árvore de falhas como subsídio na implementação da manutenção

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1 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTE DE CARGA FERROVIÁRIO MARCELO ANDRÉ DE SOUZA GAEDE ÁRVORE DE FALHAS COMO SUBSÍDIO NA IMPLEMENTAÇÃO DA MANUTENÇÃO CENTRADA EM CONFIABILIDADE Rio de Janeiro 2008

Transcript of árvore de falhas como subsídio na implementação da manutenção

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    INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

    ESPECIALIZAO EM TRANSPORTE DE CARGA FERROVIRIO

    MARCELO ANDR DE SOUZA GAEDE

    RVORE DE FALHAS COMO SUBSDIO NA IMPLEMENTAO DA

    MANUTENO CENTRADA EM CONFIABILIDADE

    Rio de Janeiro

    2008

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    INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

    MARCELO ANDR DE SOUZA GAEDE

    RVORE DE FALHAS COMO SUBSDIO NA IMPLEMENTAO DA

    MANUTENO CENTRADA EM CONFIABILIDADE

    Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Transporte Ferrovirio de

    Carga

    Orientador: Prof. Marcelo P. Sucena - D. C

    .

    Tutor: Marclio Eustquio de Oliveira Rocha

    Rio de Janeiro

    2008

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    INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

    MARCELO ANDR DE SOUZA GAEDE

    RVORE DE FALHAS COMO SUBSDIO NA IMPLEMENTAO DA

    MANUTENO CENTRADA EM CONFIABILIDADE

    Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Transporte de Carga

    Ferrovirio do Instituto Militar de Engenharia.

    Orientador: Prof. Marcelo P. Sucena - D. C.

    Tutor: Marclio Eustquio de Oliveira Rocha.

    Aprovada em de outubro de 2008 pela seguinte Banca Examinadora:

    _______________________________________________________________

    Prof. Marcelo P. Sucena - D. C.

    _______________________________________________________________

    Profa Maria Cristina de Fogliatti Sinay PhD.

    _______________________________________________________________

    Profa Vnia Gouveia Barcelos Campos D. C.

    _______________________________________________________________

    Rio de Janeiro

    2008

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus por me conceder sade e paz.

    Aos meus pais e irmos pelas lies de vida.

    A Mariana pela compreenso e apoio..

    minha famlia.

    A MRS Logstica pela oportunidade.

    Aos colegas de trabalho pelo companheirismo e profissionalismo.

    Aos colegas de curso pelos grandes momentos vividos.

    Ao meu orientador Marcelo Sucena e o meu tutor Marclio Eustquio de Oliveira

    Rocha pelo apoio no desenvolvimento do trabalho.

  • 5

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS.............................................................................................. 04

    SUMRIO ............................................................................................................. 05

    LISTA DE ILUSTRAES ..................................................................................... 07

    LISTA DE TABELAS .............................................................................................. 10

    RESUMO ............................................................................................................... 11

    CAPTULO 1 CONSIDERAES INICIAIS ....................................................... 12

    1.1 INTRODUO .............................................................................................. 12

    1.2 OBJETIVO ..................................................................................................... 13

    1.3 - JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 13

    1.4 - METODOLOGIA PROPOSTA ...................................................................... 15

    CAPTULO 2 SUBSISTEMAS FERROVIRIOS ............................................... 16

    2.1 O SISTEMA FERROVIRIO ......................................................................... 16

    2.2 LOCOMOTIVAS ............................................................................................ 21

    2.2.1 MOTOR DIESEL E SISTEMA DE COMBUSTVEL ................................... 24

    2.2.2 GOVERNADOR ......................................................................................... 31

    2.2.3 SISTEMA DE ADMISSO DE AR ............................................................. 34

    2.2.4 SISTEMA DE LUBRIFICAO .................................................................. 35

    2.2.5 SISTEMA DE REFRIGERAO ................................................................ 39

    2.2.6 SISTEMA ELTRICO ................................................................................ 40

    2.2.7 SISTEMA PNEUMTICO .......................................................................... 44

    2.2.8 TRUQUES .................................................................................................. 46

    CAPTULO 3 A ATIVIDADE MANUTENO .................................................... 48

    3.1 IMPORTNCIA DA MANUTENO NO TRANSPORTE FERROVIRIO ... 48

    3.2 DEFINIO DE MANUTENO E SUA EVOLUO ................................. 48

    3.3 DEFINIO DE CONFIABILIDADE, DISPONIBILIDADE E SEGURANA ..52

    3.3.1 CONFIABILIDADE ..................................................................................... 52

    3.3.2 DISPONIBILIDADE .................................................................................... 53

    3.3.3 SEGURANA ............................................................................................ 54

    3.4 MANUTENO CENTRADA EM CONFIABILIDADE .................................. 55

  • 6

    3.5 RVORE DE FALHAS .................................................................................. 56

    CAPTULO 4 ESTUDO DE CASO ..................................................................... 62

    4.1 LOCAL DO ESTUDO DE CASO ................................................................... 62

    4.2 ANLISE DOS DADOS ................................................................................ 65

    4.3 ESCOLHA DO COMPONENTE .................................................................... 70

    4.4 TURBO ALIMENTADOR GM ........................................................................ 72

    4.4. 1 - CONJUNTO CAVILHADO DO TURBO ..................................................... 75

    4.4.2 SEO DAS ENGRENAGENS DE ACIONAMENTO ............................... 75

    4.4.3 SEO DO COMPRESSOR ..................................................................... 76

    4.4.4 ROTOR OU CONJUNTO ROTATIVO ....................................................... 77

    4.4.5 SEO DA TURBINA ................................................................................ 78

    4.4.6 CONJUNTO DA EMBREAGEM DE SOBREVELOCIDADE ...................... 78

    4.5 SINOPSE DO FUNCIONAMENTO DO TURBO ALIMENTADOR GM ......... 80

    4.6 O LOCAL DA APLICAO: OFICINA DE RECUPERAO DE

    COMPONENTES DE LOCOMOTIVAS .................................................................. 81

    4.7 O OBJETO DO ESTUDO DE CASO: LOCOMOTIVAS SD40-2 E SD40-3 ..81

    4.8 ESTUDO DE CASO ...................................................................................... 83

    CAPTULO 5 CONCLUSES E RECOMENDAES ...................................... 90

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 92

  • 7

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 01: Principais componentes de uma locomotiva SD40-2. Fonte: KITAMURA

    (2006) ..................................................................................................................... 22

    Figura 02: Ciclo de trabalho de um motor diesel dois tempos. Fonte: BORBA (2008)

    ................................................................................................................................ 25

    Figura 03: Lavagem do cilindro. Fonte: KITAMURA (2006) ................................... 26

    Figura 04: Compresso do ar dentro do cilindro. Fonte: KITAMURA (2006) ......... 26

    Figura 05: Tempo motor. Fonte: KITAMURA (2006) ............................................. 27

    Figura 06: Exausto dos gases queimados. Fonte: KITAMURA (2006) ................ 27

    Figura 07: Funcionamento de um motor dois tempos turboalimentado. Fonte:

    KITAMURA (2006) ................................................................................................. 28

    Figura 08: Ciclo de trabalho de um motor diesel quatro tempos. Fonte: BORBA

    (2008) ..................................................................................................................... 28

    Figura 09: Ciclos de um motor quatro tempos. Fonte: KITAMURA (2006) ............ 30

    Figura 10: Sistema de Combustvel do motor GM. Fonte: BORBA (2008) ............ 31

    Figura 11: Governador do motor diesel GM. Fonte: Manual GM .......................... 33

    Figura 12: Dispositivo de velocidade do motor diesel GM. Fonte: KITAMURA (2208)

    ................................................................................................................................ 34

    Figura 13: Sistema de admisso de ar da locomotiva SD40. Fonte: KITAMURA

    (2006) ..................................................................................................................... 36

    Figura 14: Desenho esquemtico do caminho percorrido pelo ar em um motor turbo

    alimentado. Fonte: BORBA (2008) ........................................................................ 37

    Figura 15: Sistema de Lubrificao. Fonte: BORBA (2008) .................................. 38

    Figura 16: Sistema de Lubrificao do turbo alimentador. Fonte: BORBA (2008)

    ................................................................................................................................ 39

    Figura 17: Sistema de Refrigerao de uma locomotiva GM. Fonte: KITAMURA

    (2006) ..................................................................................................................... 41

    Figura 18: Alternador de uma locomotiva GM. Fonte: Manual GM ........................ 42

    Figura 19: Modelo de motor de trao GM. Fonte: Manual GM ............................ 42

    Figura 20: Gerador Auxiliar de uma locomotiva GM. Fonte: Manual GM .............. 43

    Figura 21: Grade de Resistncias de Freio Dinmico de uma locomotiva. Fonte:

    Manual GM ............................................................................................................. 44

  • 8

    Figura 22: Compressor refrigerado a ar ................................................................. 45

    Figura 23: Estrutura tpica de um truque de locomotiva Fonte KITAMURA (2006)

    ................................................................................................................................ 46

    Figura 24: Curva da banheira. Fonte: SUCENA (2008) ......................................... 50

    Figura 25: Padres de falhas nas trs geraes. Fonte: SUCENA (2008) ............ 50

    Figura 26: Smbolos de eventos da rvore de falhas. Fonte: Anlise de Falhas

    (Aplicao dos Mtodos de FMEA FTA) Fonte: HELMAN et al.(1995) ........... 59

    Figura 27: Smbolos de portas lgicasda rvore de falhas. Fonte: Anlise de Falhas

    (Aplicao dos Mtodos de FMEA FTA) - Fonte: HELMAN et al.(1995)

    ................................................................................................................................ 60

    Figura 28: Matriz para determinao dos cortes mnimos. Fonte: SUCENA (2008)

    ................................................................................................................................ 61

    Figura 29: Malha Ferroviria da MRS Logstica S.A. Fonte: MRS Logstica S.A.

