As culturas indígenas americanas

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As culturas indígenas americanas Origens dos primeiros americanos Evolução do trecho de terra que ligava o nordeste asiático às Américas , a teoria mais aceita para a origem dos ancestrais dos povos ameríndios, é a de que eles seriam caçadores-coletores que atravessaram a pé este trecho que ligava o continente asiático à América e uma vez na América, foram migrando em direção ao sul. Uma das etnias ameríndias que tem mais parentesco com os povos do nordeste asiático são os esquimós Até recentemente, a interpretação mais largamente aceita baseada nos achados arqueológicos era de que os primeiros humanos nas Américas teriam vindo numa série de migrações da Sibéria para o Alasca através de uma língua de terra chamada Beríngia , que se formou com a queda do nível dos mares durante a última idade do gelo , entre 24 e 9 mil anos atrás. Na rota do Sul mudaram o pensamento dos arqueólogos. O fóssil de uma mulher com 11 mil anos foi encontrado pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire na década de 1970. O fóssil recebeu o nome de Luzia , apelido dado carinhosamente pelo biólogo Walter Alves Neves , do Instituto de Biociências da USP Ao estudar a morfologia craniana de Luzia, Neves na década de 1990, encontrou traços que lembram os atuais aborígenes da Austrália e os negros da África . Ao lado do seu colega argentino Héctor Pucciarelli , do Museo de Ciencias Naturales de la Universidad de La Plata , Neves formulou a teoria de que o povoamento das Américas teria sido feito por duas correntes migratórias de caçadores e coletores, ambas vindas da Ásia , provavelmente pelo estreito de Bering , mas cada uma delas composta por grupos biológicos distintos. A primeira teria ocorrido 14 mil anos atrás e seus membros teriam aparência semelhante à de Luzia. O segundo grupo teria sido o dos povos mongolóides. A chegada dos mongolóides na América é estimada em

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As culturas indígenas americanas

Origens dos primeiros americanos

Evolução do trecho de terra que ligava o nordeste asiático às Américas, a teoria mais aceita para a origem dos ancestrais dos povos ameríndios, é a de que eles seriam caçadores-coletores que atravessaram a pé este trecho que ligava o continente asiático à América e uma vez na América, foram migrando em direção ao sul. Uma das etnias ameríndias que tem mais parentesco com os povos do nordeste asiático são os esquimós

Até recentemente, a interpretação mais largamente aceita baseada nos achados arqueológicos era de que os primeiros humanos nas Américas teriam vindo numa série de migrações da Sibéria para o Alasca através de uma língua de terra chamada Beríngia, que se formou com a queda do nível dos mares durante a última idade do gelo , entre 24 e 9 mil anos atrás.

Na rota do Sul mudaram o pensamento dos arqueólogos. O fóssil de uma mulher com 11 mil anos foi encontrado pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire na década de 1970. O fóssil recebeu o nome de Luzia, apelido dado carinhosamente pelo biólogo Walter Alves Neves, do Instituto de Biociências da USP

Ao estudar a morfologia craniana de Luzia, Neves na década de 1990, encontrou traços que lembram os atuais aborígenes da Austrália e os negros da África. Ao lado do seu colega argentino Héctor Pucciarelli, do Museo de Ciencias Naturales de la Universidad de La Plata, Neves formulou a teoria de que o povoamento das Américas teria sido feito por duas correntes migratórias de caçadores e coletores, ambas vindas da Ásia, provavelmente pelo estreito de Bering , mas cada uma delas composta por grupos biológicos distintos. A primeira teria ocorrido 14 mil anos atrás e seus membros teriam aparência semelhante à de Luzia. O segundo grupo teria sido o dos povos mongolóides. A chegada dos mongolóides na América é estimada em 11 mil anos, dos quais descendem atualmente todas as tribos indígenas das Américas.

Existem outras teorias sobre a origem dos nativos americanos:

Vários antropólogos,historiadores e arqueólogos têm sugerido que os nativos americanos são descendentes, quer de europeus, quer africanos que atravessaram o Oceano Atlântico. Alguns apontam a semelhança física entre os Olmecas e os africanos. Thor Heyerdahl demonstrou que é possível navegar da África para a América numa réplica dum barco de papiro do antigo Egito.

A maioria das religiões dos nativos americanos ensinam que os humanos foram criados na América no princípio dos tempos e sempre ali viveram.

A doutrina Mórmon diz os ameríndios são descendentes de Lehi e dos nefitas, personagens do Livro de Mórmon que teriam sido Israelitas que chegaram à Américas cerca de 590 AC.

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No século XIX e princípios do século XX, houve proponentes da existência continentes perdidos, entre os quais Atlântida,e Lemúria, de onde poderiam ter vindo os primeiros habitantes humanos das Américas.

O mais provável, no entanto, é que as Américas tenham sido colonizadas por vagas de povos de diferentes origens, ao longo dos tempos, dando origem ao complexo mosaico de povos e línguas que hoje existem. E é possível, igualmente, que esses povos – tal como aconteceu em tempos históricos, bem documentados – tenham substituído ou tenham se juntado com populações originais que lá já existiam.

O desenvolvimento da agricultura das sociedades Pré-Colombianas pode se comparar ao europeu, pois esta era desenvolvida há mais de 7000 anos, baseada nas culturas de milho, abóbora e feijão, todos naturais da América, além da mandioca, que era plantada nas áreas de floresta tropical. O desenvolvimento de outras culturas além destas foi limitado, pois havia poucos animais domesticáveis, como a lhama e o porquinho - da - índia para puxar o arado. Isto fez com que o desenvolvimento de outras diversas culturas.

A África pré-colonial

A grande maioria das populações africanas empregadas como mão-de-obra escrava no empreendimento colonial americano foi trazida de regiões da África Subsaariana. Compreendendo uma extensão que vai do Senegal até a Angola, diversas populações subsaarianas, pertencentes ao tronco lingüístico banto, se fixaram ao longo das regiões de savana formando diferentes culturas. As aldeias ali formadas surgiam em terrenos onde a caça e a agricultura se mostravam mais viáveis.

Esse tempo em que as aldeias se formaram foi marcado por diferentes deslocamentos populacionais motivados por conflitos tribais, desastres naturais ou crescimento demográfico. Ao longo de sua história, diversas tribos passaram a entrar em contato e, posteriormente, formaram pequenos Estados. Essa primeira experiência política mais complexa possibilitou o desenvolvimento de um articulado comércio de gêneros agropecuários.

