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O MUSEU DO VAQUEIRO COMO POTENCIAL TURÍSTICO PARA O
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE MIPIBU/RN.1
Timuza Emanuele de Souza Lima2
Maria Stella Galvão Santos 3
RESUMO
O presente artigo trata da possibilidade de desenvolvimento do turismo cultural no
Município potiguar de São José do Mipibu. O principal objetivo do trabalho é, portanto,
identificar as principais potencialidades turísticas da localidade, dando ênfase ao Museu do
Vaqueiro. Constitui objetivo secundário a sugestão de ações que possibilitem o fortalecimento
da relação entre a atividade turística e a valorização e a preservação do patrimônio cultural
material naquela região. A partir das pesquisas realizadas, compreendeu-se que o turismo
cultural pode ser reconhecido não só como dimensão e possibilidade de desenvolvimento, mas
também como processo transversal estruturante de uma localidade.
Palavras-chave: Turismo cultural, Desenvolvimento sustentável, Potencial turístico.
THE COWBOY MUSEUM AS TOURIST POTENTIAL FOR MUNICIPALITY OF SÃO
JOSE DE MIPIBU/RN
ABSTRACT
This article deals with the cultural tourism development potential in the Natal city of São José
do Mipibu. The main objective is therefore to identify the major tourist potentials of the
locality, emphasizing the Cowboy Museum. A secondary objective is the suggestion of
actions that enable the strengthening of the relationship between tourism and the recovery and
preservation of cultural heritage materials in the region. From the effect research, it was
1 Artigo apresentado ao Programa de Pós Graduação da Universidade Potiguar – UNP.2 Pós graduanda em Produção Cultural pela Universidade Potiguar – [email protected] Orientadora. Doutoranda em Educação pela UFRN – [email protected]
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understood that cultural tourism can be recognized not only as a dimension and as a
possibility for development, but also as a structural cross process from one location.
Keywords: Cultural tourism, Sustainable development, Tourism potential.
1 INTRODUÇÃO
O patrimônio cultural de uma região é um dos fatores de motivação para deslocamento
dos turistas, representando um recurso turístico que, se bem planejado e administrado, torna-
se valioso. No Brasil, o aumento da demanda no segmento do turismo cultural deve-se, entre
outros motivos, à crescente necessidade de conhecimento da identidade do povo brasileiro,
assim como por um maior interesse aos assuntos relacionados à questão cultural.
Por sua vez, o turismo é uma atividade de várias dimensões que, quando devidamente
exploradas, podem trazer benefícios em diversos âmbitos, envolvendo tanto os turistas,
quanto os residentes de uma localidade. Desse modo, o patrimônio cultural constitui recursos
passíveis de serem utilizados como ferramenta de desenvolvimento atrelada ao turismo.
A questão cultural tem ganhado uma visibilidade considerável dentro de vários
segmentos do turismo, por representar a história, o modo de vida, os usos e costumes de
determinada comunidade, assim como a arquitetura, as artes, entre outros aspectos da vida das
sociedades. Apresenta, ainda, a herança histórico-cultural, social, política e religiosa de uma
sociedade.
O Brasil, embora tenha um grande potencial turístico em termos de recursos naturais e
culturais, que são bastante diversificados, ainda tem muitas possibilidades para melhor
trabalhar a atividade turística em cada uma de suas cinco regiões. No caso da região nordeste,
o turismo cultural é uma potencialidade a ser trabalhada, pois seus estados apresentam uma
cultura muito rica, onde podem ser desenvolvidos aspectos materiais e imateriais, o que
envolve, entre outros fatores, festividades, religiosidade, gastronomia, artesanato, costumes e
tradições, além de prédios e monumentos históricos. Observa-se que em todo o Nordeste, o
turismo está atrelado às belezas naturais, especialmente nas atividades voltadas ao turismo de
sol e mar.
Neste contexto, o município de São José de Mipibu, no Rio Grande do Norte, pode ser
trabalhado sob a ótica do desenvolvimento a partir do turismo, à medida que a cidade tem
recursos que podem resultar se bem planejados, em produtos turísticos. Uma vez que o turista
atual tem mostrado um grande interesse em conhecer novas culturas e vivenciar experiências
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inseridas em uma comunidade com costumes diferentes dos seus, o município apresenta um
patrimônio cultural que pode ser trabalhado com este intuito.
