Artigo Trajetorias Da Educacao de Surdos (1)

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Percurso Histórico da Educação dos Surdos no Mundo e no Brasil: modelos educacionais Marisa Dias Lima 1 Márcia Dias Lima 1 1. Introdução Muito se tem discutido, no campo educacional do país, sobre a inclusão da pessoa com necessidades específicas, principalmente das pessoas surdas. Apesar de que a educação dos surdos não dizer respeito somente à escola, é nesse ambiente que o assunto vem ganhando mais força e gerando mais questionamentos por parte dos pais e educadores, pois sabemos que a inclusão refere-se ao processo de educar-ensinar, no mesmo grupo, pessoas com e/ou sem necessidades educacionais específicas, durante sua permanência na escola, nessa concepção, toda escola deveria estar preparada, tanto em termos físicos (mobiliário, espaço físico etc.), quanto em termos pedagógicos, não só para receber e atender todo tipo de aluno, mas também para respeitar suas diferenças e educar de acordo com o ritmo e as possibilidades de cada um. Atualmente deparamos vários entraves existentes na educação dos surdos, o maior deles é o despreparo dos professores de alunos surdos que possuem dificuldade de atender/ ensinar, entretanto, é notório que a escola atual tem que assumir, ao lado da educação dos surdos tendo o seu uso linguístico em Libras utilizado/adotado e respeitado no espaço escolar. Assim, a educação, como prática, precisa estar em constante reflexão teórica a ser discutido constantemente porque é nesse fluxo, entre o agir e o pensar, que dinamiza a ação resistindo a subserviência ideológica de dominação. Tendo em vista de que muitos consideram os surdos como indivíduos intelectualmente incapazes por não possuírem a língua portuguesa como a primeira língua, desvalorizando assim a sua cultura, e passam a associar a surdez a um comprometimento cognitivo. Essa é uma concepção totalmente equivocada, que leva os surdos a desenvolverem uma auto imagem enfraquecida e, em muitos casos, ignorada no seu meio social e no seu espaço escolar. Nesse sentido, o termo “surdo” para a maioria das comunidades compreende uma 1 Professora de Libras da Universidade Federal de Uberlândia, vinculada ao núcleo de Libras e Educação Especial, e pesquisadora do GPELEDT - Grupo de Pesquisas e Estudos da Linguagem, Libras, Educação Especial e a Distância e Tecnologias.

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  • Percurso Histrico da Educao dos Surdos no Mundo e no Brasil:

    modelos educacionais

    Marisa Dias Lima1

    Mrcia Dias Lima1

    1. Introduo

    Muito se tem discutido, no campo educacional do pas, sobre a incluso da pessoa com

    necessidades especficas, principalmente das pessoas surdas. Apesar de que a educao dos

    surdos no dizer respeito somente escola, nesse ambiente que o assunto vem ganhando

    mais fora e gerando mais questionamentos por parte dos pais e educadores, pois sabemos

    que a incluso refere-se ao processo de educar-ensinar, no mesmo grupo, pessoas com e/ou

    sem necessidades educacionais especficas, durante sua permanncia na escola, nessa

    concepo, toda escola deveria estar preparada, tanto em termos fsicos (mobilirio, espao

    fsico etc.), quanto em termos pedaggicos, no s para receber e atender todo tipo de aluno,

    mas tambm para respeitar suas diferenas e educar de acordo com o ritmo e as

    possibilidades de cada um.

    Atualmente deparamos vrios entraves existentes na educao dos surdos, o maior

    deles o despreparo dos professores de alunos surdos que possuem dificuldade de atender/

    ensinar, entretanto, notrio que a escola atual tem que assumir, ao lado da educao dos

    surdos tendo o seu uso lingustico em Libras utilizado/adotado e respeitado no espao

    escolar. Assim, a educao, como prtica, precisa estar em constante reflexo terica a ser

    discutido constantemente porque nesse fluxo, entre o agir e o pensar, que dinamiza a ao

    resistindo a subservincia ideolgica de dominao.

