As Grandes Profecias - Franco Cuomo

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FRANCO CUOMO AS GRANDES Profecias Uma nova chave de leitura das mais c�lebres previs�es da hist�ria Tradu��o: GILSON B. SOARES Sum�rio 11 Mil anos em um s� dia 15 1 - F�tima, o "terceiro segredo" O sol enlouquecido de outubro. O sil�ncio dos pont�fices. Um "grande castigo" evitava. O lobo cinzento e o cruzado azul. Milingo acusa: Satan�s est� na c�ria 19 2 - A doen�a do mundo La Salette, pr�logo de F�tima. Lourdes: �guas que curam, �guas q ue convertem. A "M�e da Solid�o" 37 3 - Os seis mist�rios de Medjugorje Videntes de guerra. Uma descida ao inferno. As "horrendas verdades" de F�tima. Dez anos de tempo. Ratzinger: "Nada de espantoso" na mensagem da Virgem 49 4 - Um "le�o ruge" contra Deus O Cristo fotografado na Porta Ang�lica. A hora de Satan�s. A It�lia dos traidores e dos espi�es. "Como um menino assustado..." 57 5 - O Apocalipse de Jo�o Em comunica��o com Deus. Os sete selos. Duzentos milh�es de monstruosos cavaleiros. Miguel contra o drag�o: cr�nica de uma guerra no c�u. Novas pragas para n�o esquecer. A m�e de cada prostitui� �o. Todas as Babil�nias do mundo. O enigma dos mil anos. As for�as obscuras da alma 75 6 - Profetas falsos e aut�nticos da B�blia Do Antigo ao Novo Testamento. Serpentes venenosas contra os

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FRANCO CUOMOAS GRANDES ProfeciasUma nova chave de leitura das mais c�lebres previs�es da hist�riaTradu��o:GILSON B. SOARES

Sum�rio11 Mil anos em um s� dia15 1 - F�tima, o "terceiro segredo"O sol enlouquecido de outubro. O sil�ncio dos pont�fices. Um "grande

castigo" evitava. O lobo cinzento e o cruzado azul. Milingo acusa: Satan�s est� na c�ria19 2 - A doen�a do mundoLa Salette, pr�logo de F�tima. Lourdes: �guas que curam, �guas que convertem. A "M�e da Solid�o"37 3 - Os seis mist�rios de MedjugorjeVidentes de guerra. Uma descida ao inferno. As "horrendas verdades" de F�tima. Dez anos de tempo. Ratzinger: "Nada de espantoso" na mensagem da Virgem49 4 - Um "le�o ruge" contra DeusO Cristo fotografado na Porta Ang�lica. A hora de Satan�s. A It�lia dos traidores e dos espi�es. "Como um menino assustado..."

57 5 - O Apocalipse de Jo�oEm comunica��o com Deus. Os sete selos. Duzentos milh�es de monstruosos cavaleiros. Miguel contra o drag�o: cr�nica de uma guerra no c�u. Novas pragas para n�o esquecer. A m�e de cada prostitui��o. Todas as Babil�nias do mundo. O enigma dos mil anos. As for�as obscuras da alma75 6 - Profetas falsos e aut�nticos da B�bliaDo Antigo ao Novo Testamento. Serpentes venenosas contra os

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adivinhos. Um chacal entre as ru�nas. Pelo amor de Si�o85 7 - O dia da iraA beleza humilhada pelo fogo. Cada qual com seu apocalipse. As mulheres dos anjos93 8 - As tr�s idades do mundoOs encontros com o Messias. O calend�rio de Deus. O jardim de Al�. Gog e Magog103 9 - Os senhores das estrelas A "ci�ncia dos magos". A Torre de Babel. O livro sagrado do c�u. O olhar mal�fico113 10 - Os n�meros da Grande Pir�mide A B�blia de pedra. O "polegar polar". Os subterr�neos do apocalipse. Do "po�o do resgate" ao n�mero grego fixo Pi. O deus do "disco luminoso"123 11 - O poder invenc�vel da Sina As vontades dos deuses e as dos homens. As certezas plat�nicas sobre a Atl�ntida. Mist�rios eleusinos, dionis�acos e �rficos. Ar�spices e profecias institucionais na Roma antiga131 11 - As sibilas A Cumana, sib�la de Virg�lio e do Cristo. A P�rsica, a L�bia, a D�lfica e as outras. Eritr�ia, uma adivinha dos natal�cios controversos. Os or�culos sibilinos. Uma ponte entre a antiga e a nova religi�o. O vatic�nio da ninfa Porrina sobre a vinda de Rita de C�ssia145 13 - O crep�sculo dos deuses O apocalipse viking da Edda. O "sacrif�cio ensang�entado" do deus da inoc�ncia. O m�stico ramo de visco. A druidesa e Diocleciano153 14 - Um abade "dotado de esp�rito prof�tico" A disputa sobre o "mil�nio". Hereges e santos. A revolu��o crist� de Joaquim da Fiore. Dante, "fi�is do amor" e rosa-cruz. A obsess�o do conto �s avessas163 15 - O �ltimo papa Enquanto durar o Coliseu. Os 112 pont�fices de Malaquias. O "lenho da vida"181 16 - Apocal�pticos aureolados Francisco de Assis e o "poder dos dem�nios". Francisco de Paula, profeta da "�ltima religi�o".Santa Br�gida e o or�culo das festas cruzadas. Catarina, o cisma e o papa inibido. As "sete armas" de Catarina de Bolonha. S�ror Domenica e as "atrocidades" dos fiorentinos.

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A "atribula��o" luciferiana de Margherita da Cortona. Encontro da peregrina Hildegunda com Pedro, o Anti-pedro e o Anticristo. Os espelhos m�sticos da monja Hildegarda. O exterm�nio dos "perfeitos"199 17 - Merlin, o imortal Rumo a um caos sem retorno. Roma "agitada e sacudida". O sacrif�cio de Becket207 18 - O enigma de Nostradamus As chaves do tempo. Hitler, Hilter, Hister. Peixes el�tricos e p�ssaros a jato. O le�o cegado na jaula. As "palavras de poder". "Estando sentado � noite... As "figuras nebulosas". O novo reino de Saturno. O fim de Nova York. O ataque do Grande Camelo. Piedade por quem tem fome. Morrer "no lugar de sempre". O destino dos filhos229 19 - A grande ilus�o renascentistaParacelso entre super-homem e homunculus. Marsilio Ficino e a c�pula do mundo. O v�rus de Leonardo. Giordano Bruno: do cosmo � cat�strofe

241 20 - O excomungado, o santo, o cism�tico Savonarola, terrorista de Deus. Ferrer coroado de fogo. Os diabos de Lutero253 21 - Sonhos c�lticos O mundo de "ponta-cabe�a" de Mam�e Shipton. Uma disputa sobre o

fim dos tempos. O destino atroz de Brahan Seer. As 144 luas do monge Sean261 22 - O Aranha Negra Um "dil�vio de estrelas". Ascens�o e derrota ao "pr�ncipe negro". Uma trag�dia da auto-destrui��o. Triunfos de morte. O calend�rio da loucura humana. Sobre o fio da eternidade "entre fogo e fogo". Na espiral do "nazismo m�gico"275 23 - A monja de Dresden A grande "inquieta��o" do s�culo XXI. As tr�s pragas. Os 6.666 dias do dem�nio. Anjos e venenos. As �guas mortais de Veneza. O apocalipse direcionado287 24 - As esposas de Deus O Anticristo revolucion�rio de Jeanne La Royer A Sibila do �ltimo C�u. A vestal do santu�rio tra�do. Anna Maria dos Pont�fices. Uma

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Pomba piedosa com os pr�ncipes. As profecias "dom�sticas" de Teresa Gardi. O sonho de madre Clelia, freira menor. O Diabo no convento301 25 - A dupla profecia da "amendoeira florida" A ditadura invis�vel. A morte do "le�o enganchado". As "serpentes" de Paulo VI e o fim do papa Luciani. O furor da "foice" sobre Roma. A m�mia de Viterbo313 26 - Os arcanjos da guilhotina Os pat�bulos da Raz�o. "Sangue, sangue, sangue..." O Anticristo "m�stico"323 27 - Dom Bosco, profeta em sonho As mortes anunciadas. Os "avisos" do Senhor. Tantos "grandes funerais" na corte. Sinais de fogo. Dois plenil�nios para um "�ris de paz". "Distra��es" e vida breve dc Domenico Savio333 28 - A grande besta Aleister Crowley, "santo" de Satan�s. A lei de Aiwass, anjo guerreiro. A nova era de H�rus. A "maldi��o" de Nietzsche. Meio grama de hero�na. As sete eternidades da Blavatsky. Todos profetas no mundo novo de Steiner. Os brancos "cavaleiros" do Graal e os magos negros de Hitler. Entre Cristo e Sigfried353 29 � Profecias negras A trag�dia dos Rontanov. O or�culo de Rasputin, o nazista que viu um inc�ndio premeditado. O mago de Stalin. A vidente que reconheceu os "dem�nios" do poder. O amargo destino de Kennedy e Marilyn. O messias de Aqu�rio369 30 - Mundos perdidos O reencarnado da Atl�ntida. O "anel de fogo". A alma do mundo. A Nova Jerusal�m americana. O dia da Grande Desilus�o381 31 - A grande "viagem" de padre Pio O tormento das chagas. "Nada mais de massacres" no s�culo XXI. Vis�es de sangue: Aldo Moro e Robert Kennedy. Os "despeitos" de Satan�s. Voando sobre Gargano393 32 - F�tima al�m de F�tima O vidente do Liri. A ci�ncia al�m da f�. A economia do para�so. Os treze "segredos" de Albino. Os sinais. Como reconhecer os servidores de Satan�s. Tr�s dias de exterm�nio. Os profetas da �ltima hora

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Jamais ocorre qualquer acidente grave em uma cidade ou prov�ncia que n�o tenha sido previsto por adivinhos ou por revela��es, por prod�gios ou por outros sinais celestes.(Maquiavel, Discursos, I-56)

Mil anos em um s� dia

Do Futuro s� sabemos que ele vir�. Do presente temos um conhecimento n�o raro confuso, se n�o totalmente distorcido, j� que estamos dentro dele e que se trata de uma realidade em transforma��o, de �xitos incertos. A �nica certeza reside no passado, �nica fase realmente imut�vel da nossa exist�ncia. Podemos remov�-lo, esquec�-lo, mas n�o apag�-lo; podemos fragment�-lo, disfar��-lo, jamais modific�-lo.Contudo n�o vivemos sen�o projetados no nosso futuro. "Quase nunca

pensamos no presente", escrevia Pascal, "e, quando o fazemos, n�o � mais do que para nos dar indica��es acerca de como dispor do nosso futuro." Como o presente, inst�vel como � entre o instante que o precedeu e aquele que o seguir�, n�o possui uma identidade pr�pria reconhec�vel, no momento em que o atravessamos ele se esquiva. N�o � capaz de representar um objetivo, nem mesmo quando coincide com um resultado desejado, uma vez que no pr�prio instante no qual � obtido surge o problema do que fazer com ele no futuro, das responsabilidades que nos apresenta e dos riscos a que nos exp�e, a come�ar pelo risco de perd�-lo.Uma realidade t�o fugidia assim n�o pode fazer �s vezes de meta, mas sim de um novo ponto de partida para um projeto de vida que, por sua vez, nos surgir� consumado no seu t�rmino. E, portanto, passado e presente n�o passam de instrumentos para condicionar a �nica realidade que realmente

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nos interessa, ou seja, a futura. Assim, "n�s n�o vivemos", conclu�a Pascal, "mas esperamos viver, e se nos determinarmos sempre a ser felizes � indubit�vel que jamais o seremos, a n�o ser aspirando a uma 'beatitude

diferente' daquela da qual se pode usufruir nesta vida".Pode-se compartilhar ou menosprezar a aspira��o �quela "beatitude

diferente� de que fala o fil�sofo, mas o seu arrazoado d� uma id�ia clara das necessidades existenciais que geraram no homem a urg�ncia de conhecer, sem cessar, o pr�prio futuro, ao qual se tentou dar resposta, em

�pocas e civiliza��es diferentes, recorrendo-se a pr�ticas adivinhat�rias que �s vezes confiavam no acaso e outras vezes nos deuses.Aos adivinhos que falavam por conta pr�pria e aos sacerdotes que interpelavam os or�culos nos templos juntaram-se depois, ao longo dos s�culos, profetas designados pela vontade popular ou pela pr�pria divindade, na tradi��o b�blica -, a fim de receber as mensagens de Deus e divulg�-las. A estes �ltimos se sobrepuseram por fim, na era crist�, as manifesta��es diretas de entidades que, atrav�s de apari��es e outros eventos considerados miraculosos pelos crentes � ou talvez inexplic�veis � luz da raz�o �, comunicaram previs�es de interesse universal. Fen�menos deste g�nero foram se intensificando, em vez de rarearem, na idade moderna, provocando uma resson�ncia que alcan�ou o ponto culminante em eventos como os de F�tima e Medjugorje.Se revisarmos a hist�ria das grandes profecias que alimentaram atrav�s dos s�culos as mais indecifr�veis fantasias humanas � e continuam a alimentar at� hoje, descobriremos que correspondem a uma matriz comum, da qual brotam surpreendentes semelhan�as nos mais famosos or�culos de todas as religi�es, desde aquelas dos antigos caldeus e eg�pcios � ep�stola

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evang�lica, cor�nica e talm�dica. Sem excluir as sibilas do mundo pag�o greco-romano e os abalos cosmog�nicos da mitologia germ�nica.N�o escapam � influ�ncia deste origin�rio saber oracular alguns grandes mestres medievais e renascentistas ou da idade decididamente moderna �

como Joaquim da Fiore e Paracelso, Nostradamus, dom Bosco � que reprop�em sua subst�ncia, nem que seja atrav�s do filtro das respectivas inspira��es.Neste tecido vision�rio dominam medos ancestrais e luminosas esperan�as, destinados a se confundir em um cen�rio de morte e de regenera��o que tem sua express�o mais perfeita no Apocalipse de Jo�o, a mais complexa e inspirada profecia j� pronunciada sobre os destinos finais do homem, mas certamente n�o a �nica.Ao se tentar interpret�-las na sua chave mais acess�vel, que � aquela da advert�ncia sobre como se comportar para evitar a cat�strofe vez por outra anunciada, estas profecias aparentemente espantosas demonstrariam, na realidade, o contr�rio do quanto transparece na superf�cie; e vale dizer que o fim do mundo, embora iminente, n�o ocorrer�. � f�cil intuir a raz�o atrav�s de uma elementar decifra��o dos textos.Do outro lado, por�m, das imagens relevantes al�m do limiar herm�tico de cada or�culo � e da sua interpreta��o, que tamb�m faz parte dos objetivos desta pesquisa �, a principal inten��o do livro � a de tra�ar uma hist�ria das �grandes profecias" seguindo o fio da expectativa escatol�gica � qual todas correspondem. Com especial aten��o aos seus significados plaus�veis, ao contexto civil no qual foram expressadas, �s motiva��es que as inspiraram.

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Profecia � a revela��o ou o an�ncio de qualquer coisa, antes que aconte�a, do grego pro (antes) e phanai (falar). Referir-se a ela em tempos sucessivos

implica procurar suas correla��es hist�ricas, dada a necessidade de distinguir entre o que deveria acontecer e n�o aconteceu, o que deveria acontecer e aconteceu, e o que ainda deveria acontecer. Nesta �ltima eventualidade s�o em geral assimil�veis as profecias realmente "grandes", que, por sua natureza, acometem os destinos do g�nero humano e s�o, por isso, projetadas para um futuro indefinido, ainda remoto, segundo alguns, ou j� iminente, na vis�o de outros.Mas os tempos dos or�culos, ainda que medidos �s vezes por datas expl�citas, n�o se relacionam com o calend�rio profano, visto que na linguagem da adivinha��o um dia pode valer mil anos, como escreve o

ap�stolo Pedro, e mil anos um �nico dia. As arejadas curvas da catedral de Saint-Di�, cuja constru��o foi iniciada por volta do ano l.000.

1F�tima, o �Terceiro Segredo"

Est� de tal forma difundido e enraizado em toda a humanidade o interesse � a sugest�o, a curiosidade e tamb�m a apreens�o � pelo mist�rio ligado � profecia mais popular do nosso tempo, ou seja, a profecia de F�tima,

sempre vinculada � libera��o de um "terceiro segredo", que induziu certos guias do mundo isl�mico a reivindicar a apari��o de Nossa Senhora como pertencente ao seu pr�prio contexto religioso.Os aiatol�s iranianos sustentam de fato � e o refor�aram teimosamente em outubro de 1995, dando resson�ncia televisiva a sua reivindica��o � que

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n�o teria sido a Virgem Maria, m�e de Jesus, mas sim a santa mu�ulmana F�tima, filha de Maom� e Kadigia, esposa do m�stico guerreiro Ali,

fundador da fac��o xiita no seio da religi�o cor�nica.N�o foi por acaso, segundo o sou ponto de vista, que F�tima optou por

manifestar-se em uma localidade assinalada por seu pr�prio nome, embora situada no cora��o de um territ�rio de antiga tradi��o cat�lica. O que poderia ser interpretado, ademais, como uma tentativa de real�ar o significado universal da profecia, tal como envolver as pessoas de qualquer

cren�a.O aspecto da Senhora � como veio a ser chamada com um termo que tamb�m � sin�nimo de Madona �, para as tr�s pequenas testemunhas �s quais apareceu, poderia corresponder, por outro lado, �quele de uma piedosa mulher mu�ulmana, a cabe�a coberta e a elegante figura envolta por uma ampla t�nica.Nem se pode ignorar que o pr�prio nome da cidade de F�tima remeteria de modo veross�mil � domina��o �rabe e em especial � influ�ncia dos califas fat�midas, que descendiam justamente da filha de Maom�.A hip�tese �, por�m, inaceit�vel, devido � evidente impossibilidade de conciliar o amor da Senhora pelo g�nero humano na sua complexidade planet�ria, sem diferen�as de f� ou de doutrina, com a intransig�ncia pr�pria do fundamentalismo xiita, a ala guerreira do Isl�, que � reconhecida exatamente na estirpe de F�tima e Ali, portadora de revolu��o e de mart�rio, at� o ponto da a��o suicida no nome santo da jihad.1(1) Literalmente "empenho", ou tamb�m "esfor�o". Indica a guerra santa para a expans�o da f�, como indispens�vel dever cor�nico. (...) Matai os id�latras onde quer que os encontrardes, e fazei-os prisioneiros, e assediai-os, e esperai-os em qualquer lugar que se preste a uma embosca-

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da; mas se eles se arrependem, observam a prece e pagam o tributo para a esmola [zak�t], ent�o deixai-os partir livres, pois Al� � sumamente misericordioso e clemente." (Cor�o, sura IX, 5). Al�m, portanto, dessas fantasias temer�rias, mas merecedoras de respeito, como express�o de um sincero envolvimento espiritual nos eventos aos quais se referem, as apari��es de F�tima devem ser vistas como pertinentes � mais pura (e consolidada) tradi��o mariana.Assim afian�am as pr�prias afirma��es da protagonista, que nas suas mensagens aos tr�s pequenos portugueses se apresentou como "Cora��o Imaculado de Maria" e "Madona do Santo Ros�rio", fazendo-se preceder

por um anjo que convidava a adorar "os precios�ssimos corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo, presente em todos os tabern�culos do mundo". Palavras que tiram qualquer d�vida sobre a matriz indiscutivelmente cat�lica da qual toma forma, ainda que numa �tica de fraternidade universal, o des�gnio misterioso de F�tima e de suas profecias.O esp�rito alado tamb�m � pr�digo, como a Madona, em premoni��es e reprimendas. Apresentou-se como o Anjo da Paz e, em uma outra ocasi�o, de Portugal. Emanava uma luz clar�ssima e se equilibrava nas �rvores,

mostrando o aspecto de um rapaz de seus dezesseis anos. Serviu aos meninos um c�lice no qual gotejava sangue de uma h�stia que levitava no ar, deu-lhes a comunh�o e disse que Cristo estava "terrivelmente ofendido pela ingratid�o humana", antecipando com esta considera��o uma das mais severas advert�ncias de Maria: "E se a humanidade n�o se opuser [�

fabrica��o de armas cada vez mais poderosas] n�o poderei deter o bra�o de meu Filho."

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Famoso entre os ensinamentos do anjo � o texto de uma curta prece, tornada popular entre os crentes por sua simplicidade, que assim diz: "Meus

Deus, creio, espero, adoro e vos amo; pe�o-vos perd�o por aqueles que n�o cr�em, n�o esperam, n�o adoram e n�o vos amam."O Sol enlouquecido de outubroAs seis apari��es de F�tima, na cidade da Estremadura, a 125 km de

Lisboa,ocorreram entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917. Foram testemunhas tr�s pequenos pastores que costumavam levar seu rebanho para pastar em

uma campina chamada Cova de Iria; L�cia dos Santos, de dez anos, Francisco e Jacinta Marto, de nove e de sete. A eles se juntaram multid�es de fi�is, cuja pontual aflu�ncia se tornara poss�vel porque as vis�es correspondiam a datas exatas, o dia 13 de cada m�s.Fen�menos espetaculares, vis�veis aos milhares de devotos ou simples

curiosos reunidos no local das apari��es, aumentaram o impacto do evento. Nuvens irradiando estranhas cores sulcaram o c�u de F�tima em 13 de

agosto; dois rel�mpagos saudaram a apari��o dias depois, em 19 de agosto, n�o obstante o c�u sem nuvens. P�lidas n�voas envolveram as tr�s crian�as em 13 de setembro, enquanto uma esfera luminosa gravitava � dist�ncia e ao redor choviam p�talas brancas. Mas uma impress�o totalmente particular suscitou uma esp�cie de eclipse solar em 13 de outubro, ainda mais sensacional pelo fato de que a Senhora j� o havia anunciado em uma apari��o anterior."Em outubro operarei um milagre", tinha dito, "de modo que todos creiam."O an�ncio havia atra�do mais de cinq�enta mil pessoas, que n�o ficaram decepcionadas. O fen�meno, para justificar o que os cientistas classificaram de "aurora boreal", foi acompanhado por um movimento

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vertiginoso do sol, que pareceu a ponto de se precipitar sobre a terra, expandindo em torno uma combina��o imprevis�vel de cores. Houve p�nico entre os presentes, mas tamb�m um �mpeto indescrit�vel de f�.L�cia, a mais velha dos tr�s pastores, tornou-se em seguida freira e interlocutora dos pont�fices que se alternaram desde ent�o no trono de

Pedro. � a �nica deposit�ria direta da profecia ao aproximar-se o prazo indicado, ou seja, "antes do fim do s�culo". Francisco e Jacinta adoeceram e faleceram pouco depois, mortos talvez pela intensidade maravilhosa de eventos insuport�veis para suas pequenas e ternas almas.Francisco deixou de viver em 4 de abril de 1919, Jacinta em 20 de fevereiro de 1920. Seu fim tamb�m foi previsto.� a pr�pria Jacinta quem transmite a L�cia, antes de morrer, a previs�o recebida em outubro de 1918: "A nossa amada Senhora me visitou e disse que em breve Francisco ser� chamado ao c�u. Depois me perguntou se eu gostaria de converter ainda mais pecadores. Eu lhe disse que sim. Ent�o a Santa Virgem me avisou que deverei padecer muito em um hospital para a convers�o dos pecadores, como objeto expiat�rio para lavar os pecados contra o Cora��o Imaculado de Maria e de Jesus."Diz-lhe ainda no �ltimo encontro, quando L�cia vai visit�-la no hospital: "Maria sant�ssima me disse que serei enviada para outro hospital. N�o a verei mais, assim como n�o verei mais os meus pais. Sofrerei muito, depois morrerei. Mas n�o deverei ter medo, porque Ela estar� comigo e me levar� para o para�so." Comunica-lhe al�m disso que, ao contr�rio dela e do irm�o, L�cia viver�: "Perguntei-lhe [� Madona] se seria poss�vel voc� vir comigo, e Ela recusou."Mas L�cia j� sabia disso por ter-lhe sido transmitido diretamente pela Senhora durante a apari��o de 13 de junho. "Gostaria de pedir � Senhora

