As diferentes abordagens sobre fenômenos químicos nos livros da 8ª série (9º ano) do ensino...

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AS DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE FENÔMENOS QUÍMICOS NOS LIVROS DA 8ª SÉRIE (9° ANO) DO ENSINO FUNDAMENTAL. Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos, UFRPE Marília Gabriela de Menezes, UFRPE Resumo: É cada vez mais freqüente encontrarmos nos livros didáticos fenômenos presentes no cotidiano como forma de exemplificar e contextualizar o conteúdo das transformações químicas. Muitas vezes essas relações podem ser equivocadas devido à falta de informações essenciais para a compreensão da real mudança que ocorre no fenômeno a nível microscópico. A transformação química ocorre devido à variedade de arranjos entre as partículas (átomos e moléculas) que constituem a matéria [1], ou seja é necessário que os alunos relacionem os níveis fenomenológico e atômico-molecular. Neste trabalho foi feita uma análise de 22 livros didáticos de Ciências da 8ª série (9º ano) buscando verificar se as transformações químicas (reações químicas) são explicadas devido a esses arranjos como é proposto no PCN. Os resultados obtidos demonstram que eles têm muito que melhorar pois, havendo uma compreensão e interpretação dos modelos teóricos apresentados pela comunidade científica é possível que o alunado possa diferenciar as transformações químicas das físicas e compreender os variados fenômenos que os rodeiam. Palavras-chave: livro didático, transformação química, ensino de química Introdução Através do estudo das ciências começamos a compreender as pequenas coisas que acontecem ao nosso redor, tornando as mais simples. Não que a aquisição desse conhecimento seja fácil, mas através da análise, percepção e compreensão é possível diferenciar e entender que a mudança visual de uma determinada transformação química ocorre devido a uma nova organização das pequenas partículas que constituem sua matéria. Os gregos já possuíam a idéia de que a matéria era constituída de elementos simples (ar, terra, fogo e água) e que a partir destes poderia ser formados em todas as outras substâncias combinadas em proporções corretas [2], reconhecemos que hoje já existem mais de 100 elementos e que o ar, a terra, o fogo e a água não podem ser classificados como elementos químicos. Os próprios gregos questionavam-se no que aconteceria caso dividissem a matéria em partículas cada vez menores. Hoje sabemos que para continuar com as mesmas características do conjunto dever-se-ia parar com a divisão até chegar a uma menor parte. A essa menor parte da matéria chamamos de átomo, palavra que vem do grego que significa “indivisível”, essa denominação foi dada por Demócrito que presumiu que todas as coisas eram formadas por pequenas “pedrinhas” minúsculas e indivisíveis [3]. Com o desenvolvimento dos modelos científicos relacionados à atomística, aprendemos que toda a matéria é feita de átomos e que esta é feita de várias combinações dos elementos que a constituem. Ou seja, em uma transformação química os átomos não são criados nem destruídos eles apenas mudam de parceiros, suas propriedades mas conservam sua massa. Mesmo com várias fontes (revistas, periódicos, internet, etc) para obtenção de informações e conhecimentos científicos, o livro didático ainda parecer ser o principal veículo de instrução para o professorado brasileiro e praticamente o único material impresso que muitos alunos brasileiros dispõem [4]. Assim sendo, muitos pesquisadores

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Trabalho apresentado como comunicação oral no Congresso Norte Nordeste de Química - 2008. João Pessoa - PB

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AS DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE FENÔMENOS QUÍMICOS NOS

LIVROS DA 8ª SÉRIE (9° ANO) DO ENSINO FUNDAMENTAL. Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos, UFRPE

Marília Gabriela de Menezes, UFRPE

Resumo: É cada vez mais freqüente encontrarmos nos livros didáticos fenômenos

presentes no cotidiano como forma de exemplificar e contextualizar o conteúdo das

transformações químicas. Muitas vezes essas relações podem ser equivocadas devido à

falta de informações essenciais para a compreensão da real mudança que ocorre no

fenômeno a nível microscópico. A transformação química ocorre devido à variedade de

arranjos entre as partículas (átomos e moléculas) que constituem a matéria [1], ou seja é

necessário que os alunos relacionem os níveis fenomenológico e atômico-molecular. Neste

trabalho foi feita uma análise de 22 livros didáticos de Ciências da 8ª série (9º ano)

buscando verificar se as transformações químicas (reações químicas) são explicadas devido

a esses arranjos como é proposto no PCN. Os resultados obtidos demonstram que eles têm

muito que melhorar pois, havendo uma compreensão e interpretação dos modelos teóricos

apresentados pela comunidade científica é possível que o alunado possa diferenciar as

transformações químicas das físicas e compreender os variados fenômenos que os rodeiam.