    Tendo em vista de que muitos consideram os surdos como indivduos intelectualmente

    incapazes por no possurem a lngua portuguesa como a primeira lngua, desvalorizando

    assim a sua cultura, e passam a associar a surdez a um comprometimento cognitivo. Essa

    uma concepo totalmente equivocada, que leva os surdos a desenvolverem uma auto

    imagem enfraquecida e, em muitos casos, ignorada no seu meio social e no seu espao

    escolar. Nesse sentido, o termo surdo para a maioria das comunidades compreende uma

    1 Professora de Libras da Universidade Federal de Uberlndia, vinculada ao ncleo de Libras e Educao

    Especial, e pesquisadora do GPELEDT - Grupo de Pesquisas e Estudos da Linguagem, Libras, Educao

    Especial e a Distncia e Tecnologias.

  • variedade de transtornos, que so usualmente considerados como parte de um ser humano

    inferior, inevitavelmente desconhecem os motivos pelos quais os surdos no partilham da

    viso ouvinte do mundo (apesar de haver uma ampla divulgao), e acreditam que a

    imerso em um mesmo ambiente lingustico de lngua portuguesa suficiente para surdos e

    ouvintes adquirirem a lngua falada no meio, e que o mesmo no acontece com a realidade

    dos surdos. Assim, contrariamente aos ouvintes, os surdos, por possurem a Libras (Lngua

    Brasileira de Sinais) como lngua natural/materna, uma lngua diferente da falada pelos

    primeiros, compartilham com outros surdos as experincias de mundo essencialmente

    visuais, por meio das imagens e movimentos que os cercam. A consequncia primeira dessa

    realidade a existncia de uma cultura surda prpria e diferenciada daquela do mundo

    ouvinte (Skliar, 1998; Faria, 2003).

    Partindo se desses e pressupostos tericos discutidos por alguns autores, tais como

    SNCHES (1990); SKLIAR (1997); LACERDA (1998); SOARES (1999), situar no campo

    de investigao epistemolgica algumas questes, entre elas, de que forma as mudanas

    sociais ao longo da histria contriburam na organizao poltica, social e educacional dos

    surdos? De que maneira a concepo que a sociedade tem acerca dos surdos influencia na

    prtica da educao dos surdos?

    Para esse fim, este trabalho procura visibilizar algumas percepes que temos acerca

    da dos surdos, que se fazem hoje presente que foram influenciadas atravs de trs fatos

    considerados determinantes na histria da educao de surdos: Retrospectiva Histrica da

    Educao dos Surdos, Contribuio das pessoas na construo de sua educao e as

    influncias que os mesmos tiveram no Ps-Congresso de Milo.

    Contundo, ressalta se que de grande valia aprofundar os conhecimentos diante dos

    questionamentos do ensino dos surdos que tem por finalidade oferecer aos atuais e futuros

    docentes da educao a fim de atuarem de forma mais capacitada e preparada numa

    educao de qualidade, principalmente com as crianas surdas que possuem a maior

    carncia de professores qualificados, com o aprofundamento nos conhecimentos

    relacionados educao dos surdos possibilitar os a discutir as prticas e teorias partindo

    de uma questo sociocultural, no qual um sujeito surdo que tem a Libras a sua lngua

    natural.

    2. Fundamentao Terica

  • Este trabalho toma como objeto de estudo desenvolvido pelos membros do GPELEDT -

    Grupo de Pesquisas e Estudos da Linguagem, Libras, Educao Especial e a Distncia e

    Tecnologias segundo os pressupostos tericos das trajetrias que a educao dos surdos vem sendo

    modificados desde a antiguidade; a contribuio de algumas personalidades no processo de

    escolarizao dos surdos e o seu papel no movimento; e os diferentes modelos educacionais

    presentes na educao dos surdos aps a discusso do Congresso de Milo que contribura o

    desenvolvimento das discusses de melhoria para a educao dos surdos de hoje.

    2.1. Retrospectiva Histrica da Educao dos Surdos

    At meados do sculo XVI, os surdos, denominados surdos-mudos, eram considerados

    ineducveis deixados margem como inteis coletividade. No entanto, desde essa poca,

    j havia esforos para tornar possvel a sua educao. O mdico italiano Girolamo Cardano,

    afirmou que os surdos-mudos podiam ser postos em condies de ouvir lendo e de falar

    escrevendo. Posteriormente, o frade espanhol Pedro Ponce de Leon conseguiu ensinar a

    linguagem articulada a surdos-mudos e, em 1620, outro espanhol, Juan Pablo Bonet,

    publicou o primeiro livro sobre o assunto, em que explica como exercitar o educando para a

    emisso dos sons. Visto que os surdos na poca quase sempre eram tambm mudos, isso

    fazia com que eles no fossem reconhecidos como pessoas capazes de possurem direitos

    legais. O reconhecimento de surdos filhos de famlias nobres como pessoas de lei, para que

    pudessem herdar ttulos e a fortuna da famlia, foi um fator para o desenvolvimento de

    mtodos educacionais especiais para os surdos (SACKS, 1998).

