Artigo UOL Classe C

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Artigo produzido peara a revista Poder Digital, edição exclusiva impressa e dristribuída somente na Grande São Paulo como encarte da Folha de São Paulo, por ocasião da entrega do Top of Mind 2011 e pelos quinze anos de aniversário do UOL.

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E A CLASSE C SEGUE CONECTADA DO LADO DE FORA DO BRASIL

A classe C começa a participar de uma conversação digital e a grande pergunta é, quem vai conversar com esse público?

Se alguém não conversa com o porteiro do seu prédio sobre a vida dele e suas opiniões a respeito do mundo, mesmo quando o encontra pessoalmente todos os dias, porque conversaria com ele pelo Facebook ou Twitter? A classe C começa a participar de uma conversação digital mas quem quer saber o que eles sentem, como pensam ou quais são os seus sonhos? É mais simples imaginá-los como pessoas que cultivam apenas desejos de consumo, buscando acesso digital aos produtos e serviços de nosso tempo.

Entre 2005 e 2007, uma conjuntura de estabilidade financeira, aumento do crédito aos menos favorecidos e crescimento nos empregos com carteira assinada fez com que 19,5 milhões de brasileiros entrassem na classe C, tornado-a a maior do Brasil, segundo estudo divulgado pela Cetelem, realizado em parceria com a Ipsos.

Conforme análise da Fundação Getulio Vargas, a chamada “Classe Média brasileira” já engloba 53,8% da população (estimados em cerca de 99 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE)

Beneficiada por estabilidade financeira e inclusão digital, esta classe C ganha poder de consumo e passa a ser atendida pelos serviços digitais, utilizando computadores e telefonia celular, acessando email, redes sociais e comércio eletrônico.

A questão sobre de que modo os meios digitais vem afetando o cotidiano da classe C, e consequentemente, transformando a relação destas pessoas com o público das outras classes sociais é bem interessante, e pode ser tratada em duas dimensões: a comunicação entre indivíduos e da mídia com os indivíduos.

A comunicação entre os indivíduos da classe C está se ampliando com os meios digitais. Antes restritos aos seus bairros, afastados dos centros comerciais, morando a quilômetros de distância das zonas nobres da cidade, nos grotões onde o aluguel é bem barato, a classe C não tinha muita escolha na hora de se relacionar, estavam geograficamente restritos ao alcance de um passe de ônibus, trem ou metro.

Um estudo do NIC.br aponta as LAN houses como o principal ponto de acesso à internet no País. Além disso o Brasil já contabiliza mais de um telefone celular por habitante. Com isso milhões de pessoas agora podem entrar em redes sociais, conversar por SMS e manter relacionamentos nutridos por comunicação digital à distância, isto é muito novo na vida pessoal e profissional da classe C.

Antes viviam condenados à passividade gratuita diante de televisão, assistindo entretenimento medíocre sob o patrocínio de grandes marcas, e assim não lhes restava nada mais além de imitar gírias das novelas, cantar músicas empurradas pelas gravadoras e concordar com a opinião rasa dos telejornais. Agora esta classe C pode ter acesso às mesmas fontes de conteúdo e informação que todos nós, desde que alguém lhes dê a pista acerca do que procurar.

Então aí temos um ponto muito importante. O acesso aos meios digitais não garante o acesso aos múltiplos conteúdos que a internet oferece. Eu me mantenho informado seguindo duzentas pessoas em meu twitter, e mais de quinhentas no Facebook, além de algumas dúzias de blogs interessantes e portais temáticos. A cada semana eu incluo pessoas em minha rede e tenho mais acesso a novas informações interessantes, ou seja, minha rede me traz o mundo. É verdade que isto tudo chega até mim pelos meios digitais mas, sem minha rede de amigos não haveria novidade, ou pelo menos seriam poucas e raras.

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A internet pluralista, livre e farta de conhecimento só existe como uma rede de conversação entre humanos, sustentada por meios digitais de diálogo como redes sociais e chats, e nutrida por repositórios de conteúdo, como blogs, artigos e wikipedia.

A classe A e B tem um perfil cultural diferente da classe C. Os pais e avós da classe A e B tiveram acesso à formação escolar, por exemplo, enquanto a classe C, iletrada e funcionalmente analfabeta, se sacrifica trabalhando para tentar estudar seus filhos.

