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213 Educação, Batatais, v. 6, n. 2, p. 213-225, jul./dez. 2016 As contribuições do Skype para o ensino da harmônica Luciano José Trindade FALCÃO 1 Sara Cecília CESCA 2 Resumo: O presente artigo aborda o uso de um recurso tecnológico que inicial- mente foi criado para a comunicação via internet e que atualmente está sendo bastante utilizado como ferramenta de ensino a distância em vários segmentos, inclusive no de instrumentos musicais como é o caso da harmônica. Dentro de um contexto em que cada vez mais a tecnologia se faz presente, é importante destacar as contribuições desses recursos para o campo da educação musical. Nossas reflexões foram pautadas a partir da revisão bibliográfica de teses e ar- tigos relacionados ao assunto. Apresentaremos também um breve panorama da história da harmônica, bem como do Skype ® e seus recursos. Serão destacados aspectos musicais e estilísticos, sua aplicabilidade como instrumento educativo a partir do uso de ferramentas tecnológicas. A pesquisa ainda apresenta reflexões em torno das facilidades e vantagens, dificuldades e desvantagens do uso desses recursos no que diz respeito ao ensino e à aprendizagem. Palavras-chave: Educação Musical. Harmônica. Skype. 1 Luciano José Trindade Falcão. Especialista em Ensino da Arte pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Especialização em andamento em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão pelo Claretiano - Centro Universitário. Licenciado em Música pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: <[email protected]>. 2 Sara Cecília Cesca. Doutoranda em Música pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestre em Música pela mesma instituição. Especialista em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas pela Universidade de Brasília (UnB). Licenciada em Música pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Graduada em Música Com Habilitação em Instrumento pela Universidade de São Paulo (USP). Tutora do Curso de Licenciatura em Música do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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As contribuições do Skype para o ensino da harmônica

Luciano José Trindade FALCÃO1

Sara Cecília CESCA2

Resumo: O presente artigo aborda o uso de um recurso tecnológico que inicial-mente foi criado para a comunicação via internet e que atualmente está sendo bastante utilizado como ferramenta de ensino a distância em vários segmentos, inclusive no de instrumentos musicais como é o caso da harmônica. Dentro de um contexto em que cada vez mais a tecnologia se faz presente, é importante destacar as contribuições desses recursos para o campo da educação musical. Nossas reflexões foram pautadas a partir da revisão bibliográfica de teses e ar-tigos relacionados ao assunto. Apresentaremos também um breve panorama da história da harmônica, bem como do Skype® e seus recursos. Serão destacados aspectos musicais e estilísticos, sua aplicabilidade como instrumento educativo a partir do uso de ferramentas tecnológicas. A pesquisa ainda apresenta reflexões em torno das facilidades e vantagens, dificuldades e desvantagens do uso desses recursos no que diz respeito ao ensino e à aprendizagem.

Palavras-chave: Educação Musical. Harmônica. Skype.

1 Luciano José Trindade Falcão. Especialista em Ensino da Arte pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Especialização em andamento em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão pelo Claretiano - Centro Universitário. Licenciado em Música pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: <[email protected]>.2 Sara Cecília Cesca. Doutoranda em Música pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestre em Música pela mesma instituição. Especialista em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas pela Universidade de Brasília (UnB). Licenciada em Música pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Graduada em Música Com Habilitação em Instrumento pela Universidade de São Paulo (USP). Tutora do Curso de Licenciatura em Música do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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The contributions of Skype for the teaching of harmonica

Luciano José Trindade FALCÃOSara Cecília CESCA

Abstract: This article approaches the use of a technological resource that, initially, was created for communicating via internet and, currently, is being widely used as an e-learning tool in several areas, including the area of musical instruments, such as the harmonica. In a scenario technology is more and more present, it is important to highlight the contributions of these resources for the area of musical education. Our reflexions were based on a bibliographical research on theses and articles. We will also present a brief overview on the history of the harmonica, as well as Skype® and its features. Musical and stylistic aspects will be highlighted, as well as their applicability as a learning tool using technological tools. This study also presents reflexions on the facilities and advantages, difficulties and disadvantages when using these resources regarding teaching and learning.