    At 1750, a situao das pessoas surdas era calamitosa, pois eram considerados

    incapazes de desenvolver a fala, e, portanto mudos incapazes de comunicar-se livremente

    at mesmo com pais e familiares, restritos a alguns sinais e gestos rudimentares. O abade

    francs Charles Michel de Lpe criou o chamado mtodo silencioso, no sculo XVIII.

    Sem desprezar a importncia da palavra oral, Lpe deu relevo especial ao emprego de

    sinais manuais, estabelecendo uma linguagem convencional, como meio de instruo dos

    surdos.

    Nas afirmaes de LACERDA (1998), o Abade francs Charles Michel de LEpe foi

    o primeiro a estudar uma lngua de sinais usada pelos surdos. Partindo da observao da

    comunicao de um grupo de surdos que utilizava gestos, ele desenvolveu um mtodo

    educacional apoiado na lngua de sinais, conhecido como mtodo francs. Esse sistema foi

    amplamente difundido em toda a Europa.

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  • No Brasil, na poca do Imprio, as elites dirigentes, que j tinham por costume enviar

    seus filhos para estudar na Europa, passaram a mandar tambm para l os que apresentavam

    deficincias, para que se beneficiassem dessas viagens educativas. A primeira tentativa de

    institucionalizao da educao do deficiente no Brasil foi feita em 1835, pelo Deputado

    Cornlio Ferreira. Entretanto, somente em 1856, teve incio o ensino dos surdos-mudos,

    quando o professor francs Eduard Huet, tambm surdo, fundou no Rio de Janeiro, sob os

    auspcios de D. Pedro II, o Instituto Nacional de Surdos-Mudos INSM, hoje, Instituto

    Nacional de Educao de Surdos INES. Segundo REIS (apud LACERDA,1998), corria a

    informao, nos primrdios da instituio, de que D. Pedro II teria trazido para o Brasil o

    professor Huet para iniciar o ensino da educao do surdo no Brasil, porque a Princesa

    Isabel tinha um filho que era surdo e que, em funo disso, D. Pedro II teria se interessado

    em iniciar a educao dos surdos no Brasil.

    De acordo com Tobias Rabello Leite (terceiro Diretor do INSM2 que escreveu a obra

    Compndio para o Ensino de Surdos-Mudos), atender ao surdo

    estim-lo, e dar-lhe sinais de afeio. Por outro modo no se poderia obter dele

    confiana, nem dominar sua ndole selvagem. [...] A educao, que indispensvel

    ao surdo-mudo, [...] consiste nos hbitos de asseio, de decncia, de ordem, de

    obedincia e respeito, assim como na cultura das faculdades intelectuais e morais

    pela prtica da linguagem (LEITE,1881 apud MONTEIRO, 1994, p. 52).

    O INSM aceitava a Lngua de Sinais e a datilologia, ou seja, o alfabeto manual. Para

    disciplinar os alunos, eram aplicadas primeiramente advertncias (verbais e escritas); e em

    caso de reincidncia, havia suspenso; depois, repetindo-se de novo a falta, ocorria

    diminuio de alimentao; em ltimo caso e por fim, optava-se pela expulso.Tudo

    indicava que o Governo no tinha interesse em assumir essa tarefa, tanto que passou esse

    encargo para as provncias. Assim, foi fadada ao esquecimento, juntamente com a instruo

    pblica primria que, garantia gratuidade a todos pela Constituio de 1824, mas relegada

    aos minguados recursos provinciais.

    Em 1911, j com nova denominao, o Instituto Nacional dos Surdos, INES, foi

    remodelado, adotando o mtodo oral puro (oralismo). Proibiu-se em sala de aula o uso da

    Lngua de Sinais, dando preferncia ao treinamento da fala. Apesar de proibida, a Lngua de

    Sinais continuava sendo utilizada, tanto no Instituto como fora dele, independentemente do

    que fosse adotado oficialmente. (ROCHA apud LACERDA, 1998).