As condições hostis dessa região acabaram sendo propulsoras de uma série de práticas que marcaram os costumes destes povos africanos. As doenças e intempéries climáticas faziam com que a capacidade de manter uma prole extensa fosse extremamente valorizada. A virilidade sexual era compreendida como um dado que distinguia socialmente os indivíduos. A título de exemplo, observa-se a grande recorrência de esculturas representando a figura de mulheres grávidas.

De forma geral, a economia se organizava em torno da posse coletiva das terras. Um chefe tribal ordenava a distribuição de lotes de terra mediante o pagamento de uma determinada tributação. A divisão de tarefas no trabalho agrícola contava com a participação de homens e mulheres. As famílias agregavam uma ampla extensão de indivíduos que englobava filhos, esposas, parentes mais pobres, agregados e escravos. A prática da escravidão nessas culturas contava com uma complexa organização.

Os escravos mais prestigiados eram utilizados para os combates militares entre as tribos rivais. Outra parcela de escravos trabalhava junto aos camponeses e acabavam sendo incorporados ao ambiente familiar. Alguns escravos chegavam a desfrutar de alguns privilégios e poderiam até mesmo ter algum tipo de posse. A inserção social de escravo só

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não acontecia na livre escolha de uma esposa ou na participação das questões políticas.

As práticas religiosas destas tribos africanas contavam com uma grande variabilidade de crenças. Um exemplo dessa questão pode ser claramente observado nas concepções que regiam a relação dos indivíduos com a natureza. Em algumas culturas, as manifestações naturais eram temidas e vistas como uma conseqüência direta do comportamento dos deuses. Dessa forma, diversos rituais eram desenvolvidos com o propósito de apascentar tais forças. Em outras culturas, animais eram compreendidos como representantes de determinadas virtudes e características.

A partir do processo de expansão marítima empreendido pelas nações européias e o desenvolvimento do tráfico negreiro, diversas dessas culturas foram profundamente transformadas. No ambiente colonial, várias das tradições foram reinterpretadas à luz das demais culturas que conviviam no continente americano. Contudo, as poucas características aqui levantadas sobre as culturas africanas, demonstram a existência de todo um modo de vida rico e diverso, estabelecido antes do contato com o “europeu civilizado”.

A colonização da America espanhola

Os espanhóis, logo após empreenderem um sangrento processo de dominação das populações indígenas da América, efetivaram o seu projeto colonial nas terras a oeste do Tratado de Tordesilhas. Para isso montaram um complexo sistema administrativo responsável por gerir os interesses da Coroa espanhola em terras americanas. Todo esse esforço deu-se em um curto período de tempo. Isso porque a ganância pelos metais preciosos motivava os espanhóis.

As regiões exploradas foram divididas em quatro grandes vice-reinados: Rio da Prata, Peru, Nova Granada e Nova Espanha. Além dessas grandes regiões, havia outras quatro capitanias: Chile, Cuba, Guatemala e Venezuela. Dentro de cada uma delas, havia um corpo administrativo comandado por um vice-rei e um capitão-geral designados pela Coroa. No topo da administração colonial havia um órgão dedicado somente às questões coloniais: o Conselho Real e Supremo das Índias.

Todos os colonos que transitavam entre a colônia e a metrópole deviam prestar contas à Casa de Contratação, que recolhia os impostos sob toda riqueza produzida. Além disso, o sistema de porto único também garantia maior controle sobre as embarcações que saiam e chegavam à Espanha e nas Américas. Os únicos portos comerciais encontravam-se em Vera cruz (México), Porto Belo (Panamá) e Cartagena (Colômbia). Todas as embarcações que saíam dessas regiões colônias só podiam desembarcar no porto de Cádiz, na região da Andaluzia.

Responsáveis pelo cumprimento dos interesses da Espanha no ambiente colonial, os chapetones eram todos os espanhóis que compunham a elite colonial. Logo em seguida, estavam os criollos. Eles eram os filhos de espanhóis nascidos na América e dedicavam-se a grande agricultura e o comércio colonial. Sua esfera de poder político era limitada à atuação junto às câmaras municipais, mais conhecidas como cabildos.

Na base da sociedade colonial espanhola, estavam os mestiços, índios e escravos. Os primeiros realizavam atividades auxiliares na exploração colonial e, dependendo de sua condição social, exerciam as mesmas tarefas que índios e escravos. Os escravos africanos eram minoria, concentrando-se nas regiões centro-americanas. A população indígena foi responsável por grande parte da mão de obra empregada nas colônias espanholas. Muito se diverge sobre a relação de trabalho estabelecida entre os colonizadores e os índios.

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Alguns pesquisadores apontam que a relação de trabalho na América Espanhola era escravista. Para burlar a proibição eclesiástica a respeito da escravização do índio, os espanhóis adotavam a mita e a encomienda. A mita consistia em um trabalho compulsório onde parcelas das populações indígenas eram utilizadas para uma temporada de serviços prestados. Já a encomienda funcionava como uma “troca” onde os índios recebiam em catequese e alimentos por sua mão-de-obra.

No final do século XVIII, com a disseminação do ideário iluminista e a crise da Coroa Espanhola (devido às invasões napoleônicas) houve o processo de independência que daria fim ao pacto colonial, mas não resolveria o problema das populações economicamente subordinadas do continente americano.

A colonização da America inglesa e francesa

Colonização inglesa

A incursão dos ingleses no processo de colonização do continente americano conta com determinadas particularidades que o difere sensivelmente da experiência colonial promovida por portugueses e espanhóis. Entre outras razões, podemos apontar o processo tardio de colonização, a natureza espontânea da ocupação dos territórios e as características do litoral norte-americano como pontos fundamentais na compreensão da colonização inglesa.

No governo da rainha Elizabeth I (1558 – 1603), a Inglaterra ingressou na economia mercantilista ao investir na construção de novas embarcações e no comércio marítimo. Nesse contexto, a pirataria se tornou uma importante fonte de lucros sustentada no assalto de navios espanhóis que saíam do Caribe com destino à Europa. Nesse mesmo período tentaram empreender a colonização de região norte-americana com a organização de três expedições comandadas por Walter Raleigh.

O insucesso dessas primeiras expedições só foi revertido com a criação da colônia de Virgínia, em 1607. Depois disso, o processo de colonização britânico ganhou força com a política de cerceamentos, que expulsou os pequenos agricultores de suas propriedades, forçando-os a buscar outras possibilidades no Novo Mundo. Concomitantemente, os conflitos religiosos que tomaram conta da Inglaterra após a reforma anglicana também motivaram a imigração dos puritanos ingleses para a América.