Como podemos conversar sobre automóveis, se a classe C mal consegue manter seu transporte de ônibus? Como falar de culinária se a classe C compra quase que exclusivamente os itens da cesta básica? Talvez turismo, moda ou cinema pudessem ser bons assuntos em comum, se a classe C tivesse algum tipo de acesso a qualquer uma destas coisas. Namorar então? Um bom flerte e um programinha no fim de semana entre jovens da classe A e C que se conheceram na internet? Estatisticamente improvável, creio.

O abismo social no Brasil está posto, e não sera o simples acesso à internet que vai reduzir essa distância, não a curto prazo. A verdadeira inclusão sócio-digital tem a ver com o encontro das classes, com a miscigenação conversacional que pode surgir do encontro entre pessoas dispostas, ou pelo menos curiosas, em compartilhar suas visões de mundo.

Vejo um enorme interesse da classe C em participar ativamente da grande festa econômica que começa em nosso país mas pergunto, quem da classe A e B está pronto para dar as boas vindas à toda essa gente?

Sem dúvida as empresas tem grande interesse em recebê-los, como consumidores, e farão de tudo para aprender a cativar este público para que comprem mais, mas isto é bem diferente de incluir novos cidadão em um projeto de país. A classe C é muito querida nas filas de crédito das grandes lojas, mas não no sofá da sala de estar da residência da classe A e B, pelo menos não neste momento.

Em contrapartida abre-se um horizonte infinito para os membros da classe C se aproximarem, se conhecerem e estabelecerem novas relações independente do bairro em que vivem ou do local onde trabalham. A internet traz a capacidade de ampliarmos nossa localidade até o alcance de nosso idioma, ou seja, de nosso lugar alcançar até onde houver um outro que fale a nossa língua.

Mesmo sem sair da lan house, ou acessando o Facebook enquanto viaja no trem suburbano, o indivíduo classe C poderá estar ao lado de alguém de outro bairro, cidade ou país, conversando digitalmente. Isso não é pouco para uma grupo social que vivia sérias restrições geográficas. Além disso o acesso aos repositórios de informação na web dará vazão à curiosidade de conhecer o mundo, antes tão reprimida pela impossibilidade de acesso aos livros, filmes e publicações em geral.

A classe C começa a experimentar uma revolução estética na medida que músicas, imagens e filmes passam a ser baixados com frequência e variedade. Infelizmente estes não serão os objetos de conhecimento mais cobiçados por este público, mas estarão disponíveis com um clique e isto já é potencialmente transformador.

O CENÁRIO DIGITAL PARA A CLASSE C NOS PRÓXIMOS ANOS

O universo digital está afetando cada vez mais o processo de seleção, produção e divulgação das informações através da mídia. Os programas de televisão estão incrementando a interatividade com a internet e o celular. As revistas e jornais experimentam novos formatos comerciais para garantir uma posição no mercado mesmo que o papel deixe de ser a mídia do futuro. As agências de publicidade ousam cada vez mais para seguir atingindo seus públicos pelos meios digitais.

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No centro dessa movimentação toda está a classe C, com seu poder de compra aumentado e refém de uma máquina de venda de produtos e serviços que vai fazer de tudo para abatê-la como alvo de suas promoções e vendas. Os dispositivos móveis e o acesso à internet deverá ser a primeira grande onda de ofertas para a classe C.

O acesso deste público vai remodelar principalmente o desenho de distribuição dos produtos e a automação da prestação dos serviços. A classe C poderá comprar um número maior de itens de consumo com preços reduzidos pela escala ampliada de produção, mas não terão acesso ao atendimento personalizado, que será cada vez mais caro.

A classe C não poderá ser servida por humanos, apenas atendida por máquinas. Vejos hoje esta tendência em redes de fast-food onde os alimentos são aceitáveis, o ambiente é limpo e iluminado, a programação visual é competente mas o serviço é péssimo. Poucos atendentes, mal treinados e nitidamente mal remunerados, prontos para trocar de emprego a qualquer momento.

Se a loja soubesse qual o pedido mais provável do cliente assim que ele chega, ou previsse que um grupo de amigos vai se reunir ali no dia do aniversário de um deles, poderia reduzir custos e aumentar a qualidade do atendimento. Só há um meio de buscar estas informações, acompanhando o perfil de consumo e atitude dos clientes nas redes sociais, por exemplo.