Keywords: Musical Education. Harmonica. Skype.

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1. INTRODUÇÃO

Como ponto de partida investigativo e reflexivo em torno da presente temática, os primeiros passos deste trabalho foram sedi-mentados metodologicamente a partir da revisão bibliográfica de artigos relacionados ao assunto publicados em revistas específicas da área de educação musical. Baseado nos estudos apontados por Gohn (2009), podemos verificar que os trabalhos científicos que tratam sobre o ensino de instrumentos musicais a distância tomam como ponto de partida o atual contexto de música e tecnologia, destacando benefícios e malefícios trazidos pelas atuais redes de comunicação. Diante dessas considerações, destacamos ao longo do texto aspectos significativos em torno do ensino da harmôni-ca a partir das tecnologias digitais, especificamente a ferramenta Skype®. Segundo a ótica de Salvatori (2014), relataremos também as condições educativas que permeiam esse encontro virtual, porém dialógico.

Nunca na história da humanidade o aumento de qualidade e de recursos tecnológicos propiciou o estudo a distância de muitos assuntos e temas, independente do lugar onde a pessoa resida. E com o ensino de instrumentos musicais não foi diferente. Com a melhora da qualidade também de transmissão da internet, seu baixo custo e o desenvolvimento de softwares gratuitos, fáceis de utilizar e leves em termos de capacidade de armazenamento, o aprendizado e o ensino de instrumentos musicais vêm ficando cada vez mais acessíveis a todo aquele que almeja ter professor particular ou até mesmo um professor de um instrumento que não exista em sua ci-dade. O ensino da harmônica cromática é um forte exemplo. Difi-cilmente se encontram profissionais capacitados para o seu ensino fora dos grandes centros. Assim sendo, acreditamos ser oportuno, para compor estes escritos, trabalhos práticos que estão sendo reali-zados nessa modalidade, especificamente para a harmônica. Basea-do nesse recorte, examinaremos de forma sucinta seu alcance em relação a um público-alvo e possíveis conquistas.

Em suma, apresentaremos reflexões relacionadas à utilização de ferramentas tecnológicas a distância para o ensino da harmô-nica, destacando também, do ponto de vista educativo, aspectos

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significativos que envolvem a utilização dessas ferramentas, prin-cipalmente no que diz respeito ao acesso educacional.

2. BREVE HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA HARMÔNICA

Acredita-se que a harmônica teve sua origem em um antigo instrumento chinês chamado Sheng (que significa “voz sublime”), inventado há mais de 5.000 anos durante o império de Huang-Ti. O Sheng era formado inicialmente por doze tubos de bambu de comprimentos diferentes e dispostos ao redor de uma cabaça que apresentava uma boquilha por onde o músico soprava. Cada tubo tinha uma palheta livre que vibrava ao ser acionada pelo sopro. E em cada tubo havia um pequeno orifício que ao ser fechado pe-los dedos permitia que o ar insuflado acionasse a palheta. O Sheng existe até hoje na China, feito de outros materiais e com mais tubos.

Somente durante o século XVIII, por meio de viajantes chi-neses, o Sheng chegou à Europa Ocidental (MASSIN, 2005).

Desde então, de acordo com Silva (1996), esse instrumen-to sofreu modificações em sua estrutura e nos seus materiais de fabricação, provocando o surgimento de novas ideias para novos instrumentos, entre eles a harmônica ou gaita. Em 1820, o afinador de pianos e órgãos Christian Friedrich Ludwig Buschmann, neces-sitando de um diapasão prático e de fácil transporte, idealizou um pequeno instrumento composto por uma placa metálica – colocada sobre um cavalete de madeira dotado de 12 furos – com 12 palhe-tas também metálicas, com diferentes comprimentos e afinadas de modo que reproduzissem toda a escala cromática temperada. Essas palhetas eram acionadas apenas com o sopro, facilitando o ofício do afinador. Esse instrumento foi batizado como aura.

