As Coalizões de Defesa e as Mudanças Na Política Externa

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modelo de rede politica baseada na formação de crenças

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4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais

De 22 a 26 de julho de 2013.

AS COALIZÕES DE DEFESA E AS MUDANÇAS NA POLÍTICA EXTERNACOMERCIAL E ENERGÉTICA DOS ESTADOS UNIDOS PARA O ETANOL

EPI – Economia Política Internacional

Workshop Doutoral

Laís Forti Thomaz  

PPGRISan Tiago DantasUNESP UNICAMP PUCSP

Belo Horizonte2013

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Laís Forti Thomaz

AS COALIZÕES DE DEFESA E AS MUDANÇAS NA POLÍTICA EXTERNA

COMERCIAL E ENERGÉTICA DOS ESTADOS UNIDOS PARA O ETANOL

Trabalhosubmetido e apresentadono 4º Encontro Nacional daAssociação Brasileira de RelaçõesInternacionais – ABRI.

Belo Horizonte2013

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RESUMO

No final de 2011, o Congresso dos Estados Unidos encerrou suas atividades semrenovar os principais incentivos federais à produção de etanol, criados nos anos 1970e ampliados nas décadas seguintes. A pesquisa pretende demonstrar que esse

resultado decorreu principalmente de mudanças nas coalizões de defesas dosincentivos, embora fatores externos às coalizões também tenham contribuído. Entre osfatores internos, destacam-se alterações nas estratégias e recursos das coalizões dedefesa, bem como nos interesses, percepções e valores dos membros que sãoautoridades legais e podem influenciar na mudança de determinado programa. Entreos fatores externos destacam-se a posição de liderança mundial nas exportações doetanol, atingida em 2011, mudanças de coligações de governo advindas das eleiçõesde 2010, mudanças na opinião pública no debate sobre biocombustíveis e alimentos,surgimento de novas alternativas energéticas e decisões geradas em outrossubsistemas, como cortes orçamentários para diminuir o déficit público. A pesquisa seapoiará no quadro teórico da advocacycoalitions framework, que oferece referênciasadequadas para a análise de mudanças em coalizões de defesa inseridas no

subsistema político. Com base nesse quadro teórico, a metodologia da pesquisadestacará: mapeamento das estratégias e iniciativas das coalizões; análisedocumental e de conteúdo legislativo; entrevistas; análise de eleições, doações acampanhas e ações de lobby, principalmente durante as votações legislativas. Emboraapoiada em dados quantitativos, a análise será qualitativa, com ênfase nacompreensão dos mecanismos causais, em busca de identificar ações desenvolvidasa partir dos estímulos externos para mudança nas coalizões. A hipótese da tese é queessas informações e análises demonstrarão a prevalência dos fatores internos sobreos externos na mudança de posição do Congresso sobre o etanol.

Palavras-chave: Estados Unidos; Política de Comércio Internacional; Coalizões deDefesa; Energia.

INTRODUÇÃO

No final de 2011, o Congresso dos Estados Unidos encerrou suas

atividades sem renovar os principais incentivos federais à produção de etanol

no país. Os grupos ligados à cadeia produtiva do etanol teriam perdido sua

força política e por isso os subsídios não foram renovados?O paradoxo a ser

analisado é como isso acontece no momento em que aumentam o peso

econômico e a visibilidade do etanol para os Estados Unidos.

A matéria-prima mais utilizada na produção americana é o milho. O

governo concede subsídios ao setor agrícola desde 1933 e os subsídios ao

etanol datam dos anos 1970, com o objetivo de reduzir a dependência em

relação ao Oriente Médio e aumentar a segurança energética do país. A

intervenção fez com que os produtores pudessem desenvolver tecnologia mais

eficiente e aumentar a margem de lucro de seus negócios. Em 2005 os

Estados Unidos alcançaram a liderança na produção mundial e em 2011

bateram seu recorde de exportação.

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Críticas aos incentivos ao etanol existem há muito tempo, focadas no

custo transferido aos contribuintes e nas distorções na formação de preços,

mas ainda assim seus defensores vinham conseguindo aprovar leis favoráveis

a seus interesses, com atuação concentrada no nível eleitoral-congressual,principalmente junto dos representantes dos estados do CornBelt . Houve

também intenso relacionamento com os departamentos do governo que

participam da definição da política agrícola e energética do país, incluindo o

United StatesDepartmenteofAgriculture , o Departmentof Energy , o United

States Trade Representative  e a Environmental ProtectionAgency .

