As contradições politicas do multiculturalism on02a03

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18 Mai/Jun/Jul/Ago 1996 N º 2

A noção de “sociedade multicultural” depen-de essencialmente de duas grandes perspectivas.Para certos autores, designa um modelo prescritivode integração, por vezes pós-nacional. Assim, di-versos trabalhos, notadamente nos países anglo-saxões, visam a mostrar como uma sociedade podecolocar sob controle a diferença cultural desde queproclame uma vigorosa separação entre o privadoe o público,1 ou dela tire vantagens,2 graças a me-didas legislativas favoráveis à adoção da diversida-de na escola ou na moradia. Para outros autores,a sociedade multicultural é menos um modelo doque uma propriedade das sociedades modernas,caracterizadas pela coexistência de diferentes gru-pos culturais ou étnicos. Isto constitui uma defini-ção sem grande alcance: as sociedades nacionais declasse sempre foram, elas também, cruzadas por

diferenças culturais, tanto regionais quanto comu-nitário-classistas.3

O interesse em examinar a idéia da sociedademulticultural é outro. Está no dilema moderno dasidentidades que a noção revela, nos problemas po-líticos e nos impasses que ela põe em evidência. Oproblema determinante de uma sociedade multi-cultural é sempre a busca de uma nova articulaçãoentre a identidade e o político.

Multiculturalismo e democracia

O multiculturalismo não adquire todo o seusentido a não ser ligado ao processo de moderni-zação e às suas conseqüências sobre a matriz de-mocrática.4 De fato, ele põe em questão a respos-

As contradições políticas do multiculturalismo

Danilo MartuccelliDepartement de Sociologie, Université de Bordeaux II

Este artigo é uma primeira versão de um texto publicadoem livro sob a direção de Michel Wieviorka, La Découverte, 1996.

1 Cf. Rex, 1986.

2 Por exemplo, os debates apresentados em Britain: aplural sociey, 1990.

3 Um caso extremo dessa distância encontra-se emHoggart, 1970.

4 Desta perspectiva, o debate entre o universalismo eo pluralismo, de tão numerosas conseqüências, notadamenteno que diz respeito à integração das populações imigradas,não é senão uma das dificuldades (e certamente não a mais

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ta democrática tradicional ao dilema identitário,que ela garante sobretudo mediante seus dois prin-cípios que são a liberdade e a igualdade. Por umlado, supõe-se que a liberdade, indissociável da se-paração entre público e privado, permite a expres-são das identidades particulares fora do domíniopúblico. O espaço público, identificado com a ra-zão, protege as identidades eliminando-as da esfe-ra pública. Por outro lado, a igualdade, quaisquerque sejam seus vínculos com a problemática da li-berdade democrática, visa a uma repartição justada riqueza produzida socialmente, independente-mente dos traços peculiares aos indivíduos.5

Não há melhor resumo da articulação entre es-ses dois princípios do que o caráter universalizáveldos direitos. A democracia é o sítio por excelênciado universal, do Cidadão, no fundo uma das concep-ções mais abstratas que se pode imaginar do vínculosocial, em cujo seio todo substractum particular éabandonado em favor de uma representação univer-sal. É próprio à democracia, em um país como a Fran-ça, sua indiferença pelo problema identitário: clas-sicamente, sempre se considera que ele se possa tra-duzir, via direitos universais, em problema civil ouem problema social. Nos dois casos, e não há nissoexcesso de linguagem, os indivíduos possuem “perti-nências”, mas nunca “identidades”. Ou, melhor di-zendo, as formas pelas quais foram construídas asidentidades sociais na democracia clássica têm sidosempre subordinadas e informadas pela universa-lização das linguagens. No fundo, a democracia, emsua acepção tradicional, notadamente na França, é

a consciência institucional do triunfo de uma mo-dernidade identificada com a Razão universal.

Nada de importante separa as grandes concep-ções da democracia clássica: o ideal da democraciaenquanto divergência consensual de opiniões; o idealque acreditava na possibilidade de pôr em evidên-cia uma vontade unitária dos homens mediante re-curso à livre deliberação; e a concepção “sociológica”que dela faz a representação institucional de relaçõessociais antagônicas. A primeira concepção insiste napossibilidade de preservar um espaço público pro-tegido da luta de classes, um espaço de discussão emque a concórdia dos homens se torne possível pelaconstrução comunicacional de uma verdade harmo-niosa superior. A segunda dá ênfase às divisões es-truturais do corpo social, à existência de uma ten-são não eliminável que faz do conflito uma verdadepermanente na vida coletiva. Duas posições contes-tadas por todos os que não vêem na democracia maisdo que um formalismo, ou uma trégua, portanto, nofundo, sempre uma espécie de fratura a ser supera-da. Ora, tanto a democracia-procedimento, quan-to a democracia-divisão e a democracia-superaçãoconcordam quanto ao caráter universal das deman-das sociais.6 O burguês esclarecido ou o proletáriodesumanizado não se opõem senão no interior deuma concepção universal da política: considera-seque ambos, um por encarnar a Razão, o outro, porestar privado de toda a identidade, ajam em nomeda humanidade inteira.7

O multiculturalismo questiona, prática e inte-lectualmente, esse implícito democrático, uma vezque reivindicações particularistas têm por objetodireitos que parecem dificilmente universalizáveis,e que as demandas por elas formuladas questionamos limites institucionais fixados pela liberdade ne-

importante) de uma sociedade multicultural. De fato, o de-bate é uma versão secularizada e fin-de-siècle da “guerra dosdeuses” weberiana. Certamente, o problema é de grande im-portância na medida em que, afinal, implica uma reflexãosobre a existência ou não de Direitos do Homem de cará-ter universal. Mas esse debate, apesar de seu caráter dramá-tico e de sua visibilidade atual, é apenas um dos pontos quedevem ser lembrados.

5 Dualidade de princípios que volta a encontrar-se nastrês dimensões da democracia admitidas por Touraine: ci-dadania, limitação do poder absoluto e representatividade;cf. Touraine, 1994.

6 Cf. Macpherson, 1985.

7 Unicamente às “margens” do sistema mundial é queo problema identitário perturbou verdadeiramente a univer-salidade do jogo democrático. Desse ponto de vista, pode-se entender o multiculturalismo como a importação para ospaíses “centrais” do antigo dilema identitário das “mino-rias” colonizadas.

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gativa. Os indivíduos já não se satisfazem com umaidentidade privada e, a partir daí, a extensão doprocesso de individualização é acompanhada daafirmação pública das identidades.

