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Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 As Expectativas e Aspirações da Pequena Burguesia: Contradições Psicossociais e Possibilidades de Mudança Yuri Alexandre Ferrete Faculdade de Psicologia Centro de Ciências da Vida [email protected] Raquel Souza Lobo Guzzo Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção Psicossocial: Prevenção, Comunidade e Libertação [email protected] Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo estudar os fundamentos do desenvolvimento como um processo histórico e participativo, por meio da análise das formas de avaliação e de acompanha- mento utilizados em uma escola de Educação In- fantil, bem como discutir o papel do psicólogo na construção de atividades pedagógicas direcionadas a promoção do desenvolvimento integral das cri- anças. A partir de 250 fichas de ingresso de crianças na escola obtiveram-se resultados como preparação da escola para adesão do aluno, busca por dados de baixa auxilio, erros na procura por questões que possam auxiliar ou atrapalhar seu pro- cesso de desenvolvimento, para que então possam ser trabalhados. Por fim, encontrou-se uma neces- sidade de algumas alterações no método de ac- olhimento da escola para os alunos que estão ini- ciando sua vida acadêmica. Palavras-chave: processos de avaliação da criança, políticas de educação infantil e psicologia escolar. Área do Conhecimento: Ciências humanas– Psico- logia Social INTRODUÇÃO Políticas de Educação Infantil A partir de 1994, quando ocorreu a posse do então novo presidente Fernando Henrique Cardoso, formal- izou-se a implantação definitiva do modelo neoliber- al, tendo como uma de suas vertentes de medidas a incorporação das diretrizes do Banco Mundial no plano de políticas educacionais [1]. Com esta nova influencia a Educação Infantil brasileira dividiu-se em dois eixos, sendo eles, o da reforma geral edu- cacional, onde se priorizou o ensino fundamental, e o outro, a retomada das propostas de programas in- formais auxiliada pelo baixo investimento público na Educação Infantil para as crianças mais carentes. Ao longo da história, o ensino foi se tornando um setor mercantilizado, isto é, comercializado, onde quem tem condições de pagar, compra o melhor. Porém, este método favoreceu e ainda favorece apenas o fortalecimento do sistema privado, conse- qüentemente, gerando uma desqualificação do en- sino público. Logo, este contraste existente entre ambos os sistemas de ensino desencadeia-se uma série de seqüelas negativas, que parte desde a cres- cente desigualdade social, até a crise no sistema de educação no Brasil. [2] A instituição de ensino no Brasil é apenas um reflexo de como esta situada as políticas econômicas no país. Estas políticas prevêem a re- dução de gastos públicos para o setor educacional, logo, levando a depararmo-nos com uma educação demarcada pela presença de professores e moni- tores, em sua grande maioria, sem uma formação específica para atuar em sua área, junto à falta de vagas suficientes para atender a toda demanda de crianças que necessitariam da Instituição Edu- cacional pública para receber o que é de seu direito. Segundo a constituição de 1988, atribui-se a toda criança dentro da faixa etária de 0 a 6 anos o direito de creche e pré-escola. Entretanto, não existem vagas o suficiente para atender todos os indivíduos que deveriam usufruir da lei, habilitando assim um sistema excludente.[1] Dois anos depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA regulamentou artigos da Constituição Federal e explicitou me- canismos que possibilitam a exigência legal dos direitos da criança. A última etapa para a fixação da ensino/educação infantil dentro do sistema edu- cacional, no cenário brasileiro, foi em 1996. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB inclui por efetivamente esta etapa como uma fase na formação do individuo, compondo a primeira parte da educação básica. [3] Seguindo está mesma ideia da má formação do pedagogo, Micarello (2003) afirmou um déficit na relação teórica e prática durante a graduação do pro- fessor. A autora cita, por exemplo, uma situação onde uma professora sem experiência anterior, ou preparo correto, busca subsídio nos aprendizados

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Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420

25 e 26 de setembro de 2012

As Expectativas e Aspirações da Pequena Burguesia: Contradições Psicossociais e Possibilidades de Mudança

Yuri Alexandre Ferrete Faculdade de Psicologia

Centro de Ciências da Vida [email protected]

Raquel Souza Lobo Guzzo Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção

Psicossocial: Prevenção, Comunidade e Libertação [email protected]

Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo estudar os fundamentos do desenvolvimento como um processo histórico e participativo, por meio da análise das formas de avaliação e de acompanha-mento utilizados em uma escola de Educação In-fantil, bem como discutir o papel do psicólogo na construção de atividades pedagógicas direcionadas a promoção do desenvolvimento integral das cri-anças. A partir de 250 fichas de ingresso de crianças na escola obtiveram-se resultados como má preparação da escola para adesão do aluno, busca por dados de baixa auxilio, erros na procura por questões que possam auxiliar ou atrapalhar seu pro-cesso de desenvolvimento, para que então possam ser trabalhados. Por fim, encontrou-se uma neces-sidade de algumas alterações no método de ac-olhimento da escola para os alunos que estão ini-ciando sua vida acadêmica. Palavras-chave: processos de avaliação da criança, políticas de educação infantil e psicologia escolar.

Área do Conhecimento: Ciências humanas– Psico-logia Social

INTRODUÇÃO Políticas de Educação Infantil A partir de 1994, quando ocorreu a posse do então novo presidente Fernando Henrique Cardoso, formal-izou-se a implantação definitiva do modelo neoliber-al, tendo como uma de suas vertentes de medidas a incorporação das diretrizes do Banco Mundial no plano de políticas educacionais [1]. Com esta nova influencia a Educação Infantil brasileira dividiu-se em dois eixos, sendo eles, o da reforma geral edu-cacional, onde se priorizou o ensino fundamental, e o outro, a retomada das propostas de programas in-formais auxiliada pelo baixo investimento público na Educação Infantil para as crianças mais carentes. Ao longo da história, o ensino foi se tornando um setor mercantilizado, isto é, comercializado, onde

quem tem condições de pagar, compra o melhor. Porém, este método favoreceu e ainda favorece apenas o fortalecimento do sistema privado, conse-qüentemente, gerando uma desqualificação do en-sino público. Logo, este contraste existente entre ambos os sistemas de ensino desencadeia-se uma série de seqüelas negativas, que parte desde a cres-cente desigualdade social, até a crise no sistema de educação no Brasil. [2]

A instituição de ensino no Brasil é apenas um reflexo de como esta situada as políticas econômicas no país. Estas políticas prevêem a re-dução de gastos públicos para o setor educacional, logo, levando a depararmo-nos com uma educação demarcada pela presença de professores e moni-tores, em sua grande maioria, sem uma formação específica para atuar em sua área, junto à falta de vagas suficientes para atender a toda demanda de crianças que necessitariam da Instituição Edu-cacional pública para receber o que é de seu direito. Segundo a constituição de 1988, atribui-se a toda criança dentro da faixa etária de 0 a 6 anos o direito de creche e pré-escola. Entretanto, não existem vagas o suficiente para atender todos os indivíduos que deveriam usufruir da lei, habilitando assim um sistema excludente.[1] Dois anos depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA regulamentou artigos da Constituição Federal e explicitou me-canismos que possibilitam a exigência legal dos direitos da criança. A última etapa para a fixação da ensino/educação infantil dentro do sistema edu-cacional, no cenário brasileiro, foi em 1996. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB inclui por efetivamente esta etapa como uma fase na formação do individuo, compondo a primeira parte da educação básica. [3]

Seguindo está mesma ideia da má formação do pedagogo, Micarello (2003) afirmou um déficit na relação teórica e prática durante a graduação do pro-fessor. A autora cita, por exemplo, uma situação onde uma professora sem experiência anterior, ou preparo correto, busca subsídio nos aprendizados