Segundo o referencial teórico da advocacycoalitions framework - ACF

(Sabatier e Jenkins-Smith, 1988),as mudanças em políticas públicas podem ser

explicadas a partir da tese de que “perturbações significativas externas ao

subsistema (por exemplo, mudanças em condições socioeconômicas, na

opinião pública, nas coalizões de governo do sistema, ou em políticas

provenientes de outros subsistemas) são uma causa necessária, mas não

suficiente para uma mudança de um programa governamental”. Pretende-se

comprovar essa hipótese no estudo de caso aqui proposto - as mudanças de

2011 na política comercial do etanol - por meio da identificação e da análise

dos estímulos à mudança advindos das perturbações externas, destacando em

que grau eles foram determinante para alterações na composição das

percepções e dos recursos dentro das coalizões, levando ao fim desses

incentivos.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

O estudo sobre as influências do lobby  do etanol na política agrícola e

energética dos Estados Unidos parte do pressuposto de que atores domésticos

- legisladores, grupos de interesse, sociedade civil, grupos econômicos,

burocracia estatal - desempenham papel fundamental no processo de tomada

de decisão sobre assuntos internacionais. A incorporação dos atores locais nos

modelos explicativos das relações internacionais ampliou o conhecimento

acumulado pela disciplina e permitiu esclarecer decisões externas

aparentemente incoerentes.1A análise da política de incentivos ao etanol dos

Estados Unidos compreende o processo decisório de formulação e

1Como enfatiza Moravcsik (1993, p.2-7), hoje todas as teorias sofisticadas das Relações

Internacionais incorporam a dualidade entre a política doméstica e a política externa.

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implementação da política agrícola, da política energética e da política de

comércio exterior.

A literatura mais específica que trata da atuação de interesses

organizados nos processos de formulação de políticas é tradicionalmentereferenciada pelos modelos de ciclos ou estágios heurísticos (RIPLEY, 1995),

institucionalismo (PIERSON, 2006), múltiplos fluxos (KINGDON, 1995),

equilíbrio interrompido (BAUMGARTNER, 2009).

Sabatier e Jenkins-Smith (1988) propuseram que fosse ampliado o foco

de análise nos atores do “triângulo de ferro” - agências administrativas,

comissões legislativas e grupos de interesse. Os autores defendem que o

processo de formulação das políticas é tão complexo que são necessários

profissionais especializados, por isso a inclusão de pesquisadores, jornalistas,

funcionários do judiciário e de outros níveis governamentais entre os atores a

analisar nesses processos.

Sabatier e Jenkins-Smith (1988)também criticam o quadro teórico de

estágios heurísticos por dividir o processo de análise das políticas públicas em

estágios (composição da agenda, formulação e legitimação da política,

implementação e avaliação) econcentrar assim sua análise nos fatores que

influenciam cada um dos estágios. Os críticos entendem que pode haver

sobreposição entre essas etapas e os pressupostos de divisão não revelam a

causalidade das mudanças existente nesses processos. A partir dessas

questões, desenvolveram a advocacycoalitionsframewok (ACF), composta por

três premissas fundamentais:

First, that understanding the process of policy change - and the role ofpolicy-oriented learning therein - requires a time perspective of adecade or more. Second, that the most useful way to think about

policy change over such a timespan is through a focus on 'policysubsystems,' i.e. the interaction of actors from different institutionsinterested in a policy area. Third, that public policies (or programs)can be conceptualized in the same manner as belief systems, i.e. assets of value priorities and causal assumptions about how to realizethem.(SABATIER; JENKINS-SMITH, 1988, p.131)

Dessa forma, a análise de uma mudança em uma política pública pode

ser compreendida melhor dentro de subsistemas. A avaliação deste

subsistema propõe “a more realisticmodelofthe individual rooted more deeply in

psychologyratherthanmicroeconomics ” (WEIBLE et al., 2011), em contraponto

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com análises com foco apenas em aspectos materiais2, pois considera a

formação do sistema de crenças dos atores. Esse sistema de crenças envolve

valores, percepções de relações causais importantes, percepções de estados

do mundo (incluindo a magnitude do problema) e percepções relativas àeficácia dos instrumentos de política pública3. Por meio dessas crenças os

múltiplos atores constituirão as coalizões de defesa de um subsistema político,

que consistem em

actors from a variety of public and private institutions at all levels ofgovernment who share a set of basic beliefs (policy goals plus causaland other perceptions) and who seek to manipulate the rules,budgets, and personnel of governmental institutions in order toachieve these goals over time (SABATIER; JENKIIS-SMITH. 1993. p.5).

