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590 ISSN 0326-2383 Acta Farm. Bonaerense 24 (4): 590-7 (2005) Recibido el 16 de abril de 2005 Aceptado el 19 de julio de 2005 Atención farmacéutica PALAVRAS-CHAVE: Farmacêutico, Farmácia do setor privado, Prática farmacêutica. KEY WORDS: Community pharmacy, Pharmaceutic, Pharmaceutical practice. * Autor para correspondência: Av. Universitária, 1105 Bairro Universitário - C.P. 3167 - CEP:88806-000 Criciúma – Santa Catarina, Brasil Investigação do Perfil dos Farmacêuticos e das Atividades Desenvolvidas em Farmácias do Setor Privado no Município de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Iane FRANCESCHET 1 * & Mareni Rocha FARIAS 2 1 Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) Av. Universitária, 1105 Bairro Universitário - C.P. 3167 - CEP: 88806-000 Criciúma - Santa Catarina, Brasil 2 Departamento de Ciências Farmacêuticas e Programa de Pós-Graduação em Farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Caixa Postal: 476 - Florianópolis/SC - 88040-900, Brasil RESUMO. O estudo trata de investigar as atividades realizadas por noventa farmacêuticos atuantes em farmácias do setor privado do município de Florianópolis/SC, bem como o perfil destes profissionais e das farmácias, com a finalidade de identificar a prática farmacêutica adotada. A metodologia utilizada foi a pesquisa quantitativa, de caráter descritivo, utilizando como instrumento a entrevista estruturada. A cole- ta de dados foi realizada entre junho e setembro de 2002. Os resultados afirmaram, de maneira geral, que a prática farmacêutica adotada parece estar em desacordo com as atribuições inerentes ao farmacêutico. A regulamentação da profissão preconiza que o farmacêutico é um profissional membro da equipe multi- disciplinar de saúde e suas ações nas farmácias do setor privado devem estar inseridas neste contexto. Ao término do artigo são sugeridos alguns apontamentos de mudanças na estrutura dos serviços desenvolvi- dos atualmente nas farmácias do setor privado, a fim de que realmente gerem resolutividade para os pro- blemas de saúde da população. SUMMARY. “Pharmaceutic profile investigation and activities developed in community pharmacies of Floria- nopolis city, in Santa Catarina State, Brazil”. The present work investigates the activities done by ninety pharma- ceutics that work in community pharmacies of Florianopolis/SC, as well as the profile of these professionals and the pharmacies, with the intention to identify the pharmaceutical practice adopted. The utilized methodology was the quantitative research, with a descriptive character, utilizing as an instrument a structured research. The data gathering was done between June and September of 2002. The results confirmed, in a general way, that the phar- maceutical practice adopted seems not to be according with the pharmaceutics attributions. The profession regu- lation says that that pharmaceutics is a professional member of the multidisciplinary health team and their prac- tices in the community pharmacies should be inserted in that context. At the article end there are some sugges- tions in order to get changes in the structure of the developed services in the community pharmacies, aiming so- lutions to the population health problems. INTRODUÇÃO Em 1988, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que “a busca da saúde median- te o enfoque da atenção primária exigirá a rede- finição dos papéis e funções dos profissionais, incluindo médicos, enfermeiros, farmacêuticos, dentistas, etc., que terão que aceitar sua in- clusão como membros na equipe de saúde” 1 . A busca de consensos sobre o papel do farmacêu- tico nos sistemas de atenção à saúde demonstra a necessidade e importância de incorporar este profissional na equipe multidisciplinar, de forma que auxilie na resolutividade dos problemas de saúde da população. O farmacêutico, especial- mente na farmácia do setor privado, deve pos- suir competências e responsabilidades relacio- nadas ao processo do uso de medicamentos, bem como praticar ações voltadas à orientação primária e prevenção de doenças. Sua importân- cia pode ser medida pela facilidade de acesso da população aos seus serviços, por isso precisa conhecer, aceitar e viabilizar o cumprimento de seu papel social. De acordo com Joaquim Bonal, farmácia é uma profissão sanitária assistencial que faz parte do conjunto das profissões que atendem às ne-

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590 ISSN 0326-2383

Acta Farm. Bonaerense 24 (4): 590-7 (2005)Recibido el 16 de abril de 2005Aceptado el 19 de julio de 2005

Atención farmacéutica

PALAVRAS-CHAVE: Farmacêutico, Farmácia do setor privado, Prática farmacêutica.KEY WORDS: Community pharmacy, Pharmaceutic, Pharmaceutical practice.

* Autor para correspondência: Av. Universitária, 1105 Bairro Universitário - C.P. 3167 - CEP:88806-000 Criciúma – Santa Catarina, Brasil

Investigação do Perfil dos Farmacêuticose das Atividades Desenvolvidas em Farmácias

do Setor Privado no Município de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.

