do reprocessamento de produtos mdicos, tendo em vista a qualidade e segurana sanitria da popula-o usuria de produtos reprocessados. Mtodo: Trata-se de uma pesquisa avaliativa de estudo de casos mltiplos. Participaram os Centros de Material

    e Esterilizao de dez hospitais pblicos da Bahia. Foram estudadas cinco variveis independentes que influenciam as condies do reprocessamento de

    produtos mdicos. Adicionalmente, cada varivel foi analisada em trs nveis de avaliao de qualidade.Resultados:Evidenciou-se uma generalizada ina-

    dequao de todas as variveis estudadas. Dos dez casos pesquisados, nenhum apresentou condies tcnicas adequadas de reprocessamento de produtos

    mdicos. Concluso: Conclui-se com esses dados que os hospitais deste estudo possuem prticas de reprocessamento inadequadas, apontando possveis

    problemas para o cuidado assistencial e para os rgos fiscalizadores.

    PALAVRAS-CHAVE: Equipamentos cirrgicos. Vigilncia sanitria de produtos. Controle de qualidade. Segurana do paciente

    ABSTRACT:Objective: To analyze the technical conditions for reprocessing of medical products, in the light of service quality and sanitary safety among

    the users of reprocessed items. Methods:The study presents an evaluation based on multiple case studies collected in the reprocessing facilities of ten

    public hospitals in the State of Bahia, Brazil. The analysis is referred to five independent variables that influence conditions for reprocessing of medical

    products. Each of these five variables was considered in three rating levels of quality.Results:Considerable inadequacies were observed for all variables,

    so that none of the ten observed cases showed adequate technical conditions for reprocessing medical products. Conclusions:We conclude, therefore,

    that the hospitals considered in this study adopt inadequate practices for reprocessing, which is a problem for hospital care and the regulatory agencies.

    KEYWORDS:Surgical equipment. Health surveillance of products. Quality control. Patient safety

    RESUMEN:Objetivo:Analizar las condiciones tcnicas para el reprocesamiento de productos mdicos, bajo el ptica de la calidad de servicio y de la seguridad

    sanitaria entre os usuarios de esos artefactos reprocesados.Mtodos:En la investigacin se presenta una evaluacin en base a mltiples estudios de caso reali-

    zados en las unidades de reprocesamiento de diez hospitales pblicos del Estado de Bahia, Brasil. El anlisis est referido a cinco variables independientes que

    afectan las condiciones para el reprocesamiento de productos mdicos. Se consider cada una de las cinco variables en tres niveles de calidad.Resultados: Se

    identificaron inadecuaciones presentes en todos los casos, de manera que ningn de los diez casos observados present las condiciones tcnicas indicadas parael reprocesamiento de productos mdicos. Conclusin:En base a esa evidencia, concluimos que los hospitales considerados en el presente estudio adoptan

    prcticas inadecuadas en el reprocesamiento, lo que presenta un reto para el cuidado hospitalario y para los rganos fiscalizadores.

    PALABRAS CLAVE:Equipo quirrgico. Vigilancia sanitaria de productos. Control de calidad. Seguridad del paciente

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    COSTA EAM, DREA EO, ALVES MA, NERY F, SCHETTINI H, BELMONTE M, SANTANA V, SANTOS GJ, PASTOR L

    INTRODUO

    Milhares de diferentes produtos para sade existem em

    todo o mundo, usados para detectar, diagnosticar e tratar

    condies mdicas. A despeito do avano considervel na

    assistncia hospitalar, possibilitada pelo advento da inds-tria de produtos para sade*, a utilizao desses dispositivos

    trouxe, alm dos benefcios e prolongamento da vida, srios

    riscos para o paciente usurio desses produtos, suscitando

    questes terico-prticas de segurana e efetividade dos

    processos, suscitando dos servios de sade e do Estado,

    novos desafios para o uso e reuso desses materiais1-5.