O sistema de crenças está subdividido em três partes. Em um núcleo

profundo (deep core beliefs ) estão as crenças essenciais - suposições

ontológicas e normativas construídas ao longo do processo de socialização dos

atores. O nível intermediário compreende crenças relacionadas à política

pública (policybeliefs ) projeções de imagens de como a política deve ser,

baseando-se nas crenças essenciais, com o que é traçada uma visão

estratégica que guiará o comportamento da coalizão, unindo aliados e

separando adversários políticos. Por fim, existe o nível mais superficial,

composto por crenças secundárias (secundarybeliefs ), as quais se traduzem

nas preferências políticas relacionadas a instrumentos específicos. As crenças

secundárias são mais suscetíveis a mudar durante um processo de negociação

com uma coalizão opositora.

De acordo com vários estudos, os grupos de interesse procuram reforçar

os laços com indivíduos e gruposcom que têm afinidade política (FORDHAM e

McKEOWN, 2003, p.523). Grupos econômicos são incentivados a apoiar o

2As abordagens que privilegiam as ideias ainda são relativamente pouco desenvolvidas sendo

que, pela sua natureza imaterial, são menos suscetíveis a modelagem.“Most empirical studiesusing the economic theory of regulation generally ignore non wealth variables even thoughinvestment in power and position are not the only means by which politicians seek to maximizetheir utility. […] Consumption variables include personal characteristics such as moral values,altruism and ideology. They are the root of the serve in public service” (VASENKA, 1989, p.260)3  Segundo Bueno (2008, p. 27): “O modelo da ACF usa o conceito de sistema de crenças

(belief system ) antes que o sistema de interesses porque o primeiro é mais inclusivo everificável do que o segundo. Sistemas de interesses precisam identificar conjunto de meios eindicadores de performance necessários para a obtenção de metas. No sistema de crenças, ao

conjunto de interesses e metas soma-se a crença em relações causais e a percepção do statusdos parâmetros relacionados ao problema. Os modelos de sistema de crenças incorporamtanto o auto-interesse como também os interesses organizacionais”.

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partido político e os candidatos cujo posicionamento seja compatível nas

questões de seu interesse e possam ter mais facilidade em convencer os

eleitores que estejam de acordo com o pleito das corporações instaladas em

seus distritos, mesmo no caso da política comercial internacional, porque odesfecho das negociações interfere no bem-estar social e na vida econômica

dos eleitores (MILNER, 1997, p.16).

Dessa forma, as principais estratégias desses grupos para manter

incentivos vinculam-se à persuasão para convencer a opinião pública,

legisladores, tomadores de decisão de várias agências do Executivo e até

algumas instâncias do Judiciário. As coalizões se utilizam da mídia, participam

de redes sociais, fazem propaganda e eventos, participam de audiências nas

comissões do Congresso, possuem membros dentro das agências dos

executivos, contratam lobistas, participam da seleção de candidatos, fazem

doações para campanhas eleitorais, financiam thinktanks , mobilizam a opinião

pública, organizam manifestações.

Durante muito tempo, essas estratégias foram eficientes para a

manutenção dos incentivos do etanol dentro de seu subsistema político,

fazendo com que se consolidassem como coalizão dominante. Como então

pode ter ocorrido a mudança em relação esses incentivos?

Os teóricos da ACF afirmam que uma grande mudança advinda de

dentro do subsistema é praticamente impossível. Porém, destacam duas

alternativas de mudanças advindas de fontes exógenas às coalizões:

aprendizado orientado para política pública (policyorientedlearning ) e

perturbações externas.

O aprendizado se refere a revisões dos objetivos e dos interesses

políticos da coalizão que resultam de experiência ou de novas informações.

Esse aprendizado orientado é instrumental e envolve ciclos de

retroalimentação das percepções a partir de uma maior compreensão de

problemas relativos à determinada política. O aprendizado orientado pode

alterar mais facilmente as crenças secundárias, por incrementar os meios para

atingir os objetivos da coalizão, sem alterar necessariamente suas crenças

fundamentais.

Já as perturbações externas, ou eventos dinâmicos externos, podem ser

propulsores de mudanças mais centrais em uma política pública. Elas estão

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relacionadas a mudanças nas condições socioeconômicas e tecnológicas,

mudanças de coligações de governo, ou seja, nos padrões políticos partidários,

mudanças na opinião pública, decisões de outros subsistemas ou mesmo

tragédias e desastres, explorados pela coalizão adversária. A alteração nacomposição governamental pode impactar caso haja redução dos membros

que compunham cargos estratégicos dentro do governo, como congressistas,

ministros, e demais posições significativas no processo de tomada de decisão.