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que nos levasse para o c�u", dissera-lhe L�cia �quela ocasi�o. "Sim, virei em breve para Levar Jacinta e Francisco", havia respondido a Madona, "mas dever�s ficar aqui embaixo por mais tempo. Jesus quer usar-te para

me fazer conhecida e amada."L�cia � a �nica dos tr�s a ter dialogado com a Virgem. Francisco somente a viu; Jacinta a viu e escutou.A despedida entre as duas meninas foi penosa. "Sinto-me mal em saber que

eu e Francisco entraremos no para�so enquanto voc� permanecer� ainda um longo tempo na terra", lastimou Jacinta ao saudar a amiga pela �ltima vez. "Quando vier a guerra, n�o tenha medo. Estarei no c�u rezando por voc�."Com esta garantia comovente, cheia de ternura, L�cia e Jacinta se deram adeus, depois de j� terem se despedido de Francisco um ano antes.O Sil�ncio dos Pont�fices� a inc�gnita ligada ao desfecho do "terceiro segredo", pelas terr�veis implica��es que subentende, que mant�m desperto acima de tudo o interesse relativo aos fatos de F�tima neste nosso s�culo, que registra mais de quatrocentas apari��es marianas, com uma profus�o de mensagens confiadas a personalidades humildes ou extraordin�rias, como Gemma Galgani, na Toscana; Rosalia Put, na B�lgica; Matilde von Schonewerth e Teresa Neumann, na Alemanha; Adrienne von Speyr, na Su��a; padre Pio da Pietrelcina; o monge Boutros Mounsef, no L�bano; o anarquista convertido Bruno Cornacchiola, em Roma.Mas � realmente uma inc�gnita o "terceiro segredo", ou j� se acha revelado?O papa o deveria ter divulgado em 1960, segundo uma data solicitada ao que parece por L�cia, obedecendo � inspira��o recebida. Se ainda n�o se havia consumado na ocasi�o tudo quanto estava previsto nas duas primeiras profecias, ambas confirmar-se-iam com l�mpida fidelidade. As duas fora

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m formuladas pela Senhora na sua terceira apari��o, em 13 de junho de 1917.A primeira comunicava o iminente fim da guerra, mas prenunciava "uma outra pior", a ser iniciada "no reinado de Pio XI" (1922-1939). A segunda fazia uma exata previs�o sobre o advento j� pr�ximo do comunismo

(faltavam tr�s meses para a Revolu��o de Outubro), mas vaticinava seu fim atrav�s "da consagra��o da R�ssia ao meu Cora��o Imaculado".Mais complexa que a primeira na sua formula��o, esta segunda profecia projetava a eventualidade de um fim do mundo "por causa dos delitos da humanidade, atrav�s da guerra, da fome e das persegui��es contra a Igreja e o Santo Padre". Contra estes males a Virgem pedia gestos de repara��o, como a comunh�o dos fi�is no primeiro s�bado de cada m�s. "Se meus pedidos forem ouvidos", acrescentava, "a R�ssia se converter� e se far� a paz. Do contr�rio difundir� seus erros pelo mundo, suscitando guerras c persegui��es � Igreja. Muitos bons ser�o martirizados, o Santo Padre ter� muito sofrimento, v�rias na��es ser�o reduzidas a nada. Mas no fim meu Cora��o Imaculado triunfar�. O Santo Padre consagrar� a R�ssia a mim. Se esta se converter, um intervalo de paz ser� concedido ao mundo."E tudo isso aconteceu, seja pelo lado negativo (guerra, fome, persegui��es, aniquila��o e desaparecimento de mais na��es), seja pelo positivo (consagra��o e convers�o da R�ssia). At� mesmo o sofrimento f�sico do papa, em seguida ao atentado de 1981, � relatado no mesmo contexto divinat�rio.Depois da confirma��o de tais previs�es, come�a o tempo do "terceiro segredo", comunicado na apari��o de 13 de outubro de 1917 e sempre

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guardado nos arquivos do Vaticano, foi transcrito por L�cia em 1943, e por ela pr�pria entregue ao bispo de Leiria (em 1957), num envelope lacrado

que depois foi encaminhado ao papa. Nunca foi divulgado ao p�blico, embora indiscri��es amadurecidas nos ambientes diplom�ticos d�em cr�dito �s hip�teses de que, por decis�o de Jo�o XXIII � ou pelo seu sucessor, Paulo VI �, possa ter ca�do no conhecimento dos governantes dos Estados Unidos e da Uni�o Sovi�tica, talvez at� da Gr�-Bretanha. Provavelmente em outubro de 1962, coincidindo com a crise dos m�sseis

em Cuba, quando o mundo esteve � beira da guerra, ou pouco mais tarde,

para p�r um limite � prolifera��o nuclear.N�o � tranq�ilizadora � pelo contr�rio, aumenta a apreens�o universal mais do que seria capaz a revela��o de uma efetiva amea�a � uma

lament�vel declara��o de Jo�o Paulo II, que diz n�o considerar oportuna a divulga��o de uma mensagem na qual "se l� que os oceanos inundar�o continentes inteiros, que os homens seriam privados da vida repentinamente", ainda mais que "muitos querem saber s� por curiosidade e sensacionalismo�. Qual � ent�o, � parte o sil�ncio, a resposta frente a eventualidades t�o catastr�ficas?�Rezemos muito", recomenda o pont�fice. "Recitemos at� mesmo o santo Ros�rio." Coerente neste ponto com o esp�rito de F�tima, cujas profecias s�o espantosas pelos males que deixam entrever, mas que sempre oferecem ao mesmo tempo uma possibilidade de salva��o, de preven��o do desastre final, atrav�s do arrependimento e da prece.

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Um "grande castigo" evit�velAs indiscri��es sobre o "terceiro segredo", em todo caso, n�o se limitaram � hip�tese de que tivesse sido comunicado �s superpot�ncias. Um ano depois da crise de Cuba, em 15 de outubro de 1963, um jornalista alem�o

(Louis Emrich) afirmou estar de posse dele e o publicou no Neues Europe, de Stuttgart. Jamais houve prova, confirma��o ou desmentido de que se tratava do "segredo" aut�ntico, H� quem lhe d� cr�dito e quem o considere, em vez disso, uma fraude.Eis aqui o texto, imediatamente reproduzido na imprensa mundial, nos seus

trechos mais importantes:[...] Um grande castigo cair� sobre todo o g�nero humano, n�o hoje nem amanh�, mas na segunda metade do s�culo XX. [...] Em nenhum lugar do mundo existe ordem e Satan�s reina nos escal�es mais altos, determinando o andamento das coisas. Ele efetivamente conseguir� introduzir-se at� na alta hierarquia da Igreja; conseguir� seduzir os esp�ritos dos grandes cientistas que inventam armas com as quais ser� poss�vel destruir em poucos minutos grande parte da humanidade. Ter� em seu poder as pot�ncias que governam os povos e as incitar� a produzir enormes quantidades daquelas armas. E, se a humanidade n�o se opuser, serei obrigada a deixar livre o bra�o de meu Filho. E ent�o vereis que Deus castigar� os homens com severidade maior do que o fez com o dil�vio.

Chegar� o tempo dos tempos e o fim de todos os fins, caso a humanidade

n�o se converta; e se tudo permanecer como hoje, ou pior, ou principalmente se agravar, os grandes e poderosos ir�o perecer junto com

os pequenos e os fracos. Tamb�m para a Igreja chegar� o tempo das suas maiores prova��es: cardeais v�o se opor a cardeais, bispos a bispos. Satan�s marchar� nas suas fileiras e ocorrer�o mudan�as em Roma. Aquilo q

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ue est� p�trido cair�, e aquilo que cair n�o mais se reerguer�. A Igreja ser� ofuscada e o mundo assolado pelo terror. Tempo vir� em que nenhum rei, imperador, cardeal ou bispo esperar� aquele que ainda vir�, mas para punir segundo o des�gnio do meu Pai. Uma grande guerra ser� desencadeada na segunda metade do s�culo XX. Fogo e fuma�a cair�o do c�u, as �guas do oceano transformar-se-�o em vapor, uma onda se erguer� turbulenta e tudo afundar�. Milh�es e milh�es de homens morrer�o de hora em hora, e os que permanecerem vivos invejar�o os mortos. Para qualquer lugar que se olhe ser� ang�stia, mis�ria, ru�na em todos os pa�ses da Terra. Estais vendo? O tempo se aproxima cada vez mais e o abismo se alarga sem esperan�a. Os bons morrer�o junto com os maus, os grandes com os pequenos, os pr�ncipes da Igreja com os seus fi�is, os reinantes com os seus s�ditos. Haver� morte em toda parte por causa dos erros dos insensatos e dos guerrilheiros de Satan�s, o qual ent�o reinar� absoluto sobre o mundo...A mensagem prosseguia e conclu�a com um aceno ao renascimento dos sobreviventes, os quais, depois de terem implorado ao Pai, seriam benditos e reerguidos "como na �poca em que o mundo ainda n�o era t�o pervertido".Mas, at� mesmo diante de uma perspectiva t�o catastr�fica, a profecia deixava aberto um caminho de salva��o. Advertia, � claro, que "o fim de todos os fins" estava pr�ximo, por�m dava espa�o para uma variante defensiva, estabelecendo uma condi��o para derrotar o mal: que a humanidade se convertesse. Amea�ava com eventos apocal�pticos, mas somente "se a humanidade n�o se opuser (...) se tudo permanecer como hoje..."

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N�o havia mais que um de tais sinais na mensagem. At� o bra�o irado do Cristo podia ser parado por interven��o da M�e, sempre que a humanidade fizesse por merecer. O pr�prio Sat� podia ser derrotado se os l�deres dos povos se submetessem �s diretrizes celestes.Todo o corpo prof�tico de F�tima, afinal, se articula neste mecanismo de perspectivas contrapostas. Continuamente s�o encontrados vest�gios n�o apenas nas seis apari��es centrais, mas em cada outra forma de contato

estabelecido � tamb�m sucessivamente � entre a Senhora e seus tr�s pequenos interlocutores. Quereis oferecer-vos a Deus para exercitar as pr�ticas de repara��o � pergunta a Senhora �s tr�s crian�as no primeiro encontro, em 13 de maio -, expiar todos os pecados com os quais Ele � ofendido e solicitar a convers�o dos pecadores?- Sim, queremos.- Devereis sofrer muito, mas a gra�a de Deus ser� a vossa for�a.Com este pacto se acertam as condi��es para que, atrav�s do sofrimento dos tr�s inocentes e daqueles que os imitarem, sejam resgatados os males

do mundo e conjurado o castigo.Um dia, surge aos olhos das tr�s crian�as a vis�o do inferno: urros, l�grimas e estridor de dentes, como rezam as Escrituras.- Vistes aonde v�o acabar as almas dos pobres pecadores? � pergunta a

Senhora depois que a cena atroz � dissolvida. � Para salv�-los, o Senhor quer estabelecer no mundo a devo��o ao meu Cora��o Imaculado. Se for feito aquilo que vos direi, muitas almas se salvar�o e haver� paz.Em torno desta sucess�o de "se" gravita o senso terr�vel das profecias de

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F�tima, que exatamente por isso n�o devem ser interpretadas segundo um ponto de vista irremediavelmente catastr�fico. O que vale tamb�m para aquele tem�vel �terceiro segredo", uma vez que n�o h� previs�o que se possa ler em separado do corpo prof�tico ao qual pertence.O lobo cinzento e o cruzado azulSobre o mist�rio de F�tima introduziram-se fantasias com freq��ncia distorcidas, mimadas por elucubra��es de fundo milenarista que justificam os mais artificiosos teoremas. N�o podiam faltar, pelo atentado repentino

ao papa em 13 de maio de 1981, anivers�rio da primeira apari��o de

F�tima, dedu��es tendentes a procurar motivos ligados ao fundamentalismo isl�mico. Veio complicar o cen�rio um segundo atentado no mesmo anivers�rio, 13 de maio de 1982, e exatamente em F�tima, pela m�o de um padre espanhol que por acaso foi ordenado sacerdote pelo bispo dissidente Lefebvre.� f�cil ceder � tenta��o de ligar um atentado ao outro, como sinal da coincid�ncia entre integralismos conflitantes, por�m, convergentes nos

seus objetivos extremos: o isl�mico, representado pelo "lobo cinzento" turco Ali Agca, e o cat�lico, personificado pelo padre Juan Fern�ndez Khron, ligado ao movimento tradicionalista do "ex�rcito azul de F�tima". Mas, pelo comportamento e pelo desvario de ambos, fica mais a impress�o de que, al�m de certas coincid�ncias superficiais, os dois autores de atentados n�o t�m condi��es de representar ningu�m mais sen�o a si mesmos.Ambos colocam a verdade oculta de F�tima no centro de seus pr�prios

des�gnios, arvorando-se em porta-vozes de uma abstrata exig�ncia de se

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conhecer o �terceiro segredo". Ap�s ter sido preso, Khron divulga uma

esp�cie de proclama��o na qual solicita ao Vaticano � e � s�ror L�cia � a imediata revela��o da profecia. Ali Agca, por seu turno, afirma em suas recentes mem�rias que "Deus havia ordenado por meio da Madona que aquela mensagem deveria ser impreterivelmente anunciada no ano de 1960", lamentando que se pudesse chegar ao ponto de "calar, bloquear a mensagem do Eterno, onipotente, criador, dominador do universo".Neste ponto a confus�o � grande. Ali Agca contesta, inclusive, os sinais exteriores do catolicismo como a Capela Sistina, que, segundo ele, "ridiculariza a id�ia do Ju�zo Final" de maneira id�latra, e preconiza o advento do M�di, o novo Mestre isl�mico que "vir� para o fim do mundo" a fim de instaurar o imp�rio de Al�, embora se fa�a fiador da vontade do Deus crist�o, que transmite ordens pela voz da Madona.Mas tudo isso n�o pode causar tanto espanto, caso se leve em conta as coisas por ele ditas na audi�ncia de 28 de maio de 1985, quando, diante do tribunal que o julgava, declarou, com a maior naturalidade: "O atentado ao papa est� ligado ao terceiro segredo de F�tima. Em nome do Deus onipotente, eu anuncio o fim do mundo. Eu sou Jesus Cristo, o Verbo encarnado e reencarnado... Todos podem dizer que sou um louco, mas reflitam: o papa foi at� minha cela e definiu o nosso encontro como maravilhoso, excepcional, da vontade de Deus..."E eis Jo�o Paulo II transformado por Ali Agca, ap�s ter sido definido por ele como "comandante dos cruzados [contra o Isl�] camuflado em l�der religioso", em interlocutor privilegiado para um di�logo que, por mais que tenha flu�do, girou em torno da id�ia crist� do perd�o.O roteiro n�o simplifica nem explica tais contradi��es � mais decorativas que substanciais � de coincid�ncias, press�gios e surpreendentes casualidades ligadas ao des�gnio homicida contra o papa na �tica de F�tima.At� o nome do lugar de nascimento de Ali Agca, pelo modo como soa em

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italiano, evoca desoladoras perspectivas de sofrimento: Malatia [doen�a].

Dele emerge, como um v�rus homicida, o "lobo cinzento". E impelido por for�as obscuras, que alimentam nele a presun��o de ser o M�di ou Jesus ou, mais modestamente, "um anjo em forma humana", como grita aos jornalistas na audi�ncia de leitura da senten�a de pris�o perp�tua, em 29 de mar�o de 1986. V� sinais e press�gios em toda parte. Para ele � um sinal que sua irm� se chame F�tima e que tenha nascido em 1960, ano da revela��o frustrada. � um sinal tamb�m que a primeira pessoa a bloque�-lo na Pra�a de S�o Pedro, depois de ter atirado no papa, tivesse sido uma

freira chamada L�cia, como a vidente que preserva o segredo em um convento portugu�s. � um sinal que na noite anterior ao atentado tivesse dormido no Hotel Isa, visto que Isa em �rabe significa Jesus. "Que fato singular", se permite escrever, "partir do Hotel Jesus para ir disparar contra o l�der da religi�o de Jesus." Um anjo portador de not�cias prof�ticas em todas as religi�es, sobre vitrais da catedral de Bruges, s�culo XIII.

Mas, al�m do vazio que se esconde por tr�s de todos esses matizes por si s�s, insignificantes, caso se queira ler os atentados contra o papa em rela��o � F�tima, isto deve ser colocado no contexto prof�tico das apari��es. Que o papa teria muito a sofrer foi dito textualmente pela Senhora na parte j� anotada de sua mensagem, onde prenunciava tamb�m a consagra��o da R�ssia.Seguindo-se, portanto, literalmente as previs�es transcritas por s�ror L�cia, o sofrimento do papa devia � ou ao menos podia � estar ligado ao fim do

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comunismo em termos de causa-efeito.Agca e Khron foram, portanto, segundo esta �tica, instrumentos da profecia. Se depois relacionarmos as ocorr�ncias do pontificado de Jo�o Paulo II com o decl�nio e o esfacelamento do imp�rio sovi�tico, ent�o o foram de forma mais ampla, incidindo sobre um processo hist�rico de dimens�es de �poca.O "lobo cinzento" entendeu isso perfeitamente, e � esta, n�o obstante os tons exaltados nos quais a exprime, sua �nica intui��o verdadeiramente grande: "Eis o atentado ao papa, uma das causas que determinar�o o colapso do imp�rio sovi�tico e do comunismo internacional. (...) Serei eu a provocar, com o atentado ao papa, o inc�ndio da floresta stalinista, que ser� queimada e destru�da em poucos anos."Atribui sua a��o a solicita��es indecifr�veis, dificilmente cab�veis em par�metros humanos. N�o foi ele quem decidiu: "os 'misteriosos' decidiram por mim", diz. Deve ao est�mulo deles o fato de ter assumido o papel hist�rico que, em fun��o do mist�rio de F�tima, ele assumiu.Seja como for, o papa Wojtyla o reconheceu, dando-lhe uma medalha comemorativa das apari��es e do atentado: de um lado est�o as tr�s crian�as aos p�s da Virgem e a data 14 de maio de 1917; do outro lado a ef�gie do pont�fice e a data 13 de maio de 1981.No d�cimo anivers�rio do atentado, o pont�fice ofertou � Senhora, como prova de amor e agradecimento, o proj�til que o tinha atravessado. Encontra-se agora em F�tima aquele fragmento de chumbo que deveria t�-lo matado, engastado como uma gema entre as pedras do m�stico diadema de Maria. � inquietante que, �s acusa��es de Agca e de Khron contra a hierarquia do Vaticano pelo sil�ncio sobre o "terceiro segredo", tenham se juntado recentemente as do cardeal africano Emanuel Milingo, que por sua

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forma��o carism�tica de certo exerce influ�ncia sobre amplas camadas de fi�is.Para Milingo, a c�ria romana estaria infiltrada por for�as sat�nicas, que colocariam obst�culos � divulga��o da profecia. Mais explicitamente, sequazes do dem�nio estariam entre os altos prelados, ativamente empenhados em impedir que a mensagem da Virgem possa chegar ao seu destino, ou seja, ao conhecimento da humanidade.Al�m de ser famoso por suas missas de cura, no decorrer das quais registraram-se fen�menos considerados prodigiosos por milhares de devotos, Milingo patrocina encargos de alta responsabilidade religiosa e tamb�m social, na qualidade de adido � secretaria vaticana para a imigra��o. � arcebispo de Lusaka e muito amado pelos cat�licos que se identificam com a religiosidade espetacular, capaz de produzir efeitos vis�veis, an�logos �queles proporcionados pelos milagres descritos nos Evangelhos. Tudo isso confere �s suas afirma��es um peso particularmente dram�tico, j� que prov�m de uma voz digna de cr�dito no seio da

cristandade, bem distante da loucura criminosa de Agca e Khron.Milingo � tamb�m famoso por seus exorcismos, o que lhe confere uma

particular "compet�ncia", se assim se pode dizer, em quest�es demon�acas. Por um lado, aquilo que diz parecer coincidir com as prof�ticas advert�ncias da Senhora, nas quais h� claras refer�ncias � intromiss�o de Satan�s no seio da alta hierarquia eclesi�stica, que por isso ser� dividida por contrastes irremedi�veis. Por outro lado, por�m, deve-se levar em conta que em tais profecias o papa est� acima de qualquer suspeita e � apontado como uma v�tima, jamais como c�mplice, da iniq�idade geral.Portanto, n�o havendo d�vidas sobre o fato de que o "terceiro segredo"

esteja guardado numa caixa-forte � qual somente t�m acesso o papa e seus

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assessores de confian�a, e qualquer refer�ncia � influ�ncia de poderes sat�nicos sobre a decis�o de torn�-lo p�blico (decis�o que compete exclusivamente ao pont�fice) carece totalmente de fundamento. Contrariamente, n�o carece de fundamento, sendo coerente com a profecia, a afirma��o de que outros expoentes da hierarquia vaticana podem estar ligados a tais poderes. O que � espantoso, de qualquer modo, mas n�o h� nada que se possa fazer quanto � divulga��o sonegada da profecia.O efeito demolidor da acusa��o lan�ada por Milingo (em 23 de novembro de 1996, durante um congresso internacional sobre o tema "F�tima 2000: a paz mundial e o Cora��o Imaculado de Maria") ganhou for�a pelo fato de o monsenhor Martin Malachi, ex-secret�rio do cardeal Augustin Bea, ter sa�do em campo nos Estados Unidos para endoss�-la. Bea esteve ao lado de Jo�o XXIII no momento em que este abriu o envelope contendo o texto da profecia que acabara de chegar de Portugal, em 1957. Foi o primeiro, portanto, a v�-la junto com o papa e compartilhar a decis�o de n�o divulg�-la.N�o � um detalhe desprez�vel que a ades�o de Malachi ao ponto de vista de Milingo tenha sido expressa atrav�s da revista Fatima Crusader, ligada �s fac��es extremistas do integralismo cat�lico, particularmente ativas nas duas Am�ricas. Nela surge um teorema, indemonstr�vel na sua complexidade, por�m sobrecarregado de ind�cios que reconduzem ao atentado de Khron, ao citado "ex�rcito azul de F�tima" e, em sentido mais geral, ao fundamentalismo lefebvriano. 2A Doen�a do Mundo"J� revelei isto em La Salette, �s crian�as M�lanie e Maximin. Hoj

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e o repito a ti." Tal frase, inserida no texto ap�crifo do "terceiro segredo" de F�tima, fornece uma chave �til de leitura comparada para as profecias de origem mariana.De fato, a refer�ncia � apari��o anterior em La Salette (19 de setembro de 1846, tamb�m testemunhada naquela ocasi�o por dois pequenos pastores: M�lanie Calvat e Maximm Giraud, de quinze e onze anos) induz a real�ar algo mais do que uma simples rela��o entre as diversas mensagens atribu�das � Madona, que se fundem ligadas por uma esp�cie de conseq�encialidade, gra�as � qual talvez seja poss�vel retomar o fio.Em outras palavras, pode-se tentar, retrocedendo a F�tima atrav�s de Lourdes, La Salette e outros encontros at� agora registrados (997, do s�culo 1 at� hoje, dos quais 367 com crian�as), tra�ar uma esp�cie de anamnese do dom prof�tico mariano no seu vocabul�rio e no seu conte�do, para dizer como chegou at� n�s.La Salette, pr�logo de F�timaEm La Salette a Senhora antecipa a mensagem apocal�ptica de F�tima, impondo as mesmas condi��es para que a cat�strofe seja evitada: prece e expia��o. O vocabul�rio � id�ntico: "Se as pessoas n�o se converterem, serei obrigada a deixar livre o bra�o de meu Filho�. Id�nticos s�o os infort�nios preconizados: "Muitas grandes cidades ser�o queimadas e quase destru�das, outras engolidas por terremotos. (...) Os justos muito sofrer�o. (...) Um precursor do Anticristo far� sua apari��o. (...) Roma perder� a f� e tornar-se-� a sede do Anticristo."Totalmente similares s�o, por fim, as perspectivas referentes � disposi��o ordenada dos planetas, destinados a um transtorno sem igual: "As esta�ï¿

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½es mudar�o, bem como o clima. A �gua e o fogo provocar�o terremotos terr�veis e grandes destrui��es; montanhas e cidades cair�o. As Estrelas e a Lua n�o ter�o mais a for�a para resplandecer (...) os dem�nios do ar produzir�o fen�menos prodigiosos no c�u e sobre a terra."A profecia de La Salette, todavia, mesmo afetando, como a profecia posterior de F�tima, o destino de todo o g�nero humano, se dilui em um di�logo de tom minimalista com os camponeses locais, aos quais fornece

previs�es agr�colas, desastrosas mas circunscritas � assim pareceria � aos seus campos: "Se a colheita se perde, a culpa � vossa. Mostrei isto o ano passado com as batatas, mas n�o levastes em conta. Mas sim, quando deparastes com os danos, blasfemastes contra o nome de meu Filho. Continuar�o a apodrecer este ano. No Natal j� n�o haver� mais. Se tiverdes trigo, n�o o semeeis. O trigo semeado ser� comido pelos insetos, e aquele que vingar acabar� em p� quando for debulhado. Sobrevir� uma grande escassez. (...) As nozes mofar�o e a uva apodrecer�."Vale para esta escassez de �mbito local aquilo que se disse para a guerra e para as mais espantosas cat�strofes planet�rias. Ela pode ser prevenida � pode-se definitivamente inverter a tend�ncia dos eventos e transmutar a desgra�a temida em um triunfo de prosperidade, mas sob uma condi��o: "Se vos converterdes, ent�o as pedras e as rochas transformar-se-�o em fartura de trigo e as batatas nascer�o espontaneamente, nos campos."O tom da exorta��o � prece � materno, pleno de ternura, indulgente. A Virgem pergunta afetuosamente, em dialeto: "Dizeis a vossa prece, filhos meus?" E logo depois acrescenta: "Ah, filhos meus, deveis diz�-la bem, de manh� e � noite. Quando n�o tiverdes tempo, rezai ao menos um pai-nosso

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e uma ave-maria, Quando puderdes, rezai a mais."N�o deve causar espanto esta extrema elasticidade dos tons, �s vezes severos outras vezes clementes, definitivamente af�veis, que resultam dos testemunhos daqueles aos quais a M�e de Deus apareceria. A Madona comunica-se e mostra-se nas modalidades mais d�spares, afirmam os especialistas marianos, segundo a mentalidade e a sensibilidade dos interlocutores pr�-escolhidos, adaptando-se aos costumes do lugar, � l�ngua, aos h�bitos e ao n�vel cultural.� mulher de cor ou de pele branca, de cabelos louros ou negros, festiva ou chorosa, menina ou amadurecida, ensang�entada ou radiosa, em conformidade com o que as circunst�ncias sugerem, mas h� um denominador comum em todas as imagens que a Senhora prop�e de si: a sua beleza, sempre recoberta de uma dulc�ssima piedade para com aqueles aos quais se dirige. � uma entidade sobrenatural que se manifesta como considera mais conveniente, com a inten��o, prevalecente sobre qualquer outra, de assegurar uma recep��o correta da mensagem na sua verdadeira ess�ncia.

