Artigo Taperoá

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PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE TAPEROÁ-BA: UMA HISTÓRIA DA COMUNIDADE PARA FICAR NA MEMÓRIA Joélia Barreto de Melo Sacramento 1 RESUMO: O presente artigo trata da discussão sobre o Patrimônio Histórico edificado do município de Taperoá-BA, interpretado no foco da memória como reflexo da identidade popular, pois Taperoá é uma das cidades do Baixo Sul da Bahia com grande potencial histórico-cultural, arquitetônico e natural propício para o desenvolvimento da atividade turística. O enfoque maior dado por este, é para as grandes, novas e modernas construções que põem a baixo todas as antiguidades, pondo também em risco a identidade do povo, já que ela está representada na cultura e na história acerca deste Patrimônio Arquitetônico. A maioria das informações aqui contidas é retirada da experiência do povo, representados com atores no processo de construção da história, ao longo dos anos, coletando dados que pudessem descrever Taperoá, desde a sua criação, construção dos monumentos, dando detalhes do que se julga mais importante e de maior significado cultural. Outro fator que contribui para a deterioração do patrimônio taperoense é a falta de planejamento urbano que tem levado ao desaparecimento dos grandes casarões coloniais. O Turismo se caracteriza pelos bens culturais e naturais de um lugar e depende de boa infra-estrutura para que seja realmente explorado e pela falta de manutenção e divulgação dos recursos culturais, o turismo de Taperoá não é desenvolvido, necessitando de ações planejadas que visem a sua ampla efetivação e geração de renda da população. Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico. Turismo. Memória. ABSTRACT: The present article deals with the quarrel on the built Historic site of the city of Taperoá-BA, interpreted in the focus of the memory as reflected of the popular identity, therefore Taperoá is one of the cities of the Low South of the Bahia with great description-cultural potential, propitious natural architectural and for the development of the tourist activity. The approach biggest given by this, is for the great, new and modern constructions that put low the all the antiquity, also putting at risk the identity of the people, since it is represented in the culture and history concerning this Patrimony Architectural. The majority of the information contained here is removed of the experience of the people, represented with actors in the process of construction of history, throughout the years, collecting given that they could describe Taperoá, since its creation, construction of monuments, giving details of what it is judged more important and of greater meant cultural. Another factor that contributes for the deterioration of the taperoense patrimony is the lack of urban planning that has led to the disappearance of the great colonial large houses. The Tourism if characterizes for the cultural and natural goods of a place and 1 Graduada em Turismo pela Faculdade Zacarias de Góes. Pós-Graduanda em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola pela Faculdade de Tecnologia e Ciências.

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Estudo sobre o Patrimônio Arquitetônico de Taperoá-BA

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PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE TAPEROÁ-BA:

UMA HISTÓRIA DA COMUNIDADE PARA FICAR NA MEMÓRIA

Joélia Barreto de Melo Sacramento1

RESUMO:

O presente artigo trata da discussão sobre o Patrimônio Histórico edificado do município de Taperoá-BA,

interpretado no foco da memória como reflexo da identidade popular, pois Taperoá é uma das cidades do

Baixo Sul da Bahia com grande potencial histórico-cultural, arquitetônico e natural propício para o

desenvolvimento da atividade turística. O enfoque maior dado por este, é para as grandes, novas e

modernas construções que põem a baixo todas as antiguidades, pondo também em risco a identidade do

povo, já que ela está representada na cultura e na história acerca deste Patrimônio Arquitetônico. A

maioria das informações aqui contidas é retirada da experiência do povo, representados com atores no

processo de construção da história, ao longo dos anos, coletando dados que pudessem descrever Taperoá,

desde a sua criação, construção dos monumentos, dando detalhes do que se julga mais importante e de

maior significado cultural. Outro fator que contribui para a deterioração do patrimônio taperoense é a falta

de planejamento urbano que tem levado ao desaparecimento dos grandes casarões coloniais. O Turismo se

caracteriza pelos bens culturais e naturais de um lugar e depende de boa infra-estrutura para que seja

realmente explorado e pela falta de manutenção e divulgação dos recursos culturais, o turismo de Taperoá

não é desenvolvido, necessitando de ações planejadas que visem a sua ampla efetivação e geração de

renda da população.

Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico. Turismo. Memória.

ABSTRACT:

The present article deals with the quarrel on the built Historic site of the city of Taperoá-BA,

interpreted in the focus of the memory as reflected of the popular identity, therefore Taperoá is

one of the cities of the Low South of the Bahia with great description-cultural potential,

propitious natural architectural and for the development of the tourist activity. The approach

biggest given by this, is for the great, new and modern constructions that put low the all the

antiquity, also putting at risk the identity of the people, since it is represented in the culture and

history concerning this Patrimony Architectural. The majority of the information contained here

is removed of the experience of the people, represented with actors in the process of construction

of history, throughout the years, collecting given that they could describe Taperoá, since its

creation, construction of monuments, giving details of what it is judged more important and of

greater meant cultural. Another factor that contributes for the deterioration of the taperoense

patrimony is the lack of urban planning that has led to the disappearance of the great colonial

large houses. The Tourism if characterizes for the cultural and natural goods of a place and

1 Graduada em Turismo pela Faculdade Zacarias de Góes. Pós-Graduanda em Metodologia do Ensino da Língua

Espanhola pela Faculdade de Tecnologia e Ciências.

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depends on good infrastructure so that really it is explored and by the lack of maintenance and

spreading of the cultural resources, the tourism of Taperoá is not developed, needing planned

actions that aim at its ample effective and generation of income of the population.

