Artigos; Capsulite Adesiva Ou Ombro Congelado

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www.ombro.org António Cartucho, Nuno Moura, Marco Sarmento Núcleo de Cirurgia do Ombro - Hospital Cuf Descobertas CAPSULITE ADESIVA OU “OMBRO CONGELADO” A capsulite adesiva ou “ombro congelado” é uma doença de causa desconhecida. Por vezes os doentes associam o seu inicio a um episódio traumático. Outros doentes referiam um quadro de dores ocasionais no ombro, que não impediam as actividades de vida diária e que progressivamente se foi transformando num quadro incapacitante. A capsulite adesiva é mais frequente em doentes do sexo feminino entre os 45 e os 55 anos de idade. Os doentes diabéticos ou com antecedentes de diabetes na família e os doentes com problemas da tiroide têm uam maior probabilidade de desenvolver uma capsulite adesiva. Na capsulite adesiva ou “ombro congelado”, um processo inflamatório dentro da articulação leva a uma diminuição progressiva do fundo de saco axilar, a um encurtamento de todos os ligamentos, á formação de aderências ( pontes entre várias estruturas) e a um aumento da espessura da capsula a qual perde a sua distensibilidade. São estes factos que levam à principal caracteristica desta doença que é a limitação da mobilidade passiva ( aquela que o examinador pesquisa no doente), sobretudo da rotação externa. Classicamente descrevem-se 3 fases desta doença: Uma fase dolorosa, que corresponde ao período de maior inflamação da articulação. O doente sente uma dor predominantemente nocturna que não permite o sono tranquilo e uma redução progressiva da mobilidade que o vai impedindo de levantar o braço e de chegar por exemplo atrás das costas.

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CAPSULITE ADESIVA OU “OMBRO CONGELADO”

A capsulite adesiva ou “ombro congelado” é uma doença de causa

desconhecida. Por vezes os doentes associam o seu inicio a um episódio

traumático. Outros doentes referiam um quadro de dores ocasionais no

ombro, que não impediam as actividades de vida diária e que

progressivamente se foi transformando num quadro incapacitante. A capsulite

adesiva é mais frequente em doentes do sexo feminino entre os 45 e os 55

anos de idade. Os doentes diabéticos ou com antecedentes de diabetes na

família e os doentes com problemas da tiroide têm uam maior probabilidade

de desenvolver uma capsulite adesiva.

Na capsulite adesiva ou “ombro congelado”, um processo inflamatório

dentro da articulação leva a uma diminuição progressiva do fundo de saco

axilar, a um encurtamento de todos os ligamentos, á formação de aderências

( pontes entre várias estruturas) e a um aumento da espessura da capsula a

qual perde a sua distensibilidade. São estes factos que levam à principal

caracteristica desta doença que é a limitação da mobilidade passiva ( aquela

que o examinador pesquisa no doente), sobretudo da rotação externa.

Classicamente descrevem-se 3 fases desta doença:

Uma fase dolorosa, que corresponde ao período de maior inflamação

da articulação. O doente sente uma dor predominantemente nocturna que

não permite o sono tranquilo e uma redução progressiva da mobilidade que o

vai impedindo de levantar o braço e de chegar por exemplo atrás das costas.

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Uma fase congelada em que a dor diminui, mas em que se mantem a

redução da mobilidade, mantendo a incapacidade para uma vida com

qualidade.

Uma fase de resolução em que progressivamente o doente readquire

a mobilidade.

Também classicamente a doença é considerada auto-limitada com

uma duração de cerca de dois anos. No entanto é impossivel pedir a um

doente que tem dores intensas, que não dorme e que tem limitações

importantes da mobilidade, que aguarde nestas circunstâncias 2 anos.

Também mais recentemente tem sido contestado o carácter benigno do

curso desta doença pois verificou-se que uma percentagem importante de

doentes que seguiram a história natural da doença apresentam limitações da

mobilidade que interferem com a qualidade de vida.