As sete dores da Virgem Maria em um entalhe em madeira do s�culo XVI.

Tamb�m os trajes s�o mut�veis, correspondendo, como a linguagem, aos usos e particularidades da �poca, do territ�rio, da vicissitude na qual a apari��o se verifica. Mut�veis s�o do mesmo modo as cores e os efeitos luminosos que acompanham a vis�o, correspondentes a uma simbologia de f�cil interpreta��o, funcional como qualquer outro detalhe do fen�meno para ilustrar os significados profundos.Lourdes: �guas que curam, �guas que convertem

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Al�m de profetizar sobre os destinos da humanidade � e sobre aqueles

mais restritos dos lavradores locais �, a Virgem de La Salette estabelece uma esp�cie de nexo divinat�rio com futuras apari��es. Comunica a M�lanie uma data precisa � 1858, ano de Lourdes � at� a qual evitar� divulgar o terr�vel segredo do qual se tornou deposit�ria.� como subentender que dentro cm breve o "testemunho" desta mensageira sacra passar� para outra mocinha, tamb�m ela paup�rrima, al�m de doente e totalmente carente de instru��o.Bernardette Subirous, de catorze anos, encontrar� a Senhora em uma esqu�lida (e mal-afamada) gruta da periferia de Lourdes, em 11 de fevereiro de 1858. Comer� o capim entre as pedras como uma cabra, far� brotar uma fonte cavando a terra com as m�os nuas, cair� em �xtases maravilhosos ou assombrosos. Ouvir� horrendas vozes infernais c suav�ssimas notas celestiais. A Madona revelar-lhe-� em dialeto que � a Immaculada Councepciou.Na sua ignor�ncia primitiva, Bernardette n�o podia saber o que era a Imaculada Concei��o. Foi perguntar ao p�roco, e este negou-se a esclarecer qualquer d�vida acerca de sua f�. Foi tratada igualmente como louca por muitos anos e humilhada de todas as maneiras pelas irm�s do convento para o qual se retirou.A Senhora tamb�m revelou "segredos" a Bernardette, entre os quais uma

prece de misteriosos poderes, que n�o deveria ser divulgada. Mas no itiner�rio prof�tico das apari��es marianas, Lourdes representa algo diferente de F�tima e La Salette, encontros caracterizados por uma preponderante tens�o divinat�ria. Assinala, outrossim, o momento taumat�rgico da miseric�rdia divina, pronto a privilegiar a cura do corpo em sentido simultaneamente piedoso e ilustrativo, como nos Evangelhos, onde o milagre reunia o duplo objetivo de curar o doente e de gerar o estupor no �nimo dos incr�us, predispondo-os � convers�o.As �guas de Lourdes curam e convertem. Ao seu apelo se deve o afluxo d

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e dois milh�es de peregrinos por ano. H� muitos doentes entre eles, mas

tamb�m curiosos e c�ticos. Dentre os �ltimos as convers�es s�o freq�entes, provocadas n�o raro por terem presenciado curas cientificamente inexplic�veis.No extraordin�rio poder curativo desta fonte brotada de modo tamb�m

inexplic�vel, ao toque de dedos movidos por inspira��o m�stica, reside o verdade no segredo de Lourdes.Neste sentido, � sintom�tica a exorta��o dirigida a Bernardette pela Senhora na sexta apari��o, em 21 de fevereiro: "Reza pelo mundo doente."Ela nunca havia usado, nem usar� nas subseq�entes apari��es, uma express�o do g�nero. � uma met�fora a ser lida em significado mais amplo, entende-se, mas n�o deve ser subestimada a efic�cia puramente figurativa do termo.A "M�e da Solid�o"Refer�ncias precisas �s profecias de F�tima e La Salette continuam a surgir no arco das apari��es que se sucedem na segunda metade do s�culo XIX e no in�cio do XX. Confirmam-no as revela��es confiadas a M�lanie e Maximin, antecipam-no aquelas sobre as quais dar�o testemunho L�cia, Jacinta e Francisco.Especialmente em La Fraudais, no departamento do Loire, a vidente Marie Julie Jahenny � protagonista desde 1873 at� 1941, ano de sua morte, de fen�menos ext�ticos ligados � paix�o de Cristo (cicatrizes, chagas da flagela��o, lividez por liga��o pelos pulsos e, por fim, o sinal de um m�stico anel nupcial no dedo), no decorrer dos quais "v�" os mesmos cen�rios de morte descritos nas mensagens de F�tima e La Salette. Os s

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eus sil�ncios induzem um outro grande estigmatizado, padre Pio, a dizer sobre ela que "� como uma violeta na sombra, � espera de resplandecer na luz da verdade".No hospital de Lyon, em 1882, comparecendo por dezenove vezes � cabeceira de uma jovem mulher chamada Anne Marie Coste, que sofre de tuberculose �ssea, a Senhora (apresentada como "M�e da Solid�o") enuncia uma senten�a j� proferida: "Se a humanidade n�o se converter, n�o posso mais deter a m�o de meu Filho, j� por demais paciente."Repete a mesma coisa cm 1884 em Diemoz, nos Alpes franceses: a interlocutora, Marie Louise Nerbollier, 27 anos, recebe as cicatrizes. Torna-se ela tamb�m promotora do culto da "M�e da Solid�o".Muitas outras profecias sobre a guerra iminente, sobre revolu��es e sobre males provocados pela degenera��o da humanidade se sucedem entre La Salette e F�tima: em 1848, na cidade de Obermauerbach, Alemanha, uma Madona vestida de rosa e com v�u branco chora porque n�o pode mais

"impedir, a puni��o de Deus"; em 1850, em Lichen, na Pol�nia dividida entre a Pr�ssia e a R�ssia, anuncia que um dia "os povos do mundo se espantar�o ao constatar que a sua esperan�a de paz depender� da Pol�nia" (e assim se viu); em 1859, em Green Bay, EUA, exorta uma vidente a realizar prod�gios para que os americanos "aprendam a amar Jesus" (a Guerra de Secess�o � iminente); em 1867, em Kirchdorf, �ustria, repete que "se a humanidade ainda resistir � convers�o haver� uma grande

desola��o e muitas desgra�as" (assinala que "muitos raios cair�o do c�u e muitas casas ser�o tomadas pelas chamas"); em 1871, em Pontmain, cidadezinha francesa prestes a ser ocupada pelos prussianos, exorta os habitantes a n�o fugir, pois uma interven��o divina os proteger� ("Rezai", diz, "meu Filho se deixa enternecer", e na mesma noite o ex�rcito prussia

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no batia em retirada).Em 1876, na Alemanha, nas imedia��es de Trier, repete-se a mesma situa��o de Lourdes: Maria aparece para tr�s crian�as de oito anos declarando ser a Imaculada Concei��o, termo incompreens�vel para os pequenos videntes, que confirma � como no caso de Bernardette � a autenticidade da vis�o. Brota ent�o no lugar uma fonte, � qual afinem muitos doentes que obt�m curas prodigiosas. A Senhora se separa das crian�as anunciando que retornar� "em �pocas de perigo e de amea�a".No mesmo ano em Pellevoisin, Fran�a, confia a uma dona-de-casa chamada Stella Faguette uma mensagem prof�tica, na qual exprime entre

outras coisas o seu lamento pelos futuros sofrimentos daquele pa�s: "A fran�a sofrer�", diz, "apesar de eu ter feito muito por ela." Como em La Salette, em F�tima, e em tantas outras ocasi�es, insiste em afirmar que o primeiro rem�dio contra tal amea�a � "a convers�o dos pecadores".Em 1896, cerca de cinq�enta eruditos c algumas freiras tornam-se portadores de uma tr�gica profecia para a cidadezinha francesa de Tilly-sur-Sculles. A Virgem prenuncia a destrui��o de Tilly, e o vatic�nio � acompanhado de espetaculares fen�menos celestes, como ocorrer�o em F�tima.A pequena cidade ser� arrasada durante a Segunda Guerra Mundial.Premoni��es exatas da grande guerra dar-se-�o mais uma vez na Fran�a em 1909, em Gray, durante uma missa, e em Alzonne, em 1913, diante de quinhentas pessoas. Ainda em Alzonne, em 1921, � renovada a profecia de F�tima sobre o segundo conflito mundial.Interven��es simultaneamente prof�ticas e protetoras causar�o estupor na long�nqua China, durante a feroz Revolta dos Boxers. Muitos cat�licos, ocidentais e chineses, ser�o perseguidos e mortos, com freq��ncia d

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e modo atroz, no decorrer daquela insurrei��o motivada pela urg�ncia quase

m�stica de preservar o que restava do Imp�rio Celestial da contamina��o estrangeira. MARIAVIRCOMINESTER DE TEMPVLOCEROSATE Um antigo testemunho do culto de Maria sobre pedra tumular do s�culo V, achada em Saint-Maximin, na Proven�a.Como que evocada pela afli��o dos fi�is, a Virgem aparecer� tr�s vezes naquele ano de 1900, diante de numerosas testemunhas: uma vez no c�u de Pequim, em companhia do anjo guerreiro Miguel; depois em Tong-Lu e em

San-Tai-Dse, cidades amea�adas pelos rebeldes.Nesta �ltima verificou-se um caso de lacrima��o, interpretado por seus habitantes como sinal da vontade divina em proteg�-los contra a seita xen�foba, agora a ponto de demolir as defesas ocidentais. Era fun��o disso, foi dado �s l�grimas o sentido de uma premoni��o sobre a iminente derrota dos Boxers.Tomando conhecimento do fato, estes ficaram, de tal forma impressionados, que encerraram o ass�dio e se retiraram. Pouco depois, foram dispersados pelo corpo expedicion�rio europeu, que retomou o controle de todo o territ�rio chin�s.

5Os Seis Mist�rios de MedjugorjeAo aproximar-se o ano 2.000, as apari��es marianas intensificaram-se desmesuradamente e adquiriram uma realidade predominantemente prof�tica. Seu n�mero cresceu a ponto de fazer com que cerca da metade das manifesta��es de que se tem not�cia desde o in�cio da era crist� aos nossos dias (isto �, 455 de 997) fosse registrada no s�culo XX.

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Quase todas, al�m disso, voltam a propor, com varia��es m�nimas, as profecias de F�tima e La Salette.Uma profecia espec�fica sobre o in�cio da Segunda Guerra Mundial, a

curto prazo, deu-se a 15 de setembro de 1938 na �rea rural da Bretanha, onde uma jovem mulher que ordenhava vacas (Jeanne-Louise Ramonet, de vinte anos, natural de K�rizinen) teve a primeira de muitas vis�es marianas, que se sucederam por anos. A Senhora comunicou-lhe que uma nova guerra estava �s portas e acrescentou melancolicamente: "Eu a retardarei por alguns meses, porque n�o posso ficar surda �s preces pela paz que neste momento me s�o dirigidas, l� em Lourdes."A tens�o mundial era grave, e muitos haviam recebido as anteriores exorta��es Marianas � prece. Hitler j� anexara a �ustria e exatamente naqueles dias obtinha a cess�o dos Sudetos com os acordos de Munique.Maria conseguiu "deter o bra�o de seu Filho, como j� o dissera em outras ocasi�es, por um ano: em 1�. de setembro de 1939 o Reich invadia a Pol�nia, provocando a interven��o tardia da fran�a e da Inglaterra.

Referia-se tamb�m � Segunda Guerra Mundial a imagem da "luz do sol obscurecida pelas nuvens da batalha desencadeada pelo maligno", preconizada em 1925, pela vidente alem� Anna Henle, paral�tica e estigmatizada desde os sete anos de idade. Disse ter recebido a visita da Senhora de La Salette, que a exortava a rezar prometendo-lhe que depois do escurecimento o sol tornaria "a iluminar o mundo na presen�a de Deus".Videntes de guerraAs vis�es prof�ticas se multiplicaram nos anos da guerra, e nem sempre foram de tom catastr�fico, mas portadoras muitas vezes de esperan�a. Em Dublin, em setembro de 1939, nos primeiros dias do conflito, uma mulher quase cega "viu" a Madona, com o Menino nos bra�os, pisando um drag�o infernal. "Nada a temer", disse-lhe a Senhora, "a guerra n�o alcan�ar� a Irlanda." Como de fato aconteceu.Em Bauxi�res, na Fran�a, foram recebidas mensagens com as quais a

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Virgem explicava que a trag�dia devia ser atribu�da �s blasf�mias dos homens, sem prever, por�m, qualquer arrependimento, uma vez que nos anos seguintes � disse Maria � o fervor religioso seria ainda mais reduzido. Diminuiria o afluxo dos fi�is � missa dominical, acrescenta, e o rito do matrim�nio perderia a antiga sacralidadc. Mas isso s� aconteceria depois da guerra, o que significava que o massacre atroz devia acabar: n�o era o fim do mundo.O conflito em curso e a �nsia de avistar seu fim n�o desviaram, contudo, a aten��o dos videntes das perspectivas apocal�pticas de fim de mil�nio. Em 1941, em Lauquiniz, Espanha, a Senhora aparece vestida de preto � cor ins�lita nas manifesta��es marianas, densa de press�gios l�gubres � anunciando que num dia n�o muito distante "ver-se-� reluzir uma grande cruz no c�u e a justi�a divina descer� sobre o mundo". Naquele dia "um vento uivante se elevar� sobre toda a terra, e muitos morrer�o de terror".Nesta ocasi�o renovou suas advert�ncias, fazendo uma refer�ncia acurada �s profecias que continuavam sem ser ouvidas, "J� apareci em diversos lugares do mundo", disse, "mas ainda s�o poucos os que cr�em em mim."Coube a uma empregada holandesa chamada Ida Pederman, mulher de vida

aparentemente melanc�lica, mas destinada a passar por uma das mais intensas experi�ncias m�sticas deste s�culo sob a orienta��o do dominicano Frehe, testemunha de muitas de suas vis�es, receber em 25 de mar�o, em Amsterd�, a profecia mais esperada: "Vejo cair cruzes gamadas..."O an�ncio do fim da guerra num momento em que a Alemanha parecia evidentemente derrotada (o pa�s assinar� a rendi��o em 18 de maio) n�o seria � primeira vista t�o excepcional. Todos podiam ver que as cruzes

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gamadas ca�am por toda parte na Europa. Mas a vis�o de Ida Pederman � muito mais complexa do que parece, pois se articula numa grande variedade de indica��es simb�licas para lan�ar a disposi��o futura do mundo nos mais imprevis�veis desdobramentos pol�ticos e religiosos.Ida Pederman viu, simultaneamente � queda das su�sticas, estrelas que

desapareciam. Viu mais adiante uma pomba negra voar embora do Vaticano e uma branca chegar. Maria tomou-lhe a m�o e conduziu-a pelo

jardim sobrenatural da Jerusal�m Celeste, onde est� "a verdadeira justi�a, que precisa ser reencontrada caso n�o se queira perder o mundo novamente . Viu por fim a Madona desaparecer, na �ltima vis�o de 1958, e apresentar no seu lugar uma hist�ria sangrenta sobre um c�lice que transbordava ao se encher, inundando a terra.Pode-se interpretar as estrelas desaparecidas do c�u como sinal do iminente desaparecimento de na��es de antiga tradi��o religiosa, como as rep�blicas b�lticas anexadas � Uni�o Sovi�tica. No revezamento das duas pombas sobre a Igreja pode-se, em vez disso, colher o sentido da renova��o destinada a surgir do Conc�lio Vaticano II: a pomba negra leva embora consigo o antigo esp�rito religioso, a branca introduz o novo. � a pr�priaVirgem quem fornece esta chave de interpreta��o, dizendo � vidente que ocorre entre os fi�is "uma nova educa��o, mais alinhada com o tempo, mais social�.Quanto ao sangue que transborda do c�lice sobre a terra, n�o � aquele tr�gico das carnificinas, mas sim o sangue redentor do Cristo. Te�logos e exegetas do simbolismo religioso concordam, ao interpretar esta imagem, que ela � fruto de uma �tica salvadora, como sinal de regenera��o para a

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humanidade atrav�s do rito da Eucaristia. � o mito portentoso do Graal que sobrevive na moderna simbologia vision�ria: o sangue que transborda da

ta�a da m�stica ceia � vacina e rem�dio contra qualquer mal para todos aqueles que se deixam inundar.A vis�o de Ida Pederman era, por outro lado, acompanhada pelo eco de uma voz m�scula que assim ressoava, sem qualquer equ�voco: "Quem me come e me bebe recebe a vida eterna e o verdadeiro Esp�rito."A Senhora apresentou-se � vidente holandesa como "M�e de todos os povos", uma denomina��o em harmonia com a urg�ncia universalmente sentida, depois dos horrores da guerra, de solidariedade internacional.Uma Descida ao InfernoCom o p�s-guerra retornam as mensagens que reconduzem de maneira mais direta � tradi��o apocal�ptica de F�tima e La Salette.Em 1947, em Montichiari, Lombardia, a Madona aparece durante uma fun��o na catedral e diz: "Jesus n�o pode mais suportar as ofensas graves. Queria mandar um castigo sobre a terra. Mas eu", prossegue, repetindo uma

express�o recorrente em diversas apari��es anteriores, "contive sua m�o e ainda obtive miseric�rdia."Sua interlocutora � Pierina Gilli, uma enfermeira do hospital de Montichiari que j� havia sido protagonista de fen�menos ocultos. Recebera inclusive a visita noturna de dem�nios que a espancaram violentamente, recobrindo-a de hematomas. Para escapar, foi obrigada a refugiar-se junto �s freiras do hospital onde trabalhava. Naquela assustadora circunst�ncia, teve uma vis�o do inferno.Era um lugar superpovoado, conforme relatou depois, de padres negligentes aos seus votos: "A primeira fileira de amaldi�oados � formada pelas almas consagradas dos religiosos que tra�ram sua profiss�o, a segunda daqueles que morreram em pecado mortal, a terceira pelos sacerdotes de Judas..."

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Vinte anos depois, em 17 de abril de 1966, sempre atrav�s de Pierina, a Senhora enriquecer� de significados os fen�menos de Montichiari, criando uma analogia com Lourdes. Ordenar� � mulher que se dirija �s imedia��es da gruta de Fontanelle, um pouco distante do centro habitado, onde existe uma nascente, e lhe dir�: "Meu Filho � pleno de amor e enviou-me a este lugar para tornar a fonte taumat�rgica." Note-se que a linguagem difere daquela que usou com Bernardette. Maria emprega o adjetivo "taumat�rgica", que a pequena vidente francesa, na sua ignor�ncia, jamais compreenderia, enquanto Pierina, pela sua experi�ncia em assuntos sanit�rios, tem condi��es de interpretar corretamente. "Desejo que os doentes e todos os meus filhos possam vir a esta fonte miraculosa", dir�, al�m disso, "mas dize aos fi�is que desejo tamb�m a devo��o deles ao Sant�ssimo Sacramento, para que v�o primeiro � igreja honrar o meu filho divino e agradecer a Ele por tanta gra�a e miseric�rdia."� a dial�tica de F�tima, que tende a solicitar ao povo de Deus, a prece como pressuposto da gra�a. Quer se trate de curar, como neste caso, quer

de escapar ao flagelo punitivo final. Tamb�m com F�tima, tal como com Lourdes, a Senhora de Montichiari estabelecer� um nexo, algumas semanas depois, aparecendo em um campo de trigo no dia de Corpus Christi, em 9 de junho. "Quero que este trigo", dir� a Pierina, �chegue em muitas h�stias a Roma, e de l� a F�tima, em 13 de outubro."

A harmonia geom�trica e espiritual da arquitetura religiosa medieval: interior da catedral de Soissons, s�culo XIII.

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Assim, entre prod�gios, gra�as e profecias que se entrela�am, a rede dos fen�menos marianos se adensa com a aproxima��o do novo mil�nio, tendendo a traduzir todas as coisas ditas pela Madona em uma �nica mensagem. Que pode aparecer no seu complexo repetitivo, por�m tinge-se cada vez mais de milenarismo no encurtar do tempo."Quando todos os homens adquirirem f� no meu poder haver� paz", diz a Virgem em um bosque perto de Pfaffenhofen, Alemanha, em 25 de abril de

1946. Esta mensagem, comenta o bispo, "sintetiza quase tudo o que foi dito

nas apari��es precedentes".A Senhora dir� a mesma coisa em Turzovka, na Tchecoslov�quia, no ver�o de 1958: "Se as na��es se converterem a Deus viver�o sobre a terra em paz, felicidade, harmonia e beleza." Dirige-se � uma guarda-florestal, que depois das primeiras apari��es ser� internada em um manic�mio pelas autoridades comunistas. Mensagem id�ntica ser� recebida em Saigon em 1963 pelas freiras de um convento no qual a Madona se manifesta mais vezes: "Deus quer doar-vos a paz, mas somente se praticardes a prece e o amor ao pr�ximo."