    A educao da pessoa surda, nos anos sessenta, acompanhou esse movimento, tendo

    como bandeiras: o reconhecimento da Lngua de Sinais, as pesquisas sobre a aquisio da

    2 Instituto Nacional do surdo-mudo.

    AugustaVidigalRealce

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  • linguagem e a tomada de conscincia dos educadores dos resultados pouco satisfatrios dos

    mtodos orais para a aquisio de conhecimentos pelos surdos.

    Hoje em dia, uma deciso de especial relevncia para a educao dos surdos no Brasil

    foi tomada pelo Congresso Nacional, ao sancionar a lei federal n 10.436, de 24 de abril de

    2002, que declarava nos seus quatro primeiros artigos:

    Art. 1 reconhecida como meio legal de comunicao e expresso a Lngua

    Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expresso a ela associados.

    Pargrafo nico. Entende-se como Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS a forma

    de comunicao e expresso, em que o sistema lingstico de natureza visual-

    motora, com estrutura gramatical prpria, constitui um sistema lingstico de

    transmisso de idias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do

    Brasil.

    Art. 2 Deve ser garantido, por parte do poder pblico em geral e empresas

    concessionrias de servios pblicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e

    difuso da Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS como meio de comunicao

    objetiva e de utilizao corrente das comunidades surdas do Brasil.

    Art. 3 As instituies pblicas e empresas concessionrias de servios pblicos de

    assistncia sade devem garantir atendimento e tratamento adequado aos

    portadores de deficincia auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

    Art. 4 O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais,

    municipais e do Distrito Federal devem garantir a incluso nos cursos de formao

    de Educao Especial, de Fonoaudiologia e de Magistrio, em seus nveis mdio e

    superior, do ensino da Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS, como parte

    integrante dos Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislao

    vigente. Pargrafo nico. A Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS no podero substituir a modalidade escrita da lngua portuguesa.

    Outra importante conquista que merece destaque foi a assinatura do Decreto que

    regulamenta a Lei que dispe sobre a Lngua Brasileira de Sinais Libras.

    A partir dessa histria relatada, possvel perceber que os surdos passaram por

    diversas mudanas profundas no seu processo de ensino, pois eram vistos como pessoas no

    pensantes no passado, totalmente incapazes de assumir seu papel na sociedade. Atualmente,

    apesar dos avanos, alguns surdos ainda continuam sendo prejudicados pela sociedade,

    famlia, escola e outros, pois algumas pessoas pensam que pelo fato de no ouvirem, os

    surdos so dignos de d e piedade, por causa da sua incapacidade.

    Nessa perspectiva, a educao de surdos, ainda atualmente, continua sofrendo

    interferncias scio-econmicas, culturais e polticas, prejudicando o acesso da populao

    surda s informaes sociais, alm do preconceito contra a Lngua de Sinais.

    2.2. Contribuio das pessoas na construo da Educao de Surdos

    Vrias so as pessoas que, de alguma forma e em determinados momentos histricos,

    com maior ou menor intensidade, contriburam para a construo da histria do surdo e da

  • Lngua de Sinais. Algumas personalidades se destacaram na construo dessa histria e

    buscamos, atravs do quadro a seguir, exemplificar brevemente quem foram e suas

    contribuies.

    poca

    Personalidade

    Fatos

    IDADE

    MODERNA

    Pedro Ponce de Leon

    Fundou uma escola para surdos em

    Madri.

    Ensinava filhos surdos de pessoas

    nobres da sociedade da poca.

    Desenvolveu um alfabeto manual que

    auxiliava na soletrao das palavras.

    Juan Pablo Bonet

    Utilizava o mtodo oral.

    Estudava e escrevia sobre as

    metodologias para ensinar o surdo a ler

    e escrever.

    Jonh Bulwer

    Adepto da lngua de sinais.

    Produziu um mtodo e comunicao

    para se comunicar com os surdos.

    Jonh Wallis

    Estudioso sobre a surdez.

    Dedicou-se mais ao ensino da escrita

    aos surdos.

    George Dalgarno

    Foi o idealizador do sistema de

    datilologia.

    Konrah Amman

    Defensor da leitura labial pelos surdos

    Charles Michel de Lpee

    Muitos o consideram o criador da

    lngua de sinais, apesar de se saber que

    a lngua j existia anteriormente.

