Artigo Uso Dos Pronomes Na Escrita e Na Fala

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139 Uso de pronomes pessoais dos casos reto e oblíquo Uma articulação em usos orais e escritos Bárbara Cristina Damaceno Refosco * Resumo: este estudo tem por objetivo expor uma análise relativa ao uso de pronomes pessoais dos casos reto e oblíquo sob a ótica de Ulisses Infante e José de Nicola, bem como traçar um paralelo entre seu uso na oralidade e na escrita em um texto infantil e, por último, verificar como estes pronomes estão sendo estudados nos livros didáticos que nossos alunos estão utilizando nas escolas, atualmente. Palavras-chave: pronomes, enunciador, objeto, escrita, norma culta. Abstract: This study aims at presenting an analysis on the use of subject and object personal pronouns cases from the perspective of Ulisses Infante and Jose de Nicola, and draw a parallel between its use in oral and written on a child text, and finally, check how these pronouns are being studied in the text books that our students are using in schools today. Keywords: pronouns, speaker, object, writing, cultural norms. Introdução Existem inúmeras variações da Língua Portuguesa, algumas com diferenças gritantes. Contudo, a língua escrita é, em geral, a mesma em todas as variações, e, até certo ponto, especialmente diferente da língua falada em cada região. De um modo geral, os pronomes pessoais, tema explanado neste estudo, desempenham duas função básicas: a de substituidor do enunciador, no caso reto, e a de complemento verbal, no caso oblíquo. O que se propõe estudar aqui são as relações estabelecidas pelos pronomes pessoais, tanto do caso reto quanto do caso oblíquo, dentro de um texto, seja ele escrito ou falado, e como estas relações estão descritas dentro de uma gramática e de um livro didático destinado ao Ensino Fundamental. Começaremos com a descrição e prescrição dos pronomes na gramática de Ulisses Infante e José de Nicola. * Acadêmica do curso de Letras da FACOS, disciplina de Morfossintaxe II.

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Uso de pronomes pessoais dos casos reto e oblíquo Uma articulação em usos orais e escritos

Bárbara Cristina Damaceno Refosco*

Resumo: este estudo tem por objetivo expor uma análise relativa ao uso de pronomes pessoais dos casos reto e oblíquo sob a ótica de Ulisses Infante e José de Nicola, bem como traçar um paralelo entre seu uso na oralidade e na escrita em um texto infantil e, por último, verificar como estes pronomes estão sendo estudados nos livros didáticos que nossos alunos estão utilizando nas escolas, atualmente. Palavras-chave: pronomes, enunciador, objeto, escrita, norma culta.

Abstract: This study aims at presenting an analysis on the use of subject and object personal pronouns cases from the perspective of Ulisses Infante and Jose de Nicola, and draw a parallel between its use in oral and written on a child text, and finally, check how these pronouns are being studied in the text books that our students are using in schools today. Keywords: pronouns, speaker, object, writing, cultural norms.

Introdução

Existem inúmeras variações da Língua Portuguesa, algumas com diferenças

gritantes. Contudo, a língua escrita é, em geral, a mesma em todas as

variações, e, até certo ponto, especialmente diferente da língua falada em

cada região. De um modo geral, os pronomes pessoais, tema explanado

neste estudo, desempenham duas função básicas: a de substituidor do

enunciador, no caso reto, e a de complemento verbal, no caso oblíquo.

O que se propõe estudar aqui são as relações estabelecidas pelos pronomes pessoais, tanto do caso reto quanto do caso oblíquo, dentro de um texto, seja ele escrito ou falado, e como estas relações estão descritas dentro de uma gramática e de um livro didático destinado ao Ensino Fundamental. Começaremos com a descrição e prescrição dos pronomes na gramática de Ulisses Infante e José de Nicola.

* Acadêmica do curso de Letras da FACOS, disciplina de Morfossintaxe II.

