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Definição e alteração da energia livre da água no contexto da fisiologia vegetal
Carlos Henrique Britto de Assis Prado 1, Lis Schwartz Miotto 2, Luciane Pivetta 2,
Marlei Leandro de Mendonça 2 1 Professor Associado do Departamento de Botânica da Universidade Federal de São
Carlos 2 Alunas do curso de graduação, curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal
de São Carlos
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Botânica, São Paulo, Brasil
13565-905
Introdução
A água líquida é o meio onde a vida surgiu e acontece. A estrutura e as
propriedades físico-químicas da água são essenciais em processos como a fotossíntese,
as relações hídricas e a nutrição mineral. Sua função na planta está ainda relacionada
com o crescimento celular, manutenção da turgescência por meio da pressão hidráulica,
resfriamento de superfícies e manutenção do fluxo em massa no corpo da planta. A água
é o veículo de transporte de longa distância através do xilema e do floema. Transporte de
curta distância por meio da difusão, da embebição e da osmose e o fluxo em massa no
transporte de longa distância são fenômenos vitais dependentes de água.
A molécula de água apresenta um átomo de oxigênio com alto valor de
eletronegatividade (3,5), inferior somente ao flúor (4,0) na tabela periódica. Ligado
covalentemente ao oxigênio há dois átomos de hidrogênio com eletronegatividade bem
menor (2,1). Essa diferença entre os átomos de oxigênio e hidrogênio na água resulta em
maior probabilidade do elétron ser encontrado próximo ao oxigênio. O resultado dessa
desigualdade eletrônica é a formação de um dipolo, com pólos positivos próximos aos
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hidrogênios e o pólo negativo próximo ao oxigênio. A constante dielétrica da água, uma
grandeza que representa a polaridade das moléculas, é uma das maiores entre os
solventes. Portanto, a água é um meio eficaz para a interação com outras substâncias
que apresentem pólos ou cargas, mas não com substâncias apolares. Portanto, é difícil
misturar óleo (praticamente apolar) com água (polar).
Os elevados pontos de fusão e ebulição são atribuídos à considerável energia
requerida para romper as interações polares hidrogênio-oxigênio entre as moléculas de
água. Essa propriedade de coesão das moléculas confere integridade a um volume de
água sob forças externas como as forças de tensão ou pressão. Devido à elevada
constante dielétrica, o dipolo água adere às superfícies sólidas que apresentem ao menos
um pouco de polaridade (madeira, papel, solo, parede celular), mas dificilmente adere às
superfícies com polaridade reduzida (metais e gorduras). Portanto, além de ser coesa por
meio de interações entre suas moléculas a água é também capaz de aderir nas
superfícies polarizadas, chamadas de forma conveniente em relações hídricas como
“superfícies molháveis”. Coesão e adesão do meio aquoso são eventos importantes para
o transporte hídrico do fluxo em massa da raiz à copa.
A energia potencial da água (Potencial Hídrico)
A energia potencial contida em um volume de água tem origem na capacidade
desse volume de realizar interações químicas envolvendo a eletrosfera da molécula de
água. Essas interações podem ser a solvatação de um soluto ou a adesão em uma
superfície “molhável”. Essa energia potencial pode ainda estar contida na capacidade da
água se movimentar em um fluxo em massa, por exemplo, por meio de pressão ou
tensão. A tensão é originada quando o volume de água é succionado. Pressão e tensão
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podem ser expressas em unidades de força por área. De forma conveniente, é possível
converter o potencial químico da água medido em Joule (energia) em unidades de
pressão. As unidades de pressão geralmente são expressas em atmosfera (atm),
milímetros da coluna de mercúrio líquido (mm Hg), em bar, ou em Pascal (Pa). Essa
última (Pa) é a mais utilizada em fisiologia vegetal. Joule (J) é uma unidade que equivale
ao produto da força (Newton) pelo deslocamento (metros) de um determinado corpo:
NmJ = (I)
Em que:
J = Joule
N = Newton
m = metro
A capacidade de trabalho associada à água deve considerar o volume dessa
substância, pois quanto maior o volume considerado maior a energia armazenada.