Durante muito tempo, a democracia alicerçou-se, na França, no recalque das identidades particula-res e na construção de sujeitos coletivos universais,a liberdade e a igualdade, que supõem o abandonode toda a demanda identitária não universalizávelno domínio público.8 O que ela propunha não eranegar a diversidade social (toda a política moder-na é consagrada a opor-se a esse processo), mas simimpor uma linguagem institucional que obrigassesua tradução em termos universais. Mas, a partirde então, mudanças importantes de orientação sãopostas em ação.

Da igualdade e da eqüidade

Quando a política é assimilada ao universal, aprópria identidade é pensada através do prisma dauniversalidade, concebida como definidora das re-lações entre os indivíduos a partir de uma represen-tação da sociedade como totalidade. A igualdade é,assim, um conceito genérico, extrai seu sentido dareferência a um indivíduo genérico, membro de umasociedade e, portanto, com o tempo, sempre uni-versalizado. Por certo, a diversidade individual nuncaé concretamente eliminada de maneira completa, eo problema clássico da “equivalência” entre os in-divíduos, ligados a situações de vida em comum, alise encontra para que isso não seja esquecido. Noentanto, na definição clássica de igualdade, todas asdiversidades, mais cedo ou mais tarde, acabam porexprimir-se mediante conceitos universais.9

Pouco importa, pelo menos para nossos atuaispropósitos, qual o critério de justiça conservado

nas diversas fases da história democrática, ou seja,se a justiça consiste em dar aos homens em funçãode suas capacidades ou de suas necessidades, an-tes de se chegar a levar em conta o estilhaçamentodos princípios de justiça na sociedade moderna.10 Oessencial é que a idéia da igualdade entre todos oshomens significa que os indivíduos são considera-dos iguais e tratados como tais com referência aqualidades consideradas constitutivas da “nature-za” humana — a razão, a responsabilidade moral,a liberdade. Essa idéia é reguladora. Historicamen-te, ela jamais ignorou as diferenças de “natureza”,mas tornou-se a exigência moral segundo a qualtodos os homens devem ser tratados, enquanto ci-dadãos, da mesma maneira. De sua perspectiva, asdesigualdades de natureza existem, trata-se de eli-miná-las, ou de corrigi-las, mediante um tratamen-to igualitário. A igualdade democrática, em suavisão maximalista, refere-se à substituição da de-sigualdade natural (e do tratamento a esta reserva-do pelos Antigos Regimes) pela igualdade moral,para retomar as palavras de J.-J. Rousseau. O iti-nerário da noção de igualdade no seio da históriasocial da democracia pode ser reduzido à imagemde uma progressiva consideração das diferenças eao tratamento delas mediante a equação igualitá-ria. Na história, as diversidades objetivas freqüen-temente foram percebidas, mas para muitos elasnão se destacavam de um ponto de vista político,até o momento em que eram traduzidas numa lin-guagem universal.

De fato, as diversidades só podem tornar-sepoliticamente significativas no interior de uma con-

8 Cf. Mouffe, 1994.

9 No tocante a isso, a história do feminismo é para-digmática. Não foi senão após estar na posse da lingua-gem do sufrágio universal e de universalidade dos interes-ses de classe que pôde constituir verdadeiramente um dis-curso identitário.

10 Cf. Walzer, 1983; Boltanski e Thévenot, 1991. Ficaclaro que o problema da medida (a “humanidade comum”dos contratantes, de que falam Luc Boltanski e Laurent Thé-venot) e, portanto, da equivalência das “coisas” é impor-tante sobretudo no seio de uma sociedade em que a incomen-surabilidade das práticas é rigorosa. No entanto, o proble-ma pode limitar-se aqui a uma variação de grau e não denatureza. Sendo sempre a questão, de um lado estabeleceras equivalência entre as “coisas” e, em seguida, de preconi-zar a aplicação igualitária de um tratamento determinadoa todas as “coisas”.

Danilo Martuccelli

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cepção liberal. Esta exige que se pare de pensar naigualdade no interior de uma concepção global dainjustiça, a qual remete a uma situação estruturalde dominação e de exploração, e que se desloquena direção de uma concepção de justiça social en-quanto igualdade de oportunidades. Conseqüente-mente, a sociedade deixa de ser concebida como umlugar de conflito, para tornar-se o lugar de umacorrida social. Daí para diante, trata-se de garan-tir uma participação igualitária no seio da compe-tição social. A crise da visão da igualdade social sobinfluência de uma concepção totalizante da socie-dade acarreta uma mudança profunda, formuladapela noção de eqüidade. Em sua formulação clás-sica, a igualdade enfatiza os elementos comuns aosindivíduos genéricos e não suas diferenças, seus par-ticularismos coletivos, ela remete sempre a uma con-cepção global e comum da sociedade. É diferenteo que se dá com a noção de “eqüidade”11 que re-conhece a pertinência política das especificidadesculturais dos indivíduos e dos grupos, aceitando aidéia de um tratamento diferenciado dos membrosdessas coletividades.12

A origem dessa mudança de direção no inte-rior da matriz democrática deve ser buscada no pro-cesso de racionalização e, mais precisamente, nodesenvolvimento de um saber social sobre as razõesdas desigualdades e sobre os resultados das políticassociais igualitaristas. A antiga denúncia da “igual-dade formal” teve continuidade e se estendeu sobnovas formas e princípios. A eqüidade é o encon-tro entre a metáfora da “corrida” e do saber sobreos handicaps dos competidores.

Da liberdade e da diferença

Um debate clássico contrapõe duas concepçõesde liberdade. A “liberdade negativa” define a capa-

cidade de um indivíduo de agir ou não sem entra-ves e, diante do crescimento do Estado, de disporde um “foro privado” e protegido defendido de todaintervenção pública. A “liberdade positiva” é a ca-pacidade de agir de maneira autônoma sem ser in-fluenciado pela vontade dos outros.13 A primeirafaz referência à ação, a segunda, à vontade: comodiz Norberto Bobbio, uma remete aos direitos ci-vis, a outra, a manifestações da liberdade política.14

Observe-se que, com o desenvolvimento dos tota-litarismos ao longo do século, o primado da liber-dade negativa sobre a liberdade positiva tornou-seelemento consensual para muitos autores.

Ora, o multiculturalismo traz uma mudança deorientação importante. Historicamente, a liberdadenegativa era uma liberdade individual, enquanto quea liberdade positiva era, no fundo, a liberdade de umsujeito coletivo, por exemplo, a liberdade de um povoà autodeterminação. No multiculturalismo, a liber-dade positiva torna-se a liberdade de um sujeito in-dividual, desde que se compreenda que esse proble-ma não é mais um problema filosófico (a indeter-minação da vontade humana) mas, antes, o da au-todeterminação de um sujeito individual enquantomembro de um grupo. Porém, e este é um ponto es-sencial na modernidade, pode a partir de então tra-tar-se de uma autonomia pessoal e não mais da ex-pressão de uma comunidade. De fato, a nova liber-dade positiva, expressa no multiculturalismo, é o re-sultado de uma mescla, no momento teoricamenteinstável, entre a liberdade negativa e a liberdade deauto-afirmação.