    (2006) ..................................................................................................................... 62

    Figura 30: Evoluo do transporte anual de cargas da MRS e projeo de

    expanso. Fonte: MRS Logstica S.A. (2008) ........................................................ 63

    Figura 31: Produo Ferroviria em Bilhes de TKU. Fonte: ANTF. (2008) ......... 64

    Figura 32: Volume transportado Milhes de TU. Fonte: ANTF (2008) .................. 64

    Figura 33: Trem Hora Parado Devido a Falhas e Falta de Locomotivas X Meses

    (setembro de 2007 a agosto de 2008. Fonte: MRS Logstica S.A. (2008) ............ 66

    Figura 34: Nmero de Defeitos entre os dias 01/07 e 24/07/08. Fonte: MRS

    Logstica S.A. (2008) .............................................................................................. 67

    Figura 35: Nmero de Reboques entre os dias 01/07 e 24/07/08. Fonte: MRS

    Logstica S.A. (2008) .............................................................................................. 68

    Figura 36: KMED entre os meses de novembro de 2007 e julho de 2008. Fonte:

    MRS Logstica S.A. (2008) ..................................................................................... 69

    Figura 37: MKBF entre os meses de novembro de 2007 e julho de 2008. Fonte:

    MRS Logstica S.A. (2008) ..................................................................................... 70

    Figura 38: Retrabalho em turbo alimentadores GM durante os anos de 2007 e 2008

    ................................................................................................................................ 71

    Figura 39: Arranjo tpico de turbo alimentador. Fonte: Manual GM ....................... 73

    Figura 40: Vista em corte do turbo alimentador. Fonte: Manual GM ..................... 74

    Figura 41: Conjunto cavilhado do turbo. Fonte: Manual GM ................................. 75

  • 9

    Figura 42: Seo de engrenagens de acionamento. Fonte: Manual GM .............. 76

    Figura 43: Seo do compressor. Fonte: Manual GM ........................................... 77

    Figura 44: Rotor ou conjunto rotativo. Fonte: Manual GM ..................................... 78

    Figura 45: Seo da turbina. Fonte: Manual GM ................................................... 79

    Figura 46: Conjunto da embreagem de sobrevelocidade. Fonte: Manual GM ...... 80

    Figura 47: Locomotiva SD40-2. Fonte: MRS Logstica S.A ................................... 82

    Figura 48: Detalhe das orelhas de elefante. Fonte: MRS Logstica S.A ............. 83

    Figura 49: Pareto das falhas do turboalimentador GM ocorridas durantes os anos

    de 2007 e 2008 ...................................................................................................... 85

    Figura 50: Diagrama de causa e efeito das falhas do turboalimentador GM

    ocorridas durantes os anos de 2007 e 2008 .......................................................... 86

    Figura 51: rvore de Falhas do turbo alimentador GM para o evento topo

    vazamento de leo lubrificante .............................................................................. 87

    Figura 52: Matriz de determinao dos cortes mnimos da rvore de Falhas ....... 88

  • 10

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01: Categoria de vages e caractersticas especiais de cada categoria.

    Fonte: ABNT .......................................................................................................... 19

    Tabela 02: Classificao de vages de acordo com peso mximo admissvel para

    cada bitola. Fonte: ABNT ....................................................................................... 20

    Tabela 03: Numerao dos vages. Fonte: ABNT ................................................ 20

    Tabela 04: Regionais as quais os vages pertenciam. Fonte: ABNT .................... 21

    Tabela 05: Levantamento das falhas do turboalimentador GM ocorridas durantes os

    anos de 2007 e 2008 ............................................................................................. 84

  • 11

    RESUMO

    O modal ferrovirio no Brasil, nos ltimos anos, tem apresentado um grande

    crescimento em volume de transporte de cargas. A tendncia deste crescimento

    se manter para os prximos anos. E para atender tal demanda faz-se necessrio

    que as ferrovias estejam preparadas no que tangem os seus processos e grupos

    de ativos.

    A Manuteno dos Ativos tem um papel fundamental no cenrio de

    crescimento da demanda, principalmente, no que est relacionado qualidade da

    manuteno, j que ela est diretamente ligada s questes de segurana,

    confiabilidade e disponibilidade dos grupos de ativos.

    Objetivando isto, pode-se utilizar a Manuteno Centrada em Confiabilidade

    (MCC), pois uma metodologia voltada para maximizao da confiabilidade e

    segurana operacional, por intermdio de planejamento sistmico e com foco na

    funo do sistema, alm da possibilidade de minimizao dos custos e impactos

    ambientais. A MCC prope intervenes baseadas na condio do equipamento,

    ao invs de intervenes baseadas no tempo de operao do mesmo.

    A MCC pode utilizar diversas ferramentas para auxiliar o seu desenvolvimento,

    dentre elas destacam-se a Anlise da rvore de Falhas (FTA Fault Tree

    Analysis), Anlise dos Modos e Efeitos de Falhas (FMEA Failure Modes and

    Effect Analysis) e Anlise dos Modos, dos Efeitos e da Criticidade das Falhas

    (FMECA Failure Modes, Effects and Criticality Analysis).

    Sendo assim, este trabalho tem como objetivo a anlise de utilizao da

    tcnica rvore de Falhas como subsdio para implementao da MCC na MRS.

    Pretende-se ainda avaliar este processo, sob os aspectos pertinentes

    restaurao dos componentes mecnicos da Oficina de Recuperao de

    Componentes de Locomotivas.

  • 12

    CAPTULO 1 CONSIDERAES INICIAIS

    1.1 - INTRODUO

    O sistema ferrovirio brasileiro, desde a primeira ferrovia inaugurada em

    1852 por Baro de Mau, passa por constantes modificaes institucionais. Por

    exemplo, CAIXETA-FILHO et al. (2001) registra trs ciclos distintos do sistema

    ferrovirio brasileiro:

    Primeiro Ciclo: incio, no final do sculo XIX, com a instalao das

    primeiras ferrovias financiadas pelo capital privado ingls e mediante

    concesses do governo;

    Segundo Ciclo: caracterizou-se pelo processo de nacionalizao das

    ferrovias. Para se ter uma idia, em 1929 o Estado detinha 67% das

    companhias ferrovirias brasileiras e era responsvel pela administrao

    de 41% da rede;

    Terceiro Ciclo: o estgio atual em que se encontram as ferrovias

    brasileiras aps o processo de desestatizao da Rede Ferroviria

    Federal S.A (RFFSA).

    O processo de desestatizao do setor ferrovirio foi iniciado com a incluso

    da RFFSA no Plano Nacional de Desestatizao (PND).

    Em princpio, os principais objetivos da desestatizao do sistema ferrovirio

    eram:

    Desonerar o Estado: a RFFSA apresentava dficit operacional de cerca

    de R$300.000.000,00 que eram cobertos com recursos do Tesouro

    Nacional;

    Melhorar a alocao de recursos j que os atrasos sistemticos no

    atendimento aos compromissos eram constantes e a frota de ativos

    operacionais estava em processo continuado de degradao;

    Aumentar a eficincia operacional ante um cenrio de incapacidade de

    investimento;

    Fomentar o desenvolvimento do mercado de transportes: a legislao

    vigente, na poca, para as empresas estatais era um entrave agilidade

    e a uma poltica comercial mais agressiva;

  • 13

    Melhorar a qualidade dos servios.

    importante salientar que o modelo adotado para a desestatizao do setor

    ferrovirio priorizou a linha de negcios de transporte de cargas, deixando o

    transporte de passageiros em segundo plano.

    Assim sendo, o sistema ferrovirio brasileiro foi desestatizado mediante leiles

    pblicos e a malha subdividida em malhas regionais com concesso do governo

    para a explorao dos servios de transporte ferrovirio e o arrendamento dos

    bens operacionais pelas concessionrias.

    Dentre os ativos includos neste processo destaca-se o material rodante,

    fundamental para a existncia do transporte. Esse subsistema de relativa

    importncia para a qualidade e a segurana do transporte ferrovirio de carga, haja

    vista que qualquer falha pode resultar em degradao operacional, impactos

    ambientais e aumento do custo do transporte.

    1.2 OBJETIVO

    O objetivo deste trabalho a anlise da utilizao da tcnica rvore de

    Falhas (AF) como subsdio para a implementao da Manuteno Centrada em

    Confiabilidade (MCC) em oficinas de material rodante ferrovirio. Como forma de

    validar o emprego da AF pretende-se realizar estudo de caso desta tcnica sob os

    aspectos pertinentes recuperao de componentes mecnicos da oficina de

    Recuperao de Componentes de Locomotivas, na MRS Logstica S.A.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    Sabe-se que os veculos so parte integrante dos sistemas de transporte, e

    que sem utilizao correta deles, o nvel de servio produtivo deve ser degradado.

    Algumas partes destes veculos apresentam particularidades quanto ao seu

    grau de criticidade perante o sistema como um todo. Visto isso e avaliando-se os

    dados de manuteno da MRS Logstica, detectou-se alto ndice de retrabalho

    durante os anos de 2007 e 2008 devido s falhas prematuras na operao,

    caracterizando uma baixa confiabilidade dos ativos.

  • 14

    Alm disso, nota-se tambm que o retrabalho afeta diretamente, de forma

    negativa, o ambiente de trabalho das oficinas de campo, das clulas de trabalho da

    oficina de recuperao de componentes e o moral de todos os seus colaboradores.

    Tais falhas propiciam um grande transtorno para as oficinas, principalmente

    para aquelas voltadas para manuteno de veculos ferrovirios, pois influenciam

    na disponibilidade dos veculos para a operao ferroviria, impactando

    diretamente nos seus indicadores e, conseqentemente, nas suas metas.

    Para vencer o desafio de minimizar as falhas crticas em veculos

    ferrovirios, aumentando a sua disponibilidade, pretende-se, neste trabalho, utilizar

    a Anlise da rvore de Falhas (FTA Fault Tree Analysis).

    Com a implantao da rvore de Falhas no processo de recuperao de

    componentes crticos de locomotivas esperam-se alguns ganhos, tais como:

    Aumento da confiabilidade dos componentes;

    Aumento da disponibilidade das locomotivas;

    Eliminar os retrabalhos;

    Otimizar o atendimento aos clientes;

    Melhorar o clima das clulas e o moral dos colaboradores;

    Aumento do volume transportado em relao s falhas em locomotivas;

    Reduo de indicadores de operao da empresa, tais como Trem Hora

    Parado (THP), Locomotiva Hora Parada (LHP), Nmero de Defeitos,

    Nmero de Reboques, KMED e MKBF.

    O THP tem como finalidade medir o tempo total que o trem ficou parado

    devido a algum evento. Estes eventos sero definidos no captulo 4.

    O indicador LHP tem como objetivo medir o valor financeiro total de uma

    locomotiva imobilizada devido alguma falha.

    O KMED o indicador que considera a quilometragem total dividida pelo

    somatrio do nmero de defeitos e o nmero de reboques.

    O MKBF o indicador que considera a quilometragem total dividida pelo

    nmero de reboques.

  • 15

    1.4 - METODOLOGIA PROPOSTA

    Para se atingir o objetivo deste trabalho, pretende-se seguir a seguinte

    metodologia:

    Desenvolver pesquisa bibliogrfica sobre os temas Material Rodante,

    Manuteno Centrada em Confiabilidade e rvore de Falhas a fim de

    obter embasamento terico sobre a tcnica utilizada;

    Identificar a base de dados sobre ndice de retrabalho de componentes

    mecnicos na MRS, para estudo de caso, a fim de selecionar os

    componentes crticos, ou seja, aqueles componentes que apresentaram,

    nos ltimos tempos, um elevado ndice de retrabalho e

    conseqentemente uma baixa confiabilidade;

    Detectar a base de dados sobre as falhas que o componente crtico eleito

    no tpico anterior apresentou para que se tenha todas as informaes

    necessrias montagem da rvore de falhas;

    Desenvolver estudo sobre a metodologia rvore de Falhas baseando-se

    nas informaes referentes s falhas com intuito de adquirir maior

    conhecimento sobre AF e as suas frmulas de anlise;

    Avaliar os resultados obtidos.

