As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

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1 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião) AS ASAS DO AMOR E DO CONHECIMENTO REFLEXÕES ESPIRITUALISTAS Fernanda Leite Bião http://luzdointerior.wordpress.com Belo Horizonte Outubro de 2010 (última atualização)

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Artigos espiritualistas reunidos de Fernanda Leite Bião.

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1 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

AS ASAS DO AMOR E DO CONHECIMENTO

REFLEXÕES ESPIRITUALISTAS

Fernanda Leite Bião

http://luzdointerior.wordpress.com

Belo Horizonte

Outubro de 2010

(última atualização)

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2 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Uma nova possibilidade

Reencarnar é transcender a possibilidade de ser-em-si-mesmo. O ser traz

em si vivências e segredos aprendidos em suas vastas peripécias existenciais

milenares. Ao nascer ou renascer, decidiu o Pai junto aos seus companheiros de

trabalho e à pessoa reencarnante que algumas memórias e habilidades ficariam

restritas em seu componente psíquico. Assim, diante de uma nova existência, o

ser poderia e pode ter a oportunidade de aprender e reaprender

comportamentos. Nada nem ninguém está pronto e acabado. Tudo está em

movimento e em construção. É preciso encontrar fagulhas de sentido nas novas

experiências, para que, fortalecidas, possam render novos frutos renovadores,

que possibilitarão ao ser a oportunidade de evoluir – uma tarefa árdua e

necessária à alma.

A vida se assemelha a uma casa em que existem várias portas. Portas

coloridas, transparentes, portas de vidros, de madeira, portas feitas de tecidos,

portas de imaginação. Cada ser guarda a vocação ainda limitada de decidir.

Limitada, pois não a conhecemos plenamente, porque, muitas vezes, nós a

passamos a outros, para que realizem a escolha em nosso lugar e, diante disso,

perde-se um momento belo de aprendizado.

Feche os olhos! Olhe em sua volta e perceba em sua vida quantas portas

estão diante de você. Não tenha medo de imaginar. A imaginação foi uma

instância de criação que desenvolvermos junto a nossa capacidade de pensar.

Mas, preste atenção, para não se perder nela. Use-a com cuidado!

Ouça o seu coração! O que ele diz busca direção e a necessidade de

compartilhar com a razão. Não é verdade que sentimento e razão são inimigos

ou desconhecidos. Ambos existem em integração. A separação, nós a damos.

Respire fundo e deixe a energia brotar em você, expandir em seu corpo e

sair voltando ao seu lugar de origem – a natureza.

Perceba o movimento dentro de você. Coração bate e faz sons.

Pensamento age e faz movimentos. A respiração lentamente acontece e você vai

buscar, pelos sentidos, o que está externo a você. Isso se chama vida!

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3 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

A vida não é ontem, não é o amanhã, mas é o que acontece agora. Você

tem o poder do tempo de hoje, você tem o poder de se lançar à porta que realizar

a sua escolha, mas, observe, você tem uma consciência.

O que será que a sua consciência diz?

A consciência é a luz que foi colocada em nós para iluminar o caminho,

para direcionar a respiração, sintonizar as batidas do coração, e, enfim, agir em

uma direção.

Aqui estamos, eu, a consciência e a porta. Preciso clareá-la, para abri-la.

Tenho medo de não escolher o que preciso escolher, para de novo aprender.

Como fazer?

Bem, de tudo que aprendi até aqui e até agora sobre mim, só tem uma

coisa a fazer: abrir a porta! Se não tentar, como saber como aprender e como

evoluir? Tentemos!

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4 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Vivência existencial

Ao renascermos, somos pequeninos e desajeitados. Sem o auxílio do

outro, ficamos à mercê da provável extinção das forças físicas.

Embora espíritos milenares, renascemos em condição de aprendizes de

todo tipo de condição humana, dentro de um momento histórico, em torno de

uma rede social, nossa família de base e vinculada a nós pelas experiências

anteriores.

O que sei ao voltar a um corpinho de matéria densa como o organismo

terreno?

Começamos uma nova caminhada, diante de desafios e incertezas,

expectativas e esperanças, tendências e probabilidades, velhos e novos

aprendizados, de acordo com nossas potencialidades, possibilidades,

necessidades e força de vontade.

No campo dos sentimentos, somos ainda sementinhas.

Os primeiros toques, dos pais e cuidadores, além de transmitirem uma

energia muito gostosa e sutil, vêm carregados de gestos, de toques e olhares, que

serão as nossas primeiras diretrizes, na condição de encarnados, as primeiras

lições da alma de volta ao estágio terreno.

Você já reparou como são atentos os olhinhos das crianças, que nada

perdem, nada deixam passar em branco, querendo tudo aprender? O sorriso

expressando alegria, lágrimas, que podem ser de dor, cansaço ou teimosia.

Carinha feia pode ser um não. Carinha feliz, barriga cheia.

Existem tantas possibilidades de aprender a sentir, a se manifestar.

Daí a importância de sermos mais do que reprodutores de crenças,

valores e atos. Temos de ensinar, educar nossos semelhantes.

É possível mudar a si mesmo. Um condicionamento adquirido pode ser

modificado por um novo aprendizado, desde haja motivação para tanto.

Motivação: ação que me motiva. Qual é a sua?

Repare que estamos falando de autoconhecimento, da relação com o

outro, de dar e receber, da manifestação de existir. Conhecer a si mesmo, sendo-

aí-no-mundo-com-o-outro. Coexistir, para autodescobrir.

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5 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Lembremos da máxima de nosso querido Mestre Jesus: ―Amai ao

próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas.‖

Amai, amar, ação de desenvolvimento do amor. Não está pronto nem

acabado, não existe fórmula perfeita ou única, é um verbo que transmite o

movimento constante da habilidade de amar.

O amor pode ter várias formas de se expressar, mas o verbo fala de uma

ação que envolve sempre um ou mais sujeitos. Nós, eu, você, eles, todos, quem

sabe? Próximo, pode ser eu, pode ser você, pode ser a natureza. Todos e

qualquer um pode ser o seu próximo. Jesus não nomeou nada nem ninguém em

especial.

Amar o próximo – movimento de transcender ao outro, de se abrir ao

outro, de sentir o outro e de possibilitar o outro a nos sentir.

O outro é um mundo à parte de você e, ao mesmo tempo, em diálogo com

você. Mesmo que o outro conviva ao seu lado, é alguém diferente, alguém que,

muitas vezes, interpretou e interpreta sons, gestos e sentimentos de forma

diferente da sua, mas que está em movimento, tanto quanto você.

