AS FONTES ENERGÉTICAS NA ATUALIDADE: O CASO DA...
Transcript of AS FONTES ENERGÉTICAS NA ATUALIDADE: O CASO DA...
1
AS FONTES ENERGÉTICAS NA ATUALIDADE: O CASO DA MAMONA (RICINUS
COMMUNIS) NO MUNICÍPIO DE IPIRÁ (BA)
Alan Souza Mascarenhas1
RESUMO
A descoberta dos combustíveis fósseis criou uma matriz energética que não é renovável, essa fonte de energia é a principal estrutura energética estabelecida e praticamente é utilizada em todo mundo. Com a preocupação do possível colapso energético desta fonte, existem meios alternativos: energias que são capazes de se renovar e que provocam menos impactos negativos – algumas delas são: a solar, eólica ou até mesmo a de biocombustíveis, sendo esta última objeto principal de estudo deste artigo, com a análise do caso do plantio de mamona (RICINUS COMMUNIS) no município de Ipirá (BA). Palavras-chave: Energia Sustentável. Ipirá-BA. Mamona.
1 INTRODUÇÃO
A radiação proveniente do Sol pode ser caracterizada como a máquina propulsora de
energia do planeta Terra - é considerada como a base da vida e qualificada como uma fonte
energética livre, sem tal fonte a sobrevivência animal ou vegetal se tornaria algo improvável.
Os vegetais captam essa energia e utilizam no processo de fotossíntese e transformam em
energia potencial, sendo produtores na cadeia alimentar. Os animais, incluindo o homem
podem consumir os próprios vegetais ou outros animais, como forma de obter a sua fonte
energética primária, ou seja, sua fonte de sobrevivência dentro da cadeia alimentar (tornando-
se assim consumidores).
Com o passar dos anos a humanidade aprendeu a utilizar energia para aprimorar os
meios de sobrevivência e tornar mais complexas atividades como a agricultura, que utilizava
como sua força motriz principal: os músculos humanos ou de outros animais, como na
trituração de grãos utilizando um instrumento chamado pilão2 ou o arado manual. Novas
1Universidade Federal da Bahia – Mestrando em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU – UFBA) – [email protected]. 2 Recipiente feito de tronco de árvore, resistente, onde se colocam grãos de cereais que devem ser triturados ou descascados por meio de um soquete de pau apropriado (mão de pilão). (LUFT, p. 520, 2000).
2
descobertas constituíram um fator de grande importância para o desenvolvimento da
sociedade, fazendo com que surgissem novos tipos de transportes, vestimentas, novos tipos de
moradia em determinados lugares do mundo até então indisponíveis, como é o caso de
ambientes com temperaturas amenas. Isso se deve em grande parte ao recurso energético
denominado de combustíveis fósseis (carvão mineral, gás natural e petróleo).
Em nosso planeta podem ser encontrados diversos tipos de fontes de energia, elas
podem ser do tipo renováveis, alternativas e esgotáveis. A energia solar eólica, maremotriz,
geotérmica e de biocombustíveis, por exemplo, podem ser classificadas como renováveis e
alternativas, por possuírem uma fonte inesgotável e constituírem uma opção às formas de
energia tradicionais como as obtidas dos combustíveis fósseis que possuem uma quantidade
limitada podendo acabar caso não haja um consumo racional.
Mesmo com tantas alternativas as mais importantes fontes energéticas utilizadas
advém dos combustíveis fósseis principalmente na forma de petróleo. Segundo Yergin apud
Vecchia (2010) o primeiro poço comercial foi perfurado pelo ferroviário Edwin Drake nos
Estados Unidos, este poço chegava apenas a pouco mais de 20m de profundidade, muito
diferente de hoje em dia em que as perfurações chegam a milhares de metros de profundidade.
Tamanho era o potencial desta energia recém-descoberta que menos de um ano depois havia
mais de mil e quinhentos poços em Titusville, Pensilvânia – EUA e em pouco mais de cinco
anos existia cerca de 540 empresas com negócios no ramo petroleiro, por exemplo, a
Pensilvânia Rock Oil Co, contando com a vantagem de a fonte energética estar próxima à
superfície.