No ano de 1620, o navio Mayflower saiu da Inglaterra com um grupo de artesãos, pequenos burgueses, comerciantes, camponeses e pequenos proprietários interessados em habitar uma terra onde poderiam prosperar e praticar o protestantismo livremente. Chegando à América do Norte naquele mesmo ano, os colonos fundaram a colônia de Plymouth – atual estado de Massachusetts – que logo se transformou em ponto original da chamada Nova Inglaterra.

Com o passar do tempo, esse processo de colonização estabelecida por meio da ação autônoma de determinados indivíduos passou a ganhar características mais diversas. Na região norte, a colonização de povoamento teve que suplantar grandes dificuldades que com a posterior consolidação de pequenas propriedades e o uso de mão-de-obra livre permitiram a formação de um comércio diversificado sustentado pela introdução da manufatura e o surgimento de um mercado consumidor.

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Na região sul, as especificidades geográficas e climáticas propiciaram um modelo de colonização distinto. O clima subtropical, o solo fértil e as planícies cortadas por rios navegáveis consolidaram um modelo de colonização semelhante aos padrões ibéricos. Dessa forma, o sistema de plantations estabeleceu o surgimento de grandes fazendas monocultoras produtoras de tabaco, arroz, índigo e algodão. Com isso, a grande demanda por força de trabalho favoreceu a adoção da mão-de-obra escrava vinda da África.

Compondo um processo de ocupação tardio, a região central ficou marcada por uma economia que mesclava a produção agropecuarista com o desenvolvimento de centros comerciais manufatureiros. As primeiras colônias centrais apareceram por volta de 1681, com a fundação das colônias do Delaware e da Pensilvânia. Durante a independência das colônias, esta região teve grande importância na organização das ações que deram fim à dominação britânica.

Colonização francesa

A participação da França no processo de colonização do continente americano aconteceu tardiamente em relação às nações ibéricas. Esse atraso é usualmente vinculado à falta de interesse do próprio Estado em empreender um programa de expansão marítima e os constantes desentendimentos entre a Coroa e a classe burguesa. Entre os séculos XVI e XVII, as tentativas de ocupação de áreas de colonização ibérica foram severamente repreendidas.

Uma das primeiras expedições aconteceu durante o reinado de Francisco I, quando tentaram ocupar partes do Canadá e da Flórida. Foi somente nas terras canadenses que foi possível fixar algumas poucas colônias que sofriam com as dificuldades naturais da região e a falta de patrocínio do Estado. Paralelamente, desde os primeiros anos da colonização portuguesa, os franceses também chegaram ao litoral brasileiro com o intuito de contrabandear madeiras, plantas e animais.

Em 1555, a primeira tentativa de ocupação colonial francesa atingiu uma pequena parcela do litoral fluminense. Nessa região criaram a chamada França Antártica, onde vários calvinistas franceses estabeleceram relações amistosas com a população nativa e empreendera atividades de extração madeireira. Ao mesmo tempo, tinham interesse em fundar uma base naval fortemente armada que garantiria a dominação francesa na região e atacaria as preciosas embarcações mercantis lusitanas.

No entanto, a superioridade das esquadras de Portugal, lideradas por Mem de Sá, conseguiu forçar a expulsão dos franceses daquela região. No século seguinte, os franceses ainda tentaram fundar uma nova colônia em terras brasileiras ocupando terras na região do Maranhão. Mais uma vez, a represália dos portugueses obrigou os franceses a abandonar os territórios pretendidos. Ainda no século XVII, os franceses conseguiram firmar suas primeiras colônias no continente americano.

Na América Latina, os franceses ocuparam regiões das Antilhas e das Guianas empreendendo um tipo de exploração voltado à produção açucareira e a utilização de mão-de-obra escrava. Na região norte, os franceses se fixaram na região do Quebec, Louisiana, Golfo do México e Mississipi. Nessas regiões, diversos colonizadores franceses viviam da comercialização de caças, peles de animais, pesca e outras atividades menores.

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Com a deflagração da Guerra dos Sete Anos (1756 - 1763) o projeto colonial francês sofreu um duro golpe ao ter que ceder parte de seus domínios para a Inglaterra. Com o fim do conflito, estabelecido com a assinatura do Tratado de Paris (1763), a França reconheceu sua derrota entregando uma parte das Antilhas Francesas, a região leste do Rio Mississipi, à colônia de Quebec e a região da Louisiana, entregue a um breve domínio dos espanhóis.

Atividades econômicas na

América portuguesa

No período pré-colonial, as costas brasileiras passaram a ser exploradas apenas a partir

dos anos de 1501 e 1502. Ainda havia descaso de Portugal com relação à nova terra: o

comércio com as Índias era mais vantajoso e menos dispendioso. Enquanto o povo das

Índias já possuía uma tradição comercial, baseada em especiarias já acabadas enquanto

produtos, o índio no Brasil realizava suas atividades econômicas apenas para sua

subsistência. Portanto, toda a mercadoria no Brasil exigia trabalho do português em sua

extração.

O pau-brasil era o objeto de atividade de extração para fins comerciais: pouco foi

aproveitado dos demais recursos em estado natural neste primeiro período. A exploração

imediata do pau-brasil caracterizou-se pela extração predatória, pois o único trabalho ao

qual o português se entregava nesta atividade era o corte e o transporte das árvores. Mais

tarde, nos anos de 1515 e 1516, as expedições à Terra de Santa Cruz tornaram mais

freqüentes e de maior importância. A fase anterior tratou-se de expedições também

destinadas à pesquisa geográfica, ao passo que estas novas expedições já

caracterizavam-se pelo interesse comercial e também pelo intuito de asseguramento do

domínio colonial contra os corsários. Desta forma, pouco a pouco foi propiciado o melhor

conhecimento da costa brasileira.

Foi mínima a ocupação portuguesa nos primeiros anos após a descoberta da nova terra

por Portugal. O perfil dos primeiros habitantes portugueses em solo brasileiro é referente

aos chamados degredados: o severo conjunto de leis manuelinas foi responsável pela

condenação, por vezes injusta, de muitos portugueses ao degredo (banimento). De

qualquer forma, o número de habitantes portugueses em território brasileiro era mínimo em

relação aos quase 2 milhões de índios aborígines (número estatístico aproximado, pois na

verdade é praticamente impossível determinar o número exato de habitantes aborígines).

Foi no ano de 1531, com Portugal sob o reinado de D. João III, que a política colonialista

portuguesa em relação ao Brasil passou a tomar novos rumos: a expedição de Martim

Afonso de Sousa ao Brasil manteve os objetivos das expedições anteriores, porém

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acrescentando-se a tais objetivos a efetivação da ocupação portuguesa em solo brasileiro.