É preciso compreender. Compreender toda a energia que pulsa vida, que

poderemos nomear Deus, Criador, Senhor, Amor.

Compreender que tudo e todos estão revestidos dessa energia-

possibilidade que só conhecemos por meio da convivência.

Viver – relacionar-se com o mundo, mundo que é sentido, para conhecer.

Conhecimento de si, conhecimento do outro. Momento de diálogo, que traz o

germe do aprendizado de habilidades necessárias para evoluir.

Nomes variados atribuímos ao montante de sentimentos, emoções,

pensamentos e energias que precisamos combinar para organizar nossa vida

como seres.

Importante se reconhecer em tudo isso.

Mais que olhar só para fora, aprenda a olhar, também, para dentro de si.

A comunhão do ser está na possibilidade de diálogo entre o velho e o

novo, entre o hoje e o amanhã, entre o que sei do amor e o que vou aprender

com o amor e sobre amar.

A comunhão do ser consigo mesmo atravessa a relação tríade eu-tu-

eterno. Você-próximo-Deus.

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6 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

O Perdão

O perdão constitui uma atitude de esquecimento das faltas e, ao mesmo

tempo, representa um movimento de compreensão do ser que vivencia um

determinado evento estabelecido nas relações entre pessoas, antídoto ao

acúmulo e cristalização de energias que geram mágoas e ressentimentos

resultantes em desequilíbrios e possíveis enfermidades.

Mais do que ―esquecer as mágoas‖1, perdoar – salienta Hammed – traduz

―um sentimento profundo de compreensão e aceitação dos sentimentos

humanos, por saber que nós e outros ainda estamos distantes do agir

corretamente‖2.

Em outras palavras, perdoar não é concordar ou ser conivente ―com

aquilo que fere o estatuto legal e o código moral da vida‖3, porém saber

compreender a ―dimensão do gravame [do mal feito] e dos comportamentos a

serem adotados para que ele desapareça‖4, lembra Joanna de Ângelis, para

quem ―o verdadeiro perdão somente é possível quando ocorre o olvido

[esquecimento] pleno ao mal de que se foi objeto‖5, de modo que se possa

retornar ―à vida a harmonia que foi perturbada com aquela atitude‖6 e adquirir

―a permanência da tranquilidade interna ante os impactos desgastantes‖7.

―Amar os inimigos‖8, ensina o Evangelho segundo o Espiritismo, não

quer dizer ―ter-lhes uma afeição que não está na natureza‖, mas ―não lhes

guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem

pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem‖9.

Quando o ser é tocado em suas fibras constituintes e mais sutis

(sentimentos, valores e crenças) pode ser acometido de resistências e defesas de 1 ESPÍRITO SANTO NETO, Francisco do. Um modo de entender: uma nova forma de viver: obra ditada

pelo espírito de Hammed. Catanduva: Boa Nova, 2004, p. 70. 2 Ibid., loc. cit.

3 FRANCO, Divaldo Pereira. Elucidações psicológicas à luz do espiritismo: obra ditada pelo espírito de

Joanna de Ângelis; organização de Geraldo Campetti Sobrinho e Paulo Ricardo A. Pedrosa. Salvador:

LEAL, 2002, p. 250. 4 Ibid., loc. cit.

5 Ibid., loc. cit.

6 Ibid., loc. cit.

7 Ibid., loc. cit.

8 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo: com explicação das máximas morais do Cristo

em consonância com o espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida. 3. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2005, p. 247. 9 Ibid., p. 247-248.

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cunho psíquico e energético que surtirão mudanças no comportamento,

tornando aquele considerado agressor alguém insuportável para se conviver e

igualmente insuportável qualquer situação que se assemelhe com a experiência

vivida ou que recorde aquela pessoa. Essas experiências, de tão traumáticas ou

sofridas, podem ultrapassar o que o ser dá conta de compreender e

transubstanciar, ao prendê-lo, no aqui e agora, a uma faixa de energias densas,

fonte geradora de doenças.

Embora seja impossível nunca não se magoar, observa Hammed,

―perpetuar ou ignorar o fato desagradável pode ser comparado ao

comportamento do escorpião que, quando enraivecido, inocula veneno em si

mesmo com o próprio ferrão‖10.

Formados por meio de uma constituição biopsicossocial-espiritual,

somos um todo organizado e integrado, existente em um tempo histórico atual,

mas com uma bagagem do ontem, armazenada em nossos porões conscienciais.

No âmago dessa bagagem, composta dos materiais construídos por

inúmeros períodos de visitação entre os corpos variados e as dimensões

diversas, se agasalha a nossa verdade, nem sempre conhecida ou acessada por

nós. Por vezes, nosso contato com as experiências presentes apresentam

reflexos geradores de maiores sofrimentos. O que poderia ser uma situação

menos complexa se torna uma bola de neve, perdendo-se em dimensões e

tamanhos.

Daí a importância do desenvolvimento do autoconhecimento, a

permissão para a escuta de si mesmo. O que me faz sentir alegria ou tristeza?

Quais são os meus medos? Qual o motivo não conseguir conviver com

determinada situação ou pessoa? Qual a razão da minha agressividade ou

passividade diante de determinadas circunstâncias da vida?

―Escutar os sentimentos não significa adotá-los prontamente,‖11 – alerta

Ermance Dufaux – ―mas aceitá-los em nossa intimidade e criar uma relação

amigável com todos eles‖12, ou seja, ―sem reprimir ou se envergonhar‖13, a fim

de que se estabeleça ―uma conexão com nossa real identidade psicológica,

10

ESPÍRITO SANTO NETO, Francisco do. Um modo de entender: uma nova forma de viver: obra ditada

pelo espírito de Hammed. Catanduva: Boa Nova, 2004, p. 70. 11

OLIVEIRA, Wanderley S. de. Escutando sentimentos: a atitude de amar-nos como merecemos: obra

ditada pelo espírito de Ermance Dufaux. Belo Horizonte: Dufaux, 2006, p. 22. (Série Harmonia Interior) 12

Ibid., loc. cit. 13

Ibid., loc. cit.

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8 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

possibilitando a rica aventura do autodescobrimento no rumo da singularidade

– a identidade cósmica do Espírito‖14.

Conhecer a si mesmo, além de ser importante para o desenvolvimento

integral do espírito, abre espaço para a compreensão da presença do outro em

sua vida, o que permitirá entender os comportamentos de amor e desamor em

torno de (e em direção a) você.

Nos momentos de tristeza, desesperança e mágoas permita que o tempo

possa ser o companheiro da sua caminhada. Procure o recolhimento e aguce

sua atenção, para que possa, por meios de suas percepções, compreender cada

situação e acalmar o seu coração.