Aqui também, a análise política deve prolon-gar-se, mediante a tomada em consideração da si-tuação social. A antiga acusação feita aos liberais,a saber, que, com o tempo, seu projeto político pre-judica a coesão social, volta a se encontrar nos fa-

11 Em relação ao emprego dessa noção na França, cf.Affichard e de Foucauld, 1992; e o Relatório ao Primeiro-Ministro, 1994.

12 Charles Taylor coloca o “reconhecimento” no cen-tro mesmo de suas análises; cf. Taylor, 1992.

13 Esse ponto é controverso, mas a oposição entre asnoções tem origem na distinção estabelecida por BenjaminConstant entre a liberdade dos antigos e a dos modernos.Uma apresentação crítica dessas noções encontra-se em Ber-lin, 1988.

14 Cf. Bobbio, 1979.

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tos através da existência e do crescimento de umdesejo de afirmação identitária. Na concepção clás-sica da liberdade positiva, o indivíduo, para expres-sar-se, deve conceber-se enquanto membro de umatotalidade política e as diferenças individuais sãoobrigadas a traduzir-se numa linguagem universal.Ora, a outra vertente da modernização, aquela que,melhor do que ninguém, foi descrita por NorbertElias,15 a saber, a individualização crescente dossujeitos, traduz-se politicamente por um questio-namento dessa exigência. Nesse caso, o desejo é ode se afirmar positivamente enquanto indivíduos nacena social. E, desse ponto de vista, as gramáticassexuais ou étnicas nada mais são do que signos pre-cursores de um processo mais geral. Está em cursouma inversão das concepções tradicionais da “ver-dade” política, de fato, do sujeito que enuncia averdade política. A ruptura das “aparências” e das“essências” muda então de sentido. Ontem, consi-derava-se que o “Eu público” e a “vontade geral”encarnavam o sujeito, verdadeiramente individuale humano porque político — aquele do qual Rous-seau, por suas contradições, constitui aqui a figurade referência. Hoje, supõe-se que o “Eu privado”e as “vozes minoritárias” encarnam o verdadeirosujeito da política: o da autenticidade. A oscilaçãodo coletivo e do individual é considerável. Ontem,a liberdade positiva buscava a imediatez da socie-dade nela mesma (o indivíduo nada mais sendo doque um prolongamento dessa exigência fundadorada verdade política); hoje, a liberdade positiva buscaa imediatez do indivíduo nele mesmo (não se con-cebendo, no fundo, a sociedade política senão comoo corolário dessa verdade política). Ao primado da“vontade geral” enquanto essência do político, su-cede o primado da política da autenticidade.

A distância entre o objetivo e o subjetivo estána base desse processo16 em que o “eu” já não podese identificar com uma “vontade geral” e não podese afirmar publicamente senão mediante a ostenta-

ção de sua autenticidade. Na Declaração Universaldos Direitos Humanos, de 1948, já transparece essadistinção, uma vez que a uma definição objetiva dosdireitos do indivíduo acrescenta-se um elementosubjetivo: fala-se, então, de uma “igualdade de dig-nidade”. E dado o peculiar ao processo de indi-vidualização moderno, essa “dignidade” se afirmarácomo expressão de uma “diferença”. A ascensão deum desejo individual de dignidade, sob a forma dedesejo de reconhecimento público de uma diferen-ça individual (ou, melhor, vivida por muito tempocomo individual e privada), mostra os limites daliberdade negativa (lá onde não sou reconhecidoporque não me afirmo) e da liberdade positiva clás-sica (lá onde não posso afirmar-me senão enquan-to cidadão, portanto como homem genérico). Omulticulturalismo, seguindo-se ao processo de in-dividualização moderno, expressa a exigência doaumento da diferença no domínio público.

O político encontra-se transtornado. Já não setrata apenas de defender o indivíduo contra as amea-ças sociais, econômicas ou ideológicas. Trata-se de,publicamente, afirmar as diferenças: de autodeter-minar-se individualmente e de se assegurar a coexis-tência da maior diversidade possível. O motor donovo avatar histórico da liberdade é a diferença e odesejo de afirmá-la.

Os debates políticosdo multiculturalismo

A mudança de direção operada pela reivindi-cação identitária dentro do quadro democráticoleva à constituição, na esfera pública, de quatrograndes debates. Estes estão longe de esgotar a di-versidade das problemáticas, mas possuem o mé-rito de fixar um quadro comum de discussão. Noentanto, não se trata aqui de estabelecer uma coe-rência intelectual para escolhas e discussões aindaem grande medida tateantes, mas sim de fixar umquadro comum e de indicar as condições de incer-teza nas quais os debates se desenrolam. Isso é par-ticularmente importante na França, onde o apeloà tradição republicana serve sempre à diabolização

15 Cf. especialmente Elias, 1991 e 1975.

16 Cf. Simmel, 1988, e Touraine, 1992.

Danilo Martuccelli

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sistemática e à repressão de qualquer aspiraçãoidentitária.

Igualdade versus eqüidade

Para além dos debates filosófico-políticos tra-vados em torno da noção de eqüidade,17 trata-se deencarar aqui as tensões introduzidas pelo problemaidentitário. No panorama francês, a noção de eqüi-dade apresenta ao mesmo tempo uma força e umafraqueza. Sua força é situar-se na descendência di-reta do processo de racionalização, visando entãoa um tratamento mais individualizador da justiçasocial. Sua fraqueza é que ela somente é possível soba condição de alterar a concepção igualitarista (ou“republicana”) da coesão social em favor de ummodelo individualista da coesão social, apoiado naigualdade de oportunidades.

A igualdade implica que a sociedade é una e,sobretudo, que o Estado intervenha de maneira uni-versalista para fortalecer sua unidade, e garantir,então, a invariância dos valores morais. Se o Esta-do intervém de outro modo que não em sentidoestritamente universalista, ele introduz discrimina-ções que, com o tempo, conduzem a um descom-promisso dos cidadãos que duvidam de sua legiti-midade. Em contraposição, a eqüidade supõe quenão se conceba a igualdade de direitos senão emfunção da situação particular de cada um. A partirde então, não se trata mais de aplicar os mesmosprincípios a todo o mundo e, às vezes, nem se con-cebe mais que os princípios sejam idênticos paratodo o mundo: trata-se sempre de levar em contaas circunstâncias pessoais.