Portanto, é necessário expressar a quantidade de energia (J) por volume de água. Ao
dividir Joule (Newton por metro na fórmula I acima) por um volume de água (por exemplo,
por metro cúbico), o resultado é Newton por metro quadrado:
23
−= Nmm
Nm (II)
O produto N m-2 é uma unidade de pressão (força por área) denominada Pascal
(Pa). Essa unidade é pequena para os valores freqüentemente utilizados em relações
hídricas nas plantas. Por exemplo, um Pascal equivale somente a 10-5 atmosferas. Dessa
forma, é conveniente multiplicar Pascal (Pa) por 106, resultando em mega Pascal (MPa),
uma unidade bem mais prática e usual nos problemas de relações hídricas nos vegetais.
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O potencial da água (ou potencial hídrico) é simbolizado pela letra grega psi
maiúscula (Ψ) e representa a energia da água disponível para realizar trabalho, ou seja, a
energia “livre” na água. O potencial hídrico pode ser alterado pela temperatura, pela
gravidade, ou pelo contato da água com solutos ou com superfícies “molháveis”. Portanto,
a energia livre da água está relacionada tanto à cinética das moléculas (estado térmico
molecular representado pela temperatura) quanto às propriedades físico-químicas da
água, a capacidade de adesão do dipolo água sobre superfícies.
A água pura livre de solutos e de superfícies de contato, sob pressão e temperatura
ambiente constantes apresenta uma energia livre adotada como a energia de referência
para o potencial hídrico. Essa energia pode ser alterada, ou seja, aumentar ou diminuir
em função da temperatura, da pressão e da interação das moléculas de água líquida com
sólidos e superfícies. A referência padrão conveniente adotada para a água pura sob
pressão e temperatura constantes é o zero de energia, ou seja, 0 Joule (0 J).
Qualquer mudança de temperatura, contato com superfícies molháveis ou
solvatação de moléculas capazes de interagir com a eletrosfera da água altera a energia
livre. Se considerarmos a energia livre da água pura (0 Joule) como referência, o
potencial hídrico pode ser alterado para valores menores que a referência, ou seja,
menores que zero (valores negativos). Quando a energia livre da água é alterada,
ocorrem mudanças na capacidade da água de realizar trabalho, seja um trabalho na
forma de solvatação (envolvendo fisicamente os solutos), na forma de energia cinética
(fluxo em massa de água dentro de um condutor) ou na forma de capacidade de adesão à
uma superfície (molhando uma superfície).
Outro fator que altera de forma significativa a energia livre da água é a gravidade,
principalmente quando a água forma uma coluna contínua e na vertical (perpendicular à
superfície do solo). Devido à força gravitacional, a pressão que a água exerce sobre ela
mesma depende da altura da coluna contínua de água. A pressão hidráulica é maior na
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base da coluna. Com essa alteração devido à gravidade, o potencial hídrico é alterado ao
longo de uma coluna íntegra de água. Por exemplo, a cada 10 m de altura de uma coluna
de água a pressão aumenta 0,1 MPa na base dessa coluna. No, entanto, se a força
gravitacional for alterada é claro que a pressão na base da coluna de água será também
alterada. Por exemplo, próximo ao equador terrestre a influência da força da gravidade é
menor.
A energia livre da água alterada por solutos, superfícies molháveis, pressão, tensão
ou força gravitacional é calculada de forma separada, mas não excludente. Por exemplo,
em uma altura da coluna de água a adição de uma superfície molhável ou de um soluto
irá alterar imediatamente a energia livre da água nessa altura, mas sem interferir na
pressão na base dessa mesma coluna. Portanto, soluto, superfície e pressão são
considerados em separado para se obter a energia livre da água (o potencial hídrico). Da
mesma forma, quando é exercida uma pressão a ação da água sobre os solutos ou sobre
as superfícies não é alterada de forma significativa. Portanto, é possível obter o potencial
hídrico por meio da soma das diferentes interferências sobre a energia livre de um volume
de água.
A letra grega psi maiúscula (Ψ) do potencial hídrico também é usada para
representar cada um dos fatores (pressão, presença de superfícies molháveis, força
gravitacional) que podem alterar a energia livre da água de forma simultânea. Para indicar
cada um desses fatores é utilizada uma letra acompanhante à direta de Ψ. A energia livre
alterada por pressão é grafada como Ψp, pela gravidade Ψg, e alterada por superfície
Ψm. Essa última não tem correspondência com a palavra superfície, pois o potencial
hídrico alterado por superfície molhável é denominado de “potencial matricial”, Ψm. A
energia livre da água alterada por solutos é grafada colocando a letra pi minúscula (π) ao
lado de Ψ resultando em Ψπ, o potencial osmótico. Nesse caso π é utilizado para indicar
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que no potencial osmótico (Ψπ) há uma relação entre temperatura absoluta e
concentração de solutos considerados simultaneamente e que determinam o valor de Ψπ.