Não podemos apagar o que aconteceu no passado, mas podemos nos

revestir do aprendizado de novos comportamentos, que nos auxiliarão na

compreensão de cada fenômeno e situação em nossa vida. Um compromisso de

afeto com nós mesmos.

14

Ibid., loc. cit.

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Nosso Lar:

Vida além da vida, recomeço, uma nova vida

Voo e descoberta

Pássaro voa

Sem destino certo

Enfrenta o calor do sol

A chuva fina

O vento leve e forte

Encontra amigos e amigas

Diferentes e iguais

Encontra inimigos e inimigas

Fruto e colheita

Tem medo, sente frio e sede

Tem alegrias, flores e jardins

Preso, pode estar

Solto quer estar

Busca o caminho

Não sabe onde encontrar

Percebe uma luz

Imagina que vem de fora

Persegue-a

Distante cada vez mais se

encontra

Para e observa

Descobre que...

... a luz vem de si!15

A história de vida do espírito André Luiz apresentada nas páginas do

romance espírita Nosso Lar tem a mágica que provoca a viagem a um universo

distante e, ao mesmo tempo, tão próximo ao de todos nós.

Rompendo com a sua condição de encarnado, André Luiz passa a viver

sem o corpo físico, inicialmente em ambientes sombrios, sofrendo várias

condições conflituosas, envolvido por sofrimentos psíquicos e pela falta de

conhecimento sobre a continuidade da vida, mesmo após a morte biológica.

15

Poema da autora.

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Longa estadia, experiências vividas e a luz que surge com a

transformação se assenhoreiam, então, de sua alma, viabilizando sua mudança

para o ambiente extrafísico sadio da colônia-educandário Nosso Lar.

Quantos de nós, mesmo encarnados, não visitamos os vales escuros de

nós mesmos? Presos, como pássaros engaiolados em nossa própria ignorância,

procurando encontrar e construir um Nosso Lar como templo sagrado do nosso

coração e da nossa razão.

Nós nos identificamos, assim, com a história narrada nas páginas do livro

Nosso Lar. História que também é nossa. Desejos que também são nossos. Uma

vontade de voar e de se (re)encontrar com nossa essência divina.

Diante dessa inspiração, do relato do nosso irmão André Luiz, que

possamos viajar, de forma reflexiva, na história de vida desse espírito amigo, em

diálogo com a nossa própria história de alma milenar e na condição de ente, na

atualidade, encarnado, imerso na dinâmica (e a enfrentar os desafios) da vida

terrena contemporânea.

Grande parte da humanidade almeja um cantinho, um templo que possa

chamar de casa, de lar. Um lugar acolhedor, personalizado, no qual as

potencialidades possam ser desenvolvidas, os amores e os conflitos possam ser

vividos e as diferenças respeitadas. Enfim, um educandário da alma.

André Luiz, ao transpor as cortinas da sombra em que se encontrava e

adentrar o recinto de Nosso Lar, inaugurou nova etapa de sua trilha evolutiva,

reeducando-se.

A (re)educação do ser caminha de mãos dadas com a evolução, passando

pela reciclagem de nossos padrões de pensamentos, emoções, sentimentos e

formas de se expressar, bem como pela reconstrução do modo como olhamos as

vicissitudes da jornada evolutiva e reagimos a elas.

―É indispensável criar pensamentos novos e disciplinar os lábios‖16, alerta

a André Luiz o espírito de Clarêncio (que lhe trouxera a Nosso Lar e fora seu

principal interlocutor nos primeiros dias naquela colônia), o qual observa:

Somente conseguiremos equilíbrio, abrindo o coração ao Sol da

Divindade. Classificar o esforço necessário de imposição esmagadora,

16

XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar: obra ditada pelo espírito de André Luiz. 54. ed. Rio de

Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2003, p. 45. (Série André Luiz, Coleção A Vida no Mundo

Espiritual)

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11 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

enxergar padecimentos onde há luta edificante, sói identificar

indesejável cegueira dalma. Quanto mais utilize o verbo por dilatar

considerações dolorosas, no circuito da personalidade, mais duros se

tornarão os laços que o prendem a lembranças mesquinhas.17 (grifo

nosso)

Partindo das experiências do passado, olhando o presente e nos

projetando no futuro, assim caminhamos.

Quantos de nós, também presos nas sombras do nosso passado, nas

experiências torturantes do não conhecimento do amor e dos sentimentos que

nos credenciam ao crescimento, deixamos de voltar o olhar para nós e de

buscar a comunhão com a nossa própria verdade e a coragem de enxergar

nossos defeitos e dificuldades e nossas virtudes já inscritas na alma?

Imagine-se atravessando hoje os portões da vida física. Pense na

bagagem existencial que levará, na túnica moral que vestirá, nos valores e

amores que trará em seu coração.

O trabalho de esclarecimento e de expansão da consciência pode começar

agora, como nos aconselha André Luiz, ao final do Capítulo 1 de Nosso Lar, com

estas palavras:

Oh! amigos da Terra! quantos de vós podereis evitar o caminho da

amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Acendei

vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade,

antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes

depois.18 (grifo nosso)

O empenho e o apelo do nosso irmão André Luiz, em seus escritos e

testemunhos, é para que possamos atinar com uma existência para além dos

muros do corpo físico e perceber que a eternidade nos convida a prosseguir com

a nossa jornada, em meio a sendas espinhosas e floridas, ante a incessante

possibilidade e, muitas vezes, inadiável necessidade de recomeçar.

17

Ibid., loc. cit. 18

Ibid., p. 18.

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12 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Sabemos que um dos nossos grandes desafios é o de trilhar, na condição

de espírito imortal e alma eterna, os íngremes percursos da nossa mãe Terra,

com a vestimenta rudimentar e limitante do nosso corpo físico.

Aspecto marcante da obra reside na ocasião em que Clarêncio ressalta a

André Luiz que, a despeito deste, graças à generosidade dos pais, ter sido

poupado, em sua última reencarnação, de custear seus próprios estudos, de não

ter enfrentado as dificuldades de um médico que inicia carreira sem recursos

financeiros e de ter sido agraciado com rápida ascensão profissional, as

―facilidades conquistadas‖19 resultaram em ―morte prematura do corpo

[físico]‖20, ao se permitir ―numerosos abusos‖21 (inclusive descuidos que

redundaram em ―excessos de alimentação e bebidas alcoólicas‖22, bem como na

―perda de energias essenciais‖23 oriunda do desenvolvimento da sífilis), afastado

dos ―princípios da fraternidade e da temperança‖24, mediante a ―ausência de

autodomínio‖25 e o descaso ―no trato com os seus semelhantes‖26, a ponto da

―longa tarefa que lhe foi confiada pelos Maiores da Espiritualidade Superior‖27

ter sido ―reduzida a meras tentativas de trabalho que não se consumou‖28.