Dois princípios sociais passam então a com-petir. Para o primeiro, a diminuição das desigual-dades passa pela outorga de direitos sociais aos in-divíduos. Para o segundo, a coesão social provémda capacidade efetiva de assegurar um acesso eqüi-tativo aos direitos sociais. A intervenção, por vezes

a “correção” de natureza eqüitativa, intervém an-tes dos direitos sociais: preconiza-se, então, um tra-tamento diferente para determinados indivíduos emfunção de suas características individuais.

No caso da França, a tensão entre esses doisprincípios pode ser ilustrada com as políticas públi-cas. Isto está especialmente claro com as zonas deeducação prioritárias (ZEP)*. Além dos limites pro-priamente escolares que foram indicados,18 algumasde suas dificuldades podem ser encaradas como pro-duto de uma tensão entre esses dois princípios.

Se bem que a finalidade das ZEP ultrapasse demuito o simples quadro do multiculturalismo, muitasde suas dificuldades se reconhecem a partir deste.19

De fato, aqui a tensão entre a “igualdade” e a “eqüi-dade” é máxima. À dificuldade de uma lógica “repu-blicana” em levar em conta questões que dependemda especificidade cultural dos alunos provenientesda imigração, acresce a dificuldade de uma lógica“diferencialista” que leve em conta questões que re-metem à história desterritorializada da educação naFrança.20 As tensões são, então, o mais freqüente-

17 Especialmente o conjunto das polêmicas travadasem torno da obra de Rawls, 1987.

* As Z.E.P. (zonas de educação prioritária) são umadas mais importantes políticas de educação realizadas naFrança desde o começo dos anos oitenta. O objetivo inicialfoi permitir a abertura do sistema educativo para seu entor-no, estabelecendo exigências de cooperação entre os diferen-tes atores sociais (educadores, trabalhadores sociais, pais defamília). O trabalho conjunto destes atores deveria permi-tir tratar as causas profundas do fracasso escolar bem comoda degradação física e social de certos bairros populares.Para isto houve a tendência a se designar maiores recursos(sobretudo financeiros e institucionais) aos estabelecimen-tos localizados em zonas socialmente sensíveis. Este proje-to enfrentou dois grandes obstáculos: por um lado, a difi-culdade da escola em se territorializar e, por outro lado, acrise de definição profissional que acarreta ou acentua en-tre os educadores. (N. E.)

18 Cf. Denis Meuret, 1994.

19 Para uma apresentação de muitas dessas dificulda-des, cf., sob a direção de Wieviorka, 1993, L’école et la ville.

20 Na realidade, essa representação extraterritorial daescola republicana é cada vez mais questionada pelos histo-riadores, que assinalam, ao contrário, sua forte capacidade decompromissos locais; cf., entre outros, Ozouf e Ozouf, 1992.

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mente, enviadas aos próprios professores que, emfunção das orientações e dos recursos locais, são obri-gados a improvisar “sua” reação. Mas eles estão pre-sentes na concepção mesma da política das ZEP.

As ZEP são de fato um bom exemplo de polí-tica pública a meio caminho entre a igualdade e aeqüidade. Elas partem de uma abordagem global dofracasso escolar e levam em conta a correlação en-tre este e a origem social modesta, assim como a in-tensificação do fracasso em função de disparidadesespaciais.21 A definição dos estabelecimentos esco-lares classificados como ZEP combina critérios esco-lares propriamente ditos (taxas de repetência, núme-ro de alunos imigrados, idade e retardo...) com crité-rios externos à educação nacional. A “nova” concep-ção do problema conduz, então, a políticas públi-cas compensatórias, pedagógicas e até urbanas, paraalcançar, por uma dotação desigualitária (portantomais eqüitativa) de meios, um reequilíbrio em termosde justiça social. Em suma, “dar mais aos que têmmenos”. No entanto, e uma das grandes insuficiên-cias das ZEP encontra-se neste nível, a reconversãoda eqüidade só se realizou pela metade. De fato, asZEP, que operam uma síntese da eqüidade diferen-cialista e da igualdade republicana, não visam a umacategoria de população distinta, mas a um território.

As ZEP inscrevem-se num processo de racio-nalização crescente da ação pública,22 do qual pro-vém sua vocação de utilizar uma abordagem ao mes-mo tempo mais global e melhor centrada da assis-tência social.23 Mas esse levar em conta das espe-cificidades locais verifica-se dentro do quadro de umaconcepção igualitarista e republicana: os particula-rismos locais só são considerados na medida em quepodem ser pensados em termos universais. O prin-cípio de eqüidade visa, pois, déficits sociais, e quando

se têm em vista especificidades culturais e identitárias,é sempre enquanto problemas sociais (expressos pormeio de linguagens universais).24 Esta é uma das ra-zões porque as políticas de ZEP não são acompanha-das por pedagogias específicas.

A não consideração do tema identitário esta-belece os limites das ZEP. A racionalização se ope-ra no sentido de uma eventual aproximação dasespecificidades dos mercados de trabalhos locais eno sentido de uma maior descentralização,25 masa diferença cultural permanece, na verdade, forado processo. Sempre se supõe que os docentes,apesar de suas divergências reais, aplicarão instru-ções idênticas e transmitirão ensinamentos unifor-mes. A “abertura” da escola para o bairro é, pois,um projeto mutilado já em sua origem: a escolaleva em conta desigualdades sociais, até mesmoconcebe o handicap escolar ligado a uma diversi-dade cultural, mas não pensa verdadeiramente adiferença. Assim, as ZEP não constituem mais doque uma dose de “eqüidade” no interior de um sis-tema educativo alimentado, em seu conjunto, porsólidos princípios igualitários.

Igualdade versus diferença

A igualdade implica recriar, muitas vezes peloviés de uma dinâmica conflitual entre diversos gru-pos, um espírito de solidariedade e passa por umalinguagem política cuidadosamente universalista:quer porque a gramática dos agentes sociais acabafazendo emergir o universal, quer porque o univer-sal, como ocorre freqüentemente, se identifica comuma dessas vozes. Em contraposição, a diferençaconsiste em estabelecer um princípio de reconheci-mento entre os indivíduos. Neste caso, a linguagempolítica é particularista: toda pertinência não é to-

24 No fundo, esta é a versão bem arrumada da peda-gogia diferenciada que se encontra na escola republicana.

25 Neste sentido, as ZEP têm sua origem antes numacrise, do que num projeto de renovação escolar. A incapa-cidade ou a dificuldade do “centro” em fornecer diretrizesúnicas preconizando uma autonomização local.

