Artigos 3 - Eu, Já Defunto, Deixo Para Meus Herdeiros (Janaina Mello)

8/18/2019 Artigos 3 - Eu, Já Defunto, Deixo Para Meus Herdeiros (Janaina Mello)

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Revista UltramaresRevista UltramaresRevista UltramaresRevista Ultramares Artigos Nº 8, Vol. 1, ago-dez, 2015, pp. 179-195 ISSN 2316-1655 179

“EU, JÁ E!UN"#, EI$# %&'& (EUS )E'EI'#S...*

E+do da+ /e0a0/a+ +o/a/+, 4/o+ e o+e+ de Se0g/pe El 'e7 8o+"e+ae8o+ Jd//a/+ +eee8/+a+∗∗∗∗.

"I, ALREADY DEAD, I LEAVE TO MY HEIRS…"Study of social hierarchies, haits a!d custos of Ser#i$e D%el Rey i! ei#htee!th&ce!tury Le#al

'ills(

)a!ai!a *ardoso de Mello

'ESU(#9

O artigo utiliza testamentos e inventários setecentistas acondicionados no Arquivo Geral do Judiciáriode Sergipe, para demonstrar como se configuravam as hierarquias sociais em So !rist"vo, alcunhadapor Sergipe #$%l &e', evidenciando seus personagens, os (ens financeiros entre suas vontades edestina)*es, (em como ressaltando as contendas que or(itavam essa documenta)o+ #esse modo,(uscase uma reconstitui)o parcial de tra-et"rias que permitam compreender um aspecto maisintimista da hist"ria local+

+alaras&chae- .estamento/ 0nventário/ ierarquias Sociais/ Sergipe+

&:S"'&;"9

.he article uses 2ills and inventories of eighteenth centur' put up in the General Archive of the Judiciar' of Sergipe, to demonstrate ho2 if social hierarchies formed So !rist"vo, nic3named ('Sergipe #4%l &e', sho2ing his characters, the financial assets (et2een their 2ill and destinations, as2ell as emphasizing the contentions that or(it this documentation+ .hus, a partial reconstruction oftra-ectories that allo2s to understand a more intimate aspect of local histor'+.ey/ords- .estament/ 0nventor'/ Social ierarchies/ Sergipe+

I80od


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>undada em 1?95, a !apitania de Sergipe #$%l &e' surgiu da necessidade de e


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O estudo das hierarquias sociais na Am8rica portuguesa, com foco nos testamentos e

inventários de Sergipe #$%l &e' no s8culo H;000, (usca evidenciar as vontades dos testadores

na transmisso de suas riquezas+ osto que, de(ru)andose na partilha dos (ens e do direitodas sucess*es nos testamentos 8 possvel verificar seus personagens Ptestadores,

testamenteiros e inventariantesQ, os (ens financeiros entre suas destina)*es, (em como

ressaltamse as contendas que or(itavam essa documenta)o+ #esse modo, idealizase uma

reconstitui)o parcial de tra-et"rias que permitam compreender um aspecto mais intimista da

hist"ria local em seus há(itos e costumes+

O corte cronol"gico adotado nessa pesquisa compreende o perodo de 17=5 a 179? na

!omarca de So !rist"vo, a partir de seis testamentos e nove inventários acondicionados noArquivo Geral do Judiciário de Sergipe+ .am(8m foram consultados documentos do Arquivo

ist"rico Rltramarino, referentes Ouvidoria na !apitania de Sergipe #$%l &e'+

o+ 4e8+ e de/>o ao+ e+ e0de/0o+, e+0e?o /8a /+@0/a

o Livro de .estamento nX 1, delimitado entre 17=5 e 179?, seis registros a(ordam

diretamente a cidade de So !rist"vo+ O primeiro, datado de 57 de mar)o de 17=5, apresentou

a contesta)o dos herdeiros assinatura do testador, denunciando ainda a aus:ncia de folhas+

o foi possvel recuperar as identidades do testador e do testamenteiro no documento 16+

Bas essa no era uma rea)o e


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a afilhados e 0gre-a de ossa Senhora do Socorro, al8m de esmolas para a Ordem .erceira de

So >rancisco1D+

o terceiro documento, produzido de 1D de fevereiro de 179F, cu-a testadora 8Archangela ereira de Almeida e o testamenteiro >rancisco da Bota &a(ello, foram declaradas

vontades religiosas e garfos de prata, (ot*es de ouro, escravos, entre outros (ens, e deirancisco Joz8 de Santa &ita PtestadorQ incu(iu o Alferes Joze

de Sei


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#os seis testamentos pesquisados, cinco determinavam doa)*es de patrimInio e

esmolas s Ordens religiosas, configurados várias vezes como Tvontades religiosasU e

formalizando assim uma pralores e seu inventariante Ale+ 0nventários+ !