Palavras-chave: livro didático, transformação química, ensino de química

Introdução

Através do estudo das ciências começamos a compreender as pequenas coisas que

acontecem ao nosso redor, tornando as mais simples. Não que a aquisição desse

conhecimento seja fácil, mas através da análise, percepção e compreensão é possível

diferenciar e entender que a mudança visual de uma determinada transformação química

ocorre devido a uma nova organização das pequenas partículas que constituem sua matéria.

Os gregos já possuíam a idéia de que a matéria era constituída de elementos simples

(ar, terra, fogo e água) e que a partir destes poderia ser formados em todas as outras

substâncias combinadas em proporções corretas [2], reconhecemos que hoje já existem

mais de 100 elementos e que o ar, a terra, o fogo e a água não podem ser classificados

como elementos químicos. Os próprios gregos questionavam-se no que aconteceria caso

dividissem a matéria em partículas cada vez menores. Hoje sabemos que para continuar

com as mesmas características do conjunto dever-se-ia parar com a divisão até chegar a

uma menor parte. A essa menor parte da matéria chamamos de átomo, palavra que vem do

grego que significa “indivisível”, essa denominação foi dada por Demócrito que presumiu

que todas as coisas eram formadas por pequenas “pedrinhas” minúsculas e indivisíveis [3].

Com o desenvolvimento dos modelos científicos relacionados à atomística,

aprendemos que toda a matéria é feita de átomos e que esta é feita de várias combinações

dos elementos que a constituem. Ou seja, em uma transformação química os átomos não

são criados nem destruídos eles apenas mudam de parceiros, suas propriedades mas

conservam sua massa.

Mesmo com várias fontes (revistas, periódicos, internet, etc) para obtenção de

informações e conhecimentos científicos, o livro didático ainda parecer ser o principal

veículo de instrução para o professorado brasileiro e praticamente o único material

impresso que muitos alunos brasileiros dispõem [4]. Assim sendo, muitos pesquisadores

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[5,6 e 7] se detem a pesquisa dos conteúdos desse material, já que o mesmo parece ser um

componente importante na análise da situação de ensino do nosso país.

Como apresentado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN [1] é importante

que os alunos da 8ª série (9º ano) interpretem os fenômenos químicos de forma

contextualizada e que consigam, no final do ciclo, apreender que essas mudanças ocorrem

devido à variedade de arranjos entre as pequenas partículas da matéria. Deste modo o aluno

é introduzido no contexto microscópico relacionando com o macroscópico [8], ou seja, que

a reação química envolve a formação de novos materiais a partir de outros e que estes

podem ser acompanhados de mudanças visuais ou não.

Procurando verificar se o que é proposto pelo PCN é apresentado nos livros

didáticos da oitava série (9º ano) do ensino fundamental, foi realizada uma pesquisa que

visou analisar os conteúdos relacionados com os fenômenos químicos (transformações

químicas, reações químicas) sendo verificados as definições e as relações com os

fenômenos da natureza e outros provocados pelo homem. Observações sobre as

representações gráficas (modelos atômicos – representação microscópica) foram analisadas,

se os conteúdos são abordados após o assunto de atomística, além de verificar se existe a

preocupação em deixar questões para debate em sala de aula, estimulando o aluno a

pesquisa; experimentos para os alunos realizarem, e indicação de textos, vídeos e livros

como fontes alternativas para a pesquisa.

A abordagem sobre os fenômenos químicos nos livros didáticos de ciências de 8ª série:

Foram analisados 22 livros didáticos de ciências da 8ª série, de coleções facilmente

encontradas em todo o mercado brasileiro, e verificados os erros e acertos conceituais sobre

as transformações químicas, de acordo com o Atkins [2], Machado [8], Rosa & Schnetzier

[9], observando os aspectos experimentais, definições, relações com o cotidiano, questões

para incentivo a pesquisa e indicação de livros, textos, vídeos, sempre verificando se os

assuntos abordados estão de acordo com o que é proposto pelo PCN. Segue abaixo os livros

analisados neste trabalho, sem qualquer ordem de classificação.