Portanto, a expedição de Martim Afonso de Sousa é tomada como o marco do início do

processo de colonização portuguesa no Brasil. Uma nova mentalidade econômica que se

afirmara a partir do século XV a antiga ordem feudal fora substituída pelos territórios das

nações européias unificados por um poder centralizante. À orientação econômica geral

que estas nações passaram a seguir em sua busca por terras que oferecessem vantagens

comerciais é resumida no conceito de mercantilismo. Essa orientação que na verdade

nunca obtivera como origem uma formulação científica baseava-se em preceitos como: o

acúmulo de riquezas através da detenção de metais preciosos, o que garantiria o poder

econômico do Estado; o desenvolvimento manufatureiro como exclusividade da metrópole;

a garantia dos domínios comerciais no exterior; o superávit da balança comercial, que

originou políticas protecionistas e intervencionistas por parte dos estados. O conceito

mercantilista teve projeção no processo de colonização da América paralela e

contraditoriamente à projeção de certas características do mundo feudal em extinção,

como pode ser observado na futura organização da colônia em capitanias.

O Brasil holandes

Os holandeses perceberam a vulnerabilidade que as colônias portuguesas instaladas no Brasil apresentavam e decidiram colocar parte de seus planos em prática invadindo a região Nordeste do Brasil nas primeiras décadas do século XVII. A Holanda, nesta época, contava com uma poderosa tecnologia naval, fruto de investimentos advindos do "acolhimento", da parte dos holandeses, com relação aos cristãos -- novos, foragidos de outras regiões.

Para entendermos as intenções holandesas

1536 -- 1821 período em que o Santo Ofício já atuava na Espanha e também iniciou, em 1536, suas atividades em Lisboa.

A distinção entre cristãos -- velhos e cristãos -- novos percorreu desde o início desta instituição até 1775. Em Lisboa os judeus foram convertidos à força pela então realeza portuguesa. Entretanto, o que pretendemos a respeito da Inquisição é com relação ao seu alvo de atuação, ou fundo de argumentação, melhor dizendo, para o desenvolvimento das perseguições.

Grande parte dos livros de história relatam a questão religiosa referente a "necessidade" de tal perseguição. No entanto, é importante sabermos que além da dimensão religiosa (escândalos sexuais, heresia, questionamentos feitos a santos católicos, etc), há também a questão econômica.

A grande maioria dos descendentes de judeus, convertidos sob o reinado manoelita eram portadores de significativas fortunas, eram comerciantes de importante potencial, tais fortunas eram também representadas pelos bens materiais dos judeus.

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O Santo Ofício, quando capturava um "herege" executava um procedimento. Este procedimento consistia no confisco de todos os bens do acusado, uma atitude que prevalecia até o julgamento final, seja ele condenatório ou não. Os bens do prisioneiro "teoricamente" eram devolvidos em casos raríssimos de absolvição do julgado.

Além disto, durante todo período de trâmite do processo inquisitorial, todas as despesas com o próprio acusado, como também a dos funcionários do Santo Ofício eram pagas pela família da própria "vítima".

"O confisco de seus bens significava a transferência de enormes somas para Inquisição e para Coroa. Tratava-se de uma forma de apropriar-se de lucros de comerciantes bem -- sucedidos. Por esta razão, o impacto das perseguições inquisitoriais sobre a economia foi bastante negativa." Pg. 47

Era desta forma que agia o tribunal do Santo Ofício. No Brasil não fora diferente, as visitas inquisitoriais ocorreram em localidades de maior riqueza e de maior população. No século XVII o Nordeste brasileiro foi alvo dos tribunais, já no século XVIII foi a vez de Minas Gerais e depois Rio de Janeiro.

Estas atuações do Santo Ofício acabou desenvolvendo dificuldades para Coroa portuguesa, este remanejamento de grandes fatias econômicas de certa forma, desestabilizou os investimentos na tecnologia naval, os cristãos -- novos foram perseguidos e com eles suas fortunas que mantinham a armada lusitana. Portugal que mantivera grande estabilidade econômica lucrativa nos séculos XV e XVI, ao final deste último, passou a conhecer as dificuldades e sua decadência. Portugal, agora era exclusivista, sujeitando-se a disposição da Coroa espanhola, o que acarretou no aparecimento dum poderoso inimigo, a Holanda, até então grande distribuidora de seus produtos. Todo este ambiente é importante e, sobretudo, necessário para que possamos entender um pouco melhor sobre as invasões holandesas no Nordeste do Brasil. Evidente que o fato desta manutenção da economia influenciada pelo Santo Ofício, na transferência de importantes valores e com o abrigo dado pela Holanda aos cristãos -- novos não satisfaz totalmente nossa pesquisa, mas demonstra uma importante contribuição.

Evaldo Cabral de Mello, o mais capacitado dentre os historiadores para relatar de forma brilhante este período da açucarocracia brasileira, termo por ele mesmo definido, afirma que as colônias portuguesas, desde sua formação, sempre ofereceram maior fragilidade com relação a um possível ataque do inimigo. Diferentemente da Espanha, o litoral brasileiro não dispunha de nenhum tipo de segurança, um ataque inimigo provavelmente seria bem sucedido, pois a concentração da produção de açúcar não ficava muito distante da região litorânea. Talvez este tenha sido outro atrativo para Holanda resolver atacar primariamente as colônias portuguesas no Brasil. Mas além desta fragilidade de localidade, a Holanda também pode contar com extremo avanço em sua tecnologia naval, tomando o primeiro lugar de Portugal e Espanha.

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Este humilde artigo tentará tratar destes assuntos, respondendo perguntas como: Como foi se formando, ao longo do tempo, esta decisão da Holanda em invadir o litoral do Nordeste brasileiro? Qual o papel de João Maurício de Nassau quando da sua chegada no Brasil em 1637? Não trataremos, pelo menos neste artigo, das grandes guerras havidas entre 1630 a 1654. Pretendemos fazer, em breve, um outro artigo como se fosse uma segunda parte deste, uma continuação.

A ascensão holandesa

Enquanto Portugal observava seu próprio fracasso, a Holanda crescia em seu importante comércio de tecidos, com significativa ajuda dos cristãos -- novos, acolhidos pelo país. A Holanda desenvolveu um tipo de navio destinado especificamente para guerras, era a fragata. Com isto, o domínio marítimo até então atribuído a Espanha e Portugal, passara a Holanda. Ao final do século XVII a Holanda consegue sua dependência, após guerrear contra Espanha. Os holandeses, apercebidos dos bons resultados obtidos, tanto em estratégias com sua independência com também em seu poderio comercial, decide elaborar um plano para atacar as colônias portuguesas, por meio de um modelo já conhecido: a Companhia da Índias Orientais. Então, em 1620 é fundada, pelos holandeses, a Companhia das Índias Ocidentais, a exemplo da primeira, representando uma fusão entre comércio e guerra.

