Artigo valores na escola

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ARTIGO:VALORES NA ESCOLA:PROPONDO UMA REFLEXÃO Universidade Cidade de São Paulo 1 Resumo: O presente artigo tem como proposta discorrer sobre o significado de ética e moral, ressaltando aspectos da educação moral na época da ditadura militar, apontar alguns caminhos percorridos pela educação atual através dos Parâmetros Curriculares Nacionais, investigar se as distinções teóricas têm ou não significado social e como aplicá-las no cotidiano escolar. Discutir o papel da família e da escola na formação moral dos educando, bem como a formação do professor. Não se trata de receitas prontas para a prática em sala de aula e sim uma reflexão acerca da necessidade de se repensar o ensino de valores contando com a participação de todos os membros da escola e uma opção por uma metodologia para ensiná-los,seja os professores, em sua formação inicial e continuada,seja os alunos. Palavras-chave Ética na escola-valores-Educação moral-formação de professores Definição-Ética e moral: Muito se fala sobre a presença ou não da ética nas escolas,afinal o que é ética e o que é moral? Ética vem do grego”ethos” que significa modo de ser e Moral tem sua origem no latim,que vem de “mores”,significando costumes.Ou seja,moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade,normas estas adquiridas pela educação,pela tradição e pelo cotidiano( a moral tem caráter obrigatório);ética é o conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive. 1 Especialização em Docência no Ensino superior pela Universidade Cidade de São Paulo. São Paulo-SP,Brasil.E-mail do autor:[email protected]:Amaury Guerra 1

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ARTIGO:VALORES NA ESCOLA:PROPONDO UMA REFLEXÃO

Universidade Cidade de São Paulo1

Resumo:

O presente artigo tem como proposta discorrer sobre o significado de ética e

moral, ressaltando aspectos da educação moral na época da ditadura militar,

apontar alguns caminhos percorridos pela educação atual através dos Parâmetros

Curriculares Nacionais, investigar se as distinções teóricas têm ou não significado

social e como aplicá-las no cotidiano escolar. Discutir o papel da família e da escola

na formação moral dos educando, bem como a formação do professor. Não se trata

de receitas prontas para a prática em sala de aula e sim uma reflexão acerca da

necessidade de se repensar o ensino de valores contando com a participação de

todos os membros da escola e uma opção por uma metodologia para ensiná-los,seja

os professores, em sua formação inicial e continuada,seja os alunos.

Palavras-chave

Ética na escola-valores-Educação moral-formação de professores

Definição-Ética e moral:

Muito se fala sobre a presença ou não da ética nas escolas,afinal o que é

ética e o que é moral?

Ética vem do grego”ethos” que significa modo de ser e Moral tem sua origem

no latim,que vem de “mores”,significando costumes.Ou seja,moral é um conjunto de

normas que regulam o comportamento do homem em sociedade,normas estas

adquiridas pela educação,pela tradição e pelo cotidiano( a moral tem caráter

obrigatório);ética é o conjunto de valores que orientam o comportamento do homem

em relação aos outros homens na sociedade em que vive.

1 Especialização em Docência no Ensino superior pela Universidade Cidade de São Paulo.

São Paulo-SP,Brasil.E-mail do autor:[email protected]:Amaury Guerra

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Educação Moral e Cívica:

Atualmente o que encontramos nas escolas é uma posição relativista em

relação à educação de valores, ou seja, a escola exime-se de assumir tal educação

em valores deixando que isso ocorra de forma assistemática, não planejada, por

outro lado ainda há educadores que acreditam que tal educação deva ser realizada

de forma doutrinária, sendo os mesmos transmitidos prontos a todos, como

verdades acabadas.