N° Livro Autor (es) Editora Edição Ano

1 Ciências naturais no

dia-a-dia

ALVARENGA, J. P. et

al.

Positivo 2ª 2006

2 A matéria e a

energia da Terra

LEMBO, A. &

MOISÉS, H.

IBEP 1ª 2006

3 Link da Ciência:

Ciências

BERTOLOZZO, S. &

MALUHY S.

Escala

Educacional

2ª 2005

4 Na teia da Ciência:

As ciências e a

Tecnologia

THORMANN, Á. T. et

al.

Base Editora 1ª 2006

5 Projeto Araribá:

Ciências

Editora Moderna Moderna 2ª 2007

6 Ciências: Física e

química

BARROS, C. &

PAULINO, W. R.

Ática 3ª 2006

7 Ciências GONÇALVES, J. T. &

OLIVEIRA, M. T.

IBEP 2ª 2006

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8 Ciências Naturais SANTANA, O.,

FONSECA, A &

MOZENA, E.

Saraiva 2ª 2006

9 Aprendendo com o

cotidiano (Ciências)

CANTO, E. L. Moderna 2ª 2004

10 Ciências: Matéria e

Energia

GEWANDSZNAJDER,

F.

Ática 3ª 2006

11 Ciências:

entendendo a

natureza: A matéria

e a energia

CÉSAR S. Jr. et al. Saraiva 21ª

reformulada

2006

12 Ciências:

Tecnologia e

Sociedade

VALLE, C. Positivo 2ª 2005

13 Investigando a

natureza – Ciências

para o ensino

fundamental

JAKIEVICIUS, M. &

HERMANSON, A. P.

IBEP 1ª 2006

14 Ciências: novo

pensar

GOWDAK, D. &

MARTINS, E.

FTD 2ª 2006

15 Ciências e Educação

Ambiental Química

e Física

CRUZ, D. Ática 3ª 2005

16 Ciências e Interação COSTA, A. Positivo 1ª 2006

17 Ciências BJ BIZZO, N. &

JORDÃO, M.

Editora do

Brasil

1ª 2006

18 Ciências, Natureza

& cotidiano:

ciências, natureza e

cotidiano

TRIVELLATO, J. et al. FTD 1ª 2006

19 Ciência e vida PAIVA ANDRADE,

M. H et al.

Dimensão 1ª 2006

20 Vivendo Ciências:

ciências

SALÉM, S.,

CISCATO, C.A.M. &

LUZ, M.

FTD 2ª 2006

21 Ciências SANTOS, A. &

MOURTHÉ JR, C.A.

IBEP 1ª 2006

22 Ciências CZAJKOWSKI, S. et

al.

IBEP 1ª 2006

Quando nos referimos sobre os livros, o faremos utilizando a numeração dos mesmos nela.

Resultados e Análises

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O primeiro aspecto que foi analisado nos livros foi se eles apresentavam

conceitos/definições sobre fenômenos químicos/transformações químicas. Tendo o PCN

(1998) como base de sugestão para como os livros devem abordam tal conteúdo, três livros1

não comentavam nada sobre o assunto nem falam sobre as reações químicas.

Utilizaremos na análise apenas dos livros que relatam assuntos sobre os fenômenos

químicos (FQ). Estes, em sua maioria (52,6%)2, explicam sobre os fenômenos químicos

relacionados diretamente com as reações químicas (RQ), ou seja, em um mesmo capítulo

eles abordam o conceito de FQ com as RQ. Merece destaque os livros 1, 5, 6, 7, 12, 14 e

15, pois eles explicam e exemplificam os fenômenos de químicos com exemplos

relacionados com o cotidiano, falam sobre o arranjo que ocorre entre os átomos e moléculas

que constituem a matéria, permitindo ao aluno uma visão microscópica das transformações,

que na maioria das vezes, ele visualiza em um experimento/fenômeno. O estudo das

transformações químicas relacionadas ao cotidiano permite que o aluno possa compreender

as variadas mudanças que ocorre no nosso organismo, na indústria, na medicina, no meio

ambiente, entre tantos outros exemplos [9].