Iane FRANCESCHET 1* & Mareni Rocha FARIAS 2

1 Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) Av. Universitária, 1105Bairro Universitário - C.P. 3167 - CEP: 88806-000 Criciúma - Santa Catarina, Brasil

2 Departamento de Ciências Farmacêuticas e Programa de Pós-Graduação em Farmácia da UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC), Caixa Postal: 476 - Florianópolis/SC - 88040-900, Brasil

RESUMO. O estudo trata de investigar as atividades realizadas por noventa farmacêuticos atuantes emfarmácias do setor privado do município de Florianópolis/SC, bem como o perfil destes profissionais e dasfarmácias, com a finalidade de identificar a prática farmacêutica adotada. A metodologia utilizada foi apesquisa quantitativa, de caráter descritivo, utilizando como instrumento a entrevista estruturada. A cole-ta de dados foi realizada entre junho e setembro de 2002. Os resultados afirmaram, de maneira geral, quea prática farmacêutica adotada parece estar em desacordo com as atribuições inerentes ao farmacêutico.A regulamentação da profissão preconiza que o farmacêutico é um profissional membro da equipe multi-disciplinar de saúde e suas ações nas farmácias do setor privado devem estar inseridas neste contexto. Aotérmino do artigo são sugeridos alguns apontamentos de mudanças na estrutura dos serviços desenvolvi-dos atualmente nas farmácias do setor privado, a fim de que realmente gerem resolutividade para os pro-blemas de saúde da população.SUMMARY. “Pharmaceutic profile investigation and activities developed in community pharmacies of Floria-nopolis city, in Santa Catarina State, Brazil”. The present work investigates the activities done by ninety pharma-ceutics that work in community pharmacies of Florianopolis/SC, as well as the profile of these professionals andthe pharmacies, with the intention to identify the pharmaceutical practice adopted. The utilized methodology wasthe quantitative research, with a descriptive character, utilizing as an instrument a structured research. The datagathering was done between June and September of 2002. The results confirmed, in a general way, that the phar-maceutical practice adopted seems not to be according with the pharmaceutics attributions. The profession regu-lation says that that pharmaceutics is a professional member of the multidisciplinary health team and their prac-tices in the community pharmacies should be inserted in that context. At the article end there are some sugges-tions in order to get changes in the structure of the developed services in the community pharmacies, aiming so-lutions to the population health problems.

INTRODUÇÃOEm 1988, a Organização Mundial da Saúde

(OMS) declarou que “a busca da saúde median-te o enfoque da atenção primária exigirá a rede-finição dos papéis e funções dos profissionais,incluindo médicos, enfermeiros, farmacêuticos,dentistas, etc., que terão que aceitar sua in-clusão como membros na equipe de saúde” 1. Abusca de consensos sobre o papel do farmacêu-tico nos sistemas de atenção à saúde demonstraa necessidade e importância de incorporar esteprofissional na equipe multidisciplinar, de formaque auxilie na resolutividade dos problemas de

saúde da população. O farmacêutico, especial-mente na farmácia do setor privado, deve pos-suir competências e responsabilidades relacio-nadas ao processo do uso de medicamentos,bem como praticar ações voltadas à orientaçãoprimária e prevenção de doenças. Sua importân-cia pode ser medida pela facilidade de acessoda população aos seus serviços, por isso precisaconhecer, aceitar e viabilizar o cumprimento deseu papel social.

De acordo com Joaquim Bonal, farmácia éuma profissão sanitária assistencial que faz partedo conjunto das profissões que atendem às ne-

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cessidades de saúde da população 2. Dessa for-ma, é relevante a discussão - e especialmenteneste estudo com relação às farmácias do setorprivado - da prática farmacêutica que está sendoadotada. Todos os farmacêuticos no exercíciode sua profissão são obrigados a assegurar aqualidade apropriada do serviço que prestam acada usuário. Um serviço farmacêutico amplocompreende atividades que assegurem a saúdee evitem enfermidades na população. Quandose faz necessário tratar uma doença, a qualidadedo processo de uso do medicamento deveriagarantir ao máximo o proveito terapêutico e evi-tar efeitos secundários desfavoráveis. Isso pres-supõe a aceitação, por parte dos farmacêuticos,de uma responsabilidade compartilhada comoutros profissionais e com os usuários pela oti-mização da terapia 3.

A OMS, assim como outros órgãos regula-mentadores do setor de saúde, vêm estabele-cendo alguns critérios a nível mundial relaciona-dos aos serviços farmacêuticos e ao papel desteprofissional no sistema de saúde, sobretudo nasúltimas décadas. Através da análise das reco-mendações preconizadas pela OMS sobre o pa-pel do farmacêutico podem ser estabelecidospadrões de práticas farmacêuticas voltadas paraa realidade de cada país ou região.

O primeiro documento sobre o Papel do Far-macêutico no Sistema de Atenção à Saúde daOMS estabelece que o centro da responsabilida-de do farmacêutico é a aplicação dos conheci-mentos científicos adquiridos sobre o uso apro-priado dos medicamentos, além da prevençãorelacionada aos perigos de seu uso indiscrimina-do 1. Torna-se clara a preocupação em formarprofissionais com perfil qualificado para realizartais atividades, buscando a melhoria sistemáticae sustentada do serviço.