Uma vez reencarnados e relembrados do modo de existir neste plano da

vida, reinseridos na convivência entre as pessoas que aqui também se

encontram estagiando por intermédio do corpo carnal, somos induzidos a

incorporar comportamentos e condicionamentos, ora saudáveis e importantes,

ora adoecedores e desnecessários, presentes e vigorosos na sociedade terrena.

Embora seja imprescindível, por razões de sobrevivência e atuação no

círculo humano, adaptarmo-nos ao contexto em que ora vivemos, estejamos

atentos para evitar que nos percamos nas ilusões da matéria e nas fugas da

realidade, tendo em mente, como advertência, as desventuras de André Luiz –

lembrança de desditas nossas do passado remoto ou recente –, a fim de recordar

a nós mesmos que, a par das necessidades físicas e de sobrevivência, a alma –

19

Ibid., p. 92-93. 20

Ibid., p. 93. 21

Ibid., loc. cit. 22

Ibid., p. 33-34. 23

Ibid., p. 34. 24

Ibid., p. 33. 25

Ibid., loc. cit. 26

Ibid., loc. cit. 27

Ibid., loc. cit. 28

Ibid., loc. cit.

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13 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

nossa essência e principio inteligente – reclama por cuidados especiais que, de

maneira frequente, em face da agitação do cotidiano, adiamos ou esquecemos.

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14 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Todas as coisas têm seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu

segundo termo que a cada uma foi prescrito. Há tempo de nascer, e

tempo de morrer. Há tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se

plantou. Há tempo de matar, e tempo de sarar. Há tempo de chorar,

e tempo de rir. Há tempo de se afligir, e tempo de saltar de gosto. Há

tempo de espalhar pedras, e tempo de as juntar. Há tempo de dar

abraços, e tempo de se por longe deles. Há tempo de guardar, e

tempo de lançar fora. Há tempo de rasgar, e tempo de coser. Há

tempo de calar, e tempo de falar. Há tempo de amor, e tempo de

ódio. Há tempo de guerra, e tempo de paz.29 (grifo nosso)

— Livro do Eclesiastes (3.1-8)

Renovação

Voltar ao tempo, visitar os porões da história humana, conhecer as

maneiras, os valores, a vida pulsando e impulsionando o presente, em direção

ao eterno porvir.

Jesus, mestre e amigo, agia no presente, mas seu ministério também se

projetava no futuro, pensando nas gerações vindouras.

Jesus, planejando a construção do reino dos céus na Terra, fez-se

modelo de amor e, impregnando cada ser que dEle se acercava, vem

alterando os rumos da humanidade, que lentamente abandona a

sombra, supera a ignorância e avança no rumo glorioso do Infinito.30

(grifo original)

A cada passo, a cada ensinamento, cada palavra exercia (e exerce) uma

força poderosa sobre vidas humanas. Seu convite era o eterno recomeço!

―Revolucionário por excelência‖31 — recorda Joanna de Ângelis — ―estabelecia a

29

BÍBLIA SAGRADA: edição ecumênica; tradução do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, com notas e

um completo Dicionário Prático por Monsenhor José Alberto L. de Castro Pinto, Bispo Auxiliar do Rio

de Janeiro. [S.I.]: Barsa, 1972, p. 512. 30

FRANCO, Divaldo Pereira. Desperte e seja feliz: obra ditada pelo espírito Joanna de Ângelis. 9. ed.

Salvador: LEAL, 2004, p. 160. 31

Id. Jesus e atualidade: obra ditada pelo espírito Joanna de Ângelis. 8. ed. São Paulo: Pensamento-

Cultrix, 2000, p. 74.

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15 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

luta de dentro para fora: a morte do homem velho e o nascimento do homem

novo‖32 (grifo nosso).

Recomeçar, começar de novo, renovar atitudes e comportamentos

usando a força do tempo e dos experimentos de uma vida. ―A incessante

renovação dos valores, para melhor, torna-se motivação permanente para a

estruturação do ser real, profundo, vitorioso sobre si mesmo.‖33

A lagarta adormece na terra imunda para ressurgir na alegre borboleta

que plaina.

A semente sucumbe no solo a fim de dar lugar ao arvoredo que triunfa

acima do chão.

O ramo de enxerto modifica a estrutura primitiva da planta ou a

multiplica em plantas novas.34

Todos têm um arcabouço de conhecimentos classificados e colocados em

ação. A todos são dadas as possibilidades para escrever um novo capítulo da sua

vida no livro da existência.

Somos convidados à constante renovação. Entretanto, só operam

transformações em suas vidas aqueles que estão abertos a esse movimento,

aqueles que já se percebem como cidadãos, sujeitos de sua própria vida, apesar

de imersos no turbilhão terreno.

Jesus tocava os corações já amolecidos e vencidos pelo cansaço da

repetição. Efetuava transformações pelo seu olhar de confiança, sua empatia e

seu amor, por meio dos quais conseguia se aproximar, chegar bem perto de cada

ser, em um diálogo de igual para igual, entre irmãos, filhos do mesmo Criador.

O olhar pode operar manifestações profundas e transformadoras, assim

como aniquilar.

O olhar do Mestre trazia o ser à luz, mesmo em meio à escuridão. Diante

da escuridão, da repetição de comportamentos adoecedores, da ignorância e do

desamor, o vigor da luz, do esclarecimento, da mudança íntima e da abertura de

consciência.

32

Ibid., loc. cit. 33

Id. Autodescobrimento: uma busca interior: obra ditada pelo espírito Joanna de Ângelis. 13. ed.

Salvador: LEAL, 2004, p. 89. 34

Id. Celeiro de bênçãos: obra ditada pelo espírito Joanna de Ângelis. 9. ed. Salvador: LEAL, 2005, p.

22.

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16 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Aqueles que acreditavam, levantavam-se e o seguiam, pois sua túnica já

havia se transformado. O peso da falência havia se transubstanciado em

possibilidade de recomeço.

O renascimento para a vida é franqueado todos os dias. O recomeço é

parte do cotidiano. ―Cada dia é bênção nova, cada minuto faculdade espontânea

de crescimento. Ninguém há que esteja vencido, senão quando abandona a

luta.‖35

Faça parte da falange da mudança universal. Aprenda a usar seus

sentidos.