    Os produtos para sade so definidos, pelo fabricante,

    como artigos reusveis ou de uso nico. Os artigos reusveis

    ou de uso mltiplo so bens durveis e designados para resistir

    aos processos de descontaminao. Para a reutilizao segura

    desses materiais se faz necessria a ao de reprocessamento,

    que o processo que inclui limpeza, teste de avaliao de

    desempenho, desinfeco ou esterilizao a ser aplicado ao

    produto mdico, que garanta a segurana na sua utilizao,

    incluindo controle da qualidade em todas as suas etapas 6-8.

    O reprocessamento de produtos realizado pelo Centro

    de Material e Esterilizao (CME), estrutura organo-fun-

    cional de um servio assistencial de sade responsvel pela

    limpeza, desinfeco, esterilizao, controles de qualidade e

    dispensao de produtos. um servio de crucial importn-

    cia, do qual dependem todas as atividades assistenciais. O seufuncionamento requer profissionais com conhecimentos

    ligados rea de produo e ao controle de qualidade, tais

    como monitoramento fsico, qumico e biolgico, validao

    de processos e rastreabilidade de produtos3-5.

    Essas atividades, usuais nas indstrias e ainda incipientes

    nos servios hospitalares brasileiros, requer, alm de profis-

    sionais competentes e comprometidos com a temtica dos

    produtos mdicos, toda uma infraestrutura que favorea a

    execuo das atividades pertinentes ao reprocessamento de

    produtos, de forma a minimizar os riscos envolvidos3-5.

    Dentre os riscos associados ao reprocessamento e reusode produtos para sade, a literatura cita infeco e perda de

    funcionalidade dos produtos como os mais relevantes, mas

    outros eventos como presena de endotoxinas, biofilmes e

    bioimcompatibilidade tambm so reportados9-11.

    inegvel, portanto, a importncia dos processos de tra-

    balho de um CME, cujas aes requerem planejamento e

    gerenciamento do risco envolvido nos produtos utilizados

    e das diversas atividades que compem o reprocessamento.

    Tendo em vista a importncia do reuso de produtos mdi-

    cos para a sade pblica, procura-se, neste artigo, responder seguinte questo central: como se d o reprocessamento de

    produtos mdicos em hospitais pblicos da Bahia? Esse questiona-

    mento resultou no seguinte objetivo geral: analisar as condies

    tcnicas do reprocessamento de produtos mdicos em hospitais

    pblicos da Bahia, tendo em vista a qualidade e segurana sani-

    tria da populao usurio de produtos reprocessados.

    MTODO

    Trata-se de uma pesquisa da rea de avaliao das prticas de

    sade, cuja estratgia metodolgica a de estudo descritivo,

    holstico de casos mltiplos12. Um estudo de caso uma investiga-

    o emprica que analisa um fenmeno contemporneo dentro

    do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites

    entre o fenmeno e o contexto no esto claramente definidos,

    tendo lugar de destaque na pesquisa de avaliao. Inclui tanto

    estudos de caso nico (uma unidade sob avaliao), quanto de

    casos mltiplos (vrias unidades sob avaliao). So classificados

    como holsticos, se possuem apenas uma unidade de anlise.

    A unidade de anlise deste estudo a condio tcnica dereprocessamento de produtos mdicos em hospitais pblicos

    localizados no interior da Bahia, chamados nessa metodologia

    de casos. As estratgias utilizadas para a busca de evidncias

    empricas foram a entrevista estruturada por meio de um for-

    mulrio especfico de coleta de dados e a observao direta.

    Participaram deste estudo, os CMEs de 10 hospitais pblicos

    localizados no interior da Bahia, selecionados dentre as 31 Diretorias

    Regionais de Sade (DIRES) existentes no estado, para serem ava-

    liados segundo a Portaria da Secretaria de Sade do Estado da Bahia

    (SESAB) n 1083/200113, que normatiza padres de qualidade da

    assistncia com foco no Controle de Infeco Hospitalar. Esseshospitais foram selecionados quando da realizao de uma ava-

    liao de qualidade hospitalar dos hospitais localizados no interior

    do estado e levantados atravs dos dados do Ncleo Estadual de

    Controle de Infeco (NECIH) da SESAB e constituram os dez

    casos mltiplos deste estudo. Cada hospital recebeu um cdigo

    de 1 a 10 (H1 a H10), a fim manter o anonimato dos mesmos.