As "horrendas verdades" de F�timaVez por outra, tem-se a impress�o de que a Madona, ao lastimar-se pela escassa influ�ncia exercida sobre a humanidade por suas mensagens, leva em conta a revela��o sonegada do "terceiro segredo" de F�tima. Significativo no seu amargor desolado, aparece em tal sentido aquilo que a Virgem confia � pequena vidente napolitana Teresa Musco, de oito anos,

acometida de uma doen�a terr�vel, em 30 de setembro de 1951: "Apareci em Portugal, em Lourdes, em La Salette, onde deixei minhas mensagens, mas quase ningu�m me deu ouvidos. (...) Agora te falarei do terceiro mist�rio de F�tima. As autoridades eclesi�sticas querem reserv�-lo s� para

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elas, ningu�m quer assumir a responsabilidade de torn�-lo p�blico antes da vinda de Paulo VI. [...] O atual papa n�o ousa divulg�-lo porque o mist�rio cont�m verdades horrendas!�A �poca o trono de Pedro era ocupado por Pio XII. Depois dele, tornar-se-ia papa, em 1958, o cardeal Roncalli, sob o nome de Jo�o XXIII. Este s� em 1963 seria sucedido pelo cardeal Montini, nomeado Paulo VI, e a pequena Teresa n�o poderia saber disso.A Senhora renova em termos mais destacados a advert�ncia sobre as conseq��ncias desastrosas da indiferen�a humana em Heroldsbach, na Alemanha, a 31 de outubro de 1952. Tem como interlocutores quatro mocinhas entre doze e treze anos, �s quais j� apareceu v�rias vezes. "N�o quiseram ouvir minha vontade nem a de meu Filho", diz a elas. "Agora �

tarde demais para que a humanidade se converta."Deixa, por�m, uma esperan�a, embora em forma de ultimato: Este � o �ltimo apelo que dirigimos aos homens." Mas um apelo, ainda que o �ltimo, representa uma possibilidade de salva��o para quem sabe acolh�-lo.As vis�es de Heroldsbach foram acompanhadas de fen�menos �ticos singulares, como o surgimento de uma coroa de rosas (segundo alguns da pr�pria Virgem, com o Menino nos bra�os, em torno do sol. Espetacular foi a descri��o que as mocinhas fizeram do �ltimo encontro, no decorrer do qual Maria foi precedida por um cortejo de anjos e v�rios santos. Entre estes reconheceram Teresa de Lisieux, Bernardette, Gemma Galgani e Ant�nio de P�dua.O apelo repetiu-se mais vezes nos anos que se seguiram, em tom de ultimato severo, dilu�do por�m por uma piedade que sempre induz a Senhora a sugerir meios de escape."A jarra est� cheia, a �gua transborda", diz a Madona na aldeia espanhola de Garaband�l, em 18 de junho de 1965, a Conchita Gonz�les, uma jovem

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de quinze anos que, junto com tr�s outras jovens da mesma idade, tinha vis�es desde 1961.Lamenta que uma de suas mensagens precedentes (sempre em Garaband�l, datada de 18 de outubro de 1961) n�o tenha sido acolhida, e por isso se despede dizendo: "Esta � minha �ltima reprimenda neste lugar."A compaix�o, por�m, prevalece, na dureza da despedida: "Devereis de fato preocupar-vos para que a ira divina n�o desabe sobre v�s. Se implorardes o perd�o com sinceridade de alma, v�s o tereis. (...) Amo-vos muito e n�o quero a vossa maldi��o. Chegamos �s �ltimas advert�ncias...�Depois de cinco anos de uma altern�ncia de �xtases e horrores, verifica��es acuradas do estado f�sico e mental das quatro jovens, confrontos sobre not�cias por elas divulgadas em torno de fatos que n�o podiam conhecer objetivamente, os acontecimentos de Garaband�l foram

definidos por Paulo VI como "a segunda estada de Maria sobre a terra, a hist�ria mais bela j� escrita da encarna��o de Cristo".Conchita e suas amigas puderam ver, al�m da Virgem, os pr�prios anjos zeladores. Um deles "aparentava cerca de nove anos e irradiava uma poderosa luminosidade; tinha os olhos negros, a pele morena e cachos louros; envergava um traje azul comprido e trazia �s costas halos reluzentes de colora��o rosa-claro".Mas viram tamb�m coisas tremendas, que o arcanjo Miguel lhes mostrou

na noite de 19 de junho de 1962, e que se recusaram depois a contar. Conchita gritou, em transe: "� terr�vel! N�o, n�o escreverei isto!"

Outras testemunhas relatam ter ouvido ecos apavorantes e vozes humanas. Foram apanhadas no tumulto das frases excitadas que ressoaram como lamentos: "Fazei morrer primeiro as crian�as pequenas! Dai �s pessoas o tempo para se confessarem!"As mocinhas, em l�grimas depois da vis�o, n�o quiseram falar com ningu�m.- Vimos o fim dos tempos - limitaram-se a dizer mais tarde, � Foi terr�vel,

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como se f�ssemos postas na fogueira.Uma profecia an�loga foi colhida na B�lgica por um senhor muito equilibrado, o funcion�rio belga Leon Theunis, de 44 anos. A Madona apareceu-lhe em 1967, durante suas f�rias nas Ardenas, e depois na igreja de Mortsel, onde ele vivia."Os habitantes sobre a terra ser�o aniquilados", disse Maria. "S� uns poucos sobreviver�o. (...) As cidades ser�o abandonadas, as funda��es da terra abaladas."Ela falou tamb�m em Akita, Jap�o, em 1973, de um grande "castigo" em prepara��o para toda a humanidade. Quem recebeu a profecia foi uma

monja japonesa chamada Sagarawa Katsuko, tratada pelas outras irm�s de s�ror In�s."A ira de Deus contra o mundo est� agora acesa", disse Maria, contrapondo, por�m, a esta amea�a sua vontade de salvar de qualquer modo o g�nero humano: "Tento junto a meu Filho mitigar a c�lera do Pai celeste. Por isso me mostrei com tanta freq��ncia no mundo."Em uma apari��o posterior, Sagarawa descobriu (e transcreveu) de que teor seria o castigo que estava nos planos de Deus se a humanidade n�o se redimisse: "(...) Uma puni��o mais dura que o dil�vio universal, uma puni��o como jamais houve at� aqui. N�o h� d�vidas quanto a isso. O fogo cair� do c�u e muitos homens morrer�o, inclusive padres e devotos. E os sobreviventes sofrer�o a ponto de invejar os mortos."Al�m do significado geral, a profecia relata tamb�m, como bem evidencia a �ltima frase, aquilo que j� fora dito em F�tima. E mais uma vez o cen�rio mal�fico � mitigado por uma estrat�gia de amor. Maria recomenda como "�nico meio de defesa� a recita��o do Ros�rio e o sinal-da-cruz. Existe, portanto, a possibilidade de salva��o. E ela, a M�e de Deus, mostra-se decidida a exercer todo o seu poder, sobre os homens e seu Filho, para

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que isso aconte�a."Se for necess�rio, aparecerei em cada casa", dir� em 1981 em Medjugorje.Dez anos de tempoForam confiadas aos videntes de Medjugorje (seis jovens entre quinze e vinte anos: Manja Pavlovic, Jakov Colo, Mirjana e Ivan Dragevic, Ivanka e

Vicka Ivankovic) seis profecias, uma para cada um deles. Acompanhadas de uma ordem rigorosa, jamais adotada antes de forma t�o radical: n�o as revelar, nem sequer aos padres e ao pr�prio pont�fice, sen�o na �poca devida.Sobre estes seis segredos sabe-se apenas que dizem respeito ao futuro da Igreja e de toda a humanidade, ao culto de Maria e a eventos ligados � vida dos deposit�rios.A eles a Virgem, apresentada como "Rainha da Paz", disse tamb�m alguma coisa de significativo sobre a maneira de discernir as falsas profecias das aut�nticas."As verdadeiras", disse Maria, "duram no tempo; as outras s�o esquecidas. Manifesto-me quando assim deseja meu Filho. O mundo diz que apareci outras vezes, mas em certos casos � por interesse ou fantasia. A verdade est� em Lourdes, em F�tima, em Garanband�l, cm Medjurgorje, em

Roma..."Al�m disso, op�s-se ao h�bito difundido de interpretar suas previs�es sob uma �tica assustadora, mesmo quando aparentemente prenunciam cat�strofes: "As pessoas t�m necessidade de f�, n�o de temores" (28 de junho de 1981).� uma nova possibilidade de leitura das mensagens apocal�pticas, procurando e privilegiando nelas os elementos capazes de neutralizar o castigo, mediante a observ�ncia das condi��es impostas pela vontade divina, n�o apenas em termos de expia��o, e sim de f�, atribuindo � prece um valor festivo.Neste sentido, o prod�gio de Medjugorje representa uma aut�ntica epifa

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nia da evolu��o da tradi��o prof�tica mariana.� um sinal que redimensiona a profunda derrota sentida pelo homem frente � pr�pria perversidade insan�vel, determinando uma verdadeira e singular reviravolta. Perdem assim credibilidade aquelas mensagens subseq�entes

que, prescindindo disso, insistem em propor atrozes solu��es finais.O que n�o � v�lido para limitar sua prolifera��o. Muitas foram registradas a partir de ent�o, e a tend�ncia foi sua ascens�o no intervalo de tempo que separou estes eventos da chegada do ano 2000.Em Marpingen, Alemanha, uma profecia de tom ins�lito pela sua dureza foi coletada por um campon�s em 1983. As palavras atribu�das � Madona s�o repletas de ressentimento ("Minha mensagem foi deturpada e caiu no

rid�culo..."), recrimina��o ("Mostrei-vos o inferno com os pecadores perdidos eternamente, fiz com que v�sseis o maior de todos os milagres, o prod�gio do sol...�), reprova��o ("Os pecados de hoje superam todos aqueles do passado pela sua gravidade. [...] Triunfa somente a escravid�o

do v�cio, o �dio, o descontentamento, o lit�gio, a inveja, a avidez, o livre amor dos sentidos..."), amea�a ("Desgra�a e guerra de caracter�sticas desmesuradas vos surpreender�o..."), ma, sobretudo, carentes de miseric�rdia, pois n�o deixam vias de escape: "Vossos pecados suscitaram a ira de Deus e provocaram duas guerras mundiais. (...) N�o vos espanteis se ocorrerem outras cat�strofes. (...) Foi-vos concedido muito tempo para

reden��o e melhora. N�o servir�, n�o ter� mais sentido apelar no momento da desgra�a: 'Senhor, Senhor!...'"Pecados demais, pecadores demais pelo mundo. � uma intera��o que

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submete a esperan�a a uma dura prova. A mensagem � repetida a 28 de mar�o de 1984 em Jall-el-Dib, nos arredores de Beirute, um territ�rio j� devastado pela viol�ncia end�mica. � coletada por uma jovem cujo nome soa tamb�m como uma premoni��o, Joana d'Arc Farage, de dezoito anos, tal como a "donzela de Orl�ans". O indefect�vel an�ncio de um castigo catastr�fico, por�m, faz-se acompanhar de m�ltiplas sugest�es para evit�-lo: exerc�cios espirituais, eucaristia, recita��o do Ros�rio, vida devota e amig�vel nas rela��es com o pr�ximo. Representa��o popular da crucifica��o com elementos simb�licos, como a palmeira despeda�ada e os muros da Jerusal�m terrena.Apari��es e profecias de conte�do an�logo se entrela�am na mesma ocasi�o entre Pol�nia, Burundi, Hungria, Estados Unidos, Argentina, Canad�, Egito e outras regi�es de cada continente. No ver�o de 1985, por fim, a Virgem relan�a o seu ultimato (desta vez da Irlanda, em um santu�rio pouco distante do convento cisterciense de Mont Melleray), fixando um prazo exato: "O mundo tem dez anos de tempo para se converter � se n�o quiser enfrentar a ira de Deus. Os fi�is de Melleray descobrem em que pode consistir esta ira atrav�s de uma espantosa vis�o, no decorrer da qual alguns meninos assistem a uma

esp�cie de novo dil�vio universal, com afogamentos em massa e barcos afundados por mar�s irresist�veis."Quero que caiba ao povo irland�s difundir minha mensagem pelo mundo", diz a Madona, explicando a escolha com o seu amor pela Irlanda, terra devota, que merece ser poupada. "Deus est� contente com a Irlanda. A Irlanda ser� salva..." Mas reservar

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tal esperan�a s� para a Irlanda contrasta com a miseric�rdia de Maria, M�e generosa dos povos e Rainha da Paz. Assim, a certa altura, num �mpeto de amor, dramatiza: "Se as pessoas rezarem e se converterem, Deus salvar� o mundo e a Irlanda."Deixa entender, portanto, que p�s debaixo do seu manto todos os pecadores da terra. � o rigor de F�tima que se dilui no esp�rito de Medjugorje.Ratzinger: "Nada de espantoso" na mensagem da VirgemVem afian�ar a interpreta��o salvadora das profecias marianas, com

particular aten��o ao "terceiro segredo" de F�tima, uma recente entrevista do cardeal Joseph Ratzinger, diretor da Congrega��o para a Doutrina e a F�, ao jornalista alem�o Peter Seewald.O cardeal, apontado como "o �nico a conhecer a mensagem de s�ror L�cia junto com o papa", disse que ela n�o esconde nada de particularmente "perturbador" em rela��o �s verdades anunciadas pela Igreja Cat�lica, confirmando o que j� havia defendido em outras ocasi�es, ou seja, que as profecias de F�tima voltam a propor aquilo que Jesus afirma nos Evangelhos: "Se n�o vos converterdes, todos perecereis"Ratzinger especificou que o "terceiro segredo" � a �nica profecia ainda

mantida nos arquivos secretos daquilo que j� foi o Santo Of�cio. Depois desmentiu indiretamente a autenticidade do texto � �poca divulgado, afirmando que at� ent�o "n�o mais que tr�s ou quatro pessoas" tiveram conhecimento dele. Por isso definiu como conclus�es despidas de fundamento os boatos acerca do temido an�ncio da terceira guerra mundial.Ao ser perguntado se a leitura do segredo o tinha perturbado, o cardeal respondeu com um seco "n�o". Acrescentou inclusive que o texto n�o anuncia cat�strofes iminentes e que, ao l�-lo, n�o se viu "diante de nada particularmente espantoso".

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Finalmente, bateu mais uma vez na tecla de que a comunica��o transcrita por s�ror L�cia "n�o vai de modo algum al�m daquilo que est� contido na mensagem crist� enquanto tal".As palavras de Ratzinger, por mais tranq�ilizadoras que sejam na superf�cie, correm o risco de aumentar a inquieta��o provocada nos fi�is pelo veto � divulga��o da mensagem mariana. Aquilo que o cardeal diz contrasta de forma surpreendente com o parecer a seu tempo expressado por Jo�o Paulo II sobre a �poca inoportuna para divulgar o "terceiro segredo", devido ao seu apavorante conte�do.N�o se trata de cortina de fuma�a, mas sim de refer�ncias expl�citas ao que a Virgem teria anunciado: o papa fala de inunda��es oce�nicas e homens arrancados "repentinamente" da vida, o cardeal exclui qualquer refer�ncia a cat�strofes iminentes. A resposta sobre quem diz a verdade est� nos arquivos do Vaticano.

4Um le�o ruge contra Deus

�Com l�grimas no cora��o conclamo todos � ora��o. Chegou a hora do Apocalipse." � um dos 195 "apelos" atribu�dos a Jesus Cristo (e transcritos entre 8 de setembro de 1987 e 23 de outubro de 1988 em Roma) pela freira queniana Anna Hadija Ali, junto ao monsenhor Emmanuel Milingo.S�ror Anna protagonizou fen�menos que causaram sensa��o em 1994 ap�s a publica��o de um pormenorizado relat�rio, recheado de fotos � garantem � de Jesus, que lhe teria aparecido muitas vezes, confiando-lhe mensagens sobre um j� pr�ximo futuro da humanidade.As apari��es teriam ocorrido nos arredores da Porta Ang�lica, junto aos aposentos de monsenhor Milingo, pelo qual Anna teria sido curada anteriormente (desde pequena sofria de misteriosos sangramentos) e depois

consagrada na Ordem das Filhas de Jesus, por ele fundada.

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Contribuiu para creditar como plaus�veis as revela��es de s�ror Anna a complexidade dos conceitos teol�gicos expostos, voltados para a proposi��o de uma "retomada do culto eucaristial tradicional". A jovem queniana (que contava 23 anos � �poca das primeiras apari��es) de fato possui cultura limitada, tendo interrompido os estudos por motivo de sa�de, sem terminar o curso secund�rio.� interessante destacar que s�o recorrentes no seu caso, como no de F�tima, nebulosas refer�ncias � cultura isl�mica. Anna � na realidade filha de pai mu�ulmano e m�e cat�lica. No pref�cio do livro, ela agradece amorosamente a ambos.Com extrema cautela, o arcebispo Milingo declara "n�o atribuir a nada mais que nossa f� humana os eventos extraordin�rios narrados no livro que cont�m revela��es transmitidas � s�ror Anna Ali"; e, para evitar equ�vocos, acrescenta n�o ser sequer adepto da id�ia de subtrair-se ao julgamento

definitivo da Igreja, � qual se submeter� "incondicionalmente".

O Cristo fotografado na Porta Ang�licaAnna n�o fotografou a apari��o por iniciativa pr�pria, mas sim por sugest�o dos seus superiores, ap�s ter comunicado a eles aquilo que acontecia em seu quarto na Porta Ang�lica. Causa profunda impress�o, contudo, a r�gida semelhan�a do retrato com outras imagens consideradas sobrenaturais do Cristo, e em especial com uma foto batida na Palestina em

1876 � a fotografia mais antiga do g�nero �, hoje conservada nos arquivos do Vaticano. O que h� de certo � que se trata da mesma pessoa, se n�o exatamente do mesmo retrato, o que poderia constituir, segundo o ponto de vista no qual se baseia, uma prova a sustentar ou negar a autenticidade da foto. Mas n�o nos cabe estabelecer tal fato. Vejamos, em

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vez disso, em que termos a freira descreve, durante uma conversa com o padre Mbukanma, a entidade que se manifestou como Filho de Deus:� Veio com a sua luz, envolto em um esplendor azul profundo como o c�u. Sua presen�a iluminava todo o lugar. Vestia uma t�nica vermelha cor de sangue, com mangas folgadas. Os cabelos eram escuros e cintilantes.- O que disse Ele quando voc� o viu?- Deu-me uma mensagem e, a Seu pedido expresso, comecei a escrever aquilo que me dizia.- Que atitude Ele assumiu enquanto falava?- Falava-me com uma voz repleta de piedade, e sempre faz assim quando me aparece [a entrevista � de 9 de setembro de 1991]. Fala-me como se fosse um mendigo.- A que horas Ele lhe apareceu?- Por volta das duas, tr�s da madrugada.- Ele ainda lhe aparece? A que horas?- Entre duas e tr�s e meia. Na quarta-feira por volta da meia-noite, na quinta, nas primeiras horas da manh�.- Nunca apareceu de dia?- N�o.- Com quem vem?- Sempre me aparece sozinho.- Quando aparece, Jesus tem o aspecto de um ser humano normal?- � um ser humano. Mas � diferente. Diante de Sua santidade a gente se sente miser�vel... � um homem de estatura mediana. N�o � poss�vel descrev�-lo. Em Sua presen�a emudecemos, nos sentimos perdidos.- Quando lhe aparece est� triste, gentil, s�rio, feliz?- Quando passa as mensagens tem uma voz repleta de piedade, portanto �

triste, mas � uma tristeza de amor. �s vezes chora l�grimas de sangue.- Por que chora?- Est� muito magoado pelo modo como � tratado por aqueles a quem Ele confiou as almas. Alguns O insultam durante a eucaristia e O querem destruir exatamente naquela s�... Est� triste tamb�m por causa da vida espiritual dos seus consagrados...- Como voc� se sentiu na primeira vez em que viu Jesus?

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- � dif�cil explicar. Senti-me num estado de torpor.- E quando Jesus se foi? Teve medo ou se sentiu feliz?- Continuei a pensar Nele. Nem triste nem contente. Pensava. � Jesus ainda lhe aparece? Em quais dias?- Ainda aparece. �s quintas-feiras � noite.- O que lhe diz a cada vez?- Ele me pede com freq��ncia para rezar por aqueles aos quais confiou as almas: os padres.- Quanto tempo dura a conversa?- N�o saberia dizer. Quando est� aqui me vejo envolvida por Sua santidade, e quando se vai demoro um pouco a voltar a mim. N�o estou em condi��es de explicar melhor.A hora de Satan�sA profecia apocal�ptica de Porta Ang�lica centra-se sobre a hip�tese de uma cat�strofe an�loga � prenunciada pela Madona nas apari��es de F�tima e La Salette. Por ser muito rigorosa, por�m, Jesus pretende evit�-la e para isso pede a colabora��o daqueles que, de outro modo, seriam implicados: "Preparai-vos todos, bons e maus, adultos e crian�as, padres e freiras, toda a humanidade. Eu amo a todos, e concedo-vos tempo. (...) N�o quero que ningu�m pere�a. (...) Amo a humanidade e desejo derramar minha piedade no cora��o dos homens. (...) Eu espero, a minha piedade � imensa. (...)" (mensagens de 29 de outubro de 1987 e de 31 de mar�o de 1988).Sua inten��o salvadora esbarra, entretanto, com uma situa��o t�o degradada que Ele pr�prio encontra dificuldade para govern�-la."Sou crucificado e insultado, blasfemado e renegado, e ainda assim continuo a amar. (...) Derramo l�grimas de sangue sobre a humanidade. Como um mendigo, pe�o medita��o e consola��o do mal. (...)"

Mas o apelo at� hoje n�o surte efeito, lamenta o Cristo: "A humanidade me trai como Judas e leva as almas a seguir amores culpados como o dinheiro,

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at� � perdi��o. Satan�s enegreceu os esp�ritos que j� se haviam revoltado contra si mesmos. O mal se contorce como uma serpente monstruosa que inconscientemente envolve as almas. (...) E a hora de Satan�s. (...) O dem�nio aprisionou as almas" (8 de setembro de 1987).O dom�nio infernal n�o se limita nem mesmo � humanidade profana. O diabo infiltrou-se, como de resto haviam antecipado as mais congelantes profecias marianas, no pr�prio seio da Igreja. Misturando-se aos padres, "est� fazendo de tudo at� que seja abolido o sacrif�cio da missa".A profecia reproduz com certa fidelidade o escrito ap�crifo do "terceiro segredo", que com estes confrontos recupera uma parcial plausibilidade. "Ocorrer�o grandes porfias", diz Jesus a s�ror Anna. "Cardeais contra cardeais, bispos contra bispos. Satan�s caminhar� entre as suas fileiras

como em um bando de lobos esfomeados. Mudan�as ocorrer�o. (...) O que estiver corrompido perecer� e n�o mais retornar� � luz" (24 de setembro de 1987).Sobrev�m, portanto, "a hora do perigo". A mensagem adverte com apreens�o expl�cita que "o primeiro golpe est� pr�ximo� e que "o t�nue fio que separa o mundo do abismo est� por despeda�ar-se�. Em torno, "tudo est� silencioso, im�vel como se o Onipotente n�o existisse". Do seu canto, "a justi�a divina est� pronta para agir". Quando?� o pr�prio Cristo quem pergunta: "Ser� dentro de alguns meses? Ou um ano?" A tarefa � de "tal forma dif�cil" que tenta dar uma resposta a si mesmo. Deve admitir que "somente o Pai Eterno o sabe�.Mas, se desconhece quando se dar�, o filho sabe muito bem qual ser� o castigo, se ele n�o puder ser evitado: "Um fogo imprevisto descer� sobre toda a terra. Grande parte da humanidade ser� destru�da. [18 de setembro de 1987] (...) Ser� um tempo de desespero para os �mpios. Ir�o me implorar com gritos e blasf�mias sat�nicas para recobri-los com as montanhas, fugir�o para buscar ref�gio nas cavernas, mas em v�o. (...) No c�u

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aparecer�o nuvens flamejantes e sobre o mundo cair� uma tempestade de fogo. [7 de outubro de 1987] (...) Muito sangue ser� derramado e as estradas ficar�o repletas de cad�veres. [8 de outubro de 1987] (...) As igrejas ser�o saqueadas; ocorrer�o terremotos, doen�as incur�veis, revolu��es e tumultos: O mundo ser� transformado por completo. O grande cataclismo que se abater� repentinamente sobre a terra ser� apavorante, como se fosse o fim, mas a hora final n�o � chegada ainda, embora n�o esteja distante. [13 de outubro de 1987] (...) Haver� dil�vios, terremotos, destrui��es, erup��es, homic�dios, epidemias, escassez. [14 de outubro de 1987] (...) Todas as na��es ser�o submersas em l�grimas; haver� luto, castigo, terremotos, inunda��es e doen�as de todo tipo. [20 de outubro de 1987] (...) O mundo inteiro estar� em guerra, invadido pela ru�na e pela morte. As armas mortais n�o s� exterminar�o os ex�rcitos, mas destruir�o tamb�m as coisas mais sagradas e santas, as crian�as, os anci�os e os enfermos. [12 de novembro de 1987] (���)"

O Anticristo domina a "pir�mide papista" neste desenho luterano (holand�s) de inspira��o apocal�ptica, do s�culo XVI.

Vir�o "tempos piores que o grande dil�vio", prossegue a predi��o. "O c�u ser� coberto por uma densa n�voa e a terra ser� sacudida por terremotos terr�veis que abrir�o profundos abismos, engolindo cidades c prov�ncias. [21 de novembro de 1987] (...) Abismos, montanhas e lava incandescente

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engolir�o aldeias inteiras. Ocorrer�o eletrocu��es, mares turbulentos, suic�dios, drogas, doen�as. [22 de novembro de 1987] (...) O mundo atual est� pior do que N�nive. (...) � uma corrente de esc�ndalos, um p�ntano de fogo, de estrume, de lama. (...)"A It�lia dos traidores e dos espi�esA profecia reserva tons particularmente aflitivos ao destino da It�lia, "pa�s preferido de Deus". O seu povo "sofrer� enormes transtornos e ser� purificado por uma grande revolu��o; apenas parte dele ser� salvo". O Cristo de s�ror Anna recorda tamb�m as Brigadas Vermelhas e fala de

sua infiltra��o no governo, entendido evidentemente no sentido lato de

classe dirigente, mas faz alus�es manifestas tamb�m �s intrigas institucionais: "Muitos espi�es e traidores renegam a sua m�e-p�tria." Destaca, al�m disso, que "a corrup��o chegou ao limite [a mensagem � de 25 de outubro de 1987, bem anterior ao inqu�rito Di Pietro] e que na It�lia haver� uma revolu��o pol�tica", talvez esta j� tenha ocorrido, talvez a profecia se refira �s conseq��ncias de propinas e clientelismo.S�o, de qualquer forma, esses os cen�rios sobre cujo pano de fundo "a

It�lia ser� estropiada por assassinos" e "a Igreja esmagada com o orgulho da viol�ncia" (18 de outubro de 1987).A espera do que possa acontecer, "Roma est� se preparando para ser destru�da pelo crescimento de uma consci�ncia at�ia". Entre intrigas e ambig�idade, "os pr�prios romanos trair�o Roma e toda a It�lia".Pode-se intuir do vocabul�rio prof�tico que, �os romanos" n�o se refere � popula��o de Roma, mas � classe pol�tica que, a prop�sito, est� concentrada na capital; e tamb�m ao clero infiel, cuja trai��o figura entre as notas mais dolorosas da mensagem.

