Artigo ECT

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A ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT) COMO RECURSO TERAPÊUTICO NO TRATAMENTO DA PESSOA PORTADORA DE TRANSTORNO MENTAL Áblla Coelho de Oliveira 1 Dayane Bernardino Rocha 2 Nilo Henrique de Paula Júnior 3 Flávia Rodrigues Pereira 4 RESUMO Este trabalho descreve a Eletroconvulsoterapia (ECT) como um dos recursos terapêuticos utilizados em pacientes portadores de sofrimento mental, em especial a depressão maior, a mania e a esquizofrenia. Tem um enfoque no processo histórico a que se deu esse tratamento e, as repercussões no âmbito da saúde dos pacientes a que eles foram submetidos. A ECT passou por mais de uma revolução durante a sua evolução, uma das principais foi devido ao tratamento por convulsões que geravam entre outros efeitos, as fraturas; e a introdução em 1940, por AE Bennett o uso do curare como relaxante muscular e permitindo a diminuição desses efeitos. Hoje, grande parte das aplicações da ECT é feita pelo "Método Modificado", com uso de um anestésico de ação rápida, pois o procedimento da emissão da corrente elétrica em si não ultrapassa 3 segundos e a convulsão provocada no paciente dura de 25 a 60 segundos. Tem como objetivo, o esclarecimento de dúvidas a respeito das ações desencadeadas pela ECT nos pacientes, desmitificar esse tipo de tratamento, oferecendo embasamento teórico para orientação de profissionais na atenção à saúde mental, principalmente ao enfermeiro que integra a equipe de assistência ao paciente portador de sofrimento mental em serviços externos ao hospital. Constitui-se de revisão bibliográfica em periódicos 1 Acadêmica de Enfermagem, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica de Enfermagem, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected] 3 Acadêmico de Enfermagem, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected] 4 Orientadora – Enfermeira, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected]

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A ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT) COMO RECURSO TERAPÊUTICO NO TRATAMENTO DA PESSOA PORTADORA DE TRANSTORNO MENTAL

Áblla Coelho de Oliveira1

Dayane Bernardino Rocha2

Nilo Henrique de Paula Júnior3

Flávia Rodrigues Pereira4

RESUMO

Este trabalho descreve a Eletroconvulsoterapia (ECT) como um dos recursos terapêuticos utilizados em pacientes portadores de sofrimento mental, em especial a depressão maior, a mania e a esquizofrenia. Tem um enfoque no processo histórico a que se deu esse tratamento e, as repercussões no âmbito da saúde dos pacientes a que eles foram submetidos. A ECT passou por mais de uma revolução durante a sua evolução, uma das principais foi devido ao tratamento por convulsões que geravam entre outros efeitos, as fraturas; e a introdução em 1940, por AE Bennett o uso do curare como relaxante muscular e permitindo a diminuição desses efeitos. Hoje, grande parte das aplicações da ECT é feita pelo "Método Modificado", com uso de um anestésico de ação rápida, pois o procedimento da emissão da corrente elétrica em si não ultrapassa 3 segundos e a convulsão provocada no paciente dura de 25 a 60 segundos. Tem como objetivo, o esclarecimento de dúvidas a respeito das ações desencadeadas pela ECT nos pacientes, desmitificar esse tipo de tratamento, oferecendo embasamento teórico para orientação de profissionais na atenção à saúde mental, principalmente ao enfermeiro que integra a equipe de assistência ao paciente portador de sofrimento mental em serviços externos ao hospital. Constitui-se de revisão bibliográfica em periódicos nacionais e internacionais. Os autores discorrem sobre o comprometimento dos trabalhadores na área de saúde mental, descrevendo ações, tanto procedimentais, quanto às orientações dadas aos pacientes e sua família a respeito de tal recurso terapêutico.

Palavras Chave: Eletroconvulsoterapia; Método modificado; Transtorno mental.

1 INTRODUÇÃO Várias teorias já tentaram definir o

conceito de saúde mental. Muitos desses

1 Acadêmica de Enfermagem, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected]êmica de Enfermagem, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected] Acadêmico de Enfermagem, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected] – Enfermeira, UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. E-mail: [email protected]

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conceitos lidam com diversos aspectos do

funcionamento individual.

A American Psychiatric Association

(APA, 2001) define saúde mental como o

sucesso simultâneo no trabalho, amor e

criação, com a capacidade de resolução

madura e flexível de conflitos entre instintos,

consciência, outras pessoas importantes e a

realidade.

Para Amarante et al. (1998) na

antiguidade, as doenças mentais eram

resultantes das ações sobrenaturais. Por volta

do século XVII ocorreram grandes

internações, com o declínio dos ofícios

artesanais e o início da sociedade industrial.

As cidades, cada vez maiores, encheram-se

de desocupados, mendigos e vagabundos -

os loucos dentre eles. Estas pessoas eram

sumariamente internadas nas casas de

correções e de trabalho: os hospitais

psiquiátricos. Segundo Foucault (1978) essas

instituições, muitas de origem religiosa, não

se propunham a função curativa, limitando-

se à punição do pecado da ociosidade.