Em 1993, a OMS atualizou o documento so-bre o Papel do Farmacêutico no Sistema deAtenção à Saúde, na segunda reunião em Tó-quio, priorizando os aspectos relacionados àatenção farmacêutica, tornando-os essenciais pa-ra a prática profissional. Na segunda parte destedocumento a Federação Internacional dos Far-macêuticos (FIP) estabeleceu as Boas Práticasde Farmácia: Normas de Qualidade de ServiçosFarmacêuticos, enfatizando as boas práticas paraas funções do profissional dentro da farmácia,interação com outros profissionais e necessida-de de educação continuada 3.

Em Vancouver, Canadá em 1997, a OMS rea-lizou a terceira reunião do Grupo de Consulto-ria, o tema de discussão foi a preparação do far-

macêutico para as tendências, ressaltando a ne-cessidade de mudanças curriculares. Este docu-mento aponta um novo perfil profissional parao chamado “farmacêutico sete estrelas” 4.

No entanto, percebe-se que o profissionalencontra dificuldades que inviabilizam a utili-zação dos modelos de âmbito global recomen-dados por cientistas e instituições da área da sa-úde. A busca de consensos sobre a prática pro-fissional gera muitas discussões, principalmentepela inadequação de um único modelo genera-lista para as mais diversas realidades do Brasil.Um passo importante foi a criação da Propostado Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêuti-ca, nucleado pela Organização Pan-Americanade Saúde (OPAS), com o objetivo de promovera sistematização das experiências e buscar estra-tégias para a promoção da Atenção Farmacêuti-ca. De acordo com o documento, os componen-tes mais amplos da atividade prática do far-macêutico são: educação em saúde (incluindopromoção do uso racional de medicamentos);orientação farmacêutica; dispensação; entrevistafarmacêutica; seguimento/acompanhamento far-macoterapêutico; registro sistemático das ativi-dades, mensuração e avaliação dos resultados 5.

Com base nas recomendações da OMS, bemcomo na Legislação Brasileira (Lei N°5.991/1973) 6 e nas Resoluções N° 308/1997 7 eN° 357/2001 8 do Conselho Federal de Farmácia,objetivou-se investigar o perfil dos farmacêuti-cos e das atividades que executam nas farmá-cias onde atuam. O panorama encontrado apon-ta a necessidade de reestruturação dos serviçosde farmácia, a fim de que realmente gerem re-solutividade para os problemas de saúde da po-pulação.

METODOLOGIAA pesquisa utiliza o método quantitativo para

coleta das informações, com caráter descritivo,tendo como objeto de estudo o grupo de far-macêuticos atuantes em farmácias do setor pri-vado do município de Florianópolis/SC. Faz-senecessário esclarecer a denominação utilizadapara as farmácias incluídas na pesquisa, as quaissão farmácias comerciais de dispensação, aber-tas ao público, com exceção das farmácias pri-vativas (não abertas ao público em geral) e dasfarmácias magistrais.

O universo da pesquisa é constituído por far-macêuticos que cumprem efetivamente o horá-rio de trabalho. Para obter maior controle e evi-tar duplicidade nas respostas, foi selecionadoum farmacêutico por farmácia para participar da

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pesquisa. Nas farmácias que possuíam dois oumais profissionais contratados, somente um foisorteado e participou do estudo. Considerou-seesse método mais coerente, conforme opçõesde resposta do roteiro de entrevista.

Para obter informações às indagações pro-postas no trabalho, utilizou-se a pesquisa decampo como instrumental, sendo a entrevista omecanismo utilizado para a coleta de dados.Utilizou-se a entrevista estruturada ou padroni-zada, ou seja, um roteiro de entrevista foi pre-viamente estabelecido e seguido 9. A primeiraparte do roteiro é composta por informaçõesgerais dos entrevistados e do estabelecimento, asegunda é composta por uma tabela de ativida-des (72 itens), com cinco opções de repostas: a)se a atividade não é executada, b) se a atividadeé executada pelo farmacêutico respondente, c)se a atividade é executada pelo colega far-macêutico, d) se a atividade é executada pornão farmacêutico com supervisão do farmacêuti-co, e) se a atividade é executada por não far-macêutico com ou sem supervisão de não far-macêutico. A terceira parte do roteiro trata deinformações gerais dos serviços. As entrevistasforam realizadas no período de junho a setem-bro de 2002, pela pesquisadora e dois colabora-dores que foram previamente orientados.

Os dados coletados foram armazenados eanalisados no Programa Epi Info Versão 6.04 de2001. Quanto à validade e consistência interna,o instrumento de pesquisa foi previamente ana-lisado pelos integrantes do NAFAR (Núcleo deAssistência Farmacêutica/UFSC) e testado com 8farmacêuticos que trabalham em farmácias dosetor privado no município de São José / SC(Grande Florianópolis) não participantes da pes-quisa, para verificar clareza e objetividade dasquestões.