    Os hospitais selecionados foram contatados por telefone,

    quando se agendou visita para coleta de dados. A coleta de dados*Neste artigo utilizamos o termo produto para sade como sinnimo de produto mdico,equipamento, dispositivo, artigo, material, a fm de mantermos a mesma nomenclaturausada pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA).

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    REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA A SADE:QUALIDADE SANITRIA

    foi realizada por uma tcnica (enfermeira) do NECIH, utilizando

    o instrumento de avaliao padronizado pela portaria j referida.

    Foram estudadas as seguintes variveis independentes que

    influenciam as condies do reprocessamento de produtos mdicos:

    1. estrutura fsica do CME;

    2. uso de equipamentos de proteo individual (EPIs)no CME;

    3. treinamento em servio relativo aos processos de lim-

    peza, desinfeco, esterilizao e controles;

    4. mtodos aplicados de limpeza, desinfeco e esterili-

    zao de produtos;

    5. controle de qualidade da esterilizao; e

    6. armazenamento de produtos reprocessados.

    Cada varivel recebeu uma pontuao a partir do nmero

    de questes atribudas ao seu grupo e cada questo foi pon-

    tuada com o nmero um (1), que significou conformidade da

    resposta com a norma da ANVISA especfica para funciona-

    mento de centros de material e esterilizao no pas14e com o

    nmero zero (0), que correspondeu inadequao da resposta

    segundo a norma referida. Adicionalmente, cada varivel foi

    analisada em trs nveis de avaliao de qualidade: nveis 1, 2 e 3.

    O nvel 1, com 55 questes, avaliou as aes do CME

    consideradas estruturais e indispensveis para a realizao

    do processamento dos produtos. O nvel 2, com 14 questes,

    avaliou aes relacionadas com a organizao dos processos

    operacionais de trabalho. E o nvel 3, com 20 questes, ava-liou aes consideradas mais elaboradas e de excelncia nos

    processos de limpeza, desinfeco e esterilizao de produtos

    para sade, totalizando 79 pontos de adequao.

    A exemplo do estudo realizado por outros autores15,

    cada CME avaliado recebeu um escore, segundo o seu cor-

    respondente grau de condio tcnica de reprocessamento

    de produtos mdicos e, desse modo, foram classificados

    em 3 nveis : (0) condio de reprocessamento de produtos

    inadequada; (1) condio de reprocessamento de produtosnecessitando adequao; (2) condio de reprocessamento

    de produtos adequada, conforme Tabela 1.

    RESULTADOS

    Iniciamos a descrio dos resultados dos dados empricos deste

    estudo com a caracterizao dos casos mltiplos, conforme

    o Quadro 1. Observa-se que os casos estudados se localizam

    em regies distantes da capital do estado, a maioria localiza-

    dos na regio Oeste (4 casos, 40%) e Norte (2 casos, 20%).

    Dos 10 CMEs estudados, 9 (90%) so de hospitais pblicos, dos

    quais 3 administrados por meio de organizao terceirizada.

    Classicao segundo reprocessamentode produtos mdicos

    Escore nal

    Condio de RPM adequada 81 a 100%

    Condio de RPM necessitando adequao 41 a 80%

    Condio de RPM inadequada 0 a 40%

    Tabela 1.escor cssico os Cros mri

    esriizo os hospiis sos. Sor, 2013.