    Criou o Instituto Nacional de Surdos-

    Mudos em Paris (primeira escola de

    surdos do mundo).

    Reconheceu o surdo como ser humano,

    assumiu o mtodo como uma educao

    coletiva.

    Pontuou que ensinar o surdo a falar

    antes de aprender a lngua de sinais

    seria uma perda de tempo.

    Jacob Rodrigues Pereira

    Usava alguns sinais em forma de

    gestos.

  • Mas defendia o mtodo oral.

    Thomas Braid Wood

    Fundou uma escola de surdos na

    Europa (Edimburgo).

    Samuel Heinicke

    Ensinou vrios surdos a falar.

    Criou o mtodo oral, conhecido

    atualmente.

    IDADE

    CONTEMPRNEA

    Roch Ambroise Cucurron

    Sicard

    Ampliou vrios institutos de educao

    dos surdos com a criao de institutos

    para surdos na Frana.

    Pierre Desloges

    Foi defensor da lngua de sinais.

    Publicou o primeiro livro escrito por

    um surdo.

    Jean Itard

    Mdico.

    Dedicou-se ao estudo da deficincia

    auditiva.

    Utilizava se em suas pesquisas mtodos

    de perfurao de tmpanos, entre outros.

    Jean Massieu

    Ex- aluno de Lpe. Primeiro professor surdo que se tem

    registro foi o nome mais cotado para ser o sucessor de Sicard no Instituto.

    Thomas Hopkins

    Gallaudet

    Abriu a escola de Hartford.

    Adotou a lngua de sinais e alfabeto

    manual na educao dos surdos na

    Amrica.

    Edward Miner Gallaudet

    Sobrinho de Thomas Gallaudet.

    Fundador da Universidade Gallaudet.

    Alexandre Graham Bell

    Invetor de telefone e filhos de pais

    surdos.

    Defensor do oralismo.

    Helen Keller

    Ficou cega e surda aos 7 anos de idade,

    criou mais de 60 sinais para se

    comunicar com seus familiares.

    Tornou-se uma grande escritora e sendo

    fluente de vrias lnguas

    Enerst Huet

    Professor Surdo.

    Trouxe o mtodo de ensino de lngua de

    sinais francs com o alfabeto manual

  • BRASIL

    para o Brasil.

    Tobias Leite

    No cargo de diretor se inicia no

    estabelecimento da obrigatoriedade do

    ensino do oralismo e da leitura labial.

    Flausino Jos da Gama

    Ex-aluno do INES.

    Fez a primeira tentativa de registro dos

    sinais utilizados no Brasil.

    Eugnio Oates

    Missionrio americano.

    Difundiu a lngua de sinais para a

    sociedade atravs de dicionrio.

    Lucinda Ferreira Brito

    Primeira pesquisadora da Lngua de

    Sinais no Brasil.

    Possibilitou aos pesquisadores melhor

    entendimento acerca da Lngua de

    Sinais adotados pelos surdos.

    Ronice Quadros

    Filha de pais surdos.

    Pesquisadora Linguistica, foi a primeira

    a levantar a bandeira do uso da Libras

    nas crianas surdas.

    Martinha Clarert

    Diretora de Poltica de Educao

    Especial.

    Defensora da incluso.

    Props o fechamento de escolas

    especiais para efetivar a educao

    inclusiva.

    No acredita na importncia da Libras

    na educao de surdos.

    Diretoria da Feneis

    Representante da comunidade surda.

    Defensora da Lngua de Sinais na

    escolarizao dos surdos.

    Reivindicou uma educao de

    qualidade aos surdos atravs da

    educao bilngue.

    QUADRO 1 Histria dos surdos FONTE: Disponvel em: quadro adaptado de . Acesso em 24

    maio2014.

    2.2. Influncias histricas da Educao dos Surdos PS-Congresso de Milo (1880)

  • Durante o tempo que a Lngua de Sinais havia conquistado o seu espao na educao

    dos surdos iniciado no sculo XVIII, com grandes ganhos estava para acabar. Os surdos que

    haviam conseguido um lugar para desenvolver sua prpria identidade, devido ao convvio

    com iguais e a um sistema de ensino que lhes havia propiciado a forma real de acesso ao

    conhecimento, foram arrancados durante o Congresso Internacional de Educadores de

    Surdos, realizado em 1880 em Milo.