A pesquisa foi submetida à análise pelo Co-mitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanosda UFSC e aprovada, conforme Parecer N°065/2002.

RESULTADOS E DISCUSSÃOPara efetuar a pesquisa considerou-se, ini-

cialmente a totalidade das farmácias do setorprivado existentes em Florianópolis em feverei-ro de 2002, conforme dados do Conselho Regio-nal de Farmácia de Santa Catarina (CRF/SC). Onúmero total apontava a existência de 181 esta-belecimentos farmacêuticos. Após tentativa decontato com os estabelecimentos, constatou-seque 15 (8,3%) farmácias não foram encontradas(por duplicação de cadastro, fechamento ou en-

dereço inexistente). Além disso, 7 (3,9%) foramcaracterizadas como farmácias privativas, sãofarmácias localizadas normalmente, no interiorde empresas, que atendem apenas funcionários.Por não serem acessíveis ao público em geral,não foram incluídas no estudo. Sendo assim,partiu-se de um total de 159 farmácias do setorprivado existentes no município.

Em 39 (24,5%) estabelecimentos o farmacêu-tico não foi encontrado, após pelo menos trêstentativas de contato telefônico ou pessoal coma farmácia, em dias e períodos alternados. Alémdisso, 30 (25,0%) profissionais foram contacta-dos e não aceitaram o convite, alegando moti-vos como falta de tempo, farmacêutico em perí-odo de férias, licença maternidade, entre outros.Considerando esses percentuais de perda e re-cusa, respectivamente, a população de estudorestringiu-se em 90 farmacêuticos que trabalha-vam em farmácias comerciais de Florianópolis,sendo entrevistado apenas um farmacêutico porestabelecimento.

As farmácias foram categorizadas da seguinteforma: farmácias de rede (existência de 2 oumais farmácias do mesmo proprietário ou grupode acionistas), farmácias em que o proprietárioera o próprio farmacêutico e, ainda, farmáciasem que o proprietário não era farmacêutico(chamados de leigos). Esta categorização foiefetuada para facilitar a análise dos dados e rea-lizar cruzamentos entre variáveis.

É importante salientar o considerável núme-ro de farmácias onde os profissionais estavamausentes nos horários em que foram procura-dos, equivalentes a 24,5% do total de estabeleci-mentos do município. Entretanto, a ausência dofarmacêutico não significa que não é atuante noestabelecimento. Os resultados demonstraramque a ausência do farmacêutico atingiu o maioríndice nas farmácias de proprietários leigos(29,0% do total das farmácias desta categoria),sendo que o segundo maior índice foi verificadonas farmácias de proprietário farmacêutico(15,1%) e o menor índice ocorreu nas farmáciasde rede (14,6%). O índice de ausência mais ele-vado nas farmácias de leigo representa um dadointeressante, visto que somente nesta categoriaos resultados demonstraram que a totalidadedos profissionais exercia a responsabilidade téc-nica, sem funções administrativas de maior im-portância sob sua responsabilidade, como agerência. Supostamente, a presença do profis-sional pode estar mais relacionada com suasfunções de gerenciamento do que com asfunções inerentes à responsabilidade técnica, já

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que nas farmácias onde o farmacêutico é pro-prietário e nas farmácias de rede a presença dofarmacêutico é indispensável para determinadasfunções, sobretudo as administrativas.

Quanto à recusa em participar da entrevista,aproximadamente 32,8% dos farmacêuticos pro-prietários não aceitaram, enquanto este índicefoi de 27,2% para farmacêuticos das farmáciasde rede e de apenas 6,5% para farmacêuticosdas farmácias de proprietário leigo. O principalmotivo de recusa alegado pelos farmacêuticosproprietários foi a falta de tempo.

Características das farmáciasAlgumas questões da entrevista se referiam

aos estabelecimentos onde os farmacêuticospesquisados trabalhavam, já que certas caracte-rísticas dos locais poderiam influenciar no perfilde atividades desenvolvidas. A Tabela 1 de-monstra esses resultados.

Características das farmácias participantes do estudo (n=90)

Categoria Rede 32 (35,6%)da farmácia Proprietário farmacêutico

38 (42,2%)Proprietário leigo20 (22,2%)

Localização da farmácia Centro 29 (32,2%)Bairros 61 (67,8%)

Horário de Oito a dozefuncionamento horas/dia 28 (31,1%)

Treze a quinze horas/dia50 (55,6%)Mais de quinze horas/dia12 (13,3%)

Número de Um 63 (70,0%)farmacêuticos atuantes Dois 21 (23,3%)

Três ou mais 6 (6,6%)

Número de incluindo o(s) farmacêutico(s)colaboradores Até três 39 (43,3%)

Quatro a seis 24 (26,7%)Sete a nove 13 (14,4%)Mais de nove 14 (15,6%)

Tabela 1. Características das farmácias participantesdo estudo.