    RPm: rprocsso proo ico

    Caso/hospital

    Diretoria Regionalde Sade

    Entidade mantenedora RegioNmerode leitos

    H1 25 Pbico es co gso orgizo s pri Oeste 225

    H2 15 Pblico estadual Norte 150

    H3 22 Pblico estadual Oeste 50

    H4 30 Pblico estadual Sudoeste 106

    H5 25 Pbico es co gso orgizo s pri Oeste 24

    H6 15 Pblico municipal Norte 70

    H7 7 Pbico es co gso orgizo s pri Sul 208

    H8 6 Privado Sul 8

    H9 8 Pblico estadual Extremo Sul 125

    H10 25 Pblico Municipal Oeste 42

    Quadro 1.Crcrizo os hospiis sos. Sor, 2013.

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    COSTA EAM, DREA EO, ALVES MA, NERY F, SCHETTINI H, BELMONTE M, SANTANA V, SANTOS GJ, PASTOR L

    Em relao ao nmero de leitos, 5 hospitais (50%) so consi-

    derados de mdio porte e 5 (50%) de pequeno porte.

    O Quadros 2 a 4 apresentam os dados dos CMEs segundo

    o nvel de qualidade (1, 2 e 3) e as variveis do reprocessa-

    mento de produtos estudadas.

    O Quadro 2 apresenta os dados das variveis do repro-cessamento de produtos mdicos dos casos estudados,

    correlacionados com o nvel 1 de qualidade. Nesse nvel, que

    avalia as aes do CME consideradas bsicas e indispensveis

    para a realizao do processamento dos produtos, as variveis

    estudadas apresentaram pontuaes entre 3,6% (H10) e 51%

    (H1 e H9). A estrutura fsica apresentou adequaes oscilando

    de 2,1% (H10) a 51% (H1 e H9). O uso de EPIs, variou entre

    100% de adequao em 6 CMEs estudados (H2, H4, H5, H6,

    H7 e H9), 50% de adequao de uso em 2 CMEs (H1 e H3)e ausncia de uso de EPIs em 2 CMEs (H10 e H8). Os pro-

    fissionais do CME foram treinados em mtodos de limpeza,

    desinfeco e esterilizao de produtos em apenas 1 CME (H5).

    *O 2 i s rcios co orgizo os procssos oprciois rbho os Cros mri esriizo; ePIs: qipos proo iii; Pm: proo ico.

    Quadro 3.Crcrizo os Cros mri esriizo os hospiis sos sgo o 2* qi riis

    o rprocsso proos icos. Sor, 2013.

    CasosEstrutura

    fsica(n = 1)

    Uso deEPIs

    (n = 0)

    Treinamento(n = 0)

    Processamentode PM(n = 5)

    Controle de qualidadeda esterilizao

    (n = 7)

    Armazenamentode PM(n = 1)

    Pontuaototal

    (n = 14)

    H1 0 0 0 4 (80%) 5 (71%) 1 (100%) 10 (71,4%)

    H2 0 0 0 4 (80%) 4 (55%) 1 (100%) 9 (64,2%)

    H3 0 0 0 0 1 (14,2%) 1 (100%) 2 (14,2%)H4 0 0 0 2 (40%) 1 (14,2%) 1 (100%) 4 (28,5%)

    H5 0 0 0 2 (40%) 3 (42,8%) 1 (100%) 6 (42,8%)

    H6 0 0 0 0 2 (28,5%) 1 (100%) 3 (21,4%)

    H7 0 0 0 1 (20%) 0 0 1 (7,1%)

    H8 0 0 0 0 0 1 (100%) 1 (7,1%)

    H9 0 0 0 3 (60%) 3 (42,8%) 0 6 (42,8%)

    H10 0 0 0 1 (20%) 1 (14,2%) 1 (100%) 3 (21,4%)

    *O 1 i s s o Cro mri esriizo cosirs srris iispsis pr rizo o procsso os proos; ePIs: qipos prooiii; Pm: proo ico.

    Quadro 2.Crcrizo os Cros mri esriizo os hospiis sos sgo o 1* qi riis

    o rprocsso proos icos. Sor, 2013.