O diagnóstico é feito pelo médico. Isto porque como é facil entender

não há nenhum exame que ilustre a limitação da mobilidade passiva,

característica principal desta doença. Por vezes na fase inicial é dificil fazer o

diagnóstico diferencial entre esta doença e o sindrome de conflito sub-

acromial agudizado ( ver artigo) ou a tendinopatia calcificada mas um exame

cuidado, centrado na dor, nos sinais de conflito e nas restrições da

mobilidade leva ao diagnóstico.

Como já se deu a antender os exames complementares são de

valor limitado nesta doença. A radiografia é normal e a ecografia apresenta

por vezes alterações inflamatórias dos tendões. A ressonância magnética

pode mostrar alterações da capsula articular compativeis com esta doença e

alterações inflamatórias ou estruturais dos tendões.

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A maior parte dos doentes que observamos está na fase dolorosa já

há alguns meses e tem francas limitações da mobilidade passiva e activa que

impedem uma vida com qualidade.

O tratamento tem como objectivo inicial a diminuição da dor. A maior

parte dos doentes já fez tratamentos com vários medicamentos sem sucesso.

Também já fez tratamentos de fisioterapia com poucas melhoras. È

importante sublinhar que quando existe um quadro de capsulite adesiva esta

doença se sobrepoe a todas as outras que o ombro possa ter. Assim se

houver uma rotura da coifa ( ver artigo ) demonstrada na ressonância é

fundamental restabelecer a mobilidade e só posteriormente se se mantiver

um quadro de rotura da coifa então tratar esta patologia.

Na nossa experiência a infiltração intra-articular é o acto médico com

maiores probabilidades de controlar o processo inflamatório levando a uma

redução franca da dor e criando a possibilidade de, com fisioterapia, tornar a

ganhar a mobilidade perdida. A grande maioria dos doentes recupera a

mobilidade praticamente completa desta forma. Há no entanto uma minoria

que não fica sem dor com a infiltração ou que tendo ficado sem dor não

consegue na fisioterapia reganhar a mobilidade perdida. Estes doentes têm

indicação cirúrgica.

Embora esteja descrita uma técnica de mobilização do ombro sob

anestesia, ou seja, com o doente anestesiado é forçada a articulação

rompendo assim as estruturas que primeiro cedam, o nosso grupo não a

uiliza.

O tratamento cirurgico é feito por artroscopia ( ver artigo). O

objectivo é, libertar sob visão directa a capsula articular, obtendo uma

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mobilidade passiva praticamente normal. Assim no fim da intervenção

cirúrgica o paciente já não tem a restrição estrutural que lhe impede a

mobilidade e deve de imediato iniciar a recuperação. O nosso protocolo

implica a colocação de um catéter ( tubo muito fino) na indução anestésica,

que permite anestesiar o ombro e o braço. No pós operatório imediato é

possivel demonstrar ao doente a mobilidade conseguida. Nos dias

subsequentes é feita fisioterapia bi-diária sob anestesia loco-regional ( do

ombro e braço) facilitando assim a manutenção da mobilidade conseguida.

Os tratamentos de fisioterapia podem manter-se por mais três meses, na fase

inicial diários, diminuindo posteriormente a frequência à medida que o ganho

de mobilidade se mantem. O mais provável é, que no fim do tratamento, o

doente readquira uma mobilidade muito próxima do normal. As retrições

remanescentes não são impeditivas de qualquer actividade de vida diária.

Em resumo a capsulite adesiva ou “ ombro congelado” é uma doença

de causa desconhecida, mais frequente nas mulheres de meia idade, que se

manifesta por uma dor predominantemente nocturna que perturba o sono e

por uma restrição progressiva da mobilidade do ombro. O diagnóstico é

clinico (feito pelo médico ) e os exames complementares ( RX, Ecografia,

TAC e Ressonância Magnética) são de interesse limitado. O tratamento tem

como objectivo controlar a dor e posteriormente reganhar a mobilidade

perdida. O resultado do tratamento é bom, ficando a maioria dos doentes

sem dores e com uma mobilidade praticamente completa.

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