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Os pronomes segundo Ulisses Infante e José de Nicola

Segundo os autores, “pronome pessoal é aquele que indica as pessoas do

discurso” (1997:198). Pode ser flexionado em gênero (masculino ou

feminino), número (singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda ou

terceira), e também variar sua forma, conforme a função que exerce dentro

da oração.

O pronome pessoal pode ser reto, quando exerce a função de sujeito, ou

oblíquo, quando exerce a função de complemento. No exemplo “Eu vou na

esquina de lá, senão ele escapa outra vez”, os pronomes pessoais retos eu

e ele estão substituindo os sujeitos das respectivas orações, sendo que eu

indica a primeira pessoa do discurso (quem fala) e ele, a terceira (de quem

se fala). Já no exemplo “Mamãe comeu tanto peru que um momento

imaginei, aquilo podia lhe fazer mal”, o pronome pessoal oblíquo lhe

também indica a terceira pessoa do discurso (poderia fazer mal a quem? A

ela, a mãe), contudo, como complemento do verbo. Exerce a função de

objeto indireto.

Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos, dependendo

da acentuação. Os pronomes oblíquos átonos nunca são precedidos de

preposição, enquanto que os tônicos, sempre são precedidos de preposição.

Observa-se isso nas frases “Um dia ele me surpreendeu lendo um livro” (me

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– pronome pessoal oblíquo átono) e “Frederico Paciência ainda riu pra mim,

não pude rir” (mim – pronome pessoal oblíquo tônico).

“Os pronomes pessoais ele, ela, nós, vós, eles, elas, quando precedidos de preposição, são oblíquos tônicos. Exercem a função de complemento (lembramos que o sujeito nunca vem precedido de preposição): 'E heróico, embora sempre horrorizado, passei o livro a ele'.”. (INFANTE & NICOLA, 1997:199)

Observe a sentença “Empresta teu caderno para mim estudar?”. É comum

ouvirmos, e mesmo usarmos, este tipo de interrogação. No entanto,

teoricamente, é o mesmo que dizer “Mim não estuda”. Está incorreta. Pela

Gramática, a função de sujeito é exercida pelo pronome pessoal reto. Na

frase acima, mim está exercendo a função de sujeito do verbo estudar.

“Mim” é um pronome oblíquo, e pronomes oblíquos não podem exercer a

função de sujeito. Dessa forma, a estrutura correta é “Empresta teu caderno

para eu estudar?”.

“Mas o que nos leva a usar o pronome oblíquo tônico mim? É que a teoria afirma que os pronomes retos nunca são precedidos de preposição; como temos um para na construção acima, deveríamos usar um pronome oblíquo tônico. Não fosse um pequeno detalhe: a preposição para não está regendo o pronome, e sim o verbo...” (INFANTE & NICOLA, 1997:199)

Dessa forma, os pronomes pessoais são divididos em

Pronomes pessoais

Número Pessoa Pronomes retos Pronomes oblíquos Átonos Tônicos

Singular Primeira Segunda Terceira

Eu tu ele, ela

Me mim, comigo Te ti, contigo o, a, lhe, se ele, ela, si, consigo

Plural Primeira Segunda Terceira

Nós Vós Eles, elas

Nos nós, conosco Vos vós, convosco os, as, lhes, se eles, elas, si consigo

Os pronomes pessoais, além de flexionarem-se em gênero, número e

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pessoa, também possuem a flexão de caso: caso reto e caso oblíquo. Mais

do que isso: esta flexão está diretamente relacionada à função que cada

pronome exerce. O pronome pessoal do caso reto exerce a função de

sujeito (por isso, recebe também o nome de pronome subjetivo) e o do caso

oblíquo, de objeto direto ou indireto (por isso, também é chamado de

pronome objetivo).

Além disso, quando a ação do sujeito recai sobre ele mesmo, utilizamos um

pronome reflexivo. Isso ocorre quando a voz do verbo não é ativa nem

passiva, é reflexiva: “O povo se organizou”. O sujeito povo organizou a si

mesmo. O pronome se indica que o verbo está na voz reflexiva, por isso

recebe o nome de pronome reflexivo. Os pronomes pessoais oblíquos se, si

e consigo exercem, exclusivamente, esta função de complemento verbal.