    CasosEstrutura

    fsica(n = 47)

    Uso deEPIs

    (n = 2)

    Treinamento(n = 2)

    Processamentode PM(n = 3)

    Controle de qualidadeda esterilizao

    (n = 1)

    Armazenamentode PM(n = 0)

    Pontuaototal

    (n = 55)

    H1 24 (51%) 1 (50%) 0 2 (66,7%) 1 (100%) 0 28 (51%)H2 20 (42,5%) 2 (100%) 0 2 (66,7%) 1 (100%) 0 25 (45,4%)

    H3 11 (23,4%) 1 (50%) 0 1 (33,3%) 1 (100%) 0 14 (25,4%)

    H4 13 (27,6%) 2 (100%) 0 2 (66,7%) 1 (100%) 0 18 (32,7%)

    H5 14 (29,7%) 2 (100%) 2 (100%) 2 (66,7%) 0 0 20 (36,5%)

    H6 11 (23,4%) 2 (100%) 0 2 (66,7%) 0 0 15 (27,2%)

    H7 11 (23,4%) 2 (100%) 0 1 (33,3%) 0 0 14 (25,4%)

    H8 12 (25,5) 0 0 1 (33,3%) 0 0 13 (23,6%)

    H9 24 (51%) 2 (100%) 0 2 (66,7%) 0 0 28 (51%)

    H10 1 (2,1%) 0 0 1 (33,3%) 0 0 2 (3,6%)

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    REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA A SADE:QUALIDADE SANITRIA

    A adequao dos processos de limpeza, desinfeco e esterili-

    zao apresentou pontuaes de 33,3% em 4 CMEs (H3, H7,

    H8 e H10) e 66,7% em 6 CMEs (H1, H2, H4, H5, H6 e H9).

    Em 4 CMEs houve 100% de adequao aos controles de qua-

    lidade da esterilizao (H1, H2, H3 e H4) e nenhum controle

    em 6 CMEs (H5 a H10). Em nenhum CME houve adequa-o s normas de armazenamento de produtos esterilizados.

    No nvel 2, que avalia as aes do CME relacionadas com a

    organizao dos processos operacionais de trabalho, as vari-

    veis estudadas apresentaram pontuaes entre 7,1% (H8 e

    H7) e 71,4% (H1). A normatizao do processamento de pro-

    dutos apresentou 80% de adequao em apenas 2 CMEs (H1

    e H2), 60% em 1 CME (H9), 40% de adequao em 2 CMEs

    (H4 e H5) e normatizao ausente em 3 CMEs (H3, H6 e H8).

    A exemplo dos baixos percentuais de adequao apre-

    sentados pelos CMEs no nvel 1, observa-se que esse padro

    tambm se mantm no nvel 2. Dos 10 CMEs analisados,

    apenas 2 (20%, H1 e H2) apresentam percentuais totais de

    adequaes no nvel 2 acima de 50%, com 8 CMEs (80%) apre-

    sentando percentuais que variam de 7,1 a 42,8%, revelando

    dificuldades no estabelecimento dos processos de trabalho

    inerentes s atividades do processamento de produtos.

    No nvel 3, cujas aes do processamento de produtos so

    consideradas mais elaboradas e de excelncia, 4 CMEs (H2, H7,

    H8 e H10) no apresentaram pontuao nesse nvel, 1 CME

    apresentou 10% de adequao (H6), 2 CMEs apresentaram

    adequao de 20% (H4 e H5), 1 CME apresentou 40% (H3)e dois CMEs apresentaram 60 e 70% de adequao (H9 e H1,

    respectivamente). As variveis do controle de qualidade da

    esterilizao de produtos so ausentes em 6 CMEs (H2, H4,

    H5, H7, H8 e H10), 1 CME apresentou 14,2% (H6) e 42,8%

    (H3) de adequao e apenas 2 CMEs possuem controle ade-

    quado do processo de esterilizao acima de 50% (H1 e H9).