No final de século XIX, uma releitura

distorcida do tratamento moral de Pinel, fez

com que ocorresse o aumento dos

manicômios e que se tornassem mais

repressivos, com atitudes de isolamento,

abandono, maus tratos, péssimas condições

de alimentação, duchas e banhos frios,

chicotadas, maquinas giratórias e sangria

(FOUCAULT, 1978).

Ao final da II Guerra Mundial, era

dramática a situação dos hospitais

psiquiátricos, surgiram então os primeiros

movimentos de Reforma Psiquiátrica.

Na segunda metade do século XX, a

quimioterapia como tratamento para o

transtorno mental tornou-se uma importante

área de pesquisa e prática. Quase que

imediatamente após a introdução da

clorpromazina (Thorazine) no começo dos

anos 50, as drogas psicoterapêuticas

tornaram-se um esteio do tratamento

psiquiátrico, particularmente para os

pacientes com sérias enfermidades mentais

(KAPLAN e SADOCK, 1993).

Os numerosos agentes farmacológicos

usados no tratamento dos transtornos

mentais são designados por três termos

gerais, usados alternadamente: drogas

psicotrópicas, drogas psicoativas e drogas

psicoterápicas.

Além do tratamento medicamentoso,

outro método utilizado é a psicoterapia, onde

são utilizadas abordagens educativas,

suportivas, interpessoais ou dinâmicas

visando recuperar o indivíduo no nível

psíquico, interpessoal e social (CARREIRA;

MOURA, 2008)

2

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Dentre as várias terapêuticas utilizadas

nos transtornos mentais, a

eletroconvulsoterapia (ECT) é um método

seguro e eficaz para o tratamento de

pacientes com transtornos mentais; em

episódios do transtorno bipolar do humor,

um dos quadros nosológicos mais

consistentes ao longo da história da medicina

com suas formas típicas (euforia – mania,

depressão) e na esquizofrenia, que é uma

doença que se caracteriza pela dificuldade

que a pessoa apresenta de diferenciar a

realidade de suas crenças e percepções muito

incomuns (MORENO et al., 2005).

A ECT é uma técnica que foi

inaugurada oficialmente em 1938 em Roma

– Itália, por Ugo Cerletti e Lucio Bini

(FINK, 1985) e é utilizada ininterruptamente

até hoje, mesmo sendo de grande polêmica a

sua utilização e sobre seus resultados.

Graças a relatos de pacientes

resistentes à farmacoterapia, houve

aprimoramentos, segurança e a comprovação

da eficácia da ECT, fazendo a sua utilização

ser ampliada para além dos quadros

psicóticos (FINK, 2007).

“Pode-se definir a ECT como, a

utilização de descargas repetitivas

eletricamente induzidas nos neurônios no

sistema nervoso central...” (HALES, 1992,

p. 622) para tratamento, com o objetivo de

produzir alterações no comportamento ou

ainda a finalidade de obter melhora em

sintomas psiquiátricos.

A indução elétrica de convulsões

demonstrou ser mais confiável do que as

abordagens farmacológicas utilizadas por

von Meduna, para induzir às mesmas

(MOSER et al., 2005).

Por ser a ECT um recurso terapêutico

polêmico, teve-se como indagação como foi

a sua evolução e a sua eficácia no tratamento

de pessoas com transtorno mental.

A partir do levantamento feito em

revisão bibliográfica, sobre a história da

saúde mental e a evolução dos tratamentos

no decorrer dos anos, descreveu-se o uso da

ECT como recurso terapêutico, a fim de

esclarecer dúvidas e desmitificar este

tratamento, oferecendo embasamento teórico

para orientação de profissionais na atenção à

saúde mental.

O presente artigo trata-se de uma

pesquisa bibliográfica qualitativa, que

consiste em apresentar de modo sucinto a

posição, conceitos e teses de diversos

autores sobre o tema abordado (SIQUEIRA,

2005).

Assim, foram realizadas consultas em

livros, revistas, artigos e trabalhos

científicos, sites da internet que datam de

1934 a 2009 e que tratam sobre o tema

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abordado, com a durabilidade de nove meses

para a realização da pesquisa.

Existem dúvidas sobre a indicação da

ECT, patologia e o momento certo de aplicá-

la. Acredita-se que esta pesquisa venha

auxiliar nos esclarecimentos aos

profissionais de saúde, aos pacientes e aos

seus familiares.

2 A ELETROCULVUSOTERAPIA (ECT)

COMO RECURSO TERAPEUTICO

2.1 A HISTÓRIA DA ECT

A ECT tem sua história remontada

desde o uso de canfora como principio ativo

de convulsões.

As primeiras descrições do uso de

cânfora para tratar portadores de transtornos

mentais parecem remeter ao século XVI,

quando Paracelsus a utilizava para curar

pessoas “lunáticas” (MOWBRAY, 1959).

Segundo Abrams (1992) a primeira

citação publicada é atribuída a Leopold von

Auenbrugger, que em 1764, tratava a “mania

vivorum” com cânfora a cada duas horas até

que surgissem as convulsões.