Em 1827, Christian Messner, criou em Trossingen (Alema-nha) o protótipo da harmônica baseado na aura, com palhetas so-pradas e aspiradas, que permitiram a articulação da escala diatônica de dó maior com alguma facilidade, além da possibilidade de tocar alguns acordes. Com as alterações na distribuição das vozes entre as três oitavas, o instrumento ficou adequado às músicas regionais

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europeias da época. Com o nome de eolina, a harmônica populari-zou-se em grande parte da Europa.

Matthias Hohner, um relojoeiro alemão, se interessou pela eolina e em 1857 passou a fabricá-la de modo artesanal. Assim foi criada a gaita diatônica com 10 orifícios, podendo ser tocadas em cada um dos seus orifícios 2 notas – 1 nota soprada e 1 nota aspi-rada –, totalizando 20 notas ou 20 vozes. É chamada de harmônica em virtude da possibilidade de reproduzir grupos de duas, três ou quatro notas ao mesmo tempo, formando acordes.

Poucos anos depois, a fábrica Hohner começa a importar har-mônicas para os Estados Unidos da América – no período em que ocorreu a Guerra Civil Americana. Chegando lá, tem-se a primeira evolução da harmônica diatônica. Entre os negros recém-libertados que criam e difundem o blues, surgem as bends notes ou “notas choradas”. Essas notas representavam simbolicamente gestos de la-mentos e saudades da terra natal. As bends notes são notas executa-das por meio de uma técnica que permite a mudança da frequência natural da palheta. Essa técnica consiste na aplicação de uma maior compressão de ar sobre a palheta e na contração da musculatura da garganta simultaneamente. É o que os gaitistas chamam de trato oral. Com essa técnica que apenas baixa a frequência das notas, aumenta-se extensão do instrumento de 20 para 32 notas. Desde então, a harmônica virou sinônimo de blues3 e as músicas que con-ferem esse estilo são reconhecidamente pela sonoridade peculiar da escala blues.

Em meados de 1918 e 1920, o músico russo Borrah Minevi-tch, sentindo a necessidade de executar peças musicais mais com-plexas, desenvolveu um mecanismo para transformar a harmônica diatônica num instrumento cromático, unindo sobre um cavalete duas placas de vozes afinadas com diferença de 1/2 tom (dó e dó sustenido, por exemplo) separadas por um registro cuja “chave”, quando acionada, fecha um dos lados e abre o outro, permitindo a execução da escala cromática. Inicialmente, o mecanismo foi apli-

3 Gênero musical que surgiu no final do século XIX no sul dos Estados Unidos, com os negros escravos que trabalhavam nas plantações de algodão.

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cado em harmônicas com apenas 10 orifícios, resultando na limita-ção da tessitura4 do instrumento.

Posteriormente, o próprio Minevitch ampliou o modelo para uma harmônica com 12 orifícios, com a distribuição das vozes em 3 oitavas iguais. E assim se deu o nascimento do modelo da har-mônica cromática com 48 vozes (três oitavas). Mas a evolução da harmônica não parou por aí. Entre os anos 80 e 90 do século XX, o gaitista americano Howard Levy criou uma técnica a qual ele chamou de overblow e overdraw, que consistiu na cromatização da harmônica diatônica. Atualmente, as harmônicas podem ser clas-sificadas, segundo Silva (1996), em harmônicas específicas para solos, que, por sua vez, dividem-se em diatônicas e cromáticas; e harmônicas para acompanhamentos, como as harmônicas baixo e as harmônicas de acordes.

3. BREVE HISTÓRIA DO SKYPE®

Segundo as informações do site Terra, o Skype® foi um recur-so compartilhado em 2003 por Niklas Zennström e Janus Friis (os mesmos criadores da ferramenta Kazaa). O principal objetivo dessa ferramenta consistia numa comunicação rápida e dinâmica entre as pessoas pela internet. Um recurso tecnológico simples, no entanto, revolucionário, facilitando o encontro de pessoas de diferentes lu-gares. Os autores desse projeto visavam oferecer uma comunicação de voz de alta qualidade a qualquer um com conexão de internet em qualquer lugar do planeta (TERRA, s.d.).

Ao longo dos anos, o Skype® permitiu que os usuários se co-nectassem entre um Skype® e um telefone fixo ou telefone móvel, possibilitando também chamadas em conferência. Atualmente, é possível receber ligações de um telefone convencional via Skype®.