Quanto à distribuição das farmácias, perce-be-se que dentre as farmácias localizadas nocentro do município, 21 (72,4%) são farmáciasde rede; 4 (13,8%) são farmácias de propriedadede farmacêuticos, enquanto 4 (13,8%) são far-mácias de proprietários leigos. Quanto às farmá-

cias localizadas nos bairros, 34 (55,7%) são defarmacêuticos proprietários, 11 (18,0%) são far-mácias de redes e 16 (26,2%) são farmácias deproprietários leigos. As redes concentram-semais no centro do município, tendo como pecu-liaridade um público predominantemente passa-geiro, enquanto as farmácias de farmacêuticos eproprietários leigos concentram-se mais nosbairros, normalmente com um público mais cati-vo, principalmente moradores locais.

Percebe-se, ainda, o número restrito de cola-boradores por farmácia, uma das possíveis cau-sas de sobrecarga de trabalho, principalmentepara o farmacêutico. O número máximo de co-laboradores foi de 28 numa farmácia de redecom atendimento 24 horas, sendo que 4 desteseram os farmacêuticos e gerentes.

Características dos farmacêuticosO perfil dos farmacêuticos entrevistados po-

de ser visualizado na Tabela 2.Pode-se salientar a questão do número de

farmacêuticos atuantes nas farmácias participan-tes do estudo, que é pequeno em comparaçãocom o horário de funcionamento dos estabeleci-mentos em geral. A legislação vigente no Brasil(Lei N° 5.991/73), preconiza que em todo horá-rio de funcionamento da farmácia deve existirum farmacêutico presente 6. Isso demonstra quea maioria dos estabelecimentos incluídos no es-tudo não cumpre a legislação. Com relação aohorário de funcionamento, das 12 farmácias quefuncionavam acima de 15 horas diárias, 2 (2,2%)disponibilizavam 24 horas de atendimento pordia, ambas contando com 4 farmacêuticosatuantes.

Observa-se o predomínio de mulheres naprática profissional, fato que corrobora com da-dos encontrados por Borges 10 e Santos 11, indi-cando a feminilização da profissão. Quanto àfaixa etária, a média de idade dos farmacêuticosentrevistados foi de 31,9 anos, a idade mínimaencontrada foi de 21 anos e a máxima de 75anos. A análise expõe, ainda, que 75% da popu-lação entrevistada tinham até 38 anos de idade.

Quanto ao local de formação, a maioria dosentrevistados graduou-se na UFSC (71,1%), fatoque pode ser explicado já que Florianópolis é asede da UFSC e boa parte dos egressos estabe-lece-se no mercado de trabalho da região.

Destaca-se uma proporção considerável dosfarmacêuticos entrevistados que cursaram Habi-litação em Análises Clínicas o que, possivelmen-te, reflete a dificuldade do recém-formado emestabelecer-se no setor ou, ainda, a necessidade

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do farmacêutico atuante em farmácia do setorprivado de complementar a formação atravésdesta ênfase, indicando uma possível comple-mentaridade destas áreas.

Quanto à titulação, 2 (2,2%) farmacêuticosrelataram possuir Mestrado –nas áreas de Bio-tecnologia e Farmacologia– sendo que ambosatuavam como responsáveis técnicos e gerentes,um deles era proprietário de farmácia e outroera funcionário. Nenhum referiu ter Doutorado.Constatou-se que 1 (1,1%) farmacêutico possuía,além da graduação em Farmácia, graduação emPsicologia. Além disso, 7 (7,8%) farmacêuticosrelataram ter Cursos de Especialização nas áreasde Farmácia Clínica, Gestão Hospitalar, IndústriaFarmacêutica, Saúde Pública, Análises Clínicas -Citologia, Gestão Estratégica de Empresas eMarketing. Dentre os 7 especialistas, 6 (85,7%)eram proprietários, sócios-proprietários ou só-cios da farmácia e 5 destes possuíam função ge-rencial, apenas 1 (14,2%) era funcionário. Devi-do ao caráter voltado à prática dos cursos de Es-pecialização, verificou-se que foi a opção depós-graduação mais procurada pelos profissio-nais atuantes nas farmácias, apesar do númerode especialistas ainda ser pequeno.

Quanto ao tempo de trabalho na farmácia,os resultados demonstram que 53 (58.9 %) far-macêuticos estão trabalhando no estabelecimen-to atual (na data da pesquisa) por período me-nor que 2 anos. Cerca de 13 (14,4 %) profissio-nais estão no estabelecimento em questão por 2a 4 anos. Ainda 24 (26,7 %) dos farmacêuticos játrabalham na referida farmácia há mais de 4anos.