Portanto, o potencial hídrico da água (Ψ) é determinado pela somatória de Ψp, Ψg,
Ψm e Ψπ, pois esses componentes de Ψ não se excluem e são independentes:
Ψ = Ψp + Ψg + Ψm + Ψπ (III)
Onde:
Ψ = potencial hídrico
Ψp = potencial de pressão
Ψg = potencial gravitacional
Ψm = potencial matricial
Ψπ = potencial osmótico
Na figura 1 estão representados os fatores que condicionam a energia livre da
água nas relações hídricas das plantas. Note que a água pode estar livre da atuação de
um deles, ou em uma situação onde praticamente todos (soluto, superfície, pressão) são
importantes, pois atuam simultaneamente para determinar a energia livre da água (o
potencial hídrico).
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-
Alteração da energia livre da
água por superfície, gravidade, soluto,
temperatura, pressão e tensão
0 MPa
AUMENTO DA PRESSÃO
Exemplo: entrada de água com o correspondente
aumento de volume da célula e da
pressão de parede
ADIÇÃO DE SOLUTO
Exemplo: adição de solutos como
óxidos, sais, proteínas, amido
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA
Exemplo:
exposição da planta ou calor
AUMENTO DA TENSÃO
Exemplo: tensão da coluna de
água no xilema devido à sucção
da copa.
- - -
+ +
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA
Exemplo: exposição da planta ao frio
+
ADIÇÃO DE SUPERFÍCIE MOLHÁVEL
Exemplo: contato da água com solo, parede celular,
papel, vidro
- INFLUÊNCIA DA
GRAVIDADE
Exemplo: diminuição da latitude e
correspondente diminuição da pressão na base de uma coluna
de água
INFLUÊNCIA DA GRAVIDADE
Exemplo: aumento da
latitude e correspondente
aumento da pressão na base de uma coluna
de água
Água pura sob tem-peratura e pressão constante
Figura 1 - A linha horizontal representa a referência da energia livre da água (0,0 MPa). Nessa condição a água está livre de solutos e de superfícies molháveis, sob constante pressão, temperatura e gravidade. As setas indicam o aumento (+) ou decréscimo (-) da energia livre da água alterada pela adição de superfície, soluto, mudança de temperatura, pressão ou latitude. A energia livre da água em uma determinada situação é condicionada por todos esses eventos que podem ser simultâneos.
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Alteração do potencial hídrico por solutos, tempera tura, pressão, tensão, superfície e gravidade
Alteração por superfícies molháveis
O potencial hídrico diminui quando a água entra em contato com superfícies
carregadas ou polarizadas, como as superfícies de papel, madeira, tijolo, concreto, amido,
gelatina e as superfícies das partículas do solo. Esses materiais apresentam superfícies
molháveis, pois são materiais que apresentam pólos ou cargas em suas superfícies.
Adicionalmente, esses materiais podem apresentar uma grande área de contato com a
água no seu interior devido à porosidade de seu volume, resultando em pequenos canais
denominados de capilares. Alguns materiais molháveis como o amido e a gelatina não
apresentam necessariamente poros, mas a água penetra em seus volumes molhando
primeiro a parte mais externa e depois o interior. Os volumes capazes de aderir grande
quantidade de água no seu interior são denominados de matrizes.
A água adere imediatamente no exterior e penetra em direção ao interior da matriz
formando uma franja (ou frente) de molhamento. Se a matriz for sólida e apresentar
capilares finos (solo, tijolo, papel) a frente de molhamento se locomove rapidamente por
esses capilares em direção ao interior da matriz. Se a matriz for semi-sólida e sem
capilares (gelatina, massa de amido) a frente de molhamento se locomove mais
lentamente em direção ao interior da matriz molhando molécula por molécula ou
sucessivos aglomerados de moléculas.
A diminuição da energia livre da água por matrizes é grafada como Ψm. A água
aderida às superfícies apresenta movimentos de vibração, rotação e posição mais
limitados, o que diminui sua capacidade de realizar trabalho químico. Portanto, a água
aderida às superfícies molháveis apresenta energia livre menor em relação à mesma
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água fora da matriz (livre das superfícies de adesão). Dessa forma, a ação das matrizes
diminui a energia livre da água por meio de suas superfícies molháveis.