A cultura é um dos pontos que favorecem a cidade para que se torne produto turístico,
possui recursos como o Museu do Vaqueiro, idealizado pelo senhor Marcos Lopes, o projeto
arquitetônico do museu traz uma cópia da casa da família do idealizador, construída em 1808,
na fazenda Poço Verde, na Serra do João do Vale, município de Campo Grande/RN. A casa
onde se abriga o museu remonta elementos da arquitetura de uma época dentro do contexto
cultural do vaqueiro, a casa do “senhor” dono das terras.
A cultura apresenta-se como um fator importante para o desenvolvimento da atividade
turística porque expressa a identidade de uma sociedade. Desta forma, é relevante que a
cultura de uma localidade seja preservada por todos, e a melhor forma de preservar é fazer
com que a comunidade aproprie-se do seu patrimônio histórico e cultural de maneira
sustentável como explica Horta (1999, f. 2):
O conhecimento crítico e a apropriação consciente por parte das comunidades e indivíduos do seu “patrimônio” são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania.
Para que ocorra a apropriação sustentável dos patrimônios, é preciso fazer com que a
comunidade venha a reconhecer e valorizar o que é seu. Essa apropriação pode ser feita
através de um trabalho de educação patrimonial, que é um processo de valorização da cultura
local e que faz transparecer a identidade cultural, trazendo melhoria da qualidade de vida da
comunidade. O trabalho de educação patrimonial tem como objetivo levar todos a um
processo efetivamente ativo de conhecimento, apropriação e valorização da herança cultural
da população. Com este trabalho, a população irá usufruir melhor os bens culturais, gerando a
produção de novos conhecimentos, em um processo contínuo de criação cultural (HORTA,
1999).
2 PATRIMÔNIO CULTURAL E IDENTIDADE
Todo indivíduo, assim como toda e qualquer sociedade, são elementos construtores da
cultura de modo que a cultura vai sendo construída de acordo com os valores, costumes e
vivencias de cada indivíduo ou sociedade. Segundo Gomes (2001) a construção cultural
deriva-se de um conjunto de prática sociais generalizadas em um determinado grupo, no
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entanto a partir dessas práticas este grupo uma imagem de coerência interna, onde se
identificam. O conjunto dessas práticas expressão os valores e sentidos vividos por cada
grupo social e a delimitação das suas diferenças em relação a outros grupos.
Nesse contexto, Dias e Aguiar (2002), referem-se ao conceito de cultura como sendo
resultado de um processo de civilização do indivíduo. De modo a ser transmissível pela
herança cultural, acompanhando idéias, valores, crenças, construções, entre outras formas de
vivencia pertencentes exclusivamente ao ser humano. Do mesmo modo acontece com a
identidade, de acordo com Hall (2005) é algo construído através do tempo, estando sempre
em constante transformação de forma inconsistente. Criando uma variedade de novas
possibilidades e posições de identificação, tornando a identidade ainda, mas posicionais,
políticas e diversificada.
2.1 PATRIMÔNIO CULTURAL: MATÉRIA-PRIMA PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
A palavra patrimônio pode assumir sentidos e significados diversos. O mais comum é
o conjunto de bens que formam a identidade de uma comunidade. Assim, o patrimônio
nacional, por exemplo, é o conjunto de bens que identificam determinado país. A criação de
patrimônios nacionais intensificou-se durante o século XIX, servindo para criar referenciais
comuns a todos que habitam um mesmo território. A partir disso, o patrimônio passou a
constituir uma coleção unificadora que procurava dar base cultural idêntica a todos, embora
os grupos sociais e étnicos presentes em um mesmo território fossem diversos, ou seja,
criando a identidade de um povo (BARRETTO, 2000).
Mas nem sempre foi assim. Este entendimento do significado de patrimônio evoluiu
no decorrer dos séculos. De acordo com Dias (2006), a origem do termo patrimônio é latina, e
está diretamente ligada aos bens familiares. Já na Idade Média, o conceito evoluiu, sendo
associado a algo que é sagrado. A partir do Renascimento, o patrimônio passou a ser visto
com interesse histórico e artístico. Com a Revolução Francesa, os bens e as coleções de arte
dos mais ricos foram confiscados pelo Estado, que os colocou em quatro grandes museus. A
partir deste momento, o patrimônio ganhou uma nova função simbólica de representar as
comunidades, identificando-as como nação. Na modernidade, a palavra recebe um significado
ampliado, passando a identificar um bem ou conjunto de bens naturais e culturais de grande
importância em determinado lugar.