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como mãe para desenvolver sua prática como edu-cadora. [17] Por fim, o acesso a creches e pré-escolas segue re-strito a uma porção menor da população, sendo es-tas as com recursos financeiros possíveis para bus-car uma instituição privada que atenda a suas ne-cessidades. À grande maioria, que são “os outros”, o acesso à Educação Infantil fica, muitas vezes, a mercê de programas e projetos pontuais financiados pelo governo federal ou dos estados, com in-definições quanto à qualidade de sua oferta. [4] A Entrada da Criança na Escola: processo de avaliação e acompanhamento O ingresso da criança na escola é um processo complexo e carregado de tensões, ligado diretamen-te com as relações criadas que elas têm com aqueles que se responsabilizam de educá-la e auxil-iar no seu desenvolvimento. Baseando nesse sentin-do de relação, a Educação pode ser descrita como um “que-fazer humano”, que diz respeito às pessoas em contato umas com as outras. Visar a educação como um processo é delatara como relacional e de poder emancipatório. Logo, visando educação com estes conceitos, deve-se afirmar que o desenvolvi-mento educacional está em todos os espaços de convivência humana, desde família, amigos, até es-colas, espaços de lazeres. [5] Entretanto, sabe-se que todas essas relações estão diretamente interligadas ao contexto econômico, polí-tico e social. Desta maneira, não sobram espaço pa-ra duvidas de que as instituições reproduzem o modo de vida capitalista desumanizador, concluindo por fim que todo esse contexto afeta o desenvolvimento in-fantil. [6] A escola e a família dividem funções sociais, polí-ticas e educacionais, na medida em que contribuem e influenciam na formação do individuo. Ambas são de grande importância para a formação do conheci-mento cultural organizado, e causam também a transformação no funcionamento psicológico, de acordo com cada ambiente. Em outras palavras, pode-se afirmar que ambas as instituições podem desencadear os processos evolutivos das pessoas, tanto de forma auxiliadora ou inibidora. [7] O papel da escola seria de assegurar a instrução e apreensão de conhecimentos, havendo uma pre-ocupação principal no seu processo de ensino-aprendizagem. Por outro lado, a família o objetivo é outro, serve como formadora do processo de social-ização, proteção, o ensinamento das condições

básicas de sobrevivência e o desenvolvimento de seus membros no plano social, cognitivo e afetivo. [7] O psicólogo, por sua vez, quando inserido na escola, tinha a missão de categorizar cada aluno, baseando no teste de avaliação psicológica, onde entre diver-sos resultados, formada o Quociente de Inteligência (QI) de cada individuo. A partir dessa prática a cri-ança tornava-se um problema ou não para a escola. Com o passar dos anos, esses instrumentos de avaliação passaram a ser extremamente criticados, desde a incoerência do procedimento utilizado por psicólogos, até os efeitos de práticas inadequadas para as crianças a elas submetidas. [8] Uma das grandes mudanças vivenciadas na psicolo-gia foi a causada por Vygostky, cujo trouxe uma nova reflexão para a atual prática pedagógica nas institui-ções escolares. Vygostky elaborou todo um conhecimento acerca de como aprendemos, igualando todos os seres humanos no seu processo de aprendizagem, independente das possíveis lim-itações orgânicas ou físicas, a partir de então, passou a se pensar no individuo dentro de um con-texto social, sendo impossível mais refletir sobre a escola sem esse olhar de Vygostky acerca da elabo-ração social dos processos psíquicos superiores. [9] Seguindo os pontos citados anteriores, a avaliação psicológica deixa de funcionar como um instrumento de acomodação ao modelo positivista, adquirindo caminhos mais amplos, chegando a verdadeira for-ma de avaliação psicossocial. O termo psicossocial diz respeito a analise psicológica de uma integração dos aspectos individuais, mesclados com o coletivo social, partindo em busca a uma intervenção ou pre-venção. Pode então descreve como psicossocial a interelação entre os aspectos psicológicos e o con-texto social no qual o individuo está inserido, enfati-zando os atores e os efeitos dos eventos contidos no cotidiano de cada um. [10] As relações estabelecidas entre os indivíduos, no interior das comunidades, constituem uma trama cujos fios refletem dimensões afetivas, sociais e polí-ticas que, em última instância, circunstanciam a vida cotidiana. O impacto dessas relações, obviamente, atinge as crianças de forma diferenciada, uma vez que, é nesse âmbito que elas começam a construir suas identidades. [10] Em relação ao conceito de adaptação, cada contexto de cuidado alternativo tem suas particularidades, demandas e valores e se as características individ-uais da criança são compatíveis com estes, então ela tende a ser percebida mais rapidamente como bem adaptada. Por exemplo, as crianças cujo tempera-