Não deixe que a nuvem da não realização, da negação de si próprio

escureça a sua oportunidade de olhar para si mesmo. ―O autoconhecimento

faculta o esforço por superar as dificuldades e lutar contra as imperfeições que

tisnam a claridade diamantina da consciência que reflete o pensamento

divino.‖36

Visite o seu coração, aproxime-se do outro.

Use os brilhos dos seus olhos para iluminar os que compartilham da sua

presença e vão em busca de seu auxílio fraterno.

Use suas palavras para ensinar, para dignificar a vida. Estenda suas mãos

ao toque suave. Contemple a troca de energias entre você e o seu semelhante,

entre você e a natureza.

Seus ouvidos são instrumentos potentes. Captam o som dos movimentos

dos viventes, o som das notas musicais e a batida do seu coração.

O equilíbrio é uma necessidade de sobrevivência.

É preciso estar atento aos movimentos corporais, a cada necessidade

singular, ao caminho, ao percurso e às escolhas. ―Discernimento sobre o que

deve e pode fazer, não se permitindo eleger o que agrada, mas não deve, ou

aquilo que deve, porém não convém executar.‖37

É preciso prestar atenção ao peso e ao valor colocados em sua própria

balança íntima, tomando o devido cuidado para não pesar nem mais de um lado

nem mais do outro, e procurando distinguir entre ―o que é ilusório e o que é

35

Ibid., loc. cit. 36

Id. Otimismo: obra ditada pelo espírito Joanna de Ângelis. 7. ed. Salvador: LEAL, 2005, p. 50. 37

Id. Autodescobrimento: uma busca interior: obra ditada pelo espírito Joanna de Ângelis. 13. ed.

Salvador: LEAL, 2004, p. 78.

Page 17: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

17 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

verdadeiro, o que tem estrutura resistente ao tempo e às transformações

culturais e aquilo que apenas engoda‖38.

Não chorar demais, não sorrir demais, não falar demais, não se calar

totalmente. Eterno aprendizado!

Hoje é mais um dia, mas pode ser um dia diferente em sua vida, em sua

história. O que acha?

Permita o recomeço, a renovação, como as estações do ano. Deixe as

flores perfumarem sua existência até que as folhas caíam. Deixe que o sol traga

esperança e saúde, até que o frio faça você se recolher. Aproveite os ciclos da

existência. Sinta, permita-se!

38

Id. Vida: desafios e soluções: obra ditada pelo espírito Joanna de Ângelis. 8. ed. Salvador: LEAL, 2006,

p. 35.

Page 18: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

18 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Juventude e Projeto Existencial

A juventude é uma fase marcada de incertezas. Há um afastamento do

corpo infantil, que se transforma em um novo corpo, com mudanças físicas e

hormonais a suscitarem no jovem estranhamento e dúvidas sobre essa nova

constituição biopsicossocial.

No campo perispiritual, modifica-se a conexão com energias mais sutis

que outrora (na infância) faziam parte da vida do ser. Ao mesmo tempo, começa

a aflorar o espaço para uma identidade autônoma.

Todo o processo de socialização e educação proporcionado por pais e

cuidadores tem um caráter especial, uma vez que o objetivo é o aprendizado de

novos comportamentos, os quais, inseridos no contexto presente, podem

estabelecer ressonância com as lembranças de outras vivências

(reencarnações). Dos pontos de convergência entre o pretérito remoto e a

atualidade germina a semente para opções de novas escolhas para o ser

reencarnado ou a repetição de hábitos, virtudes ou vícios, originários de outros

momentos evolutivos.

Durante a estadia no plano espiritual, o espírito, geralmente, conta com a

colaboração de uma equipe interdisciplinar, a fim de que juntos possam

reelaborar o seu projeto de vida (existencial), necessário ao planejamento das

tarefas, objetivos e metas existenciais.

O projeto reencarnatório é um processo vivenciado pelo espírito antes do

seu retorno ao orbe terrestre. Quando consciente do estado em que se encontra,

lúcido quanto aos seus comportamentos e em condições de propor objetivos

factíveis e saudáveis, propõe-se ao espírito se juntar à equipe interdisciplinar

encarregada de formular as escolhas, objetivos e metas da nova tarefa

existencial. Já quando em estado de alienação, o orientador designado para a

tarefa reencarnatória do espírito assume a atribuição de construir com os

cientistas siderais o projeto a ser desenvolvido pela alma reencarnante.

Toda a ação realizada anteriormente pela alma em evolução permanece

registrada em seu corpo períspiritual, o que facilita a organização do material

(DNA) na elaboração das possíveis probabilidades de vir-a-ser na Terra.

Page 19: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

19 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Ligado a uma rede evolutiva, afetos e desafetos, oportunidades e

necessidades farão parte dos desafios e aprendizados a serem enfrentados pela

alma em evolução. O espírito, por meio do seu livre-arbítrio, pode e deve

transitar pela existência, promovendo as modificações e reconstruções baseadas

nas leis éticas e evolutivas universais.

De volta ao corpo material, etapas da vida física são forjadas (infância,

juventude, adultez e velhice), convidando o ser a utilizar todo o seu potencial

para a instauração do que foi acordado antes do processo reencarnatório e que

hoje requer, novamente, preparo e coragem para enfrentar os desafios da vida

humana.

Na juventude, torna-se mais visível e delicado o diálogo entre as

tendências (saudáveis ou patológicas) cultivadas no passado distante e a nova

personalidade em gestação.

O jovem é convidado a viver cada dia projetando-se no futuro, realizando

escolhas, oscilando na construção de uma identidade para a vida adulta e a

perda de uma infância marcada pela segurança validada pelos pais.

As decisões, antes externas aos jovens, são transferidas, paulatinamente,

para a sua esfera de responsabilidade – momento em que o projeto

reencarnatório pode ser relembrado, o que faculta ao ser o início do

(re)descobrimento do sentido existencial.

A percepção de si e o desenvolvimento do autoconhecimento do jovem

passam pelo estudo de suas origens (história familiar, valores e crenças), exame

do que lhe chama a atenção no presente (mundo a sua volta), análise da forma

com que participa em grupos sociais, reflexão sobre os sentimentos (medo,

raiva, alegria e insegurança) vivenciados no cotidiano e ponderação acerca do

sentido de cada escolha.

Page 20: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

20 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à

perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que

também eu fui conquistado por Jesus Cristo.

Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto:

prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente,

persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em

Jesus Cristo. Nós, mais aperfeiçoados que somos, ponhamos nisto o

nosso afeto; e se tendes outro sentir, sobre isto Deus vos há de

esclarecer.