Na estrutura analítica da ACF, há dois conjuntos de fatores exógenos ao

subsistema: parâmetros relativamente estáveis (atributos básicos (bens) e

distribuição de recursos naturais, estrutura da sociedade e valores culturais

fundamentais, estrutura constitucional) e eventos externos mais dinâmicos.

Alterações nesses fatores exógenos podem levar a modificações nos recursos

e gerar constrangimentos no subsistema. Dentro do subsistema, crenças e

recursos das coalizões geram suas estratégias, as quais afetam as decisões

dos mediadores (policybrokers ) que resultarão nas políticas públicas. Os

impactos dessas políticas são avaliados, se realimentam e podem resultar em

aprendizado orientado nas coalizões.

Ressalte-se que o conhecimento técnico-científico e o acesso à

informação têm papel importante na modificação das crenças. Nesse aspecto,

os autores da ACF aproximam-se de Kingdon (1995) quando destacam a

persuasão e o convencimento, além da barganha. Smith (1995, p. 98-99)

ressalta que os valores e crenças dos membros do Congresso são

relativamente estáveis no curto prazo, mas suas conexões com as propostas

legislativas não são. Sendo assim, a forma como os políticos irão julgar uma

proposta depende das consequências que serão calculadas e interpretadas.

Essa análise leva em conta seus valores e crenças. Por essa razão, a forma

como os grupos de interesse interpretam essas propostas e posteriormente

informam os legisladores de suas consequências será determinante para

definir o posicionamento desses últimos em relação às propostas legislativas

para manutenção ou alteração das políticas dentro do subsistema. Assim,

pode-se dizer que as coalizões interagem com seus membros e legisladores

estimulando esse canal como forma de conectar as informações e demandas

da coalizão. Dessa forma, servem como chamados “filtros perceptivos”.

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Choques internos ou externos podem atrair novos recursos ou

redistribuir recursos críticos. Tal transferência pode derrubar a estrutura de

poder do subsistema político, alterando a coalizão dominante. Por isso, um

recurso sempre visado é a capacidade de uma coalizão dominante angariarmembros em posição de autoridade formal dentro das instituições. Para tanto,

a força dos lobistas para fazer valer seus interesses é atribuída à capacidade

de somar recursos financeiros e ter acesso privilegiado aos membros do

governo. As corporações doam dinheiro à campanha dos candidatos4  e aos

comitês dos partidos e financiam os lobistas para pressionar os congressistas a

aprovar ou barrar projetos de lei conforme seus interesses (KIM, 2008).

2. PROBLEMA DE PESQUISA

A preocupação central dessa pesquisa é aplicar o quadro teórico da ACF

para identificar as causas e determinantes da mudança do programa de

subsídios do etanol em 2011 pelo Congresso dos Estados Unidos, por meio da

análise do subsistema de políticas de incentivo ao etanol. De um lado está a

coalizão a favor dos incentivos, formada essencialmente pelos grupos de

interesse ligados ao etanol, com apoio de organizações ligadas aos produtores

de milho. Há ainda ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa vinculados a

universidades e agências governamentais que defendem os incentivos. Na

coalizão de defesa de interesses contrários aos incentivos estão presentes os

defensores da indústria do petróleo, indústria alimentícia, pecuaristas e

contribuintes.

A análise do sistema de crenças constituído por tais coalizões evidencia

que tanto a cadeia produtiva do etanol quanto os produtores agrícolas e a

indústria de petróleo têm crenças essenciais que defendem a intervenção do

Estado na economia e políticas protecionistas. Muitos atores ligados à

produção de alimentos são contrários aos incentivos dados ao etanol, mas

apoiam os subsídios ao milho na Farm Bill , isto é, nas crenças secundárias

4Entretanto, isso não quer dizer que projetos de lei são comprados como em uma relação

comercial, em que contribuições de campanha são trocadas por votos dos congressistas.

Como declarou o representante Thomas Downey (D-New York): “Money doesn’t buy a position.But it will definitely buy you some access so you can make your case .” (apud KIM, 2008, p.13-14).

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suas preferências divergem. Outras coalizões contrárias aos incentivos ao

etanol defendem o livre comércio, isto é, divergem nas crenças essenciais.

