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    Jornalismo e poltica: as faces de homens cordiais

    Gilberto Mendes da Silveira Lobo1

    Resumo

    O objetivo desta comunicao mostrar, a partir da teoria das faces apresentada por Dominique

    Maingueneau, como o stio de notcia G, da !ede G"obo de comunica#es, produ$, a partir de uma

    reportagem reprodu$ida do te"ejorna" %om Dia %rasi", representa#es do e&'presidente (ui$ )n*cio

    (u"a da +i"va, da presidente Di"ma !ousseff e do vice'presidente Mice" -emer com caractersticas

    presentes na teoria do .omem /ordia" proposta por +rgio %uarque de .o"anda0

    Palavras-chave:.omem /ordia", /orrupo, 1o"tica, 12b"ico

    Introdu!o

    O 3stado no uma amp"iao do crcu"o fami"iar e, ainda menos, uma integrao de

    certos agrupamentos, de certas vontades, particu"aristas 4.O(56D5, 778, p0 9:0 6o scu"o

    ;;), sobretudo no %rasi", a frase de +rgio %uarque de .o"anda, a qua" abre o captu"o sobre o

    .omem /ordia", do (ivroRazes do Brasil, cuja primeira edio foi pub"icada em 7p2b"ica, obrigatoriamente, teria que se orientar0

    5 afirmativa de +rgio %uarque 4778: nesta comunicao ser* apresentada como efeito de

    sentido da reportagem pub"icado pe"o stio de notcia G, reprodu$ida do te"ejorna" da !ede G"obo

    de -e"evisoBom dia Brasil, na edio do dia ?>@9>?@=, intitu"adaA +-B inc"ui (u"a, Di"ma e

    -emer no principa" inqurito da (ava Cato0

    5 esco"a da reportagem em questo se justifica pe"o fato de citar o nome de trs figurasimportantes da po"tica brasi"eira e que ocupam "ugares distintosA (u"a, na condio de e&'

    presidente da !ep2b"ica do %rasi", Di"ma !oussef, mu"er e atua" presidente, ambos do 1artido do

    -raba"adores 41-:, e de ideo"ogia po"itico'partid*ria de esquerda0 1or 2"timo, Mice" -emer, vice'

    presidente, membro do 1artido do Movimento Democr*tico 41MD%:, organi$ao po"tica de

    direita0

    Mestrando em (etrasA (inguagem e )dentidade, da Eniversidade Bedera" do 5cre0

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    5"m disso, o artigo parte da ava"iao da discip"ina /u"tura e (iteratura, ministrada pe"o

    professor Brancisco %ento0 1ara apro&imar do tema da dissertao, usamos a teoria do .omem

    /ordia", mas usamos jorna"ismo no "ugar de "iteratura, mas entendendo que a diferena entre

    "iteratura e jorna"smo apenas um discurso, posto que ambos produ$em narrativas e no se

    desconectam da "inguagem, portanto, nenum dos dois produ$ a rea"idade, mas apenas signos,representa#es0

    6essas trs figuras temos representantes de diferentes orienta#es po"tico'partid*rias,

    autoridades, a"m de nas suas istFrias apresentarem certa afinidade com diferentes seguimentos

    sociaisA (u"a 4/"asse oper*ria:, Di"ma 4Mu"eres:, -emer 4/"asse de empres*ria":0 3 quanto

    esco"a do vecu"o de comunicao, "evamos em considerao ser integrante da !ede G"obo de

    comunicao0 5 maior empresa de comunicao do %rasi"0

    5 proposta mostrar que com base no que dito, e&c"usivamente, na reportagem, a ideiaque se pode depreender de que a teoria do .omem /ordia" pode ser uma representao

    situaciona" do %rasi"0

    6o entanto, necess*rio frisar que no estamos afirmando que o .omem /ordia" uma

    viso egemHnica da po"tica no %rasi"0 O que queremos apenas identificar uma resumida viso de

    mundo produ$ida pe"a imprensaI viso est* que no u"trapassa o campo da "inguagem e da

    percepo0

    1ara tanto, usaremos a teoria das faces, desenvo"vida desde o fina" dos anos J@principa"mente por 10 %roKn e +0 (evinson, que se inspiraram no sociF"ogo norte'americano 30