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Segundo Barretto (2000), o patrimônio pode ser dividido em dois grandes grupos:
natural e cultural. O patrimônio natural são as belezas naturais, as riquezas encontradas no
solo, as florestas, as montanhas entre outros. Quanto ao patrimônio cultural, essa definição
vem sendo ampliada à medida que se revisa o entendimento de cultura. Antigamente,
considerava-se como patrimônio cultural apenas os monumentos grandiosos, obras de arte
reconhecidas mundialmente, geralmente associadas às famílias ricas e detentoras do poder na
época. A partir de meados do século XX, esse conceito obteve uma mudança considerável, e o
patrimônio cultural é tido como tudo que envolve a vivência humana, não só os bens
tangíveis, mas também aqueles intangíveis como, por exemplo, a música, a dança e qualquer
tipo de manifestação que caracterize uma determinada comunidade, independente de classes
social.
Inicialmente, para Rodrigues (2001), o patrimônio serve para representar o passado, ou
seja, são elementos que projetam o passado no presente, uma forma de resgate da história de
uma comunidade e/ou nação, testemunhos de experiências vividas em tempos passados de
forma coletiva ou individual. Assim, deve ser preservado e conservado para desempenhar essa
função. Preservar significa proteger, evitar que qualquer dano seja feito e conservar significa
manter, deixa-lo constantemente em perfeito estado para que seja permanente no tempo.
Para proteger o patrimônio, é necessária a criação de políticas de preservação que
podem vir a ser reconhecidas como uma série de medidas compostas por normas, suporte
técnico e a participação da sociedade (MACHADO; DIAS, 2009). De acordo com Barretto
(2000), dentre as políticas de preservação, a medida legal a ser tomada é o tombamento do
patrimônio, o qual consiste em um registro dos bens considerados de grande valor histórico
nas páginas do livro de tombo. Em caso de propriedades privadas, os proprietários deverão
seguir as leis de preservação. Assim, os prédios devem permanecer com os mesmo aspectos e
características principais, não podem ser demolidos e a preservação deve se estender a um
perímetro de 300 metros.
Outra medida a ser tomada é a educação patrimonial com a comunidade local para que
possam conhecer e reconhecer o patrimônio pertencente à localidade, resultando assim na
valorização e apropriação do patrimônio. É possível, ainda, o reaproveitamento de
determinados patrimônios pela iniciativa privada com a finalidade de suprir as necessidades
de lazer, conhecimento histórico e cultural do passado no presente em ambientes
característicos do passado preservando-os.
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2.2 IDENTIDADE CULTURAL
O principal elemento para a formação da identidade cultural, tanto individual quanto
coletiva, é a memória, pois é através dela que os indivíduos podem reconstruir o passado,
permitindo o conhecimento de suas raízes, resgatando a identidade de uma comunidade ou
apenas de um indivíduo. Nesse contexto, a cultura tem um papel primordial para definir as
diversas personalidades, os padrões de conduta e ainda as características próprias de cada
comunidade, formando assim a identidade cultural, que é o sentimento de identificação de um
grupo ou cultura. Todo indivíduo nasce com uma identidade própria. No entanto, a cultura
com a qual o indivíduo identifica-se pode ser ajustada por vários contextos. As construções
das identidades culturais são simbólicas, subjetivas e totalmente flexíveis que se dão em
função de um referente, que podem variar de acordo com as referências do meio onde está
inserido (BARRETTO, 2000).
No entanto, para Machado e Dias (2009), preservar a memória contribui para
construção da identidade cultural, bem como a sobrevivência e perpetuação das tradições,
valores, atitudes e representações que levam em consideração o sentimento de pertencimento
por parte da população de determinada comunidade.
Segundo Barretto (2000), em tempos passados, tinha-se a construção da identidade da
seguinte forma: todo e qualquer indivíduo integrava uma tribo, casta ou grupo de servos.