  • 16

    CAPTULO 2 SUBSISTEMAS FERROVIRIOS

    2.1 O SISTEMA FERROVIRIO

    O transporte ferrovirio destaca-se entre todos os modais como sendo o que

    possui menor consumo de energia, garantindo um alto desempenho e eficincia no

    transporte tanto de cargas como de passageiros. Esta caracterstica se deve ao

    baixo nvel de atrito entre a roda e o trilho.

    Alm disso, a ferrovia destaca-se por ser um modal rpido, econmico,

    seguro e com menor impacto ambiental, quando comparada ao modal rodovirio.

    O sistema ferrovirio constitui-se em dois grupos principais que so o grupo

    relacionado s operaes ferrovirias, centro de controle operacional, equipagem,

    ptios, terminais e o grupo de ativos ferrovirios.

    As operaes ferrovirias so responsveis, como o prprio nome j diz, por

    todas as operaes ferrovirias desde o dimensionamento (trem ideal, quadro e

    perfil de trao), a classificao (trens de carga, passageiros, expressos, servio,

    mistos), o desempenho (velocidade, elementos restritivos, indicadores de

    desempenho), a movimentao, o planejamento, a programao, o clculo dos

    trens, clculo dos ciclos e a capacidade da via.

    O controle do trfego realizado pelo Centro de Controle Operacional

    (CCO), que concentra em uma s unidade os controles dos sistemas de

    sinalizao, comunicao e a liberao de rotas para que os trens possam se

    movimentar por toda a malha, sendo esta sinalizada ou no.

    A equipagem composta pelos maquinistas, que so responsveis pela

    conduo dos trens. Para que a conduo dos trens seja eficiente e segura, os

    maquinistas so treinados em simuladores de trens, na regulamentao da

    operao ferroviria, nas normas certificadoras da empresa, entre outros.

    As funes dos ptios e terminais so:

    Cruzamento de trens;

    Recepo e formao de trens;

    Centralizao e distribuio de cargas de uma determinada regio;

    Transbordo de cargas entre bitolas diferentes ou troca de truques;

    Carregamento e descarregamento de cargas;

    Armazenagem e estocagem de cargas;

  • 17

    Circulao interna, manobras e estacionamento de veculos ferrovirios.

    Dentre os ativos fundamentais para o funcionamento de um sistema

    ferrovirio esto a via permanente (trilhos, dormentes, fixaes, lastro, sub-lastro e

    infra-estrutura), a eletro-eletrnica (sinalizao, comunicao e controle de trfego)

    e o material rodante (vages e locomotivas).

    A via permanente composta por:

    Trilhos: so a pista de rolamento dos rodeiros ferrovirios. So

    constitudos de boleto, alma e patim. Sua estrutura em ao deve suportar

    a solicitaes de toro, flexo, fadiga e atrito. Os trilhos so ligados aos

    dormentes atravs das fixaes e transmitem as tenses causadas pelo

    peso dos veculos ferrovirios aos dormentes;

    Dormentes: so responsveis por receberem e distriburem a carga

    recebida dos trilhos para o lastro. Podem ser feitos de madeira, concreto,

    ao e polmeros;

    Fixaes: so grampos, tirefes e pregos que possuem a funo de fixar

    os trilhos aos dormentes garantindo a bitola, que a distncia interna

    entre os trilhos;

    Lastro: responsvel pela drenagem da gua, distribuio de tenses

    recebidas dos dormentes, travamento dos dormentes e diminuio das

    irregularidades do sub-lastro para nivelamento dos dormentes;

    Sub-lastro: suas funes so evitar o bombeamento dos finos do solo e

    diminuir a altura de lastro necessrio, evitando assim o maior custo da

    construo da ferrovia;

    Infra-estrutura: formada pelas obras de arte, obras especiais,

    terraplanagem e drenagem.

    A sinalizao, comunicao e controle do trfego possibilitam uma operao

    ferroviria segura e eficiente.

    Sinalizao o conjunto formado por sinais luminosos, sonoros, manuais e

    placas cuja finalidade regulamentar a circulao dos veculos ferrovirios por

    toda malha garantindo a segurana e a eficincia operacional.

  • 18

    Segundo VENNCIO (2008) sistema de comunicao um conjunto de

    mecanismos que possibilita processar e transportar a informao entre estaes e

    equipamentos diversos.

    O sistema de comunicao responsvel pela intercomunicabilidade entre

    todos os equipamentos envolvidos no sistema ferrovirio. Ele controla, enderea e

    gerencia todo o fluxo de dados trocados no sistema.

    Vages so veculos ferrovirios responsveis pelo transporte de cargas,

    no possuindo trao prpria.

    Podem ser classificados de acordo com a sua finalidade, tais como:

    Tipo de produto a ser transportado;

    Tipo de terminal de carga e descarga;

    Tipo de proteo exigida para a carga;

    Condies geomtricas e operacionais das ferrovias onde ir circular;

    Interao com os demais veculos existentes na frota.

    Os vages brasileiros possuem uma codificao padronizada pela ABNT

    que permite identificar cada vago e a sua funo por intermdio de letras.

    A codificao formada por:

    Trs letras: onde as duas primeiras identificam o tipo e o subtipo do

    vago e a terceira indica o peso mximo (tara + lotao) de acordo com a

    bitola da ferrovia;

    Seis dgitos: para numerao nica no Brasil identificando a ferrovia;

    Um dgito verificador: permite ao computador rejeitar erros por distrao

    e de digitao;

    Uma letra opcional: na RFFSA indicava a regional onde o vago estava

    lotado.

    A tabela 01 demonstra a classificao dos vages de acordo com as

    categorias e as caractersticas especiais de cada categoria segundo classificao

    da ABNT.

  • 19

    Tabela 01 Categoria de vages e caractersticas especiais de cada categoria. Fonte: ABNT.

    A tabela 02 ilustra a classificao dos vages de acordo com o peso mximo

    admissvel para cada bitola segundo classificao da ABNT.

  • 20

    Tabela 02 Classificao de vages de acordo com peso mximo admissvel para cada bitola.

    Fonte: ABNT.

    A tabela 03 ilustra a numerao dos vages de acordo com a ferrovia a qual

    ele pertence segundo classificao da ABNT. Pela tabela possvel perceber que

    a classificao refere-se ao perodo anterior da desestatizao do sistema

    ferrovirio, pois menciona a RFFSA.

    Tabela 03 Numerao dos vages. Fonte: ABNT.

    A tabela 04 ilustra a codificao dos vages, utilizada pela RFFSA, com a

    letra indicativa da regional a qual o vago estava lotado.

    Com relao ao grupo de ativos locomotivas, este trabalho as destacar no

    prximo tpico como foco de ateno, pois sero alvo da aplicao da tcnica

    rvore de Falhas.

  • 21

    Tabela 04 Regionais as quais os vages pertenciam. Fonte: ABNT.

    2.2 LOCOMOTIVAS

    Atualmente a maior parte das locomotivas utilizadas para transporte de

    carga utilizam a trao diesel-eltrica, ou seja, um motor diesel gera energia

    mecnica atravs do calor gerado pela queima da mistura ar e combustvel dentro

    dos cilindros do motor. A energia mecnica transferida a um alternador/gerador

    acoplado a este motor transformando-a em energia eltrica que transferida para

    os motores de trao acoplados aos rodeiros, conjunto formado por eixo, rodas e

    rolamentos, a fim de tracionar as locomotivas.

    As locomotivas ainda podem utilizar somente a energia eltrica como fonte

    de energia para trao. Este tipo de trao bastante empregado no Brasil para

    transporte de passageiros.

    Para exemplificar a complexidade de ligaes e a quantidade de

    componentes envolvidos em uma locomotiva, a figura 01 ilustra um desenho

    esquemtico de uma locomotiva SD40-2.

  • 22

    Figura 01 - Principais componentes de uma locomotiva SD40-2. Fonte: KITAMURA (2006).

    De forma simplificada, pode-se resumir o funcionamento bsico de uma

    locomotiva por intermdio da descrio dos seus principais componentes:

    A bomba de combustvel acionada por um motor eltrico que utiliza a

    corrente do banco de baterias. A bomba transfere combustvel do tanque

    para as bombas injetoras do motor-diesel;

    Em algumas locomotivas a partida do motor-diesel realizada pelo

    gerador, acoplado ao motor, que neste caso funciona como se fosse um

    motor de arranque. J as locomotivas fabricadas General Motors (GM)

    possuem motor de arranque para dar a partida no motor-diesel. Existem

  • 23

    ainda modelos de locomotivas que utilizam o gerador-auxiliar ou a

    excitatriz para dar partida no motor;

    Com o motor diesel em funcionamento, a energia mecnica fornecida,

    por intermdio de eixos e acoplamentos, acionando diretamente

    geradores eltricos e tambm, na maioria das locomotivas, o

    compressor;

    O gerador auxiliar carrega as baterias, fornecendo corrente contnua em

    baixa voltagem para os circuitos de controle, de iluminao e de

    excitao do gerador principal. Alguns modelos de locomotivas utilizam a

    excitatriz para excitar o gerador principal;

    O gerador principal/alternador, dependendo do modelo da locomotiva,

    converte a energia mecnica do motor diesel em energia eltrica,

    fornecendo corrente contnua ou alternada, que retificada

    posteriormente, em alta voltagem aos motores de trao para o

    tracionamento da locomotiva;

    Pelo uso dos comandos localizados na cabine, vrios circuitos de baixa

    tenso so estabelecidos para acionar o governador do motor diesel, os

    contatores, as chaves e rels do armrio de controle. Estes

    equipamentos eltricos ao funcionarem, completam outros circuitos ou

    produzem os efeitos desejados para a operao da locomotiva;

    Os motores de trao esto acoplados aos truques da locomotiva, cada

    um engrenado a um eixo trator diferente. Eles recebem a energia eltrica

    do gerador principal atravs de circuitos estabelecidos pelos contatores

    localizados no armrio de controle;

    Os truques recebem e distribuem o peso da locomotiva s rodas

    motrizes;

    A alavanca de acelerao comanda eletricamente o governador, que

    est instalado no motor diesel, controlando sua velocidade e potncia.