É importante salientar que a maioria dos far-macêuticos entrevistados possuía mais que umafunção na farmácia, sendo atribuído ao profis-sional o cargo gerencial independente deste sero proprietário do estabelecimento. A FIP reco-menda que a responsabilidade gerencial deveser aceita pelo farmacêutico, buscando sempre aevolução e o melhoramento da qualidade dasua função 3. O documento da OMS de Vanco-ver, em 1997 considera o gerenciamento umadas características do farmacêutico do futuro,que deve administrar eficazmente recursos hu-manos, físicos, financeiros e informacionais 4.Estes documentos apresentam recomendaçõesque devem nortear as ações do farmacêutico nasua prática profissional, não caracterizando obri-gações legais. A atribuição da função gerencialao farmacêutico é relativamente recente em Flo-rianópolis, começou a ser implementada no iní-

Características dos farmacêuticosparticipantes do estudo (n=90)

Sexo Mulheres: 57 (63,3%)Homens: 33 (36,7%)

Faixa etária De 21 a 30 anos: 56 (62,2%)De 31 a 40 anos: 19 (21,1%)Mais de 40 anos: 15 (16,7%)

Local de formação UFSC 64 (71,1%)UFRGS* 8 (8,9%) UNISUL** 5 (5,6%) Outras instituições 13 (14,4%)

Habilitação Análises clínicas 55 (61,1%)Tecnologia de alimentos 9 (10,0%)Tecnologia farmacêutica 1 (1,1%)Somente GraduaçãoFarmácia 25 (27,8%)

Titulação Mestrado 2 (2,2%)Especialização 7 (7,8%)Somente GraduaçãoFarmácia 81 (90,0%)

Tempo de trabalho Menos de dois anos 53 (58,9%)na farmácia Dois a quatro anos 13 (14,4%)

Mais de 4 anos 24 (26,7%)

Função executada Somente resposáveltécnico 31 (34,5%)Somente gerente 4 (4,4%)Ambos 55 (61,1%)

Condição do Proprietário 33 (36,7%)farmacêutico Funcionário 51 (56,7%)na farmácia*** Sócio 12 (13,3%)

Jornada de trabalho Até cinco 4 (4,4%)(horas/dia) De seis a oito 44 (48,9%)

De nove a doze 38 (42,3%)Mais de doze 4 (4,4%)

Remuneração Até 450,00 1 (1,1%)(R$/mês) 451,00 a 700,00 8 (8,9%)

701,00 a 1.300,00 49 (54,4%)1.301,00 a 2.000,00 25 (27,8%)Mais de 2.000,00 7 (7,8%)

Participação em Não participam 8 (8,9%)eventos Menos de uma vez ao anode atualização 17 (18,9%)profissional Uma vez ao ano 27 (30,0%)

Duas ou mais vezes ao ano38 (42,2%)

Tabela 2. Características dos farmacêuticos participan-tes do estudo.* UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.**UNISUL: Universidade do Sul de Santa Catarina.***Mais de uma resposta.

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cio da década de 90. As grandes redes de farmá-cias adaptaram-se a esta mudança principalmen-te para diminuir os custos de mão-de-obra, nãonecessitando contratar um administrador ou ou-tro profissional da área para exercer estafunção. Para o farmacêutico, a aquisição destanova atribuição proporcionou maior autonomiae responsabilidade na farmácia, numa posiçãohierárquica de maior prestígio e poder. Por ou-tro lado, acumulou funções que antes não exer-cia, para as quais não possui formação técnicaadequada.

A maior proporção de farmacêuticos queagrega a responsabilidade gerencial é compostapor proprietários dos estabelecimentos e far-macêuticos que trabalham nas redes. Nas farmá-cias de proprietário leigo, nenhum farmacêuticorespondente exercia função gerencial. Teorica-mente isto proporciona ao profissional ummaior tempo disponível para realizar outras ati-vidades, como aquelas relacionadas ao atendi-mento do usuário. Contudo, especificamentenestes estabelecimentos, isto pode indicar tam-bém uma menor autonomia de decisões.

Com relação à jornada de trabalho, a maioriados farmacêuticos proprietários apresentou umasobrecarga de trabalho, já que permanecia nafarmácia mais de 8 horas por dia (63,1%). Damesma forma, 53,1% dos farmacêuticos que tra-balhavam em farmácias de rede tinham uma jor-nada de trabalho maior do que 8 horas por dia.No entanto, 95,0% dos farmacêuticos que traba-lhavam em farmácias de proprietário leigo de-clararam que permaneciam na farmácia por, nomáximo, até 8 horas diárias. É interessante, nes-te ponto, relacionar a jornada de trabalho dofarmacêutico com sua carga de trabalho, já quetodos os farmacêuticos de farmácia de proprie-tário leigo relataram não exercer função geren-cial.

A relação entre jornada de trabalho e núme-ro de profissionais deve ser enfatizada, haja vis-ta que 52,4% dos farmacêuticos relataram per-manecer na farmácia mais de 8 horas diáriassem contar com outro profissional. Conformeaumenta o número de profissionais para dois etrês, o farmacêutico entrevistado relatou perma-necer menos tempo na farmácia. Este fato de-monstra visivelmente que o acúmulo de funçõesocorre também devido ao pequeno número defarmacêuticos por farmácia.