    Goffman 4M5)6GE3635E, ?@@L, p0

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    3m outras pa"avras, o .omem /ordia", no fa$ distino do p2b"ico e do privado0 .*

    sempre uma forma de, como no dito popu"ar, dar um jeitino, bur"ando trmites burFcr*ticos para

    favorecer os seus, desrespeitando os parmetros necess*rios para se viver em sociedade0 Dessa

    forma, a cordia"idade no baseada no bem receber estrangeiros, no amig*ve", mas o agir com

    base na emoo e no com impessoa"idade0 6enum povo est* mais distante dessa nooritua"stica da vida do que o brasi"eiro0 6ossa forma ordin*ria de convvio socia" , no fundo,

    justamente o contr*rio da po"ide$ 4idem:0

    !icardo (ui$ de +ou$a di$ queA OHomem Cordial um omem dado a atitudes e&tremas

    NP atua fora dos meios "egais de coero, e e&trema porque a e&presso de um comportamento

    incapa$ de mo"da'se a padr#es "egais e ordem p2b"ica 4?@@J, p0

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    3nto tomamos neste artigo a ideia da informa"idade do .omem /ordia", para mostrar em

    trecos da reportagem do stio G, citada anteriormente, como o jorna" cria representa#es

    4narrativas: verossimi"antes com a proposta por +rgio %uarque de .o"anda0 1roposta baseada na

    informa"idade do brasi"eiro, na averso de"e pe"as regras do servio p2b"ico e na transformao do

    bem p2b"ico em bem privado, e&emp"ificado com as suspeitas de desvio de verbas investigados pe"aoperao (ava Cato da 1o"cia Bedera", cujo objetivo seria desvendar casos de apropriao

    idenvida do dineiro p2b"ico por empresas privadas, par"amentares e servidores p2b"icos0

    %s faces

    Dominique Maingueneau, ana"ista do discurso, fa"a que o discurso tem suas "eis e, entre

    e"as, e"e ressa"ta da preservao das faces, partindo da teoria das faces0 3ssa teoria pressup#e

    que dentro da comunicao socia", * regras de po"ide$0 Ou seja, assim como em toda re"a#es

    socia", preciso respeitar determinados padr#es0 1ara tanto, os sujeitos projetam vis#es de si0

    6esse mode"o, considera'se que todo indivduo possui duas facesI o termo face deve aqui ser

    tomado no sentido que este termo possui numa e&presso como Sperder a faceT 4?@@L, p0

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    3rving Goffman pensa as faces como facadas, as quais so produ$idas para uma abstrata

    audincia, uma imagem que dapode ser socia"i$ada, mo"dada dentro dos mo"des de determinadas

    sociedades, como um padro a ser copiado ou evitado0 -rata'se de um dos modos como atravs

    dos quais um desempeno? socia"i$ado, mo"dado e modificado de maneira a adaptar'se

    interpretao e e&pectativas da so ciedade em que se apresenta0 477

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    5s faces sF podem ser produ$idas no jorna"ismo por meio de acontecimentos0 3

    acontecimento, segundo 1atricV /araudeau 4?@@=:, tem duas defini#esA numa de"as a proposta

    de que seja a"go natura", noutra provocado0 )sso porque todas as ve$es em que * a tentativa de

    codificador o mundo a partir da "inguagem, o resu"tado uma representao do rea" e no a

    rea"idade05"m disso, a "inguagem no transparente, posto que est* sujeita a interpreta#es diversas,

    de decodifica#es por parte dos receptores0 5ssim, afuni"ando a pesquisa para *rea de jorna"ismo,

    possve" di$er que as mdias no tm condi#es de apresentar uma viso comp"eta do mundo,