    Em locomotivas com motor diesel com injeo eletrnica o comando da

    acelerao do motor diesel no realizado pelo governador, e sim por

    uma unidade governadora eletrnica (EGU);

    Nas locomotivas cuja rotao do motor diesel controlada pelo

    governador, existe um regulador de carga, cuja funo evitar

  • 24

    sobrecarga ou subcarga eltrica do motor diesel. Como o prprio nome j

    diz, ele regula a carga eltrica sobre o motor diesel em todas as posies

    da alavanca de acelerao. J nas locomotivas mais modernas esta

    funo desempenhada por um controle microprocessador;

    O compressor fornece ar, sob presso, aos reservatrios de ar para freiar

    o trem.

    A seguir sero descritos os principais componentes de uma locomotiva.

    2.2.1 MOTOR DIESEL E SISTEMA DE COMBUSTVEL

    A queima do combustvel dentro dos cilindros proporciona um movimento

    alternado dos pistes. Esse movimento gera energia mecnica transferida para o

    eixo virabrequim, por intermdio das bielas, descrevendo um movimento circular

    contnuo e gerando a energia mecnica necessria para movimentar o gerador

    principal

    A quantidade de cilindros no motor varia com o modelo e a finalidade da

    locomotiva. As mquinas de manobra possuem um motor diesel de menor porte,

    tendo entre 6 e 8 cilindros. J os motores das locomotivas utilizadas no transporte

    de cargas podem ter 12, 16 e 20 cilindros. A frota da MRS utilizada no transporte

    de cargas possui motores com 12 e 16 cilindros.

    Os pistes possuem um curso e em cada extremidade deste est o ponto

    morto. O ponto morto pode ser superior (PMS), quando junto do cabeote e inferior

    (PMI) quando prximo ao eixo virabrequim.

    As vlvulas de admisso e escape permitem a entrada de ar e a sada dos

    gases da combusto respectivamente. Nos motores quatro tempos as vlvulas se

    abrem e fecham por meio dos eixos de comando de vlvulas, ou eixo cames. Os

    motores dois tempos possuem janelas que so destampadas com o movimento do

    pisto.

    O motor possui um reservatrio de leo lubrificante, na parte inferior,

    denominado crter, mais adiante ser descrito o sistema de lubrificao de uma

    locomotiva.

  • 25

    Os motores de combusto interna podem ser de dois ou quatro tempos

    possuindo ciclos de trabalho que so um conjunto de fases sucessivas necessrias

    para transformar a energia calorfica do combustvel em energia mecnica.

    A frota da MRS composta por locomotivas GM que possuem motores

    diesel de dois tempos e locomotivas GE com motores de quatro tempos.

    Os motores dois tempos possuem dois cursos e necessitam apenas de uma

    revoluo do eixo virabrequim para completar o seu ciclo de trabalho que tem seu

    incio no PMI e uma exploso a cada PMS.

    A figura 02 ilustra o ciclo de trabalho de um motor diesel dois tempos em

    funo da energia calorfica do combustvel.

    Figura 02 Ciclo de trabalho de um motor diesel dois tempos. Fonte: BORBA (2008).

    No primeiro tempo do motor, quando o pisto se encontra no PMI, as janelas

    de admisso esto destampadas, o ar entra sob presso devido ao turbo

    alimentador (ou blower que desempenha a mesma funo do turbo alimentador em

    locomotivas de menor potncia) expulsando dos cilindros os gases queimados na

    combusto, que saem atravs da abertura das vlvulas de escape que so

    comandadas pelos eixos de comando de vlvulas. Este processo denominado

    lavagem do cilindro. A figura 03 ilustra a lavagem do cilindro em um motor dois

    tempos com blower.

    Quando o pisto se desloca do PMI para o PMS, fecham-se as janelas de

    admisso localizadas na camisa do cilindro, as vlvulas de escape e tem-se incio

    a uma nova compresso de ar. A figura 04 ilustra este processo.

    No segundo tempo do motor, a mistura ar-combustvel injetada no interior do

    cilindro, ao final da compresso, inflama-se alta presso e empurra o pisto para

    o PMI. Esta ao chamada de tempo motor. A figura 05 ilustra o tempo motor.

  • 26

    Figura 03 Lavagem do cilindro. Fonte: KITAMURA (2006).

    Figura 04 Compresso do ar dentro do cilindro. Fonte: KITAMURA (2006).

  • 27

    Figura 05 Tempo motor. Fonte: KITAMURA (2006).

    Um pouco antes de se destamparem as janelas de admisso, as vlvulas de

    escape se abrem provocando uma descompresso no cilindro. Assim que as

    janelas esto destampadas, novamente o ar de admisso invade os cilindros

    promovendo o fenmeno da lavagem do cilindro. Quando o pisto atinge o PMI

    tem-se o incio de um novo ciclo. A figura 06 ilustra este processo.

    Figura 06 Exausto dos gases queimados. Fonte: KITAMURA (2006).

  • 28

    A figura 07 ilustra o funcionamento de um motor dois tempos turbo

    alimentado.

    Figura 07 Funcionamento de um motor dois tempos turboalimentado. Fonte: KITAMURA (2006).

    Os motores quatro tempos possuem quatro cursos e necessitam de duas

    revolues do eixo virabrequim para completarem o seu ciclo de trabalho.

    A figura 08 ilustra o ciclo de trabalho de um motor diesel quatro tempos em

    funo da energia calorfica do combustvel.

    Figura 08 Ciclo de trabalho de um motor diesel quatro tempos. Fonte: BORBA (2008).

    No primeiro tempo do motor, que conhecido como tempo de admisso, o

    pisto parte do PMS, acionado pela biela e pelo eixo virabrequim, em direo ao

    PMI. Este movimento promove a aspirao de ar, que entra no cilindro atravs da

    abertura da vlvula de admisso. A vlvula se mantm aberta durante todo o curso

    do pisto.

  • 29

    Quando pisto atinge o PMI e parte deste em sentido ao PMS, tem-se o

    segundo tempo do motor, tambm conhecido como tempo de compresso.

    Neste momento a vlvula de admisso fecha-se e o ar comprimido no

    interior do cilindro sofre uma forte compresso.

    Ao final deste tempo o cilindro encontra-se novamente no PMS, as vlvulas

    de admisso e escape esto fechadas e o ar est comprimido em um espao

    reduzido denominado cmara de combusto ou cmara de compresso. Neste

    exato momento o eixo virabrequim j executou uma revoluo completa.

    O terceiro tempo do motor, ou tempo de combusto, inicia-se com a injeo

    de combustvel pressurizado alguns graus antes do pisto atingir o PMS.

    A mistura ar-combustvel inflama-se, aumentando a presso ainda mais, e

    empurra o pisto em direo ao PMI, transmitindo ao eixo virabrequim uma fora

    motriz favorvel a rotao. Este fenmeno conhecido como tempo motor.

    Ao se aproximar do fim do terceiro tempo, a vlvula de escape comea a se

    abrir e os gases queimados so expulsos do interior do cilindro por intermdio do

    movimento de retorno do pisto para o PMS. Este o quarto tempo, ou tempo de

    exausto.

    Ao final do movimento de retorno do cilindro para o PMS, a vlvula de

    escape se fecha e a vlvula de admisso se abre dando incio a um novo ciclo.

    A figura 09 ilustra o que foi descrito sobre os ciclos de um motor quatro

    tempos.

    Para alimentar com combustvel o motor diesel faz-se necessria a

    utilizao de uma bomba de suco para sugar e bombear o leo diesel contido no

    tanque de combustvel at o motor.

    O combustvel bombeado passa por tubulaes, mangueiras e filtros at

    chegar s bombas injetoras, onde apenas uma quantidade de combustvel ser

    injetada a uma alta presso dentro do cilindro, o restante do combustvel escorre

    internamente pelo injetor, lubrificando-o e refrigerando-o, at a linha de retorno de

    combustvel.

    Este combustvel chega vlvula de contrapresso, localizada no visor do

    combustvel de retorno. Quando a vlvula se abre o combustvel circula pelo visor e

    segue para o tanque de combustvel.

  • 30

    Figura 09 Ciclos de um motor quatro tempos. Fonte: KITAMURA (2006).

    O leo diesel que passa pelo visor deve estar limpo e isento de bolhas de ar

    para garantir que o seu fornecimento ao motor seja satisfatrio. Se surgirem bolhas

    de ar no visor, durante a passagem de combustvel, um indcio da entrada de ar

    ou gases no sistema, o que ir comprometer a alimentao do motor.

  • 31

    Alm do visor de retorno existe outro denominado visor de desvio, ou visor

    de by-pass. Dentro dele est instalada a vlvula de alvio.

    O visor de desvio dever permanecer sempre vazio. Quando o combustvel

    atingir este visor, a vlvula de alvio ir atuar permitindo o retorno do leo diesel ao

    tanque sem alimentar o motor.

    A figura 10 ilustra um diagrama tpico do sistema de combustvel de um

    motor GM.

    Figura 10 Sistema de Combustvel do motor GM. Fonte: BORBA (2008).

    2.2.2 GOVERNADOR

    O governador um componente eletro-hidrulico responsvel por regular a

    rotao do motor diesel atravs do controle da quantidade de combustvel

    fornecida aos cilindros. Para qualquer ponto de rotao do governador mantida

    constante a rotao do motor diesel independente das condies variveis da

    carga.

    Alm desta funo o governador regula a potncia constante de sada do

    motor diesel para cada posio especfica de rotao, controlando a carga do

  • 32

    motor. O controle da carga possvel atravs do controle da intensidade da

    corrente de excitao no campo do gerador principal para compensar as variaes

    de cargas eltricas aplicadas no mesmo e mais aquelas que resultam das cargas

    auxiliares variveis.

    O governador caracteriza-se por ser uma unidade independente possuindo

    seu prprio suprimento de leo e a sua prpria bomba de presso de leo. O

    governador controlado pelo acelerador instalado no painel principal de operao.

    Alm das funes descritas anteriormente, o governador possui algumas

    funes auxiliares que sero descritas a seguir:

    Controle remoto do acelerador para os oito pontos de rotao e uma

    posio de desligamento do motor diesel;

    Sobrepassagem de operao normal do controle de patinao das rodas

    e na frenagem dinmica;

    Para locomotivas GE U20C e U23CA o governador possui dispositivos

    moduladores de carga e de desligamento automtico do motor diesel em

    caso de falha por baixa presso de leo lubrificante e de gua;

    Dispositivo de controle de carga e limitador de combustvel por equilbrio

    de presso do ar do turbo alimentador fornecido ao motor diesel;

    O controle de carga por equilbrio de presso reduz a carga do motor

    diesel atravs do reostato de controle de carga, quando a presso de ar

    fornecida pelo turbo alimentador cai abaixo de um valor predeterminado,

    evitando assim temperaturas excessivas dos gases de exausto;

    O controle de limite de combustvel por equilbrio de presso funciona

    durante as mudanas de rotao e as alteraes de carga do motor

    diesel. Ele limita a quantidade de combustvel entregue ao motor at que

    exista presso do ar suficiente para perfeita combusto, reduzindo assim

    o excesso de fumaa na exausto e conseqente consumo de

    combustvel;

    A figura 11 ilustra um modelo de governador do motor diesel GM.