Conforme aumenta a jornada de trabalho,maior é a renda mensal do farmacêutico. É inte-ressante observar que um farmacêutico entrevis-tado relatou receber mensalmente até R$ 450,00

e ele trabalhava de 9 a 12 horas diariamente nafarmácia, sendo, inclusive, o proprietário e oúnico profissional. Além dele, contava com maisum funcionário. Isso aponta um problema quepode se tornar cada vez mais comum para pro-prietários farmacêuticos: baixa remuneração ealtas jornadas de trabalho, muitas vezes tornan-do inviável a manutenção da empresa.

Quanto à freqüência de participação em cur-sos, palestras para atualização profissional o re-sultado exposto demonstrou que a participaçãomédia do farmacêutico em eventos é de umavez por ano, sendo que os profissionais forma-dos há mais tempo relataram participar mais doque os formados mais recentemente. Conformerecomenda a OMS no informe sobre o Papel doFarmacêutico no Sistema de Saúde, uma das ca-racterísticas do profissional do futuro é “estardisposto ao aprendizado durante toda a carreira,tornando-se um aprendiz permanente” 4.

Características das atividades executadasnas farmácias

Com relação às atividades ou serviços reali-zados pelos farmacêuticos em seus locais de tra-balho, a pesquisa demonstrou alguns resultados,expostos a seguir.

Quanto à proporção de atendimento ao pú-blico realizado pelo farmacêutico, verificou-seque nas farmácias de rede 6,3% dos farmacêuti-cos relataram atender acima de 75,0% dos usuá-rios que freqüentam a farmácia diariamente. Jánas farmácias de proprietário farmacêutico, estaproporção aumenta para 47,4% dos profissionaisentrevistados. Nas farmácias de proprietário lei-go 20,0% dos farmacêuticos atendem mais de75,0% dos usuários. Conforme dispõe a Reso-lução N° 0006 DVS/SC de 15/03/2001, no itemIII, a presença e atuação do profissional far-macêutico é condição e requisito essencial paraa dispensação de medicamentos ao público 12.Os resultados indicam que nas farmácias deproprietário farmacêutico, apesar da maioria dosprofissionais exercer funções administrativas,observou-se a presença mais ativa do farmacêu-tico no atendimento ao público, demonstrandoque os proprietários farmacêuticos participantesdo estudo executam com maior frequência a ati-vidade de atendimento ao público.

Os entrevistados foram questionados quantoao percentual aproximado de casos em queprestam orientações aos usuários sobre indi-cações, contra-indicações, reações adversas, in-terações medicamentosas e posologia de medi-camentos. Constatou-se que a orientação mais

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FRANCESCHET I. & FARIAS M.R.

repassada aos usuários refere-se a indicaçõesdos medicamentos (32,3% dos respondentes re-lataram que orientam mais da metade dos usuá-rios da farmácia sobre a indicação dos medica-mentos dispensados). Entretanto, as orientaçõessobre interações medicamentosas são as menosrepassadas aos usuários (6,7% dos farmacêuticosresponderam que não prestam este tipo deorientação e 54,4% a executam para menos de25% dos usuários da farmácia). Quanto à orien-tação sobre contra-indicações, 72,2% dos res-pondentes relataram orientar menos da metadedos usuários da farmácia. Proporção semelhantefoi encontrada quanto à orientações sobre rea-ções adversas, 70,0% dos entrevistados disseramque orientam menos da metade dos usuários dafarmácia. No entanto, referente à orientação so-bre posologia dos medicamentos, 33,3% dos far-macêuticos responderam que orientam menosda metade dos usuários.

Conforme recomenda a FIP: “... a essênciada atividade farmacêutica deve ser a adminis-tração de medicamentos e outros produtos parao cuidado da saúde, a informação e o assessora-mento adequado aos pacientes, e a observaçãodos efeitos de seu uso...” 3. Verifica-se que ograu de orientações prestado é baixo. As orien-tações mais comumente prestadas se referem aindicação e posologia dos medicamentos. Osmotivos relacionados a estes resultados preci-sam ser investigados mais criteriosamente.

Quanto à confecção e análise de fichas deacompanhamento farmacoterapêutico, 76(84,4%) farmacêuticos entrevistados não confec-cionavam nem analisavam fichas de acompa-nhamento farmacoterapêutico, enquanto 11(12,2%) farmacêuticos relataram utilizá-las paraacompanhamento de pacientes com doençascrônicas; e 3 (3,3%) farmacêuticos utilizavam es-tas fichas para outros casos, a pedido do pa-ciente.

Quanto à existência de um local reservadopara conversar com o paciente, 60,0% dos far-macêuticos entrevistados alegaram que a farmá-cia possui um local mais reservado para atenderos usuários, sendo que destes, 87,1% apontarama sala de aplicação de injetáveis. Não se estabe-lece a existência de um local exclusivo para re-ceber o paciente como pré-requisito para efe-tuar atividades de acompanhamento terapêutico.Um estudo realizado entre farmacêuticos da Es-cócia demonstrou que 40,0% dos entrevistadospossuiam uma área semi-aberta ou fechada (sa-la) exclusiva para a consulta com o paciente 13.É importante levar em consideração a privacida-

de do paciente, mas ao mesmo tempo, umaárea fechada pode deixar o paciente receoso.