Ainda segundo Yergin apud Vecchia (2010) o primeiro uso desse novo combustível
era como fonte de energia para lamparinas3 na forma de querosene banindo o óleo de baleia
antes utilizado. A gasolina foi utilizada um pouco mais tarde em 1896, pois funcionava bem
em motores de combustão interna, descoberta feita pelos inventores dos primeiros carros o
que criou certo alívio para a indústria petroleira da época, já que Thomas Edison havia
inventado um novo meio de iluminação urbana (a lâmpada) que substituiria as lamparinas.
3 Pequena lâmpada constituída de um recipiente com liquido apropriado (óleo, querosene, etc.), sobre o qual flutua uma rodela de madeira ou cortiça com um pavio encerado e fixo. (LUFT, p. 415, 2000).
3
Quanto ao Brasil a primeira jazida do país segundo a Petrobrás (2008) foi descoberta
em 1939 no bairro do Lobato na periferia de Salvador (BA), esse poço de acordo com
especialista da área era considerado como inviável economicamente mas, foi considerado
como marco no desenvolvimento da atividade petrolífera por contribuir para futuras
explorações.
Nesse cenário de utilização de energias advindas de combustíveis fósseis, esse artigo
tem como proposta, justamente, a discussão de uma alternativa por um meio mais sustentável:
um estudo de caso relacionado ao cultivo de mamona para biodiesel, graxa e óleo (forma de
energia renovável) que começa a ocorrer no município de Ipirá (BA), serão abordadas
questões como: tipo de produção, estágio que se encontra o projeto de cultivo, transformação
no uso da terra. Ainda são envolvidas temáticas como: a inclusão social por meio da
agricultura familiar (o plantio das matrizes para o biodiesel envolve muito desta forma)
visando à sustentabilidade ambiental e a viabilidade econômica.
2 O CASO DA MAMONA (RICINUS COMMUNIS) NO MUNICÍPIO DE IPIRÁ (BA)
O cultivo de mamona encontra-se em estágio de implantação, o que significa dizer que
existem ainda poucas plantações propriamente ditas que já deram produção (em estágio final),
estando, os produtores, em sua maioria nas intenções para o plantio desta cultura. Antes de
uma análise mais adensada é importante destacar as características gerais do município.
2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MUNICÍPIO
Ipirá localiza-se na Micro-Região Homogênea e Administrativa de Feira de Santana e
do ponto de vista econômico na região do Paraguaçu (figura 1). A população total do
município é composta por 59.343 habitantes, possuindo uma densidade demográfica de 19, 47
hab/km². (IBGE, 2011, p. 01). Possui coordenadas geográficas com latitude -12º 09’ 30’’ S e
longitude de 39º 44’ 14’’ W .O município possui uma área de 3023,659 Km², situa-se a cerca
de 206 km da capital do Estado (Salvador) e tem uma altitude média de 328m (SEI, 2011, p.
01).
4
Ipirá tem clima semiárido, que é caracterizado por irregularidade nas chuvas,
ocorrência de período chuvoso no verão geradas pela propagação da Zona de Convergência
Tropical, ocasionando muitas vezes trovoadas (chuvas convectivas fortes) (SEI, 2011, p. 01).
Para conviver com a irregularidade das chuvas a água é armazenada em açudes.
A vegetação é composta por caatinga arbórea densa com palmeiras e floresta
estacional decidual (SEI, 2011, p. 01). Como ser observado na figura 2, a sede do município
aparece ao meio da foto enquanto a esquerda e na frente a floresta estacional decidual.
FIGURA 1: Localização do Município de Ipirá (BA), 2011 Fonte: Elaborado pelo autor, 2011
FIGURA 2: Floresta estacional decidual do município de Ipirá (BA) Fonte: Trabalho de campo, 2011
5
Em relação aos aspectos sociais e econômicos, o município possui, em maior
quantidade, as culturas de batata – doce, feijão, mandioca e milho (IBGE apud SEI, 2011, p.
03), fato notável facilmente, onde são comercializados, na feira livre da cidade estes produtos.
(figura 3).
Quanto ao efetivo de animais, ainda segundo o IBGE (2009) possui asininos4,
bubalinos, equinos, galinhas, galos, frangas, frangos, pintos, muares, suínos, ganhando
destaque mesmo para os ovinos, bovinos e caprinos. Possui ainda um índice de
desenvolvimento econômico de 4995.18 e um índice de desenvolvimento social de 4970.49
correspondentes a posição 157 e 294 respectivamente, posições que não são muito relevantes,
já que a pesquisa da SEI (2006) considera um ranking com os 417 municípios que compõe o
Estado da Bahia.