  • 33

    Figura 11 Governador do motor diesel GM. Fonte: Manual GM.

    No governador est incorporado um dispositivo para desligamento do motor

    diesel por baixa presso de leo lubrificante. Este dispositivo atua quando h

    ausncia de presso na linha sensvel.

    As locomotivas GM possuem dispositivos de baixa presso de gua e

    presso positiva no crter. Estes dispositivos so dotados de dois botes que

    devem permanecer armados durante toda a operao da locomotiva. Quando

    algum destes botes acionado a linha sensvel despressurizada e o motor

    diesel desligado.

    O dispositivo de baixa presso de gua possui uma torneira de teste que

    utilizada quando o dispositivo apresenta atuao indesejvel durante a partida do

    motor diesel ou se durante o funcionamento deste, houver bolhas no sistema.

    Na sada da bomba principal de leo lubrificante est instalada uma vlvula

    termosttica para deteco de leo lubrificante excessivamente aquecido. Quando

    a temperatura do leo chega a 124 C a vlvula comea a se abrir e a 135 C a

    vlvula est totalmente aberta.

  • 34

    A abertura gradual da vlvula despressuriza a linha sensvel de presso de

    leo do governador e conseqentemente desliga o motor diesel. Este dispositivo

    auto resetvel, ou seja, aps a reduo da temperatura o dispositivo volta sua

    condio normal.

    Existe ainda um dispositivo de sobrevelocidade do motor diesel que impede

    o excesso de rotao, cerca de 10% acima da rotao de oitavo ponto

    considerado como excesso.

    Este dispositivo quando acionado trava todos os bicos injetores impedindo

    que o combustvel alcance a cmara de combusto dos cilindros.

    O funcionamento deste dispositivo se d atravs de contrapesos giratrios e

    um mecanismo de mola.

    A figura 12 ilustra o dispositivo de sobrevelocidade do motor diesel GM.

    Figura 12 Dispositivo de velocidade do motor diesel GM. Fonte: KITAMURA (2208).

    2.2.3 SISTEMA DE ADMISSO DE AR

    O ar necessrio para o funcionamento da locomotiva aspirado da

    atmosfera e ao entrar em alta velocidade no sistema de admisso de ar, o mesmo

    vai de encontro ao filtro inercial.

  • 35

    O sistema de construo do filtro obriga o ar a mudar de trajetria

    bruscamente, as partculas pesadas contidas no ar no conseguem acompanhar

    esta mudana de trajetria na mesma velocidade, devido sua inrcia, e sendo

    assim prosseguem na mesma trajetria at atingirem um obstculo. As partculas

    se chocam contra o obstculo e descem para uma caixa onde sero coletadas

    atravs de um exaustor e expelidas para o ambiente externo da locomotiva.

    Cerca de 1/3 do ar isento de partculas pesadas aspirado pelo motor

    diesel, onde o ar novamente filtrado por um filtro tipo sacola.

    O restante do ar aspirado pelos sopradores dos motores de trao e do

    gerador principal.

    O soprador dos motores de trao aspira o ar dentro de um compartimento

    selado e o direciona para as galerias existentes no estrado da locomotiva, onde o

    ar vai ser dividido e encaminhado para arrefecer os motores de trao, o armrio

    eltrico e os mancais dos ventiladores de resfriamento das resistncias do freio

    dinmico.

    O soprador do gerador principal aspira o ar e o direciona para o interior do

    gerador principal para arrefecer o mesmo e o alternador companheiro que est

    localizado no mesmo eixo. Ao sair do gerador principal, o ar ir pressurizar o

    compartimento interno da locomotiva, desde que a mesma esteja com todas as

    portas laterais trancadas, impedindo que a sujeira externa entre.

    O ar que pressuriza o compartimento interno da locomotiva tambm ser

    aspirado pelo compressor de ar para atuar no sistema de frenagem do trem.

    As figuras 13 e 14 ilustram o sistema de admisso de ar de uma locomotiva

    SD40 e o desenho esquemtico que o ar percorre em um motor turbo alimentado.

    2.2.4 SISTEMA DE LUBRIFICAO

    O leo lubrificante que est no crter do motor diesel aspirado, pela

    bomba de limpeza, para o alojamento dos coadores, atravs de um coador de

    malha grossa.

    O leo ento forado a passar por um filtro de 7 elementos e tambm pelo

    resfriador de leo antes de alcanar outro compartimento do conjunto de coadores.

  • 36

    Figura 13 Sistema de admisso de ar da locomotiva SD40. Fonte: KITAMURA (2006).

  • 37

    Figura 14 Desenho esquemtico do caminho percorrido pelo ar em um motor turbo alimentado.

    Fonte: BORBA (2008).

    Em seguida uma bomba de ao dupla aspira o leo por meio de um coador

    de malha fina e o impulsiona para os tubos do leo de refrigerao dos pistes e

    para o coletor principal de leo que se localiza acima do eixo virabrequim, se

    estendendo ao longo de todo o motor. Parte deste leo ir lubrificar os mancais

    principais do eixo virabrequim e os mancais de biela. Esta lubrificao se d

    atravs da passagem do leo pelos furos existentes no eixo virabrequim.

    Outra parte do leo contido no coletor principal ir lubrificar os mancais dos

    eixos de comando de vlvulas e demais mancais, eixos, balancins e pontes.

    O lubrificante passa pelo filtro de leo do turbo alimentador para em seguida

    alimentar a linha sensvel de presso de leo lubrificante, lubrificar os mancais das

    engrenagens intermedirias 1 e 2, lubrificar o eixo de acionamento do gerador

    auxiliar e lubrificar e refrigerar o turbo alimentador. O leo lubrifica ainda os dentes

    das engrenagens planetrias, intermedirias e de acionamento auxiliar.

    Uma parte do leo ir alimentar a vlvula piloto de controle de carga

    localizada no governador do motor diesel e na engrenagem de acionamento do

    governador.

  • 38

    A figura 15 ilustra o sistema de lubrificao descrito acima.

    Figura 15 Sistema de Lubrificao. Fonte: BORBA (2008).

    Existe ainda um sistema auxiliar para lubrificao e refrigerao do turbo

    alimentador. Este sistema proporciona uma pr-lubrificao do turbo que est

    engrenado mecanicamente ao motor diesel desde a partida do mesmo. Aps o

    desligamento do motor o sistema auxiliar ir refrigerar o turbo.

    A presso mxima do leo lubrificante no sistema principal de lubrificao

    chega a 125psi que limitada por meio de uma vlvula de alvio de presso.

    A figura 16 ilustra o sistema de lubrificao do turbo alimentador em uma

    locomotiva GM.

  • 39

    Figura 16 Sistema de Lubrificao do turbo alimentador. Fonte: BORBA (2008).

    2.2.5 SISTEMA DE REFRIGERAO

    Para refrigerar o motor diesel, duas bombas centrfugas succionam a gua

    contida no tanque de gua e a faz circular pelo sistema. Dois tubos principais de

    distribuio se estendem atravs da caixa de ar em ambos os lados do motor. No

    final de cada tubo existe uma sada de gua para arrefecer os resfriadores de ar,

    ou aftercoolers, do sistema de admisso.

    Para atingir as camisas e os cabeotes e refriger-los, a gua circula por

    meio de tubos individuais, que so ligados aos tubos principais.

    Atravs dos tubos cotovelos dos cabeotes a gua encaminhada para a

    galeria do bloco onde ir refriger-lo e seguir para o banco de radiadores.

    A gua passa pelos radiadores e circula pelo resfriador de leo lubrificante,

    onde troca calor com o leo e se dirige ao tanque de expanso, onde ser

    succionada pelas bombas dgua.

    Para completar o sistema de refrigerao existem trs ventiladores dos

    radiadores, que so acionados pelas chaves termostticas TA, TB e TC (uma para

    cada ventilador) para controlar a temperatura da gua. Existem ainda as chaves

    termostticas RS e ETS.

    A chave RS comanda o funcionamento do sistema spray do radiador, logo

    aps a entrada do ltimo ventilador.

  • 40

    A chave ETS ir alertar o operador quando altas temperaturas forem

    atingidas e ir reduzir a potncia do motor diesel para proteg-lo.

    Para locomotivas microprocessadas as chaves termostticas so

    substitudas por um sensor de temperatura.

    A figura 17 ilustra o sistema de refrigerao de uma locomotiva GM.

    2.2.6 SISTEMA ELTRICO

    O sistema eltrico de uma locomotiva dividido em alta potncia e baixa

    potncia.

    Fazem parte do sistema eltrico de alta potncia o gerador principal e/ou

    alternador (dependendo do modelo da locomotiva), a excitatriz, o painel retificador,

    a chave reversora, a chave BKT e os motores de trao

    O gerador principal e/ou alternador est acoplado ao motor diesel e

    acionado por este por meio de um eixo. A sua funo transformar a energia

    mecnica fornecida pelo motor diesel em energia eltrica que ir alimentar os

    motores de trao.

    O alternador fornece energia eltrica em corrente alternada e para

    locomotivas que possuem este componente faz-se necessrio a utilizao do

    painel retificador que ir transformar a corrente alternada em corrente contnua.

    A figura 18 ilustra um modelo de alternador de uma locomotiva GM.

    A excitatriz, assim como o gerador principal, tambm est acoplada ao

    motor diesel, s que por meio de engrenagens. Sua funo fornecer energia

    eltrica ao circuito de excitao do campo do gerador principal. As locomotivas GM

    no possuem excitatriz.

    Os motores de trao esto acoplados aos rodeiros atravs de

    engrenagens. Eles recebem a energia eltrica do gerador principal ou alternador e

    a transforma em energia mecnica para tracionar a locomotiva.

    Pela chave BKT possvel saber, atravs do seu posicionamento, se a

    locomotiva est tracionando ou se est em frenagem dinmica.

    A chave reversora define o sentido em que a locomotiva ir se deslocar.

    A funo do sistema de baixa fazer o controle automtico da locomotiva e

    fornecer energia eltrica aos circuitos de iluminao e acessrios.

  • 41

    Figura 17 Sistema de Refrigerao de uma locomotiva GM. Fonte: KITAMURA (2006).

    Para comandar a locomotiva existem alavancas responsveis por definir o

    sentido de deslocamento, o ponto de acelerao e o modo de atuao da frenagem

    dinmica. O conjunto destas alavancas denominado Conjunto Mestre.