A sustentação dos subsídios durante mais de três décadas deveu-se

muito ao convencimento quanto aos benefícios que o etanol traria à sociedade,assim resumidos pelo EthanolFactbook :(i) segurança energética,

proporcionando a redução da importação de petróleo e gasolina, o que pode

gerar uma redução dos recursos financeiros e militares destinados ao Oriente

Médio; (ii) saúde pública, contribuindo para diminuir a poluição e as toxinas

aéreas, que podem diminuir a ocorrência de doenças respiratórias e

cancerígenas bem como uma redução dos custos com a saúde; (iii) meio

ambiente, contribuindo para a redução da queima de combustíveis fósseis e

emissão de gases de efeito estufa (GEEs); e por fim, (iv) economia, com

aumento de investimentos e novos empregos (THE CLEAN FUELS

DEVELOPMENT COALITION, 2010).

Ademais, para tal convencimento, essas coalizões realizam estudos

estratégicos por meio de consultorias e assessorias especializadas, como a

LECG Corporation e aF.O.Licht,  fortalecendo sua articulação e influência em

órgãos e instituições.

Assim, os subsídios ao etanol foram amplamente alcançados. Os

programas agrícolas das Farm Bill   bem como outras leis energéticas e leis

estaduais oferecem incentivos ao etanol, inclusive o Energy PolicyAct de 2005  

estipulou mandatos de exigência de consumo nacional obrigatório para os

biocombustíveis por meio do RenewableFuel Standard   (RFS) que previa o

consumo de 4 bilhões de galões de etanol em 2006 e 7,5 bilhões em 2012. O

Energy Independence and Security Act (EISA) de 2007 reforçou a substância

dessa lei e criou o RFS2 para ampliar o mandato para a utilização de 36

bilhões de galões por ano até 2022 (AFDC, 2012). A Environmental

ProtectionAgency   (EPA) aprovou o E15, o qual contém a mistura de 15% de

etanol à gasolina para veículos novos, produzidos a partir do ano de 2001. 

Apesar disso, o ano de 2011 representou um ano atípico para a coalizão

dominante desse subsistema. As possíveis causas que podem ter colaborado

para a alteração dentro do subsistema do etanol dividem-se em perturbações

externas e alterações internas nas coalizões.

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Em relação às perturbações externas destacam-se: o recorde das

exportações de etanol dos Estados Unidos em 2011, a pressão do governo

brasileiro pelo fim da tarifa e subsídios, as alterações da coligação

governamental pelas eleições de 2010, o boom de gás de xisto e o aumento dopreço das commodities agrícolas que reacendeu as críticas ao desvio de terras

para produção de etanol e o debate “Fuel vs. Food ”. Tudo isso teve impacto

significativo nas coalizões. No cenário interno do subsistema, alterações nas

estratégias e recursos das coalizões de defesa bem como alterações nos

interesses e comportamento dos membros que são autoridades legais podem

ter influência na mudança de determinado programa.

Considera-se que diante dos esforços para alcançar sua segurança

energética, a fim de reduzir a dependência do petróleo estrangeiro, os Estados

Unidos investiram na produção de etanol, cujo mercado era liderado pelo

Brasil. Os Estados Unidos reconheciam a superioridade brasileira neste

mercado e inclusive buscaram maior aproximação a fim de desenvolver uma

cooperação técnica. Nesse sentido, destaca-se a assinatura em março de 2007

do “Memorando de Entendimento para Biocombustíveis” que foi

complementado e ampliado em 2011, na visita de Obama ao Brasil, por meio

da “Parceria para o Desenvolvimento de Biocombustíveis para Aviação”.

Concomitantemente, o governo brasileiro também havia declarado que,

se os incentivos à produção de etanol nos Estados Unidos fossem renovados,

abriria um contencioso na OMC, o que pode ter gerado preocupações, diante

dos resultados dos contenciosos do algodão e da laranja nos quais os Estados

Unidos foram condenados (COELHO, 2011). Porém, ressalte-se que, em 2011,

os Estados Unidos, que já eram os maiores produtores desde 2005, bateram o

recorde de exportações, superando as exportações brasileiras.

Outra perturbação externa está relacionada ao desenvolvimento do

método de fracking   para extrair gás e petróleo de reservas que não tinham

valor comercial. Com isso, os Estados Unidos enfrentam um boom de gás de

xisto, trazendo uma mudança positiva e estrutural para a economia do país nas

próximas décadas e uma alternativa ao etanol na busca por reduzir a

dependência de fontes de energia do exterior(IEA, 2011).