Dos livros que apresentaram o conteúdo sobre fenômenos químicos, 11 livros3 (50%

do total analisado) falavam superficialmente, que “duas substâncias podem reagir,

formando uma outra substância com características diferentes das iniciais.” Livro 16;

“transformação químicas é quando uma ou mais substâncias originam outras diferentes das

que estavam no início do processo” Livro 13; “A reação química é um fenômeno químico;

portanto há formação de novas substâncias a partir de outras” Livro 14. Ressalto que as

informações não estão erradas, mas os autores poderiam falar na visão atômico-molecular

pois a maioria dos alunos pode compreender as definições apresentadas, mas de forma

inadequada. Pesquisas demonstram as mais variadas interpretações que os alunos podem ter

dos fenômenos que acontecem no seu cotidiano, destas interpretações podemos categoriza-

las como transmutação [10], que exprime a noção de que durante um fenômeno pode

ocorrer a mudança de uma coisa em outra, contribuindo para a aquisição errônea de um

conceito. O exemplo mais equivocado foi o apresentado no livro 2, no capítulo sobre

reações químicas que diz “as substâncias desaparecem e outras surgem”.

Verificado se os livros fazem relações com os fenômenos da natureza e do

cotidiano, 79% destes4 (do total de 19 livros considerados para a análise) apresentavam

vinculações com as transformações que estão presentes em nossas vidas, através de fotos

reais e desenhos ilustrativos, questões para os alunos pensarem/refletirem no cotidiano,

experimentações. Foi percebido que a maioria dos livros apresentavam apenas fotos

ilustrativas, destes a maioria das fotos/imagens era da vela queimando, o que pode gerar

para os alunos, intrinsecamente, uma associação apenas à queima como um exemplo de

reação química. O conhecimento cotidiano pode muito bem ser associado ao conhecimento

científico nos livros didáticos, mas a aproximação é tarefa do professor também, pois é

necessário levar em consideração as características dos alunos [11], onde a escola está

inserida, pois facilita a problematização de situações que também ocorrem no cotidiano

escolar através de discursões realizadas em sala de aula. Partindo desse tópico, observou-se

que 90% dos livros5 apresentam questões discursivas que podem estar associadas ao

cotidiano ou ao experimento apresentado nos mesmos. O momento discursivo é importante

pois salienta a construção e reconstrução do conhecimento do aluno, a autonomia do

coletivo e de incentivar a socialização do aluno [12] além de tornar possível pensar em

termos químicos, configurando os limites e as possibilidades de acertos e erros no observar

do aluno.

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Para uma maior compreensão do assunto é preciso que os alunos tenham visto em

sala de aula os conceitos sobre atomística, que os átomos são os componentes fundamentais

da matéria e que os fenômenos químicos podem ser explicados em termos das propriedades

desses átomos [2]. Para alunos da 8ª série (9º ano) não é preciso que eles compreendam

como os átomos se comportam em uma reação, é necessário que eles compreendam que a

matéria é constituída por várias partículas. Baseado nestas informações foi verificado se o

assunto de atomística é iniciado antes do assunto sobre reações químicas e, 21,0 % dos

livros6 abordavam as transformações químicas antes de atomística, uma forma errônea pois,

não seria possível o aluno compreender a mudança da matéria sem que ele tenha

compreendido o que a constitui. Ou seja ele poderia compreender o macro e não o micro,

elucidando que o que é aplicado em um pode ser aplicado no fenomenológico, pode ser

aplicado ao atômico-molecular [9]. Vale salientar que para a compreensão desses termos é

necessário que os indivíduos precisam engajar-se em um processo pessoal de construção e

de atribuição de significados [13], caracterizando que para aprender a ciência química, o

aluno precisa ser introduzido nos conceitos, símbolos e convenções da comunidade

científica que tem uma clara preferência pelo abstrato [11], este aprendizado deve ser de

forma adequada ao perfil cognitivo do aluno.

O uso de ilustrações para exemplificar as mudanças que ocorrem a nível

microscópico nas reações químicas, que podem facilitar o que é proposto pelo PCN, não

está tão presente nos livros, apenas 31,5% destes7 apresentam modelos para ilustrar o

arranjo dos átomos que ocorre em uma transformação química. Destes apenas um livro fala

que as cores e tamanhos são meramente ilustrativas, merecendo destaque, pois isso já

desperta o aluno para que a informação é apenas explicativa. O livro 14 apresenta nota

informando que as cores são ilustrativas e os demais não apresentam nenhuma informação

quanto ao tamanho e coloração utilizada para diferenciar os átomos (Figura 1).