Keywords: Patrimony Architectural. Tourism. Memory

1 INTRODUÇÃO

Este Artigo tem como tema: “Patrimônio Arquitetônico de Taperoá-BA: uma História

da Comunidade para ficar na Memória”, e surgiu a partir do seguinte questionamento: Qual a

importância do Patrimônio Histórico para o desenvolvimento do Turismo local? A finalidade é

refletir sobre os patrimônios históricos de Taperoá, seus bens culturais imóveis, e oportunidades

de desenvolvimento sustentável através da atividade turística.

Através deste trabalho, torna-se possível a reflexão sobre os conceitos do patrimônio

histórico e turismo em relação aos monumentos existentes em Taperoá, sua conservação e como

está sendo utilizado este patrimônio para o desenvolvimento do turismo. Bem como, estudar os

bens imóveis do município, conceituando o seu conjunto arquitetônico colonial, onde as

edificações constituem o centro da história da cidade, de seus povoados e distrito.

A defesa e conservação do patrimônio histórico, tem se tornado importante, pois nele

está a memória da comunidade onde está inserido. Para tanto, pautado no conhecimento teórico

sobre a história acerca do patrimônio histórico e arquitetônico de Taperoá-BA, requer um estudo

mais elaborado da identidade cultural do município. Percebe-se que a história da cidade tem se

perdido, já que os bens imóveis, representação material da cultura, têm sofrido modificações,

degradações, o que tem contribuído para o seu desaparecimento dentro da comunidade.

A atual situação do patrimônio arquitetônico de Taperoá, bem como, em muitos

outros municípios é de descaso, pois a cada momento que se passa, as edificações são

penalizadas, dando lugar a outras com mais modernidade, perdendo sua verdadeira identidade de

estrutura colonial. É importante lembrar que as ameaças ao patrimônio são ameaças à própria

existência da nação como uma entidade presente.

Repensar esses problemas é dar sentido a necessidade de criação e aperfeiçoamento

de políticas públicas participativas para promover um processo de valorização e proteção do

patrimônio auxiliando também na construção de um turismo sustentável, sendo que este,

desenvolvido de maneira responsável, pode trazer benefícios no que se refere a esfera política,

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social, econômica e cultural, e a essa, daremos um enfoque maior, no momento de discussão

sobre o que representa cada edificação refletida na identidade do povo taperoense.

2 PATRIMÔNIO: DEFINIÇÃO

A cultura popular não é estática, bem como, todo o processo de evolução da

humanidade. As pessoas, as coisas, estão sempre se modificando, pois com o passar do tempo,

vai tomando uma forma diferenciada daquela inicial. Não seria de outra maneira com o

patrimônio cultural, pois ao longo dos séculos, passam por adaptações e mudanças gerais,

acompanhada da evolução social, do avanço tecnológico, e essa mudança será desenhada de

acordo com o perfil da comunidade onde está inserido, pois irão aparecer os reflexos do

pensamento, das ideologias, das crenças, dos símbolos e toda a ação e criação da comunidade

local, como afirma Pellegrini (1997, p. 90) “atualmente, o significado de patrimônio cultural é

muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humano”. Pois, é baseado

na ação do homem, que o bem cultural recebe alterações e adaptações, que na maioria das vezes,

leva-os a perder a sua verdadeira essência.

Representado pelos bens tangíveis e intangíveis, o Patrimônio Histórico, é marca

comum a toda a sociedade, por ser um reflexo do passado, presente no cotidiano das pessoas, por

serem acumulados de tradições e heranças, que passam a caracterizar o local criando uma

identidade própria, pautado na memória e no valor singular que representam para a sociedade.

Referendando esse pensamento é oportuno citar:

A expressão patrimônio cultural se aplica às coisas que cada grupo preserva, porque

nelas estão a sua sobrevivência. A noção de patrimônio engloba objetos, técnicas,

espaços, edificações, crenças, rituais, instrumentos, costumes, explicitados no cotidiano

das pessoas. (LUCENA 1991, p. 10).

Esses bens patrimoniais podem ser divididos em três grupos que são os elementos

naturais, os elementos de saber e os elementos culturais, que tem o seu surgimento dos dois

primeiros grupos.

[...] Primeiramente, arrola os elementos pertencentes à natureza, ao meio ambiente. São

os recursos naturais, que tornam o sítio habitável. [...] O segundo grupo de elementos

refere-se ao conhecimento, às técnicas, ao saber e ao saber fazer. São os elementos não

tangíveis do Patrimônio Cultural. [...] o terceiro grupo de elementos é o mais importante de todos porque reúne os chamados bens culturais que englobam toda sorte de coisas,

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objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer.

(LEMOS, 2004, p. 8-10).

O primeiro grupo pode ser representado pelas paisagens naturais: florestas, rios,

dunas, praias, montes, entre outros e, em Taperoá, podem ser apreciados, os rios que margeiam o

município, com inúmeras cachoeiras, propícias para banho em suas piscinas naturais, os altos

montes, as serras, que servem de observatório para as Ilhas do Arquipélago de Tinharé, as matas

com árvores centenárias e toda sua biodiversidade.

O segundo tem a representação do conhecimento que o homem utiliza para

estabelecer-se na sociedade ao longo do tempo, como: técnicas e artes, entre outras. É nesta

categoria que estão inseridas as habilidades humanas, pelas quais se podem observar o manejo na

agricultura familiar, muito contemplada pelos taperoenses, por ser a principal atividade

econômica, as técnicas utilizadas na pesca artesanal e na criação de produtos manufaturados.