Segundo o site Terra, em 2005 o Skype® foi vendido para a empresa eBay e, na época, contava com pouco mais de 50 milhões de usuários. Embora tenha sido vendido, seus fundadores Zennström e Friis se mantiveram nos cargos.

4 Extensão de notas alcançadas por um instrumento.

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Em 2009, as ações foram repartidas entre o grupo Silver Lake, Andreessen-Horowitz e o próprio eBay, que manteve um ter-ço das ações. O grupo de capital privado Silver Lake, que contro-lava a empresa, ficou menos de 18 meses à frente da companhia, mas lucrou três vezes o valor investido na sua aquisição. No fim de 2010, o serviço alcançou uma média de 145 milhões de usuários conectados por mês. Os usuários da ferramenta fizeram 207 bilhões de minutos de chamadas por voz e vídeo naquele ano. Em 2011 o Skype® foi comprado pela Microsoft®, tornando-se uma nova divi-são da gigante do software.

Recursos do Skype®

Vamos elencar a seguir, sem profundos detalhamentos, os principais recursos disponíveis no aplicativo, segundo o próprio catálogo do programa:Tabela 1. Recursos disponíveis no Skype®.

Chamadas

Chamadas de Skype® para Skype®, chamadas para celulares e telefones fixos, chamadas em grupos, número em Skype®, redirecionar chamadas, ID de chamadas, Skype® to go e clicar para chamar do Skype®.

Vídeo Chamadas com vídeo pessoais e chamadas com vídeo em grupo.

Chat Mojins e emoticons, mensagens com vídeos, chat, envio de mensagens de texto (SMS), mensagens de voz e groupme.

Compartilhamento Envie artigos, compartilhamento de tela, compartilhamento de tele em grupo e envie contatos.

Outros recursosSkype® wifi, Skype® manager, Skype® connect, Skype® para outlook.com, botão de contato, botão de compartilhamento, Skype® translator e extensão do Skype®.

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4. A MÚSICA, O SEU ENSINO E A TECNOLOGIA NO SÉCULO XXI

De acordo com Krüger (2006), as novas tecnologias cada vez mais desafiam os educadores musicais a rever e complementar a sua formação. E na educação, ainda segundo Krüger, não são ape-nas os computadores e a internet que são utilizados, mas também a televisão, vídeos, rádios, materiais impressos e audiovisuais. No entanto, no contexto de ensino a distância, as ferramentas virtuais, bem como a variedade de softwares, são imprescindíveis para o trabalho.

É importante ressaltar que, como educadores, não devemos ter “tecnofobia”, ou seja, medo de tecnologia, pois os novos instru-mentos tecnológicos são muito importantes para a possibilidade da disseminação de conhecimento para um número maior de pessoas, principalmente em um país como o Brasil, que tem dimensões con-tinentais. Segundo Naveda (apud SOUZA, 2006), a tecnologia e a tradição não são opostas e sim complementares; assim sendo, como educadores, é importante que busquemos compreender as mudan-ças do nosso tempo, avaliando nossas ferramentas de trabalho. Essa conduta não pressupõe o abandono dos antigos recursos de ensino, no entanto propõe um olhar mais atento em torno de estratégias capazes de ampliar ainda mais o alcance do trabalho docente. E no atual panorama em que nos encontramos, no qual existe uma grande massa de informações que nos chegam por todos os lados e de forma muito rápida, precisamos eliminar a informação desne-cessária e trabalhar de forma prática e efetiva, inclusive no campo da educação.

O uso da tecnologia para o ensino a distância de instrumen-to está cada vez mais em evidência, conforme apresenta Salvatori (2014) em um estudo de caso sobre o ensino de flauta doce me-diado por videoconferência utilizando o aplicativo MSN. Podemos citar também o curso de violão do Instituto Universal Brasileiro ministrado por Westermann (2010) por meio de videoaulas, uma prática também adotada pelo curso de Licenciatura em Música a Distância da UFRGS.