2.2 A MAMONA E SUAS CARACTERÍSTICAS
A mamoneira (Ricinus communis) – figura 4 - é uma planta pertencente à família das
Euforbiáceas, a mesma da mandioca, da seringueira e do pinhão manso. É originária
provavelmente da África ou da Índia, sendo atualmente cultivada em diversos países do
4 Referente a asno. Os asininos são animais resistentes, servem tanto para tração, como para carga e sela sendo muito úteis em campo. São encontrados em diversos climas exceto em regiões muito frias. (wiktionary, 2011).
FIGURA 3: Comercialização de milho e feijão por produtores locais na feira livre de Ipirá (BA)
Fonte: Trabalho de campo, 2011
6
mundo, sendo a Índia, a China e o Brasil, nesta ordem, os maiores produtores mundiais,
responsáveis por 89% das áreas plantadas e 94% da produção (EMPRABA, 2011, p. 01).
FIGURA 4: Mamona no Município de Ipirá (BA) Fonte: Trabalho de campo, 2011
Ainda com base em conceitos obtidos pela Embrapa (2011) o principal produto da
mamoneira é seu óleo, o qual possui propriedades químicas peculiares que lhe fazem único na
natureza: trata-se do ácido graxo ricinoleico que tem larga predominância na composição do
óleo (cerca de 90%) e possui uma hidroxila (OH) o que lhe confere propriedades como alta
viscosidade, estabilidade física e química e solubilidade em álcool em baixa temperatura, o
que quer dizer que ela pode ser tanto misturada a combustíveis como o diesel ou ser utilizada
em composições como graxas, crescente no país com demostra o quadro 1.
QUADRO 1: Matriz Brasileira De Combustíveis Veiculares (%)
Fonte: Agência Nacional do Petróleo (ANP, 2009)
PRODUTOS 2007 2008 ÓLEO DIESEL 53 52,3
GASOLINA 27,2 25,4 ÁLCOOL HIDRATADO 9,1 11,8
ÁLCOOL ANIDRO 6 5,9 GNV 4,3 3,4
BIODIESEL 0,4 1,2
7
Ainda neste contexto, o óleo de mamona tem centenas de aplicações na indústria
química, sendo uma matéria prima versátil com a qual se podem fazer diversas reações dando
origem a produtos variados. Suas principais aplicações são para fabricação de graxas e
lubrificantes, mistura nos combustíveis (diesel), tintas, vernizes, espumas e materiais plásticos
para diversos fins. Derivados de óleo de mamona podem ser encontrados até em cosméticos e
produtos alimentares.
A mamona foi escolhida como uma das oleaginosas fornecedoras de matéria prima
para fabricação de biodiesel no Brasil. Tal seleção foi feita porque ela é praticamente a única
oleaginosa bem adaptada e para a qual se dispunha de tecnologia para cultivo na região
semiárida da Bahia, como é o caso do município de Ipirá, possibilitando a inclusão social de
milhares de pequenos produtores que estavam sem opções agrícolas rentáveis. Embora este
aspecto social tenha proporcionado o cultivo da mamona, essa cultura também pode ser
plantada em várias regiões do país, desde o Sul até o Norte, desde que se obedeçam a suas
exigências climáticas e receba manejo adequado.
Segundo a Petrobrás (2011) a mamona possui um período de plantio de novembro e
dezembro (plantio de verão) e abril e maio (plantio de inverno), um período de colheita de
junho a outubro (colheita da safra de verão) e setembro a novembro (colheita da safra de
inverno).
Sendo assim possui uma lavoura bianual. A colheita do primeiro ano ocorre com cerca
de 180 a 240 dias, ou seja, entre 6 e 8 meses após o plantio. A Embrapa está desenvolvendo
uma espécie com ciclo mais curto, que logo poderá ser plantada. No final da colheita pode ser
realizada a poda sem a necessidade de plantio no ano seguinte, conforme orientações e laudo
técnico de condução de lavoura. (EMBRAPA, 2011, p. 01). Dependendo das características
do plantio deve-se optar por arrancar a lavoura e plantar novamente no ano agrícola seguinte.