Isso significa que só devem ser usados quando o sujeito da terceira

relaciona-se com um elemento também da terceira pessoa.

“Em outras palavras, si e consigo não devem ser utilizados em frases como 'Gosto muito de si' ou 'Sairei consigo'. Nesses casos, deve usar a forma você (Gosto muito de você/Sairei com você) ou mudar o tratamento para a segunda pessoa (Gosto muito de ti/Sairei contigo)”. (INFANTE & NICOLA, 1997:200)

Mais abaixo, observamos como as questões levantadas acima estão sendo

aplicadas em texto e fala.

Uso dos pronomes em texto e fala

Dentro do texto “Os burros espertos”, de autor desconhecido, encontramos

casos em que os pronomes pessoais do caso reto poderiam ter sido usados

como substitutos do sujeito, porém o enunciador aparece de forma elíptica,

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ou seja, subentendido através do verbo. Como o texto está sendo narrado

por um observador, os verbos encontram-se em terceira pessoa. Como

veremos nas sentenças abaixo, o pronome poderia estar substituindo um

termo já citado anteriormente, contudo, não há necessidade de repeti-lo na

oração:

“Um lavrador tinha dois burros. Para que não fugissem...” - neste

caso, “fugissem” refere-se aos burros. Para não ter que repetir o mesmo

termo, o autor poderia ter usado o pronome “eles” em referência aos

“burros”, porém ele optou por deixar o enunciador elíptico dentro da oração,

ou seja, “não aparece”.

Outra forma de uso do pronome pessoal do caso reto poderia ser

encontrada na primeira oração do texto: “Dizem que os burros são tolos.” -

aqui, encontramos um enunciador também elíptico. O que ocorre é que não

se define o sujeito desta oração, ou seja, não se sabe “quem diz”. Dessa

forma, o autor opta por deixar o sujeito indeterminado, fazendo com que o

enunciador fique “escondido” na frase. Mais uma vez o autor optou por usar

um enunciador elíptico, não o pronome.

Quando o sujeito está oculto, ou seja, “sabemos quem ele é” mas ele “não

aparece”, o enunciador também encontra-se em elipse: “Mas não devemos

acreditar totalmente nisso”. - o narrador inclui-se e inclui o leitor na ação. No

entanto, por falta de necessidade, optou-se por deixar o enunciador elíptico,

já que o verbo sozinho dá a ideia do sujeito. Contudo, aqui também poderia

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aparecer um pronome: “Mas nós não devemos acreditar totalmente nisso”.

Alguns autores afirmam que, nos casos citados acima, o que está elíptico é

o pronome, contudo, a maioria afirma que é o enunciador que aparece em

elipse. De qualquer forma, é em “Por fim, disse um deles” que o pronome

exerce a função de substituto do enunciador, sem elipse, em referência,

novamente, aos burros do título. Aqui, não há nada que indique o sujeito a

não ser o próprio pronome. Escrever “Por fim, disse:” não dá nenhuma ideia

de enunciador. Aqui, o pronome é necessário e, por isso mesmo, o

enunciador não pode ser elíptico. A presença do sujeito é essencial.

Quando analisamos o mesmo texto sendo contado em sala de aula,

percebemos que o enunciador raramente aparece em elipse. É mais comum

citarmos o sujeito enquanto falamos, e geralmente usamos os pronomes no

lugar dos enunciadores. Dessa forma, as sentenças citadas acima podem

ser ditas como “Um lavrador tinha dois burros. Para que eles não

fugissem...” (acrescentando o pronome eles em referência aos burros), “As

pessoas dizem que os burros são tolos” (especificando o sujeito, sem uso do

pronome) e “Mas a gente não deve acreditar totalmente nisso” (utilizando a

gente, um novo substituidor que vem sendo utilizado no lugar de nós).