  • 42

    Figura 18 Alternador de uma locomotiva GM. Fonte: Manual GM.

    A figura 19 ilustra um modelo de motor de trao das locomotivas GM.

    Figura 19 Modelo de motor de trao GM. Fonte: Manual GM.

  • 43

    O gerador auxiliar se localiza ao lado da excitatriz (nas locomotivas GE) e

    tambm est acoplado ao motor diesel por meio de engrenagens. Sua funo

    fornecer energia eltrica para o sistema de baixa tenso e recarregar as baterias.

    Estas fornecem energia eltrica ao circuito de baixa potncia na partida do motor.

    A figura 20 ilustra um modelo de gerador auxiliar de uma locomotiva GM.

    Figura 20 Gerador Auxiliar de uma locomotiva GM. Fonte: Manual GM.

    No controle automtico das locomotivas esto os rels e contatores que a

    partir de um sinal eltrico abrem ou fecham contatos, acionando ou desligando os

    componentes eltricos.

    Os sinais eltricos de baixa potncia so enviados de vrios pontos da

    locomotiva e process-los funo dos painis eletrnicos, que tambm possuem

    a funo de acionar componentes do circuito de baixa potncia.

    As locomotivas diesel-eltricas possuem dois sistemas de frenagem: o

    eltrico, mais conhecido como freio dinmico e o pneumtico que ser descrito no

    prximo tpico.

    O freio dinmico utiliza a energia cintica do trem para girar os motores de

    trao contra a sua resistncia eltrica, fazendo com que eles trabalhem como

    geradores (o gerador principal ou alternador no gera energia). A energia gerada

    ser dissipada em forma de calor pelo banco de resistncias da locomotiva.

  • 44

    A figura 21 ilustra uma grade de resistncias de freio dinmico.

    Figura 21 Grade de Resistncias de Freio Dinmico de uma locomotiva. Fonte: Manual GM.

    Com as armaduras dos motores de trao ligadas s resistncias e com seus

    campos excitados pelo gerador, haver uma tenso e uma corrente, que iro criar

    um conjugado de oposio ao conjugado produzido pela aderncia das rodas nos

    trilhos.

    2.2.7 SISTEMA PNEUMTICO

    A principal funo do ar comprimido em uma locomotiva a operao de

    frenagem de todo o trem. Alm disso, o ar comprimido aciona a buzina, o sino, os

    areeiros, os limpadores de parabrisa, dentre outros.

    Para fornecer o ar comprimido necessrio para o sistema de frenagem de

    toda a composio utiliza-se um compressor instalado em toda locomotiva, que

    acionado pelo eixo virabrequim do motor diesel atravs de um acoplamento. Em

    locomotivas mais modernas o compressor acionado por um motor eltrico.

    Os compressores so de dois estgios e dependendo do modelo da

    locomotiva podem possuir dois, trs ou seis cilindros. Em cada cilindro temos uma

  • 45

    ou duas vlvulas de admisso e uma ou duas vlvulas de descarga, a quantidade

    de vlvulas no cilindro depende do modelo do compressor.

    Para os compressores de trs cilindros, dois so de baixa presso

    localizados nas laterais e um de alta, localizado no centro. Para os de seis

    cilindros, quatro so de baixa e so localizados nas laterais e dois so de alta e

    so localizados no centro do compressor. J para os compressores de dois

    cilindros, um cilindro de alta e o outro de baixa presso. Os pistes dos

    cilindros so acionados por um eixo virabrequim do prprio compressor, que se

    localiza no interior da carcaa.

    O sistema de lubrificao independente e do tipo forado atravs de uma

    bomba. O compressor pode ser refrigerado a gua ou a ar.

    O ar da atmosfera aspirado e passa por filtros. Ao chegar aos cilindros de

    baixa, ele comprimido a uma presso de cerca de 55psi. O ar ento passa por

    um resfriador, cuja funo dissipar parte do calor gerado durante a compresso.

    Ar frio ocupa menor espao do que o ar quente, sendo assim o rendimento do

    compressor ser maior devido ao aumento da capacidade volumtrica. O resfriador

    possui ainda uma vlvula de alvio que ir atuar caso a presso ultrapasse o limite

    de 60psi. Ao passar pelo resfriador o ar se dirige ao cilindro de alta, onde ser

    comprimido a uma presso que varia entre 125 e 140psi. Aps esta etapa o ar

    entregue ao reservatrio principal.

    Quando a presso no reservatrio principal atingir um valor pr-

    estabelecido, uma chave eletro-pneumtica comandar um circuito eltrico para

    que o ar do reservatrio principal chegue at as vlvulas de admisso, colocando-

    as abertas e fazendo o compressor trabalhar em vazio.

    A figura 22 ilustra um modelo de compressor refrigerado a ar.

    Figura 22 Compressor refrigerado a ar.

  • 46

    O sistema pneumtico formado ainda por vlvulas pneumticas que

    controlam o fluxo de ar do sistema, reservatrios de ar que armazenam o ar

    comprimido gerado pelo compressor, cilindro de freio que aciona as sapatas de

    freio, tubulaes e mangueiras que conduzem o ar por todo o sistema, alm dos j

    mencionados areeiro, buzina, limpador de parabrisa e sino.

    2.2.8 - TRUQUES

    Os truques recebem o peso da locomotiva e o distribuem entre os rodeiros e

    a via permanente.

    A estrutura do truque composta por duas laterais fundidas que so unidas

    por meio de outra estrutura fundida composta por duas transversais. Esta estrutura

    interligada plataforma da locomotiva por meio de uma travessa flutuante ou

    bolster.

    A figura 23 ilustra um esquema tpico de um truque de uma locomotiva.

    Figura 23 Estrutura tpica de um truque de locomotiva Fonte KITAMURA (2006).

  • 47

    No bolster est localizado o prato do pio. Entre o bolster e a estrutura do

    truque esto instalados molas ou coxins de borracha e ao, cujas funes so

    absorver os impactos provenientes da plataforma.

    O movimento entre o truque e o bolster limitado por batentes com chapas

    de desgaste, que evitam o excesso de solicitaes ao cisalhamento.

    O truque recebe a timoneira de freio que so alavancas que multiplicam o

    esforo resultante na haste do cilindro de freio at as sapatas que freiam as rodas.

    Os pedestais das laterais do truque limitam o movimento dos eixos e

    possuem chapas de desgaste que guiam os movimentos das caixas de rolamento.

    Os motores de trao se apoiam sobre o eixo por meio de mancais de

    suspenso e na estrutura do truque por meio dos coxins de borracha e ao, que

    absorvem os choques oriundos do torque do motor de trao.

  • 48

    CAPTULO 3 A ATIVIDADE MANUTENO

    3.1- IMPORTNCIA DA MANUTENO NO TRANSPORTE FERROVIRIO

    Com o aumento progressivo da demanda pelo transporte ferrovirio de

    cargas, aliado s necessidades, tambm progressivas, dos clientes finais, as

    operadoras tm tentado atingir um patamar elevado de eficincia, produtividade,

    confiabilidade, disponibilidade e segurana do sistema e em conseqncia disso,

    dos seus ativos.

    Este cenrio exige que a Manuteno evolua cada vez mais, buscando

    aperfeioar tcnicas que aumentem a qualidade dos servios prestados,

    minimizando os impactos que as falhas promovem.

    Assim, as empresas tm procurado metodologias que indiquem quando e

    como intervir em um ativo ou equipamento, mantendo-se o funcionamento de

    acordo com o planejado. Devido a isso, a atividade manuteno foi aperfeioada,

    passando-se da viso da interveno temporal para a anlise da condio de

    funcionamento.

    Para atender essa necessidade, so necessrias ferramentas que estimem

    a confiabilidade dos equipamentos. Como exemplo, a metodologia Manuteno

    Centrada em Confiabilidade (MCC), que possui ferramentas capazes de estimar a

    confiabilidade, para garantir uma manuteno eficiente e de qualidade,

    preservando a segurana e minimizando os impactos ambientais.

    Neste captulo sero discutidas as vrias metodologias de manuteno, com

    foco na MCC e as suas ferramentas, em especial, a rvore de Falhas.

    3.2 - DEFINIO DE MANUTENO E SUA EVOLUO

    Segundo HAMAOKA (2000) a manuteno o conjunto de atividades e

    recursos aplicados aos sistemas ou equipamentos, para mant-los nas mesmas

    condies de desempenho de fbrica e de projeto, visando garantir a consecuo

    de sua funo dentro dos parmetros de disponibilidade, de qualidade, de prazos,

    de custos e de vida til adequados.

    Para MOUBRAY (2000) a evoluo da manuteno pode ser analisada e

    estudada atravs de trs geraes distintas.

  • 49

    A primeira gerao se caracterizava por possuir mquinas simples,

    superdimensionadas e de simples reparao. O tempo de imobilizao do

    equipamento e a espera de reparao no eram prioridade. Alm disso, a

    reparao se dava aps a falha, ou seja, a interveno no era planejada. A

    concepo da falha era de que a sua ocorrncia estava relacionada com o

    envelhecimento do equipamento. Este tipo de interveno conhecido como

    manuteno corretiva, e justificada quando os custos envolvidos e a segurana

    no so considerados como prioridade pela empresa. Diante de uma falha mais

    fcil e barato trocar determinado componente do que estabelecer um plano de

    manuteno para o mesmo. A primeira gerao se estendeu at a II Guerra

    Mundial.

    Com a II Guerra Mundial surge a segunda Gerao devido o aumento da

    demanda por produtos industrializados e a escassez de mo-de-obra. Para suprir

    estas necessidades foi preciso aumentar a mecanizao nas indstrias,

    estabelecendo dependncia ainda maior pelas mquinas.

    A partir daquele momento, o tempo de imobilizao do equipamento durante

    a manuteno passou a ser importante e conseqentemente a preveno das

    falhas.

    Neste novo cenrio surgiu o conceito de manuteno preventiva, que se

    baseava em revises planejadas realizadas em intervalos fixos. A manuteno

    preventiva tem como objetivo reduzir a probabilidade de ocorrncia das falhas dos

    equipamentos, melhorando o funcionamento do sistema onde o equipamento est

    inserido, reduzindo a indisponibilidade e tambm o estoque de peas de reposio.

    Para sua implantao, necessria a criao de rotinas, roteiros de trabalho,

    procedimentos e equipes qualificadas.

    Com a manuteno preventiva surgiu tambm a preocupao com os custos

    da manuteno, o que proporcionou o desenvolvimento do planejamento e controle

    das atividades de manuteno.

    Nesta gerao a curva da banheira foi disseminada devido crescente

    conscientizao da mortalidade infantil dos equipamentos.

    A figura 24 ilustra a curva da banheira.

  • 50

    Figura 24 - Curva da banheira. Fonte: SUCENA (2008).