Já no terceiro grupo, os bens culturais que podem ser objetos e construções e, se

dividem em móveis e imóveis. Possíveis de serem colecionados, os bens móveis podem ser

compreendidos por tudo aquilo que se pode transmitir para outrem, movimentando-os como:

fotografias, músicas, selos, lendas. Os imóveis são considerados como igrejas, casas, praças, ruas,

enfim, as edificações. Sendo Taperoá representados nesta categoria, pelas construções coloniais,

ostentando o casario do centro histórico situado à Praça da Bandeira, e demais edificações

existentes no entorno, inclusive as religiosas.

O Patrimônio arquitetônico, dialogado no mais puro contexto, refere-se às

construções militares, civis e religiosas que caracterizam o espaço onde estão implantados,

delineando e representando a sociedade e sua história ao longo do tempo, pois remete a memória

do tempo em que foi construído, levando o indivíduo observador a retornar na história de maneira

a tentar entender os traços da época, o tipo de vida das pessoas que habitavam aquele lugar, que

por originalidade ou por tendência arquitetônica, erguiam tão singulares obras primas que mesmo

seguindo um padrão, já davam lugar ao ineditismo, com seus palacetes, sobrados, igrejas e

muitos outros.

2.1 A MEMÓRIA DA COMUNIDADE REFLETIDA NA IDENTIDADE POPULAR

Em seu conceito etimológico, baseado em Luft (2001, p. 452) “a memória é uma faculdade

de lembrar”, se configurando pela sua importância cognitiva no processo da aprendizagem. As

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representações do passado e a lembrança das experiências vividas estão presentes na mente de cada

individuo, criando oportunidades de reflexão sobre o comportamento humano e aquisição de novos

conhecimentos.

A identidade de uma comunidade é fruto da lembrança dos fatos, dos atos, que

compõem a construção da história, e que através da memória está presente no cotidiano das

pessoas, marcando e reafirmando a cultura local, conhecendo e interpretando o modo de vida da

população. É necessário manter viva a lembrança, pois na medida em que se busca rememorar,

torna mais claro o sentimento de pertença, de propriedade, de participação. Segundo Lucena

(1991, p. 22), “a existência da memória viva pertence à realização da identidade. A memória é

construída pelos indivíduos a fim de que eles próprios produzam uma história de vida singular ou

plural”. A história da comunidade, agregada aos valores sociais, constituem a sua cultura, criando

a sua própria identidade, e é ela que vai definir e diferenciar cada grupo social.

O grupo social, reconhecido pela identidade coletiva, tem como papel fundamental,

garantir que a sua memória seja preservada. A identidade, referenciada na sua cultura, pode ser

representada pelos bens tangíveis e intangíveis, a forma de expressão, de culto, de arte, de viver.

Tudo isso é passível de destruição e esquecimento, se não for cuidado e conservado para as

gerações que ainda virão.

Pensar na destruição do patrimônio é refletir sobre uma memória que também tem

sido destruída, já que o conceito de Patrimônio está pautado no conceito de memória quando esse

patrimônio é valorizado e preservado. A destruição gerada pela falta de interesse e pelo descaso

da comunidade local afeta a memória do passado e também do futuro, já que o patrimônio

arquitetônico, como parte integrante do legado cultural, se caracteriza como forma edificada da

identidade de um povo. “A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar

identidade, individual ou coletiva, [...] A memória, onde cresce a história, que por sua vez a

alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro”. (LE GOFF, 1996, p. 476-

477).

Representando a conservação do passado, a memória garante a identidade social que

está representada nos bens culturais, nos monumentos, que procuram trazer à lembrança os

acontecimentos de uma localidade. A preservação do patrimônio, entendida como forma de

perpetuação do legado cultural, depende de alguns fatores como o político, o econômico e o

social, pois envolvem os elementos representativos de uma sociedade. Necessitando ser mantido

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o dialogo para a decisão acertada do que se deve ser preservado. Neste sentido, se não houver a

preocupação coletiva em garantir a permanência da cultura, a identidade coletiva se perderá, e as

gerações futuras ficarão alheias a uma história sem registros, sem poder ao menos compreender

os caminhos pelos quais sua comunidade pode percorrer.

A perda progressiva da memória individual no decorrer do tempo equivale à perda

progressiva da identidade individual. O mesmo acontece quando se lida com grupos

sociais ou coletivos: quando a memória social é reduzida, anulada ou abafada, a

sociedade perde a habilidade para manter o registro de sua própria história. A identidade

se extravia e os personagens perdem sua capacidade de interpretar seu papel no palco

social. (LUCENA, 1991. p. 22).

A reflexão sobre a memória individual e coletiva vem sofrendo sérios agravantes no

seio da comunidade taperoense, devido a falta de compreensão da grande maioria dos munícipes,

pois estes não entendem da importância que é a cultura local, não tem consciência da

representação histórica, social e até mesmo econômica. Uma enorme massa popular, com

formação e conceitos acadêmicos, bem como, empresários e pessoas comuns, de pouco

conhecimento científico, ignoram e desqualificam a sua própria identidade.