Contudo, seja qual o grau a que chegamos, o que importa é

prosseguir decididamente.39

― Paulo de Tarso (Epístola aos Filipenses, 2.12-16)

Perseverança

Reencarnar é como ser lançado ao mundo com um mochilão nas costas

cheio de apetrechos (nossa bagagem existencial), porém sem mapa nem

bússola (reencarnamos desprovidos da lembrança exata dos compromissos

assumidos com a espiritualidade e dos desafios desta encarnação). Temos de

utilizar os apetrechos (virtudes, aptidões e potencialidades) da melhor maneira

possível, mas nem sempre conseguimos. Mesmo assim, é preciso perseverar, a

fim de abrir possibilidades para o devir – virtude necessária para o aprendizado

de novos e constantes repertórios comportamentais.

Na senda evolutiva, as virtudes bailam em comunhão com os vícios

presentes na condição humana. Entretanto, somos convidados constantemente

à tarefa do melhoramento íntimo e de construir e aperfeiçoar o projeto de vida,

conhecendo a realidade por meio das necessidades e possibilidades presentes

em nossa jornada, desafiando os sedutores convites dos caminhos fáceis, que

podem nos levar a um destino ilusório – a porta larga.

O desenvolvimento da perseverança nos faculta habilidades, para que

possamos realizar escolhas mais condizentes com o nosso projeto existencial, o

que vai contribuir não somente com o crescimento individual, mas com o

crescimento dos entes que nos cercam.

39

BÍBLIA SAGRADA: edição pastoral-catequética. 168. ed. São Paulo: Ave Maria, 2005, p. 1.506.

Page 21: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

21 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

A vida é uma espiral que espera de nós o envolvimento e a colaboração,

para se movimentar de forma que seja alcançada a finalidade maior: a evolução

de todos. Salienta Joanna de Ângelis:

Avançando lenta e seguramente, aprendendo com as forças vivas do

Universo, entesoura os recursos preciosos do conhecimento que lhe

custou sacrifícios inumeráveis no longo curso das experiências e agora

se interroga a respeito da finalidade de todo esse curso de

crescimento, descobrindo, por fim, que se encontra no limiar das

realizações realmente plenificadoras e profundas, porque são as que

significam libertação dos atavismos remanescentes, ampliando as

aspirações na área das emoções mais nobres, portanto, menos

afligentes, aquelas que não deixam as sequelas do cansaço, da

amargura ou do desânimo.40 (grifo original)

Busquemos conhecer as dúvidas, os medos, as angústias e as

necessidades que são parte de nós. Estejamos conscientes da presença de

inúmeras patologias sociais que interferem de forma singular em nossos

comportamentos e vivências.

As dimensões superiores não estão fora de nós. Estão dentro de cada

coração, que guarda a chama da energia divina em latência, herança sublime do

Criador, causa primeira da nossa existência.

Exercitar o autoconhecimento significa pensar sobre o si (história

passada, pretérita e futura), as construções das instituições sociais (família,

escola, relações sociais) e a nossa identidade como Ser.

No momento em que realizamos a tarefa do autoenfrentamento, a

cortina das ilusões (que não permite que possamos ver a nós mesmos) começa a

se transubstanciar, gerando um momento de estranhamento.

Começamos a estranhar o que não conhecemos em nós. As ilusões

mascaram o momento do autoencontro. Eclodem conflitos íntimos que se

projetam no exterior. Por vezes, queremos mudar e não conseguimos. Muitos

corações esforçados se perdem nesse momento, no qual ocorre o autoencontro,

quando a perseverança floresce, a esperança (re)nasce e o autoconhecimento

40

FRANCO, Divaldo. Vida: desafios & soluções: pelo espírito Joanna de Ângelis. 8. ed. Salvador: LEAL,

2006, p. 28-29.

Page 22: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

22 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

prossegue, acompanhado do enfrentamento dos desafios, resultando no

crescimento de cada um.

A verdade liberta. Não a verdade de outrem nem a verdade que o mundo

criou para nós, mas a verdade que habita o nosso Ser e que é nossa tarefa

descobrir. De nada adianta ditar normas e construir formas de condutas que

receitamos aos demais, ao mesmo tempo que as rejeitamos para nós.

Conscientes da importância de evoluir e dispostos a nos renovar,

candidatamo-nos à entrada nos portais do conhecimento, do aprendizado e das

modificações interiores, capazes de promover mudanças vibracionais em nosso

íntimo e em nosso círculo de relações. Ensaiamos para ser pérola em meio ao

nácar, vencer as resistências às mudanças e ter coragem para sair de um lugar

que, embora seguro, já não contempla nossas necessidades existenciais.

O grande laboratório humano se constrói dentro de cada ser, universo

particular a interferir no universo coletivo. O exemplo da conduta posta em

prática – não apenas teorizada – é a força mais poderosa de progresso social.

Page 23: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

23 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

No caminho do amor

O principio inteligente é substrato existente em cada Ser.

Nas batalhas interiores, notam-se movimentos intensos que, por vezes, se

perdem no ciclo de repetição, gerando alienação – fenômeno mortífero

existencial.

Nesse sentido, os questionamentos sobre a necessidade de

desenvolvermos o amor por Deus, por nós e pelo próximo têm se tornado

gerador de angústias, devido à falta de autoconhecimento e conhecimento sobre

os fenômenos que se apresentam no mundo circundante.

O desenvolvimento do amor vai dizer de como as relações são vivenciadas

no cotidiano e como aprendizados e experiências são apropriados pela alma em

desenvolvimento.

Ao olhar o Outro visitamos universos parecidos filogeneticamente, porém

singulares, por toda história vivida e aprendida.

O exercício do aprendizado de amar acontece quando aprendo a perceber

o outro, aprendo a ouvi-lo e a respeitar suas escolhas, mesmo que estas não

sejam aceitas segundo as crenças já adquiridas. Uma vez desenvolvida a

capacidade de percepção e de recepção dos movimentos do outro, começamos a

perceber o nosso próprio movimento, o do próximo e de Deus, formando dessa

maneira uma espiral harmônica.

Assim, olhe para si, olhe para o próximo, veja Deus!

Page 24: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

24 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

O despertar da consciência é algo realmente mágico e instigante!

Aquele que ainda não despertou pode achar completamente sem

coerência o sentimento de espiritualidade, mas basta romper um

“pequeno lacre” dentro de seu eu e tudo se transforma, como um

passe de mágica.41 (grifo nosso)

Gestações Conscienciais

Quem sou? É a frequente pergunta que fazemos a nós mesmos ou que nos

fazem, ainda que no silêncio dos olhares reflexivos, espíritos, encarnados ou

desencarnados, que acompanham a nossa caminhada.