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� constante a refer�ncia � infiltra��o de Satan�s no Vaticano � embora atenuada por omissis � e � obra de sacerdotes infi�is, que desviam as h�stias dos tabern�culos para as missas negras, que participam de convescotes diab�licos e profanam o sacramento da eucaristia. Com toda

clareza, o Cristo de Porta Ang�lica vaticina: "O diabo destruir� a melhor parte do meu rebanho. (...) Os meus consagrados, que perderam todo o amor, n�o fazem mais que me insultar e cuspir sobre mim." Depois fala de um �le�o que ruge", que avan�a contra a Igreja, e de um "L�cifer vermelho" que, � testa das suas legi�es, se prepara para lan�ar desordem sobre o povo de Deus (1�. de novembro de 1987).Igualmente severa � a opini�o acerca de um tecido social deteriorado pela indignidade dos l�deres, sobre os quais recair� a responsabilidade por permitir que as leis das na��es despedacem a lei divina (12 de novembro de 1987). A profecia adverte igualmente os ministros e magistrados. A advert�ncia a estes �ltimos � categ�rica: "Se n�o fizerem penit�ncia e n�o cumprirem sua responsabilidade, ir�o perecer um ap�s outro" (8 de outubro de 1987). Deduz-se que em rela��o a eles o or�culo se reservara o dever de dar andamento a uma convoca��o mais espec�fica, al�m do que foi previsto pela advert�ncia geral a toda a humanidade."Como um menino assustado..."Na sua "sede de almas", alimentada pela ang�stia de uma pena que n�o quer infligir, mas que n�o tem certeza de poder impedir, o Cristo fotografado em Porta Ang�lica � "como um menino assustado que vem pedir consola��o". � ele pr�prio quem d� de si esta sofrida imagem. Agoniza diante de cada alma que lhe escapa "como um ca�ador que se deixaria ferir de morte para atrair a sua cobi�ada presa".Implora a s�ror Anna a piedade que os outros lhe negam. Pede-lhe, certas

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noites, para n�o dormir: "Fica de vig�lia comigo, preciso da tua companhia. Mergulha na suma contempla��o. (...) Esta � a minha dif�cil hora tenebrosa. (...) Dedica tempo ao meu amor no meu sacramento. (...) Deixa que eu te use, abandona-te a mim sem pensar no que te acontecer�

(...)" (8 de setembro de 1987).Ao dizer isto, abre-se �s mais �ntimas confiss�es, como se fosse ele o humano e ela a divindade: �Eu amo e espero dia e noite no meu tabern�culo para poder abra�ar todos. (...) Por entre os v�us do meu tabern�culo

continuo a olhar, mas ningu�m vem me visitar" (16 de dezembro de 1987).Em tanta solid�o amadurece, junto com a inevitabilidade do castigo, uma

solu��o salvadora que ultrapassa as vias de escape at� agora apresentadas. Pela primeira vez na tradi��o das profecias apocal�pticas, de fato, o Cristo de s�ror Anna tem a dizer que a sua advert�ncia "n�o � uma ordem de condena��o para o inundo inteiro" (5 de dezembro de 1987).Esclarece, em outras palavras, que o cataclismo n�o comportar� exterm�nio indiscriminado, como foi dado a entender outras vezes. Pelo contr�rio, tamb�m na calamidade mais ruinosa "as almas justas nada ter�o a temer, porque ser�o separadas dos �mpios e dos obstinados, ser�o salvas" (18 de setembro de 1987).Sela esta promessa com uma afirma��o que em linguagem leiga garantiria: "Ningu�m vai para o inferno sem a pr�pria concord�ncia" (9 de outubro de 1987).

5O Apocalipse de Jo�o

A fonte de todas as profecias catastr�ficas de fim de mil�nio � e fim

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do mundo, segundo uma tradi��o consolidada � � o Apocalipse do evangelista Jo�o, escrito na ilha de Patmos por volta do ano 97 d.C.Pertence ao Novo Testamento, como os quatro Evangelhos, mas assinala o ep�logo coerente com uma hist�ria iniciada no Antigo Testamento, com o G�nesis. Como este �ltimo narrava a cria��o do mundo, o Apocalipse descreve-lhe o fim num crescendo m�stico e vision�rio que fecha o ciclo das Escrituras.Em grego, apocalipse significa "revela��o". Para colher seus significados e interpret�-los, � necess�rio decodificar uma vasta gama de s�mbolos, correspondentes a um conjunto herm�tico que parece representar a quintess�ncia de tudo o que o esoterismo prof�tico crist�o produziu nos seus prim�rdios.Contudo, alem dos seus cen�rios amedrontadores e do espanto que certas

imagens suscitam na sua monstruosidade enigm�tica, a profecia de Jo�o parece subentender a inten��o de focalizar mais as causas do que o evento da ru�na final do mundo, bem como o prop�sito de evit�-la.Sob esta luz, o Apocalipse pode ser lido como mensagem positiva, dedicado a denunciar maldades e aberra��es humanas nos seus eventos mais catastr�ficos � guerra, escassez, despotismo, idolatria, doen�a,

caos � para conjurar seus efeitos. Seria imposs�vel, de outro modo, justificar sua coloca��o no contexto salvador e liberat�rio dos Evangelhos, que antep�e a qualquer outro objetivo a derrota do mal atrav�s do amor.Adotando esta maneira de ver, a revela��o transmitida por Jo�o �

agilmente decifr�vel como press�gio de regenera��o e de alegria, de triunfo sobre o sofrimento, realiz�vel mediante a participa��o corajosa dos bons na luta do Cordeiro contra a besta infernal.O livro brota de um �xtase durante o qual Jo�o, possu�do pelo Esp�

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rito, recebe de Jesus a revela��o "daquilo que dentro em breve deve acontecer". Seu prop�sito, n�o obstante a apar�ncia terrificante do conte�do � declaradamente, ben�fico. O evangelista o diz com todas as letras na abertura: "Bem-aventurado aquele que l� e escuta esta mensagem prof�tica e entesoura tudo que aqui est� escrito."O Apocalipse n�o cont�m, portanto, um simples an�ncio � uma cr�nica final em si mesma de fatos por vir�, mas algo a ser "entesourado", uma utilidade a perseguir pelo bem de quem l�. O fim do mundo, com a humanidade prostrada aos p�s do Anticristo e da besta do Apocalipse, numa gravura de Luca Cranach.

� temer�ria qualquer tentativa de dar-lhe interpreta��es gratuitas, mutilando ou distorcendo seu sentido, pois, "se algu�m acrescentar qualquer coisa", adverte o ap�stolo, "Deus o golpear� com os flagelos descritos neste livro; se algu�m tirar qualquer coisa, Deus o excluir� da �rvore doadora da vida e da cidade santa descritas neste livro".Mesmo a mais banal repeti��o, depois de tal advert�ncia, deve ser objeto de medita��o profunda. O Apocalipse n�o pode ser, em outras palavras, folheado ou lido aos poucos como qualquer almanaque divinat�rio; deve ser lido na sua unidade, sem ultrapassar segmentos nem pular alguma passagem.Tudo aquilo que est� escrito serve para introduzir a promessa final de Jesus: "Sim, estou por vir"; e a evoca��o de Jo�o: "Vinde, Senhor."E se esta � a profecia conclusiva, s� podem juntar-se a ela ausp�cios de vida, aqueles que s�o os cen�rios de morte atrav�s dos quais � para poder ser alcan�ados � devemos nos aventurar. Percorramos, pois, o in�cio desse itiner�rio, seguindo o fio das vis�es de Jo�o.Em comunica��o com DeusComo os grandes profetas da tradi��o b�blica que o precederam, Jo�o recebe diretamente de Deus ordens para escrever. O destinat�rio � toda a

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cristandade tanto do seu quanto de nosso tempo.O Senhor lhe aparece entre sete candelabros, representando as sete igrejas da �sia (�feso, Esmirna, P�rgamo, Ti�tira, Sardes, Filad�lfia, Laodic�ia), nas quais se reunia � �poca toda a comunidade dos fi�is. Tudo em torno Dele reluz: a faixa de ouro que tem sobre o peito, os cabelos brancos como neve, os olhos ardentes como fogo, os p�s como bronze na fornalha, o rosto como sol flamejante.Tem sete estrelas na m�o direita, que representam os anjos das sete igrejas.Ap�s ter endere�ado a estas �ltimas sete cartas nas quais reprova ou

louva as respectivas comunidades, exortando-as a enfrentar iminentes persegui��es, Jo�o � chamado a ver o trono de Deus."Sobe at� aqui e mostrar-te-ei o que ainda deve acontecer", diz do alto uma voz, enquanto diante dele se escancara uma porta que se comunica diretamente com o c�u. L� est� o trono, iluminado por um arco-�ris de esmeralda, al�m do qual se estende "um mar que parece de vidro, l�mpido como o cristal".Senta-se no trono "algu�m [isso mesmo: algu�m] de aspecto resplendente como pedras preciosas, jaspe e cornalina".Aumentam a majestade da vis�o mais 24 assentos, para os anci�os da corte celeste, vestidos de branco e coroados de ouro. Ardem em torno sete archotes, que simbolizam os sete esp�ritos de Deus.Ao lado do trono est�o "quatro seres viventes", que Jo�o assim descreve: "O primeiro ser parecia um le�o, o segundo um novilho, o terceiro tinha rosto de homem, o quarto assemelhava-se a uma �guia em seu v�o. Cada um tinha seis asas e era cheio de olhos por todo o corpo e tamb�m sob as

asas. Continuamente, dia e noite, repetiam: 'Santo, santo, santo � o Senhor, Deus do Universo...'"S�o as qualidades "viventes" de Deus, que no conjunto exprimem a Sua gl�ria: a for�a do le�o, a energia e a pot�ncia do touro, a intelig�ncia e a consci�ncia do homem, a vis�o agu�ada da �guia. T�m asas m�ltiplas,

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para voar al�m dos limites da imagina��o, e in�meros olhos, para

perscrutar o infinito.Apertado na sua m�o h� "um livro em forma de rolo, escrito por dentro e por fora, lacrado por sete selos". Um anjo exorta a abrir os selos. Mas quem?"Quem � digno de romper os lacres e abrir o livro?"Ningu�m lhe responde, porque � pensa Jo�o � n�o h� ningu�m no c�u nem na terra capaz de faz�-lo. Assim, presa de uma tremenda emo��o, desata em l�grimas."Eu chorava desmedidamente, porque n�o se encontrava ningu�m digno de abrir e ler o livro."O pranto de Jo�o � o sinal da devota crise de quem teme que a humanidade, incapaz de acatar a vontade divina, seja exclu�da do Reino.Um dos anci�os, por�m, o consola."N�o chores", diz-lhe. "Aquele que se chama Le�o da tribo de Jud� e Rebento de Davi venceu a sua batalha e pode abrir o livro e os seus sete selos."Como acontece com freq��ncia no entrecho das predi��es, as profecias reclamam-se umas �s outras, dando � e ao mesmo tempo recebendo � confirma��o: Le�o de Jud� e Rebento de Davi s�o, na escritura b�blica, denomina��es habituais do Messias: daquele que vem justamente para

cumprir a vontade de Deus, no caso espec�fico rompendo os selos.Neste ponto, Jo�o v� diante de si "um Cordeiro que parecia degolado, mas estava firme de p�", E o Cordeiro de Deus, alegoria do Cristo que superou a prova do sacrif�cio. Traz o sinal, mas se mant�m ereto como um vencedor, mostrando no seu ins�lito aspecto os s�mbolos do poder

divino."Tinha sete chifres e sete olhos, que representam os sete esp�ritos de Deus mandados ao mundo."

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Recebe diretamente das m�os do Senhor o livro dos sete selos e come�a a romp�-los, enquanto em torno os 24 anci�os e os quatro seres de corpo

semeado de olhos se ajoelham cantando:�s digno de pegar o livroe de romper os selosporque foste imoladoe resgataste para Deus com teu sanguehomens de cada tribo, ra�a, l�ngua e na��o...Os sete selosO Cordeiro abre o primeiro lacre sob os olhos de Jo�o, fazendo aparecer um cavalo branco montado por um cavaleiro armado de arco. Recebe uma coroa, s�mbolo de invencibilidade.Abre o segundo e adianta-se um cavalo vermelho, cor de logo. Ao cavaleiro � dada uma espada, e o poder de fazer desaparecer a paz na terra para que os homens se degolem entre si.Abre o terceiro selo e avan�a um cavalo negro, cujo cavaleiro tem na m�o uma balan�a. Uma voz anuncia pre�os dos quais se deduz sobrevir� uma assustadora carestia: "Por uma medida de trigo a paga de um dia, por tr�s medidas de cevada a paga de um dia..."Abre o quarto selo e surge um cavalo de cor l�vida, esverdeada. � montado por um cavaleiro chamado Morte, seguido por um ex�rcito de cad�veres. Recebe o poder sobre um quarto da terra e o direito de exterminar seus habitantes com as armas, a epidemia e a fome.Abre o quinto selo e se elevam de sob o altar os m�rtires da f�, perguntando em voz alta: "At� quando, Senhor santificado e voraz, esperareis para fazer justi�a sobre os habitantes da terra e vingar o nosso sangue?'"Falta pouco", responde Deus, fazendo dar a cada um deles uma t�nica branca. "Esperai que se complete o n�mero daqueles que ser�o imolados como v�s."Abre o sexto selo e a ira de Deus se manifesta em todo o seu �mpeto. Tem-se assim a primeira exemplifica��o cumprida, em termos hist�ricos e liter�rios, do modelo escatol�gico � ou seja, relativo aos destinos finais do mundo, do grego �skata, as "coisas extremas" � que atingir� as grandes profecias catastr�ficas da idade moderna."Houve um forte terremoto. O sol fica escuro como roupa de luto e a lua

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adquire cor de sangue. As estrelas do c�u caem sobre a terra, como os figos verdes caem da �rvore quando golpeados pelo vento impetuoso. A ab�bada celeste se despeda�ou e enrolou-se como folha de pergaminho; todas as montanhas e as ilhas foram arrancadas do seu lugar. Os reis da terra, os governantes, os comandantes dos ex�rcitos, as pessoas mais ricas e poderosas refugiaram-se nas cavernas e entre as rochas junto com todos os outros, escravos e livres; e diziam para as montanhas e as rochas: 'Desabai sobre n�s e nos escondei, que Deus n�o nos veja do seu trono, e n�o nos aflija o castigo do Cordeiro.' (...)"Mas este castigo, que pareceria at� aqui universal, baseado na impiedosa

determina��o de golpear indiscriminadamente todo o g�nero humano, revela-se empenhado em punir apenas os �mpios, poupando os justos. Quatro anjos nos quatro cantos da terra det�m os quatro ventos, para que

nem um sopro de ar possa mover uma folha. Um quinto anjo, surgindo do oriente como um sol, intima-os: "N�o devasteis nem a terra nem o mar, nem as �rvores, at� que tenhamos assinalados a nossa frente os servos de nosso Deus."Foram assinalados 144 mil, provenientes das doze tribos de Israel. Salvaram-se, e n�o s�o os �nicos, junta-se a eles "uma grande multid�o de pessoas de cada na��o, povo, tribo e l�ngua, que ningu�m conseguia contar".Todos cantam, agitando ramos de palmeira diante do trono e do Cordeiro: "A salva��o pertence ao nosso Deus, que senta no trono, e ao Cordeiro."S�o os m�rtires, explica um dos 24 anci�os a Jo�o, que v�m da "grande persegui��o", purificados pelo sangue do Cordeiro."Por isso est�o diante do trono de Deus, e prestam-lhe servi�o dia e noite no Seu santu�rio, e Deus que senta no trono estar� sempre junto a eles.

N�o mais ter�o nem fome nem sede, nem sofrer�o o ardor do sol. O

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Cordeiro ir� cuidar deles como o pastor cuida do seu rebanho, e os guiar� at� a nascente da �gua doadora de vida, e Deus enxugar� cada l�grima dos seus olhos."S� agora que foram assinalados aqueles a salvar � agora que foram impostos limites a certos castigos regeneradores � o Cordeiro abre o s�timo selo."Fez-se sil�ncio no c�u por cerca de meia hora."Duzentos milh�es de monstruosos cavaleirosA ira de Deus, uma vez rompido o s�timo selo, foi anunciada pelas trombetas dos sete anjos.Ao primeiro toque despeja-se sobre a terra "uma tempestade de granizo e fogo amalgamados em sangue": um ter�o da terra arde, um ter�o das �rvores � carbonizado e toda a relva verde torna-se �rida.Ao segundo toque precipita-se no mar "uma massa ardente similar a uma montanha em fogo": um ter�o do mar vira sangue, um ter�o das criaturas marinhas morre, desaparece um ter�o dos navios.Ao terceiro toque cai do c�u "uma grande estrela, ardente como uma tocha", cujo nome � Absinto, que em grego quer dizer amargor: contamina e envenena um ter�o dos rios e das nascentes. Muitos morrem

ao beber das suas �guas.Ao quarto toque � atingido um ter�o do sol, da lua e das estrelas, cuja luz desaparece em um ter�o.Cumpre-se com os primeiros quatro toques a destrui��o da natureza, criada para a felicidade dos homens. Mas n�o � o fim do mundo: um ter�o da terra e do c�u � poupado, para aqueles que ainda s�o dignos de desfrut�-lo. Vem agora para os outros uma pena mais direta.Ao quinto toque, uma estrela ca�da do c�u abre um po�o que conduz ao mundo subterr�neo: dele sobe uma fuma�a que escurece o ar, e da fuma�a se expandem nuvens de gafanhotos "similares a cavalos encilhados para a guerra". T�m ordem de poupar a relva e as plantas, atacando "apenas as pessoas que n�o ostentam o sinal de Deus na testa", mas sem mat�-las. Com o intuito de "faz�-las sofrer por cinco meses, como quem foi picado por um escorpi�o".Nasce deste detalhe atroz um outro modelo de futuras profecias. Como na

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mensagem de F�tima e em outros or�culos apocal�pticos, os homens ainda vivos "buscar�o a morte, mas n�o a encontrar�o, desejar�o morrer, mas a morte fugir� deles". �, por�m, digno de nota que n�o se fale genericamente dos vivos � n�o de uma humanidade irremediavelmente

assolada por um castigo comum �, mas daqueles que por suas culpas n�o foram considerados dignos de ser marcados. Os outros, reconhec�veis pelo sinal, ser�o poupados.Monstruosa � a descri��o que Jo�o nos d� dos gafanhotos: "traziam na cabe�a uma esp�cie de coroa de ouro, e sua face era como o rosto de um homem. Tinham cabelos longos como as mulheres e dentes similares aos dos le�es. Tinham o t�rax semelhante a uma coura�a de ferro, e o farfalhar de suas asas era como o estrondo dos carros de guerra que v�o ao ataque puxados por muitos cavalos. (...) � frente dos gafanhotos havia

um rei, o anjo do mundo subterr�neo, cujo nome hebraico � Abaddon, que quer dizer exterminador."Ao sexto toque de trombeta come�a o verdadeiro massacre. S�o liberados "os quatro anjos acorrentados nas imedia��es do grande rio Eufrates", cuja miss�o � o aniquilamento de um ter�o dos homens.Duzentos milh�es de cavaleiros se espalham pelo mundo �s suas ordens. S�o guerreiros monstruosos, como os animais que montam."Cavalos e cavaleiros me aparecem revestidos de coura�as, alguns vermelhos como o fogo, outros azuis como a safira, outros amarelos como o enxofre. Os cavalos tinham cabe�as que pareciam de le�es; e fogo, fuma�a e enxofre sa�am de suas bocas. Um ter�o dos homens morreu desses tr�s flagelos. (...) O poder dos cavalos estava na boca, e tamb�m na cauda: de fato suas caudas eram como serpentes, que feriam os homens na cabe�a. (...)"Tudo isso n�o basta para redimir os sobreviventes, que persistem na idolatria e no delito."N�o abandonaram os �dolos feitos com as suas m�os e n�o deixaram de ajoelhar-se diante dos dem�nios e est�tuas de ouro, prata, bronze, pedra

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e madeira, que n�o t�m condi��es de ver, de ouvir e de caminhar. N�o renunciaram sequer aos seus delitos, � magia, � prostitui��o e aos furtos."H� uma pausa entre o sexto e o s�timo toques, para que Jo�o possa ser instru�do sobre o que fazer. Aprende novos segredos pelo ribombar de sete trov�es. Deles vai tomar nota, mas � detido por uma voz que intima: "N�o, n�o escrevas o que disseram os sete trov�es, pois deve permanecer em segredo."Recebe depois, de um anjo, um livro para "devorar", e o faz sem met�fora, mastigando-o e deglutindo-o, sendo por�m advertido: "Ser� amargo para teu est�mago, ainda que na boca o sintas doce como o mel."De tal modo compreende-se que o profeta se nutre da palavra de Deus, alimento que � do�ura infinita da sua ess�ncia acrescenta o amargor de certas verdades cru�is da mensagem: o castigo, as desgra�as a se cumprir, a regenera��o atrav�s da dor.S� depois de ter devorado o livro � que Jo�o recebe uma ulterior solicita��o divina: "Deves profetizar ainda sobre muitos povos, na��es, l�nguas e reinos." E assim encarregado de medir com um bambu o santu�rio de Deus e contar as pessoas em adora��o no seu interior. A parte externa n�o deve ser medida: foi deixada para os Seus inimigos, que "por 42 meses pisotearam a cidade santa de Jerusal�m".A obra dos inimigos ir� se contrapor, por�m, aquela de "duas testemunhas vestidas de saco", indicadas tamb�m como "duas azeitonas" e "dois candelabros". Talvez se tratasse de Pedro e Paulo. S�o, portanto, ap�stolos que sofreram por sua vez o mart�rio, como o Cordeiro."Os seus cad�veres permanecer�o expostos nas pra�as da grande cidade, l� onde o seu Senhor foi crucificado, chamada simbolicamente Sodoma e

Egito. Por tr�s dias e meio, gente de cada povo e ra�a, l�ngua e naï

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¿½ï¿½o estar� olhando seus cad�veres e n�o os deixar� sepultar, e os habitantes da terra festejar�o trocando presentes, comemorando a morte das duas testemunhas, porque foram um tormento para todos os habitantes da terra."Mas as duas testemunhas ressurgir�o (a alus�o �s suas roupas feitas de saco tamb�m faz supor que o evangelista estivesse se referindo � obra de apostolado das ordens mendicantes, nas quais ressurgir� o esp�rito original da prega��o evang�lica) e subir�o ao c�u, "enquanto os seus inimigos ficar�o olhando". Sete mil dentre eles morrem no mesmo instante, num grande terremoto que destruir� um d�cimo da cidade.Miguel contra o drag�o: cr�nica de uma guerra no c�uO s�timo toque de trombeta faz-se acompanhar de vozes que do c�u celebram a vinda do reino de Deus e a "presta��o de contas"."� chegado o momento de julgar os mortos", dizem, "e de recompensar os profetas teus servidores, e todos aqueles que te pertencem e respeitam teu nome, pequenos e grandes; e de aniquilar todos aqueles que corrompem a terra."Escancara-se entre as nuvens o templo de Deus e aparece, vis�vel aos olhos humanos, a arca da alian�a. Em torno desencadeiam-se rel�mpagos, trov�es, uma tempestade de granizo e um terremoto.A abertura do templo segue-se "um sinal grandioso". Surge uma mulher vestida de sol que preconiza no aspecto a moderna iconografia mariana: est� coroada por doze estrelas e tem a lua sob os p�s. D� � luz um menino destinado a "governar todas as na��es com um bast�o de ferro". Um

drag�o infernal quer devor�-lo � � um animal horrendo, vermelho como o fogo, enorme, com sete cabe�as e dez chifres �, mas o pequeno � levado a salvo para junto do trono de Deus."Depois irrompeu uma guerra no c�u: de um lado Miguel e seus anjos, do outro, o drag�o e seus anjos. Mas estes foram derrotados e n�o houve mais lugar para eles no c�u, e o drag�o foi arremessado para fora. O grande drag�o, ou seja, a antiga serpente, que se chama 'Diabo' e 'Satan�s', e � o sedutor do mundo inteiro, foi jogado sobre a terra, e seus

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anjos tamb�m foram escorra�ados."Arremessada no mundo, a serpente persegue a mulher celeste, isto �, a Igreja representada como uma Madona, que escapa voando com asas de �guia. Tr�s anos e meio depois, � lan�ada no deserto, onde busca ref�gio. O drag�o vomita sobre ela um dil�vio de �gua, mas a terra vem em seu socorro, abrindo-se e engolindo-a.O drag�o se lan�a ent�o contra a prole da mulher, ou seja, a comunidade de fi�is. N�o est� s� na sua f�ria perseguidora. Um outro monstro se p�e a seu lado."Vi ent�o uma besta que emergia do mar", e aqui Jo�o fornece uma das mais emblem�ticas descri��es do poder dedicado � realiza��o do mal, fonte de uma literatura que nos seus s�mbolos individualizou refer�ncias precisas a monstros pol�ticos de cada �poca, como o Imp�rio Romano e o nazismo. "Tinha sete cabe�as e dez chifres. Em cada chifre trazia um diadema, e sobre cada cabe�a estava escrito um nome que era uma blasf�mia. O monstro parecia uma pantera. Tinha patas de urso e boca de

le�o. O drag�o confiou-lhe o seu poder, o seu trono e uma grande autoridade. (...) Ent�o toda a terra foi tomada de grande espanto e obedeceu ao monstro. (...) Ao monstro foi concedido dizer palavras arrogantes e insultar a Deus, e teve o poder de faz�-lo por 42 meses. (...) foi-lhe permitido guerrear contra aqueles que pertencem ao Senhor e venc�-los; foi-lhe dado poder sobre cada ra�a, povo, l�ngua ou na��o. (...)"Se esta besta retrata o mal no seu sentido institucional, isto �, a ades�o

dos governantes ao projeto de Satan�s, uma segunda besta de aspecto mais suave representa o homem que se p�e a seu servi�o. N�o possui atributos terrificantes, mas prosaicos chifres de cordeiro, e dedica-se com esp�rito dial�tico � sedu��o das almas. � muito mais tem�vel que a outra, pois exercita sua persuas�o sutil por meio de milagres e

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artif�cios que lhe permitem impor as idolatrias mais aberrantes. � distingu�vel no seu logro a inten��o de converter a humanidade ao dem�nio, coroada em nossos dias com a prolifera��o de cultos e seitas sat�nicos."Vi uma outra besta que subia da terra. Tinha dois chifres como os de um cordeiro, e a voz como a de um drag�o. (...) Realiza grandes milagres: faz at� mesmo cair fogo do c�u sobre a terra diante dos olhos de todos.