As redes sociais serão um grande banco de dados comportamental onde as empresas irão garimpar clientes de acordo com algoritmos e estatísticas cada vez mais sofisticadas e eficazes.

As formas de pagamento serão ampliadas para os dispositivos móveis. A linguagem de comunicação vai se simplificar para se adequar ao repertório de um público ainda iletrado. Tudo será feito para que a classe C consuma sem que seja preciso agregar mão de obra humana para atendê-la.

A automação dos serviços será uma tendência amplificada pelas mídias digitais. Fazer a compra de alimentos para casa pelo celular, o que até algum tempo seria uma comodidade para a classe A, passará a ser uma necessidade para a automação de processos de atendimento da classe C. Para os consumidores a personalização será um privilégio e o acesso massificado será um direito.

CRIANDO PONTES SOCIAIS ATRAVÉS DAS CONEXÕES DIGITAIS

Como o abismo conversacional pode começar a ser reduzido pela internet? Através de uma legítima curiosidade sócio-cultural. As matrizes culturais Brasileiras nos trazem um colorido étnico-cultural único em relação ao resto do planeta. Temos aqui m caldeirão de povos fervendo numa ebulição relacional a quinhentos anos. Brancos e mamelucos, procriando. Cafusos e negros, copulando. Europeus que chegaram depois, se apaixonando por mulatas, se casando com japonesas. Libaneses mestiçando com caboclos.

Isto tem gerado uma profusão de expressões culturais que, apesar da força da comunicação de massa insistentemente distribuída pela mídia broadcasting, resistiram bravamente de um modo ou de outro, e persistem conservadas em festas populares locais, artistas regionais, músicos típicos e cantores. Todo esse fluxo cultural, associado à cultura do remix deverá explodir em uma infinidade de novos fluxos culturais, em uma linguagem aparentemente inacessível para as classe pribilegiadas.

Quem está perguntando pela classe C? As empresas, os especialistas em marketing e consumo, os designers de produto? Monitorar seus hábitos, rastrear suas decisões de compra, tabular e analisar seus comportamentos, isso é algo que pode parecer interessante para a classe que domina a produção de bens e o mercado. Mas, aprender a dançar como eles dançam, quem se dispõe? Se não temos um diálogo não temos uma rede. Se tivermos a rede, teremos este diálogo?

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========================================================== (TEXTO PARA UM BOX)UMA ETIQUETA DE CONSUMO PARA INDIVÍDUOS

Para começar vamos entender que tipo de classificação é esta que divide os cidadãos brasileiros em classes ABCDE. São categorias segundo padrões ou potenciais de consumo. Esse critério cria uma escala ou classificação socioeconômica por intermédio da atribuição de pesos a um conjunto de itens de conforto doméstico, além do nível de escolaridade do chefe de família. Foi desenvolvido pela Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado, foi revisada pela Marplan Brasil e LPM/Burke, e passou a denominar-se simplesmente “critério Abipeme”.

Alguns dos itens de conforto no lar (aparelho de videocassete, máquina de lavar roupa, geladeira com ou sem freezer acoplado e aspirador de pó) recebem uma pontuação independentemente da quantidade possuída; outros (automóvel. TV em cores, banheiro, empregada mensalista e rádio) recebem pontuações crescentes dependendo do número de unidades possuídas. Da mesma forma, a instrução do chefe da família recebe uma pontuação segundo o grau de escolaridade. As pesquisas a partir desses critérios podem ser refinadas por ao sexo, idade, escolaridade, renda individual e localização geográfica.

A assim chamada classe C brasileira é apenas o resultado do agrupamento de um conjunto de indivíduos a partir de uma conjunto de critérios socioeconômicos externos. Não é uma classificação comportamental, psicológica ou antropológica, por exemplo. Justamente por isso pode ser medida através de respostas em um formulário de pesquisa aplicado a um grupo pequeno de pessoas considerado, por amostragem, representativo do grupo todo.

A pesquisa mais recente sobre a classe C do Brasil, por exemplo, é conhecida por "Estudo +100" e foi desenvolvida em 2010 pala Nova S/B e o Ibope Inteligência, abrangendo sobre o comportamento de consumo da classe C, uma camada da população que hoje representa aproximadamente 100 milhões de pessoas.