O Dr. Oliver, em 1785, apresentou no

London Medical Journal, o relato de caso de

mania que melhorou com convulsões

induzidas por cânfora. Em 1798, Weickhardt

apresentou o relato de dez casos de mania

tratados com convulsões induzidas por

cânfora, dos quais houve a cura em oito

deles (ABRAMS, 1992).

Em meados da década de 70, a ECT

foi estudada por Ugo Cerletti e Lucio Bini

em Roma (HCFMUSP, 2002).

Schaffer (apud ROSA et al., 2007)

acreditava que doenças hereditárias eram

caracterizadas por alterações patológicas

seletivas e especificas e que, na

esquizofrenia, os neurônios eram destruídos,

enquanto as células gliais não eram afetadas.

Meduna, durante estudos

neuropatológicos, encontrou um excessivo

crescimento de células gliais nos cérebros de

pacientes com epilepsia, comparados com

cérebros de pacientes com esquizofrenia, nos

quais havia uma evidente ausência de

crescimento destas células. Desta forma, ele

considerou, com base nesta evidência, um

antagonismo biológico entre esquizofrenia e

epilepsia (ABRAMS, 1992).

Meduna foi encorajado a continuar

seus estudos por Julius Nyiro sobre o

possível antagonismo biológico que poderia

existir sobre estas duas patologias, com a

observação de que pacientes epilépticos

tinham um prognóstico muito melhor, caso

fossem diagnosticados como tendo sintomas

esquizofrênicos (MACEDO et al., 2004).

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Com a crença de que pacientes com

epilepsia poderiam ser protegidos do

desenvolvimento de sintomas psicóticos

típicos da esquizofrenia, levantou-se a

hipótese de que a indução de convulsões em

pacientes com esquizofrenia poderia reduzir

os seus sintomas (MACEDO et al., 2004).

A cânfora, dentre outras substâncias,

conseguiu produzir convulsões em

porquinhos da Índia. Em humanos foi

utilizada na década de 30, em um paciente

com esquizofrenia que havia estado em

estupor catatônico durante quatro anos. Após

algumas series de convulsões, o paciente se

recuperou completamente (MEDUNA,

1934).

A cânfora foi substituída pelo

pentilenetetrazol (Cardiazol, Metrazol), por

ser mais solúvel e ter um inicio de ação mais

rápido, é um agente conhecido por inibir o

ácido gama-aminobutírico (GABA) tipo UM

(GABAA) receptores, principalmente na

região cortical e subcortical. A terapia

convulsiva com pentilenetetrazol logo se

espalhou por toda a Europa, por ser uma

melhoria em relação às injeções de cânfora

que eram associadas a vários problemas

(MACEDO et al., 2004).

Ensaios clínicos demonstraram uma

diminuição significativa dos sintomas

psicóticos em pacientes tratados com series

de convulsões induzidas (FINK, 1984).

A utilização de pentilenetetrazol,

apesar de ser efetiva na indução de

convulsões, tinha muitos efeitos colaterais,

era pouco segura e provocava sensações

extremamente desagradáveis para o paciente

durante a fase pré-ictal (“pavor

cardiazólico”). As convulsões induzidas

eram de difícil controle: alguns pacientes

desenvolviam crises parciais, outros

apresentavam crises subintrantes, “estado de

mal”, convulsões focais, hiperexcitabilidacle

cerebral prolongada e, ocasionalmente,

convulsões pós-ictais espontâneas. Isso

levou pesquisadores em Roma a procurar

métodos alternativos para induzir as crises

(ABRAMS, 1994).

O primeiro relato do uso de

eletricidade como tratamento em psiquiatria

foi feito em 1755, quando Le Roy submeteu,

involuntariamente, uma paciente portadora

de cegueira histérica, a uma corrente elétrica,

efetuando uma convulsão, seguida de cura

(GUZ, 1974).

Já havia sido demonstrado, que

convulsões podiam ser produzidas em cães

por estimulação elétrica do cérebro exposto,

e Von Schilf sugeriu a possibilidade de

produzir convulsões em seres humanos com

eletrodos extra-cerebrais (ABRAMS, 1994)

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Em 1934, no laboratório de Ugo

Cerletti, haviam sido induzidas convulsões

em animais com a passagem de um estimulo

elétrico. Contudo, cerca de 50% destes

morriam devido à passagem da corrente pelo

coração (ACCORNERO, 1988).

Em 1937, Lucio Bini sugeriu a

possibilidade de aplicar os eletrodos nas

têmporas dos cães, conseguindo induzir a

convulsão sem que o estímulo passasse pelo

coração. Com a indução elétrica, era mais

fácil induzir as convulsões e regular a carga

do que com agentes farmacológicos

(MACEDO et al., 2004).

Em 1938, Luigi Bini e Ugo Cerletti

documentaram a primeira utilização

terapêutica de convulsões eletricamente

induzidas nos seres humanos (RIOS, 2005).