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mento está de acordo com as demandas culturais e características do grupo de cuidados alternativos tendem a ser julgadas como melhores adaptadas [15] Na busca pela compreensão do ingresso a escola, alguns estudos têm mostrado que tanto para a mãe quanto para os educadores a descrição das primeiras em cuidado alternativo é de alta taxa de stress, especialmente na ocasião de bebes ou cri-anças muitos pequenas.[15] A presença de um novo ambiente desconhecido, as novas rotinas, a alimentação, as pessoas não famili-ares, todos esses fatores somados junto com a ausência da mãe traz uma significativa exigência social e emocional.[15]. Porém, a adaptação muitas vezes é difícil não só para a criança, mas também para a família e a educadora, pois implica em reor-ganizações e transformações para todos. A forma como este processo é vivenciado pelas pessoas en-volvidas influencia e é influenciada pelas reações da criança. [16] O Papel do Psicólogo Escolar na promoção do desenvolvimento da educação A relação entre Educação e Psicologia é marcada por uma série de registros polêmicos, sustentando-se em fundamentos diferentes. Se considerar que a Psicologia surge e desenvolve ao longo dos séculos em uma sociedade capitalista, em meio a um choque ideológico de paradigmas [18] é necessário que busque conhecer criticamente como essa relação se impõe no cotidiano da vida em diferentes espaços. A constituição da Psicologia vem para atender a ne-cessidade da sociedade que surgi para selecionar, adaptar, controlar e predizer o comportamento com finalidade de impactar o aumento [18] Com estes fundamentos, a Psicologia ingressa nas escolas, e mesmo com algumas alterações nessa relação (Educação-Psicologia), as escolas ainda es-peram desses profissionais que resolvam os prob-lemas das crianças com dificuldade de aprendiza-gem, excesso de agressividade, indisciplina e outros problemas vistos pelos educadores. [18] Ao longo dos anos, a Psicologia foi observando e vivenciando mais e mais a necessidade de mudan-ças no setor educacional. Como um dos grandes autores dessas mudanças, Vygotsky buscou implan-tar o todo na vida de cada estudante. O crescimento de uma visão ampla, onde o contexto social e in-teracional afeta o individuo, impôs uma impossi-bilidade de observação neutra. O todo então se tor-

nou maior, a soma das partes é quem forma o ser, e este ser não podendo ser compreendido mais como o funcionamento de um só. [9] Seguindo está linhagem de pensamento, o aluno não pode ser mais visto como um sujeito dotado de prob-lemas, como um ente separado do sistema relacional (Família-Escola), mas sim, como um sujeito relacion-al. O Psicólogo Educacional não pode mais crer que possui hipóteses “verdadeiras” sobre os problemas do aluno, muito menos se fazer neutro na escola, junto as relações que ali estão estabelecidas, porque, o simples fato de estar presente naquele ambiente, já modifica-se o sistema observado. Acima de tudo, os profissionais desta área devem ter con-sciência de que uma dificuldade de aprendizagem pode estar relacionada, ou exercendo, alguma função em um dos sistemas no qual o aluno vive. [9] Através desse pensamento, Vokoy e Pedroza (2005) [11], citam que o Psicólogo Escolar não podem se basear em modelos pré-concebidos para se trabalhar na escola, mas princípios norteados de uma prática a serviço da superação da exclusão, das estigma-tização e da desigualdade. O foco do psicólogo en-volve aspectos da relação entre a equipe e os edu-cadores, abordando os conflitos, as insatisfações e as contradições dentro da prática social. Assim, pode-se apontar “princípios norteadores”, sendo eles, a etnografia como metodologia, a interdiscipli-naridade, trabalho juntos às famílias, e por fim, o tra-balho com crianças. O psicólogo escolar deve ter a capacidade de encorajar o professor a desenvolver cada vez na capacidade de educador. Questionar e criticar os pensamentos do profissional que educa a fim de melhorar sua compreensão sobre seu papel na sociedade e na formação do individuo, torna-se crucial. Deve estar concreto na cabeça do professor que é seu dever somente auxiliar positivamente. A relação professor-aluno sofreu grande alteração a partir da educação libertadora proposta por Paulo Freire. Essa interligação deveria ser trabalhada de forma critica, contribuindo para o diálogo, a criativid-ade e para a desmistificação de estigmas na relação pedagógicas. Essa visão deve sempre manter um caráter reflexivo, com constante desvelamento da realidade. [11] OBJETIVOS Este projeto é parte de um trabalho maior desen-volvido pela Prof(a). Dra. Raquel S. L. Guzzo, de-nominado Fatalismo, Impotência e Modo de Vida: impacto do poder e da opressão em espaços educa-tivos e comunitários, no qual a proposta é de identi-