Esses indivíduos nasciam e morriam tendo certeza de identidade, ou seja, nessa época a
identidade tinha características de ser fixa e imutável. Já na modernidade, as pessoas passam a
ver a identidade como algo flexível, passivo de mudanças, inovações e intervenções,
dependendo dos grupos sociais em que os indivíduos são inseridos. No entanto, na pós-
modernidade a identidade é vista de outro modo, pois a mesma passa por um processo de
fragmentação, o indivíduo pós-moderno passa a ter várias identidades culturais, simultâneas
que reagem a diversos fatores internos e/ou externos, tendo um indivíduo que se comporta de
diversas maneiras dependendo do grupo que esteja inserido no momento.
De acordo com Amaral (2008), uma das formas de fortalecimento da identidade
cultural, é através do turismo de base local que permite a comunidade entrar em um processo
de recuperação da memória coletiva e individual, reconstruindo a história local. Assim a
atividade também abrange os aspectos materiais e imateriais existentes na cultura local,
permitindo que a população se conscientize da importância histórico-cultural da localidade,
formando a identidade local, que para o turismo de base local vem a ser um diferencial de
fundamental importância para o desenvolvimento da atividade.
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Contudo, Barretto (2000) mostra que hoje o mundo está repleto de inovações
temporárias que modificam totalmente o ser que está inserido em determinada comunidade.
As mudanças culturais ou sociais de uma comunidade não devem ser atribuídas, apenas a uma
atividade, como no caso, o turismo. A identidade é tida como uma construção constante. No
entanto para as pessoas a identidade é essencial e deve ser mantida para que esses indivíduos
possam se sentir mais seguros e unidos dentro da comunidade.
3 CULTURA E TURISMO: TRABALHANDO EM PARCERIA
A maneira como os turistas viajam tem evoluído ao longo do tempo, mas mesmo com
essas mudanças a motivação cultural permanecem como uma das principais razões para as
viagens. De acordo com Brasil (2006), o desenvolvimento do turismo cultural em uma região
é necessário à conciliação do fortalecimento da cultural com o desenvolvimento da atividade
turística, tendo em vista preservar o patrimônio existente na localidade.
Para Dias e Aguiar (2002), o turismo cultural é um dos principais segmentos do
turismo, esta sempre ligado a outros nichos de mercado e tem como característica marcante o
efeito educacional, conscientizando o visitante a preservar o patrimônio visitado. Além disso,
a comunidade tem um papel importante no processo de organização das ações voltadas ao
desenvolvimento do turismo cultural, tendo em vista que a vivencia dos habitantes da
localidade enriquece a experiência dos moradores e fortalece o sentimento de apropriação dos
moradores.
3.1 AS INTERFACES ENTRE CULTURA E TURISMO
Segundo Barretto (2000), A cultura é um fator importante para a identidade de uma
localidade, ou seja, pode ser considerada uma mediadora entre passado e presente. Quando
trabalhada de maneira responsável por seus planejadores, em especial seus produtores
culturais e os poderes, público e privado pode se transformar em um produto turístico. A
cultura tem o poder de atrair fluxos turísticos para as cidades, contribuindo e estimulando a
população para a manutenção, conservação e preservação da identidade cultural das
populações receptoras. Além da questão identitária, a recuperação da memória coletiva leva
ao conhecimento do patrimônio cultural da localidade e assim, a sua valorização por parte dos
próprios habitantes do local. Mesmo que essa recuperação da memória coletiva seja para
reproduzir a cultura local para o turista, leva a comunidade receptora a recuperar o seu legado
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e a sua identidade cultural e a apropriar-se de forma sustentável do seu patrimônio cultural.
Ou seja, dificilmente a cultura da localidade será marginalizada por alguém que conhece seu
significado e que conhece o que representa para a sua própria história como cidadão. E mais,
acredita-se que a localidade que buscar trabalhar a parceria cultura e turismo poderá trazer
desenvolvimento local, movimentando a economia municipal, gerando renda, mas
especialmente, mantendo viva a identidade cultural da localidade receptora.