A resposta pode ter vários sentidos. O que sou pode ser confundido com o

que faço, que, por sua vez, pode refletir os papéis sociais desempenhados no

cotidiano e no contexto vivencial. Entretanto, somos convidados a refletir o que

somos sem a roupagem atribuída por títulos e rótulos, a encobrir as

possibilidades de descoberta do nosso potencial divino, cujo florescimento

depende do interesse e da força de vontade de nos movimentarmos.

Somos seres misteriosos. Em nós paira sempre um movimento

desconhecido. A energia pulsante, sutil e leve, gerada em nosso íntimo diante

das vivências ganha proporções grandiosas ou não, a depender da disposição e

da abertura à compreensão de tal fenômeno interior.

Gerar tamanha energia não é uma tarefa fácil. Os sintomas (angústia,

medo, insegurança) caminham junto com uma vontade enorme de entender os

acontecimentos.

Conhecer tais mecanismos presentes no fenômeno da reciclagem íntima

é uma das tarefas necessárias para se conhecer a matéria que compõe a

organização psíquica e os comportamentos que utilizamos em nosso cotidiano –

análise a partir da qual podemos colher, em partes, como peças de um quebra-

cabeça, as respostas para o questionamento sobre quem somos.

41

PARANHOS, Roger Bottini. Universalismo crístico: o futuro das religiões: obra orientada pelo espírito

Hermes. Limeira: Editora do Conhecimento, 2007, p. 132.

Page 25: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

25 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

A cada passo evolutivo alcançado, um sentimento de libertação acresce à

nossa caminhada. Mais fortalecidos, contemplamos a matéria-prima em nós

(nossa essência divina) se desenvolver.

As experiências, somadas à vontade de aprender e de se melhorar,

possibilitam a percepção das primeiras manifestações e respostas à nossa tarefa

de gestação consciencial, ao mudarmos a maneira não apenas como lidamos

com nossos mistérios d’alma, mas também como enxergamos o universo íntimo

dos demais, nossos irmãos e irmãs de jornada evolutiva. É o eterno trabalho do

despertamento a que alude Joanna de Ângelis:

Despertar significa identificar novos recursos ao alcance, descobrir

valores expressivos que estão desperdiçados, propor significados

novos para a vida e antes não percebidos. O despertamento retira o

véu da ilusão e a faculta a percepção da realidade não fugidia, aquela

que precede a forma e permanece depois da sua disjunção. Estar

desperto é encontrar-se partícipe da vida, tudo realizando com

integral lucidez.42 (grifo nosso)

Em termos práticos, a observação de si mesmo e dos demais, das nossas

escolhas cotidianas e da percepção dos nossos pensamentos, sentimentos e

emoções oferece contribuição significativa para compreendermos a realidade

íntima e exterior (conscientização) e semearmos novos olhares sobre as

paisagens do mundo que reside em nós e nos circunda (despertamento).

Apesar da correria da vida humana, aprendamos, pois, a reservar um

tempo para a análise do nosso dia. Comecemos observando as nossas respostas

às demandas dos que nos acompanham (amigos, familiares, companheiros de

ideal, colegas de trabalho), os comportamentos diante dos desafios (problemas e

dores do caminho) e a temperatura das energias (grau de amor, raiva, mágoa,

alegria) sinalizadores de nosso estado de espírito.

Em nós existe sempre um aparelhinho (coração) que apresenta, de forma

autêntica, o quanto estamos sintonizados com o Criador, as leis que regem o

universo e o nosso projeto reencarnatório.

42

FRANCO, Divaldo Pereira. O ser consciente: ditado pelo espírito de Joanna de Ângelis. 14. ed.

Salvador: LEAL, 2002, p. 163.

Page 26: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

26 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Toda tarefa exige de nós um mínimo de esforço e coragem. Conhecer o

que somos é a necessária aquisição para a nossa evolução.

Mãos à obra!

Page 27: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

27 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

As Asas do Conhecimento e do Amor

Embora o vazio existencial não possa ser preenchido, podemos alcançar a

autorrealização, ao compreendermos nossas dimensões interiores e crescermos

diante da história escrita por nossas próprias mãos. Precisamos, entretanto, de

coragem.

A coragem de aproveitar as oportunidades evolutivas para aperfeiçoar a

nossa percepção dos fenômenos apresentados no cotidiano, já que tudo passa

pelo crivo pessoal.

A coragem de compreender o valor educativo das provas e das

adversidades, da dor e do sofrimento.

A coragem de sobrepujar a autopiedade e a crença de que o sofrimento é

castigo da divindade, injustiça ou má sorte.

A coragem de abandonar a trilha da revolta e da resistência e, ao mesmo

tempo, tornar-se humilde e receptivo ao aprendizado que surge com a

compreensão do que determinada vivência cotidiana vem a acrescentar ao nosso

melhoramento íntimo.

A coragem de amar a si mesmo, apesar das limitações e decepções

consigo próprio, quedas e recomeços. A coragem de amar ao próximo, apesar

das diferenças e desilusões, incompreensões e injustiças. A coragem de respeitar

o momento evolutivo alheio, ainda que se discorde das escolhas e opiniões. A

coragem de inaugurar novo ciclo de aprendizados, com bom ânimo e fé na

humanidade, sem se perder nas teias da mágoa, da vingança e do pessimismo.

Que possamos nos dedicar ao autoconhecimento e ao trabalho de

alquimia de nosso mundo interior, em benefício da alquimia do mundo coletivo,

semeando as sementes de nosso futuro na humanidade, nesta e em novas

jornadas evolutivas no plano físico. Que possamos visualizar as realizações que

almejamos florescer e sedimentar no íntimo e no exterior, considerando a nossa

realidade atual, em diálogo tanto com nossas vocações e aptidões, quanto com

as oportunidades franqueadas pelo meio familiar, profissional e social de que

fazemos parte.

Que tenhamos olhos para ver e ouvidos para ouvir. Mais do que isso,

coração para sentir e não deixar a nossa alma se empobrecer pelas verdades

Page 28: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

28 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

parciais. Pensar, refletir, fazer escolhas, acertar, errar procurando acertar,

caminhar e, principalmente, amar, cujo passo inicial implica aprender a amar a

si mesmo e respeitar a centelha divina que molda e dita nossa consciência

moral, nem sempre ouvida.

Quando desvelamos nossos potenciais, os desafios se tornam fontes de

estímulos para a caminhada evolutiva e a autossuperação e o vazio existencial,

válvula propulsora para saudáveis modificações nas relações internas e

externas.

Cada ser humano é um livro que pertence à biblioteca universal. Cada

página é a expressão dos movimentos articulados por cada singularidade.