    A Terceira Gerao surgiu a partir da dcada de setenta, e com ela, novas

    expectativas relacionadas com maiores confiabilidade, disponibilidade, segurana e

    vida til dos equipamentos; melhor qualidade dos produtos e eliminao dos

    impactos ao meio ambiente.

    Alm disso, observou-se que a idade operacional e a probabilidade de falha

    tm cada vez menos relao.

    Surgiram novas tcnicas relacionadas com o monitoramento das condies,

    utilizando-se de ferramentas, que facilitam o entendimento sobre os modos de

    falha, e seus efeitos.

    A figura 25 ilustra os padres de falhas propostos pelas trs geraes.

    Figura 25 - Padres de falhas nas trs geraes. Fonte: SUCENA (2008).

  • 51

    No perodo da Terceira Gerao surgiram ainda Manuteno Produtiva Total

    (MPT), a Manuteno Preditiva e a Manuteno Centrada em Confiabilidade

    (MCC), ou em ingls Reliability-Centred Maintenance (RCM).

    A Manuteno Produtiva Total (MPT) prope envolvimento entre os

    funcionrios do processo produtivo e os da manuteno, buscando a melhoria

    contnua atravs de planejamento, treinamento, controle, foco na segurana,

    higiene e meio ambiente.

    Para que o programa da MPT seja bem sucedido necessria a

    conscientizao e a capacitao dos operadores, buscando-se maior envolvimento,

    interesse e o desenvolvimento de habilidades e idias com o intuito de melhorar a

    qualidade da manuteno, o rendimento dos equipamentos, o sentimento de auto-

    realizao, o esprito de equipe e o relacionamento entre as pessoas.

    Na MPT aplica-se o programa dos oito S, onde se busca, em termos

    prticos, a conscientizao de que a participao deve ser a mais ampla possvel.

    Os oito S so:

    Seiri: senso de organizao;

    Seiton: senso de arrumao;

    Seiso: senso de limpeza;

    Seiketsu: senso de padronizao;

    Shitsuke: senso de disciplina;

    Shido: treinamento;

    Seison: eliminar perdas;

    Shikari yaro: realizar com determinao e unio.

    Nesta fase observou-se tambm que as perdas eram entraves para o

    desenvolvimento da MPT, devendo-se eliminar as seis maiores, segundos os

    preceitos da Qualidade Total:

    Perdas por quebra;

    Perdas por demora na troca de ferramentas e regulagem;

    Perdas por operao em vazio (espera);

    Perdas por reduo da velocidade em relao ao padro normal;

    Perdas por defeito de produo;

    Perdas por queda de rendimento.

  • 52

    Ainda neste contexto, existem alguns balizadores para considerar a quebra

    zero:

    Estruturao das condies bsicas;

    Obedincia s condies de uso;

    Regenerao do envelhecimento.

    Sanar as falhas do projeto (terotecnologia);

    Incrementar a capacitao tcnica.

    Seguindo-se o desenvolvimento das atividades de manuteno focadas na

    funo do sistema, vislumbrou-se a possibilidade de monitor-lo, durante a vida til

    do componente sob observao, para se encontrar o melhor momento de intervir

    preventivamente. A Manuteno Preditiva prope a realizao de intervenes em

    um componente, em um determinado instante de tempo, baseando-se em medidas

    e dados histricos que avaliem a sua condio operativa, visando garantir o seu

    funcionamento.

    Com segurana, a custos coerentes, e maximizando a sua disponibilidade.

    O monitoramento pode ser efetuado pela avaliao do consumo de energia,

    das anlises de vibrao, temperatura, viscosidade, composio qumica das

    peas, desgastes, folgas, dentre outros.

    3.3 - DEFINIO DE CONFIABILIDADE, DISPONIBILIDADE E SEGURANA

    3.3.1. CONFIABILIDADE

    Segundo LAFRAIA (2001) a confiabilidade est associada operao de um

    sistema ou produto na ausncia de falhas. Em termos de engenharia, a

    confiabilidade pode ser definida como a probabilidade de um sistema, ou produto,

    de desempenhar adequadamente o seu propsito especificado, por um

    determinado perodo de tempo e sob condies ambientais pr-determinadas.

    Para SUCENA (2002) o conceito de confiabilidade est relacionado ao

    acontecimento de situaes que prejudicam o funcionamento de um produto ou

    servio e em conseqncia, ao usurio que o utiliza, podendo colocar vidas em

    risco, causar prejuzos econmicos-financeiros e impactos ambientais.

  • 53

    A confiabilidade est relacionada a diversas reas de aplicao, tais como:

    Anlise de risco e segurana;

    Proteo ambiental;

    Qualidade;

    Otimizao da manuteno;

    Projeto de produtos.

    O conceito de confiabilidade adquiriu um significado tecnolgico durante a II

    Guerra Mundial onde estudos comparativos foram realizados para se medir os

    sistemas utilizados.

    O matemtico Robert Lusser estudou o sistema operacional de msseis V-1

    alemes e elaborou a lei da probabilidade de um produto com componentes em

    srie, que estabelecia que a confiabilidade de um sistema em srie igual ao

    produto das confiabilidades de suas partes componentes.

    Com o surgimento da Guerra Fria os EUA investiram em estudos e trabalhos

    sobre confiabilidade, motivados pela corrida espacial e pelo desenvolvimento de

    msseis intercontinentais.

    Nesta poca comearam a construo e a operao de usinas nucleares, o

    que motivaram ainda mais os estudos, as metodologias e os clculos de

    confiabilidade, devido aos grandes riscos associados.

    Neste cenrio surgiu a metodologia da rvore de Falhas (AF) que ser

    estudada de forma detalhada no item 3.5 deste captulo.

    3.3.2. DISPONIBILIDADE

    Para LAFRAIA (2001) pode-se entender disponibilidade como a habilidade

    de um sistema, ou produto, mediante manuteno apropriada, desempenhar sua

    funo requerida em um determinado instante do tempo ou sobre um perodo pr-

    determinado de tempo.

    O conceito de disponibilidade pode variar de acordo com a capacidade de

    reparo do sistema ou produto.

    Caso o sistema seja no reparvel, a disponibilidade se equivale

    confiabilidade.

  • 54

    Para sistemas reparveis os estados do sistema, em um determinado

    perodo de tempo, so em operao ou em manuteno e a disponibilidade

    pode ser calculada pela frmula:

    Disponibilidade = ____MTTF______

    MTTF + MTTR

    Onde:

    MTTF: tempo mdio entre falhas;

    MTTR: tempo mdio at a concluso dos reparos.

    3.3.3. SEGURANA

    Segundo MOUBRAY (2000) um modo de falha tem conseqncias na

    segurana, se causar uma perda da funo ou outro dano que poderia ferir ou

    matar algum.

    Um modo de falha tem conseqncias ambientais se causar uma perda de

    funo ou outro dano que poderia levar a romper qualquer regulamento ou padro

    ambiental conhecido.

    Segundo SUCENA (2008) modo de falha o modo pelo qual os elementos

    do sistema falham para realizar a sua funo.

    MOUBRAY (2000) sugere ainda que para modos de falha que tm

    conseqncias sobre a segurana ou ao meio-ambiente, uma tarefa pr-ativa s

    deve ser feita se reduzir a probabilidade de falha em um nvel baixo tolervel.

    Caso esta tarefa pr-ativa no possa ser implantada, significa que os riscos

    ambientais e a segurana no podem ser prevenidos antecipadamente.

    Faz-se necessria alguma ao para tornar o sistema seguro. Esta ao

    classificada como reprojeto e deve ser implementada com os objetivos de:

    Reduzir a probabilidade de ocorrncia da falha em um nvel tolervel;

    Implementar mudanas a fim de que a falha no tenha conseqncias

    sobre a segurana ou o meio-ambiente.

  • 55

    A segurana tambm pode se referir segurana ou ao bem-estar da

    sociedade. As falhas que afetem esta segurana so classificadas como causas

    ambientais.

    3.4 - MANUTENO CENTRADA EM CONFIABILIDADE (MCC)

    De acordo com MOUBRAY (2000) a Manuteno Centrada em

    Confiabilidade (MCC) um processo usado para determinar o que deve ser feito

    para assegurar que qualquer ativo fsico continue a fazer o que os seus usurios

    querem que ele faa no seu contexto operacional.

    A MCC se volta para questes como confiabilidade e segurana operacional,

    buscando sempre a sua maximizao pelo planejamento, focando-se a funo do

    sistema. Ela busca tambm a minimizao dos custos e dos impactos ambientais.

    A indstria aeronutica foi a primeira a desenvolver a MCC. Na poca as

    preocupaes eram assegurar que os mantenedores estivessem fazendo o

    trabalho correto e que eles estivessem fazendo corretamente o trabalho.

    Nos primeiros passos na MCC definem-se as funes do ativo e os padres

    de desempenho pretendidos. Em seguida devem-se determinar as falhas que

    podem ocorrer. Na MCC estas falhas so conhecidas como falhas funcionais.

    Aps a definio das falhas funcionais, devem se definir as causas, ou

    modos de falhas. Os modos de falhas contm falhas de projeto, falhas devido a

    desgastes e erros humanos.

    Os efeitos das falhas tambm devem ser determinados. Por eles possvel

    saber o que realmente acontece na ocorrncia da falha.

    As conseqncias das falhas podem ser operacionais, de qualidade, de

    segurana e de meio-ambiente. As conseqncias das falhas podem ser ainda por

    falhas ocultas e no operacionais.

    Deve-se determinar tambm de que forma cada falha importa, o que pode

    ser feito para prevenir, ou at mesmo, prever a falha por aes pr-ativas. A MCC

    reconhece como aes pr-ativas as tarefas de restaurao programada, tarefas

    de descarte programado e tarefas sob condio programada.

    A MCC pode utilizar diversas ferramentas para auxiliar o seu

    desenvolvimento, destacando-se a Anlise da rvore de Falhas (FTA Fault Tree

  • 56

    Analysis), a Anlise dos Modos e Efeitos de Falhas (FMEA Failure Modes and

    Effect Analysis) e a Anlise dos Modos, dos Efeitos e da Criticidade das Falhas

    (FMECA Failure Modes, Effects and Criticality Analysis).

    O presente trabalho ir utilizar a ferramenta rvore de Falhas como suporte

    aplicao da MCC na manuteno dos turbo alimentadores GM utilizados nas

    locomotivas SD40-2 e SD40-3 da frota da MRS. Na prxima seo esta ferramenta

    ser detalhada para balizar o desenvolvimento do estudo de caso.

    3.5 - RVORE DE FALHAS (AF)

    A anlise da rvore de Falhas (AF), do ingls Fault Tree Analysis - FTA,

    surgiu na dcada de sessenta do sculo 20, desenvolvida por H. A. Watson, da

    Bell Telephone Laboratories, para avaliar o grau de segurana do sistema de

    controle de lanamentos de msseis.