O turismo é tido como umas das principais atividades econômicas do mundo, mais
conhecida por aquele turismo de grande aglomeração ou turismo de massa. Todavia, esse tipo
de turismo costuma trazer muitos impactos negativos para as localidades onde ocorre. Assim
sendo, vem, com o passar do tempo, perdendo essa essência, o turismo que tem como
principal atrativo a oferta cultural histórica tem contribuído para manter e preservar prédios,
bairros e até cidades com a sua identidade cultural, evitando que sejam substituídas por novas
culturas e por novas formas arquitetônicas. Desse modo, a comunidade receptora fortalece sua
identidade cultural na presença do turista, ou seja, a cultura é preparada, reinventada e
encenada para o turismo, porém, essa encenação acaba por motivar o resgate da cultura dita
autêntica. O turismo organizado com base no legado cultural de uma dada localidade permite
que a comunidade queira participar de alguma forma do processo de recuperação da cultura
local e da reconstrução de sua história, permitindo assim que os habitantes da localidade
adquiram consciência do papel que sua cidade representou em determinada época (Ibid,
2000).
De acordo com Ruschmann (1997), a relação entre cultura e turismo deve ter duas bases
de sustentação: a existência da demanda motivada pela busca do conhecimento de culturas
diferentes e a possibilidade do turismo desenvolver-se como objeto de valorização,
preservação e manutenção do patrimônio e da identidade cultural, bem como a promoção dos
bens culturais, o desenvolvimento local e o crescimento econômico de uma comunidade. Para
que a relação entre cultura e turismo ocorra de forma sustentável essa demanda tem que ser
motivada pela busca de conhecimento de culturas diversas e tem que ter a possibilidade do
turismo desenvolve-se como ferramenta de valorização da preservação e manutenção do
patrimônio e da identidade cultural, assim como da promoção econômica e de bens culturais.
3.2 TURISMO CULTURAL: ALTERNATIVA PARA UMA ATIVIDADE SUSTENTÁVEL
Dentre alguns conceitos sobre o turismo cultural pode-se destacar uma definição de
Dias (2006), a qual o define como sendo as atividades turísticas relacionadas à vivência do
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conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos
culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura. Em outras
palavras, pode-se dizer que o turismo cultural está atrelado à historia, ao cotidiano, ao
artesanato, enfim, aos aspectos da cultura humana.
De acordo com Barretto (2007), O turismo cultural não é nenhuma novidade. Porém, o
interesse das pessoas nesse segmento turístico tornou-se mais evidente a partir da
intensificação do processo de globalização, onde o tempo livre aumentou, tornou-se mais
acessível à informações, e como conseqüência disso despertou-se o interesse nas pessoas em
procurar novas atividades, dentre elas conhecerem o seu passado histórico e até mesmo novas
culturas, descobrir novos costumes, dos mais diversos tipos de povos que existem no mundo,
com suas interessantes particularidades.
Nesse contexto segundo Dias e Aguiar (2002), o turismo cultural está entre os
principais segmentos da atividade turística, está ligado a vários outros nichos mercadológicos,
sua principal característica é a educação, proporcionada ao turista no sentido de conscientizar
a preservação do local visitado. No entanto para que esse processo educacional aconteça é
necessário que esteja ciente que a comunidade local tem uma função de grande importância,
no que diz respeito a organização das ações voltadas ao desenvolvimento do turismo cultural,
tendo em vista que o cotidiano da comunidade é um fator de enriquecimento para experiência
do visitante, e também aumenta o sentimento de apropriação por parte dos habitantes da
localidade.
É bem verdade que enquanto ainda existem pessoas que não valorizam sua própria
cultura, turistas de toda parte do mundo estão cada vez mais interessados em descobrir novas
coisas, e estão se tornando cada vez mais exigentes com relação aos lugares que visitam; esses
turistas apreciam a criação de artesanato, a fabricação de alguns objetos, a história daquela
comunidade, o patrimônio histórico e cultural, ou seja, eles não apenas visitam o local,
procuram sempre interagir da melhor forma com a comunidade; sendo assim, o turismo
cultural tornou-se uma maneira de obter, tanto recursos que contribuam na preservação da
herança cultural, como de gerar o desenvolvimento econômico local, regional ou até mesmo
nacional; através de um processo educativo, e sem dúvida, além desses benefícios, uma
maneira de manter esse patrimônio vivo para as gerações futuras (BARRETTO, 2007).
Observando-se os turistas culturais, pode-se identificar algumas peculiaridades como:
geralmente são pessoas que possuem um nível educacional elevado, consciência ambiental,
visão do contexto mundial mais ampla, sempre mostram o interesse por outras culturas,
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gastam mais e permanecem no local por mais tempo. Em sua maioria são clientes refinados e
que valorizam a autenticidade do local (DIAS, 2006).