As sentenças acima colocam o pronome como substituto do enunciador em

sintagmas nominais. Além desta função, o pronome pessoal do caso reto da

terceira pessoa também pode ser usado obliquamente, ou seja, como objeto

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direto ou indireto, em alguns casos. Pela norma culta, o objeto direto é

formado pelo pronome pessoal do caso oblíquo. Observe:

“Ambos poderíamos comer dele” - aqui, temos um exemplo de objeto

indireto formado por um pronome pessoal do caso reto. Isso ocorre porque o

pronome “ele” junto com a preposição “de” estão substituindo algo já citado

anteriormente (no caso, montes de feno), ou seja, o pronome está

substituindo um termo da oração. Em outro exemplo, - “Os dois tentaram

chegar até eles (os montes de feno)”, o pronome também exerce a função

de objeto indireto. O que acontece nestas sentenças é que o pronome está

substituindo um termo ao mesmo tempo em que complementa o sentido do

verbo. O termo substituído é “montes de feno”. Na primeira sentença,

“Ambos poderíamos comer deles”, a explicação para o uso do pronome reto

no lugar oblíquo seria que os burros queriam comer o que estava no monte

de feno, não o monte em si. Neste caso, poderia ter sido usado “Ambos

poderíamos comê-los”, mas, neste caso, mudaria-se o sentido da frase, por

isso opta-se pelo pronome reto. Na segunda sentença, “Os dois tentaram

chegar até eles”, também não há nenhum pronome oblíquo que

complemente o verbo sem mudar o sentido da frase. Imagine “Os dois

tentaram chegá-los”! Não há sentido. É o pronome reto que complementa o

verbo com o sentido desejado.

Nas sentenças “...resolveu amarrá-los em uma só corda...” e “A corda que

nos une é muito curta...”, encontramos o pronome pessoal do caso oblíquo

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como parte do objeto direto. Na primeira sentença, o pronome “os” está

complementando o sentido do verbo e substituindo um termo da oração, os

burros. Este pronome sofre uma modificação com o acréscimo da letra “l”

por “amarrar” ser um verbo no infinitivo, portanto terminado em “r”. Assim, o

“r” é retirado e acrescenta-se “l” antes do pronome “os”. Na segunda

sentença, “nos” também completa o sentido do verbo e apresenta-se em

próclise, ou seja, antes do verbo, graças ao pronome relativo “que”. O que

percebemos, ao falar, é que temos o costume de substituir o pronome do

caso oblíquo pelo do caso reto: “...resolveu amarrar eles em uma só corda...”

e “A corda que une a gente é muito curta”. Neste último caso, ainda

encontramos uma nova forma de substituidor que vem substituindo o

pronome “nós”: “a gente”.

Em outro exemplo de uso do pronome pessoal do caso oblíquo,

encontramos um pronome reflexivo: “...banquetearam-se ambos...” - neste

caso, o pronome tem como função, além de complementar o sentido do

verbo, indicar uma ação cometida e sofrida pelo sujeito, isto é, a oração

encontra-se na voz reflexiva. O pronome encontra-se em ênclise, ou seja,

aparece depois do verbo, pois não há nenhum termo “puxando” o pronome

e, nestes casos, o usual pela norma culta é usar o pronome depois do verbo.

Na língua oral, é comum usar o pronome em próclise, ou seja, antes do

verbo: “...ambos se banquetearam...”.

Nesta última sentença, - “Assim o fizeram...” - o pronome pessoal do caso

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oblíquo está sendo usado como objeto direto de uma outra forma: em

próclise. É menos comum, pois a regra diz que, se não há nenhum termo

que “puxe” o pronome, como na sentença citada, ele deve estar em ênclise.

O mais aceitável pela Norma Culta seria “Assim fizeram-no”. A mesma

sentença ainda pode ser dita de outra forma, na língua oral, utilizando o

caso reto: “Eles fizeram assim”.