3 TAPEROÁ: BREVE HISTÓRICO

Taperoá é uma cidade localizada na Região do Baixo Sul da Bahia, com pouco mais

de 18.000 (dezoito mil) habitantes, fundada em 1561 e elevada a categoria de cidade em 1916,

quando houve a sua emancipação política. Historicamente situada na Capitania Hereditária de

São Jorge dos Ilhéus, contam que a primeira penetração em seu território ocorreu por dois

pescadores que desceram de canoa através do rio Jequié a procura da ilha de Tinharé, tocaram o

solo taperoense onde saltaram a procura de água. Porém, através de pesquisas feitas, concluem

que pela habitação de índios, originou-se uma aldeia chamada de São Miguel de Taperoguá,

fundada pelos jesuítas em 23 de novembro de 1561. A aldeia indígena tomaria o nome de

Taperoá, que vem da palavra tupi Taperoguá, que significa: morador das ruínas e destroços.

Dizem, os antigos moradores que a cidade recebeu esse nome, por causa de uma tapera que

existia próxima à fonte se São Brás, monumento que será ainda citado. (PINHEIRO, 1989).

O patrimônio histórico de Taperoá começou a ser constituído no mesmo ano de 1561,

onde foi erguida a primeira capela, invocando a São Miguel como padroeiro. Porém, sem

registros das causas, o templo foi demolido em 1620, e ainda neste ano, o Capitão Lucas Fonseca

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Saraiva, fez construir no mesmo local, em cima da colina, a igreja de São Brás, já que este santo

o livrou de um mal na garganta e o beneficiário o quis homenagear. (PINHEIRO, 1989).

Em 1737, a capela de São Brás passou a pertencer à freguesia de Cairu e em 1813, já

pertencendo à Valença, foi separada e recebeu o título de curato, em 11 de outubro de 1819, é

desmembrado de Valença, ficando na área de Nova Boipeba, que é hoje Nilo Peçanha. Em 1838,

mais precisamente em 1º de junho, a freguesia de São Brás é criada e elevada à categoria de vila,

mediante a lei nº 67. Somente em 1º de abril de 1916 é que Taperoá teve a sua sede municipal

com foros de cidades, por força da lei estadual nº 1131, sendo administrada naquele período por

Manoel Magno Cesar de Oliveira. (PINHEIRO, 1989).

Por volta do século XVIII, desembarcou nas suas terras, cerca de cem famílias de

irlandeses, construindo a primeira colônia agrícola que se chamou de Santa Januária,

estabelecendo-se às margens do rio do Engenho, que mesmo recebendo ajuda governamental ela

não prosperou e o núcleo foi se desfalcando, permanecendo neste lugar apenas 12 irlandeses.

Mesmo antes dessa colônia, já havia a presença de portugueses e italianos que começaram a

edificar as residências com estrutura colonial e explorar os ramos de atividades agrícolas,

comerciais e madeireira, dentro do povoado. (PINHEIRO, 1989).

Os anos avançaram e as edificações foram tomando lugar dos terrenos vazios, a

cidade e seu entorno foram ganhando uma estrutura mais urbana, e com o passar do tempo já

existiam inúmeras ruas, ostentando seus casarões, e, no caminhar do tempo, se percebia o

aumento gradativo do número de pessoas. As construções de estradas e pontes, ligando um

município a outro, serviu para que esse crescente desenvolvimento pudesse ser constatado. A

cidade já contava com a Liga de Assistência Médica e, a partir da segunda metade do século XX,

muitos progressos aconteceram, como a construção de um campo de pouso, a implantação da

indústria de dendê, a Óleos de Palma S.A – OPALMA. Aconteceu também, a instalação da

primeira bomba de gasolina, seguido da construção da rodovia Valença – Taperoá, bem como,

outras estradas dentro do próprio município, o que facilitava o escoamento dos produtos agrícolas

para a cidade e, daí ser comercializado e enviado para Salvador pelos navios que atracavam no

porto, no Canal do Salgado.

Nas fotos abaixo, tiradas do alto da colina da Igreja de São Brás, percebe-se bem o

crescimento da cidade, as modificações ocorridas, ao longo dos oitenta anos de progresso, bem

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como, se vê o avanço da terra em direção ao mar e muitas reformas das construções antigas

modificando-as para outras mais novas e não mais bonitas.

Figura 01: Vista parcial da cidade, tirada em 1929.

Fonte: Pinheiro (1989).

Figura 02: Vista parcial da cidade, tirada em 2009.

Fonte: Autora (2009).

A primeira foto, retirada do livro do saudoso poeta Osmar Pinheiro, ilustra a cidade

de Taperoá colonial, sem a sua praça principal, mas com toda a sua beleza arquitetônica. Já na

segunda foto, a visão é de uma cidade mais arborizada, mantendo ainda, alguns traços coloniais,

porém, escondida entre novidades e modernidades.

3.1 BENS CULTURAIS

Muitos atrativos podem ser visitados no município de Taperoá como bens culturais

imóveis, dos quais se podem citar: a Praça da Bandeira situada no centro da cidade, tendo um

obelisco onde constam informações do ano de fundação da cidade, a posição em relação ao nível

do mar, as coordenadas geográficas, entre outras. Tem registro do início da obra datada de 1944.

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Em seu entorno estão concentrados os grandes casarões de relevante imponência, que em seu

conjunto arquitetônico configura-se como o centro histórico da cidade.

Figura 03: Foto Parcial da Praça da Bandeira, Obelisco central

Fonte: Autora (2009).