Sendo assim, para Nascimento (2008), o turismo cultural trata-se de uma atividade
turística onde as pessoas aproveitam suas viagens para conhecer a diversidade cultural
existente no mundo. Contudo, os turistas podem trocar experiências com a comunidade local.
No entanto deve-se tomar cuidado com essa troca de experiências, pois muitas vezes, as
localidades não tem uma cultura tão resistente e acabam se apropriando dos costumes das
pessoas que as visitam, e a comunidade fica influenciada pelos turistas através da maneira de
falar, de se vestir, dentre outras coisas. Mudam os costumes, os valores, podendo trazer danos
à comunidade receptora. Em outros casos, se a comunidade receptora tem uma cultura
resistente, o turismo cultural trará benefícios à localidade e com isso, estará fortalecendo
ainda mais a sua identidade.
No entanto, para Barretto (2007), apesar do turismo cultural ter aumentado, em todo o
mundo os segmentos turísticos mais procurados ainda são os que proporcionam lazer,
procuram ainda mais praias, principalmente as destinações mais populares que estão em maior
evidência. O Brasil tem muito a ser explorado nesse segmento turístico, porém é necessário
também que haja um interesse, uma motivação por parte da população, para que todo o
potencial existente, através da tamanha diversidade que encanta turistas de toda a parte, possa
ser explorado, de maneira que possa trazer benefícios para o país.
4 IDENTIFICAÇÃO DAS POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DO MUNICÍPIO E PROPOSTA DE UM ROTEIRO CULTURAL
Desde o início da colonização do município de São José de Mipibu, por volta do
século XVI, a cidade passou a extrair da terra as sementes que trariam seu desenvolvimento.
No entanto, o município possui diversas potencialidades turísticas, principalmente voltadas ao
seguimento de turismo cultural, as quais são apresentadas a seguir.
Museu do Vaqueiro – Localizado na Fazenda Bonfim, o Museu do Vaqueiro é um
espaço onde estão expostos vestimentas e objetos de um dos personagens mais conhecido da
cultura sertaneja, o vaqueiro. O museu enfoca o vaqueiro como figura central, em torno da
qual se desenrolam as atividades do cotidiano. Estão retratadas as atividades geradoras das
riquezas econômicas e culturais que caracterizaram o período do Ciclo do Couro no Rio
Grande do Norte e conta com os benefícios da Lei Estadual Câmara Cascudo.
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Dentre os objetivos do Museu, além de apreciação dos objetos e cultura referente ao
Vaqueiro, o espaço abriga a Escola de Jovens Sanfoneiros. O Museu tem um caráter
educacional, a partir de como seu acervo é exposto, isto é, em diálogo com a literatura, a
música, a história e a arte contemporânea. A fotografa e artista Angela Almeida, assina a
curadoria da exposição “O Vaqueiro – um homem universal”.
Também nas dependências da referida fazenda acontece o Forró da Lua, que teve
início em 2002, quando o engenheiro agrônomo Marcos Lopes, realizou em sua fazenda
chamada Fazenda Bonfim, a 1ª Pega de Boi no Mato, campeonato inspirado numa atividade
tradicional da pecuária nordestina, onde o vaqueiro adentra pela caatinga para pegar o boi que
se embrenhou pela mata. Depois da competição, a noite acabou em forró. Foi a partir dessa
festa, e a pedidos dos amigos, que Marcos Lopes começou a promover um forró uma vez por
mês em sua fazenda. Como o próprio nome diz, o Forró da Lua é especial porque acontece um
sábado por mês, no período da lua cheia. Uma festa-tributo ao mais autêntico ritmo
nordestino, o forró pé de serra. A fazenda onde ocorre o Forró da Lua pertence à família de
Marcos Lopes desde 1939. O cenário também foi palco para as gravações do filme “O homem
que desafiou o diabo”.
Também podemos encontrar outros potenciais turísticos na cidade como:
A Produção ceramista – A produção ceramista no município iniciou pelas mãos de
Marta Job com a construção de verdadeiras obras de arte em cerâmica, e hoje seus filhos dão
continuidade ao trabalho. Assim caracterizando uma das potencialidades turísticas do
município de São José de Mipibu. Nas lojas também funcionam as oficinas onde o visitante
pode observar a confecção das peças e a compra de produtos artesanais feitos em cerâmica
vermelha.