O primeiro ataque ao Brasil

O Brasil foi o primeiro alvo a ser atacado pelos holandeses. O primeiro ataque ocorreu na Segunda década do século XVII, com 1700 homens os holandeses invadiram a Bahia iniciando o conflito na região urbana, depois foram atraídos para regiões distantes, onde ficavam as instalações dos engenhos de cana -- de -- açúcar que funcionavam com a mão -- de -- obra escravista. Estes modelo de produção até então exclusivo dos portugueses despertou grande interesse aos holandeses.

Em maio de 1625 uma frota portuguesa consegue expulsar os holandeses, mas, durante o tempo em que os invasores estiveram ali, foi o suficiente para aprenderem o até então modelo exclusivo de produção escravista dos portugueses no trabalho com engenhos. Com isto o monopólio açucareiro da colônia portuguesa termina, tendo agora de competir sua produção com ingleses, franceses, holandeses e espanhóis.

O modelo escravista, a grosso modo representado pelos senhores de engenho e escravos conquistou a Europa daquele século. As Antilhas foi cede de engenhos franceses, ingleses, holandeses, etc. mesmo com toda concorrência, o Brasil ainda ocupava o primeiro lugar em lucratividade na produção do açúcar.

Sua localização privilegiada contribuía para isto, pois ficava próximo da África (facilitando o

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abastecimento de escravos), contava ainda com o fornecimento de alimentos advindos dos índios, fator que barateava a empresa.

Os holandeses, após serem derrotados no Brasil em 1625, decidem-se em 1630 realizar um novo ataque, agora em Pernambuco, região extremamente desenvolvida na produção açucareira do Nordeste brasileiro.Desta vez com 3800 homens atracaram em Pernambuco, depois os holandeses contaram com reforço de mais aproximadamente 6000 homens, o domínio por parte dos holandeses foi incontestável, atingindo todo litoral nordestino até o Maranhão.

Jacobi Rabi

Estes personagem de origem alemã, chegou ao Brasil em 1637, logo se envolveu com os indígenas e fez uma verdadeira revolução com os nativos, ensinando-lhes táticas de guerra da europa, uma fusão da crueldade nativa com européia. Os índios ficaram fortes aliados de Jacobi. Portugueses, judeus, protestantes, todos detinham grande ódio deste estrangeiro que não excitava em criar grandes problemas com quem resistia a seus interesses. Sua atuação durou até 1645, quando os próprios holandeses, temendo perder o controle sobre ele, decidiram executá-lo. Esta atitude dos holandeses foi um verdadeiro desastre contra eles próprios, pois todos os nativos que o apoiavam Jacobi passaram a apoiar os portugueses, com esta ajuda, o território seria novamente luso.

Porém, 1637 foi o ano em que ocorrera o fato mais ousado dos holandeses, agora com pleno domínio dos engenhos açucareiros, trouxeram para o Recife o conde Maurício de Nassau, que desembarcou no Brasil em janeiro de 1637, trazendo condigo uma equipe composta por pintores, escritores, arquitetos, etc. Nassau com isto, pretendia restaurar o Recife.

Pela primeira vez, uma colônia da América seria governada à européia. Com supremacia militar e prevendo excelentes perspectivas econômicas, Nassau usou dinheiro e escravos da Companhia para atrair os donos de engenho para órbita holandesa. Com sinal de sua grandeza começou a reformar Recife, a primeira cidade planejada para ser capital do Brasil.

João Maurício de Nassau

Sem dúvida um personagem de muito destaque durante o período da presença holandesa no Brasil. O Conde Maurício de Nassau chegou no Brasil, mais precisamente em Recife, região Nordeste do país, em 1637 -- quando a situação e ocupação militar já estava praticamente estabilizada, no que diz respeito ao domínio holandês frente as colônias portuguesas.

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No entanto, Nassau não chegara só no território brasileiro, trouxe consigo uma equipe cultural, sim, composta, como já dissemos, por pintores, arquitetos, escritores, naturistas, médicos, astrólogos, etc. Suas intenções uniam conforto para sua estadia no país e também domínio da produção açucareira. Com a presença de Maurício, Recife sofreu uma verdadeira reformulação urbana, ele mandou construir jardins, lagos e um palácio para sua acomodação, localizado na ilha de Antônio Vaz. Em 1639 Nassau foi mais longe, acompanhou a construção de uma cidade inteira a seu gosto, denominada Cidade Maurícia, esta cidade ficava localizada ao lado de Recife, entre a foz do Capiberibe e Beberibe.

Artistas Registram As Riquezas Do Brasil Holandês

Os artistas que acompanharam Nassau retratavam a América naturalista, preocupavam-se em registrar a natureza destacando os animais e as paisagens vegetais, demonstrando assim, toda opulência do Brasil holandês, estes registros tinham o caráter científico, pois estas ilustrações ficaram conhecidas em toda Europa. Frans Post e Albert Eckhout foram os principais pintores trazidos por Maurício ao Brasil, registraram o Nordeste brasileiro, revelando as riquezas dos trópicos, a produção do açúcar, a cidade Maurícia, todos os feitos de Nassau foram devidamente registrados por estes dominadores de imagens.

Reação de Portugal

Diferentemente da dimensão holandesa, o Brasil português mostrava-se de mau a pior. A grande alternativa de Portugal foi buscar sua independência em 1640 ao nomear o duque de Bragança como D. João IV. Portugal dependia totalmente dos recursos advindos do açúcar brasileiro, distribuído pelos holandeses, para financiar seu conflito com a Espanha.

Holandeses próximos de deixar o Brasil

D. João IV conseguiu assegurar a independência de Portugal, sua busca agora referia-se a retomada das colônias apoderadas pela Holanda. Tarefa difícil, pois Nassau, por meio da Companhia das Índias, concedia créditos e escravos à vontade para os senhores de engenho do Brasil, a produção aumentava a cada período, entretanto, os próprios cofres na Holanda verificaram a falta de dinheiro em espécie, tudo o que tinham eram títulos de dívidas e empréstimos destes senhores de engenho. Começa então um questionamento quanto as atitudes de Maurício de Nassau. Em maio de 1644 a Holanda convoca a volta de Maurício de Nassau para estabelecer alguma manobra para reverter esta situação, então redigiram acordos, ou melhor, contratos onde ficou estabelecido que os senhores de engenho só teriam

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acesso a novos empréstimos após pagamento total das dívidas pendentes.