A origem da força capilar é a capacidade de adesão da água nas superfícies
internas do capilar. Por exemplo, isso ocorre nos capilares do solo formados pelo espaço
entre as partículas de argila, silte e areia, nos capilares da parede celular formados pelo
espaço entre as fibras de celulose, ou em um capilar formado por um fino tubo de vidro. A
água adere nas superfícies internas secas diminuindo a energia livre e se deslocando em
direção à região que ainda não foi molhada no interior do capilar. O volume de água no
centro do capilar que não tem contato com a superfície molhável apresenta uma energia
livre maior e se desloca em direção à região de menor energia livre (próxima à superfície
interna do capilar) movimentando o volume de água dentro do capilar em direção às
superfícies ainda secas. Esse movimento resulta em um fluxo em massa de água dentro
do capilar que pode ser contra a força gravitacional elevando a coluna de água.
Matrizes competem por água. É o caso da matriz orgânica como a parede celular
(denominada também de matriz extracelular) e de uma matriz inorgânica (partículas de
argila, silte e areia no solo). Essas duas matrizes em contato com uma solução competem
pela água. A água tende a entrar na parede celular, pois o diâmetro dos capilares da
parede celular é menor que dos capilares formados entre as partículas do solo. Ou seja, a
força capilar é maior na parede celular que no solo e a água tende a sair do solo e entrar
(embeber) a parede celular. Esse é o início da absorção de água por um pêlo radicular.
Alteração pela gravidade
O efeito da gravidade condiciona o movimento da massa de água para baixo, em
direção ao centro da Terra em um fluxo em massa. A coluna de água, portanto, tende
sempre a descer, a menos que uma força oposta de igual intensidade anule a força
gravitacional. É possível isso ocorrer na planta! Devido à força de sucção da copa a
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coluna de água dentro do xilema é elevada a até dezenas de metros em sentido contrário
à força da gravidade.
Na superfície próxima ao equador a influência da força gravitacional terrestre é
menor sobre a energia livre da água. Na superfície próxima aos pólos ocorre o contrário.
Quando a Terra completa a mesma volta em torno de seu eixo uma referência fixa na
superfície próxima ao pólo gira em menor velocidade que uma referência fixa na
superfície próxima ao equador. Ou seja, a velocidade de um ponto fixo no equador é
maior que nos pólos enquanto a Terra gira, pois nosso planeta tem a forma próxima de
uma esfera. Dessa forma, em um mesmo giro a distância circular percorrida pela
referência no equador é sempre maior em relação à distância circular percorrida pela
referência no pólo. Distância maior percorrida no mesmo tempo (um giro, 24 horas) só é
possível se a velocidade do ponto no equador for maior.
Uma conseqüência dessa maior velocidade é que na região do equador os objetos
tendem a ser arremessados para o espaço mais facilmente que nos pólos. Portanto, os
foguetes são lançados o mais próximo possível do equador e não dos pólos. Partindo das
estações de lançamento próximas ao equador os foguetes economizam combustível e
aumentam a eficiência em relação à carga útil a ser lançada. Portanto, uma coluna de
água na região do equador apresenta uma pressão em sua base um pouco menor que a
mesma coluna de água colocada no pólo, pois no equador a coluna de água tende a ser
lançada para fora da Terra mais fortemente, aliviando um pouco o peso em sua base.
Assim, no equador a pressão (componente positivo do potencial hídrico) é sempre menor
em relação ao pólo na mesma altura da coluna de água.
Portanto, o potencial hídrico de um mesmo volume de água apresenta valor menos
positivo no equador. No entanto, o potencial gravitacional (Ψg) dificilmente é considerado
em separado em fisiologia vegetal, pois tratamos as relações hídricas de uma célula,
órgão, tecido, indivíduo ou mesmo de uma população de plantas sempre na mesma
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latitude ou em latitudes próximas. No caso de plantas, principalmente árvores altas, a
gravidade atua alterando a pressão nas diferentes alturas da coluna de água. Nesse caso,
a pressão devido à gravidade deve ser considerada. Para fins de fisiologia vegetal, a cada
10 m a pressão em uma coluna de água aumenta em uma atmosfera, cerca de 0,1 MPa.
Ou seja, para manter parada a coluna de água na vertical sem que a massa de água
desça, é necessário aplicar uma força de 0,1 MPa a cada 10 metros de altura nessa
coluna dentro do xilema da planta. Essa força é exercida pela folhagem da copa e
denominada de sucção da copa.