A Igreja Matriz – A Igreja Matriz de Santana e São Joaquim é um dos marcos da
religiosidade mipibuense. Localizada no centro da cidade, possui imagens de grande valor
histórico, além do seu padrão arquitetônico. A igreja possui um lavabo, uma peça em pedra
sabão, tombada pelo Patrimônio Histórico.
Como um dos marcos da religiosidade mipibuense a Igreja Matriz pode ser explorada
por dois segmentos turísticos, o turismo religioso e o turismo cultural. Sendo possível à visita
para contemplação do monumento.
O Mercado Público – O mercado público municipal possui um grande potencial
turístico, principalmente no que se diz respeito ao turismo cultural, pois reúne vários aspectos
característicos da cultura local, o que possibilita crescimento cultural e amplia a vivencia de
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novas experiências para os visitantes. Além de ser um local de comercialização de produtos
oriundos do município e inserindo diretamente a comunidade local na atividade turística.
A Escola Estadual Barão de Mipibu – em 1879, o então Barão de Mipibu, o senhor
de engenho Miguel Ribeiro Dantas, por meio de um decreto imperial, doa ao município a
“Casa de Instrução”, batizada como Grupo Escolar Barão de Mipibu, para ser sede da
primeira escola do município.
Com o passar do tempo, a escola teve seu nome modificado para Escola Estadual
Barão de Mipibu, cuja ainda está em pleno funcionamento nos níveis de educação básica e
com projeto de educação para jovens e adultos – EJA, até os dias atuais.
Indústria de Móveis INESMOL – Localizada na BR 101 a INESMOL, tem como
principal atividade a confecção de móveis rústicos voltados a diversos ambientes. Atua no
mercado desde 1988, sua atividade comercial sempre esteve associada às atividades sociais,
entre elas a geração de empregos e a educação. Atualmente a mão de obra empregada é quase
na sua totalidade, formada na própria indústria.
Além disso, desenvolve ainda, atividade educacional para formação de mão de obra
especializada. Os móveis possuem design exclusivo e são confeccionados artesanalmente,
preservando-se a forma original da madeira. As madeiras utilizadas são maciças, tratadas em
estufa e submetidas a rígido controle dos órgãos de defesa do meio ambiente. O acabamento
pode ser "natural" ou "envelhecido".
Tendo em vista a quantidade de recursos turísticos e culturais existentes no município,
propõem-se o seguinte roteiro, que poderia ter início no período matutino:
Chegando ao município às oito horas da manhã, seguindo para o centro da cidade para
contemplação da escola Barão de Mipibu e dos antigos sobrados e casarões por volta de dez
minutos;
Logo após segue para visita a Igreja Matriz com permanência de mais ou menos trinta
minutos.
Dirigindo-se para as lojas de peças em cerâmicas de Marta Job, tendo trinta minutos
para compras e contemplação.
Em seguida segue para a Indústria de Móveis INESMOL, para conferir a fabricação
artesanal de móveis rústicos, permanecendo no local por volta de vinte minutos.
E por fim segue-se para as dependências do Museu do Vaqueiro, ou seja, a Fazenda
Bonfim, para visita no museu e no local onde é realizado o Forró da Lua passando em média
trinta minutos no local.
Esta proposta de roteiro tem duração média de duas horas.
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5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa científica, de acordo com Cervo e Bervian (1996, p. 44) “é uma atividade
voltada para a solução de problemas, através do emprego de processos científicos.” Ainda
sobre o assunto, Gil (1996, p. 19) afirma que:
A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos. Na realidade a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados.
Segundo Marconi e Lakatos (2001), a pesquisa é um procedimento formal que utiliza
métodos de pensamento reflexivo, requer um tratamento de modo científico que se constitui
na busca em conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.
Neste capítulo expõe-se como se caracteriza a presente pesquisa, bem como o universo da
mesma. A metodologia aplicada para coleta e análise dos dados desta pesquisa, será abordada
através de diversos autores.
5.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo, pois através dela buscou-se responder a
um questionamento, que envolviam os motivos do município de São José de Mipibu não
desenvolver a atividade turística em seu território. Partiu-se da ideia de que o turismo cultural
pode ser uma alternativa de desenvolvimento local, já que o município tem potencial e
atrativos turísticos.