Somos responsáveis pelo conteúdo e manutenção da nossa história, suas

modificações e transformações ao longo do tempo.

A tarefa de avaliar comportamentos presentes e passados, em prol de

novas condutas e escolhas, apresenta-se como atividade necessária para a

descoberta das potencialidades que contribuirão para as novas escolhas e a

aquisição de aprendizagem de novas formas de ser-no-mundo, de acordo com

cada fase do ciclo evolutivo do espírito.

Que possamos perceber os convites da vida para promover mudanças

benéficas ao nosso crescimento íntimo. Compreender os motivos de nossa

participação nas tarefas desempenhadas no dia a dia, no ambiente do lar, do

trabalho e da sociedade em geral. Indagar a importância de estabelecer relações

interpessoais e de conviver — ante as circunstâncias da vida — com quem temos

afinidade ou falta de sintonia, antagonismo ou amizade. Em relação à vivência e

convivência cotidianas, perguntar a nós mesmos: ―O que tenho a aprender? O

que tenho a ensinar?‖ A vida é uma via de mão dupla em que, de modo

consciente ou não, recebemos e realizamos doações, aprendemos e ensinamos.

Hoje, na transição planetária de mundo de provas e expiações para

mundo de regeneração, nós, trabalhadores da última hora, somos convidados a

ser iniciados pelos portais do coração.

Nestes dias conturbados, não permitamos que as energias exteriores

possam encontrar sintonia com nossas energias internas. Quando nos sentirmos

cansados do peso da existência, elevemos o pensamento ao Criador da Vida e

mentalizemos a energia dourada a descer dos planos mais sutis e inundar a

nossa alma-amor.

Page 29: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

29 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Os desafios de uma existência são inúmeros, cheios de atalhos e pedras,

bem como de flores que iluminam e perfumam a nossa jornada evolutiva. A

esperança caminha junto com o coração disposto a buscar os segredos

guardados nos porões interiores, que precisam ser revelados e conhecidos, para

que, então, a alma possa fluir e crescer rumo à evolução.

Que façamos das adversidades diárias oportunidades aproveitadas para

edificar a verdadeira felicidade: a sintonia com as energias de paz, tranquilidade

e amor, assim como a realização de escolhas em harmonia com as leis que

regem o universo e possibilitam a nossos pés começarem a caminhar não tão

pesados e vacilantes, mas confiantes e seguros, de forma que, não mais reféns

de modismos e sofrimentos, sejamos cocriadores da nossa própria vida.

Tenhamos, pois, fé. Fidelidade à luz que habita em nosso íntimo.

Consciência de que, a fim de sermos anjos, necessitamos de duas asas de

proporções similares. A asa do conhecimento (sem o conhecimento somos cegos

na imensidão da nossa existência) e a asa do amor (fonte irradiadora de

sensibilidade e aproximação de nós mesmos e do outro que nos visita).

Page 30: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

30 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Painéis da Existência

Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas

a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e

a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as

pessoas de sua própria casa.

— O Evangelho segundo Mateus (10.34-36)

Há cerca de dois milênios, Jesus sabiamente afirmou que não veio trazer

a paz, mas, sim, a espada.

O Mestre lançou a possibilidade de conflitarmos com as situações

determinantes do contexto social da época (em muitos aspectos, patologias

ainda presentes e vigorosas na sociedade atual), convidando-nos ao árduo

desafio de forjar a ―decisão firme‖ de encarar ―a sombra coletiva e, ao mesmo

tempo romper a interior‖ , à medida que nos depararmos com as resistências

íntimas e sociais à assimilação da conduta amorosa, condicionamentos ditados

pela ―supremacia do orgulho e da hediondez‖ .

Os ensinamentos de Jesus nos persuadem — nas palavras de Joanna de

Ângelis — a enfrentar a paz sombria ―feita de ócio e cansaço‖ , munidos da

―espada flamejante da autoconsciência‖ , a descortinar a verdadeira paz,

―dinâmica e gloriosa‖ , separando ―a mentira da verdade, a usurpação ignóbil da

conquista honrada‖ .

Divisões de classes, mitos fundamentados no poder, o sentimento ainda

tão embrionário que faltava água e sol para as sementes se remexerem embaixo

da terra ou o coração balançar verdadeiramente pela presença do outro. Muitas

lágrimas, muitas dores, mas também um novo movimento surgiu no horizonte.

O conflito estava instaurado, no bojo de ―uma revolução espiritual como

a Terra jamais experimentara outra semelhante‖ .

Quem é aquele outro que compartilha a existência ao meu lado? Será que

a cor da sua pele, o lugar onde nasceu e seus costumes podem verdadeiramente

me contar quem são? Ou são vestimentas para dar sentindo a uma existência

que precisa existir?

Page 31: As Asas do Conhecimento e do Amor: reflexões espiritualistas

31 As Asas do Amor e do Conhecimento (reflexões espiritualistas de Fernanda Leite Bião)

Tantos empecilhos para se aproximar do outro. Tanto medo de sair do

lugar confortável, inaugurado pelas vivências e reforçado pelo ego, que também

é uma roupagem volátil.

Assim, constroem-se as histórias, permeadas por repetições e cheias de

dificuldade de visualizar o novo.

Somos seres que desejamos ser. Ser e existir são verbos. Verbos são

ações. Ações são projetos. Projetos são a própria vida.

O que acha de fazer uma pequena visita ao seu redor? Olhe a sua volta.

Busque experimentar o que a vida tem a lhe oferecer. Presos em nossa própria

prisão, a claridade, a luz que também é conhecimento, restringe-se ao conhecido

e dificulta a visão do presente.

Não permita que a sua certeza se torne escuridão e seus olhos não

possam ver, seus ouvidos não possam ouvir e seu coração não possa sentir.

Sinta a sua presença. Ela é permeada da presença do outro.

A história da humanidade vem carregada de uma carga de desamor, de

descuido, de omissão. Sujeitos não são objetos hoje, são objetos desde sempre.

E, possivelmente, a espada que o Mestre nos trouxe veio cortar os nossos vícios

e a nossa capa de ignorância, fazendo que os movimentos em nós fossem

causadores de modificações em nossos sentidos e, quem sabe, responsáveis pela

instauração de novos comportamentos, mais saudáveis para mim e para o outro.

Desafios são muitos.

Já pensou em começar? No começo de toda empreitada, a insegurança se

faz companheira, mas o desconhecido se torna conhecido, à medida que me

permito abertura para perceber, compreender e sentir.

Faça um acordo com você mesmo: tente! O campo de possibilidades são

inúmeros, mas é preciso perceber e discernir.