Após uma série de experiências bem

sucedidas em animais, os investigadores

administraram o primeiro ECT em um

homem com 39 anos, que sofria de uma

psicose aguda, ele apresentava delírios e

alucinações, ficava gesticulando e alternava

períodos de mutismo com períodos nos quais

falava frases incompreensíveis, cheias de

neologismos. O paciente foi tratado com

uma série de 11 convulsões eletricamente

induzidas, e sentiu uma melhora dramática

em seu transtorno psicótico já na primeira

sessão do tratamento, isso em abril de 1938.

Após acordar da primeira sessão, o paciente

se levantou e olhou calmamente a seu redor,

com um sorriso vago (ABRAMS, 1994).

A indução elétrica de convulsões

demonstrou assim, ser mais confiável do que

as abordagens farmacológicas utilizadas por

von Meduna (MACEDO et al., 2004).

Em 28 de maio de 1938, a

comunicação dessas observações e

experiências foi feita a Real Academia de

Roma. Os pesquisadores italianos

produziram convulsões terapêuticas pela

passagem de uma corrente elétrica por meio

de dois eletrodos colocados na fronte, e um

método comparativamente seguro e indolor

de convulsoterapia tornou-se eficaz, em

relação à terapia convulsiva química (GUZ,

1974).

O advento do tratamento das psicoses

usando choque fisiológico aumentou a

oposição entre duas escolas de pensamento

em psiquiatria: a psicológica e a biológica.

Devido às diferenças das escolas, as

abordagens terapêuticas adotadas por cada

uma são marcadamente diferentes.

O sucesso da terapia por choque, em

virtude de causar alguma alteração drástica

no ambiente interno do cérebro, e,

consequentemente, nas funções das células

nervosas, foi um forte argumento a favor das

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Page 7: Artigo ECT

causas biológicas de muitas doenças mentais

(SABBATINI, 2008).

Entre as revoluções causadas pela

ECT, uma das principais foi devido ao

tratamento por convulsões refletirem uma

alta incidência de fraturas e luxações dos

ossos longos, bem como fraturas por

compressão à coluna vertebral.

As fraturas resultavam de contrações

musculares graves produzidos pelo fluxo de

corrente elétrica através do corpo e da fase

tônica das apreensões generalizadas.

Em 1940, AE Bennett introduziu o uso

do curare como relaxante muscular para

evitar essas contrações musculares e

minimizar o risco de fraturas. De forma

gradativa na técnica anestésica da ECT

incluíram o uso rotineiro de anestesia geral e

oxigenação vigorosa em todo o processo,

juntamente com a função cardíaca e

saturação de oxigênio e monitoramento para

prevenir complicações cardiopulmonares e

minimizar a hipóxia (KAPLAN e SADOCK,

2000).

As objeções daqueles que pensavam,

que o tratamento por indução química era

brutal e desumano foram afastadas quando o

assunto passou a ser o da produção de

convulsões, mediante a passagem de

corrente elétrica pelo cérebro. Mudanças

foram rapidamente feitas, após a descoberta

de quão eficaz era o tratamento para as

pacientes com depressão endógena.

Tornou-se evidente a redução do risco

de suicídio quase a ponto de

desaparecimento, tão logo, o tratamento

efetivo tivesse sido indicado. Finalmente,

observou-se que era passível tratar, a nível

ambulatorial, pacientes, que poucos anos

antes, só era possível em regime de

internação em clínicas fechadas (SARGANT

et al., 1978).

Em 1939, Kalinowski anunciou a

terapia por choque eletroconvulsivo ao redor

do mundo, visitando a França, Suíça,

Inglaterra e Estados Unidos. Pesquisadores

que adotaram o método de Cerletti-Bini logo

descobriram que ele parecia ter efeitos

espetaculares sobre os distúrbios afetivos

(ABRAMS, 1992).

De acordo com Bennett, 90% dos

casos de depressão severa que eram

resistentes a todos os tratamentos,

desapareceram após três ou quatro semanas

de ECT. Quando o curare e escopolamina

passaram a ser usados em conjunto com a

terapia eletroconvulsiva, o choque induzido

por insulina e metrazol foi gradualmente

sendo substituído. O eletrochoque começava

então a sua longa jornada como a terapia de

choque de escolha, na maioria dos hospitais

7

Page 8: Artigo ECT

e asilos ao redor do mundo (SABBATINI,

2008).

Após a sua descoberta, a ECT passou a

ser usada em demasia. Com a novidade das

drogas psicotrópicas, essa fase de

superentusiasmo chegou ao fim. Em meados

dos anos 50, a utilização da ECT começou a

declinar (BABIGIAN e GUTTMACHER,

1984).

Como aconteceu com a psicocirurgia,

a terapia por eletrochoque foi muitas vezes

usada de forma polêmica. Ocorreram muitos

casos em que o eletrochoque era usado para

subjugar e controlar pacientes em hospitais

psiquiátricos. Pacientes problemáticos e

rebeldes recebiam várias sessões de choque

por dia, muitas vezes sem sedação ou

imobilização muscular adequadas

(SABBATINI, 2008).

Na década de 70, começaram a surgir

importantes movimentos contra a psiquiatria

institucionalizada, na Europa e

particularmente nos EUA (SABBATINI,

2008).