Além disso, mudanças nas coalizões de governo do sistema também

são choques que podem ter impacto nessas mudanças. As eleições

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congressuais de 2010 têm relevância nesse sentido.Essas eleições mudaram a

composição partidária do Congresso. Os republicanos conquistaram a maioria

dos assentos na Câmara dos Representantes e os democratas, apesar de

perderem seis assentos, ainda são maioria no Senado. Vale ressaltar que, emrazão do resultado das urnas e do princípio de que a representação é

partidária, a composição dos comitês também foi alterada.

Bob Dinneen, presidente da RFA, afirmou que “Ethanolhasneverbeen a

partisanissue. Thosedefeatedwerereplacedwithequallystrongadvocates for

ethanol ”, evidenciando que a derrota do Partido Democrata nas eleições para a

Câmara dos Representantes não seria tão negativa para a cadeia produtiva do

etanol (DINEEN, 2010). O presidente da Growth Energy , Tom Buis, também

afirmou que o suporte ao etanol é bipartidário e continuaria apesar desse

resultado.

Por outro lado, Neeley (2010) afirma que as maiores perdas para a

indústria do etanol teriam ocorrido nos estados de Dakota. Em Dakota do

Norte, o representante Earl Pomeroy (D), que fazia parte dos Comitês de

Agricultura e do WaysandMeans  perdeu para Rick Berg. Esse representante,

 juntamente com o representante Shimkus, foi responsável pelo Projeto de

LeiH.R. 4940, o RenewableFuelsReinvestmentAct . Shimkus, porém, foi

reeleito. Por outro lado, tiveram vitórias importantes como os senadores

Grassley (R-Iowa); Thune (R-SD); Boswell (D-Iowa) e Hoeven (R-ND), o qual

era governador de seu estado e forte defensor do E15.

Além disso, o debate “FuelvsFood ”, o qual trata da associação da alta

das commodities, que trouxe prejuízos aos países em desenvolvimento

dependentes das importações de alimentos, ao desvio de plantações para

cultivo de milho para produção de etanol se tornou emblemático a partir de

2007 e a crise das Tortillas no México5.

5A alta dos preços das tortillas  de milho provocou uma onda de protestos populares do início de

2007 no México. A elevação do preço do milho foi influenciada pelos efeitos combinados de: oaumento da demanda mundial; movimentos especulativos nos mercados financeiros;destinação de parte dos grãos para produzir etanol nos EUA. Há também os históricos efeitosdos pesados subsídios praticados pelos Estados Unidos, de forte impacto no México com o

NAFTA, que passou da condição de exportador de milho para dependente da importação demilho americano. Para mais detalhes ver: THOMAZ e CARVALHO, 2011.

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Mudanças em um subsistema também podem alterar outros

subsistemas. Uma comissão de assuntos fiscais (Bowles-Simpson) sugeriu, em

dezembro de 2010, acabar com os subsídios agrícolas no plano que fez para

ajuste fiscal das contas públicas em um período de dez anos (UNITEDSTATES, 2010, pp. 17, 45 e 46). Ademais, em 2011, para equilibrar o

orçamento federal e diminuir a dívida pública dos Estados Unidos, foi criado um

Comitê Bipartidário para Redução do Déficit Fiscal, o “Super Comitê”,

composto por seis democratas e seis republicanos. Este comitêdeveria

apresentar uma proposta com o objetivo de cortar US$ 1,5 trilhão ao longo dos

próximos dez anos no orçamento federal para redução do déficit da dívida dos

Estados Unidos. Enquanto o “Super Comitê” se voltava para os cortes, as

coalizões de defesa ligadas a agroindústria e ao etanol lutavam para manter

seus privilégios. Apesar desses esforços, não foi alcançado um acordo e em

novembro foi declarado o fim dessa iniciativa.

Lewis (2012) argumenta que apesar da relevância desses esforços para

cortes do orçamento, também devemos levar em conta o movimento TeaParty ,

pelo qual se constatou que os frequentadores desta convenção partidária eram

mais propensos a apoiar candidatos que se opunham a subsídios ao etanol.

Uma resposta da academia ao debate sobre a manutenção ou não

desses incentivos foi a pesquisa desenvolvida por Bruce Babcock da Iowa

StateUniversity   na qual refuta o argumento dos lobistas de etanol que

relacionava o fim do VEETC com impacto da perda de 112.000 ou

mesmo 160.000 empregos rurais. Segundo a pesquisa, apenas cerca de 1.000

empregos relacionados com o etanol desapareceriam nos próximos cinco

anos. Estimaram que se fosse renovado o VEETC, seriam acrescentados US$

30 milhões para a dívida nacional para cada emprego "salvo".