Tivemos no Brasil, durante a ditadura militar(1969 a 1986),um exemplo de

educação moral realizada nas escolas de forma doutrinária.As disciplinas Educação

Moral e Cívica ou Estudos dos problemas Brasileiros eram consideradas matérias

específicas e por intermédio delas professores especialistas deveriam passar certos

valores assumidos como fundamentais.Vejamos:

O Decreto lei 869/69 estabeleceu a obrigatoriedade da Educação moral e

Cívica em todos os graus e ramos da escolarização, quer como disciplina,quer como

prática educativa;ou seja equivalia á exigência de enunciação,pelo educador, e de

conscientização, pelo aluno,dos princípios (disciplina)e da prática educativa

conseqüente de atos morais e cívicos,na busca de condicionamentos sadios,que

estabelecessem os hábitos desejados.

Sendo assim concluímos que a Educação moral e Cívica naquele período

visava levar o educando a adquirir hábitos morais e cívicos, através da consciência

de princípios e do desenvolvimento da vontade, para a prática constante dos atos

decorrentes, fazendo-o feliz e útil á comunidade.

A consciência dos princípios,conjugada com o fortalecimento da vontade,leva

a formação do caráter e este origina o comportamento do homem moral

e,consequentemente,do homem cívico.

Lepre(2001)relata,em sua dissertação sobre a indisciplina e estágios de

julgamento moral em crianças de ensino fundamental,como essas disciplinas foram

estruturadas pelo decreto-lei de 1969 com a clara finalidade de controlar a

“desordem social” vista como causadora dos malefícios da sociedade

brasileira.valores como nacionalismo,visto como o amor á pátria e aos seus

governantes para o alcance do progresso geral,foram colocados como fins de toda a

educação.São exemplos de trechos do decreto de 1969:

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A Educação Moral e Cívica, apoiando-se nas tradições nacionais, tem como

finalidade:

A defesa do princípio democrático, através da preservação do espírito

religioso, da dignidade da pessoa humana e do amor á liberdade com

responsabilidade, sob a inspiração de Deus;

A preservação, o fortalecimento de valores e a projeção de valores espirituais

e éticos da nacionalidade;

O fortalecimento da unidade nacional e do sentimento de solidariedade

humana; sua história;...

O culto á obediência á lei, da fidelidade ao trabalho, e da integração na

comunidade; (...).(Lepre,2001,p.71-72)

Como já foi citado esse mesmo decreto estabelecia a obrigatoriedade de

todas as escolas terem um professor dessas matérias e na falta deste o diretor da

escola deveria responsabilizar-se por ela. Criou-se também, uma Comissão

Nacional de Moral e Civismo (CNMC),integrada por nove membros escolhidos pelo

presidente da República,que tinha como funções básicas;verificar a implantação e

manutenção da doutrina de Educação Moral e Cívica nas escolas;colaborar na

elaboração do currículo para essa disciplina;influenciar e convocar a cooperação das

instituições e órgãos formadores da opinião

pública(jornais,revistas,teatros,cinemas,estações de rádio e televisão...)para servir

aos objetivos da Educação Moral e Cívica;assessorar o Ministério da Educação na

aprovação de livros didático,etc.

A proposta de educação moral e cívica seguia uma tendência

moralista,ensinar valores com um caráter normatizador.Se por um lado a vantagem

de tal tendência era a de ser explicita:os alunos já sabiam claramente quais os

valores que os educadores queriam que fossem legitimados,por outro lado a

autonomia dos alunos e suas possibilidades de pensar ficaram descartadas.

Por se tratar de um método autoritário as antigas aulas de Moral e

Cívica,desencorajou a educação moral nas escolas,em nível pedagógico podemos

observar que o método autoritário não surtiu efeito,pois ouvir discursos por mais

belos que sejam,não bastam para se convencer que são válidos.

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Repensando: Ética e Moral

Vivemos novos tempos, onde não há lugar para uma educação doutrinária, a

abordagem das questões ético-morais não mais assume o caráter autoritário que

nos foi imposto por muitos anos. Os PCN´s fazem claramente a opção pelo sujeito

ético,embora afirmem que a moral é algo inerente á cultura,abrangendo todas as

instâncias da vida social(idem,p.23).A preferência pela ética como tema transversal

contida no documento se dá na medida em que esta é definida como “reflexão crítica

sobre a moralidade”(ibid).