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Segundo Gohn (2009), no atual estágio de desenvolvimento tecnológico existe uma crescente troca de informações por meio de uma rede de computadores, que inclui a troca e disponibilização de músicas de diversos gêneros e estilos, podendo ser baixadas pela internet de modo pago ou gratuito.

Além de programas e sites, as redes sociais como o Facebook® possibilitam o intercâmbio e o conhecimento de músicas e artistas novos ou já consagrados pelo público em geral. O Youtube®, outra ferramenta bastante utilizada, vem contribuindo significativamente para buscas e compartilhamentos de obras, autores, aulas e registros em geral.

Esses acervos tecnológicos são cada dia mais utilizados como recurso educativo. Basta entrar no Youtube® para constatarmos a quantidade quase ilimitada de cursos sobre vários assuntos, temas e abordagens. E o ensino de música não poderia ficar atrás. Entretan-to, cabe observar também os malefícios que residem na propagação de conteúdos duvidosos e que não se sustentam em bases peda-gógicas; trata-se de abordagens não formais. É possível encontrar videoaulas e cursos de música de pessoas desprovidas de embasa-mentos teóricos. Podemos verificar em diferentes videoaulas auto-res que dominam seus instrumentos, no entanto, do ponto de vista técnico, no que diz respeito a essa linguagem mediacional, a abor-dagem do autor muitas vezes carece de uma melhor estruturação do curso ou de um roteiro adequado voltado para o desenvolvimento do aluno.

Por sua vez, existem professores que apresentam um material bem organizado e adequado ao nível de conhecimento do aluno. No caso do ensino da harmônica, que é o foco dessas reflexões, pode-mos ver no site <www.academiadagaita.com.br>, por exemplo, que a utilização de videoaulas, recursos gráficos e audiovisuais propi-ciam clareza, acesso e maior interação entre o professor e o aluno, além da troca de diálogos via e-mails ou vídeos gravados. Outro as-pecto interessante e significativo diz respeito à duração dos vídeos que são elaborados. De acordo com o perfil dos alunos que buscam por esses recursos, geralmente marcados por profissionais que, em decorrência do trabalho, possuem dificuldades para se deslocarem

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para os grandes centros à procura de determinados cursos, é impor-tante conceber atenção à minutagem dos vídeos para uma melhor compreensão dos conteúdos. Nesse sentido, a elaboração de vídeos curtos vem sendo uma prática dinâmica e significativa que vai ao encontro de necessidades atuais. Baseado no site mencionado an-teriormente, é importante ressaltar que não há o uso do Skype®, pois as aulas são assíncronas5, isto é, um modelo em que alunos e professor só trocam informações por meio de vídeos gravados.

Como um exemplo de uso do Skype® para aulas de gaita a distância, podemos citar o músico e professor Michael Arce, que, em seu site <www.harmonicaclasses.com>, disponibiliza aulas on--line deste instrumento desde 2004. Conforme está descrito em sua página virtual, sua proposta consiste em atender alunos em tempo real a partir de diferentes lugares, desde que possuam um compu-tador e uma internet banda larga. Assim sendo, o aluno é capaz de aprender gaita com o professor de forma interativa e construtiva, interagindo, corrigindo, orientando e propondo exercícios, além de ter acesso aos materiais de apoio, que incluem vídeos, midis, parti-turas e gravações dos exercícios de cada aula.

Temos outro exemplo com o gaitista carioca Jefferson Gonçalves, que, por meio do seu site <www.jeffersongoncalves.com/#!aulas-de-gaita/cenu>, divulga suas aulas via Skype®, bas-tando o interessado entrar em contato com ele via e-mail, por meio da ferramenta “Fale conosco”.

Outros exemplos interessantes dizem respeito ao curitiba-no Bene Chiréia, os paulistas Marcelo Naves Blues e Little Will, que, por meio de suas páginas no Facebook®, divulgam seus tra-balhos como professores a distância via Skype®. No entanto, para que a realização dessas aulas práticas seja possível via Skype®, é importante que o aluno disponha de alguns recursos tecnológicos, como: um notebook ou desktop com um processador de 1,50 Hz, 4 GB de memória, sistema operacional de 64 bits, Windows 7 e uma câmera de vídeo embutida ou anexa, além de ter instalado o pro-grama do Skype®, que é baixado facilmente pelo site dele; além de

5 Tipo de comunicação que não ocorre ao mesmo tempo. Oposto de síncrona, que seria a comunicação que ocorre em tempo real.