Porém, um fator decisivo foi a formação de uma coalizão que Lewis

(2012) chamou de "No2VEETC"6, envolvendo associações empresariais como

a GroceryManufacturersAssociation,

NationalTurkeyFederation eNationalRestaurantAssociation , como organizações

relacionadas à fome e desenvolvimento, grupos agrícolas, grupos

ambientalistas, defensores dos cortes orçamentário e do livre-comércio, tais

6Ainda não foi encontrado nenhum documento oficializando a coalizão nesses termos, além

dessa matéria divulgada pelo HumanEvents. 

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como: Friendsof Earth 7 , Environmental WorkingGroup,  e ActionAid USA,

Taxpayers for Common Sense, NationalTaxpayers Union   e Competitive

Enterprise Institute . Elas já faziam parte da coalizão “Green scissors ” criada

desde 1994. A nova coalizão também estava atuando na oposição a esquemasque previam substituir o VEETC por garantias a empréstimo para a construção

de alcooldutos e créditos fiscais para a instalação de bombas de combustíveis

flex.  para vender E-85 (motor de combustível feito com etanol 85%) nas

estações de serviço (LEWIS, 2012).8 

Além disso, o caso do etanol também apresenta o fato de grupos de

origem de outro país participar do subsistema político e pressionar por

mudanças nesses incentivos (foreign lobbies ), como é o caso dos produtores

brasileiros de etanol, representados pela União da Indústria de Cana-de-açúcar

(UNICA), a qual possui um escritório de representação em Washington.

Porém, apesar de todos esses elementos, o ingrediente crítico final foi o

esforço desenvolvido pelos representantes Jeff Flake (R-AZ), Joseph Crowley

(D-NY), Bob Goodlatte (R-VA), Earl Blumenauer (D-OR), Wally Herger (R-CA),

e Pete Stark (D-CA), e os senadores Tom Coburn (R-OK) e DianneFeinstein

(D-CA) para acabar com VEETC.

No dia 14 de junho de 2011, o senador Thomas Coburn9 (R-OK) propôs

a emendaEthanolSubsidyandTariffRepealAct , (S.Amdt. 436) que previa o fim

imediato dos subsídios, mas acabou sendo rejeitado. Na votação dessa

emenda, 44 empresas fizeram lobby para sua aprovação e uma empresa fez

lobby contra essa emenda. Apesar disso, no dia 16 de junho houve a

aprovação de uma emenda (S. Amdt. 476) ao projeto de lei (S.782) da

senadora DianneFeinstein (D-CA), que também pretendia eliminar tanto o

7No site da Friendsof Earth  é possível verificar uma compilação das ações e cartas enviadas

aos congressistas defendendo o fim dos subsídios ao etanol. Disponívelem:<http://www.foe.org/news/archives/biofuels-coalition-work>8Carta enviada por esses grupos ao Committeeon Energy andCommerce pedindo que o

VEETC não fosse renovado, disponível em: <http://www.idfa.org/files/resources/final_anti-

veetc_coalition-letter_091211_e-c.pdf> e carta enviada pela Green Scissors aos deputados,

disponível em: <http://greenscissors.com/wp-content/uploads/2011/08/GS-VEETC-Letter-

House.pdf> . Vídeo da campanha tentando convencer os candidatos a não apoiarem o etanol

de milho, disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=2fOyI2mhTd8&feature=player_embedded>.9Coburn, segundo o Center for ResponsivePolitics , teria recebido nos últimos seis anos, cerca

de US$ 250,000.00 em contribuições de campanha advindos das empresas de petróleo e gás.

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VEETC como a tarifatendo sido aprovada por 73 votos a 27 (não há registros

de lobby para essa votação).

Outra votação ocorreu naproposta do senador republicano John McCain

a fim de impedir o financiamento federal para apoiar infraestrutura decombustíveis alternativos, tais como bombas flex  e tanques de armazenamento

nos postos de gasolina. Entretanto, tal medida não foi vitoriosa: 41 votos

contrários e 39 favoráveis. Porém na Câmara dos Representantes, a emenda à

AgricultureAppropriationsbill apresentada pelo Deputado republicano Jeff Flake,

que previa essas medidas de cortes a infraestrutura dos biocombustíveis,

passou com 283 votos a 128.