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O inventário dos (ens de Joze !ardozo de Santa Anna e !ardula Baria de Sam Joze foi

feito por Luiz into de &ezendes em 56 de -aneiro de 17==, relacionou fivelas de ouro, fivelas de

liga de ouro, fivela de pesco)o de ouro, (rinco de ouro, (reve de ouro, (ot*es de punho de ouro,la)os de ouro, anel de ouro com pedras, alamares de ouro, (oceta de prata, ca(os de faca de

prata, garfos de prata, argolas de prata, colheres de prata, cai+ 0nventários+ !


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mesa, cai+ 0nventários+ !+ 0nventários+ !


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or fim, foram inventariados em 67 de novem(ro de 179? os (ens de Aguida >rancisca

de Goes, tendo como inventariante >rancisco Havier de Gouvea, listando como (ens uma casa

de taipa co(erta de telha em terras do %ngenho 0tapuranga, canas, pes de a)Ycar, tachos deco(re, treze escravos e dvidas69+

A preocupa)o permanente com a caridade religiosa e a posse de (ens religiosos Pde

orat"rios, imagens de santos e at8 uma (i(lioteca com livros eclesiásticosQ por parte dos

testadores e inventariados evidencia um comportamento social permeado pela influ:ncia

e+ 0nventários+ !erreira da !unha/ @A&&O!O, elio %strela+ !idade de Sergipe #$%l &ei O atrimInio e o.urismo no !entro ist"rico de So !rist"vo, Sergipe+ Reista Rosa dos Ve!tos, n+DP0;Q, outdez, 6516, p+?6+F1 SA.OS, ;era Baria dos+ As tutoras e a educa)o dos "rfos da elite setecentista sergipana+ Anais %letrInicos

do ; !ongresso @rasileiro de ist"ria da %duca)o C S@%+ So !rist"vo Rniversidade >ederal de Sergipe/Araca-u Rniversidade .iradentes, 655=+ p+ 1+ #isponvel emhttp222+s(he+org+(rnovocongressosc(he?pdfDFD+pdf , acesso em 1?56651+


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elevado o valor para 119=^11 e Jozefa Baria de Serqueira era proprietária do maior

quantitativo individual com 1=5^7F6+

Aa8do o po+-oe 0e?ela o+ 4/o+ e o+e+ da ;oa0a de S=o ;0/+@?=o

A leitura dos testamentos e inventários produzidos para serem pu(licizados no $ost&

orte permite descrever os há(itos e costumes que norteavam parte da sociedade da !apitania

de Sergipe #$%l &e'+

.ratando da vida familiar e das condi)*es de privacidade nos domiclios coloniais, ahistoriadora Leila Bezan Algranti ressaltou o caráter estratificado da sociedade colonial cu-a

condi)o legal era (alizada por (rancos e negros, livres e escravos+ FF esse sentido, os

inventários pesquisados na !omarca de So !rist"vo revelam a posse de terras e homens, de

stios, fazendas e escravos nos arrolamentos de (ens, delimitando as hierarquias sociais

sergipanas no setecentos+

#os nove inventários pesquisados, oito apresentam a propriedade de escravos entre os

(ens listados+ % dentre os seis testamentos apresentados, cinco revelam a posse de escravos,

sendo que em apenas um deles, tendo por testadora %scolástica de Alme'da de Bendon)a

P1795Q, há uma determina)o para a concesso de alforrias+

%ra costumeiro dei


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Ainda so(re as rela)*es de socia(ilidade nas casas, Algranti referese a colheres e garfos

como o(-etos raros, usados em ocasi*es especiais, denotando a precariedade dos utenslios nas

refei)*es+ #ese modo, aportandose em relatos de via-antes, enfatizou

Qarfos, e!tCo, se I>( E todas as classes sociais coe&se co as Cos, eso ao se e!trar !o s=culo >I>( +or essa =$oca, isita!do Salador,Li!dley oserou Bue Gera costue do $a2s coer co as Cos, eso Bue os co!idados

fosse fi!os(F?

or outro lado, em Sergipe #$%l &e' encontramse nos inventários de 17=F a 179D uma

lista de colheres de prata, ca(os de faca de prata, garfos de prata, copo de vidro, sopeiras epratos finos rasos+ .am(8m o testamento de Archangela ereira de Almeida P179FQ inclui garfos

de prata na partilha dos (ens, indicando a aprecia)o de Tcostumes requintados e rarosU mesa+

ara o cuidado com a ilumina)o das moradias ao anoitecer so arrolados candeeiros e

casti)al de lato relacionados nos inventários sergipanos+ !onforme Algranti T%m geral

queimavase "leo nos lampi*es, candeias e candeeiros de lato, disponveis em vários tamnhos,

com ou sem vidroUF+

Aliás, ouro, prata, co(re, lato e marfim, al8m da madeira e do couro, eram a mat8ria prima

de vários o(-etos de adorno pessoal ou uso dom8stico em Sergipe #$%l &e'+ %ncontramse

fivelas de ouro e prata, anel de ouro, (rincos de ouro, (ot*es de punho de ouro, la)os de ouro,