Como podemos perceber, existem algumas formas de usar os pronomes

pessoais, tanto do caso reto quanto do caso oblíquo, dependendo dos

verbos a que se referem e do tipo de texto onde estão. Na escrita, os

pronomes pessoais do caso reto substituem o enunciador (sujeito) no

sintagma nominal, enquanto que os pronomes pessoais do caso oblíquo

complementam o verbo, ou seja, assumem a função de objeto no sintagma

verbal. É regra para produção escrita. Na próxima análise, observaremos

como as relações estudadas aqui são descritas nos livros didáticos a que

nossos alunos estão tendo acesso.

Os pronomes em Livros Didáticos

Tomando-se por observação o livro Português linguagens, de William

Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, da Atual Editora e destinado à

6ª série do Ensino Fundamental, deparamo-nos com um material bastante

completo para ser trabalhado como base em sala de aula. Lembrando: base.

O livro didático não deve nem pode ser o único recurso pedagógico do

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professor.

Os autores iniciam sua explanação sore pronomes pessoais na página 161

com o texto “Eu tenho a sorte – só não crê quem não quer”. Trata-se de um

texto jornalístico publicado em abril de 2004 na revista Ciência Maluca –

Superinteressante, sobre amuletos da sorte.

São destacadas duas frases do texto: “que eles não aumentam a chance de

ganhar nada” e “de quem os carrega”. A partir destas, surgem alguns

questionamentos que podem ser usados para instigar o aluno. Desta forma

são feitas perguntas em relação à classe gramatical das palavras

destacadas, sujeito e predicado de ambas as orações, bem como uma

interpretação do texto. Uma sugestão, neste caso, não citada no livro, é, em

vez de responder as questões no caderno, discuti-las oralmente. Isto fará

com que os alunos comecem a tomar conhecimento do conteúdo sem uma

cobrança maior.

Logo após, os autores conceituam os pronomes. Contudo, deve-se observar

que, nesta conceituação, apesar de bem elaborada e completa, não há

nenhuma referência ao texto anterior. Primeiramente, definem a função dos

pronomes pessoais retos de sujeito e a dos pronomes pessoais oblíquos, de

objeto. No entanto, o exemplo dado ficou um pouco solto, fora de contexto:

O ator colocou (VTD) a máscara (OD) no rosto. O ator colocou-a no rosto.

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Aqui, não foi mencionado que o objeto direto só poderia ser substituído pelo

pronome se já tivesse sido citado anteriormente, o que não acontece no

exemplo.

Logo após, os autores especificam as funções dos pronomes pessoais

oblíquos: “Os pronomes pessoais oblíquos átonos podem desempenhar a

função sintática de objeto direto e objeto indireto. Os da 3ª pessoa, que são

o(s), a(s) e lhe(s), têm funções fixas: o(s), a(s) têm a função de objeto direto

e lhe(s) a de objeto indireto”. Mais uma vez, os exemplos estão fora de

contexto:

Alguém mandou (VTDI) flores (OD) à aniversariante (OI). Alguém mandou-lhe flores. Alguém mandou-as à aniversariante.

Mais uma vez os pronomes estão substituindo termos não citados

anteriormente, ou seja, os exemplos aparecem fora de contexto. Vale

lembrar, também, que este conteúdo exige um estudo anterior acerca de

objetos e transitividade do verbo. O verbo utilizado na frase é transitivo

direto e indireto, ou seja, pede dois complementos, um objeto direto e outro

indireto. O estudo só pode prosseguir se os alunos souberem identificar isso.

É por isso que foi possível fazer as duas substituições.

Ao fim, os autores definem: “Os pronomes oblíquos me, te, se, nos e vos,

por sua vez, podem ser objeto direto e indireto, dependendo do verbo que

complementam”; além da exemplificação, há também um quadro separando

os pronomes pessoais do caso oblíquo que podem exercer a função de

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objeto direto, indireto, ou ambas.