Danilo Martuccelli

21 Sobre as apostas sociológicas das ZEP, cf. Henriot-van-Zanten, 1990.

22 Para uma reflexão mais ampla a respeito das no-vas competências do Estado, cf. Donzelot e Estèbe, 1994.

23 Para uma reflexão crítica neste sentido, cf. Roman,1993.

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mada senão como uma especificidade autônoma, ecolocar entre parênteses a totalidade visa especial-mente anular toda hierarquia entre as diferenças.

Portanto, a tensão não pode deixar de ser forteentre a igualdade e a diferença. A igualdade, cen-trada nos direitos universalizáveis, supõe, de umaou outra maneira, ignorar as diferenças entre osindivíduos numa finalidade particular e considerarpessoas diferentes como equivalentes (mas não for-çosamente idênticas) para um propósito determina-do. Esta é a razão porque houve quem se apressas-se em afirmar o caráter artificial da oposição entrea igualdade e a diferença; em oposição à igualdadeencontra-se a não comensurabilidade dos indivíduosem função de certos objetivos (Scott, 1992). Mas éexatamente a partir dessa exigência que nascem asoposições entre as duas concepções. As demandasde igualdade visam a fazer reconhecer a legitimidadede certas diferenças não reconhecidas mas, parafazê-lo, exigem a existência de uma linguagem co-mensurável comum. Ora, é exatamente isso queapresenta dificuldades de um ponto de vista identi-tário: os agentes querem impor uma concepção es-pecífica enquanto tal. O impasse talvez não seja “lo-gicamente” necessário, mas tem se mostrado mui-to freqüentemente insuperável sociologicamente.

Os avatares do movimento feminista podemilustrar essa tensão. Por um lado, o feminismo igua-litário visa a estabelecer a igualdade entre a mulhere o homem por meio da negação do sexo como de-terminante do status social. O movimento defendeentão os direitos (universais) dos indivíduos paraalém de toda particularidade. Essa vertente do mo-vimento identificou-se facilmente com o otimismodas classes dirigentes quanto aos benefícios do pro-cesso de modernização, especialmente com a idéiade que o desenvolvimento econômico acarreta oprogresso social. Ora, neste caso, como têm conti-nuamente assinalado os partidários de um feminis-mo particularista, a mulher se anula antes mesmode ter podido existir historicamente: a aceitação,mesmo implícita, de um universal dissolve a iden-tidade. Por outro lado, o feminismo da diferença fazda reivindicação identitária o cerne do movimen-

to. A abolição das fronteiras entre o privado e opúblico, o questionamento do patriarcado, as aná-lises feitas com a ajuda do materialismo históricoou da psicologia (psicanálise freudiana ou lacaniana— e a emergência de um “falar-mulher” — ou ain-da, a teoria das relações objetais) visam, cada qualà sua maneira, a produzir a teoria dessa prática con-testatória. A divisão foi mais ou menos grande con-forme o caso, mas foi sempre obrigatória.

De fato, a tensão é irreprimível, porque remetea duas filosofias da integração social. Para o igua-litarismo, trata-se de encontrar, por meio da polí-tica, uma gramática que permita estabelecer um es-paço comum social, em suma, um universal quepermita consolidar a sociedade. A integração dasociedade passa sempre pela liberação dos direitosuniversais: donde a primazia do político. Para odiferencialismo, ao contrário, trata-se de permitira maior expressão possível das diferenças, donde ascríticas do político enquanto cimento da socieda-de. Afinal, a integração é “sistêmica”; de fato, cedoou tarde, e muitas vezes de maneira implícita, da-mos ao mercado o estatuto de princípio não trans-cendente da ordem. De fato, é sempre o mercadoque permite articular elementos interligados entresi, mas sem princípio central. O mercado destrói to-da referência aos universais e acomoda-se ao mun-do das diferenças.

Liberdade versus diferença

A tensão entre esses dois termos põe em ques-tão, por um lado, a síntese, operada no seio da de-mocracia moderna, entre as duas concepções da li-berdade, negativa e positiva, e, por outro, a prima-zia da primeira, tal como a modelou a história donosso século. O processo de individualização con-duz, de fato, a um excesso de reivindicações identitá-rias, por meio das quais os agentes querem afirmarsua especificidade cultural e não mais apenas se con-tentar com sua a existência numa esfera “privada”.

Mas essa tensão não opera no vazio. Em suabase encontra-se o fato de que, em cada sociedade,existe, o mais das vezes implicitamente, um mode-

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lo prescritivo de indivíduo. A liberdade democrá-tica negativa é, então, vivida por alguns como umamaneira de esconder seus handicaps diante de umanormalidade estabelecida. Por isso é que a contes-tação dos modelos dominantes não pode traduzir-se, afinal, senão por um questionamento do prin-cípio mesmo da divisão entre o “privado” e o “pú-blico”. A política multiculturalista surge pondo emquestão essa divisão vivida sob a forma de ampu-tação. Ora, ao visar à destruição de um modelodominante, a política da diferença arrisca-se, pois,a transformar a sociedade em mera justaposição degrupos. Os conflitos identitários exprimem então,aos olhos de alguns, ao mesmo tempo uma obses-são agônica por reencontrar um princípio de coe-são e a explosão das minorias que não se detémdiante de nada e a que tudo parecem opor-se: to-dos contra todos, uns após os outros, todos estãosob a mira.26

Mas a essa primeira oposição, acrescenta-seuma outra, de natureza inversa. Com efeito, à me-dida que tem lugar essa dissolução, corremos o riscode assistir a uma super-valorização da política dadiferença. No final desse processo de endurecimentoidentitário, opera-se a passagem a uma auto-afir-mação de natureza essencialista e não mais rela-cional de identidades, o que se traduz muito con-cretamente por recuos comunitários que negam asdiferenças individuais.

Observa-se, então, a perversidade irreprimíveldas reivindicações identitárias: numa de suas ver-tentes, e em nome do “pós-modernismo”, elas le-vam às concepções mais passadistas da identidadesocial. No seio de cada categoria do Outro todossão o mesmo. No devido tempo, impõe-se uma baseidentitária comum a todos os membros de uma cate-goria mais profunda e até mais intrínseca do que assuas individualidades.