Figura 1. Página 241 do livro 6 apresentado o modelo ilustrativo para a reação química com o arranjo entre os

átomos.

O livro 16 representa erroneamente o modelo os átomos em porque representa os

átomos em forma de írculos para cada reagente envolvido na reação (Figura 2), permitindo

ao aluno uma associação ao modelo atômico de Dalton, que concebia moléculas perfeitas

como se fossem bolas de bilhar [2]. Hoje sabemos que os átomos possuem estrutura

interna, não podendo ser representada por este modelo. Desta forma, o aluno poderia

aceitar a estrutura do átomo como a apresentada no livro, gerando um possível transtorno

cognitivo quando ele começasse a estudar os modelos atômicos no primeiro ano do ensino

médio.

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Figura 2. Página 61 do livro 16. Esquema ilustrativo para a reação química.

Aproximadamente 57,9% dos livros8 apresentam experimentos para os alunos

executarem. Não que sua prática fosse suficiente apara compreensão dos fenômenos, mas a

partir do observar e de situações que podem estar apresentadas no livro didático ou

proposta pelo professor, é possível que o aluno possua uma maior compreensão e distinção

do que seja um fenômeno químico e físico. Assim também, o PCN [1] sugere que as

experimentações não sejam apenas realizadas através da manipulação dos reagentes e

vidrarias, é necessário que haja uma reflexão, desenvolvimento e construção dos conceitos

ali intrínsecos. Seguindo esta linha apenas 63,2% dos livros9 apresentam experimentos e

questões interligadas, além de estimularem o aluno a observar o experimento, isto permite

uma maior reflexão diante das questões apresentadas pelo livro. A atividade experimental

contribui para uma maior compreensão da ciência química, além de permitir um maior

enriquecimento de teorias pessoais sobre a natureza, tendo em vista que é necessário

superar visões simplistas que a experimentação apenas ilustra um fenômeno químico ou

que elas por si só despertam um interesse nos alunos, que pela observação se chega à

validação e comprova uma teoria.

Por fim, foi verificado se os livros apresentam textos, vídeos, sites como suporte

para o aluno, estimulando-o a procurar por outras fontes alternativas além do livro didático

que ele possui. Percebeu-se que aproximadamente 58% dos livros10

apresentaram textos

com caráter contextualizado, que podem contribuir para a compreensão de que o estudo das

transformações químicas podem contribuir para o entendimento de muitos processos que

ocorrem diariamente na vida dos alunos.

Conclusão:

De uma forma geral, de acordo com a análise realizada, os livros didáticos de

ciências da oitava série (9° ano) ainda não estão coerentes com o que é proposto pelo PCN.

O conceito de fenômeno químico ainda é tratado como algo que “some e depois reaparece”,

aludindo ao fenômeno a “mágica”.

A química é uma ciência presente em tudo o que nos cerca, estando presente desde a

fabricação da embalagem de uma bala até digestão da mesma. A associação que fazem a

química com os desastres ambientais, explosões, lixões, energia nuclear, etc, permite que

haja uma aversão a ciência química. A apresentação correta dos conteúdos em séries

iniciais a essa ciência cria uma relação de maior compreensão da Química, como as

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conquistas e o seu uso maior, que deve estar associada a melhoria de qualidade de vida do

Planeta Terra [14].

As atividades práticas co-relacionadas com situações do cotidiano no contexto da

solução de problemas permitem ao aluno perceber como e para quê os cientistas trabalham

e de que forma, ou próximo a isso, eles resolvem problemas ou melhora as soluções que já

existem. Criando nos alunos um maior senso de responsabilidade com o local em que

vivem, quiçá com o Planeta Terra, formando alunos mais zelosos e mais interessados com a

química, por isso a importância de se estruturar bem as séries iniciais para que se permita

uma compreensão sucessiva nas séries do ensino médio.

É importante que os livros didáticos comentem os fenômenos químicos tanto na

versão macroscópica como microscópica, mas especificamente obre esta última. Pois, a

aprendizagem de conceitos abstratos, mesmo que superficiais, permite um maior

amadurecimento cognitivo ao aluno, além de o livro ser basicamente a única fonte

disponível ao docente.