Outra obra, que se configura como a mais antiga e mais importante para a

comunidade é a Igreja de São Brás, construída em 1620 no ponto mais alto da cidade, tendo

acesso também pela Praça da Bandeira, através de 70 degraus. Do adro avista-se toda a cidade e a

ilha de Cairu. Trata-se de uma capela do século XVII, de relevante interesse arquitetônico, Na

época de sua construção tinha 16,80m e quando sofreu sua primeira reforma, no ano de 1857,

quando adquiriu traços do neoclássico em seu interior e teve um aumento para 20,20m. Depois

desse ano, passou duas vezes por melhoramentos, uma em 1951 e outra em 1956, quando fora

substituído todo o telhado, feito o serviço de ladrilho e piso cimentado do adro. Ainda neste ano,

o artista Miguel Araujo pintou os quadros, existentes nas laterais internas da igreja. (PINHEIRO,

1989).

Figura 04: Igreja de São Brás

Fonte: Queiroz (2009).

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No século XVIII era construída a capela de Nossa Senhora da Boa Morte, situada no

povoado de Jordão, encontra-se edificada numa elevação na BA-001, que liga Taperoá à Nilo

Peçanha, tendo acesso por uma escadaria de 33 degraus. A sua construção foi iniciada em 1707

pelo português José Góes Pinto. Sua inauguração aconteceu com a primeira missa do galo do

Baixo Sul, ali celebrada em 25 de dezembro de 1707. Possui alpendre arqueado circundando os

dois lados da nave. Sofreu alterações, sendo a mais evidente a construção de uma torre em 1945.

Há em suas paredes os registros da história, que a cada melhoria realizada, procura-se mantê-los

para que possam as novas gerações terem conhecimento acerca dela, como também, servir de

base para pesquisas e estudos científicos mais detalhado, de onde também foram retiradas essas

informações.

Figura 05: Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte - Povoado de Jordão.

Fonte: Autora (2009).

Não se pode deixar de falar da Capela de Nossa Senhora D’Ajuda situada no distrito

de Camurugi, à margem da BA – 001, há 6 Km da sede da cidade, trata-se de uma capela rural

construída no ano de 1856. Sua fachada sofreu modificações em 1956, quando foram

incorporados detalhes neoclássicos. Conta com um antigo cemitério, onde pessoas de famílias

tradicionais foram ali sepultadas. Possui ainda, um antigo oratório ao ar livre, construído em

pedras rústicas, arrumadas umas sobre as outras, servindo de espaço para peregrinação dos fiéis,

que vão acender velas para os santos de devoção.

Ainda nesse segmento religioso, é necessário lembrar a Igreja de Nossa Senhora da

Conceição, localizada à rua Gilberto Passos, s/n. Sua primeira missa solene, foi a de sua

inauguração em 08 de dezembro de 1929. De vez em quando, passava por alguns melhoramentos

e em 1987 iniciou uma reforma que derrubou as paredes internas, para ganhar mais espaço.

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Recentemente, passou pela reforma total, modificando toda a sua estrutura histórica, dando lugar

a um moderno templo. (PINHEIRO, 1989)

Dentre o casario colonial de muita importância para cidade situado na Praça da

Bandeira está o Sobrado de D. Julieta Meirelles, construído em 1907, mas que conserva

elementos de arquitetura colonial. A fachada lateral caracteriza-se pela altura da porta central, que

também dá acesso à escadaria da igreja de São Brás. Posicionado a cerca de um metro acima do

nível da rua, possui dois pavimentos, caracterizado pela sua parte térrea, onde funcionam quatro

lojas, e na parte superior, que seria habitável, porém, encontra-se abandonada, pondo em risco a

segurança da população. Fica no centro da cidade, próxima à prefeitura Municipal.

Figura 06: Sobrado de D. Julieta Meirelles

Fonte: Autora (2009).

Outra casa imponente é a de nº 174, de propriedade do Sr. Victor Meirelles, de

relevante interesse arquitetônico, construída em um pavimento sobre porão parcial. Data

provavelmente de meados do século XIX, apresentando características típicas do sertão. Possui

três portas frontais, dando acesso a partes distintas da casa.

Situada ao lado da atual prefeitura, a Loja Álvares, é um edifício construído para fins

comerciais sendo inaugurado em 1878. Apresenta tratamento neoclássico e fachada revestida de

azulejo de origem portuguesa. A loja integra o Centro Histórico da cidade. Recentemente, parte

dos azulejos foi retirada, sem razão aparente, e todo o interior da loja passou por modificação.

Por muitos anos, serviu de loja de tecidos, sendo a única da cidade, da propriedade do senhor Ruy

Araújo, recentemente foi instalada a funerária da mesma família, hoje permanece fechada.

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Figura 07: Loja Álvares

Fonte: Autoras (2009).

A Antiga Prefeitura, descrita como um prédio provavelmente do século XVIII, com

função residencial e que foi transformado em casa de Câmara e Cadeia, em 1847, com a

construção de mais um pavimento. Recentemente serviu às instalações do Instituto Zélia Gattai e

atualmente está ali instalada a sede da Associação dos Municípios do Baixo Sul da Bahia

(AMUBS).

Figura 08: Casa de Câmara e Cadeia Fonte: Autora (2009).

Ainda no entorno da Praça da Bandeira, está edificada a Farmácia Gratidão, instalada

na parte de baixo do sobrado, pertencente à família do saudoso João Ferreira Araujo, construído

por volta de 1910. Por muito tempo, foi considerado o maior distribuidor de remédio da

população. Continua ainda nos dias atuais, exercendo a mesma função, mantendo a mesma

estrutura e desenho arquitetônico original, na parte superior, no térreo, devido ao comércio ali

instalado tem passado por reformas e melhorias.

Na Rua Major Antonio Bittencourt, de propriedade da Srª. Luziânia Meirelles está

localizada uma casa reconhecida como vivenda urbana do início do século XIX. Possui um só

pavimento desenvolvido sobre vigas. A fachada lateral direita é marcada pela presença de

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varandas, possui um recuo do nível da rua, com um grande jardim, ainda se preserva as grades

em ferro fundido, com os detalhes originais.