Segundo a Petrobrás (2011) em média, são utilizados 4 Kg de semente por hectare,
dependendo do sistema de produção adotado, são produzidas cerca de 1,5 tonelada por hectare
em cultivo de sequeiro e acima de 2,5 toneladas por hectare em cultivo irrigado. Após a
colheita dos grãos da mamona, o que sobra: as folhas, galhos e caule, esse matéria pode ser
podado ou arrancado, dependendo do trato cultural adotado. Pode ser usado como cobertura
no próprio terreno onde a cultura foi plantada. A casca da mamona ainda pode ser triturada e
8
misturada à torta 5 (obtida após esmagamento da oleaginosa) para ser usada como adubo
orgânico.
A mamona é uma das oleaginosas com maior potencial para a produção de biodiesel,
porque tem alto teor de óleo: entre 45% e 55% (é possível fazer uma comparação entre as
oleaginosas no quadro 2). O seu cultivo pode ser consorciado com a produção de amendoim,
feijão, gergelim, girassol, milho e no caso de Ipirá com a Palma.
QUADRO 2: Produção de biodiesel por espécie Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), 2009 apud VECCHIA, 2010
Alguns cuidados devem ser tomados em relação à mamona, as folhas são tóxicas, elas
não podem ser dadas aos animais, nem os grãos devem ser armazenados de qualquer forma
sendo recomendado sempre que possível manter os grãos cobertos para evitar o perigo da
degustação animal, assim de acordo com a cartilha da Petrobrás para agricultura familiar
(2008) não é feita torta para ração da mamona.
2.3 MODO DE PLANTIO E FINANCIAMENTOS
Como já mencionado no decorrer do artigo o biodiesel é um combustível feito do óleo
de plantas, como a mamona e o dendê, portanto obtido das plantas chamadas de oleaginosas.
5 A proteína restante do processo de fabricação de biodiesel, chamada de farelo ou torta, pode ser destinada ao mercado de produção de ração animal, geração de fontes de proteína animal (carne e leite) ou adubos orgânicos. (CAMPOS, et al, apud, ABRAMOVAY, 2009, pag. 105).
ESPÉCIE ORIGEM DO ÓLEO
TEOR DO ÓLEO %
MESES DE COLHEITA/ANO
Dendê/Palma Amêndoa 22 12 coco Fruto 55-60 12
babaçu Amêndoa 66 12 girassol Grão 38-48 3
Colza/ canola Grão 40-48 3 Mamona Grão 45-55 3-4
Amendoim Grão 40-43 3 Soja Grão 18 3
Algodão Grão 15 3
9
Sendo uma fonte de energia renovável, pois todo ano é possível plantar e retirar o óleo
para fazer combustível, assim o agricultor poderá vender a sua produção. A seguir será
descrito os processos para implantação de um cultivo de oleaginosa para biodiesel.
De acordo com o técnico em biodiesel que atua no município, Antônio Carlos Sena, a
Petrobrás irá comprar o óleo vegetal para operar em sua usina de biodiesel no município de
Candeias (BA), mas antes passando, no caso de Ipirá, pela fábrica de Bioóleo em Feira de
Santana (BA), onde ocorre a extração do óleo e obtenção de farelos e da tortas (exceto torta
da mamona por causa da sua toxidade), portanto a usina de Candeias irá atuar na mistura
desses óleos ao diesel ou na fabricação de lubrificantes, por exemplo.
A tentativa de implantação desta cultura no Município de Ipirá se dá através da
agricultura familiar. Todavia para tal, de acordo com a Petrobrás o produtor deve atender a
algumas exigências, ele precisa se cadastrar como fornecedor em organizações que trabalhem
com a Petrobrás, como: cooperativas, associações, Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado da Bahia (FETAG – BA), Federação dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar da Bahia (FETRAF-BA) ou ainda movimentos sociais - Movimento dos
Trabalhadores sem Terra (MST), Movimento de Luta pela Terra (MLT), Movimento de
pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
De acordo com a cartilha da Petrobrás para agricultura familiar (2008) esta firmará
contrato por escrito com as cooperativas. Quando não existirem condições para a criação de
uma, será mensurada a possibilidade de assinatura do contrato diretamente com os
agricultores familiares, onde será estabelecido as condições e os preços ajustados entre as
partes e o pagamento da produção será garantido, conforme o contrato.