Com os milagres que pode realizar, engana os habitantes da terra, ordenando-lhes que construam uma est�tua para o monstro. (...) A besta teve o poder de dar vida � est�tua do monstro para que falasse e fizesse matar todos aqueles que n�o o adoravam. (...)"� o Anticristo, que para se tornar o reflexo do seu inimigo, veste-se por suavez de cordeiro. Junto ao drag�o (Satan�s) e � outra besta (a igreja de Satan�s), forma uma trindade diab�lica, na qual representa o papel de messias. Marca com um ferrete seus pr�prios fi�is e persegue os demais. Quem n�o traz impresso o seu sinal n�o tem possibilidade de sobreviv�ncia na sociedade por ele controlada: n�o pode desenvolver nenhuma atividade, n�o pode comerciar, n�o pode comprar nem vender. Como um crist�o no Imp�rio Romano ou no sovi�tico; como um homem de cora��o em uma sociedade sem cora��o, na qual prevalece o fetiche do dinheiro.Escolhe por ferrete "um n�mero que corresponde a um nome de homem": o 666, tornado atual pelo uso recorrente que fizeram dele no s�culo XX os satanistas de cada tend�ncia, sem, por�m, decifrar-lhe o enigma.O n�mero, segundo Jo�o, conduz � identidade de uma pessoa. Para individualiz�-la "� preciso sabedoria".N�o �, pois, t�o dif�cil. Diz o evangelista: "Quem � inteligente que calcule. (...)"Novas pragas para n�o esquecerAo signo da besta se contrap�e aquele dos 144 mil justos resgatados por

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Deus. Est�o reunidos no monte Si�o junto ao Cordeiro. Em torno espalha-se "um som forte, como o fragor do oceano e o ribombar do trov�o". Tr�s anjos surgem sobre o eco dessas notas, que s� os justos podem entender.Anunciam a hora do ju�zo final, a puni��o dos �mpios e a queda da grande Babil�nia, na qual � distingu�vel Roma, a cidade que "fizera

todos os povos beberem o vinho inebriante da sua prostitui��o.Inicia-se, logo depois, a ceifa sobre a Terra. Anjos de justi�a ceifam os cachos de sua parreira e os jogam no grande tonel para a pisadura, "que representa o terr�vel castigo de Deus".Ao final, "o sangue jorrado do tonel foi tanto que chegou � altura da boca dos cavalos at� a quase 300 km de dist�ncia".� vis�o horrenda se sobrep�e uma sublime. Al�m de um mar de cristal e fogo, todos aqueles que venceram o monstro cantam loas ao Senhor, fazendo-se acompanhar por harpas recebidas Dele mesmo.Grandes e maravilhosass�o as suas obrasSenhor, Deus do universo...

Poder-se-ia considerar conclu�da a batalha, mas sete flagelos ainda deveriam abater-se sobre a humanidade. Servem, em termos simb�licos, para estabelecer uma continuidade com as grandes profecias do passado: Jo�o, ao evoc�-las, prop�e mais uma vez o tema b�blico das sete pragas do Egito. Por que o faz? Para relembrar que tais calamidades n�o representam uma mem�ria j� sepultada no tempo, mas sim uma constante da hist�ria, destinada a produzir os seus efeitos todas as vezes em que o homem, esquivando-se a Deus, subverte a vida e a ordem natural das coisas a sua volta.O fato de que as pragas provenham de Deus � e que sejam os seus anjos que a distribuem no mundo � n�o significa que seja Ele a causa. Indica

simplesmente a inevitabilidade dos efeitos (previs�veis, na sua repeti��o) que comporia qualquer processo de destrui��o.

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A m�e de cada prostitui��oNo santu�rio de Deus, sobre as nuvens, Jo�o v� sete ta�as de ouro sendo entregues a sete anjos, e ouve uma voz que ordena: "Ide derramar sobre a terra as sete ta�as do terr�vel castigo divino."Os anjos obedecem e horrendas chagas se formam na pele dos homens; peixes morrem nos oceanos, rios e nascentes se tingem de sangue para que aqueles que derramaram o sangue dos justos sejam agora obrigados a beb�-lo; o sol se torna abrasador.Junto com um calor insuport�vel, espalha-se sobre a terra uma densa escurid�o, depois que a quinta ta�a � vertida sobre o trono do monstro.A sexta � derramada no Rio Eufrates, que ressecado transforma-se em uma estrada "pronta para o rei do Oriente".Neste ponto irrompem na vis�o tr�s dem�nios, que saltam como r�s da boca dos tr�s monstros infernais. Exibem milagres e desafiam os reis da terra para a batalha final, "em um lugar que em hebraico se chama Armagedon".O s�timo anjo a esta altura derrama no ar a sua ta�a, e uma voz do santu�rio proclama: "Est� feito!"Segue-se um espantoso cataclismo, as cidades do mundo desabam, as ilhas desaparecem, as montanhas n�o existem mais, e um dos sete anjos convida Jo�o para "ver o castigo da grande prostituta". O esp�rito se apossa dele, enquanto uma for�a divina o transporta no deserto."L�, vi uma mulher sentada sobre um monstro de cor escarlate, todo coberto de blasf�mias. O monstro tinha sete cabe�as e dez chifres. Os trajes da mulher eram p�rpura e escarlate. (Carregava j�ias de ouro, p�rolas e pedras preciosas, e tinha na m�o um c�lice dourado contendo algo repugnante: as impurezas da sua prostitui��o. Tinha um nome misterioso escrito na testa: 'Babil�nia', a grande cidade, a da prostitui��o e das obscenidades de todo o mundo. Ent�o me dei conta de que a mulher estava embriagada do sangue do povo de Deus e de todos aqueles que morreram por sua f� em Jesus. (...)"Jo�o, diante desta vis�o, � tomado por grande estupor, mas o anjo interv�m para traduzir-lhe o sentido em imagens prof�ticas:"Por que te espantas? Explicar-te-ei", diz, o significado misterioso da mulher e do monstro que a carrega, aquele que tem sete cabe�as e dez chifres. O monstro que viste representa algu�m que vivia e agora n�o

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vive mais, por�m, est� prestes a subir do mundo subterr�neo e seguir para a sua destrui��o definitiva."N�o � dif�cil decifrar a mensagem, mas "� preciso um pouco de intelig�ncia", diz o anjo. "As sete cabe�as s�o as sete colinas sobre as quais a mulher est� sentada. S�o tamb�m sete reis. Cinco j� ca�ram, um reina no momento, e o s�timo ainda n�o veio. Quando vier, durar� pouco. O monstro que viveu e que agora n�o vive mais � o oitavo rei, mas � tamb�m um dos sete, e seguir� para a destrui��o definitiva. Os dez chifres que v�s s�o dez reis, que ainda n�o chegaram a reinar, mas ter�o a possibilidade de reinar por uma hora junto com o monstro. Os dez reis est�o todos de acordo: querem ceder ao monstro sua for�a e seu poder.

Lutar�o contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os derrotar�, porque ele � o Senhor acima de todos os senhores e o Rei acima de todos os reis."Para coroar a profecia, um outro anjo desce do c�u e anuncia:Caiu!A grande Babil�nia caiu!Tornou-se morada de dem�nios,ref�gio de todos os esp�ritos imundos,ninho de p�ssaros impuros e repugnantes.Todas as na��esbeberam o vinho da sua prostitui��o desenfreada,os reis da terra se prostitu�ram com elae os mercadores enriqueceram com seus tesouros fabulosos.

Todas as Babil�nias do mundoA refer�ncia � queda do Imp�rio Romano, que � �poca perseguia os crist�os, � clara. Mas esta profecia tamb�m deve ser entendida, como aquela dos sete flagelos, sob uma �tica universal, projetada no tempo al�m do evento ao qual se refere. O pr�prio fato de que, para designar Roma simbolicamente, se evoque na profecia a Babil�nia, p�tria de �dolos e de tiranos, terra de ex�lio e sofrimento para o povo de Israel,

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corresponde claramente � tentativa de evidenciar � como pelas sete pragas do Egito � uma continuidade enraizada na tradi��o b�blica. � �til para fazer compreender de imediato que outras Babil�nias ca�ram antes de Roma e outras cair�o no futuro, por derramarem o sangue do povo de Deus na acep��o mais ampla de humanidade, n�o apenas o dos crist�os ou dos hebreus. Cair�o os baluartes dos totalitarismos, mas tamb�m � e este � o sentido da profecia, muito expl�cito � os templos das novas

idolatrias, nos quais s�o venerados o dinheiro e a vaidade.� significativo que desta vez a narra��o do evangelista seja redigida � diferentemente do que acontece em outras partes � no futuro, gra�as ao

qual se reconhece no esfacelamento de Roma aquele de cada imp�rio por vir. A Babil�nia, portanto, ainda deve cair. Est� entre n�s, e sua corrup��o � reconhec�vel ao olhar.Num s� dia, todos os castigos se abater�o sobre ela: doen�a mortal, luto, escassez. E ser� consumida pelo fogo. Poderoso � Deus que a condenou. Os reis da terra, que viveram com ela uma exist�ncia de luxo e prostitui��o, chorar�o por ela e se levantar�o quando virem a fuma�a da cidade incendiada. (...) Os mascates da terra chorar�o e lamentar-se-�o

por causa dela, porque ningu�m mais comprar� suas mercadorias: ouro, prata, pedras preciosas, tecidos finos, p�rpura, seda, perfumes, objetos de

marfim e de madeira de lei, de bronze, de ferro ou de m�rmore, canela, especiarias, aromas, �leo perfumado, vinho e azeite, farinha e cereais, bovinos e ovinos, cavalos e carro�as, e por fim seres humanos vendidos como escravos. (...) Capit�es e marinheiros, navegantes e qualquer um que trabalhe no mar estar�o tamb�m eles bem distantes, olhar�o para a fuma�a da cidade incendiada e dir�o: "Nunca existiu uma cidade grande como esta..."

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Babil�nia n�o � apenas uma cidade cruel al�m de qualquer descri��o, na qual "corre o sangue dos profetas e dos santos, e de todos aqueles que foram mortos sobre a terra", mas uma gorda e opulenta predadora, que domina os mercados mundiais. Deve suas riquezas ao furto e, sobretudo, ao logro."Com tuas bruxarias enganaste todas as na��es", grita contra ela um anjo, ap�s ter jogado no mar uma pedra grande como uma m� de moinho, para mostrar de que modo desaparecer� para sempre."Ningu�m te ver� mais. Em ti n�o se ouvir� mais soar a harpa nem os c�nticos, n�o ser�o mais ouvidas as flautas e trombetas. N�o haver� mais nenhum artes�o, n�o se ouvir� mais o ru�do do moinho, n�o se ver� mais a luz dos lampi�es, n�o ser�o mais ouvidas as vozes de marido e mulher. (���)"O resto � celebra��o da gl�ria de Deus, mas tamb�m a continua��o da batalha, para uma solu��o final que, por�m, n�o � definitiva. A

confirma��o daquela continuidade sem tempo que a profecia pareceria

subentender.

O enigma dos mil anosFileiras de cavaleiros brancos exterminam o monstro e todos os reis da terra, seus aliados. Nuvens de p�ssaros descem sobre o campo para devorar as carnes dos derrotados. A besta e o seu falso profeta s�o jogados vivos em um lago de fogo, enquanto o drag�o (isto �, Satan�s, a antiga serpente) � acorrentado por mil anos no mundo subterr�neo.Assim, com o an�ncio deste prazo de mil anos, ap�s o qual o drag�o

dever� ser solto "por um per�odo de tempo , tem origem o mais controvertido e tormentoso medo desencadeado pelo Apocalipse entre os fi�is.De in�cio acreditou-se que o ano 1000 assinalaria a liberta��o do

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Anticristo, portanto uma cat�strofe compar�vel ao fim do mundo; depois, esgotado tal prazo sem que a eventualidade se realizasse de maneira plaus�vel, recorreu-se a c�lculos fraudulentos para especificar

novos prazos. Foi indicado o ano 2000 entre outras datas apocal�pticas, como era, ali�s, previs�vel. Procurou-se de todos os modos individualizar os sinais do incipiente desastre ou identificar exatamente um Anticristo vivente ou vivido. Houve quem acreditasse reconhecer-lhe os tra�os no imperador Nero, ou nos art�fices das mais recentes persegui��es do

g�nero humano, como Hitler ou Stalin. N�o faltaram vaniloq�entes bruxos dispostos a gabar-se de uma identidade messi�nica em tal sentido,

proclamando-se "a grande besta" e assumindo para pr�prio s�mbolo � como o ingl�s Aleister Crowley no s�culo passado � o 666. Mas nada de plaus�vel se p�de deduzir em rela��o ao sentido da indica��o de mil anos da reclus�o de Satan�s e da nova guerra que se tornar� necess�ria para que se possa atir�-lo definitivamente no lago de fogo.E, portanto, sensato admitir, coerentemente com o esp�rito tamb�m metaf�rico de toda a profecia de Jo�o, que o c�mputo dos mil anos n�o deve ser interpretado em sentido cronol�gico. Fala-se de mil anos como se falou pouco antes de uma hora para indicar o tempo, limitad�ssimo, no qual ainda reinar�o com o monstro os reis da terra, quando ele emergir novamente do abismo.

As for�as obscuras da almaPode-se interpretar os mil anos do reino de Deus � e o breve par�ntese

da sua interrup��o, uma �nica hora � como uma esp�cie de li��o sobre a periculosidade constante do mal, que, ainda que reduzido � impot�ncia e acorrentado nas profundezas mais escuras, pode sempre reemergir, provocando novos conflitos devastadores. Vale para a sociedade como um todo, vale para a consci�ncia individual. Por isso � necess�rio zel

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ar, segundo o ensinamento de Jo�o, pelo objetivo de colher, t�o logo se manifestem, os sinais de um recome�o do mal que se acreditava ter sido derrotado, impedindo sua subleva��o.O prazo de mil anos significa, portanto, a necessidade de uma nova guerra contra as for�as obscuras da alma, tanto como as do universo, para recha��-las de volta �s pris�es onde j� estiveram confinadas.Apenas depois desta nova vit�ria � que tamb�m pode ser tamb�m

interpretada como uma verifica��o da efetiva capacidade humana para

neutralizar os pr�prios impulsos negativos � ser� poss�vel conhecer "a cidade santa, a Nova Jerusal�m, ornamentada como uma esposa pronta para ir ao encontro do marido".Conclui-se deste modo sublimado, ap�s tantas vis�es terrificantes, a profecia de Jo�o, chamado por um anjo para contemplar "a esposa do Cordeiro", em cuja grandiosidade � poss�vel distinguir o press�gio de uma felicidade infinita.Tinha o esplendor de Deus, brilhava como uma pedra preciosa, como uma gema cristalina. Suas muralhas eram s�lidas e elevadas, com doze portas. �s portas postavam-se doze anjos, e acima delas estavam escritos os doze nomes das tribos de Israel. (...) As muralhas se apoiavam sobre doze alicerces, e sobre cada um estava escrito o nome de um dos doze ap�stolos do Cordeiro. O anjo que falava comigo tinha uma vara de ouro

para medir a cidade, suas muralhas, suas portas.A cidade era quadrada. (...) O anjo a mediu: 12.000 est�dios [mais de 200 km]. Comprimento, largura e altura eram id�nticos. A seguir mediu as muralhas: 144 c�bitos [70 m], segundo a medida humana usada pelo anjo.

A cidade era de ouro puro, reluzente como cristal; suas muralhas eram de jaspe. As bases das muralhas estavam ornadas de pedras de todos os tipos: de jaspe a primeira, de safira a segunda, de calced�nia a terceira, de esmeralda a quarta. A quinta base era de sard�nica, a sexta de cornalina, a s�tima de cris�lito, a oitava de berilo, a nona de top�zio, a d�cima de cris�paso, a 11� de jacinto, a 12� de ametista. As doze portas eram doze

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p�rolas, cada uma extra�da de uma ostra s�. A pra�a era de ouro puro, reluzente como cristal. Nada de impuro ali poder� entrar, ningu�m que

pratique a corrup��o ou cometa o falso...A Jerusal�m Celeste n�o � apenas uma vis�o beat�fica; � tamb�m um recipiente de d�divas reais para todos os que derrotaram o mal � que est� neles e fora deles � em nome da revela��o evang�lica. Entre seus muros escorre "o rio da �gua que d� vida, l�mpido como cristal, proveniente do trono de Deus e do Cordeiro". Cresce na pra�a "a �rvore da vida", cujas folhas curam as na��es.Com estas imagens Jo�o abandona as met�foras para assegurar aos homens que "Deus impedir� qualquer maldi��o sobre a terra".A mensagem do Apocalipse n�o pode, portanto, ser lida como uma amea�a, quaisquer que sejam os horrores descritos para exemplificar a crueldade das prova��es a superar ao final da regenera��o. O ap�stolo convida e Jesus confirma, para encerrar: "Quem tiver sede que venha: quem quiser da �gua doadora da vida que a beba gratuitamente."O que h� de catastr�fico nisto?

6Profetas falsos e aut�nticos da B�bliaO Apocalipse de Jo�o n�o � o �nico texto prof�tico do Novo Testamento. Mensagens voltadas a fornecer indica��es sobre o futuro da humanidade e da Igreja s�o encontradas tamb�m nos quatro Evangelhos e nos Atos

dos ap�stolos.Em alguns casos trata-se de profecias que antecipam as revela��es apocal�pticas: "(...) Porque aqueles ser�o dias de tanto sofrimento como n�o houve ainda desde que Deus criou o mundo at� hoje nem haver� mais coisa igual. E se o Senhor n�o abreviasse aqueles dias, ningu�m se salvaria. Mas Deus os abreviou por causa dos Seus eleitos." [Marcos, 13,

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19-20]. Tamb�m no Evangelho, portanto, a premoni��o da cat�strofe � mitigada pela certeza de que o castigo n�o ser� indiscriminado, e que Deus escolheu os seus para os salvar. A mensagem � ainda mais expl�cita quando se trata de salvaguardar os eleitos contra os falsos profetas: "N�o

lhes deis ouvidos, n�o os sigais! Quando ouvirdes falar de guerras e de revolu��o, n�o vos assusteis. S�o fatos que devem acontecer, mas isto n�o significa que depois sobrevir� o fim�. (Lucas, 20, 8-9).Entre estas antecipa��es da profecia de Jo�o figuram ind�cios de como ser� o ju�zo universal: "Todos os povos sentar-se-�o diante Dele, e Ele os apartar� em dois grupos, como faz o pastor quando separa as ovelhas das

cabras: colocar� os justos de um lado e os �mpios de outro." [Mateus, 25, 31-32). Prevalece de qualquer modo, na dramaticidade do ju�zo � e das calamidades que o prenunciam � o encorajamento da "jubilosa mensagem" apost�lica, enobrecida pela efus�o de d�divas extraordin�rias, como as in�meras curas verificadas durante a sua prega��o.Outras profecias abordam os sofrimentos que Jesus sabe que ter� de enfrentar: "O Filho do homem dever� sofrer muito. � necess�rio. Os

Anci�os do povo, os l�deres dos sacerdotes e os mestres da lei o condenar�o; ser� morto, mas depois de tr�s dias ressuscitar�." (Marcos 8, 31-32). O texto evang�lico sublinha a inelutabilidade desses eventos, cujo cumprimento corresponde a uma urg�ncia espec�fica de regenera��o: "� necess�rio que o Filho do homem sofra muito." (Lucas, 9, 22).Mas n�o existe apenas dor no centro dessa espiral prof�tica, existem tamb�m a felicidade e o triunfo que s�o sua conseq��ncia fatal. Jesus explica isso aos ap�stolos com palavras simples, quando aparece diante deles como um fantasma, ap�s a ressurrei��o: "Este era o sentido dos

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discursos que vos fazia quando ainda estava convosco. Disse-vos claramente que devia acontecer tudo aquilo que de mim foi escrito na lei de Mois�s, nos escritos dos profetas e nos salmos. (...) Assim est� escrito: o Messias deveria morrer, mas no terceiro dia deveria ressuscitar dentre os mortos. Por ordem Dele agora deve ser levado a todos os povos o convite para mudar de vida c receber o perd�o." (Lucas, 24, 44-46).Do Antigo ao Novo TestamentoOs profetas, que no Antigo Testamento representavam o tecido da revela��o divina, est�o presentes no Novo Testamento atrav�s de

confronta��es de coisas j� ditas na B�blia. S�o profecias que podemos definir como de retorno, tendentes a confirmar a veracidade das Escrituras passadas para dar cr�dito �s novas, que se reconhecem na sua verdade.Uma evid�ncia elementar entre estas profecias para apurar latos posteriormente acontecidos durante a vida de Jesus revisa, por exemplo, os ditos de Miqu�ias sobre Bel�m ("n�o �s por certo a menos importante entre as cidades da Jud�ia, porque de ti sair� um l�der que guiar� o meu povo, Israel"), os de Jeremias sobre os massacres dos inocentes ("um grito se ouviu na regi�o de Arimat�ia, prantos e longos lamentos: � Raquel quem chora os seus filhos e n�o quer ser consolada porque eles est�o mortos") e sobre a trai��o de Judas ("pegaram as trinta moedas de prata, pre�o que o povo de Israel havia pago por Ele, e as usaram para comprar o campo do oleiro"), os de Isa�as sobre a vinda do Batista ("uma voz grita no deserto: preparai o caminho para o Senhor"), e ainda sobre a prega��o na Galil�ia ("Galil�ia habitada por gente paga: o seu povo que vive nas trevas ver� uma grande luz").S�o os profetas b�blicos, afinal, os pais da vid�ncia religiosa entendida naquela perspectiva hist�rica e social que caracteriza de modo todo peculiar o profetismo hebraico � c depois crist�o � em rela��o a qualquer outra forma divinat�ria praticada na Antig�idade. A deles � a