Juntamente com a psicocirurgia, a

terapia por eletrochoque foi denunciada

pelos partidários dos direitos humanos.

Em meados de 1970, a terapia por

eletrochoque estava derrotada como prática

terapêutica. Em seu lugar, os psiquiatras

passaram a fazer uso cada vez maior de

novos agentes farmacológicos com efeitos

antipsicóticos, antidepressivos e

estabilizadores do humor, tais como a

torazina e outros fármacos. Estas descobertas

surgiram como métodos menos “invasivos”

que a ECT para a terapia psiquiátrica e, por

outro lado, foi-se desenvolvendo uma

imagem negativa da ECT vista como um

método cruel e desumano, utilizado para

controlar o comportamento e para tortura

(JENKUSKY, 1992).

Surgiram rumores de que a ECT fosse

inteiramente substituída pela farmacoterapia,

embora não tenha aparecido nenhuma droga

até o momento que se iguale a ECT, quando

utilizado com indicações precisas

(SARGANT et al., 1978).

Com o passar do tempo e o

esfriamento do entusiasmo inicial,

começaram a serem observadas algumas

limitações nas indicações de farmacoterapia

(tempo lento para inicio da ação, efeitos

colaterais excessivos, refratariedade de

alguns pacientes) (ROSA et al., 2007).

Mesmo pouco indicada, a ECT nunca

deixou de ser utilizada. Sendo retomada com

maior ênfase, principais problemas

associados a ECT eram o desconforto do

paciente e as dores musculares (em alguns

casos ate fraturas) resultantes da intensa

8

Page 9: Artigo ECT

contração muscular durante as crises (ROSA

et al., 2007).

Apesar de Bennet já ter utilizado

curare em 1940 para modificar as convulsões

eletricamente induzidas, a succinilcolina foi

introduzida para modificar as convulsões em

1951 por Holmberg e Thesleff (ROSA et al.,

2007).

Em 1959, Friedman relatou o uso de

methohexital para modificar a atividade

convulsiva (FOLK et al., 2000).

A partir dos anos 70, a técnica foi

muito aprimorada com introdução de drogas

anestésicas e miorrelaxantes que trouxeram

auxílio no tratamento da ECT.

Hoje, grande parte das aplicações da

ECT é feita pelo "Método Modificado", com

uso de um anestésico de ação rápida, pois o

procedimento da emissão da corrente elétrica

em si não ultrapassa 3 segundos e a

convulsão provocada no paciente não precisa

ser muito prolongada (mínimo 25 segundos,

máximo de 60 segundos). São usados:

relaxante muscular (succinilcolina) para

diminuir o risco de fraturas durante a

convulsão e atropina para diminuir a

produção de saliva evitando, assim,

aspiração involuntária durante o

procedimento (KAPLAN e SADOCK,

2000).

Atualmente, estima-se que 50 mil

pessoas recebam ECT por ano nos Estados

Unidos (BEYER et al., 1998).

Não há dados precisos sobre a taxa de

utilização de ECT no Brasil, mas são muitos

os serviços que tem essa ferramenta

terapêutica a disposição. No Serviço de

Tratamento Biológico do Instituto de

Psiquiatria do Hospital das Clinicas da

Universidade de São Paulo são realizadas,

em media, 250 aplicações mensais de ECT

(HCFMUSP, 2002).

2.2 MECANISMO DE AÇÃO DA ECT

Sabe-se que a ECT afeta múltiplas

áreas do sistema nervoso central, incluindo

neurotransmissores, hormônios,

neuropeptídeos e fatores neurotróficos

(WAHLUND, 2003).

Existem várias teorias que tentam

explicar o mecanismo de ação da ECT,

seguindo diversas linhas de estudo.

Ainda assim, as teorias para o

mecanismo de ação, sozinhas ou

combinadas, ainda não são capazes de

explicar totalmente o que ocorre no cérebro

e muitos estudos deverão ser realizados

nesse sentido (MACEDO et al., 2004).

Portanto, é verdade que o mecanismo

de ação da ECT não é completamente

9

Page 10: Artigo ECT

conhecido apesar do longo tempo de uso e

do grande número de estudos realizados até

hoje (MACEDO et al., 2004).

A teoria clássica dos

neurotransmissores postula que a ECT

melhora a deficiente neurotransmissão em

sistemas cerebrais relevantes, assim como os

antidepressivos tricíclicos, aumentando a

neurotransmissão, dopaminérgica,

serotoninérgica e noradrenérgica. Por outro

lado, sabe-se que a ECT tem forte ação

antipsicótica, corriqueira quando há

diminuição da ação dopaminérgica, o que

leva a questionar a teoria de simples

elevação da disponibilidade de dopamina no

cérebro. (MACEDO et al., 2004).

O sistema serotoninérgico é o único

sistema monoaminérgico no qual se acredita

que a ECT tenha efeitos opostos aos da

maior parte das medicações antidepressivas

(MANN e KAPUR, 1992).