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ficar o fatalismo presente nos diferentes pontos da sociedade/população, relacionado com suas con-dições de vida e o método que elas encontram para buscarem satisfação de suas necessidades. Sendo assim, este projeto busca enfatizar a análise dos elementos a partir do contexto da escola. Por sua vez, esse projeto tem como objetivo especif-ico identificar e analisar como as escolas trabalham com o ingresso de crianças na escola. Foram estu-dadas 240 fichas, com questões familiares e pes-soais, como método para a coleta de informações da criança para escola. • Conhecer e sistematizar a ficha de ingresso da

criança na escola utilizada na instituição de Edu-cação Infantil onde o grupo está inserido, organi-zando os diferentes itens em dimensões e ele-mentos importantes ao desenvolvimento da cri-ança;

• Caracterizar o grupo de crianças ingressantes em função das dimensões informadas;

• Discutir os elementos necessários para acompanhamento da criança em desenvolvi-mento;

MÉTODO Este estudo está referenciado metodologicamente no Materialismo Histórico Dialético, o MHD, sendo uma metodologia que estabelece o objetivo a partir do que é histórico, fugindo de algo ideal, permitindo as-sim a compressão do processo de elementos histó-ricos nas manifestações dos indivíduos. A presença do dialético seria o mesmo que analisar o confronto criado pela presença do material perante o abstrato – ideologias; moral; religião – permitindo a superação, tornando-se possível desta maneira identificar as condições objetivas de vida dos participantes e os resultados de seu cotidiano. Estes pressupostos teó-rico-metodológico visam à superação das condições instituídas na realidade para além da crítica aos ele-mentos próprios da sociedade, buscando identificar, na historicidade dos fenômenos estudados, as con-dições necessárias para que a potencialidade do gênero humano se objetive na individualidade dos sujeitos. Afirma-se então que o desenvolvimento humano ocorre por meio da atividade mediada decorrente do processo de socialização. [12] Qualquer ação que promova uma alteração na realidade exige uma análise na totalidade concre-ta da mesma, desta maneira, é necessário que o psicólogo perceba o quanto a situação econômica traz conseqüências na vida e na subjetividade de cada individuo. A visão materialista histórica é capaz

de notar o caminho que está sendo tomado a partir da ideologia burguesa, tal como a desigualdade so-cial, opressão. Por fim, pode afirmar, tal como Ber-nardes, 2010, que a vida em sociedade é que deter-mina a consciência e a conduta do homem, e não o seu inverso. RESULTADOS E DISCUSSÃO Existe um erro na busca de informações da escola com a criança. Observando a questão se a criança está contida em uma família que já tem um filho, ou mais, verifica-se que a escola observa a dimensão familiar, afinal, em cada grupo de família as situ-ações são diferentes. Ter um irmão em suas relações sociais altera muito daquilo que se espera de um filho único. Logo, esses universos diferentes, que contem relações diferentes dentro de casa são de alta importância para o conhecimento do instituto educacional sobre a criança, principalmente se o irmão aproxima-se da idade da criança, ou o afeto entre ambos. Entre tanto a ficha deixa a desejar nesse quesito. Ao buscar informações do número de integrantes na família e não questionar essa como constitui a inter-relação entre eles, acaba deixando sua questão desvalorizada, deixando de lado o que realmente serviria como apoio para os cuidados que deveriam ser tomados. A escola buscou se informar do desenvolvimento da criança de algumas aprendizagem que são consider-as maturacionais e categorizadas. Porém, por alguns índices percebe-se que certos dotes são esperado em alguns momentos do crescimento de um individ-uo, onde 62%, das crianças não precisam de ajuda para abotoar, logo, passa-se a crer que para uma criança dessa idade é padrão conseguir realizar essa tarefa. Ou então, questão sobre se a criança sabia amarrar, apresentou-se a informação de que 80% das crianças não sabiam ainda amarrar seus tênis, observa-se através desse dado que não é de se es-perar que uma criança nessa fase da vida já consiga amarrar seus tênis sem a necessidade de auxilio. A grande questão deixada por essas tabelas não são nos valores “comuns”, mas sim a presença de dados reversos, como na na questão “Precisa de ajuda pa-ra Abotoar?” mesmo, onde 29% afirmaram que ne-cessitam ainda de algum adulto para abotoar sua roupa. Por sua vez, essas crianças não devem ser marginalizadas, e nem consideradas fora do padrão de desenvolvimento. As exceções estão no mundo para serem estudadas e auxiliadas, não ignoradas. Mas, apenas informasse de que o individuo não con-tem o dote não trás resultados tão positivos. Saber o