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microfone de boa qualidade. Uma internet fixa entre 15 e 30 MB é de suma importância para a realização desse trabalho.

Facilidades e vantagens – Dificuldades e desvantagens

Por a harmônica ser um instrumento muito perceptivo, ou seja, pelo fato do aluno não ter uma visibilidade ideal do que está sendo executando no instrumento – aliás, uma questão presente mesmo em aulas presenciais –, há a necessidade de enquadramento superior da câmera para ver o aluno.

Outro fator importante é a praticidade de aprender em sua própria casa ou em qualquer outro lugar, diminuindo a mobilidade e a perda de tempo do aluno ou do professor em trânsitos muitas vezes complicados das grandes cidades; outro ponto positivo é a vantagem de tirar as dúvidas em tempo real.

Também podemos destacar a possibilidade de se alcançar um número de alunos que não moram no mesmo bairro, ou na mesma cidade do professor e até em outros países.

Uma das desvantagens que circundam uma aula on-line de gaita é de não poder tocar ou falar simultaneamente com o aluno, bem como de um contato mais próximo, essenciais no ensino de instrumento, para mostrar exemplos escritos ou corrigir erros de execução ou de técnica como mais clareza. Outra dificuldade que muitas vezes pode comprometer a aula on-line diz respeito aos pro-blemas de qualidade de conexão, tanto por parte da linha do aluno como por parte da linha do professor, ocasionando a impossibilida-de de realização da aula ou de sua realização com uma qualidade ruim do vídeo.

Situado nesse contexto de aprendizagem, é importante destacar que a autonomia, a disciplina e a organização do aluno são fundamentais para o seu desenvolvimento; cabe ao aluno compreender que ele próprio é o sujeito ativo e responsável pelo seu aprendizado, conforme salienta Westermann (2010), entendendo que o professor é o seu parceiro na construção do conhecimento.

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Citando Freire, Westermann (2010) destaca que autonomia é a capacidade que o aluno tem de decidir, escolher objetivos, formas de estudo e as relações que faz daquilo que sabe com o que está aprendendo, desenvolvendo sua potencialidade autônoma e críti-ca frente ao seu processo formativo e humano. Westermann, ainda afirma que, para Otto Peters, o conceito de autonomia está ligado ao de estudo autodirigido, compreendendo que o aluno tem de as-sumir um espaço que antes era do professor. Assim sendo, para que o ensino de gaita a distância seja significativo e postule resultados, é preciso que o aprendiz de músico perceba que não basta ter o professor dando exercícios e dicas no dia da aula. Esse tipo de en-sino imprescinde, além dos recursos tecnológicos que mediarão as atividades, de exercícios diários, disciplina e organização para que os resultados se concretizem.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre os pontos destacados neste artigo, podemos afirmar que o aspecto mais importante do ensino a distância diz respeito ao funcionamento de um trabalho dessa natureza. Por muitos anos questionou-se a qualidade do ensino a distância e, atualmente, po-demos verificar a amplitude que as práticas de ensino a distância vem conquistando, mesmo quando o assunto é a formação superior.

Assim sendo, podemos concluir que o ensino de gaita via Skype® pode ser considerado uma alternativa legítima tanto para os professores como também para os alunos, favorecendo o encon-tro daqueles que residem em lugares distantes dos grandes centros de ensino, onde não é possível encontrar profissionais qualificados para o ensino do instrumento.

Conforme verificamos nas leituras de Gohn (2009), Souza (2006), Salvatori (2014) e Westermann (2010), as tecnologias atu-ais estão cada vez mais fazendo parte do ensino a distância de ins-trumentos musicais. A área da educação não pode negligenciar essa prática educativa. Assim também, é imprescindível ao professor de música compreender a natureza do ensino a distância. Afinal, trata-

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-se de um campo de trabalho fértil e promissor aos futuros docentes nessa empreitada do século XXI.

REFERÊNCIAS

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