Alteração por solutos e temperatura
O componente que influencia a energia livre da água por meio de solutos e da
temperatura é denominado potencial osmótico (Ψπ). Muitos sólidos podem ser solvatados
por água, ou seja, totalmente envolvidos por uma camada de moléculas de água que isola
cada uma das partículas do sólido na solução, formando uma capa de solvatação
envolvendo o sólido solúvel. Não é o caso de óleos, gorduras e de alguns sólidos (metais)
que praticamente não apresentam pólos ou cargas em suas superfícies. No processo de
solvatação do soluto a energia livre da água é alterada.
A água interage por meio de pólos ou cargas do soluto. Nessa interação a água
diminui a energia cinética molecular, pois está conectada eletronicamente ao soluto.
Nessa situação, são limitados os movimentos de vibração, rotação e mudança de posição
das moléculas de água. Portanto, potencialmente, a energia química da água é menor
nessa situação. A adição de solutos em um volume determinado de água (aumento da
concentração do soluto) diminui a energia livre, ou seja, diminui o potencial hídrico. Onde
não há soluto dissolvido como na água pura o valor de (Ψπ é zero (Figura 1). Ao
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adicionarmos um soluto à água pura o potencial hídrico diminui, tornando-se negativo
(Ψ<0,0 MPa, Figura 1).
Por outro lado, se aumentarmos a temperatura da solução, as moléculas de água
aumentam sua vibração, rotação e freqüência de mudança de posição. Portanto, há um
aumento da energia cinética das moléculas de água. Nesse caso a energia livre também
diminui, pois parte do trabalho químico possível de ser realizado já ocorreu com a maior
vibração, rotação e freqüência de mudança de posição. Dessa forma, com o aumento da
temperatura, a energia potencial da água é reduzida (Figura 1).
O potencial osmótico (Ψπ) considera simultaneamente o efeito da temperatura e da
concentração de solutos sobre a energia livre da água em uma solução, em componentes
diferentes em uma mesma fórmula. A concentração é expressa em molal para o soluto e
a temperatura em Kelvin para a solução (solvente e soluto). O número de moles de um
soluto por kg de solvente (molalidade) é a melhor forma de expressar a concentração
quando tratamos da energia livre da água em solução.
Por meio da molalidade é possível obter a osmolalidade, que considera o número
de moles de partículas osmoticamente ativas por kg de solvente, expressa em osmol. A
osmolalidade é diretamente proporcional às propriedades coligativas das soluções, como
a pressão osmótica, a elevação do ponto de ebulição, de congelamento e a depressão da
pressão de vapor após adição de partículas osmoticamente ativas. Dessa forma é
importante não só o número de moles do soluto na solução, mas o número de partículas
osmoticamente ativas que cada molécula do soluto originou após a solvatação. Por
exemplo, um mol de NaCl adicionado a um kg de água origina cerca de 1,8 moles de
partículas osmoticamente ativas (Na+ e Cl-) sob 25°C. Poderia originar 2 moles de
partículas osmoticamente ativas, mas o que ocorre não é a dissociação total de NaCl
nessas condições:
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8,1][
][][ =+ −+
NaCl
ClNa (IV)
Cada soluto apresenta uma interação com a água, originando um número de partículas
osmoticamente ativas. Por exemplo, a sacarose (C12H22O11) não tem cargas como o
cloreto de sódio (NaCl) e também não se dissocia na água originando outras partículas
osmoticamente ativas. Para cada mol de sacarose em solução aquosa existe o mesmo
número (um mol) de partículas osmoticamente ativas. Como conseqüência cada soluto
apresenta uma constante de dissociação, originando um número determinado de
partículas osmoticamente ativas em solução aquosa. Portanto, em conjunto com a
temperatura e a concentração, a constante de dissociação também deve ser considerada
para o cálculo do efeito de solutos sobre a energia livre da água. A constante de
dissociação (i) apresenta unidades. Essa constante, na verdade, é dependente da
temperatura e da concentração do soluto, mas não da pressão sobre uma solução. Em
fisiologia vegetal o valor de i é geralmente tratado como independente do número de
moles do soluto e da temperatura da solução. Cada soluto apresenta um valor de
constante de dissociação. A constante de dissociação pode ser definida como a relação
entre o número de partículas do soluto originado da sua dissociação e o número inicial de
moléculas do soluto (fórmula IV). Alterações nos valores de i geralmente não são
considerados em fisiologia vegetal, mas podem ser ocasionadas por: a) soluções com
elevada concentração, b) alterações imprevistas das forças intermoleculares na solução,
c) reações soluto-solvente, d) formação de moléculas complexas na solução após a
adição do soluto.