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profecia de inspira��o divina por excel�ncia, da qual se deduz uma orienta��o sobre as a��es a empreender no interesse comum. Da sua correta interpreta��o e da execu��o das suas diretrizes dependem os destinos de todo o povo de Israel, do rei, dos seus inimigos e perseguidores. Diferentemente daquilo que acontece nos cultos pag�os, onde as pr�ticas oraculares aparecem prevalentemente voltadas para a satisfa��o de interesses e curiosidades individuais � embora mantidas tamb�m naquele contexto de inspira��o divina e �s vezes geridas cm forma institucional, atrav�s de ar�spices e adivinhos estatais.Serpentes venenosas contra os adivinhosAs Escrituras exprimem uma severa condena��o das artes divinat�rias exercidas fora da revela��o mosaica � e depois crist� �, comparando-as � feiti�aria e � idolatria mais blasfemas.O Antigo Testamento condena sem atenuantes "qualquer um que pratique a adivinha��o, o sortil�gio, o aug�rio, a magia, quem fa�a encantamentos, quem consulte os espectros ou o adivinho, quem interrogue os mortos" (Deuteron�mio 18, 10-11). Pela boca de Ezequiel, Deus anuncia que sua m�o "se voltar� contra os profetas das vis�es v�s" (13, 9). Pela boca de Jeremias, amea�a arrojar em cima deles "serpentes venenosas contra as quais n�o h� encantamentos" (8, 17). Mais categoricamente, ordena no �xodo: "N�o deixarei viver os praticantes da magia." (22, 17).O Novo Testamento decidiu, por outro lado, evidenciar a natureza execr�vel de qualquer forma de magia, e, portanto, da adivinha��o, da astrologia. Atestam-no os efeitos deteriorantes que provoca sobre a pr�pria personalidade de quem exerce tais pr�ticas. O mago Sim�o, embora batizado, est� "repleto de mal e � prisioneiro da maldade" (Atos dos ap�stolos 8, 23). Um outro pseudoprofeta de nome Bar-Iesus � "homem repleto de cada engano e mal�cia, filho do diabo, inimigo de toda justi�a" (Atos 13, 6-12). Tenta bloquear a entrevista de Paulo e Barnab� com o governador de Chipre, homem inteligente e desejoso de ouvir a "palavra de Deus". Para impedi-lo, portanto, de "perturbar os

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projetos do Senhor", Paulo o cega com a for�a do Esp�rito Santo, embora s� provisoriamente: "Por um certo tempo n�o poder�s mais ver a luz", diz-lhe.O prod�gio teve o duplo objetivo de neutralizar o mago e deixar perplexo

o governador, induzindo-o a abra�ar a f� crist�. O primeiro se descobriu "nas trevas mais escuras", necessitado de algu�m que o guiasse pela m�o; o segundo foi iluminado pela revela��o divina. N�o se pode fazer menos do que colher o significado marcadamente simb�lico desse contraste entre a cegueira e a luz.Al�m da firme condena��o �s artes m�gicas, por�m, o Novo Testamento insere a profecia entre os maravilhosos dons do Esp�rito Santo, an�loga ao poder de curar, de exorcizar, de falar l�nguas desconhecidas. E a vid�ncia de origem divina, igual �quela exercida pelos profetas b�blicos, e, portanto, digna da m�xima considera��o. Nela s�o investidos os evangelistas quando preconizam eventos futuros, mas, tamb�m, figuras de segundo plano, espalhadas pela comunidade crist�.Os fi�is de Tiro dizem a Paulo que n�o v� a Jerusal�m "por sugest�o do I Esp�rito" (Atos 21,4). O mesmo texto nos informa que em Ptolemaida, o

di�cono Filipe "tinha quatro filhas n�o casadas dotadas do dom da profecia" (Atos 21, 9).Um chacal entre as ru�nasQuest�o essencial da B�blia, em recompensa ao exerc�cio da profecia, � a necessidade de distinguir os verdadeiros dos falsos profetas.O falso profeta n�o � apenas um mistificador, mas um elemento de desagrega��o social. � para o povo de Israel "como um chacal entre as ru�nas" (Ezequiel, 13, 4), em busca de sinais e prod�gios de conseq��ncias imprevis�veis, que arriscam at� a transformar-se em

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vantagem para os estrangeiros. Se isso acontecer, o profeta "dever� ser condenado � morte por apostasia pelo Senhor, pelo verdadeiro Deus, que

resgatou o povo da escravid�o, fazendo-o sair da terra do Egito" (Deuteron�mio 13, 3).Enorme na civiliza��o patriarcal � a culpa daqueles que ousam fazer

passar por or�culo do Senhor as pr�prias fantasias pessoais. Deus os desafia pela voz de Ezequiel, amea�ando exclu�-los da comunidade dos seus eleitos: "N�o ser�o admitidos no conselho do meu povo, n�o ser�o inscritos no livro de Israel, n�o entrar�o na terra dos filhos de Jac�." (13, 8-9).Aos verdadeiros profetas � conferida novamente a incumb�ncia de manter os contatos de Deus, recebendo as mensagens e trazendo as indica��es necess�rias ao cumprimento das escolhas de mais empenho. A fun��o deles n�o � simplesmente receptiva. O profeta tem tamb�m a miss�o de transmitir a Deus as demandas do pr�prio povo. Mois�s � porta voz do Senhor junto ao povo, mas tamb�m do povo junto ao Senhor."O Senhor n�o faz nada, diz Am�s, talvez o primeiro a apresentar por escrito a pr�pria experi�ncia prof�tica, no s�culo VIII a.C., "sem ter antes revelado o pr�prio conselho aos seus servidores, os profetas" (3,7). Autor

de estilo impetuoso como o vento do deserto, Am�s compara a revela��o de Deus ao rugido do le�o: "O le�o ruge: quem n�o h� de tremer? O Senhor falou: quem pode se abster de profetizar?" (3, 8).Entende-se, levando cm conta os poderes reconhecidos aos profetas, por que jamais na B�blia sejam t�o evidenciadas � e especificadas nos detalhes � as modalidades atrav�s das quais se adquire e se administra a vid�ncia. � Deus, nos casos mais excelentes, quem escolhe os pr�prios porta-vozes: �Encontrar�s um grupo de profetas descidos das alturas, precedidos por harpas, timbales, flautas e c�taras", diz Samuel a Saul. "O

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esp�rito do Senhor tamb�m te investir� e p�ssaras a ser profeta com eles, transformado em um outro homem." (Samuel, 10, 5-6).Trata-se em certos casos de uma aut�ntica e pr�pria investidura. Assim o � para Ezequiel: "Desce sobre mim a m�o do Senhor, e o Senhor me infunde o Esp�rito." (37,1). Para Isa�as: "Vai e dize a meu povo: escutai bem, mas sem compreender; observai bem, mas sem reconhecer." (6,9). Para Jeremias: "Eu te conheci antes de te formares no ventre, antes de sa�res do seio materno te consagrei: profeta dos povos te designei." (1, 4-5). Mas o � tamb�m para certos grandes protagonistas do Novo Testamento, como o batista, "repleto de Esp�rito Santo desde o seio materno (Lucas, 1, 15), e Paulo de Tarso, tamb�m ele "escolhido e chamado mediante a gra�a desde o seio de sua m�e" (Carta aos g�latas 1,15).Os outros videntes, sobre cujas faculdades n�o h� certeza, quando tamb�m n�o incorrem nos rigores das leis, s�o tratados pelos mais autorizados profetas b�blicos com um pedantismo desdenhoso. "Para mim s�o todos como Sodoma", diz Jeremias, referindo-se aos profetas de Jerusal�m (23, 14). "Profetizam a paz apenas se t�m alguma coisa para

comer", ironiza Miqu�ias (3,5).A verifica��o da efetiva credibilidade de um profeta � complexa. Aquele que anuncia paz ou guerra, escassez ou felicidade, prod�gios ou cat�strofes, � submetido a controles que poderemos definir como cruzados. N�o basta que aconte�a aquilo que diz. E necess�rio que ele seja coerente com a lei do Senhor, tanto na boa quanto na m� not�cia."S� ser� reconhecido como profeta realmente designado pelo Senhor",

diz Jeremias, "quando a sua palavra se realizar" (28,9). Frontisp�cio de um livro cabal�stico com a "�rvore sefir�tica", na qualest�o reunidos os dez n�meros primordiais (sefiroth) do conhecimento

universal.

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Se a coisa dita pelo profeta em nome do Senhor n�o se realizar, ecoa o Deuteron�mio, "isso significa que n�o foi dita pelo Senhor, mas pelo profeta, por presun��o." ( 18, 22 ).Mas fa�amos de conta, diz ainda o Deuteron�mio, texto fundamental do exerc�cio prof�tico, que "se eleva entre v�s um profeta ou um sonhador que vos proponha um sinal ou um prod�gio, e se realize o sinal ou prod�gio anunciados, e ele vos diga: 'sigamos os outros deuses', que n�o conheceis, e os cultuemos', n�o deveis ouvir as palavras de tal profeta ou

sonhador" (13, 2-4).Superada a prova da credibilidade e recebidas as credenciais para aquela que, para todos os efeitos, � uma fun��o p�blica, em sentido religioso e civil, ilimitada � a autoridade dos profetas assim considerados por designa��o divina, como � o caso de Mois�s, Abra�o, Elias e daqueles que foram nomeados, al�m de alguns outros. A palavra de Elias �queima como um archote". Nada acontece sem ser previsto por ele. Ide o diz sem meios-termos, como uma maldi��o, como fez ao fraco rei Acab, induzido a praticar os mais desenfreados ritos orgi�sticos por sua esposa fen�cia

Jezabel, no primeiro Livro dos Reis: "Pela vida do Senhor Deus de Israel, em cuja presen�a me encontro, n�o haver� orvalho nem chuva nestes anos a n�o ser quando eu o disser." (17, 1).� compreens�vel que o esfor�o para dar uma id�ia majestosa do poder prof�tico, por parte daquele que o det�m, seja em certos casos maior do que o do profetizar.Am�s compara a urg�ncia de ser iluminado pelos profetas � necessidade de alimento: "Vir�o dias nos quais", faz dizer ao Senhor, "mandarei a fome no pa�s, n�o fome de p�o nem sede de �gua, mas de escutar a

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palavra de Deus" (8, II). Miqu�ias a sintetiza num grilo: "A voz do Senhor grita para a cidade: escutai-a!" (6, 9).

Pelo amor de Si�oPela sua conting�ncia hist�rica e social, as profecias b�blicas aparecem na maior parte dos casos � ao contr�rio de outras, que investem os destinos da humanidade no seu complexo � vinculadas ao tempo em que foram pronunciadas. Os seus objetivos s�o, na maioria, imediatos, dirigidos a orientar escolhas, impor modelos de comportamento, reclamar observ�ncia religiosa e civil aos transgressores da lei. Servem para prevenir perigos, preparar as almas, infundir prud�ncia ou coragem em vista de eventos n�o distantes, de agress�es a repelir, de expia��es �s quais se submeter.Com freq��ncia a admoesta��o em refer�ncia a responsabilidades sociais espec�ficas assume o tom do an�tema. Como � o caso das repreens�es dirigidas por Isa�as a quem formula e administra mal as leis: "Ai dos que

decretam leis in�quas e emitem senten�as opressivas para negar justi�a aos pobres e defraudar o direito dos oprimidos, para explorar as vi�vas e pilhar os �rf�os." (10, 1-2).Do mesmo modo, Am�s apostrofa as "vacas de Basan", como chama as ricas samaritanas que instigam os pr�prios maridos a oprimir os fracos para alimentar seus luxos: "Vir�o sobre v�s dias em que sereis presas com anz�is e arp�es de pesca, saireis pelas brechas das muralhas e sereis arrastadas para al�m do Hermon." (4, 2-3). Refere-se ao costume mesopot�mico de deportar os prisioneiros enganchando-os com anz�is

pelos l�bios: � a previs�o da escravid�o que as espera em breve na Babil�nia, quando ser�o prisioneiras dos ex�rcitos de Nabucodonosor.Jamais havia apreciado, de resto, os excessos da aristocracia hebr�ia, por

mais pr�diga de ofertas: "Detesto, repudio as vossas festas e n�o aprecio vossas reuni�es; mesmo que me ofere�ais holocaustos, n�o aprecio a

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s vossas d�divas, e as v�timas gordas que me sacrificais em sinal de pacifica��o, sequer as olho. Longe de mim a estrid�ncia de vossos cantos: o som de vossas harpas nem posso ouvir. (5,21-23).Mas � tamb�m miss�o dos profetas infundir esperan�as com previs�es alegres, al�m de preconizar castigos. Nesta dire��o se voltam com freq��ncia as profecias de Os�ias, contempor�neo de Am�s, que se distingue pelo esfor�o de mostrar a const�ncia indestrut�vel do amor de Deus por Israel, n�o obstante os erros deste �ltimo,Israel tem culpas graves, diz o profeta, uma vez que �como uma ing�nua pomba privada de intelig�ncia chama ora o Egito, ora a Ass�ria" (Os�ias, 7, II), e por isso ser� logo devorado "como uma torta n�o virada" (7, 8), mas Deus n�o se dar� paz pelo amor de Si�o e de Jerusal�m "at� enquanto n�o surgir como estrela a sua justi�a e a sua salva��o n�o brilhar como l�mpada" (62, I). Naquele dia a cidade santa "ser� uma magn�fica coroa na m�o do Senhor, um diadema r�gio na m�o de Deus" (62, 3). Ningu�m a chamar� mais de Abandonada, nem a sua terra ser� chamada Devastada, mas sim Alegria e Esposa de Deus.Deve-se � ternura l�rica de Os�ias um dos raros momentos nos quais o intransigente Deus do Velho Testamento se pronuncia com esp�rito de perd�o e de amor, em vez de vingan�a, sobre a iniq�idade pela qual se tornou respons�vel o seu povo, trazendo-o a si "como quem levanta um menino pelas bochechas":

Eu os curarei da infidelidade,os amarei de todo o cora��o,pois minha ira se afastou deles.Serei como guia para Israel,que florescer� como l�rio

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e fincar� ra�zes como uma �rvore do L�bano.Seus brotos se expandir�oe haver� a beleza da azeitonae a frag�ncia do L�bano.Voltar�o a sentar-se � minha sombra,far�o renascer o trigo,cultivar�o as vinhas,famosas como o vinho do L�bano. (14, 5-8)

7O dia da ira

Al�m da conting�ncia que caracteriza as profecias do AntigoTestamento, circunscrevendo os efeitos ao �mbito espec�fico de Israel, n�o faltam na B�blia refer�ncias aos destinos futuros de toda a humanidade. E a mensagem escatol�gica que antecede a grande saga vision�ria de Jo�o, cronista do fim dos tempos."O dia do Senhor chega cruel, na indigna��o e na c�lera, para fazer da terra um deserto e exterminar os pecadores'', escreve Isa�as. "As estrelas e as constela��es do c�u n�o far�o brilhar a sua luz, o sol escurecer� ao nascer, e a lua n�o difundir� o seu clar�o."Terr�vel � o an�ncio que a majestade dos c�us, pela boca do profeta, dirige aos homens: "O espanto, a cova e o la�o vos sobrepujam. E haver� aquele que tentar� fugir e cair� na cova pelo espanto, e quem tentar sair dela ficar� preso ao la�o. As cataratas do c�u se abrir�o e as funda��es da terra tremer�o. A terra vacilar� como um �brio fora de seu prumo, e cair� para n�o ressurgir mais. Naquele dia o Senhor dos ex�rcitos infligir� castigos." (24, 17-21). Dir-se-ia que definitivamente Isa�as, com seu

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aceno ao planeta oscilante, fora da posi��o na qual deveria encontrar-se estivesse fazendo alus�es a um deslocamento do eixo terrestre.

A beleza humilhada pelo fogoPara esse dia Isa�as redige uma esp�cie de dec�logo apocal�ptico, enumerando os objetivos dos chamados privilegiados da ira divina. As armas do Senhor, escreve o profeta, levantar-se-�o "contra cada arrogante e altivo, contra qualquer um que se levante para abat�-lo, contra todos os

cedros altos e elevados do L�bano, contra todos os carvalhos do Basan, contra todas as altas montanhas, contra todas as colinas elevadas, contra cada torre imponente, contra cada muro inacess�vel, contra todos os navios de Tarso, contra todas as embarca��es de luxo" (2, 12-16). Vale a pena levar a s�rio a modernidade da sua concep��o de justi�a, que para golpear a soberba leva em conta as embarca��es de luxo. Para o resto, orgulho e arrog�ncia s�o individualizados n�o s� nos comportamentos humanos, mas nas apar�ncias que transparecem da natureza e das coisas:

desaparecer�o as �rvores e os montes, se altos e elevados, e as torres, se imponentes.Ser� punida nesse dia a vaidade das "filhas de Si�o", sobre a qual Isa�as se mostra minuciosamente informado. O Senhor coibir� �s mulheres o

uso de�ornamento de fivelas, broches e lunetas, brincos, braceletes, v�us, correntinhas nos p�s, cintas, frasquinhos de perfume, amuletos, an�is pendentes do nariz, roupas preciosas e capinhas, xales, bolsinhas, espelhos, t�nicas, chap�us e robes", deixando-lhes "em vez de perfume, podrid�o, em vez de cinta, uma corda, em vez de cachos, calv�cie, em

vez de roupas, um saco, em vez de beleza, queimaduras" (3, 18-24). Reduzidas a esse estado piedoso, as mulheres de Israel figuram no vocabul�rio apocal�ptico de Isa�as qual representa��o simb�l

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ica de todo o g�nero feminino.No mais, a terra ser� horrivelmente recoberta de insetos "nesse dia", pois

"o Senhor dar� um assovio �s moscas que est�o na extremidade dos

canais do Egito e �s abelhas que se encontram na Ass�ria", as quais "vir�o pousar todas nos vales ricos em peras macias, nas fissuras das rochas, sobre cada moita e sobre cada pastagem" (Isa�as, 7, 18-19). E uma imagem que parece antecipar a invas�o dos monstruosos gafanhotos de Jo�o, como de resto quereria fazer Joel quando descreve o irromper dos inimigos "com aspecto de cavalo" na cena daquele que tamb�m ele chama "dia do Senhor, muito terr�vel"."Como corc�is eles correm, como fragor dos carros que saltam pelo cimo

das montanhas, como crepitar da chama flamejante no restolho, como povo enfileirado em batalha. (...) Arremetem sobre cidades, se precipitam sobre muralhas, sobem sobre as casas, entram pelas janelas, como ladr�es" (Joel 2, 4-9).Esse ser� "o dia da ira, dia de ang�stia e de afli��o, dia de exterm�nio e de ru�na, dia de treva e de nevoeiro, dia de nuvem e escurid�o, dia de toques de trombeta e de alarme" (Sofonias, 1, 15-16). Coincide com as previs�es de Isa�as o cen�rio descrito pelo profeta Sofonias sobre o fim do s�culo VIl a.C., mas este �ltimo se distingue pelo esfor�o de evidenciar as possibilidades de salva��o que se tornar�o claras no Apocalipse de Jo�o.Como o �ltimo profeta de todo o ciclo, de fato, Sofonias, que est� entre os primeiros, prev� um ju�zo divino que � severidade no tocante aos

ricos corruptos contrap�e a clem�ncia pelos deserdados, pelos pobres, pelos justos. A eles se dirige incitando-os a procurar o Senhor, em vista da cat�strofe iminente, e se colocarem sob a sua prote��o.Diz-se que profetas como Isa�as e como Sofonias, que escrevem em �poca anterior ao ex�lio da Babil�nia, identificam a cat�strofe final com esta prova tr�gica para o povo de Israel. O ar fortemente simb�lico das

descri��es, todavia, fogem a qualquer delimita��o de �poca, con

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ferindo a suas profecias uma espessura aleg�rica universal que as coloca entre os portais de qualquer outra vis�o escatol�gica. Tanto � que, no mesmo

Apocalipse, escrito oito s�culos mais tarde por Jo�o, a cidade de Babil�nia permanece mais como uma id�ia do que como uma localidade real, quintess�ncia simb�lica de todo mal na terra. Por isso a sua ru�na, qualquer que seja a �poca e o lugar em que aconte�a, representa a ru�na de qualquer outra civiliza��o na qual prevale�am as pot�ncias infernais.N�o pode mais se enquadrar como antecipa��o da vis�o de Jo�o, ali�s, o ac�mulo catastr�fico de revela��es que foram razoavelmente definidas, no seu conjunto, Apocalipse maior e Apocalipse menor de Isa�as. Do primeiro citou-se a passagem que v� a terra de tal forma desordenada, a ponto de vacilar fora de seu prumo natural. No segundo s�o descritas as coisas que acontecem "no dia da vingan�a do Senhor", quando a Sua espada estar� "gotejante de sangue, eivada de gordura":Os nos daquele pa�s virar�o piche,a poeira se transformar� em enxofre,a terra se tornar� lava ardente.N�o se extinguira nem de dia nem de noite,sua fuma�a subir� eternamente.Ficar� deserto por todas as gera��es futurase jamais algu�m por ali passar�.N�o o habitar�o o pelicano e a coruja,o mocho e o corvo.O Senhor estender� sobre este pa�s a r�gua da solid�oe o n�vel do vazio...Nos seus pal�cios crescer�o espinhos,urtiga e cardo nas suas fortalezas.Tornar-se-� um covil de drag�es,uma charneca de aves de rapina.Felinos selvagens e hienas brigar�o entre si,os dem�nios chamar-se-�o uns aos outros.A� as serpentes tamb�m far�o ninho,e extrair�o seu sustento.A� encontrar� ref�gio a coruja para p�r seus ovos,

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enterr�-los e choc�-los na sua sombra.Vir�o tamb�m os abutresprocurando uns aos outros.Ningu�m se far� esperar. (34, 9-16)� atrav�s de tais excurs�es entre os escombros de cat�strofes situ�veis em um futuro remoto que a literatura b�blica encontra conex�o exata com os grandes medos contempor�neos. Tamb�m a resposta � a mesma. Tanta desola��o n�o se esgota de fato em si mesma, n�o p�e o selo definitivo sobre a hist�ria do homem. � em vez disso pre�mbulo, como no Apocalipse de Jo�o, para uma paz- messi�nica que transmutar� a terra em um novo �den, no qualo lobo morar� junto com o cordeiro,a pantera se estender� junto ao cabrito,o novilho pastar� em companhia do le�oe uma crian�a os guiar�. (Isa�as 11,6)Cada qual com seu apocalipseOutros apocalipses, dentro e fora do contexto judaico-crist�o, enchem o quadro das profecias voltadas a investigar as metas de morte rumo �s quais a humanidade parece, segundo um recorrente lugar-comum, estar direcionada. A de Jo�o � certamente a mais completa e abrangente revela��o sobre o fim dos tempos � ainda que, como se viu, deva ser lida em um sentido salv�fico e regenerador, n�o destrutivo �, mas n�o � a primeira nem a �ltima digna de interesse.� a �nica reconhecida nas Escrituras como "palavra de Deus", isto sim,

igualando-se aos Evangelhos, mas n�o a �nica da qual se reconhece a autenticidade hist�rica, ainda que negando a matriz divina da inspira��o.Existem apocalipses ap�crifos, que reconduzem tanto � tradi��o do Novo quanto do Antigo Testamento, cuja paternidade � atribu�da por c�lculo dos autores, deliberadamente an�nimos, a prestigiosas figuras de santos e

de profetas, ap�stolos e patriarcas. Por isso s�o chamados de ap�crifo

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s, isto �, ocultos, do verbo grego apocripto, que significa exatamente ocultar: porque os seus verdadeiros autores preferiram ficar na sombra e servir-se de nomes j� consagrados a uma fama universal, conferindo assim maior autoridade �s pr�prias profecias.N�o lograram seu intento em rela��o � autoridade, mas certamente obtiveram uma aten��o que de outra forma lhes teria sido negada, ainda que, �s vezes, em termos de simples curiosidade, como conv�m a uma

colet�nea de belas narrativas, raiadas talvez de algumas ingenuidades, que gravitam em torno dos grandes fil�sofos que especulam sobre o que somos e de onde viemos, mas sobretudo para onde vamos.Pertencem a esta literatura escatol�gica os apocalipses atribu�dos a Esdras, Baruc e Mois�s, no que diz respeito � nomenclatura do Antigo

Testamento, e a Pedro, Paulo e Tom�, em rela��o � crist�. Embora os tr�s primeiros tenham sido escritos em �pocas posteriores � do nascimento de Cristo.Diz-se que o Apocalipse de Baruc � um texto s�rio do s�culo I que por certo nada tem a ver com o aut�ntico profeta Baruc ("o bendito"), secret�rio e companheiro de Jeremias na escravid�o de Babil�nia, relator de maravilhosas vis�es sobre o futuro renascimento hebraico. O ap�crifo, ao contr�rio do aut�ntico Livro de Baruc (581 a.C.), limita-se a um catastrofismo artificioso, enunciando ao leitor "aquilo que acontecer� no fim dos dias".� indicado como Apocalipse de Esdras o �ltimo dos quatro livros prof�ticos de um autor hebreu do s�culo I, no qual em sua tradu��o latina (do grego) s�o encontrados alguns acr�scimos crist�os. Ilustra o ju�zo final, e os sinais que o preceder�o, em sete vis�es, confirmando que a sorte dos bons ser� diferente da dos maus. Est� entre os livros que a Igreja se permite ligar �s Escrituras � em seq��ncia, logo depois do Apocalipse de Jo�o �, por�m excluindo o que possa ser considerado

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express�o da vontade divina.�, no entanto, de autor crist�o, apesar da refer�ncia ao grande interlocutor do Deus origin�rio de Israel, o Apocalipse de Mois�s, escrito em grego. Vem em seguida uma Ascens�o de Mois�s, texto tamb�m

ap�crifo, que conta a hist�ria de Israel desde as origens at� o advento do Cristo.Situam-se no mesmo �mbito prof�tico o Livro dos Jubileus, tamb�m chamado Pequeno G�nesis, que a partir da vis�o mosaica da cria��o reconstr�i a cronologia dos hebreus, e o Testamento dos doze patriarcas, no qual os grandes protagonistas da B�blia dispensam previs�es e ensinamentos extra�dos da pr�pria exist�ncia.N�o se revestem de um interesse espec�fico no �mbito da literatura escatol�gica os apocalipses atribu�dos a autores do Antigo Testamento, nos quais prevalece a imita��o do insuper�vel modelo joanino. Neste mesmo limbo liter�rio s�o colocados os de Pedro, Paulo e Tom�.Distingue-se de qualquer modo o primeiro, citado, entre outros, por Clemente de Alexandria, pela abrangente descri��o ins�lita feita pelo autor de como seria ap�s o ju�zo final a exist�ncia dos beatos e dos amaldi�oados. Menos interesse suscitaram os outros dois, n�o obstante

permanecerem desconhecidos at� o s�culo V quando foram mencionados no decreto do papa Gel�sio, que distinguia os escritos can�nicos � isto �, que conservavam a "palavra de Deus� � dos ap�crifos.A aceita��o da literatura ap�crifa neotestament�ria por parte da Igreja n�o foi totalmente indolor.Ao contr�rio do que aconteceu para os ap�crifos de tradi��o hebraica, os de inspira��o crist� criaram uma not�vel confus�o pela pretens�o de atribuir a cada ap�stolo seus evangelhos, atos, ep�stolas ou apocalipses

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pessoais.Houve um Evangelho segundo os eg�pcios, um segundo os hebreus, outro segundo os ebionitas, seguidores de uma seita fundamentalista que negava a divindade do Cristo e lutava por um r�gido retorno � lei mosaica; e mais: um Evangelho �rabe da influ�ncia do Salvador, de origem s�ria, um Protoevangelho de Tiago, um Evangelho de Tom� o israelita e outros levando os nomes de Pedro, Filipe e assim por diante. N�o faltaram Atos de Pedro, Atos de Paulo, Atos de Pedro e Paulo juntos, e depois de Andr�, de Jo�o, de Tom�. Enfim, pode-se bem compreender como poderia tornar-se delirante a fantasia dos an�nimos nas cartas. Sensacional entre estas, � a improv�vel correspond�ncia entre Paulo e o fil�sofo romano S�neca (oito Ep�stolas de S�neca a Paulo e seis de Paulo a S�neca, em latim) e entre Jesus e Abgar Uchana, indicado na tradu��o grega como toparca de Edessa, ou seja, governador local, no ano 31 (uma Ep�stola a Jesus de Abgar Uchana e correspondente Resposta do Salvador por meio do mensageiro Ananias, ambas em s�rio).