    Neste Congresso, os professores surdos foram excludos da votao, o oralismo

    venceu e o uso da Lngua de Sinais nas escolas foi oficialmente abolido, acarretando uma

    deteriorao marcante no aproveitamento educacional das crianas surdas e na sua instruo

    em geral.

    Aps a reunio no Congresso de Milo o oralismo puro invadiu a Europa. Isto

    ocorreu pela confluncia do nacionalismo, elitismo, comercialismo e orgulho familiar

    vigentes na poca. Existia tambm o desejo do educador ter controle total das salas e no se

    sujeitar a dividir o seu papel com um professor surdo que foram demitidos eliminando

    assim a sua presena nas escolas dos surdos. Era a forma de impedir que eles pudessem ter

    qualquer tipo de fora e de poderem se organizar para qualquer tipo de manifestao ou

    proposta que fosse contra o oralismo. O Congresso de Milo transformou, assim, a fala a

    nica forma de comunicao dos surdos para a finalidade da educao, aos poucos foram

    sendo substitudos aos poucos diante das pesquisas e experimentos de diferentes

    metodologias de ensino.

    No fim, foram fundamentados os trs modelos educacionais na educao de surdos e

    presentes em maior ou menor intensidade nas escolas para surdos que so o Oralismo, a

    Comunicao Total, a Incluso e o Bilinguismo.

    a) Oralismo

    Este mtodo foi difundido em 1880, durante o Congresso de Milo, considerado um

    grande e importante evento mundial sobre educao de surdos, entretanto a partir da os

    educadores de todos os pases passaram a adotar, o novo mtodo obrigatria e

    exclusivamente, o oralismo.

    A modalidade oralista baseia-se na crena de que a fala a nica forma desejvel de

    comunicao para o sujeito surdo, e a lngua de sinais deve ser evitada a todo custo porque

    atrapalha o desenvolvimento da fala, em algumas vezes os professores acorrentavam as

    mos dos alunos para que fosse impedida qualquer tentativa de sinalizao por eles.

  • Essa concepo de educao enquadra-se no modelo clnico, esta viso afirma a

    importncia da integrao dos sujeitos surdos na comunidade de ouvintes e que para isto

    possa ocorrer-se o sujeito surdo deve oralizar bem fazendo uma reabilitao de fala em

    direo normalidade exigida pela sociedade.

    Apesar de o mtodo tem demonstrado um resultado insatisfatrio, durou cerca de 100

    anos, e ainda hoje h quem defenda essa abordagem educativa.

    b) Comunicao Total

    Este mtodo da comunicao total surgiu em decorrncia dos questionamentos de

    alguns educadores na eficincia do oralismo, pois sabemos que apesar da proibio dos usos

    de sinais na sala de aula, os surdos ainda seguia comunicando-se assim nos intervalos das

    aulas, escondidos dos professores em seus grupos, onde criavam seu prprio sistema de

    sinais.

    Na dcada de 60 nos EUA, os pesquisadores comearam a investigar as Lngua de

    Sinais e a legitim-las como uma lngua prpria dos surdos, resultado assim o exmio do

    mtodo oralismo cedendo assim seu espao comunicao total, que prope fazer uso de

    todo e qualquer mtodo de comunicao (sinais naturais e artificiais, palavras, smbolos,

    mmicas...) para permitir que a criana surda pelo menos adquirisse uma linguagem.

    Essa metodologia resultou na criao de sistemas de sinais que acaba sempre

    seguindo a ordem da produo das palavras da lngua falada da comunidade ouvinte,

    produzida simultaneamente de forma artificial, provocando varias criticas por parte de

    alguns autores, dizendo que o maior problema a mistura de duas lnguas, a Lngua

    Portuguesa e a Lngua de Sinais resultando numa terceira modalidade que o portugus

    sinalizado, que encoraja o uso inadequado da lngua de sinais, j que a mesma tem

    gramtica diferente de lngua portuguesa.

    c) Incluso

    Atualmente, a educao dos surdos no Brasil se baseia numa nova proposta de ensino

    defendido pelo poder oficial disseminando a viso de que um ato de discriminao colocar

    os surdos, bem como qualquer outro tipo de deficiente, tristemente isolados em escolas

    especiais atribui-se que um atentado modernidade, ou ao avano tecnolgico, ainda se

    desejar manter grupos isolados. Defendendo se a idia de que colocar os deficientes

    junto s pessoas normais um sinal de grande avano impulsionado pela solidariedade.