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que a criança encontre de dificuldade nesse ponto, se já tentou ensinar, como fizeram isso, são questões que deveriam ser abordas na seqüência da ficha, mas não estavam presentes. Mais uma vez, a ficha torna-se um documento falho. Como afirma Dessen e Polônia (2007) [7], o papel da escola seria de assegurar a instrução e apreensão de conheci-mentos, havendo uma preocupação principal no seu processo de ensino-aprendizagem. Em alguns pontos da ficha pode-se observa erros nas construções, pois em alguns casos os pais não souberam passar a informação correta que a ficha buscava obter. Algumas questões, pela má con-strução, ficaram mal interpretadas, diminuindo a qualidade do material. Os valores obtidos da questão “Quais medicamentos?” a partir da resposta anterior, a categoria “Anti-alérgico” ter sido a de maior aparição demonstra isso bem. A intenção deveria ser de medicamentos fixos, que estão presente devido a doenças de longo prazo, não situações mo-mentâneas. Esse mesmo problema pode ser verifi-cado na categorização de presence ou não de sín-dromes nas crianças. Algumas das categorias apresentadas, mesmo sendo baixo o valor total delas, não estão realmente relacionadas com a questão pedida. Mas não foram apenas de falhas que as fichas esta-vam montadas. Alguns dados importantes foram buscados, e que servem de ajuda para o educador e para o Instituto Educacional. Os dados obtidos de questões como “Algum problema de Saúde?”, “Al-guma Alergia?”, “Tem medo?”, “Como a criança reage quando contrariada?”, são tudo informações importantes, que a escola deve saber e tem de re-passar para seus educadores. São tudo valores que alteram, prejudicialmente, ou alguns casos, fa-voravelmente, na evolução da criança dentro dessa nova etapa de desenvolvimento da sua vida. Mesmo vendo alguns erros na forma de questionar esses pontos da vida criança, essa parte de todo o proces-so de buscar por informações pessoais da criança trás um saldo positivo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na fase em que antecede a entrada da criança na escola, denominada como pré-escolar, a criança adere grande dependência da presença dos adultos para suprir suas necessidades básicas. Pode-se afirmar que nesse momento, o universo da criança está subdivido em dois círculos. Um de seus círculos é formado pelos pais, ou a figura afetiva mais próxi-ma dela. Essa relação criada nesse primeiro circulo é a grande propulsora para as demais, com as outras

pessoas. O outro grupo é formado pelos demais membros da sociedade, no qual se relaciona con-stantemente sem necessitar de nível de afetividade. [13] Logo, a drástica mudança para a escola, torna-se vulnerabilíssima, e o professor passa a fazer o “papel principal” dento do íntimo circulo, e seus estudos a atividade principal em sua vida. A perspectiva de uma obrigação agora faz a criança ver suas ações de outra maneira. Para ela, suas atividades, somente agora, aparentam ser verdadeiramente importante. Altera-se até a posição da criança frente ao adulto. Fazer tarefas, ter deveres a cumprir, necessidade de estudar, ações que alteram os valores do individuo. [13] “Fica clara, assim, a necessidade de considerar na investigação do desenvolvimento infantil o vínculo entre criança e sociedade, ou o lugar que a criança ocupa no sistema de relações sociais em cada mo-mento”. [14] Porém, a escola, por sua vez, deixa passar esse momento tão marcante na vida de qualquer individ-uo, sem se preocupar com as possíveis seqüelas deixadas no processo de desenvolvimento e formação final do ser. O estudo das fichas transmiti-do anteriormente deixa clara a busca por in-formações de baixa contribuição para o conhecimen-to do aluno, o que, por sua vez, deveria abrir caminhos para o auxilio. O valor dado as neces-sidades da criança, por aquele que deveria ser o grande ajudante da criança nessa fase, acaricia dificuldades, nas quais deveriam ser supridas REFERÊNCIAS [1] Costa, Adinete Sousa (2010). Desenvolvimento

da criança na educação infantil: uma proposta de acompanhamento. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas

[2] Guzzo, R. S. L. & Euzébio Filho, A. (2005). De-silgualdade social e sistema educacional brasilei-ro: a urgência da educação emancipadora.