Em 1645, após tomarem conhecimento de que teriam de mexer em seus próprios bolsos, os colonos revoltaram-se contra tal atitude dos holandeses, a rebelião estava formada. Em pouco tempo, a Holanda perdera tudo o que havia conquistado até então, pondo fim ao grande sonho de conquista da América proferido pelos holandeses.

Somente em 1654 os holandeses deixaram definitivamente o território brasileiro, mas como dissemos, não entraremos nos detalhes das batalhas havidas, pelo menos neste expediente.

As terras brasílicas já conviveram com batalhas francesas, holandesas, enfim, com todos que aproveitavam-se de maneira ilegal das terras dos portugueses, que queriam manter o processo de colonização em desenvolvimento. Afinal, esta era uma alternativa que a Coroa portuguesa apostou com todas as suas forças para manter-se no cenário como nação a partir do século XVI.

A verdade é que os holandeses também desfrutaram um pouco das riquezas presentes nesta imensidão de terras produtivas, similarmente aos franceses que traficaram, em enorme quantidade, o pau -- brasil, por toda região litorânea. Fato que despertou os olhares de Portugal, no sentido da proteção e da necessidade de ocupação das terras recém "descobertas" por Cabral.

Com isso, a História do Brasil, tão rica, extensa e maravilhosa, nos comprova, ao longo dos séculos, a cobiça e a ambição dos estrangeiros pela exploração da imensa variedade de riquezas existentes na região conquistada pelos lusos em 1500.

A mineração no Brasil colonial

A época da mineração no período colonial abrangeu basicamente o século XVIII, com o seu apogeu entre 1750 e 1770. Nessa fase da vida econômica da colônia que se voltou quase que exclusivamente para o extrativismo mineral, as principais regiões auríferas foram Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Anteriormente, já haviam ocorrido as explorações do ouro de lavagem, em São Paulo, Paraná e Bahia, mas, com resultados inexpressivos.

Após sua extração, o ouro era levado para as Casas de Fundição. Ali, era quintado, fundido e transformado em barras, assegurando o controle dos lucros da exploração aurífera pela coroa portuguesa.

A mineração dos anos setecentos foi desenvolvida a partir do ouro de aluvião, tendo como características o baixo nível técnico e o rápido esgotamento das jazidas. No extrativismo aurífero, as formas de exploração mais comuns encontradas eram as lavras e a faiscação. A

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primeira representaria uma empresa em que era utilizada a mão-de-obra escrava e se aplicava uma técnica mais apurada. Já a faiscação era a extração individual, realizada principalmente por homens livres.

Legislação, órgãos e tributos da mineração

A organização da exploração aurífera começou em 1702, quando o Estado português editou o Regimento das Terras Minerais, disciplinando a exploração aurífera estabelecida pela Carta Régia de 1602, que declarava a livre exploração, mediante o pagamento do quinto; em outras palavras, a quinta parte do que se extraía (20%) era o imposto devido à metrópole. Por esse regimento, organizava-se a distribuição das jazidas que eram divididas em datas - porções das jazidas que representavam a unidade de produção - e passadas para os exploradores mediante o sistema de sorteio, promovido pela Intendência das Minas, principal órgão de controle e de fiscalização da mineração do ouro.

No que refere a tributação, inicialmente existia o quinto, cuja cobrança era dificultada pela circulação do ouro em pó, que permitia a prática cotidiana do contrabando; como exemplo, o ouro era contrabandeado na carapinha dos escravos ou nos famosos santos de pau oco. Com o intuito de efetivar sua cobrança e evitar o contrabando, em 1720, foram criadas as Casas de Fundição - que só vieram a funcionar em 1725, em Vila Rica - com a finalidade de transformar o ouro em barras timbradas e quintadas. Em 1730, o quinto foi reduzido para 12% e, em 1735, foi criado um novo imposto, a capitação, onde se cobrava 17 gramas por escravo em atividade na mineração.

Em 1750, época do apogeu do ouro, foi instituído o quinto por estimativa, conhecido como finta, ou seja, a fixação de uma cota fixa de 100 arrobas que incidia sobre toda a região aurífera. A partir daí, já com o prenúncio da decadência da mineração, essa cota não era alcançada, gerando-se o déficit que se avolumava a cada ano. Com isso, em 1765, foi instituída a derrama, forma arbitrária de cobrança do quinto atrasado, que deveria ser pago por toda a população da região, inclusive com bens pessoais. E esse quadro, marcado pela extorsiva tributação, aumentou o descontentamento contra os abusos da metrópole.

A exploração dos diamantes

Por volta de 1729, Bernardo da Fonseca Lobo descobriu as primeiras jazidas diamantíferas no arraial do Tijuco ou Serro Frio, hoje Diamantina. Teve início, assim, a exploração dos diamantes, que, como a do ouro, também era considerada um monopólio régio.

Em 1733, foi criado o Distrito Diamantino, única área demarcada em que se podia explorar legalmente as jazidas. A exploração era livre, mediante o pagamento do quinto e da capitação sobre o trabalhador escravo. Em 1739, a livre extração cedeu lugar ao sistema de contrato, que deu origem aos ricos contratadores, como João Fernandes, estreitamente ligado à figura de Xica da Silva. Diante das irregularidades e do desvio dos impostos, além do alto valor que alcançavam as pedras na Europa, em 1771, foi decretada a régia extração, que contava com o trabalho de escravos alugados pela coroa. Posteriormente, com nova liberação da exploração, foi criado o Livro de Capa Verde, contendo o registro dos exploradores, e o Regimento dos Diamantes, procurando disciplinar a extração. Contudo, o monopólio estatal sobre os dia-

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mantes vigorou até 1832.

As conseqüências da mineração

A mineração foi responsável por importantes conseqüências que se refletiram sobre a vida econômica, social, política e administrativa da colônia. De saída, provocou uma grande migração portuguesa para a região das Gerais. Segundo alguns autores, no século XVIII, aproximadamente 800.000 portugueses transferiram-se para a colônia, o que corresponderia a 40% da população da metrópole.

No Brasil, paralelamente a isto, ocorreu um deslocamento do eixo econômico e demo gráfico do litoral para a região Centro-Leste, acompanhado da intensificação do tráfico negreiro e do remanejamento do contingente interno de escravos. Com isso, a colônia conheceu uma verdadeira explosão populacional, ultrapassando com folga a casa de um milhão de habitantes, no século XVIII.

O entorno da região mineradora, compreendendo o eixo Minas-Rio de Janeiro, passou a ser o novo centro de gravidade econômica, social e política da colônia; em 1763, um decreto do marquês de Pombal transferiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro.