Rudorfer et al. (1988 apud MACEDO

et al., 2004) demonstraram que o ácido 5-

hidroxi-indol-acético (5-HIAA), o principal

metabólito da serotonina, encontrava-se

aumentado no líquor dos pacientes após

ECT.

A teoria neuroendócrina sugere que a

liberação de hormônios hipotalâmicos ou

hipofisários induzida pela ECT resulte em

efeito antidepressivo. O hormônio

responsável por esse efeito terapêutico ainda

não foi isolado. O que se sabe é que a ECT

promove uma liberação da prolactina, do

hormônio estimulante da tireóide (TSH), do

hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) e de

endorfinas, entre outras substâncias neuro-

humorais (KAMIL e JOFFE, 1991).

A teoria anticonvulsiva sugere que o

efeito antidepressivo da ECT está

relacionado ao fato desse tratamento

promover um profundo efeito

anticonvulsivante no cérebro. Vários fatores

indicam isso. Ao longo das aplicações há um

aumento do limiar convulsivo e uma

diminuição da duração das crises. Alguns

pacientes com epilepsia apresentam menos

crises após a ECT (SACKEIM et al., 1991).

Substâncias neuroquímicas têm sido

postuladas como mediadores desse efeito

anticonvulsivante (HOLADAY et al., 1986).

2.3 INDICAÇÕES E CONTRA

INDICAÇÃO DA ECT

Atualmente há firmes evidências de

que a ECT é um tratamento efetivo para a

mania aguda. De fato alguns dados sugerem

que a ECT resulte em melhora clínica mais

rápida de que o lítio, embora o mesmo grau

de melhora clínica seja atingindo por ambas

as terapias após aproximadamente dois

10

Page 11: Artigo ECT

meses de tratamento (KAPLAN e SADOCK,

1993).

A partir da década de 60, uma série de

trabalhos mostraram que alguns

esquizofrênicos resistentes á medicação se

beneficiam com a ECT, mesmo que tenha

valor limitado nos esquizofrênicos crônicos

(KRAMER, 2000).

Segundo Kaplan e Sadock (1993) a

ECT foi eficaz no tratamento da depressão

grave. Naqueles também que apresentam

sintomas psicóticos, com retardo psicomotor

e alterações neurovegetativas, tais como

distúrbios do sono, apetite e energias. Esses

sintomas se associaram aos diagnósticos de

distúrbios depressivos maior com sintomas

psicóticos ou melancólicos e depressão por

distúrbio bipolar.

Embora o tratamento com medicações

antidepressivas seja bastante efetivo para

uma grande parte dos pacientes, muitos deles

não respondem adequadamente ao

tratamento ou não toleram os feitos

colaterais das medicações. A resistência á

medicação antidepressiva constitui a

principal indicação da ECT. Além disso,

possui maior rapidez de respostas em relação

à medicação (ANTUNES et al., 2009).

Em outros países, que não os Estados

Unidos, a ECT tem sido relatada como

eficaz no tratamento de “delirium tremens”

e transtorno conversivos. A ECT é

provavelmente o tratamento mais seguro em

algumas circunstâncias especiais, incluindo

gravidez, e pacientes idosos (a ECT tem

menos cardiotoxidade do que os tratamentos

farmacológicos disponíveis atualmente) e a

presença de sintomas extremos que exigem

alivio imediato (KAPLAN e SADOCK,

1993).

Não há contra indicações absolutas à

ECT, somente situações de risco aumentado.

Pacientes com massas intracraniana e AVC’s

em evolução tendem a deteriorar

neurológicamente com a ECT, devido a uma

ruptura transitória da barreira hemato-

encefálica, e a um aumento na pressão

intracraniana (KAPLAN e SADOCK, 1993).

A presença de um infarto do

miocárdico recente aumenta o risco de

descompensação cardíaca com a ECT por

causa das demandas cardiovasculares

aumentadas associadas aos procedimentos.

Uma hipertensão severa subjacente pode ser

uma preocupação, visto que a ECT aumenta

a pressão sanguínea dentro da faixa da

normalidade no momento de cada sessão

terapêutica (KAPLAN e SADOCK, 1993).

2.4 EFEITOS COLATERAIS

11

Page 12: Artigo ECT

Para Townsend (2005), apesar da

eficácia e da segurança oferecidas pela ECT,

alguns pacientes podem apresentar efeitos

colaterais, como alterações cognitivas

temporárias, principalmente da memória,

porém não decorrente de lesão cerebral,

entre esses, podem surgir, distúrbios de

memória e confusão mental constituindo

danos cerebrais irreversíveis; cefaleia; dores

musculares; náuseas; mudança súbita para

estado de mania ou misto, dentre outros.

Kendell et al. (1981) não conseguiu

encontrar evidências de déficits de memória

persistindo por mais de três meses.

Segundo a associação de apoio aos

doentes depressivos e bipolares (ADEB,

2009) a pessoa se recupera ao fim de alguns

dias ou semanas, mais raramente ao fim de

meses. A ECT não tem efeitos a longo prazo

na sua memória, ou na sua inteligência.