[3] Rosseti-Ferreira, Maria Clotide , Ramon, Fabiola. & Silva, Ana Paula Silva. (2002) Políticas de Atendimento à Crianças pequenas nos países em desenvolvimento. Revista Caderno de Pesquisa, n. 115, março

[4] Becker, Fernanda da Rosa (2008). Educação Infantil no Brasil: A Perspectiva do acesso e do financiamento.

[5] Freire, Paulo (1996). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

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[6] Guzzo, Raquel Souza Lobbo , Moreira, Ana Pau-la Gomes. & Mezzalira, Adinete Sousa da Costa Mezzaria. (2011) Avaliação Psicossocial: Desafi-os para a Prática Profissional nos Contextos Ed-ucativos. Revista Avaliação Psicossocial, Volume 10, n.2. Campinas

[7] Dessen, Maria Auxiliadora & Polonia, Ana da Costa (2007). A família e a escola como contex-tos de desenvolvimento humano. Paidéia, 17 (36), pp. 21-32

[8] Facci, Marilda Gonçalves, Eidt, Nádia Mara, Tuleski, Silvana Calvo (2006). Contribuição da Teoria Histórico-Cultural para o Processo de Avaliação Psicoeducacional. Revista Psicologia USP, vol. 17, n.1

[9] Andrada, Edla Grisard Caldeira (2005). Novos Paradigmas na Prática do Psicólogo Escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica. PP 196-199

[10] Guzzo, Raquel Souza Lobbo , Moreira, Ana Pau-la Gomes. & Mezzalira, Adinete Sousa da Costa Mezzaria. (2011) Avaliação Psicossocial: Desafi-os para a Prática Profissional nos Contextos Ed-ucativos. Revista Avaliação Psicossocial, Volume 10, n.2. Campinas

[11] Vokoy, Tatiana. Pedroza, Regina Lúcia Scupira (2005) Psicologia Escolar em Reducação Infantil: Reflexão de Uma Atuação. Revista Psicologia Escolar e Educação Infantil, vol. 9, n.1 pg 95-104

[12] Bernades, Maria Eliza Mattosinho. (2010) O Método de Investigação na Psicologia Histórico-Cultural e a Pesquisa Sobre o Psiquismo Hu-mano. Revista Psicologia Política, volume 10, n.20 Julho/Dezembro

[13] Facci, M. G. D. (2004) A Periodização do Desen-volvimento Psicológico Individual na Perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. CAD. Cedes, Campinas, Vol. 24

[14] Pasqualini, J. C. (2009). A Perspectiva Histórico-Dialética da Periodização do Desenvolvimento Infantil. Revista Psicologia em Estudo, Maringá, Vol. 14 jan/mar.

[15] Rapoport, Andrea & Piccinini, C. A. (2001). O ingresso e Adaptação de Bebês e Crianças Pe-quenas à Creches: Alguns aspectos críticos. Re-vista Psicologia Reflexão e Crítica, Volume 14, PP 81-95. Abril.

[16] Rossetti-Ferreira, M. C., Amorim, K. S. & Vitória, T. (1994). A creche enquanto contexto possível de desenvolvimento da criança pequena. Revista

Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 4, 35-40.

[17] Micarello, Hilda Aparecida Linhares da Silva (2003). A Formação de Profissionais da Edu-cação Infantil: Em foco, Relação Teoria e Práti-ca. Gt: Educação da criança de 0 a 6 anos. N.07 PUC-RIO

[18] Penteado, Thaís & Guzzo, Raquel (2010). Edu-cação e Psicologia: a construção de um projeto político – pedagógico emancipador. Psicologia e Sociedade, 22 (3), 269-577