    porque a"m das "imita#es da "inguagem, * o que Mice" Boucau"t camou de motivao po"tico'

    econHmica0 )sso norteia, determina, como, quando e com que objetivo determinados fatos so

    apresentados ao p2b"ico0

    5inda, a se"eo dos fatos determina vis#es de mundo, a partir de informa#es passadas pe"aimprensa0 3 para /araudeau 4?@@=:, informa#es so enunciados0 3nunciado , de forma simp"es,

    o que foi dito0 6o entanto, os di$eres tm sua produo contro"ada0 6o possve" di$er qua"quer

    coisa, a qua"quer momento, como nos afirma Mice" Boucau"t 477J:0

    1ensando desse modo, jorna"istas, enquanto operadores de dispositivos de saber

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    1ara /araudeau a imprensa age como espe"os deformantes, iguais aos dos parques de

    divers#es, onde cada espe"o deforma a imagem de um jeito, produ$indo v*rias imagens distorcidas

    cada um sua maneira, um fragmento amp"ificado, simp"ificado, estereotipado do mundo 4?@@=,

    p0 ?@:0

    Qa"ter (ippmann 4?@@

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    1ara fa$er a an*"ise do discurso do te&to do G, precisamos comear pe"o ttu"o da

    reportagemA O +upremo inc"uiu os nomes de (u"a, Di"ma e -emer no principa" inqurito da (ava

    Cato0 Uua" a importncia dos trs nomes para receberem "ugar no ttu"o da reportagemX O primeiro

    um e&'presidente0 O sergundo nome da atua" presidente e o 2"timo o vice'presidente0 Ou seja,

    so as maiores autoridades p2b"icas do %rasi"0 Ba$endo uma "igao inicia" com o .omem/ordia", a cordia"idade agindo no mais a"to esca"o da vida po"tica brasi"eira0

    5 prFpria forma de tratar os personagens j* uma forma de criao de faces0 /omo na teoria

    de .o"anda, as informa"idades esto do "ado de (u"a e Di"ma, tratados pe"o prenome, diferente de

    -emer, representado pe"o nome de fam"ia ou sobrenome0 )sso demonstra, dentro do te&to, o

    cuidado em apresentar os dois primeiros como informa#es e o terceiro como dentro da "ei, forma",

    mesmo dentro de uma investigao para apurar casos de corrupo0

    5 ordem esco"ida segue uma suposta crono"ogiaA Di"ma sucede (u"a e -emer sucede Di"ma4caso aja impeacment:0 5"m disso, a frase principa" inqurito da (ava Cato demarca de

    ambiente onde esto estas personagem0 3sto "ugar privi"egiado, digno de uma fase fundamenta" da

    investigao, a qua" cabe a participao da mais a"ta corte naciona", o +upremo -ribuna" Bedera"

    4+-B:0 .* um destaque a ao foro privi"egiado0

    O treco seguinte, acentua mais anida a representao do .omem /ordia"A

    Os investigadores consideram que essa investigao a mais importante sobre o

    caso no +upremo0 porque e&p"ica como funcionava o mecanismo de desvios de

    dineiro na 1etrobras0 3sse inqurito investiga a re"ao de )* polticoscom o

    esquema de corrupo0 4G ?>@9>?@=, griffo nosso:

    O te&to citado va"ora a fase da investigao destacando que a etapa mais importanteI

    porque mostra a ierarquia dentro do esquema de corrupo, cujo o topo formado por (u"a, Di"ma

    e -emer0 3 ainda, apresenta um cen*rio po"tico viciado que confunde o p2b"ico com o particu"ar06o destaque que fi$emos, consta que

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    3mbora no tena sido citado desde o comeo, a importncia de (u"a, o que "egitima essa

    informao com ostatusde notcia, passa a ser apresentada nesse enunciadoA

    6a de"ao premiada, De"cdio afirmou que o e&'presidente (u"a deu ava" para

    nomeao de 6estor /erverF para a diretoria internaciona" da 1etrobras e queDi"ma ava"i$ou a ida de /erverF para a %! Distribuidora0 4G ?>@9>?@=:

    6o pode passar despercebido que mais uma ve$ as regras da vida p2b"ica so bur"adas, de

    acordo com o recorte apresentado0 5o invs da presidente dar o ava" para nomeao de 6estor

    /erverF, um e&'presidente que o fa$0 O que, oficia"mente, no tem nenum poder de mando

    dentro do Governo Bedera"0 6o entanto, a situao inversaA Di"ma ava"i$ou, apenas0

    O ento vice de Di"me aparece tambm com maior fora de deciso que a prFpria presidentenessa citaoA +egundo De"cdio, Mice" -emer referendou a nomeao de Corge Ye"ada para

    suceder /erverF na diretoria )nternaciona" 4G ?>@9>?@=:0

    -ambm interessante notar as tona"idades adotadas na reportagem0 1ara acentuar o c"ima

    de /ordia"idade, o te&to comea acusando de forma indireta (u"a, -emer e Di"ma0 6o entanto,

    ameni$a, como forma de fornecer certa imparci"idade em treco como esseA

    O procurador'gera" da !ep2b"ica considera que De"cidio citou in2meros fatos que

    representam desdobramentos diretos de crimes em apurao no +upremo, a"m de

    ter indicado novos personagens0 3 que por isso necess*rio aprofundar as

    investiga#es0 4G ?>@9>?@=:

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    5inda de forma estratgica, dei&ado para o fina" da pub"icao esc"arecimentos que deem

    a enteder que a notcia a"armante0 3sse treco quase um pedido de descu"paA )sso no significa

    que Di"ma, (u"a e -emer sero a"vos de inquritos0 3ssa ava"iao ainda ter* que ser feita pe"o

    procurador0 3 depois, submetida ao +upremo -ribuna" Bedera" 4G ?>@9>?@=:0

    /omo dito anteriormente, os envo"vidos nos atos de comunicao produ$em suas faces0-anto a imprensa, quanto os retratados disputam a contruo imagtica0 5gora a ora de

    apresentar a imagem 4face: que a equipe do (u"a pretende mostrar de"e, saindo em desvantagem

    porque, passa ainda pe"o fi"tro do G, que pub"ica, c"aro, o que a editoria" acar necess*rioA

    O )nstituto (u"a dec"arou que o e&'presidente j* depHs neste inqurito e prestou

    todos os esc"arecimentos s autoridades0 3 que e"e sempre agiu dentro da "ei e a

    favor do %rasi" antes, durante e depois da presidncia da !ep2b"ica0O advogado de (u"a dec"arou que o e&'presidente no tem nenuma re"ao com

    os de"itos que esto sendo investigados0 4G ?>@9>?@=:

    Do mesmo modo, a assessoria de imprensa de Mice" -emer funciona como sua construtora

    de faces, como e&emp"ificado nessa citaoA

    5 assessoria do vice'presidente Mice" -emer dec"arou que as men#es de De"cdiodo 5mara" esto equivocadas ' e que o vice'presidente no tem nenuma re"ao

    com os casos citados pe"o senador0 4G ?>@9>?@=:

    3m resumo, podemos di$er que a esco"a por mostrar casos de supostas corrup#es, posto

    que ainda esto fase de investigao, e a opo por destacar figuras como (ui$ )n*cio (u"a da +i"va,

    Di"ma !ousseff e Mice" -emer, representantes maiores do cen*rio po"tico brasi"eiro atua"mente,

    no inocente0 -em uma inteno0

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    3 a inteno produ$ir um cen*rio, mesmo que seja apenas no campo das sensa#es, de

    cordia"idade, ou seja, com caractersticas que remetem ao .omem /ordia", teoria, como dito

    v*rias ve$es aqui, apresentada por +rgio %uarque de .o"anda, no scu"o passado, ainda na dcada

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