A dupla proposição repousa, assim, de umlado sobre o questionamento da liberdade negati-va pela preocupação de afirmação diferencialista e,de outro lado sobre a crítica das essências diferen-cialistas em nome da liberdade individual. As duasdivisões são tais que se chega a assistir assistir, aquiou ali, a entronização de uma nova política que visaa “superar” esses dois impasses. Tratar-se-ia, deagora em diante, de reclamar em nome de sua di-ferença o direito à indiferença e, portanto, chegara uma harmonização entre os dois princípios. Ora,nos fatos, nada pode ser mais contraditório: comomobilizar um recurso identitário para instaurar umaindiferença identitária? Neste caso, a finalidade domovimento entra em oposição com os recursos aosquais ele apela. De fato a tensão encontra-se menosentre duas concepções opostas, e que carregam re-presentações opostas da sociedade, do que entreduas reivindicações contrárias: de um lado, a preo-cupação com a liberdade negativa (a reclusão daidentidade ao privado) e, de outro, a afirmaçãoidentitária no domínio público.

Essa tensão revelou-se da maneira mais vivapossível na França com o “caso do foulard”27*, que

26 Um processo lido de maneira diversa conforme assensibilidades políticas dos autores. O que abrange desde ospartidários desse processo (por exemplo, Michel Foucault)até os detratores neoconservadores (por exemplo, ArthurSchlesinger Jr. ou Samuel Huntington).

27 Aqui, a instabilidade dos termos do debate é espe-cialmente clara. O “caso do foulard” comporta também,mas de outra maneira, um debate entre dois princípios opos-tos de integração social, o igualitarismo e a diferença.

* O “caso do foulard”: em 1989, desencadeou-se, naFrança, um debate político motivado pela proibição, por umdiretor de escola secundária, ao ingresso no estabelecimentode um grupo bem pequeno de alunas de origem marroquinaque portavam o “véu islâmico” (foulard). Em torno desseincidente menor desencadeou-se um verdadeiro debate na-cional que opunha, de maneira passional, duas posiçõesfortemente antagônicas: de um lado, os defensores de umaconcepção estrita de “laicidade”, segundo a qual não sedeveria permitir a expressão de nenhuma diferença (sobretu-do étnica ou religiosa) dentro da escola e, de outro lado, osdefensores de uma concepção mais aberta de “laicidade”,sem que a estes últimos se imponha necessariamente umaconcepção diferencialista das identidades culturais. O confli-to, em sua dimensão escolar, foi absorvido caso a caso atra-vés de um conjunto de decisões práticas antes de conheceruma “segunda onda” em meados dos anos noventa. (N. E.)

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deve ser interpretado, para além de suas significa-ções estritamente escolares, em seu cerne político,como a oposição entre duas concepções de indivi-dualidade moderna. Os defensores de uma concep-ção laica da escola, lugar neutro protegido do mun-do e de suas divisões, defendem a versão francesae escolar da liberdade negativa. Para eles, supõe-seque o indivíduo deva desprender-se de suas carac-terísticas diante de uma instituição que nele vê ape-nas um cidadão a ser formado e que não pode ad-mitir a intrusão da diferença. Do outro lado, hátodos aqueles para os quais a afirmação identitária,e o conjunto das significações apregoadas por essamanifestação,28 fazem parte (ou são vividos ou cap-tados) como provindos do desejo moderno de mos-trar sua individualidade e sua resistência em admi-tir imagens desencarnadas deles. Com o tempo, ovéu é, ou pode ser, interpretado num sentido multi-culturalista, como manifestação de um rosto dife-rencialista no seio de uma instituição despersona-lizadora — o que, evidentemente, não impede querevele outras significações.

Muitas vezes, o debate conclui, então, nos im-passes invocados anteriormente: quer se trate deoperar uma “volta” a uma concepção que remeteao privado as manifestações das diferenças (mas,então, torna-se permanente, aos olhos das minorias,a suspeita quanto ao caráter discriminatório dessaliberdade negativa), quer se trate de operar uma“volta”, sob a forma de endurecimento para composições diferencialistas extremas, onde com o tem-po o indivíduo é dissolvido no coletivo.

Mas essa tensão também pode estar na basede sentimentos de frustração por parte de membros“majoritários” duma sociedade. Com efeito, sendosua identidade, na maioria das vezes, tomada im-plicitamente como modelo cultural dominante, elessó podem sentir toda reivindicação diferencialistacomo um questionamento de sua identidade. A agi-tação diferencialista das minorias, notadamentequando encontra eco na opinião pública ou nos

governos, dá lugar a sentimentos de frustração na-queles que se identificam com os modelos culturaisdominantes, sobretudo quando sua situação socialé instável ou precária.29

Liberdade versus eqüidade

A tensão entre esse dois princípios pode ser en-fim, extrema. Ambos trazem consigo preocupaçõesdiversas. A liberdade negativa, cujo valor não é pre-ciso demonstrar, supõe o estabelecimento de umafronteira entre o privado e o público. Certamente,essa fronteira é histórica e mutável, mas exige sem-pre a existência de um domínio que escapa da in-tervenção estatal. A eqüidade, ao contrário, e a suapreocupação em levar cada vez mais em conta di-ferenças individuais, preconiza a produção de con-cepções cada vez mais globais que acabam por ocu-par esse espaço.

Vale dizer que, apesar de seu aparente acor-do em torno de uma concepção “liberal” da socie-dade, esses dois princípios conduzem a tensões mui-to intensas: a vontade de oferecer aos homens maiseqüidade, na medida em que esta exige uma consi-deração aprofundada das situações particulares,torna-as também mais expostas em suas liberdadesindividuais. Não é preciso ser partidário da “mi-crofísica do poder” para compreender o risco, paraas liberdades individuais, que está inscrito nas po-líticas de eqüidade.

Sob esse aspecto das coisas é preciso lembrardos dilemas produzidos, a fim de questionar os efei-tos “não desejados” das discriminações institucio-nais. Esse tema ainda não atraiu a atenção que me-rece, na França, mas tem sido amplamente discuti-do em outros países da Europa. No Reino Unido, hátodo um conjunto de trabalhos que questionam asinjustiças ligadas à não consideração das necessida-des particulares de certos grupos da população, oua uma representação estereotipada das demandaspotenciais. Para impedir a exclusão institucionali-

29 Cf. Wieviorka, 1992.

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28 Cf. Gaspard e Khosrokhavar, 1995.