2.4 A OPERACIONALIZAÇÃO DA ECT

2.4.1 Exames pré-ECT

Os indivíduos que receberam

indicação de ECT devem ser submetidos a

uma avaliação médica e neuropsiquiátrica

(ISENBERG e ZORUMSKI, 2000).

Essa avaliação prévia à ECT deve

incluir o exame físico, o exame do estado

mental, a história médica pregressa

(incluindo alergia a medicações) e a revisão

de sistemas (com ênfase no sistema

cardiovascular e no sistema nervoso central).

Alguns exames laboratoriais básicos como

hemograma, eletrólitos, ureia e

eletrocardiograma devem ser solicitados para

todos os pacientes (FINK, 2001).

É importante que se revise o uso de

medicações que alterem o limiar convulsivo

(ex. benzodiazepínicos, anticonvulsivantes e

estabilizadores do humor), ou que aumentem

a chance de complicações pós-ECT (ex.

tricíclicos que aumentam o risco de

complicações cardiovasculares em pacientes

com doença cardíaca prévia) (FIGEL et al.,

1998).

Todos os pacientes que irão submeter-

se à ECT, e/ou seus familiares responsáveis,

devem assinar um termo de consentimento

informando que inclua a natureza e a

gravidade do transtorno psiquiátrico, seu

curso provável sem ECT, a natureza do

procedimento, o risco e o benefício e as

alternativas terapêuticas, incluindo a opção

de não tratar o problema (FINK, 2001).

2.4.2 As sessões de ECT

12

Page 13: Artigo ECT

O número de sessões de ECT é

variável, sendo medido por meio da resposta

clínica. Em média, são necessárias de 8 a 12

sessões. Contudo, alguns pacientes

necessitam até 20 sessões. Os tratamentos

são administrados no início da manhã, em

dias alternados, duas ou três vezes por

semana. Parece não haver diferença no

desfecho final entre esses regimes, com

exceção de uma melhora mais rápida no

tratamento realizado 3 vezes por semana

(FIGEL et al., 1998).

2.4.3 Dosagem elétrica da ECT

A dosagem elétrica influencia tanto no

sucesso terapêutico, como na magnitude dos

efeitos colaterais cognitivos (ISENBERG e

ZORUMSKI, 2000).

A dosagem elétrica utilizada deve ser

aquela, necessária para desencadear uma

crise convulsiva tônico-clônica que dure um

mínimo de 25 a 30 segundos (APA, 2001). O

limiar convulsivo varia muito entre os

pacientes, sendo influenciado por fatores

como idade, sexo, posição dos eletrodos e

medicações utilizadas (FIGEL et al., 1998).

A melhora do paciente parece estar

associada com a relação entre a dosagem

elétrica utilizada e o valor do limiar

convulsivo e, não apenas com o valor

absoluto da dosagem. Dessa forma,

estímulos muito acima do limiar são menos

efetivos (FINK, 2001).

Quando não há melhora clínica e os

efeitos adversos são toleráveis, o aumento da

dosagem elétrica pode ser feito de forma

relativamente arbitrária, Deve-se salientar,

que quando o paciente está no esquema pré-

selecionado é possível ultrapassar o limite

superior da janela terapêutica, o que

clinicamente se manifesta com a ocorrência

de uma convulsão sem melhora clínica

(FIGEL et al., 1998, ISENBERG e

ZORUMSKI, 2000).

No entanto, alguns autores utilizam o

método unilateral de alta potência sem

aumento progressivo das dosagens

(SACKEIM et al., 1993).

2.4.4 A crise convulsiva na ECT

Frente a uma crise convulsiva

inadequada, deve-se investigar a presença de

algum problema técnico. Uma vez

descartado o problema técnico, devem-se

avaliar as condições do paciente para a

repetição do estímulo com base

principalmente nos sinais vitais e no

eletrocardiograma (arritmias) (FIGEL et al.,

1998; ISENBERG e ZORUMSKI, 2000).

13

Page 14: Artigo ECT

Se não houver crise convulsiva, pode-

se repetir a sequência acima citada, até um

máximo de quatro vezes. Deve-se respeitar

um intervalo de 60 a 90 segundos entre um

estímulo e outro, para minimizar o efeito do

período refratário. Se, mesmo assim, o

paciente não convulsionar, deve-se observar

a possibilidade de que os estímulos elétricos

estejam acima do limiar. Na sessão seguinte,

usa-se a mesma dosagem de energia que foi

anteriormente eficaz (FLECK et al., 1998).

3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

NA ECT

Compete ao enfermeiro manter um

ambiente terapêutico, oferecendo apoio,

facilitando a interação com os demais

clientes, familiares e membros da equipe

durante todo o processo de tratamento, para

que eles se sintam seguros e confiantes

(STEFANELLI, 2002).

Para a realização da ECT, necessita-se

de recursos humanos, físicos e materiais que

garantam a qualidade da assistência prestada

ao paciente. Principalmente relacionados aos

materiais de suporte, que garantirão o

conforto e a sobrevida do paciente

submetido ao ECT, como protetores bucais,

cânula de Guedel, esfiguimomanômetro,

estetoscópio, aspiradores, máscaras de

oxigênio esterilizado, cateter nasal, seringas

e agulhas para preparo e aplicação de

medicação intravenosa e scalp, material de

contenção preparado para o caso de agitação

intensa após o tratamento; equipamentos

específicos prontos para uso (ECT e ECG)

(MACEDO et al., 2004).