Tem a forma de pesquisa descritiva, já que procura analisar os atrativos culturais do
município em questão, para que o turismo seja impulsionado no local e venha a transformá-lo
em uma alternativa de desenvolvimento local.
5.2 UNIVERSO DA PESQUISA
O universo da pesquisa, segundo Marconi e Lakatos (2001, p. 108), “é o conjunto de
seres animados ou inanimados que apresentem pelo menos uma característica em comum”.
Na presente pesquisa, o mesmo é constituído pelo município em estudo, visto que se busca o
planejamento e implantação do turismo na região, efetivamente junto com a participação e o
envolvimento da população local objetivando desenvolvimento do turismo sustentável.
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5.3 COLETA DOS DADOS
O presente trabalho foi realizado através de pesquisas bibliográficas que, de acordo
com Marconi e Lakatos (2001), tratam-se do levantamento de todas as bibliografias já
publicadas, em forma de livros, publicações avulsas e imprensa escrita. Os principais autores
utilizados para a realização deste trabalho foram, Barretto, Dias, Horta, Bartholo, Sansolo,
Bursztyn, Nascimento, Ruschmann, Amaral entre outros, além artigos científicos e
documentos de órgão públicos, principalmente do Ministério do Turismo.
Com o subsídio dessas leituras, foi criado o referencial teórico, no qual os temas
abordados foram: patrimônio cultural e identidade, turismo de base local, assim como
questões que envolvem cultura e turismo.
Deste modo, a pesquisa de campo para levantamento de informações foi realizada no
município de São José de Mipibu, durante o mês de novembro de 2010, onde foi feita a
identificação dos recursos turísticos culturais, com ênfase no patrimônio material, tendo em
alguns locais ligações diretas com o patrimônio imaterial, foram produzidos imagens
fotográficas, para registro das condições físicas de cada local visitado. Além de um estudo
com o intuito de aprofundar os conhecimentos sobre o patrimônio, objetivando associar a
atividade turística a esses locais de acordo com a realidade de cada um deles.
5.4 ANÁLISE DOS DADOS
A partir dos dados coletados no momento da pesquisa de campo para identificar os
potenciais turísticos, foram escolhidas fotografias das potencialidades, assim como levantadas
suas principais características e potencialidades a serem trabalhadas durante o roteiro cultural.
6 CONSIDERAÇÕES
Este trabalho foi realizado com o objetivo de propor um roteiro cultural, na tentativa
de buscar desenvolver turisticamente o município de São José de Mipibu, que possui diversos
recursos culturais, porém, ainda não conta com um fluxo regular turistas para o município.
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O roteiro proposto para o município de São José de Mipibu constitui-se em uma
alternativa para o desenvolvimento local, pois o município possui uma grande vocação
cultural para o turismo e diversas potencialidades para atender a esse segmento, dispondo de
muitos recursos culturais. Porem observou-se que, apesar de todo o potencial cultural
existente no município, é necessário melhorar a oferta de recursos e serviços, e investir mais
em equipamentos turísticos.
Mesmo o município possuindo todos esses recursos culturais, a população não
reconhece a importância que esses recursos têm para o turismo, sendo necessário envolve-la
diretamente na atividade, através de um trabalho de educação patrimonial, para que a
comunidade possa então se apropriar desses recursos e assim, valorizar a cultura local,
gerando benefícios através do turismo.
Pode-se perceber a necessidade tanto do investimento financeiro como da participação
da iniciativa pública e privada, bem como também, da conscientização da população para que
assim, os aspectos positivos existente possam ser bem aproveitados e as necessidades possam
ser reduzidas de forma a atender a demanda turística e da própria comunidade local.
A prática do turismo trará o reconhecimento do município de São José de Mipibu em
diversas esferas. Na questão social, pode possibilitar à sociedade local desenvolver-se em
termos de conhecimento, para que assim possa melhor atender o visitante. Na questão
cultural, a população poderá apropriar-se da cultura local, valorizando e reconhecendo o valor
do patrimônio existente no município. Quanto à questão histórica, o município poderá inserir-
se de forma mais efetiva no cenário potiguar reconhecido por suas contribuições ao
patrimônio cultural do estado.
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