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zada não deliberada que atinge certas minorias, aspolíticas públicas são responsáveis, desde sua con-cepção, por levar em conta as necessidades reais eespecíficas dos diferentes grupos sociais ou culturais.Por exemplo, a concepção de um parque público develevar em conta o tamanho das famílias das diversasminorias.30 Por um lado, essas políticas levam a umaeqüidade crescente e real para os indivíduos, na me-dida em que o Estado leva melhor em conta os par-ticularismos culturais. Mas, de outro lado, essas po-líticas recorrem à extensão de um saber social, à pro-dução de uma engenharia social que pode chegar auma intensificação do poder. Acresce a isso o peri-go de um enrijecimento das políticas públicas. Segu-ramente, a oposição nunca é rígida na medida emque as necessidades sociais consideradas são diver-sas e onde noções como “raça” ou “etnia” não são,em sua significação social, traços imutável dos in-divíduos, mas sim construções sociais sempre se mo-vendo num espaço relacional. Mas como evitar es-ses desvios quando os agentes portadores dessas rei-vindicações, eles próprios, deslizam tão freqüente-mente para uma naturalização de suas identidades,portanto, finalmente, de suas necessidades?

Dois riscos estão, pois, inscritos nesse proces-so. O primeiro é que assumir a responsabilidadepolítica das “necessidades” particularistas permiteque um grupo de peritos amplie seu poder. E o se-gundo é que essa política “particularista”, tornan-do públicos elementos “privados”, isola ainda maisos indivíduos em suas identidades coletivas. Esteúltimo aspecto provocou muitas vezes as reações demembros de minorias, e de maneira muito diferen-te segundo sua posição social: de fato, a origemétnica, se proporciona vantagens aos trabalhado-res imigrados ou a alguns membros das camadasmédias que se tornaram verdadeiros “notáveis” po-líticos da imigração, representa obstáculo para aassimilação definitiva dos outros.31

Há, pois, um conflito ente os defensores de umliberalismo minimalista e os partidários de um so-cialismo liberal (ou de um liberalismo diferencia-lista). Mesmo que a intervenção se faça sempre emnome da igualdade de oportunidades, a racionali-zação da ação pública está sempre ameaçada a cons-pirar contra a liberdade negativa.

* * *

As quatro tensões que acabamos de apresen-tar mostram, certamente de modo esquemático, asdificuldades ligadas à penetração do tema identi-tário na política. Os debates assim provocados, nosquais se misturam, à mercê das circunstâncias, ques-tões culturais, sociais e políticas, estruturam, demaneira renovada, quatro grandes questões.

A primeira diz respeito aos grandes princípiosda justiça social e à melhor maneira de levar em contadesigualdades ou diferenciações sociais (igualdade-eqüidade). A segunda diz respeito aos princípios decoesão e de integração culturais da sociedade, varian-do as posições desde uma ruptura radical entre oprivado e o público (e, pois, a identificação dos in-divíduos com a razão) até a expressão acabada e mul-tiforme dos particularismos culturais (igualdade-di-ferença). Uma terceira questão tem a ver com a cons-tituição dos indivíduos pela política e na política, sejamediante um espaço pessoal irreprimível e protegi-do de toda intervenção estatal, seja mediante a ca-pacidade de auto-afirmação pública das diferençasidentitárias (liberdade-diferença). Enfim, uma quartaquestão diz respeito aos limites do poder na socie-dade, estabelecendo-se uma oposição entre duas ten-dências importantes da modernidade, a consolida-ção política da liberdade negativa e o processo de ra-cionalização do Estado (liberdade-eqüidade).

A dialética identitáriado multiculturalismo

Mas poderia suceder que essas tensões nadamais fossem do que um aspecto próprio de uma fasede transição, em que se emaranham os “antigos”princípios e as novas questões. É preciso, pois, que

30 Cf. Couper e Martuccelli, 1994.

31 Para prevenir-se nesse sentido, cf. Vasta, 1994.

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se proponha a questão da coerência de uma políti-ca multicultural, isto é, que seja totalmente arti-culada em torno da diferença e da eqüidade.

À primeira vista, é grande o contraste entre aoposição clássica entre a igualdade e a liberdade,tantas vezes apresentadas como opostas e, na ver-dade, tendo por tantas vezes caminhado juntas, ea harmonia natural, supostamente instaurada, en-tre os dois princípios políticos do multiculturalismo,a eqüidade e a diferença.

Aparentemente, nada, de fato, contrapõe es-ses dois princípios. Parece imediato o acordo en-tre o princípio da eqüidade (tornado possível pelaintervenção e a reflexividade crescentes da açãopública), que corresponde à necessidade de centrarmelhor as políticas públicas, e o princípio da dife-rença, ligado a essa necessidade de levar em contaas especificidades das minorias. Mas a “utopia”multiculturalista passa muito rapidamente em si-lêncio, não tanto a emergência de novas demandasidentitárias cada vez mais socioculturais,32 quan-to aquilo que é o verdadeiro núcleo do desacordo,a saber, a “natureza” mesma das reivindicaçõesidentitárias, marcada pela influência, desde o iní-cio, de seu caráter reativo. A diferença se define —mas é a história social tanto quanto a natureza in-trínseca da noção que a querem assim — com re-ferência a uma alteridade, o mais das vezes de ca-ráter dominante. A reivindicação identitária é inse-parável desse estado de coisas.

A noção de identidade multicultural, depen-dendo da de diferença, supõe que o sentido se cons-trói em contraste com o seu oposto, e até mesmonegando-o ou reprimindo-o. Toda identidade se es-tabelece em oposição explícita a uma outra identi-dade. De um ponto de vista sociológico, a análisedas lutas diferencialistas consiste em desfazer essascategorias e oposições a fim de questionar o con-texto específico em que operam. É assim que umadiferença específica, por exemplo, étnica, serve paraestabelecer significações que não são diretamente

ligada à “pele”, mas que fazem parte de uma estru-tura global de significação de caráter totalizador.A oposição nada mais é do que um contraste social-mente estabelecido e a maior parte das interdepen-dências são hierárquicas: no seio de cada dupla bi-nária, um tem a primazia e o outro é negado.33 Aluta social é justamente definida pela capacidade dedesfazer essa equação. Basta pensar no slogan dasfeministas dos anos 70: o homem está para a mu-lher assim como o velocípede está para o peixe. Masessa preocupação de autonomização logo encontradificuldades devido ao caráter intrínseco da iden-tidade. Esta, como a compreendeu Hegel melhor doque ninguém, não se apresenta senão diante do ou-tro. Esta é toda a dificuldade que existe em “afir-mar” uma identidade que rompe com toda depen-dência relacional: como bem têm demonstrado aslutas coletivas, o tema identitário girando em falsoesgota-se a si mesmo Definida a identidade, afirma-da a particularidade, obtida a especificidade, seuobjetivo se desintegra nas novas dimensões simbó-licas adquiridas por seus membros. O movimentoé, pois, obrigado a recomeçar. Pode fazê-lo de trêsmaneiras: produzindo (de fato, mantendo viva) aexigência de uma cultura radicalmente outra; es-sencializando com o tempo as identidades reivin-dicadas; relançando ininterruptamente novas de-mandas identitárias reativas.