É de fundamental importância que haja uma coerência entre o que se

pretende ensinar aos alunos e o que se faz na escola, um exemplo disso é querer

que os alunos tenham hábitos saudáveis como higiene pessoal, porém a escola é

suja e descuidada. Só teremos respostas positivas se for realizado na escola

práticas que se pautem nos valores que se quer ensinar. Os alunos precisam

perceber que tais atitudes são viáveis e para que isso ocorra se faz necessário criar

possibilidades concretas, que possam ser experimentadas. Nem todas as medidas

estão ao alcance dos educadores, algumas sim outras não, porém reivindicar ao

responsável pela solução de problemas é uma forma de ensinamento das atitudes

de auto-estima, co-responsabilidade e participação.

Cabe a comunidade escolar discutir os temas sociais, bem como tomar

decisões. Entende-se comunidade escolar: educadores,alunos, pais e funcionários.

É através da mobilização de toda comunidade escolar que se aponta as

necessidades, definição de propostas e das prioridades a serem eleitas para o

desenvolvimento do trabalho.

Mobilização esta onde todos possam refletir sobre os objetivos a serem

alcançados.

Acontece nas Escolas:

Ao longo desses anos atuando como professor em escolas públicas,

presenciei poucas discussões acerca de valores éticos/morais.Muito se discute

sobre a indisciplina dos alunos,que os mesmos não possuem valores,que a família é

responsável por ensinar tais valores aos seus filhos.É um jogo de empurra-

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empurra,quando na realidade cada um tem a sua responsabilidade,seja a família ou

a escola.

Responsabilizar a escola no que tange as questões sociais numa perspectiva

de cidadania, se faz necessário pensar em outra questão, que é a da formação dos

educadores e de sua condição como cidadãos. Os educadores ao desenvolver sua

prática precisam também desenvolver-se como profissionais e como sujeitos críticos

na realidade em que estão, e, portanto são participantes do processo de construção

da cidadania, com reconhecimento de seus direitos e deveres, de valorização

profissional. Mas bem sabemos que a formação dos educadores brasileiros não

contemplam essa dimensão,pois a formação inicial não inclui matérias voltadas para

a formação política e questões sociais,o que predomina é a uma concepção de

neutralidade do conhecimento e do trabalho educativo.O educador se forma,mas é a

prática diária que o impulsiona a buscar por uma formação continuada,pois sente-se

despreparado para lidar com essas questões sociais tão presentes no âmbito

escolar.

Sugestão Metodológica:

O ensino deve provocar motivação e instigar a inteligência e o empenho do

aluno na autodescoberta e na verticalização do conhecimento. Falar sem convicção,

repetir de cor, ler livros em voz alta,frases prontas,soam como clichês – são

vazias.Pais e professores devem usar as palavras não como teoria e sim como

veículos de experiências compartilhadas.

Através da vivência dos valores, cabe aos professores e administradores

escolares a escolha da forma de aplicação mais adequada,como por

exemplo:ensinar valores através da auto-observação,seminários,reuniões e

dinâmicas de grupos.Cabe lembrar que todos os membros

(pais,alunos,professores,funcionários)deverão ter acesso ao trabalho com os valores

humanos.

A escola deve ser vista como lugar de possibilidades de construção de

relações de autonomia,de criação e recriação de seu próprio

trabalho,reconhecimento de si.

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Marilyn Ferguson,em A Conspiração Aquariana,diz: “A diferença entre a

transformação acidental e a transformação sistemática é como a diferença entre o

raio e a lâmpada.Ambos fornecem iluminação,mas o primeiro é perigoso e

incerto,enquanto a segunda é relativamente segura,direta,disponível”.

A força da mudança é poderosa, precisamos abandonar os velhos padrões e

as fórmulas feitas que só nos empobrecem.

A educação deve abrir as portas para o futuro e as chaves se encontram no

interior de cada indivíduo.