A venda da produção tem como referência para negociação o preço praticado no
mercado. Por exemplo, se o preço estiver abaixo do pago pela Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB), a Petrobrás deverá pagar este preço mínimo, em 2007 o preço da
safra estabelecido era de R$ 0,56/Kg, já em 2010 de R$ 0,67/Kg. Uma segunda opção será um
pagamento de um valor, calculado pela média de preço da oleaginosa nos últimos 36 meses
anteriores ao mês de entrega do produto. De uma forma ou de outra o preço terá que ser
aprovado pelos agricultores, sindicatos ou federações.
10
O agricultor familiar poderá contar, com o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf). O objetivo do programa é financiar projetos individuais ou
coletivos, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. O
programa possui, Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), as mais baixas
taxas de juros dos financiamentos rurais, além das menores taxas de inadimplência entre os
sistemas de crédito do país.
O acesso ao Pronaf inicia-se, ainda segundo o MDA, na discussão da família sobre a
necessidade do crédito, seja ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial, seja para o
investimento em máquinas, equipamentos ou infraestrutura de produção e serviços
agropecuários ou não agropecuários.
Após a decisão de que atividade agrícola financiar, a família deve procurar o sindicato
rural ou a Emater para obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que será emitida
segundo a renda anual e as atividades exploradas, direcionando o agricultor para as linhas
específicas de crédito a que tem direito. Para os beneficiários da reforma agrária e do crédito
fundiário, o agricultor deve procurar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) ou a Unidade Técnica Estadual (UTE).
O agricultor deve estar com o CPF regularizado e livre de dívidas. As condições de
acesso ao Crédito Pronaf, formas de pagamento e taxas de juros correspondentes a cada linha
são definidas, anualmente, a cada Plano Safra da Agricultura Familiar, divulgado entre os
meses de junho e julho de cada ano.
Existe também a linha de crédito: Consolidação da Agricultura Familiar (CAF). Cujo,
propósito, segundo o Banco do Nordeste, é dar apoio financeiro a trabalhadores rurais sem-
terra (assalariados permanentes ou temporários, diaristas etc.), pequenos produtores rurais
com acesso precário à terra (arrendatários, parceiros, meeiros, posseiros etc.), proprietários de
minifúndios, assim classificados os imóveis, cuja área não alcance a dimensão da propriedade
familiar definida no Estatuto da Terra. Associações e cooperativas que agreguem as pessoas
mencionadas anteriormente. O proponente deverá dispor de renda familiar anual igual ou
inferior a R$ 15.000,00 e patrimônio familiar igual ou inferior a R$ 30.000,00.
11
Outra linha de crédito se chama Combate a Pobreza Rural (CPR), criada para atender
as famílias mais necessitadas e de menor renda, onde os recursos podem ser usados para a
aquisição da terra e em projetos de infraestrutura comunitários, segundo o MDA.
É através do Ministério do Desenvolvimento Agrário e por meio da Secretaria de
Reordenamento Agrário, que todas essas iniciativas fazem parte do Programa Nacional de
Crédito Fundiário (PNCF) que oferece condições para que os trabalhadores rurais sem terra
ou com pouca terra possam comprar um imóvel rural por meio de um financiamento. O
recurso ainda é usado na estruturação da infraestrutura, como mencionado, necessária para a
produção e assistência técnica e extensão rural. Além da terra, o agricultor pode construir sua
casa, preparar o solo, comprar implementos, ter acompanhamento técnico e o que mais for
necessário para se desenvolver de forma independente e autônoma. O financiamento pode
tanto ser individual quanto coletivo.
2.4 O CULTIVO DE MAMONA NO MUNICÍPIO DE IPIRÁ (BA)
De acordo com o técnico em biodiesel, Antônio Carlos Sena, do município de Ipirá,
(este técnico atente também outros municípios) a iniciativa do plantio de mamona se dá como
uma tentativa de resgate do que o município foi capaz de produzir no passado, onde além dos
tradicionais milho e feijão, possuía plantio de fumo, cebola, sisal, a própria mamona e em
menores quantidades de café.
Segundo sua estimativa existe a demanda que 62 famílias façam o cultivo da mamona,
principalmente nas localidades mostradas na figura 5, que representam os focos dos futuros
plantios e as áreas mais propensas para o cultivo no município.