(oceta de prata, argolas e cai


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(((P rou$as, acessrias e


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(((P o traalho $ereou o cotidia!o dos i!di2duos e troue di!aiso ao i!terior dosdoic2lios, fosse ele diri#ido $ara a susist!cia e co!suo dos oradores, fosse oltado

$ara o ercado(D5

Salientase tam(8m a cria)o de animais como ocupa)o tendo em vista (ois, vacas,

novilhos, (ezerros, cavalos, (estas, gado cavalar e pastos listados nos inventários+ Lem(rando

se que alguns animais eram utilizados na empresa a)ucareira+

A cultura da cana de a)Ycar tam(8m se materializa nas (olandeiras D1 legadas em dois

inventários P17== e 1795Q, al8m dos vários engenhos constantes em testamentos e inventários+

&afael &i(eiro ressalta ainda que as culturas do ta(aco e da canadea)Ycar, aumentaram

o com8rcio local, ocasionando a circula)o de novos produtos, impulsionando mercados, a

cria)o e amplia)o de novas vilas e cidades, influenciando na vida social da @ahia e de Sergipe

#$%l &e'D6+

a listagem dos inventários a presen)a constante de ta(aco de fumo, canas, cairancisco Joz8 de Souza P179DQ

e de Baria >rancisca da Silveira P179?Q+ Já nos inventários, a menso s dvidas aparece seisvezes+

%m am(os os documentos tam(8m se revelam nos inventários a patente de .enente

!oronel do inventariado Antonio Simoens dos &eis P1795Q e nos testamentos as patentes do

!apito Serafim Bendes de Souza PtestamenteiroQ em 1795, do Alferes Joze de Sei


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>lorencio &odrigues dos An-os PtestamenteiroQ, tam(8m em 179D+ Ao analisar a ocupa)o dos

testamenteiros e inventariantes na !apitania de Sergipe #$%l &e', a pesquisadora %ug:nia

Andrade ;ieira da Silva identificou que 6` de !apitesmor das %ntradas, 6` de !oron8is, F`de !apitesmor, 7` de !apites, 9` de adres, 11` de Alferes e ` no possuiam cargos

evidenciados+ #entre os inventariantes havia 1 Juiz, 1 .enente !oronel, 6 Alferes, 6 !apites

mor, 6 Sargentosmor, 6 .enentes e !apites+DF

os s8culos H;00 e H;000 a mulher da alta casta social era uma moeda valiosa no sistema

produtivo, pois o dote que trazia consigo era responsável por investimentos na via(iliza)o

material da famlia+ #e acordo com a historiadora Baria @eatriz izza da Silva

ua!do u casal calculaa o dote $ara a $rieira filha Bue casasse, faia u c;lculo do seu $atri!io !o oe!to e atriu2a&lhe o eBuiale!te J sua le#2tia, acresce!tada !o;io co o alor calculado da ter?a $arte dos e!s de cada u e dos Buais $odia dis$orliree!te( (((P $or orte de u dos $ro#e!itores, s ia J cola?Co etade do alor do dote,

fica!do a outra etade $ara Bua!do orresse o se#u!doDD(

ara o perodo estudado em Sergipe #$%l &e', a refer:ncia aos dotes dei


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territ"rio pacfico, transparecendo quer nos confrontos violentos quanto nas contesta)*es

apresentadas nos pr"prios testamentos+

As propriedades querem em seus aspectos econImicos ou s"cioculturais sugeriam aperpetua)o de grupos com poder aquisitivo ostentat"rio+

Os inYmeros documentos acondicionados no Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe

possuem dados ricos em informa)*es so(re os modos de vida que nos do a antever as rela)*es

de socia(ilidade nas quais várias famlias estavam imersas+

!ertamente, um estudo como esse C se ampliado em seu recorte cronol"gico e geográfico

C será responsável por complementar as lacunas ainda e


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e Almas de 0ta(aiana, uma das que se criaram na !apitania de Sergipe del &e'+ %scolhido Jooda !osta >eio PdesistiuQ+

X 0nventário 57?, !ai+ I!e!t;rios+ !


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http222+histed(r+fe+unicamp+(rnavegandoartigosVpdfBariaVelenaV>leudesc, 19=+

R%S, Baria .hetis+ Ser#i$e *olo!ial I+ So !rist"vo %#R>S>unda)o Ovi:do .ei

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