    Criando assim um novo mtodo para a educao dos surdos a incluso.

    AugustaVidigalRealce

    AugustaVidigalRealce

  • O governo acredita que o aluno surdo deve frequentar o sistema regular de ensino,

    porque um cidado com os mesmos direitos que qualquer outro, esta viso se deve ao fato

    de que o aluno surdo necessitar de um modelo orientador da Lngua Portuguesa, de ficar

    exposto ao modelo lingustico nacional, pois no ambiente dos ouvintes que ele viver

    sempre. A aprendizagem de uma lngua efetiva-se realmente quando algum tem o contato

    direto com os falantes dessa lngua.

    Mas ao tentar incluir os surdos em salas de aula regulares, involuntariamente,

    invibializa o desejo dos surdos de construir saberes, identidades e culturas a partir das duas

    lnguas (a de sinais e a lngua oficial do pas) e impossibilita a consolidao lingstica dos

    alunos surdos. No se trata de apenas aceitar a lngua de sinais, mas de viabiliz-la, pois

    todo trabalho pedaggico que considere o desenvolvimento cognitivo tem que considerar a

    aquisio de uma primeira lngua natural (este o eixo fundamental do bilingismo, na

    qual os defendemos).

    Por mais que o professor se esforce, capacitando com os cursos de Libras e outros,

    durante a sua regncia de algumas atividades o aluno surdo acaba sendo prejudicado como

    em uma leitura oral de um texto, ou, por exemplo, nas conversas, dilogos e debates em sala

    de aula, onde se v pouca participao dos mesmos nas atividades propostas pelos

    professores.

    O governo minimiza esta falta de recurso adequado aos surdos exigindo a presena

    de um interprete de Libras em sala de aula, mas nem sempre a soluo, pois a grande

    maioria de interprete no tem uma formao necessria, alm da grande diferena entre

    Libras e lngua oral.

    d) Bilinguismo

    Sendo ele visto como uma proposta de ensino usada por escolas que se sugerem

    acessar aos sujeitos surdos duas lnguas no contexto escolar. As pesquisas tm mostrado que

    essa proposta a mais adequada para o ensino de crianas surdas, tendo em vista que

    considera a lngua de sinais como primeira lngua e a partir da se passam para o ensino da

    segunda lngua que o portugus que pode ser na modalidade escrita ou oral.

    A proposta bilngue traz uma grande contribuio para o desenvolvimento da criana

    surda, reconhecendo a lngua de sinais como primeira lngua e mediadora da segunda: a

    lngua portuguesa. O bilinguismo favorece o desenvolvimento cognitivo e a ampliao do

    vocabulrio da criana surda. A aquisio da lngua de sinais vai permitir criana

    surda, acessar os conceitos da sua comunidade, e passar a utiliz-los como seus, formando

  • uma maneira de pensar, de agir e de ver o mundo. J a lngua portuguesa, possibilitar o

    fortalecimento das estruturas lingusticas, permitindo acesso maior comunicao.

    A sua abordagem busca remover a FALA e concentrar-se nos sinais da Lngua de

    Sinais, incentivando assim melhor domnio por parte das crianas na Lngua de Sinais, para

    isso prope expor as crianas surdas em contato com pessoas fluentes na Lngua de Sinais

    desde cedo, sejam seus pais, professores ou outros.

    Esta nova proposta est sendo debatida atualmente entre a comunidade surda com os

    governantes atravs de movimentos surdos que reivindica que seja adotado na educao dos

    surdos o modelo da educao bilngue que foi sancionada pelo decreto 5626/2005

    argumentando que o mesmo no est sendo cumprido.

    3. Concluso

    Ao propor uma discusso de mudanas na educao de surdos, preciso que antes o

    mesmo seja coletado, estudado e investigado a fim de entender os fatores histricos que a

    educao dos surdos foi construda diante das vises que a sociedade tinha dos surdos, as

    rupturas que evidenciam as interferncias das relaes de poder com a poltica educacional.