12
FIGURA 5: Principais focos para o plantio de mamona no município de Ipirá (BA), 2011
Fonte: Elaborado pelo autor, 2011
O plantio não irá interferir em outras culturas, será em sua maioria, ligado a uma
planta com características, como o próprio técnico diz: “suporte forrageiro”, ou seja, que
serve para alimentação de animais em tempos de seca, e esta é a palma. A mamona de certa
forma irá agregar valor, pois, geralmente só se planta a palma sozinha e agora ela será
consorciada a outro produto gerador de renda.
Esta situação rebate uma das principais críticas feita ao plantio de culturas para
energia que vem da agricultura: o biodiesel é uma ameaça à segurança alimentar da população
à medida que desvia o óleo alimentar para a produção do combustível e promove a
substituição de culturas alimentares por energéticas no uso das terras (CAMPOS, et al apud
ABRAMOVAY, 2009). O plantio no município de Ipirá não provocará nenhum problema em
relação à produção de alimentos.
Diferente do que acontece com o álcool norte-americano, por exemplo, em que o
álcool é obtido através do milho, chegando a interferir na demanda por alimentos, já o
13
biodiesel brasileiro é um combustível que contribui para o aumento da oferta de alimentos. As
oleaginosas são compostas principalmente por uma parte proteica e outra de óleo. O processo
de produção de biodiesel inicia-se pela separação da proteína do óleo, sendo este último
convertido em biodiesel.
Portanto, o biodiesel não irá afetar a produção de alimentos, desde que adotado o
sistema produtivos adequado, possuindo, assim, um balanço energético positivo, ou seja,
produzindo mais energia renovável do que o gastando. O quadros a seguir mostram a
produção de biodiesel por região e o potencial brasileiro para produção de oleaginosas sem
incorporar novas áreas ocupadas, mostrando capacidade de crescimento com planejamento
ambiental.
QUADRO 3: Produção Biodiesel Por Região, 2010 Fonte: Agência Nacional do Petróleo (ANP), 2011
QUADRO 4: Potencial brasileiro para produção de oleaginosas sem a incorporação de novas áreas ocupadas
Fonte: EMBRAPA, 2009
Também foram entrevistados alguns produtores locais (6 entrevistados) do município
de Ipirá , a maioria ainda não planta a mamona, ainda estão em um nível de intenções, mas
REGIÃO VOLUME DE BIODIESEL PRODUZIDO (EM MILHÕES DE LITROS)
PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO %
Sul 173,03 43 Nordeste 122,82 31 Centro-oeste 42,71 11
Norte 37,02 9 Sudeste 26,59 7 Total 402,17 100
CULTURA PRODUTIVIDADE (l/ha)
ÁREA POTENCIAL
(MILHÕES DE l)
PRODUÇÃO POTENCIAL
(BILHÕES De l)
QUE ÁREAS SÃO ESSAS
Soja 600 20 12 20% de 100 milhões de ha
(integração agricultura-pecuária)
Girassol 1000 3 3 Safrinha em 20% da área cultivada de soja
Mamona 500 4 2 Zoneamento Agrícola do Nordeste
Dendê 4500 10 45 Reflorestamento de 16%
das áreas já desmatadas da Amazônia
14
alguns resultados preliminares e respostas muito semelhantes já podem ser descritas como:
quanto a área destina ao plantio - de uma a duas tarefas baianas ( 4.356 m²) em consórcio
com a palma (figura 6). A produção de mamona não atrapalhará as áreas destinas ao plantio
de subsistência. A produção será comprada pela Petrobrás e existe certa expectativa quanto
aos lucros.
FIGURA 6: Futuro consórcio entre a palma e a mamona no município de Ipirá (BA) Fonte: Trabalho de campo, 2011
Se o que estiver em teoria, funcione bem na prática, o cultivo poderá ser opção para os
agricultores familiares de Ipirá, aumentando sua renda sem comprometer a parte alimentar e o
comércio de outros alimentos, e o que melhor ainda produzindo uma forma de energia que se
renova e tem um grau menor de poluição do que a energia proveniente de combustíveis
fósseis.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao se ter uma visão ligada ao ambiente em que vivemos e compartilhar com a
sociedade a busca de soluções, torna-se menos complexa a determinação da direção e das
ações a serem seguidas para mudar o futuro e a postura de líderes em favor das alternativas
energéticas.