Geradora de novas necessidades, a mineração condicionou um maior desenvolvimento do comércio, associado ao fenômeno da urbanização. Desenvolveu-se o mercado interno, possibilitando a dinamização de todos os quadrantes da colônia, que se organizaram para abastecer a região do ouro. A vida urbana e o próprio caráter da exploração aurífera geraram uma sociedade mais aberta e heterogênea, convivendo lado a lado o trabalho livre e o trabalho escravo, embora este fosse predominante. Como conseqüência, a concentração de renda foi menor, enriquecendo, principalmente, os setores ligados ao abastecimento.

Finalmente, a "corrida do ouro" promoveu a penetração e o povoamento do interior do Brasil, anulando em definitivo a velha demarcação de Tordesilhas.

Uma cultura mineira

Todo o conjunto de conseqüências, anteriormente citadas, refletiu-se na vida cultural e intelectual da mineração, marcada por um notável desenvolvimento artístico.

Na literatura, destacaram-se os poetas intimamente relacionados ao Arcadismo. Na arquitetura e na escultura, emergiram as figuras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e mestre Valentim, nomes importantes do barroco mineiro.

Na música, além da disseminação de uma música popular - modinhas e lundus - sobressaíram-se os grandes mestres da música sacra - barroca com as missas e réquiens de Joaquim Emérico Lobo de Mesquita e do padre José Maurício Nunes Garcia.

Nesse contexto, a influência européia, com os novos princípios liberais disseminados pela Enciclopédia, alimentaria o primeiro movimento de caráter emancipacionista: a Inconfidência Mineira

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Religião e sociedade na América portuguesa Os colonos portugueses deixaram sua terra natal, muitas vezes com a esperança do enriquecimento fácil. Desde os tempos das navegações lusas - a Coroa Portuguesa "pregava" aos seus corajosos marujos a garantia de uma recompensa descrita em muito ouro e prazeres que seriam encontrados quando da chegada ao Novo Mundo. Grande parte destes viajantes deixou famílias para traz em troca da esperança de colonizar a América portuguesa, modificando assim, as difíceis condições econômicas e de vida que os acompanhavam até então. O impacto sofrido por parte destes colonos foi muito grande. O que pretendemos demonstrar aqui, por meio deste humilde artigo, se refere a uma das dimensões deste impacto, uma dimensão que está além das condições econômicas. Trata-se da prática religiosa na América portuguesa, um aspecto que está muito distante de ter menor importância. Será que a estrutura cultural religiosa de Portugal seria "transferida" para os cristãos que aqui permaneceram? Qual foi a reação dos colonos, mediante a ausência dos líderes religiosos que praticamente desapareceram no período colonial? Pretendemos responder estas, dentre outras questões neste humilde, mas consciente trabalho.

A religiosidade sem dúvida, foi um fator de suma importância para o cotidiano dos colonos portugueses. Ao deixarem a Metrópole deixaram também de pertencer à estrutura cultural religiosa de Portugal - agora tendo de enfrentar um grande desafio na Terra de Santa Cruz. Muitos estavam cônscios de que jamais voltariam a Portugal, estavam acostumados com a convivência diária do divino. Sempre cumprindo com o que os líderes "passavam" em nome da "salvação", da obtenção do favor divino e também, para escapar das artimanhas do "Tentador". Interessante que a Coroa portuguesa se empenhou em converter o maior numero de "selvagens" encontrados no Novo Mundo que fosse possível, enviando os missionários jesuítas. O Padre Antonio Viera foi uma exerceu uma grande influência no período Barroco.

A Coroa Portuguesa precisava, e de forma rápida, desenvolver um mecanismo econômico de exploração capaz de sustentar as necessidades da metrópole - Portugal sempre esteve decidido em alcançar o supre-lucro por meio da colonização do "mundo" recém "descoberto". Diante deste cenário, podemos arriscar em dizer que o interesse primário da "máquina colonizadora" , como denominava Peter Burke, estava

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focado às atividades mercantis - sim, o foco econômico sustentado pela colonização estava centrado no enriquecimento em um curto período de tempo.

Frisar esta particularidade é importante, pois veremos adiante que a moralidade e religiosidade na América portuguesa praticamente ficaram num segundo plano para Coroa.

Exigências do Clero

O cotidiano religioso em Portugal oferecia a seus fiéis um vasto programa religioso "recheado" de atividades, muitas delas, de caráter obrigatório. Os líderes religiosos acompanhavam de perto o desenvolvimento das práticas realizadas em nome de Deus.

Dentre as atividades havia: * o "controle" da freqüência sobre as "ovelhas", desta forma, poderia manter a hierarquia do clero, visto que as remunerações dos "instrumentos" de Deus eram sustentadas por meio das contribuições dos próprios fiéis, como por exemplo, o dízimo. O dia - a - dia do cristão iniciava e terminava em meio à comunicação com o divino. Orações ao levantar, cantorias, missas, procissões, romarias, etc, preenchia quase todo o dia.

Contraste: Portugal E América Portuguesa "Adorando" A Deus

Participavam de cultos diários, um grande número de dias guardados em nome de Deus - os cristãos portugueses cumpriam assim, uma rigorosa rotina religiosa, como podemos apreciar no relato abaixo:

"Católico que honrasse o nome não se limitava a cumprir a obrigação pascal e os mandamentos da Santa Madre Igreja: convinha alimentar sua vida espiritual privada e comunitária - (qualquer alma que quiser seguir a vida do espírito, confesse-se e comungue pouco mais ou menos todos os oito dias e nos de especial festividade e indulgência), ensinava frei Francisco da Conceição, um dos teólogos franciscanos muito em voga no Brasil setecentista". Pag. 159/160

Por outro lado, no Brasil tais práticas ocorriam quando muito de forma precária. As condições de ambientais ofereciam nada além de dificuldades para realização dos exercícios religiosos. Ruas e praças públicas, em estações quentes ficavam tomadas por poeira, já em épocas de chuvas, por um verdadeiro lamaçal, sem contar ainda o real perigo de presenciar: animais selvagens, índios e negros ("revoltosos").

Dificuldades em Servir a Deus, suas Conseqüências

Mediante as barreiras em realizar práticas religiosas estabelecidas, por exemplo, aos colonos no Brasil, muitas foram às conseqüências desta carência de local adequado para se adorar a Deus. Podemos mencionar a própria atitude, por parte do cristão, em abandonar tais práticas

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religiosas costumeiramente realizadas em público, transferindo-as para templos, ou ainda, se limitando a celebrações domésticas.