A indústria do etanol não esperava tais resultados contrários aos seus

interesses, apesar dessas emendas não terem se tornado lei e agiram

apoiando outras propostas que mantivessem seus incentivos. A administração

Obama também expressou oposição no que diz respeito ao fim imediato do

VEETC . (ZIMMERMAN, 2011)

Para se ter noção da dimensão da disputa, só no primeiro trimestre de

2011, segundo o First Street CQPress, foram gastos aproximadamente US$12

milhões incorporados o lobby pró e contra etanol. Neste período, 32 empresas

delobby representaram 36 clientes, num montante de US$ 8.895.893,00 para

pressionar os senadores, e mais 22 empresas delobby ativo representando 18

clientes a fim de pressionar os deputados, totalizando US$3.645.862,08. No

lado pró-etanol, os que mais gastaram emlobby foram a Growth Energy, RFA, a

NCGA e a POET, cujo gasto foi de US$ 450.000,00utilizados contra uma única

proposta de legislação na Câmara dos Representantes (SCHROEDER, 2011).

Do lobby contrário às políticas favoráveis ao etanol, a GMA gastou

sozinha cerca de US$900.000,00 para a aprovação de um projeto da Câmara

contrário aos incentivos. No Senado, as duas empresas que mais gastaram

foram a Pepsico, com US$1,44 milhão, e a Kraft com mais de US$720.000,00

em despesas de lobby (SCHROEDER, 2011).

Tudo isso fez com que, no final do ano de 2011, o VEETC e a tarifa

secundária não fossem renovados. Da descrição apresentada resulta que os

interesses contrários à renovaçãodos subsídios se fortaleceram muito nos

últimos anos, sobretudo em 2011. Reforçando nossa hipótese de que os

fatores internos às coalizões têm prevalência, o objetivo da tese será

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demonstrar que de fato o argumento da ACF se comprova exatamente na

questão dos subsídios ao etanol nos Estados Unidos. Apesar de tudo, os

representantes da cadeia produtiva do etanol afirmaram que estavam

conformados e que já esperavam esse desfecho. Tom Buis e Jim Nussledeclararam que, a partir de então, o objetivo do setor é convencer os

legisladores a utilizar cada vez mais combustíveis renováveis (GROWTH

ENERGY, 2011). Para tanto, devem trabalhar para conter críticas relativas ao

etanol de milho e o impacto no preço dos alimentos. Além disso, devem

pressionar pela implementação do E15, a mistura de 15% de etanol a gasolina,

pois apesar de já ter sido aprovada pela EPA. Dessa forma, podemos observar

que podem ter ocorrido alterações nos próprios interesses da coalizão que

defende os incentivos ao etanol, buscando sustentar outras formas de

proteção, além dos estímulos derivados das perturbações externas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como defendem os teóricos da ACF, acreditamos que a hipótese

das mudanças nas coalizões internas prevalece sobre a hipótese das

perturbações externas, mas admitimos que uma não exclua a outra. Isso

porque existe uma condição que faz com que as perturbações externas sejam

uma causa necessária para prover a mudança, mas não uma causa suficiente.

Nesse sentido, consideramos que apesar dos Estados Unidos atingirem

a liderança das exportações do mercado de etanol em 2011, já se

consolidavam como os maiores produtores de etanol desde 2005. Tanto a

pressão do governo brasileiro, as alterações da coligação governamental pelas

eleições de 2010 quanto o aumento do preço das commodities agrícolas que

reacendeu das críticas ao desvio de terras para produção de etanol e o debate

“Fuel vs.Food ” tiveram impacto significativo nas coalizões.

Porém, as mudanças internas em relação à posição e o comportamento

dos congressistas nas votações de emendas contrárias ao etanol e as

alterações significativas nas coalizões de defesa foram as principais

responsáveispor não viabilizar a continuidade desses incentivos.

A organização “No2VEETC” dos grupos contrários aos incentivos ao

etanol parece ter tido efeito de desequilibrar a coalizão dominante deste

subsistema. Apesar disso, admitimos que deve ser feito um estudo mais

aprofundado de suas estratégias e táticas estabelecidas junto aos legisladores

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e institutos de pesquisa que tem colaboração para descontruir os argumentos

que sustentavam este lobby tão poderoso nos Estados Unidos. Outro aspecto

nesse sentido é a mudança de estratégia de tal coalizão a fim de focar no

RFS2 e também na próxima Farm Bill   para garantia de outros incentivos aprodução de etanol.

Não podemos nos esquecer de que o etanol e os incentivos fiscais aos

biocombustíveis persistem como tema político importante para os candidatos à

Presidência em 2012, haja vista as primeiras visitas em agosto de 2011 do

Presidente Obama, já em campanha, a três dos quatro principais estados

produtores de etanol.

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