Quanto ao tipo de material utilizado paraconsulta durante a atividade prática, 95,6% dosentrevistados relataram utilizar o Dicionário deEspecialidades Farmacêuticas (DEF) para sanardúvidas, sendo que 65,1% destes relataram utili-zar outro material juntamente com o anterior,sendo a maioria de origem comercial. Apenas3,6% dos entrevistados citaram um livro de te-rapêutica e 7,4% citaram livros de farmacologia.O DEF e outras fontes de origem comercial sãode utilização e funcionalidade limitada, possuin-do baixo grau de confiabilidade para as orien-tações sobre o uso correto dos medicamentos.

Outra consideração interessante é o parado-xo de que na era da tecnologia apenas 2 (3,6%)entrevistados citaram a internet como instru-mento de consulta na prática diária da farmácia.Além disso, ninguém citou ter participado deprogramas de ensino à distância. Também nãofoi citado nenhum tipo de material informatiza-do ou programas computacionais específicospara a orientação a pacientes ou profissionaisda saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAISEste levantamento permitiu identificar algu-

mas características sobre a prática farmacêuticadesenvolvida nas farmácias do setor privado deFlorianópolis, as quais representam nitidamenteas dificuldades vivenciadas pelos profissionais,não permitindo seu total desenvolvimento comoprestadores de serviços de saúde, conforme re-comendam os documentos já citados e a norma-tização vigente.

Em 24,5% das farmácias nenhum farmacêuti-co foi encontrado, após várias tentativas de con-tato. Isto demonstra que ainda há dificuldadesem encontrar este profissional da saúde à dispo-sição da população.

Além disso, 70,0% dos estabelecimentos con-tam com apenas um farmacêutico atuante, oque pode ser agravante da sobrecarga de ativi-dades executadas pelo profissional, principal-mente nas farmácias onde o farmacêutico é ge-rente e/ou proprietário. Isso pode indicar a ne-cessidade do profissional replanejar suas ativida-des e reestruturar seu trabalho, contando commaior número de farmacêuticos.

Os resultados apontados demonstram, ainda,que os farmacêuticos entrevistados apresentamdificuldades para desenvolver atividades volta-das à atenção aos usuários de medicamentos, asquais representam sua verdadeira função na far-

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acta farmacéutica bonaerense - vol. 24 n° 4 - año 2005

mácia. Poucos serviços de aconselhamento,acompanhamento e de educação em saúde sãorealizados, de acordo com os dados obtidos.Nas farmácias onde algum destes serviços é exe-cutado, há necessidade de investigação maisaprofundada.

Diante do exposto, verifica-se o apontamen-to para um problema sério de identificação eentendimento das funções do farmacêutico nasfarmácias do setor privado. Ou seja, para quaisatividades este profissional deve realmente dedi-car seu tempo e a partir disso cumprir suasfunções de profissional da saúde? De acordocom os resultados desta pesquisa, a prática pro-fissional executada parece não estar de acordocom as atribuições do farmacêutico, recomenda-das pelos órgãos regulamentadores da profissão.Por isso, de que maneira os farmacêuticos po-dem readequar as atividades práticas e inseri-lasno contexto do sistema de saúde vigente?

Em suma, podem ser destacados a partir dosresultados da análise os seguintes pontos:

1. Necessidade de compreender o papel dofarmacêutico como profissional de saúde paraser capaz de redirecionar o perfil dos serviçosprestados, voltando mais sua atuação para oaprimoramento das atividades de assistência eacompanhamento aos usuários de medicamen-tos;

2. Necessidade de um planejamento estraté-gico do trabalho, a fim de que o farmacêuticopossa organizar as ações prioritárias a seremexecutadas na farmácia do setor privado, deacordo com seu papel na assistência à saúde dapopulação;

3. Necessidade de executar mudanças no en-sino farmacêutico, estimulando o desenvolvi-mento da prática farmacêutica e suprindo as de-ficiências técnicas e de relações humanas rela-cionados à prática.

Conforme evidenciaram os resultados do es-tudo, a prática farmacêutica precisa de um redi-recionamento, a fim de integrar este profissionalno sistema de atenção à saúde, incentivá-lo apromover o uso racional de medicamentos, bemcomo prepará-lo para enfrentar as exigências domercado de trabalho e contribuir para aumentarsua representatividade social.

Agradecimentos. As autoras agradecem a colabo-ração de todos os farmacêuticos que gentilmenteaceitaram participar deste estudo; aos componentesdo Núcleo de Assistência Farmacêutica (NAFAR/UFSC) e aos demais colegas que auxiliaram na cons-trução deste trabalho.

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