A fuga para frente é muitas vezes irresistível:a cada vitória prática, descobre-se uma insatisfa-ção simbólica persistente, o mal-estar sempre exi-gindo uma ação a mais. E quanto mais essa preo-cupação é individual, sentida de maneira irrepri-mivelmente individual, tanto mais recorre a lingua-gens coletivas. Por isso é que os movimentos dife-rencialistas, a menos que se instaurem por meio do

33 Para teorizar esse processo, diversos autores femi-nistas inspiraram-se em trabalhos de J. Derrida, especialmen-te das técnicas da “inversão” e do “deslocamento”: umasignificação é invertida e colocada para além de seu papelde oposição a fim de mostrar a violência hierárquica e adívida que o termo dominante tem para com o termo do-minado. Cf. Derrida, 1967.32 Cf. a esse respeito Lapeyronnie, 1993.

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político enquanto universal, possuem repercussõestão freqüentes: a natureza mesma da identidadefaz com que todo reconhecimento identitário sejasuscetível de traduzir-se facilmente em depressãoidentitária, impelindo então o agente para novasdemandas... identitárias.

Isso é próprio ao dilema identitário. Em seuinterior devem distinguir-se sempre dois níveis di-ferentes. O que se passa na cena pública não é ohomólogo ao que se passa na esfera privada. Oumelhor, não há solução de continuidade entre asidentidades reivindicadas mediante a ação coletivae as identidades vividas no cotidiano. A preocupa-ção identitária nunca é totalmente atingida pela ou-torga de novos direitos. Por certo foram realizadosprogressos, e grandes, e as situações são demasia-do diversas para que possamos permanecer numraciocínio global. No entanto, as duas ordens dofenômeno identitário, o “público” e o “privado”,jamais se fundem, ainda que muitas vezes se con-fundam.34 Por um lado, encontram-se diversas fi-losofias da coesão social (integração ou assimilação)ou de justiça social; por outro, uma diversidade desentimentos que vai desde o ferimento identitárioaté a perda de si mesmo, passando pelo esquecimen-to. Mas não existe ligação direta entre essas duasordens. Às vezes, a assimilação traduz-se pelo es-quecimento identitário, mas nem sempre, nem obri-gatoriamente. Outras vezes, a perda identitária estáseparada de todo processo de integração.

O apaziguamento identitário possui um tem-po e uma lógica diversos dos da reivindicação iden-titária. É difícil caracterizar esse “apaziguamento”tanto o conjunto dos conceitos de que dispomos visaa afirmar uma identidade; digamos que não se tra-ta nem de uma renúncia nem de uma negação, masantes de uma gestão do discurso das origens pelo

34 Compreende-se então os principais impasses de umaposição como a de Fukuyama que julga encontrar na esfe-ra timótica (o desejo de reconhecimento) o princípio de umfim da história, bem como um motor da própria democra-cia. Cf. Fukuyama, 1992.

distanciamento. Certamente, esse apaziguamento émotivado por elementos externos. Seria, porém, umerro reduzi-lo a um efeito de situações objetivas.Certamente, políticas que visam a aumentar a par-ticipação de minorias na vida social podem facili-tar esse apaziguamento contanto que não se negli-gencie o que se passa do lado subjetivo e que per-manece além, ou aquém, desses processos35 — apercepção individual cotidiana da alteridade, asemoções da negação de si mesmo, sempre percebi-das mesmo que não sejam inteiramente reais, o sen-timento de ser, devido a sua alteridade, retirando-se ou avançando, sempre na defensiva...

Em outras palavras, devido à sua própria “na-tureza”, as identidades podem ser produzidas nega-tivamente: a força do racismo vem de sua capacidadede produzir identidades impostas, de encerrar qual-quer um num estereótipo, de, afinal, negar sua hu-manidade. O processo é mais aleatório no sentidoinverso. As identidades das minorias nem semprepodem afirmar-se simbolicamente de maneira posi-tiva. O drama identitário das minorias é que elas nãopodem tornar-se sujeitos universais, que estejam nademocracia, obrigadas a existir de maneira “reativa”ou a aceitar sua dissolução identitária.

A instabilidade central da utopia multicul-tural encontra-se aqui: na contradição da dinâmi-ca identitária. Por isso é possível revelar uma dia-lética não isomorfa entre a eqüidade e a diferença.A ausência de uma verdadeira eqüidade, especial-mente a existência de discriminações ligadas aosparticularismos, tende a traduzir-se em apelos ereivindicações identitárias. Porém, e eis o pontomais importante, quanto mais uma sociedade seenvolve em programas de eqüidade, tanto maisexistem (seja por depressão identitária, seja por es-sencialização das identidades) reivindicações iden-titárias. Em certos casos, pode até suceder que oquanto os agentes ganham em eqüidade perdemem diferença. O fato de a diferença não existir a

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35 Relativamente a tensões desse tipo, cf. Goffman,1975.

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não ser em tensão está na raiz desse processo deconstante retomada das reivindicações identitárias.Daí, em certa medida, os ritmos históricos pecu-liares aos movimentos identitários, diferentemen-te de outros movimentos sociais: tanto o feminis-mo, quanto o movimento das minorias étnicas pa-recem ter um núcleo identitário resistente a todainstitucionalização completa.

* * *

Tendo a preocupação da identidade tendênciaa afirmar-se na democracia, a dinâmica política de-verá cada vez mais levá-la em conta, mesmo que naFrança, ainda, e pelo fato da concepção política danação, os debates pareçam ainda limitados.

O desafio do multiculturalismo provém do ca-ráter irreprimível das demandas de identidade, en-quanto elas participam do processo de moderniza-ção, e sobretudo das conseqüências de sua vitóriasobre os princípios mais importantes da democra-cia. O campo político do multiculturalismo é umespaço de tensões incerto, tanto do ponto de vistadas questões que o estruturam, quando devido aocaráter muito freqüentemente evanescente das po-líticas identitárias.

DANILO MARTUCCELLI é pesquisador do CNRS-CADIS (Centre d’Analyse et d’Intervention Sociologiques -Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales), onde parti-cipou de pesquisas sobre o racismo, o nacional-populismoe problemas escolares. Doutor em Sociologia pela Ecole desHautes Etudes en Sciences Sociales. É professor do Depar-tamento de Sociologia na Universidade de Bordeaux. Entresuas obras, destacam-se: MARTUCCELLI, Danilo, (1995).Décalages, Paris: P.U.F. e DUBET, F., MARTUCCELLI, D.,(1996). A l’école, Paris: Seuil.

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