    A sua utilizao vai desde projetos de mquinas e equipamentos at a

    anlise de processos industriais e administrativos.

    A AF uma metodologia que visa melhorar a confiabilidade de produtos e

    processos por intermdio da anlise sistemtica das possveis falhas e suas

    conseqncias.

    Segundo HELMAN et al. (1995), outras finalidades da AF so:

    Estabelecer mtodo padronizado de anlise de falhas, verificando sua

    ocorrncia em equipamentos e processos;

    Entendimento dos modos de falha de um sistema, de maneira dedutiva;

    Priorizao das aes corretivas que sero tomadas;

    Anlise e projeto de sistemas de segurana ou sistemas alternativos em

    equipamentos;

    Compilao de informaes para manuteno de sistemas e elaborao

    de procedimentos;

    Indicao clara e precisa de componentes mais crticos ou condies

    crticas de operao;

    Compilao de informaes para treinamento na operao de

    equipamentos;

    Compilao de informaes para planejamento de testes e inspees;

  • 57

    Simplificao e otimizao de equipamentos.

    Segundo SUCENA (2008) a AF proporciona:

    Maior interao entre as equipes de projeto, operao e manuteno;

    Maior entendimento das falhas crticas;

    Aumento do domnio das caractersticas tcnicas dos equipamentos em

    anlise.

    As etapas para a construo da AF so:

    Definio do evento topo;

    Entendimento do sistema;

    Construo da rvore;

    Avaliao da rvore;

    Implementao de aes corretivas.

    Comumente utiliza-se o diagrama de causa e efeito, ou diagrama de

    Ishikawa, como uma etapa inicial para a construo da AF. Vale ressaltar que o

    diagrama de causa e efeito no possibilita a relao operacional entre a causa e o

    efeito. Esta relao pode ser estudada utilizando-se a representao grfica rvore

    de falhas pelo uso das portas lgicas E, OU e derivadas.

    Conforme mencionado, o processo de anlise inicia com a identificao da

    falha, classificando-a como evento de topo. Na estrutura grfica da rvore

    posiciona-se este evento no nvel mais alto. A partir da a falha desdobrada, de

    cima para baixo, e detalhada, enumerando-se todas as causas e combinaes que

    originaram os eventos de nvel mais alto. Os eventos que possuem uma causa

    mais bsica so inseridos em retngulos e todos os eventos que compem a

    seqncia da rvore esto ligados pelas portas lgicas.

    O desdobramento prossegue at se atingir as causas denominadas como

    causas bsicas, que so inseridas em crculos. As anlises das causas bsicas

    no so aprofundadas por no serem consideradas necessrias. Neste ponto tem-

    se o chamado limite de resoluo da rvore.

    A eliminao das causas bsicas tem como conseqncia a eliminao do

    evento topo.

  • 58

    As figuras 26 e 27 ilustram os smbolos utilizados para os eventos e paras

    as portas lgicas respectivamente.

    Aps a construo da rvore possvel avaliar qual a preciso e a

    veracidade da representao grfica. Para isso podem ser utilizadas avaliaes de

    forma direta, anlises qualitativas (determinao dos cortes mnimos) e anlises

    quantitativas (clculo das probabilidades de ocorrncia).

    A forma direta de avaliao consiste em construir a expresso lgica para o

    evento de topo em termos das combinaes de todos os eventos bsicos

    envolvidos, ou seja, expressa a ocorrncia do evento de topo em funo de todos

    os eventos bsicos.

    Segundo SUCENA (2008) a anlise qualitativa viabilizada pela

    determinao dos cortes mnimos. Corte em uma rvore de falhas significa um

    conjunto de falhas bsicas cuja ocorrncia implica na ocorrncia do evento topo.

    Corte mnimo ocorre quando o corte no puder ser reduzido sem perder a sua

    condio de corte. Os cortes mnimos so os pontos fracos do sistema sob anlise,

    quanto menor a ordem do corte, maior a criticidade do mesmo.

    Para se determinar o conjunto dos cortes mnimos foi desenvolvido o

    Algoritmo de Vesely-Fussel que determina que portas do tipo OU aumentam o

    nmero de cortes mnimos e portas do tipo E aumentam o tamanho do corte

    mnimo. Deve-se partir da primeira porta antes do evento topo, representando-a

    pelas suas entradas at que todas as portas tenham sido substitudas.

    A figura 28 ilustra a matriz para determinao dos cortes mnimos.

    A quantidade de cortes representada pelo nmero de linhas da matriz,

    enquanto as colunas indicam a ordem do corte, ou seja, a criticidade das falhas

    bsicas.

    Se no h eventos repetidos na matriz, significa que os conjuntos de cortes

    so os conjuntos de cortes mnimos.

    A anlise quantitativa est relacionada ao clculo das probabilidades de

    ocorrncia dos eventos superiores e est atrelada s probabilidades de ocorrncia

    dos eventos bsicos e das ligaes entre estas duas categorias de eventos.

    De acordo com SUCENA (2008), a anlise quantitativa pode ser efetuada

    independentemente da anlise qualitativa.

  • 59

    SMBOLO SIGNIFICADO

    Eventos que sosadas de portas

    lgicas

    RETNGULO

    Eventos associadosa falhas bsicas ou

    primrias

    CRCULO

    Eventos norealizados(omitidos)

    DIAMANTE

    Parmetro associadoa um evento que deve

    ser monitorado

    CASA

    Evento condicional:usado em janelas de

    inibio

    OVAL

    Indica a conexocom outro evento

    TRINGULO

    SMBOLOS DE EVENTOS

    Figura 26 - Smbolos de eventos da rvore de falhas. Fonte: Anlise de Falhas (Aplicao dos

    Mtodos de FMEA FTA) Fonte: HELMAN et al.(1995).

  • 60

    SMBOLO NOME RELAO CAUSAL

    Evento de sada que s ocorre se todos osde entrada ocorrerem

    Evento de sada ocorrese pelo menos um dos

    de entrada ocorrer

    Evento de entrada sconduz ao de sada seo condicional ocorrer

    Evento de sada ocorrese os de entrada

    ocorrerem na ordem da esquerda para a

    direita

    Evento de sada ocorrese um, mas no ambos,dos de entrada ocorrer

    Evento de sada ocorrese M em N dos de entrada ocorrerem

    M em N

    SMBOLOS DE PORTAS LGICAS

    E

    OU

    INIBIO (CONDICIONAL)

    E DE PRIORIDADE

    OU EXCLUSIVA

    m

    n Figura 27 - Smbolos de portas lgicasda rvore de falhas. Fonte: Anlise de Falhas (Aplicao dos

    Mtodos de FMEA FTA) - Fonte: HELMAN et al.(1995).

  • 61

    Figura 28 Matriz para determinao dos cortes mnimos. Fonte: SUCENA (2008).

    HELMANN (1995) faz alguns comentrios sobre a AF:

    A complexidade da AF aumenta medida que o equipamento ou

    processo se torna cada vez mais complexo e com o nvel de

    detalhamento que se deseja;

    A anlise da AF permite avaliar qual o real conhecimento que a

    empresa possui sobre o processo ou equipamento;

    O mesmo evento de topo pode possui rvores com abordagens

    diferentes porque cada pessoa possui uma compreenso distinta do

    sistema. possvel combinar vrias rvores, consolidando o

    conhecimento sistematizado por diferentes pessoas ou equipes;

    Eventos de nvel mais bsico da rvore podero ser objeto de estudo,

    utilizando-se o mtodo de soluo de problemas.

  • 62

    CAPTULO 4 ESTUDO DE CASO

    4.1- LOCAL DO ESTUDO DE CASO

    A MRS Logstica S.A uma concessionria que atua no transporte

    ferrovirio de cargas na regio sudeste, desde dezembro de 1996, interligando os

    estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo por intermdio de 1.674 km

    de extenso da malha.

    A MRS foi formada por um consrcio entre as empresas Usiminas,

    Mineraes Brasileiras Reunidas (MBR), Companhia Siderrgica Nacional (CSN),

    Ferteco, Ultrafrtil, Cosigua, Fundao Caemi e Grupo Celato.

    A figura 29 ilustra o mapa da malha ferroviria da MRS.

    Figura 29 Malha Ferroviria da MRS Logstica S.A. Fonte: MRS Logstica S.A. (2006).

    O foco das atividades da MRS o transporte ferrovirio de cargas, onde se

    destacam o minrio de ferro, o carvo, a bauxita, produtos siderrgicos, cimento,

    contineres, produtos qumicos e produtos agrcolas.

  • 63

    A figura 30 demonstra a evoluo da MRS no transporte anual de cargas e a

    projeo do plano de expanso do transporte at o ano de 2011.

    Figura 30 Evoluo do transporte anual de cargas da MRS e projeo de expanso.Fonte: MRS

    Logstica S.A. (2008).

    Esta tendncia motivada pelo crescimento da economia mundial e pela

    demanda por produtos que vem aumentando a cada ano, fazendo com que as

    ferrovias de carga vivenciem uma rotina constante de crescimento na sua

    produtividade.

    A figura 31 ilustra o grfico de produo ferroviria em bilhes de TKU de

    todas as ferrovias brasileiras entre os anos de 1997 e 2008, sendo a produo para

    o ano de 2008 uma estimativa.

    A figura 32 ilustra o grfico de volume de cargas transportado em milhes de

    TU de todas as ferrovias brasileiras entre os anos de 1997 e 2008, sendo o volume

    transportado para o ano de 2008 uma estimativa.

    Para atender a demanda de crescimento do mercado, cada vez mais a

    eficincia do sistema ferrovirio dever ser maior, ou seja, a probabilidade de

    falhas ocorrerem dever ser cada vez menor, resultando no aumento da

    confiabilidade, da disponibilidade dos ativos e da segurana da operao.

    Para se atingir este patamar necessrio a utilizao de metodologias e

    ferramentas de manuteno que foquem os conceitos mencionados acima

    reduzindo falhas que impactam na operao do sistema.

  • 64

    Figura 31 Produo Ferroviria em Bilhes de TKU. Fonte: ANTF. (2008).

    Figura 32 Volume transportado em Milhes de TU. Fonte: ANTF (2008).

  • 65

    4.2 - ANLISE DOS DADOS

    Conforme abordado anteriormente, o ndice de Retrabalho impacta

    diretamente nos indicadores operacionais e conseqentemente nas metas da

    empresa.

    Como exemplo de indicadores operacionais afetados, podem ser citados:

    THP: Trem Hora Parado; ou seja a mdia dos ltimos seis meses.

    LHP: Locomotiva Hora Parada;

    Nmero de Defeitos;

    Nmero de Reboques;

    KMED: quilometragem