O enfermeiro deve oferecer ao

paciente que foi indicado o tratamento com

ECT e à sua família, todas as informações

possíveis sobre o procedimento, sendo

informações completas e claras, usando uma

linguagem acessível ao nível de

compreensão de cada um, havendo também

coerência entre a equipe a respeito das

informações a serem transmitidas aos

pacientes (MACEDO et al., 2004).

De acordo com Rosa et al. (2004) e

Stefanelli (2002) a assistência de

enfermagem durante o tratamento deve se

constituída desde o preparo dos materiais,

passando pela condução do paciente até a

sala de tratamento; auxilio na preparação

desse paciente até observá-lo durante a crise

e protegê-lo, se necessário, registrando em

seu prontuário e por fim, encaminhá-lo para

a sala de recuperação pós-anestésica.

14

Page 15: Artigo ECT

Cuidados pós anestésicos como a

vigilância constante durante o período em

que o cliente ainda estiver sob efeito do

anestésico e orientação à família também são

da competência do enfermeiro.

Uma documentação cuidadosa é uma

parte importante do processo de avaliação.

Todavia notas de evolução com descrições

detalhadas das alterações de comportamento

do cliente são essências para avaliarem-se as

melhoras e ajudar a determinar o número de

tratamentos que vão ser administrados. A

reavaliação, planejamento e análise

contínuos asseguram que o cliente venha a

receber um cuidado de enfermagem

adequado e correto durante toda a terapia

(TOWNSEND, 2005).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste estudo, conclui-se que, a

ECT, tem sido recusada e discriminada

como recurso terapêutico devido à sua

história, a história da Saúde Mental e à

influência da mídia, que sempre demonstrou

de forma negativa esta terapia, mesmo que

atualmente, esta se apresente de forma

segura com toda uma equipe e preparação de

forma humanizada.

A ECT é um recurso terapêutico eficaz

e, que deve ser utilizada como primeira via

de tratamento em algumas alterações

psiquiátricas tais como: o transtorno bipolar

do humor em estágios avançados, depressão

maior e, em alguns casos mais severos de

esquizofrenia, todos com eficácia

comprovada, através de estudos e relatos de

pacientes e familiares.

Ao decorrer da pesquisa, percebeu-se

que a literatura vigente sobre a ECT é muito

escassa no âmbito nacional e internacional,

demonstrando a necessidade de se

desenvolverem mais estudos sobre a mesma,

pois mesmo com 72 anos desde a primeira

utilização documentada em humanos, sua

forma de atuação no cérebro não é

completamente compreendida.

Levantou-se o conhecimento de que a

enfermagem trabalha de forma integral nesta

terapia nos estágios Peri-ECT, acolhendo,

orientado e acompanhando em todas as

etapas, visando à melhora do quadro

psiquiátrico de forma gradativa, evitando ao

máximo a iatrogenia.

Compreendeu-se que a ECT, deve ser

mais divulgada e utilizada no meio

psiquiátrico, por se tratar de um recurso

terapêutico seguro, eficaz e que traz menos

efeitos colaterais para o paciente, se feita na

forma moderna modificada, com o auxílio de

toda a equipe com maior atenção às

orientações dadas pela enfermagem, que lida

15

Page 16: Artigo ECT

diretamente com o paciente, família e

equipe, visando o entendimento de todos,

além de uma boa melhora do paciente e,

aceitação da família.

ELECTROCONVULSIVE THERAPY (ECT) AS A THERAPEUTIC IN THE TREATMENT OF THE DATA CARRIER OF MENTAL DISORDER

ABSTRACT

This paper describes the Electroconvulsive therapy (ECT) as a therapeutic resource used in patients with mental illness, especially major depression, mania and schizophrenia. It has a focus on the historical process that gave this treatment and its impact on the health of patients to which they were submitted. ECT has undergone more than one revolution during its evolution, one of the main revolutions was due to treatment for seizures that used generate among other effects, fractures, and the introduction in 1940 by AE Bennett, the use of curare as a muscle relaxant and allowing the reduction of these effects. Today, most applications of ECT is done by the "Modified Method", using a fast acting anesthetic, because the procedure of issuance of the electric current itself does not exceed 3 seconds and the convulsion caused in the patient lasts from 25 to 60 seconds . Is aimed at clarifying doubts regarding the actions triggered by ECT in patients, demystifying this kind of treatment, providing theoretical basis for the guidance of professionals in mental health care primarily to the nurse who is a staff of assistance to patients with mental illness in services outside the hospital. It consists of a biographical review on national and international journals. The authors address the commitment of workers in the area of mental health, describing procedural actions as well as the guidelines given to patients and their families about this therapeutic resource.

Keywords: Electroconvulsive therapy; modified method; Mental disorder.

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