Ainda se preserva algumas casas rurais, das quais se podem citar o sobrado da

Fazenda Jenipapo, da Senhora Isabel Grizentti, situada à margem da BA – 001, próximo à sede de

Taperoá. A casa do final do século passado, apresentando influências do neoclássico. A

construção encontra-se implantada em terreno em declive, com parte inferior edificada sobre um

porão, utilizado como depósito.

Outro Sobrado rural é o da Fazenda Boa Sorte, localizado na BA-001, no trecho

Valença - Taperoá no distrito de Camurugi. Edificado nos meados do século XIX, apresenta

planta semelhante aos sobrados urbanos, apesar de ter a gaveta de secagem de cacau, possui

escada feita em pedra e, apesar já ter passado por restauração, continua com os traços originais,

soalho em madeira e conta ainda com toda mobília intocada.

Figura 09: Sobrado da Fazenda Boa Sorte, Fonte: Autora (2009).

Finalmente, a casa da Fazenda Bela Vista, à rua Militão Cezar. Interessante casa rural

possivelmente do século XIX, situada à Beira Mar, em terreno plano. Caracteriza-se pela planta

quadrada, recoberto por telhado em pirâmide.

Dentre outras edificações, essas mencionadas acima são de grande valor histórico

para a comunidade, sabendo-se que algumas não foram citadas devido à falta de referencial

histórico, mas que de certa forma estão presentes e representam a memória do povo. Pensar nesse

tipo de patrimônio como gerador da atividade turística é dar significado a cada construção e a

história da comunidade acerca de cada uma delas. Dessa forma os benefícios para a cultura, para

a economia, para a preservação e proteção do patrimônio, serão muito mais nítidos. O turismo só

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funciona, eficientemente, quando a comunidade é beneficiada com a atividade, porque quando a

comunidade conhece sua cultura e sua história, sabe imortalizar suas tradições, suas expressões,

seus costumes. Deve haver uma preservação ativa em relação ao patrimônio, que re-signifique

tanto as edificações históricas quanto os objetos que representam as características de um povo. O

bem patrimonial, assim, pode revitalizar, integrando espaços e necessidades da comunidade.

3.2 AS POLÍTICAS DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE

TAPEROÁ

A administração pública da cidade de Taperoá, ainda não tem tomado medidas

preventivas, quanto à preservação e restauração do patrimônio. Há apenas no PDU – Plano

Diretor Urbano do município, a lei nº 203/2004 da gestão do prefeito Paulo Vianna, da

Preservação e da Proteção do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico, Cultural e Turístico,

que poderá ser garantido com a efetivação do Conselho de Desenvolvimento Urbano, e que, no

entanto, já foi aprovado pelo legislativo, como a lei nº 201/2004, mas ainda não está em

exercício.

Consta no artigo 14 da Lei de Preservação e Proteção do Patrimônio que alguns

imóveis, já passaram pelo tombamento total, junto ao Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural

da Bahia (IPAC), que podem ser discriminados como: Praça da Bandeira, Igreja de São Brás,

Edificação nº 12, Edificação nº 174, Loja Álvares, Sede da Fazenda Jenipapo, Igreja de Nossa

Senhora da Boa Morte e Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Todos estes, mesmo tombados,

são submetidos às modificações e restaurações sem a prévia aprovação, ou sem autorização do

órgão responsável.

O patrimônio arquitetônico do município de Taperoá corre o risco de ser perdido, pois

apesar de existir a lei que o protege, a maioria das edificações de valor histórico não está

registrado no livro de tombo da prefeitura. Sem contar que alguns de imponência relevante, já se

deterioraram e foram trocados por construções comerciais modernas. Muitos perderam sua

verdadeira essência, passando pelas modificações deixaram o aspecto rústico, de valor impagável

para a história, pois haviam nesses locais, sobrados de beleza singular, como o dos Meirelles,

situado à esquina da Rua Saul Oliveira, com três andares, decorado com pinturas originais de

grandes homens da elite brasileira, esculturas entre outros artefatos. Ainda outras edificações,

com adornos neoclássicos, que ruíram frente a falta de consciência e a ignorância popular.

Page 15: Artigo Taperoá

No lugar desses espaços de história, foram construídos supermercados, lojas de

móveis e eletrodomésticos, de brinquedos, de roupas, tudo para promover a realização financeira,

satisfazendo o ego e perdendo em identidade. Nesse pensamento, Lucena (1991. p. 26) afirma

que “O tempo da modernidade significa o predomínio das relações do dinheiro, da máquina sobre

os outros vínculos e a perda sistemática das manifestações culturais”. Nisso se confirma que o

capitalismo, a necessidade humana de ganhar dinheiro e se sobrepor aos outros indivíduos, tem

levado a essas perdas históricas e culturais, sendo que as mesmas construções enquanto históricas

poderiam trazer muitos benefícios para a economia local, podendo ser espaços de visitação

turística, meios de hospedagem, e todo o município lucraria com isso, que ao contrario, a

realidade é bem diferente, poucos lucram, enquanto muitos continuam desempregados.