Ainda se desconhece os limites totais de tolerância da natureza, mas sabe-se que
muitos deles já foram ultrapassados e a ciência e tecnologia, em conjunto com a sociedade, é
que deverão conduzir o caminho para o futuro.
15
Mudar o rumo de uma economia baseada nos combustíveis fósseis que dominou todo
o século XX, para um novo patamar baseado em recursos renováveis que possivelmente
evoluirá no século XXI, somente será possível quando o meio ambiente e o desenvolvimento
econômico se tornarem atividades compartilhadas para um fim específico que é a
sustentabilidade.
Assim, Brasil já dá pequenos passos que pode ser um país a conseguir uma matriz
energética diferenciada, com pressupostos que possam atender aos mais variados pré-
requisitos para implantação das energias renováveis e alternativas.
O biodiesel já é uma realidade brasileira, seu uso deverá crescer muito nos próximos
anos, a exemplo do estudo de caso retratado. A agricultura familiar está ampliando a sua
participação nessa cadeia produtiva, os produtores de Ipirá (BA) começam a “engatinhar”
para este quadro, e se ocorrer como planejado, poderá vir acompanhado de desenvolvimento
social.
Fica claro também que com a ajuda de uma pessoa especializada, no caso o técnico em
biodiesel, a atividade pode ficar muito mais em “conta”, devido ao consórcio entre a mamona
e a palma. O fenômeno que começa a crescer em Ipirá, ainda está no começo, à demanda por
este tipo de energia, extraída das oleaginosas, cresce cada vez mais e é possível que
municípios como este obtenham crescimento acompanhando este processo.
A necessidade da substituição dos combustíveis derivados de fontes esgotáveis por
outros de óleos vegetais, como a mamona, faz crescer a consciência global e social para a
preservação.
É claro que falta muito o que melhorar no plano de inclusão social ligado ao biodiesel,
mas os projetos preveem economicidade e inserção social, e a esperança de um maior
investimento e melhoria para população do semiárido cresce.
Então, energias limpas e que possuam menor impacto negativo no ambiente, constitui
o grande desafio, desenvolvimento econômico e social de forma sustentável que proporcione
uma vida que atenda às necessidades no mínimo básicas.
16
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. Biocombustíveis: a energia da controvérsia. 2 ed. São Paulo: SENAC, 2009.
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO. Banco de dados. Matriz energética brasileira. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/?pg=46827&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1308104818441>. Acesso em: 01 de jun. 2011.
BIODIESELBR. Banco de dados. Biodiesel no Brasil. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.biodieselbr.com/biodiesel/brasil/biodiesel-brasil.htm>. Acesso em: 20 jun. 2011.
BRASIL. Planalto. O petróleo no Brasil. Brasília, 2011. Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/o-petroleo-no-brasil/>. Acesso em: 05 maio 2011.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. CONAB. Preços mínimos em vigor. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/detalhe.php?a=542&t=2. 2011>. Acesso em: 01 jun. 2011.
EMBRAPA. Solos do Nordeste. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.uep.cnps.embrapa.br/solos/index.php?link=ba>. Acesso em: 01 de jun. 2011.
______. A Mamona. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://www.cnpa.embrapa.br/produtos/mamona/index.html>. Acesso em: 01 de jun. 2011.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6º ed. São Paulo: ATLAS, 2010.
IBGE. Cidades@: Bahia-Ipirá. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 01 de jun. 2011.
LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20º ed. São Paulo: ÁTICA, 2000.
MDA. Crédito Rural. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/pronaf>. Acesso em: 01 de jun. 2011.
PETROBRÁS. Biocombustíveis. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/pt/energia-e-tecnologia/fontes-de-energia/biocombustiveis/>. Acesso em: 05 maio 2011.
PETROBRÁS. Petrobrás e agricultura familiar: Plantando sementes e produzindo biodiesel na Bahia. 1 ed. Salvador: PETROBRÁS, 2008.
SEI. Municípios em síntese. Salvador, 2006. Disponível em: <http://www.sei.ba.gov.br/munsintese/index.wsp?tmp.cbmun.mun=2914000>. Acesso em: 01 jun. 2011.