Outro fator motivador de divergências em terras brasílicas foi à disparidade econômica dos fiéis. Em Portugal, as celebrações realizadas nos templos não apresentavam grandes diferenças sociais em meio aos fiéis religiosos. Situação diferente quando comparado com a América portuguesa, pois havia uma grande minoria da "elite branca". Elite que sempre procurou se "proteger" contra as diferenças em diversas formas tais como: isolando-se da visão de todos no interior dos templos. Também, os mais abastados chegavam a construir locais próprios de adoração - considerando capelas anexas ou fazendo parte de suas moradias.

Como podemos verificar, o acesso à prática religiosa foi muito dificultosa tanto para os de menores condições como também para a "elite", embora com motivos diferentes para esta última. Vejamos o relato abaixo:

" ... o colono, ao transferir-se da Metrópole para a América lusitana, perdia muito da regularidade e freqüência da tradicional vida religiosa comunitária: no Reino o número de templos, pastores e festividades sacras era muito maior do que na Colônia. Aqui, muitos e muitos dos moradores passavam anos sem vencer um sacerdote, sem participar de rituais nos templos ou freqüentar os sacramentos. Tal carência estrutural levou de um lado à maior indiferença de nossos antepassados ante as práticas religiosas comunitárias, do outro, ao incremento da vida religiosa privada, que, na falta do controle dos pároclos, abria maior espaço para desvios e heterodoxias." Pag. 163

As Igrejas Na América Portuguesa, Um Local Além Das Práticas Religiosas

De acordo com Ronaldo Vainfas, em sua obra "Trópico dos Pecados", as condições de moradia na América portuguesa eram muito precárias - mesmo os espaços circunvizinhos não oferecia o mínimo de conforto (mato, poeira, lama) à procura de realizações profanas resistindo as doutrinas da Santa Igreja Católica. Diferentemente destes locais, nas igrejas havia atrativos como certa medida de conforto e higiene para se efetuar atos profanos e imorais. Olhares e até mesmo, carícias em meio à santa de missa era comum nesta época. Portanto, diante deste cenário, não podemos estranhar que nas igrejas ocorriam atividades que estavam muito distante dos objetivos e "benefícios" oferecidos pelo cristianismo. Não é de se admirar que os pais da chamada "elite" resistiam em deixar suas filhas freqüentarem missas em tais igrejas. O mesmo ocorria nos poucos conventos existentes no período colonial.

O iluminismo No século XVIII, um grupo de pensadores começou a se mobilizar em torno da defesa de idéias que pautavam a renovação de práticas e instituições vigentes em toda Europa. Levantando questões filosóficas que pensavam a condição e a felicidade do homem, o movimento iluminista atacou sistematicamente tudo aquilo que fosse considerado contrário a

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busca da felicidade, da justiça e da igualdade.

Dessa maneira, os iluministas preocuparam-se em denunciar a injustiça, a dominação religiosa, o estado absolutista e os privilégios enquanto vícios de uma sociedade que, cada vez mais, afastava os homens do seu “direito natural” à felicidade. Segunda a visão desses pensadores, sociedades que não se organizam em torno da melhoria das condições de seus indivíduos concebem uma realidade incapaz de justificar, por argumentos lógicos, sua própria existência.

Por isso, o pensamento iluminista elege a “razão” como o grande instrumento de reflexão capaz de melhorar e empreender instituições mais justas e funcionais. No entanto, se o homem não tem sua liberdade assegurada, a razão acaba sendo tolhida por entraves como o da crença religiosa ou pela imposição de governos que oprimem o indivíduo. A racionalização dos hábitos era uma das grandes idéias defendidas pelo iluminismo.

As instituições religiosas eram sistematicamente atacadas por esses pensadores. A intromissão da Igreja nos assuntos econômicos e políticos era um tipo de hábito nocivo ao desenvolvimento e o progresso da sociedade. Até mesmo o pensamento dogmático religioso era colocado como uma barreira entre Deus e o homem. O pensamento iluminista acreditava que a natureza divina estava presente no próprio indivíduo e, por isso, a razão e o experimento seriam seguros meios de compreensão da essência divina.

Inspirados pelas leis fixadas nas ciências naturais, os iluministas também defendiam a existência de verdades absolutas. O homem, em seu estado originário, possuía um conjunto de valores que fazia dele naturalmente afeito à bondade e igualdade. Seriam as falhas cometidas no desenvolvimento das sociedades que teria afastado o indivíduo destas suas características originais. Por isso, instituições políticas preocupadas com a liberdade deveriam dar lugar às injustiças promovidas pelo Estado Absolutista.

Por essas noções instalava-se uma noção otimista do mundo que não teria como interromper seu progresso no momento em que o homem contava com o pleno uso de sua racionalidade. Os direitos naturais, o respeito à diversidade de idéias e a justiça deveriam trazer a melhoria da condição humana. Oferecendo essas idéias, o iluminismo motivou as revoluções burguesas que trouxeram o fim do Antigo Regime e a instalação de doutrinas de caráter liberal.

 As Revoluções inglesas Ao vermos a grande reverência e prestígio que as autoridades monárquicas inglesas

possuem, nem chegamos perto de imaginar que esse país foi palco de um conflito contra sua

realeza. No entanto, no século XVII, a ilha britânica protagonizou um dos primeiros episódios

que sinalizavam a crise do Antigo Regime. Foi durante a Revolução Inglesa que as

instituições nobiliárquicas foram alvo de uma violenta disputa que marcou a história política

da Inglaterra.

Durante os reinados da dinastia Tudor, a Inglaterra viveu um notório desenvolvimento de sua

economia. Sob a tutela do rei Henrique VIII e, posteriormente, da rainha Elizabeth I, a

burguesia britânica viveu anos de intensa ascensão econômica. A formação de monopólios

comerciais e o desenvolvimento de lucrativas atividades fizeram com que a parte da

burguesia britânica enriquecesse rapidamente.

No entanto, os pequenos comerciantes acabaram sendo prejudicados. As vantagens da

política econômica britânica beneficiavam uma parcela limitada de uma burguesia bem

relacionada com as autoridades reais da época. Além disso, parte das corporações de ofício

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inglesas detinha o monopólio sob a produção de certos produtos manufaturados que

impediam a ampliação do campo de atividades econômicas explorados pela burguesia.

No campo, a velha economia agrícola voltada ao abastecimento sofria grandes

transformações. As terras passaram por um grande processo de especulação econômica

decorrente da demanda da burguesia por matérias-primas. Foi nesse período que se instituiu

a política dos cerca mentos. Tal medida visava ampliar a disponibilidade de matéria-prima

por meio da apropriação das terras coletivas e devolutas. Com isso, vários camponeses e

pequenos proprietários de terra sofreram uma terrível perda que empobreceu tais setores da

sociedade britânica.

Nesse contexto contraditório, onde a Inglaterra enriquecia à custa da exclusão econômica de

parte da