Um fator que muito tem agravado essa situação é a falta de planejamento urbano, pois

o centro comercial está instalado nessa área onde há a maior predominância do patrimônio,

levando os comerciantes a demolir as antigas construções, edificando outras mais amplas que

atendam as suas necessidades. Segundo Portuguez (2004, p. 42) “Nas cidades históricas, os

planejamentos turísticos, urbanísticos e de patrimônio cultural não podem continuar a ser

ignorados. São três pilares básicos para se obter uma recuperação urbana integrada...”, o que

mudaria a situação caótica, pois o maior fluxo de pessoas e veículos de todos os tamanhos

trafegam também nesse espaço. Muitas vezes provocando pequenos acidentes contra o

patrimônio. Uma observação que se pode ser feita nesse aspecto, é que na medida que o centro da

cidade, compreendida pela Praça da Bandeira, a Rua Marechal Deodoro e a Gilberto Passos, se

sufoca, com o acúmulo de casas comerciais, residenciais, edificações antigas, carros, pessoas e

animais, os bairros no entorno não se desenvolve, aumentando o nível de pobreza, de tendência

ao alcoolismo e a prostituição.

O processo de formação das cidades brasileiras favorece o adensamento de grandes

núcleos populosos, fazendo com que a ausência de planejamento urbano seja sentida em cidades consideradas históricas ou não. [...] a falta de planejamento urbano engloba os

processos de favelização das encostas e entorno da cidade, o adensamento e a

descaracterização das edificações do Centro Histórico [...] (GRAMMONT, 2006, p.

457).

Há por um lado a falta de interesse do poder público, por não levar em conta o valor

histórico cultural e também não acreditar no desenvolvimento econômico como potencial

turístico, e dessa forma não toma providências quanto a conservação do patrimônio e, por outro

Page 16: Artigo Taperoá

lado está o comodismo das pessoas, que, mesmo aquelas com conhecimento e consciência da

importância que tem esse patrimônio arquitetônico, acerca da memória e identidade do povo, não

tomam nenhuma atitude, no sentido de impedir a deterioração, ou mesmo na tentativa de

conscientizar a comunidade.

Poucas são as pessoas conscientes do valor significativo das obras arquitetônicas do

município, que com todo o custo se dispõe a preservar, porque acreditam que representam parte

de suas vidas e não se desfazem das lembranças a elas atribuídas, como é o caso da senhora Ana

da Silva Campos Guimarães, conhecida por todos como Dona Naninha, que seguramente,

defende a permanência de seu antigo casarão na Fazenda Boa Sorte.

[...] Quando chegaram aqui, com a proposta de comprar aquele sobrado eu perguntei pra

Isabel, minha filha, se ela queria vender e ela disse que não venderia, porque é a relíquia

do pai dela, pois ali naquela casa muitas coisas boas aconteceram e é uma forma de

manter viva a lembrança daquele tempo. [...] tem dois anos que comemorei meu

aniversário de oitenta anos naquele casarão. (GUIMARÃES, 2009).

É notável o interesse da proprietária em manter viva a memória de sua família, que

inclusive a sua filha já tem uma consciência formada sobre a importância do monumento para a

história da sua vida. Pois estão implícitos os sentimentos, as lembranças de uma pessoa

importante para elas.

Ainda seguindo esse pensamento, a comunidade do Jordão, onde está construída a

Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte mantém viva a sua identidade, fazendo com que o referido

patrimônio, permaneça como a planta original, e nessa afirmação, o representante da

comunidade, diz: “Estamos o tempo todo tentando restaurar o que é necessário, porque todas as

pessoas da minha comunidade foram batizadas naquele templo e cresceram na fé ali, desde o meu

bisavô até a minha filha”. (PRAZERES 2009). Diante de um depoimento como este, fica claro

que só participando da história acerca do bem patrimonial é que se constrói um sentimento

identitário, de proteção e preservação.

3.3 A ATIVIDADE TURÍSTICA EM TAPEROÁ: GERAÇÃO DE RENDA E

SUSTENTABILIDADE

Para a realização do turismo é indispensável alguns elementos essenciais que lhe

servirão de atrativos, como o patrimônio natural, representado pelas paisagens naturais, praias,

rios, matas; patrimônios culturais, representados pelos monumentos históricos, museus,

Page 17: Artigo Taperoá

manifestações artísticas; equipamentos e serviços como hotéis, restaurantes, transportes; e, infra-

estrutura de apoio, como sistema de comunicação, segurança, médico-hospitalar. É uma atividade

econômica que está ligada ao setor de serviços e oferece empregos diretos e indiretos, gerando

mão-de-obra e aumento na economia local. É com esse olhar que o presidente Lula, no Plano

Nacional de Turismo 2007/2010 diz que além de contribuir para tornar o Brasil mais conhecido

ao olhar estrangeiro, e ao nosso próprio, o turismo aciona uma gigantesca engrenagem de

oportunidades de trabalho e renda em diferentes pontos no nosso território.

O turismo exerce um papel de destaque na preservação da cultura, pois na medida em

que esta cultura é cenário de visitações e apreciações, a comunidade local terá a preocupação em

manter, em dar continuidade aos benefícios que este atrativo lhe permite. Camargo (2002, p. 93)

diz que “a parceria planejada e bem gerenciada entre patrimônio e turismo é uma alternativa

eficaz com a criação de novos postos de trabalho”. Ambos os lados se beneficiam, pois é só

através da beleza cultural, constituída como atrativo, que o turismo pode acontecer, gerando

emprego, renda, movimentando a economia. Já o bem cultural, valorizado através da atividade

turística, passa a receber mais cuidados, incentivos, e todo o meio de proteção necessária.