Os exercícios propostos são de simples substituição. O primeiro pede para

substituir os objetos destacados pelo pronome equivalente, o(s) ou a(s):

“Escolhi um vestido bem bonito e usei o vestido no ano novo”. O segundo,

para substituir os objetos destacados pelo pronome lhe(s): “Recomende aos

meninos que voltem cedo”. Mais uma vez os pronomes são colocados em

frases soltas, fora do texto, além do exercício ser pouco desafiador, visto

que são dadas poucas opções de substituição. Propõe-se, como sugestão,

além de fazer reescritas a partir de um texto e não de frases, misturar os

dois exercícios, aumentando as possibilidades de substituição.

O terceiro exercício pede para que o aluno reconheça a função dos

pronomes dentro de frases do tipo: “Diga-me com quem andas e te direi

quem és”, enquanto que o quarto pede para, além de reconhecer a função

sintática dos objetos, substituí-los por pronomes oblíquos: “Ele emprestou o

DVD para mim e para meus amigos”. Estes exercícios são um pouco mais

desafiadores que os primeiros. No entanto, ainda encontram-se fora de

contexto, estudados dentro da frase, não do texto.

Logo após, segue-se a conceituação de pronomes, mostrando a variação

dos pronomes oblíquos a(s) e o(s). Os autores mostram as modificações

que ocorrem com estes pronomes quando objetos de certas formas verbais:

“Vou comprar (VTD) este livro (OD).” - “Vou comprar (VTD) + (l)o (OD).” -

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“Vou comprá-lo”. Mais abaixo, os autores explicam minuciosamente porque

isso ocorre. O objeto “este livro” só poderia ser substituído pelo pronome “o”,

que cumpre função de objeto direto e está no masculino singular. Ao unir-se

com o verbo “comprar”, faz com que desapareça a letra “r”, marca de

infinitivo, e apareça a letra “l” acompanhando o pronome. “Em síntese:

verbos terminados em r, s ou z: acrescenta-se l antes de o, a, os, as;

verbos terminados em m, ão, õe(s), õem: acrescenta-se n antes de o, a, os,

as”. Contudo, logo após, segue-se um exercício de simples substituição em

frases do tipo: “Duas pessoas se perderam na montanha. As equipes de

resgate encontraram __ bem distante da cidade”.

No entanto, o segundo exercício traz a seguinte tirinha:

pedindo para que a frase do segundo quadrinho seja reescrita utilizando o

pronome oblíquo adequado. Aqui, temos um exercício divertido, um tanto

desafiador, dentro de um contexto (tirinha) e que contempla tanto a

modalidade culta da língua (no exercício de substituição) quanto a

modalidade coloquial da língua (na fala da personagem).

Logo adiante, os autores fazem uma retomada do conteúdo, utilizando,

também, uma tirinha:

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Aqui há, mais uma vez, um paralelo entre a língua padrão e a língua oral.

Em destaque a sentença “Tio Flip, (me) dá um pedaço”, mostrando que, ali,

deveria haver um pronome, se a sentença estivesse escrita pela norma

culta. Observa-se que as frases da tirinha são típicas da língua oral. Outra

sentença destacada é “Eu guardo”. Através de questionamentos acerca da

função sintática dos pronomes destacados, os tipos de pronomes, além de

exercícios de comparação e substituição, os autores aproximam o conteúdo

da realidade dos alunos para, mais abaixo, retomarem, também através de

questionamentos, que os pronomes pessoais do caso reto desempenham a

função de sujeito, enquanto que os do caso oblíquo, a de objeto, e é por isso

que, na variante padrão, dizemos:

“Minha mãe deixou umas tarefas para eu fazer mais tarde. - Quero que tudo fique bem claro entre mim e você.”

Não há maiores explanações acerca da utilização de “para eu” e “para mim”,

apenas esse exemplo e um exercício de pura substituição em frases do tipo

“Você trouxe tudo isso para __? (eu – mim)”, mais uma vez, fora de

contexto, fora do texto.