    Apresentamos a seguir a classificao dos casos estuda-dos segundo o grau da condio tcnica de reprocessamento

    de produtos mdicos. Na Tabela 2, dos 10 CMEs estudados,

    nenhum apresentou condies tcnicas adequadas segundo

    *O 3 i s cosirs is bors xcci os procssos ipz, sifco sriizo proos pr s; ePIs: qipos proo iii;Pm: proo ico.

    Quadro 4.Crcrizo os Cros mri esriizo os hospiis sos sgo o 3* qi riis

    o rprocsso proos icos. Sor, 2013.

    CasosEstrutura

    fsica(n = 3)

    Uso deEPIs

    (n = 0)

    Treinamento(n = 0)

    Processamentode PM(n = 0)

    Controle de qualidadeda esterilizao

    (n = 7)

    Armazenamentode PM(n = 0)

    Pontuaototal

    (n = 10)

    H1 2 (66,6%) 0 0 0 5 (71%) 0 7 (70%)

    H2 0 0 0 0 0 0 0

    H3 1 (33,3%) 0 0 0 3 (42,8%) 0 4 (40%)

    H4 2 (66,6%) 0 0 0 0 0 2 (20%)

    H5 2 (66,6%) 0 0 0 0 0 2 (20%)

    H6 0 0 0 0 1 (14,2%) 0 1 (10%)

    H7 0 0 0 0 0 0 0

    H8 0 0 0 0 0 0 0

    H9 1 (33,3%) 0 0 0 5 (71%) 0 6 (60%)

    H10 0 0 0 0 0 0 0

    Casos

    Condiestcnicas

    adequadasn (81 a 100%)

    Condies tcnicasnecessitandoadequaes

    n (41 a 80%)

    Condiestcnicas

    inadequadasn (0 a 40%)

    H 1 45 (56,9%)

    H 2 34 (43,0%)

    H 3 20 (25,3%)

    H 4 24 (30,6%)

    H 5 28 (35,4%)

    H 6 19 (24,0%)

    H 7 15 (18,9%)

    H 8 14 (17,7%)

    H 9 40 (50,6%)

    H 10 5 (6,3%)

    Tabela 2.Cssico os Cros mri esriizo

    dos hospitais estudados segundo o grau da condio tcnica do

    rprocsso proos icos. Sor, 2013.

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    COSTA EAM, DREA EO, ALVES MA, NERY F, SCHETTINI H, BELMONTE M, SANTANA V, SANTOS GJ, PASTOR L

    as variveis estudadas. Apenas um CME (H1) apresentou

    condies tcnicas necessitando adequao e nove CMEs

    apresentaram escores de pontuao inadequados em relao

    aos processos de reutilizao de produtos mdicos. O menor

    percentual de adequao (6,3%) observado no H10 e o

    maior percentual (56,9%) no H1, ambos da regio Oeste daBahia, o primeiro, municipal e de pequeno porte (42 leitos)

    e o segundo, estadual com gesto terceirizada e de grande

    porte (225 leitos).

    DISCUSSO

    Os dados acerca do reprocessamento de produtos mdicos

    dos CMEs avaliados revelaram inadequaes das variveis

    independentes em correlao com os trs nveis de quali-

    dade estudados.

    Evidenciou-se uma generalizada inadequao em todas as

    variveis estudadas a exemplo de infraestrutura dos recursos

    materiais, uso de EPIs, treinamento dos profissionais, pro-

    cessos de limpeza, desinfeco e esterilizao, controles de

    qualidade da esterilizao e condies de armazenamento

    dos produtos nos CMEs dos hospitais estudados, o que cer-

    tamente contribuiu para que nenhum CME deste estudo

    apresentasse condies tcnicas de reprocessamento consi-

    deradas como adequadas.

    As variveis estudadas esto diretamente relacionadas coma eficcia do processamento de produtos e as inadequaes

    apresentadas apontam questes bsicas para a segurana do

    reuso de produtos, evidenciada na ausncia de protocolos dos

    processos de limpeza, desinfeco e esterilizao, bem como

    falta de controle da qualidade da esterilizao.