O turismo deve trabalhar com o espaço da comunidade existente, redescobrindo seus

valores, seus sentidos e suas riquezas culturais, para que possam ser valorizados, através dos

viajantes, que entrem em contato com a identidade de grupos sociais, detentores, de fato, dos

bens culturais de uma comunidade. A comunidade detentora dos atrativos turísticos deve está

envolvida nas atividades relacionadas à área, pois ela passa a ganhar em vários aspectos,

inclusive na economia. Para os visitantes os lucros serão qualificados como conhecimento, lazer,

diversão, já que, quando saem de sua terra natal, é com o propósito de vivenciar novas

experiências, com boa qualidade de serviço.

As atividades turísticas são seriamente dependentes do modo como as comunidades

desenvolvem suas relações com os turistas. Os turistas preferem os lugares onde as

pessoas são amistosas. E para que isso seja possível o desenvolvimento do turismo só

deve ser promovido incluindo as idéias e opiniões da comunidade local. Isso quer dizer que a satisfação das necessidades locais pode permitir a satisfação das necessidades do

turista, uma filosofia de “ganha-ganha”, que é muito atraente. (FARIAS, 2003 apud

HALL, 2000, p. 30).

O turismo, em Taperoá, é uma das atividades econômicas, que ainda não teve início,

devido à falta de divulgação e manutenção dos seus atrativos. Com uma vasta história, e um

Page 18: Artigo Taperoá

patrimônio natural, arquitetônico e cultural riquíssimo, o município perde em não receber

visitantes que só ajudaria na economia local. Ainda é preciso que a administração pública

redescubra o seu potencial e forneça uma infra-estrutura de acordo com as suas necessidades.

Bem como, necessita da participação comunitária, já que o turismo cultural vai tratar do modo de

vida das pessoas, se elas estão por fora do processo de construção do planejamento turístico, será

mais difícil a atividade turística que é ainda inexistente, criar raízes e se estabelecer de verdade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendendo que o termo patrimônio se configura pela sua abrangência de

significados, arrolam nesse sentido os aspectos naturais, culturais e de conhecimento, de modo

que, os aspectos culturais, fruto do imaginário, da experiência de vida, dos sentimentos e do agir

humano, transportam-se de uma geração para outra, ganhando traços e adaptações ao longo dos

anos. As edificações de acentuado valor histórico, guardam em si, muitas experiências de pessoas

que ali viveram e desfrutaram do conforto, por elas proporcionado, por essa e por outras razões, a

sociedade em qualquer parte do mundo deve perceber o Patrimônio arquitetônico, não apenas

como objeto de apreciação, ou mesmo como produto de desenvolvimento econômico através da

atividade turística, mas acima de tudo, como marco de realizações para as pessoas que viveram

em outras épocas, valorizando-os como parte da história da comunidade, pois cada pedra, cada

tijolo, cada madeira, significaram para seus construtores, moradores e admiradores, parte de uma

realização pessoal refletida na memória ainda visível nos dias atuais.

O Patrimônio Arquitetônico tem o seu lugar de destaque na vida comunitária, pois a

sensação de pertencimento e a afirmação da lembrança estão implícitas no cotidiano de cada ser,

enquanto indivíduo e mais ainda, enquanto grupo, por ser a memória coletiva uma peça

importante na construção da identidade popular. Nesse sentido, a ativa participação da

comunidade na conservação do seu patrimônio torna-se eficaz, garantindo a permanência da

cultura local, e a re-significação da sua história.

O patrimônio histórico edificado de Taperoá, caracterizado pelas construções

coloniais dos séculos XVIII e XIX, tem um valor singular na vida de quem os aprecia, embora,

nem toda a população taperoense tenha a mesma admiração pelas antigas obras arquitetônicas, é

incontestável a sua significação para a construção da história local. No entanto, tem sido notável

a perda constante das qualidades estéticas desses monumentos, com as agressões contra a história

Page 19: Artigo Taperoá

representada por significativas obras. O reconhecimento do valor histórico, atribuído a cada

construção é um passo muito importante para uma discussão acerca da possível intervenção no

sentido de preservar a memória, restaurando e criando meios de proibir a destruição patrimonial,

instigando a necessidade eminente de garantir a manutenção da cultura popular e a identidade

taperoense.

Esse trato necessário às antiguidades locais se torna indispensável para o

desenvolvimento social, político e econômico através da atividade turística, que apesar de ainda

ser inexistente, mas em potencial, a partir da valorização e da divulgação desses recursos

históricos podem aumentar o fluxo de visitantes, gradativamente, como o passar do tempo e

assim, gerar renda e sustentabilidade, para a população local, como também, para o patrimônio,

criando oportunidades e efetivando as prestações de serviços criadas no interesse de atender a

demanda turística.

Para desenvolver o turismo a partir dos bens culturais e de outros bens que Taperoá

possui, é antes de tudo necessária a participação efetiva da comunidade no planejamento de todas

as ações, bem como na execução de todas as etapas, já que é a própria comunidade quem deve se

beneficiar, direta ou indiretamente, com o fortalecimento da economia local. Outro fator

importante, é que as pessoas envolvidas aumentam sua consciência no que diz respeito à

conservação, pois passa a compreender sua cultura, sua história e saber assim, imortalizar sua

identidade. Dessa maneira, a atividade turística pode ser eficiente em dois sentidos, o primeiro é

caracterizado pela melhoria da qualidade de vida na esfera econômica da população, e o segundo

é constituído pelo sentimento de pertença, pois os bens patrimoniais passam a significar a

inclusão social aumentando o orgulho em possuí-los criando o desejo de manter sua história e

perpetuar sua identidade.

REFERÊNCIAS

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