    Para que a atual situao da educao dos surdos seja mais bem compreendida nas

    suas razes histricas e polticas a fim de oportunizar as possibilidade de propor as mudanas

    diante das decises derivadas dessa anlise a fim de contribuir para uma melhor mudana da

    realidade educacional, se faz necessrio discutir, largamente, sobre o lugar que ocupam na

    educao dos surdos, as transformaes sociais de cada momento histrico e a lgica da

    ideologia dominante.

    A pesquisa e a reflexo a partir da perspectiva que foram apresentados os trs fatos

    determinantes para educao dos surdos, a saber: Retrospectiva Histrica da Educao dos

    Surdos que tem a sua vivencia a criao da primeira escola pblica que enfim reconhece os

    surdos como um ser capaz com seus valores, hbitos e culturais prprios que se utiliza da

    lngua de sinais para se comunicarem dando a eles uma ampla participao enquanto

    cidado; a contribuio das pessoas na construo de sua educao e o seu papel para com a

    educao; enfim as influncias que os mesmos tiveram no Ps-Congresso de Milo que

    trouxe das subjacncias as atuais discusses das concepes da surdez e dos surdos pelo

    ouvinte e suas consequncias na organizao poltica, social e educacional para a

    comunidade surda provocando as mudanas educacionais dos surdos at os dias atuais.

  • Sabemos que a discusso de uma transformao na educao dos surdos debatidos

    entre os governantes e educadores est basicamente centrados nas mudanas estruturais e

    metodolgicas da escolarizao vigente e na dificuldade de o mesmo adequar e ser

    compatvel com a proposta da incluso/excluso, entre outras coisas, a se propor uma escola

    que possa adaptar e acolher a todos de acordo com as suas diferenas e especificidade com

    qualidade. No entanto, o que torna se emergente so as mudanas de concepo do sujeito

    surdo, as descries em torno da sua lngua, as definies sobre polticas educacionais, a

    anlise das relaes de poder entre surdos e ouvintes (SKLIAR, 1997).

    Entre as suas principais contribuies que podem gerar essas transformaes, que

    seja expandida entre os educadores o aprofundamento terico acerca das concepes sociais,

    culturais e antropolgica da surdez e do surdo, e principalmente, o reconhecimento da

    diferena no da deficincia como mais um exemplo da diferena humana, para

    construo da cidadania e, consequentemente, de um verdadeiro processo educativo da

    difuso de informao e conhecimento acerca dos sujeitos surdos e da Libras, mais

    especificamente na divulgao da proposta de uma educao bilngue que a comunidade

    surda o querem como um novo modelo educacional dos surdos de hoje.

    Enfim, entende se que ao oferecer uma boa educao aos alunos surdos no basta

    somente incluir os e sim que toda a organizao esteja de acordo desde o seu espao fsico,

    os seus profissionais e seus aspectos pedaggicos com os contedos trabalhados estejam

    adaptados, adequados e preparados para ser utilizados diante das adversidades devido ao

    fato de os mesmos utilizarem a Libras como a principal base de instruo.

    4. Referncias Bibliogrficas

    BRASIL. Presidncia da Repblica. Decreto n 5.626, de 2005. Regulamenta a Lei n

    10.436, de 24 de abril de 2002, que dispe sobre a Lngua Brasileira de Sinais-Libras, e o

    art.18 da Lei n 10.098, de dezembro de 2000. Disponvel em:

    .Acesso em

    10 de mar. 2013.

    FARIA, S. A metfora na LSB e a construo dos sentidos no desenvolvimento da

    competncia comunicativa de alunos surdos. Dissertao de Mestrado. Braslia: UnB,

    2003.

    LACERDA, C.B.F. de Um pouco da histria das diferentes abordagens na educao dos

    surdos. Cadernos CEDES, v. 19, n.46, p.68-80, set. 1998.

  • SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Cia das

    Letras, 1998.

    SNCHEZ, C. M. La increible y triste histori de la sordera . Caracas: Editorial

    Ceprosord, 1990.

    SKLIAR, C. La educacin de los sordos: una reconstruccion histrica, cognitiva y

    pedaggica. Mendona: EDIUNC, 1997.

    SKLIAR, C. Os estudos surdos em educao: problematizando a normalidade. In: ___ org.

    A surdez: um olhar sobre as diferenas. Porto Alegre, Mediao, 1998.

    SOARES, M. A. L. A educao do surdo no Brasil. Campinas: Autores

    Associados/Bragana Paulista, 1999.