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A concentração, a temperatura e a constante de dissociação de um soluto são
considerados como componentes que determinam Ψπ em uma solução, por meio da
equação de van't Hoff:
ΨΨΨΨπ = - i C R T (V)
em que:
R = constante de proporcionalidade (0,00831 kg MPa mol–1 K-1)
T = temperatura absoluta (em K)
C = concentração do soluto na solução, em molal, ou seja, moles de soluto por kg do
solvente (mol kg-1)
i = constante de dissociação.
Alteração por pressão e tensão
A pressão hidrostática de uma solução é grafada como Ψp. O efeito da pressão
aumenta a energia livre da água (Figura 1). Por exemplo, quando há entrada de água na
célula ocorre o correspondente aumento de volume, pois não é possível comprimir água.
Esse aumento de volume empurra a parede celular. Por reação mecânica, a parede
empurra o protoplasto com força em sentido contrário, pressionando o protoplasto em
direção ao interior celular. Essa pressão aumenta a energia livre da água. Um exemplo
macroscópico é a pressão de um embolo em uma seringa. Se o embolo é pressionado
empurrando a água dentro da seringa a tendência é a água do interior da seringa sair,
pois com o aumento da energia livre dentro da seringa a água caminha para a região de
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menor pressão (fora da seringa) onde apresentará menor energia livre sem a pressão do
embolo.
Outro exemplo é a pressão que a coluna de água exerce sobre o seu próprio
volume quando a água é posicionada em uma coluna na vertical. A cada 10 metros ocorre
uma pressão equivalente a uma atmosfera (cerca de 0,1 MPa, 760 mm Hg, ou 1,0 bar)
sobre a coluna de água. Essa pressão existente na coluna de água é conseqüência da
força da gravidade sobre a massa de água posicionada na vertical (ver item anterior).
Uma árvore com 30 m de altura mantém a coluna de água sem movimentação e na
vertical dentro do xilema exercendo uma força contrária à força gravitacional por meio da
sucção da copa. Essa força contrária à pressão é denominada de tensão ou força de
sucção.
Sucção é uma força oposta à pressão e diminui a energia livre da água. Assim,
pressão e tensão assumem valores opostos (+ e -, respectivamente) na alteração da
energia livre da água. A copa deve exercer sobre a coluna de água uma intensa sucção
não só para manter essa coluna parada na vertical, mas também para movimentá-la em
direção às folhas. Dentro do xilema, a coluna de água está em constante tensão, em
movimento em direção à copa, e com valores negativos de energia livre (Figura 1).
Síntese
A água líquida é o meio e o veículo essencial para o metabolismo vegetal. A água é
reativa e realiza trabalho químico e cinético. Esse trabalho pode ser potencialmente
alterado por meio de solutos, superfícies, pressão, sucção, gravidade e temperatura. A
solvatação de solutos e a adesão da água em superfícies ocorrem devido à interação de
pólos ou cargas desses sólidos com os pólos positivo e negativo da água. A pressão
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sobre a água aumenta o valor do potencial hídrico devido ao movimento cinético potencial
que proporciona, ou seja, um fluxo em massa potencial. Por outro lado, a sucção
ocasiona uma tensão no volume, no sentido contrário da pressão e diminui, assim, a
energia livre da água. A variação da força gravitacional não é considerada significativa
nos problemas de fisiologia vegetal, pois tecidos, indivíduos e populações de plantas são
analisados geralmente em uma mesma latitude na Terra, sem a variação da força
gravitacional. A influência da temperatura sobre o potencial hídrico é tratada de maneira
conjunta com a concentração de solutos por meio da lei de van´t Hoff. O aumento da
temperatura causa maior vibração, rotação e mudança de posição das moléculas de água
diminuindo o potencial de realização de trabalho, pois uma parte desse trabalho já foi
executado por meio da maior cinética molecular imposta pelo aumento da temperatura. As
variáveis como temperatura, pressão, gravidade, superfícies de adesão e concentração
de solutos são independentes, mas não são excludentes na determinação do potencial
hídrico.