    Ademais, em nenhum CME houve adequao par a

    a varivel de armazenamento de produtos esterilizados,

    propiciando, com isso, eventos que podem contaminar os

    produtos aps esterilizao e comprometer a manuteno

    da esterilidade dos produtos armazenados, constituindo

    mais um problema relacionado ao processamento de pro-dutos nessas instituies.

    Esses resultados revelam questes graves relacionadas

    com o reuso de produtos mdicos nesses hospitais, com-

    prometendo uma das dimenses da qualidade assistencial

    que a segurana do paciente e, nesse caso, tambm a dos

    profissionais envolvidos com esses processos, uma vez que

    executam suas atividades sob exposio a riscos qumicos

    e biolgicos, tornando o reuso e o reprocessamento dos

    produtos mdicos, nesses dez hospitais estudados, um grande

    fator de risco para pacientes usurios desses produtos e pro-

    fissionais manipuladores.

    Outras pesquisas na rea da temtica do reuso de produ-

    tos apresentam resultados semelhantes ao ora apresentado,

    a exemplo de um estudo de casos mltiplos que objetivouanalisar as condies tcnicas de reprocessamento de pro-

    dutos mdicos em quatro hospitais de uma grande capital

    brasileira, sendo dois hospitais pblicos da rede estadual e

    dois pertencentes rede sentinela da ANVISA, no qual os

    autores utilizaram como padro-ouro de processamento de

    produtos um modelo regulatrio luz das recomendaes

    da literatura. Os dados dessa pesquisa demonstraram ina-

    dequaes nos processos de limpeza, secagem, desinfeco,

    esterilizao e rastreabilidade dos produtos, concluindo que

    nenhuma organizao hospitalar estudada, mesmo as ligadas

    rede da ANVISA, apresentou condies tcnicas adequadas

    de reprocessamento de produtos5.

    Pesquisa que objetivou avaliar estrutura, processo e

    resultado de um CME de um hospital de grande porte no

    Paran, na qual os indicadores estudados foram divididos

    em trs grupos (limpeza; preparo, acondicionamento e este-

    rilizao; guarda e distribuio), obteve no conformidades

    para as variveis limpeza (32,4%), preparo e acondiciona-

    mento (26,9%) e esterilizao, guarda e distribuio (26,2%).

    O ndice geral de conformidade com o instrumento de ava-

    liao utilizado foi de 61,9% e os autores concluram queesse CME necessita de aprimoramentos para a melhoria

    dos processos realizados16.

    Estudo que analisou as condies dos locais de guarda de

    produtos mdicos esterilizados em hospitais de grande porte

    tambm constatou irregularidades nas condies de arma-

    zenamento ps esterilizao, a exemplo de locais de guarda

    inadequados relacionados tanto estrutura fsica quanto a

    condies de ventilao, alm de excessivo manuseio dos

    produtos esterilizados, concluindo que as recomendaes

    da ANVISA quanto ao armazenamento de produtos este-

    rilizados no esto sendo implementadas na sua totalidadenessas instituies estudadas, tambm corroborando os acha-

    dos do nosso estudo17.

    CONCLUSO

    Os resultados deste estudo regional ratificam a problem-

    tica que envolve o reprocessamento dos produtos mdicos,

  • 7/23/2019 artigo sobre reprocessamento

    7/7

    | 23 |Rev. SOBeCC, SO PaulO. jan./maR. 2015; 201: 1723

    REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA A SADE:QUALIDADE SANITRIA

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    evidenciada pela baixa qualidade dos dados oriundos das

    variveis pesquisadas, e apontam lacunas nas condies

    organo-funcionais desses servios, de forma a potencializar

    os riscos para os pacientes e profissionais de sade.

    Conclui-se, com esses dados, que os hospitais deste estudo

    possuem prticas de reprocessamento inadequadas, apon-

    tando possveis problemas para a rea do cuidado assistencial

    e para os rgos fiscalizadores.