Espera-se que as observações aqui presentes possam ser apreciadas de forma a ser

dada uma maior ênfase nos fenômenos químicos, pois o conhecimento sobre eles mostra-se

bastante válido para que possamos conhecer os acontecimentos que acontecem em nosso

cotidiano e as transformações que acontecem no mundo, permitindo um maior cuidado com

a natureza e nossa qualidade de vida.

Agradecimentos:

Aos Prof. Antônio Carlos Pavão, diretor do Museu de Ciências Espaço Ciência, por

ter emprestado os livros que foram analisados neste artigo e a Profª Marília Gabriela pela

ajuda nas análises e leitura crítica e sugestões de correções.

Notas

1- os livros que nada abordam sobre o assunto são 3, 8 e 21. A partir deste ponto, os livros

não serão mais mencionados, ficando para o restante da análise, 19 livros.

2- os livros foram 5, 6, 9, 12, 14, 16, 17, 18, 19 e 20.

3- livros 2, 4, 9, 10, 11, 13, 16, 18, 19, 20 e 22. Foram analisados os conceitos apresentados

nas definições sobre fenômenos químicos. O livro 10, no capítulo sobre reações químicas

fala corretamente sobre o arranjo que acontece nos átomos que constituem as substâncias

iniciais da reação quando formam os produtos.

4- livros 1, 4, 5, 7, 9, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20. Deste apenas os livros 5, 7, 9,

10, 11 e 13 contextualizam os fenômenos químicos com o cotidiano através de imagens,

textos, questionamentos.

5- foram os livros 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20.

6- livros 9, 13, 18 e 20. O livro 13 nada abordava sobre a constituição da matéria e as

reações químicas eram mostradas através das equações químicas, não sendo estas definidas

ou contextualizadas.

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7- livros 5, 6, 14, 15, 16 e 17. Destaque para o livro 6, que apresenta em todas as reações

representadas a informação de que as mesmas estão sem proporção de tamanho e que as

cores não são reais.

8- livros 1, 4, 5, 9, 10, 11, 13, 14, 15, 16 e 17. Destaque para os livros 1, 9, 11 e 17 que

apresentam vários experimentos que seu resultado evidenciam um fenômeno químico,

permitindo uma maior compreensão, na visão macroscópica, de transformação química.

9- livros 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 14, 15, 16, 17 e 19. O livro 11 traz sessões com várias

abordagens para os alunos pesquisarem e refletirem, estimulando a pesquisa.

10- livros 1, 2, 5, 7, 10, 11, 15, 16, 17, 18 e 20. Destaque para o livro 11 que sugere sites

para o aluno aprofundar-se no conteúdo apresentado pelo livro.

Referências

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Fundamental. - Brasília: MEC/SEF, 1998.

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[6] SOUSA, C. A., COSTA, E.V., OLIVEIRA, K.A., PESSOA, R.C., SILVA, M.G.L. A

investigação de livros didáticos como elementos na formação inicial de professores de

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[7] LOGUERCIO, R., DEL PINO, J. C. Livros didáticos: mais do que uma simples

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[8] MACHADO, A. H. Aula de química: discurso e conhecimento. – 2 ed. Ijuí: Ed. Unijuí,

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[9] ROSA, M. I. F. P. S., SCHNETZIER, R. P. Sobre a importância do conceito de

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na Escola, n° 8, nov, p. 31-35, 1998.

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[10] ANDERSON, B. Pupil’s explanation of some aspects of chemical reactions. Science

Education v. 70, n.5, p. 549-563, 1983.

[11] BIZZO, N. Ciências: Fácil ou Difícil? Cap. 1. São Paulo, Ed. Ática, 1998

[12] GALIAZZI, M.C., GONÇALVES, F.P. A natureza pedagógica da experimentação:

Uma pesquisa na licenciatura em Química.

[13] DRIVER, R., ASOKO, H., LEACH, J., MORTIMER, E. & SCOTT, P. Construindo o

conhecimento científico em sala de aula. Química Nova na Escola, n°9, maio,p. 31-40,

1999.

[14] SANTOS, W. L. P. Letramento em química, educação planetária e inclusão social?

Quim. Nova, Vol. 29, No 3, 611-620, 2006.