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Por último, os autores utilizam tirinhas e poema para mostrar as diferenças

entre a língua padrão e a língua oral.

Aqui, os autores utilizam questionamentos acerca do pronome “eles”, no

terceiro quadrinho, sobre a função que ele exerce e como deve ser

empregado pela norma culta para demonstrar que, por estar exercendo a

função de objeto, deveria ser substituído por um pronome oblíquo. Contudo,

como se trata de um texto correspondente a língua oral, não há

obrigatoriedade de utilização da norma culta.

No poema de Leo Cunha, “Pombo”:

“O pombo correio Não gosta de sê-lo”,

temos uma interpretação sobre jogo de palavras e o uso do pronome

oblíquo, enquanto que, na seguinte tirinha pede-se uma análise da

linguagem utilizada e uma comparação com e pedido de reescrita utilizando

a norma culta. Todos estes exercícios mostram-se desafiadores e

estimulantes e são uma boa maneira de fixar o conteúdo de forma criativa e

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divertida. Vale ressaltar que, ao final do livro, os autores citam o referencial

teórico do estudo.

Considerações finais

Como vimos, existem muitas formas de utilizar os pronomes pessoais.

Ressaltando, a regra geral para a língua escrita é: pronomes pessoais do

caso reto são utilizados como enunciadores e pronomes pessoais do caso

oblíquo, como objeto. Em outras palavras, o caso reto é usado basicamente

nos sintagmas nominais, como substituto do enunciador, enquanto que o

caso oblíquo é utilizado nos sintagmas verbais, como complemento do verbo

(objeto).

A partir do estudo dos três textos analisados (gramática, texto infantil e livro

didático), percebemos a importância dos pronomes pessoais na composição

da frase, e vimos que seu uso é muito mais simples do que estudado na

escola. Se analisado dentro do texto, como se demonstra neste estudo, é

muito melhor compreendido do que se estudado separadamente, através da

decora de tabelas. Propõe-se, considerando o que foi analisado aqui, uma

mudança na metodologia escolar, pois o que é decorado é esquecido; mas o

que é vivenciado, é aprendido e dificilmente se esquece.

Referências

INFANTE, Ulisses. NICOLA, José de. Gramática Contemporânea da

Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1997.

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CEREJA, William Roberto. MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português

Linguagens: 6 série. São Paulo: Atual, 2006.

Autor desconhecido. Os burros espertos. Apud: http://www.metaforas.com.br/infantis/burrosespertos.htm

Anexo:

Os burros espertos

Dizem que os burros são tolos. Mas não devemos acreditar totalmente nisso. Essa história nos mostra que nem sempre é assim.

Um lavrador tinha dois burros. Para que não fugissem, resolveu amarrá-los em uma só corda, cada um em uma extremidade. Depois de algum tempo, os dois começaram a sentir fome. A comida estava perto. Grandes montes de feno estavam ao alcance de sua visão. Os dois tentaram chegar até eles. A corda era muito curta e, puxando cada qual para o seu lado, nenhum dos dois conseguia alcançar o seu monte de feno. Então compreenderam que o melhor era sentar e dialogar. Talvez juntos conseguissem encontrar uma solução.

Assim o fizeram. Durante um bom tempo, estiveram a dar voltas ao assunto, sem conseguir encontrar um jeito de chegar ao feno. Por fim, disse um deles:

- Vamos ver! Nós dois estamos com fome. A corda que nos une é muito curta e não podemos ir cada um para o seu lado. Por que não vamos juntos para o primeiro monte de feno? Assim, ambos poderíamos comer dele e depois provar o segundo. Dessa forma, comeríamos a quantidade habitual.

- Boa idéia! admitiu seu companheiro.

Pondo em prática a sugestão, banquetearam-se ambos, apesar da corda com que haviam sido amarrados. Mostraram, dessa forma, que os burros não são tão burros quanto parecem.