Referências bibliográficas

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Considerações finais:

Qualquer educação é necessariamente tripartite,pois envolve a participação

de pais,professores e alunos.O sucesso ou não de uma metodologia que propõem

uma educação para valores humanos depende da forma de relacionamento e

colaboração entre as três partes.Bem sabemos que os pais exercem a influência

primária na formação do caráter das crianças,modelam pelo exemplo as

atitudes,julgamentos e atividades,interesses,metas,motivações e comportamento

social dos filhos.A família que não age dessa forma,comete um erro gravíssimo,pois

a convivência familiar é a primeira escola.Cabe portanto aos pais e professores

corrigir as distorções da personalidade ensinando hábitos sadios e produtivos.A

educação transcende as paredes da escola,família,professor e escola em estreita

colaboração constroem um alicerce para a edificação de uma sociedade mais

justa,feliz e pacífica.Falar em uma sociedade mais justa,feliz e pacífica pode até

parecer utópico,mas é através dessa utopias que podemos chegar a algo realmente

concreto.Vivemos uma tempo de imposição e bem sabemos o resultado disso tudo,o

que é imposto não é verdadeiramente aceito e só teremos uma educação de valores

humanos quando família e escola aceitar que este trabalho deverá ser em

conjunto,cada um assumindo suas responsabilidades.Toda e qualquer mudança que

evitamos ou deixamos pela metade fica girando em torno de nós até que retomemos

o processo que recusamos a completar,a sociedade evolui e nós também somos

parte integrante das mudanças.Diante deste ponto de vista,cabe ao educador

pensar na sua formação continuada, que ocorre em todos os espaços escolares e a

mesma se torna rica se for compartilhada com todos os membros escolares.

Diante das necessidades sociais percebemos que a educação, as instituições

e as pessoas mostram-se incapazes de produzir resultados satisfatórios. O grande

desafio é encontrar novas formas de enxergar a vida,senti-la e vivê-la .

Nós educadores precisamos encontrar respostas para a questão básica,que

é:como criar a ponte entre preceito e prática,conhecimento e ação,valores e virtudes

humanas e educação.

Educar é trazer á tona os talentos e habilidades do ser humano para que ele

desenvolva pela auto-observação e discernimento uma personalidade íntegra e um

caráter consistente.

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empurra,quando na realidade cada um tem a sua responsabilidade,seja a família ou

a escola.

Responsabilizar a escola no que tange as questões sociais numa perspectiva

de cidadania, se faz necessário pensar em outra questão, que é a da formação dos

educadores e de sua condição como cidadãos. Os educadores ao desenvolver sua

prática precisam também desenvolver-se como profissionais e como sujeitos críticos

na realidade em que estão, e, portanto são participantes do processo de construção

da cidadania, com reconhecimento de seus direitos e deveres, de valorização

profissional. Mas bem sabemos que a formação dos educadores brasileiros não

contemplam essa dimensão,pois a formação inicial não inclui matérias voltadas para

a formação política e questões sociais,o que predomina é a uma concepção de

neutralidade do conhecimento e do trabalho educativo.O educador se forma,mas é a

prática diária que o impulsiona a buscar por uma formação continuada,pois sente-se

despreparado para lidar com essas questões sociais tão presentes no âmbito

escolar.

Sugestão Metodológica:

O ensino deve provocar motivação e instigar a inteligência e o empenho do

aluno na autodescoberta e na verticalização do conhecimento. Falar sem convicção,

repetir de cor, ler livros em voz alta,frases prontas,soam como clichês – são

vazias.Pais e professores devem usar as palavras não como teoria e sim como

veículos de experiências compartilhadas.

Através da vivência dos valores, cabe aos professores e administradores

escolares a escolha da forma de aplicação mais adequada,como por

exemplo:ensinar valores através da auto-observação,seminários,reuniões e

dinâmicas de grupos.Cabe lembrar que todos os membros

(pais,alunos,professores,funcionários)deverão ter acesso ao trabalho com os valores

humanos.

A escola deve ser vista como lugar de possibilidades de construção de

relações de autonomia,de criação e recriação de seu próprio

trabalho,reconhecimento de si.

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