A guerra no c�u entre o arcanjo Miguel c L�cifer, em uma gravura de Albrechl D�rer.

Muitos desses textos nascem na ambig�idade, por artif�cio doutrin�rio e zelo religioso mal interpretado, sob influ�ncia de movimentos de identidade incerta, suscitando desconfian�a e rea��es na comunidade eclesi�stica. Da� derivaram disputas, dissid�ncia e, em v�rios casos, acusa��es de heresia. � parte o Evangelho segundo os ebionitas, chamado tamb�m Evangelho dos doze, notoriamente em contraste com a

f� crist�, o Evangelho segundo os eg�pcios mostrava inten��es

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antitrinit�rias, o Evangelho de Filipe era decididamente gn�stico, o Evangelho de Pedro aceitava o docetismo, insistindo em que o corpo do Cristo era apenas aparente, e revelavam conte�do her�tico tamb�m os Atos de Pedro, de Andr�, de Jo�o e de Tom�.As mulheres dos anjosGanha um destaque maior, entre os ap�crifos b�blicos de teor apocal�ptico, o Livro de Enoc, que reconstr�i as origens do mundo aprofundando os mist�rios da cria��o, com acenos de uma certa sugest�o po�tica �s moradas dos anjos e dos justos, �s persegui��es destes �ltimos e � sua liberta��o, com o castigo dos "�ridos de cora��o, para os quais nunca haver� paz" (1, 5).Aos an�nimos que se ocultam atr�s do nome do Enoc (e s�o v�rios, pois a compila��o recua at� o tempo dos macabeus, cerca de 160 anos a.C., e vai at� o s�culo II d.C.) se deve uma das lendas mais belas que se pode

imaginar sobre a origem da arte prof�tica e da magia em geral, as quais teriam brotado do amor dos anjos pelas filhas dos homens.L�-se de fato no livro � cuja originalidade � aumentada pelas l�nguas nas quais � escrito, et�ope e eslava � que logo depois da cria��o do mundo alguns anjos se apaixonaram pelas mulheres e renunciaram ao c�u por elas. Adquiriram natureza humana, se uniram �quelas jovens bel�ssimas e ensinaram a elas os segredos das estrelas, dando-lhes condi��es de ler o destino dos homens e de cumprir cada encantamento.Das esposas dos anjos, segundo o Livro de Enoc, nasce a estirpe dos magos.Quanto aos anjos que se deixaram seduzir pela beleza delas, pode-se dizer que o seu pecado foi semelhante ao de Ad�o, transgressor por amor

a uma mulher. Um pecado, afinal de contas, venial, comparado ao dos anjos rebeldes que, por orgulho, seguiram L�cifer em sua revolta contra Deus.

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8As tr�s idades do mundo

Mas quando acontecer� tudo aquilo que Jo�o e os outros escritores apocal�pticos descreveram com tanta profus�o de detalhes?A resposta est� na Ghemara, a tradi��o oral judaica, colhida na Mishn� do rabino Yeud�, chamado Judas o Santo, e depois comentada no Talmude por mestres da mais alta ordem.O destino do mundo deveria ser cumprido, segundo os c�lculos expressos neste resumo n�o apenas religioso da civiliza��o hebraica, abrangendo uma faixa de seis mil anos, que � dividida em tr�s fases de igual dura��o: a idade das leis naturais, a idade da lei mosaica, a idade da lei messi�nica.Portanto, o fim do mundo deveria ocorrer ap�s dois mil anos do aparecimento do Messias, que em l�ngua hebraica significa o Ungido (Mashih, traduzido em grego Christ�s). Na sua volta o Messias deveria chegar, atendo-se a uma contagem convencional do tempo, dois mil anos ap�s Mois�s, portador da lei divina em um mundo dominado pela lei natural. Ao encerramento de uma era primitiva, uma esp�cie de aurora da

humanidade prolonga-se tamb�m por dois mil anos.�s contagens, caso se recorra aos par�metros comuns, n�o recome�am.Os dois mil anos do Messias j� terminaram, se considerarmos Jesus como tal. Mas os compiladores do Talmude, como bem sabem todos, n�o se referiam ao Cristo, mas sim a algu�m que, segundo as certezas hebraicas, ainda deve chegar. E em todo caso, quando tamb�m se quisesse agitar esta convic��o identificando o Redentor crist�o no Messias, n�o decorrem dois mil anos � mas somente treze s�culos � entre Cristo e Mois�s.Os encontros com o MessiasO Messias, se os anos a serem contados s�o relacionados � cronologia comumente aceita, deveria chegar por volta do s�culo VII d.C., o s�culo XX depois de Maom�. Tal prazo corresponde � vinda de Maom�, cuj

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o apostolado come�a no ano 632. Mas � claro que nem mesmo a Maom� aludem o rabino Yeud� e os s�bios compiladores do Talmude.Se, portanto, o Messias ainda n�o veio, como insistem com firme convic��o os hebreus, excluindo a eventualidade de ser Cristo ou Maom�, ent�o o c�mputo talm�dico parece defasado. Passaram-se 3.400 anos desde o tempo de Mois�s, e o Ungido de Deus n�o se mostrou.Vem a complicar posteriormente a elabora��o do c�lculo a dificuldade de individualizar � e limitar a dois �nicos mil�nios � o tempo dito da lei natural. De fato, retrocedendo-se dois mil anos da �poca de Mois�s,

chega-se ao ano 3.300 a.C., �poca na qual floresce a civiliza��o de Ur, na Mesopot�mia, fixam-se ao longo do Nilo as bases para os reinos do Alto e do Baixo Egito, cultiva-se o arroz na China e o milho onde � hoje a Am�rica. O homo sapiens j� fizera sua apari��o na terra havia mais de trinta mil anos, e certamente n�o se pode negar que a vinda deste portador da primeira centelha de intelig�ncia humana deva remontar �

origem da que o Talmude chama de lei natural.Mas tamb�m pondo de lado estas considera��es e aceitando a cronologia hebraica tradicional, o c�lculo n�o fecha, pois a data da cria��o est� fixada pelos Setenta em 5.634 a.C., 43 s�culos antes de Mois�s. � digno de nota que a vers�o deles fosse aceita n�o apenas pelos hebreus, mas tamb�m pelos primeiros crist�os, at� ser adotada pela Igreja e impressa por delibera��o do Conc�lio de Trento, em 1586.Os termos da quest�o tamb�m n�o s�o deslocados pelo fato de que � data indicada pelos Setenta sobrep�em-se mais tarde outras, originadas pelo zelo de historiadores, ascetas, ocultistas e exegetas, n�o raro atra�dos pela id�ia de que a descoberta pudesse fornecer-lhes uma chave essencial de acesso a futuros mist�rios da humanidade. Mas pouco representa, para fins do c�lculo talm�dico das eras do mundo, que tivesse tido in�cio

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em 5.634, como pretendiam os Setenta, ou por volta de 3.950, como sustentaram Fl�vio Josefo nas suas Antig�idades Judaicas e Beda, o Vener�vel, na Cr�nica sobre seis eras deste mundo; em 4.295, segundo

uma variante atribu�da � tradi��o samaritana em rela��o � hebraica, ou no fim da tarde de 12 de outubro de 4.004, como delirou em �poca mais recente o exc�ntrico bispo Uss�rio (James Usher), primaz da Irlanda. Foram bem 117, de resto, os sistemas de c�lculo inventados durante os s�culos para conciliar a hist�ria sacra com a profana sobre a cria��o, com resultados que fazem oscilar a data entre o m�ximo o ano de 6.984 a.C., segundo o Regiomontano (o astr�nomo Johann M�ller), o m�nimo em 3.616, segundo o veneziano Alvise Lippomano.At� aqui a leitura superficial dos elementos permite deduzir, segundo o Talmude, a data do fim dos tempos. Caso se concorde tamb�m sobre o fato de que a solu��o de um tal mist�rio deva for�osamente exigir, em qualquer religi�o que se queira colocar, uma leitura profunda do texto no qual est� baseado, se dever� tamb�m concordar ent�o em que a contagem dos seis mil anos � e da sua subdivis�o c�clica � n�o pode ser efetuada em termos convencionais.Vale para o fim do mundo, vale para a cria��o do mundo. Tamb�m para esta �ltima � indicada na B�blia uma faixa de tempo aparentemente report�vel a um esquema totalmente comum, que restringe a seis dias a realiza��o do des�gnio divino. E vale igualmente para qualquer est�gio do plano preordenado para o homem: a Noite do Decreto � como o Cor�o chama a noite em que Maom� recebe a revela��o de Al� � "vale mais de mil meses" (sura 97,2-5).

O Calend�rio de DeusNa abertura do G�nesis lemos que por seis vezes, "da noite at� o amanhecer", o Senhor dedicou-se a sua obra, criando c�us e firmamento,

�guas, animais, frutos da terra, e por fim o homem, e descansou no

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s�timo dia. E n�o � dado ao crente duvidar de que as coisas tenham realmente ocorrido assim, mas tampouco se pretende que ele aplique rigidamente ao "calend�rio" de Deus a pr�pria concep��o de tempo.� opini�o difundida e teologicamente aceita que a palavra "dia" no uso

b�blico n�o deva necessariamente ser interpretada no sentido literal, mas "enquanto �poca ou tempo de extens�o indeterminados", sem impedimentos de ordem hist�rica ou cronol�gica. Ningu�m pode de fato conhecer de que plano ideal � ou did�tico � pretendia o profeta tornar-se porta-voz no seu vocabul�rio.O mesmo se pode dizer quanto � longevidade dos patriarcas, que o registro b�blico estima em centenas de anos: Enoc viveu 365 anos, Lamec, 777, Malaleel, 895, Set, 912, Matusal�m, 969, mais do que Ad�o, que n�o passou dos 930 (G�nesis 5, 4-31). Mas nenhum fiel � obrigado a crer que os anos de Matusal�m, como os dias da cria��o, correspondam a uma contagem de tempo real.N�o faltaram tentativas de estabelecer uma esp�cie de equa��o entre os seis dias do G�nesis e os seis mil anos do Talmude, como se o arco da cria��o devesse identificar-se, na representa��o b�blica, com todo o ciclo vital do mundo. A obra criadora de Deus, segundo esta leitura, nunca chegaria a cumprir-se, e quando isso acontecer (ao findar do sexto dia, ou do sexto mil�nio), o mundo deixar� de existir. S� ent�o Deus poder� repousar; e eis ent�o explicado � da maneira mais simples � o significado do s�timo dia, o dia de repouso.S�o citadas como sustenta��o desta teoria as palavras dos ap�stolos Pedro e Barnab�. Diz o primeiro que "um dia est� diante de Deus como dois mil anos, e mil anos como um dia" (2�. Ep�stola de Pedro 3, 8). O outro acrescenta: "Ide cumpriu as suas obras em seis dias, o que significa que a dura��o deste mundo deve ser de seis mil anos e que este � o prazo

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designado por Deus a todas as suas obras." (Ep�stola de Barnab� 15, 4-5).Uma explica��o complementar sobre o sentido do s�timo dia � dado por s�o Jer�nimo, doutor da Igreja, o qual afirma que depois dos seis mil anos correspondentes aos seis dias da cria��o "vir� o n�mero seten�rio e octon�rio, no qual ser� celebrado o verdadeiro s�bado ou repouso".

Anjos difundem a gra�a do c�u sobre a cabe�a do Profeta, do genro Ali e dos dois filhos que este teve com F�tima, em uma miniatura persa ao s�culo XVIII.

Tais certezas s�o abra�adas por numerosos padres da Igreja do Oriente e do Ocidente, seguidos por um magote de bispos, m�rtires e m�sticos, entre os quais Franco, Irineu, Cipriano, Hip�lito, Ambr�sio, Gaud�ncio, Hil�rio, Agostinho, Anast�cio, Justino, Germano, Isidoro, Cirilo e, em

tempos mais recentes, Roberto Bellarmino, acusador de fil�sofos e cientistas como Giordano Bruno e Galileu, portadores de novas vis�es do

mundo incompat�veis com a sua. Nem faltaram entre os mantenedores da equa��o b�blica, � parte os santos e os eclesi�sticos, livres-pensadores da estatura de Pico della Mirandola.Mas se existe uma chave para a decifra��o de certas passagens obscuras tanto da B�blia como do Talmude, seu segredo n�o pode corresponder a um c�digo de dom�nio p�blico, mas reportar-se a um sistema

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interpretativo mais herm�tico, para ter acesso �quele que requer uma complexa inicia��o. N�o necessariamente sacra, mas pelo menos de

estudo. Por outro lado, � isso que quer dizer literalmente Talmude: "estudo". E, no caso espec�fico, � o estudo de uma "segunda lei" ou "repeti��o" (em hebraico mishn�) ligada a uma base oral que por sua vez quer dizer, em outro sentido, "estudo" (em aramaico ghem�r, que quer dizer justamente estudar ou tamb�m completar). Definitivamente, portanto, este documento essencial do pensamento hebraico � o estudo de um estudo atrav�s de instrumentos que certamente n�o est�o ao alcance de qualquer um.N�o se trata tamb�m de um texto voltado � enuncia��o de profecias astrais vazias, pois todo o seu conte�do est� direcionado a investir, no seu conjunto, os mais variados aspectos do viver civil hebraico, como direito, medicina, geografia, matem�tica, hist�ria e folclore, estendendo-se dos extremos do misticismo aos da praxe, sem descuidar os usos e costumes dos outros povos. E tamb�m para tem�ticas aparentemente distantes da especula��o esot�rica uma leitura superficial n�o �

suficiente. � necess�rio, para poder colher seu sentido, o aprendizado de uma doutrina � ou, mais especificamente, de um m�todo, de uma t�cnica � que s� alguns poucos mestres peritos est�o em condi��es de transmitir.Esta �, em cada verossimilhan�a, a heran�a oculta dos s�bios que

trabalharam na elabora��o escrita da tradi��o oral de Israel, e que pela diversidade das fun��es desenvolvidas devem distinguir-se ao menos em duas ordens principais, a dos tannaiti (de tannaim, que quer dizer repetidor ou expositor) e a dos amoriti (de amor�, interlocutor). Os primeiros colaboraram com o rabino Yeud� na Mishn�, portanto na transcri��o (repeti��o, exposi��o) do quanto se podia deduzir do testemunho dos padres; os segundos no Talmude, portanto na an�lise,

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examinando a obra de seus predecessores. Tratou-se assim de uma pesquisa profunda, conduzida sobre mais n�veis, com �xitos aos quais n�o � imagin�vel atribuir os significados que a apar�ncia did�tica do texto poderia sugerir.O Jardim de Al�Os mu�ulmanos tamb�m cr�em no fim do mundo, tanto que apresentam numerosas analogias com o Apocalipse de Jo�o e com outras profecias dos dois Testamentos. Existe sobre esta espera do ju�zo universal � e sobre a maneira como deveria desenvolver-se � uma s�lida identifica��o de vis�es entre as tr�s grandes religi�es monote�stas, cujas origens comuns criaram mais elos e coincid�ncias entre si do que as antigas disc�rdias permitiram intuir. Assim se explica a coexist�ncia na doutrina isl�mica, na crist� e na hebraica de profetas como Abra�o (Ibrahim para os �rabes), Mois�s (Musa), Jesus (Isa); de anjos como Gabriel (Jabra), Miguel (Mikal), Rafael (Israfil); de dem�nios como Satan�s (Iblis ou Saytan). Explica-se que Maom� "encontra" Jesus durante uma prodigiosa ascens�o ao c�u. Explica-se que seja o arcanjo

Gabriel o portador do pergaminho de Al� ao seu profeta, como o fora para Maria.Como vemos nas escrituras judaico-crist�s, o Cor�o prev� (nas suras 81 e 82) que "o ju�zo final venha precedido de assustadoras cat�strofes naturais, n�o s� terremotos e inunda��es, mas ainda quedas dos astros e escurecimento do sol. Prenuncia, al�m disso, combates sangrentos na apari��o do Anticristo al-Daijal, que no entanto ser� derrotado e morto por Isa-Jesus.� decisiva nesta fase conclusiva da hist�ria do homem a reapari��o do Cristo, em trajes isl�micos, na cidade de Damasco; um Cristo mortal, que

fundar� um reino de paz, viver� entre os homens e por fim morrer�, para ser sepultado em Medina.Tamb�m as profecias cor�nicas sobre o fim do mundo, como aquelas q

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ue examinamos at� aqui, a come�ar pelas mensagens marianas, deixam � humanidade uma margem de salva��o, pois os homens ser�o julgados por suas a��es, registradas por Deus em um grande livro, e os justos, os devotos, os fi�is fervorosos ser�o recompensados. N�o � de espantar, portanto, que a profecia de F�tima, n�o obstante sua peculiaridade cat�lica, seja reivindicada pelo Isl� como sua.Por mais que se possa julg�-la ampla, a margem de salva��o reservada aos homens da tradi��o isl�mica n�o � f�cil de dizer. "Encherei o inferno de deidades pag�s e de homens", amea�a Deus no Cor�o (sura 32), aludindo a um destino que nem sempre as obras est�o em condi��es de modificar, dada a dificuldade de que o livre-arb�trio possa prevalecer sobre a predestina��o. Mas isso � mat�ria de uma disputa teol�gica que nem mesmo os mais sagazes mestres do Isl� resolveram at� agora.Diferentemente do inferno crist�o, que em todo caso poderia tamb�m estar vazio, o inferno mu�ulmano deveria transbordar de infi�is ao encerramento do ju�zo. A verdade � que "os justos v�o para um lugar de del�cias [o al-gann�, o jardim] e os pecadores para o inferno [o an-nar, o fogo]", mas todos dever�o atravessar a gigantesca boca dos infernos, chamada tamb�m de �golfo do inferno", equilibrando-se sobre uma ponte mais fina que um fio de cabelo e mais afiada que uma cimitarra. E � de presumir que n�o ser�o muitos a evitar o abismo para poder repousar no jardim de Al�, entre regatos de mel, vinho e leite, em companhia das encantadoras jovens denominadas huri, literalmente "brancas".Gog e MagogA profecia de Maom� sobre o fim do mundo � assinalada pelas mesmas recomenda��es formuladas pelos profetas b�blicos e por Jo�o. Haver� muitos impostores que, passando-se por profetas, far�o o jogo do Anticristo, mas os tempos ser�o reconhec�veis por sinais bem precisos,

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muitos dos quais j� evidenciados nas Escrituras. A f� andar� desaparecendo entre os homens, como j� assinalado pelo evangelista Lucas ao perguntar: "Mas, quando vier o Filho do homem, acreditais que encontrar� a f� sobre a terra?" (18, 8). Mudar�o os valores at� serem todos subvertidos, com a eleva��o dos menos merecedores �s mais altas dignidades e haver� troca de pap�is entre servos e senhores. Haver�

derramamento de sangue, mas os sobreviventes dever�o sofrer grandes atrocidades, a ponto de invejar os mortos, como se l� tamb�m no Apocalipse e em certas profecias marianas. Far� sua apari��o uma besta monstruosa, id�ntica � descrita por Jo�o, e depois dela o Anticristo, que ter� um �nico olho e estampadas na testa as tr�s letras CFR, cujo som cafer se aproxima de "infiel". Irromper�o na Palestina os b�rbaros provenientes de Gog e Magog, chamados pelos mu�ulmanos como Yadjoudj e Madjoudj, que saquear�o Jerusal�m, mas ser�o aniquilados quando Jesus matar o Anticristo.Digna de nota na profecia cor�nica � a indica��o do lugar no qual este supremo divulgador do mal deveria fazer sua apari��o. Deveria acontecer no Iraque ou na S�ria, prov�ncias rebeldes do Isl�, que se recusar�o a pagar � assim est� escrito � o seu tributo � causa divina.Ocorrer�o sinais ligados �s turbul�ncias entre os homens e outros �s da natureza. Entre os primeiros, uma s�rie de revolu��es, uma guerra contra os turcos e uma contra os gregos, chamas no I�men, a destrui��o do

templo sagrado da Caaba em Meca pela m�o de inimigos provenientes da Eti�pia. Entre os segundos, invers�o do curso do sol, que surgir� no

Ocidente em vez de no Oriente, e uma catastr�fica inunda��o provocada

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pelo transbordamento do Eufrates, em cujo leito ser� descoberta uma inestim�vel quantidade de ouro e prata, enquanto no c�u uma grande fuma�a se expandir�.� parte as guerras contra os turcos e contra os gregos, travadas no passado pela independ�ncia na na��o �rabe, suscita uma certa inquieta��o o entrela�amento de sinais que claramente evocam acontecimentos ligados � recente pol�tica iraquiana (a guerra do "grande diabo" Saddam contra o Ir�, a invas�o do Kuwait) e � interven��o ocidental (simbolizada pelo nascer do sol n�o mais no Oriente, como imporia o esp�rito da jihad, mas sobretudo � descoberta de um inesgot�vel tesouro na bacia do Eufrates (o petr�leo, o ouro negro) e � fuma�a dos po�os incendiados.Digna de nota � tamb�m a refer�ncia � prolifera��o de seitas e cultos id�latras que a profecia maometana indica, tal como a crist� e a hebraica, entre os sinais do fim iminente.

Talism� �rabe com f�rmula protetora contra a magia "no nome de Al�, o Onipotente".Inserem-se na profecia tradi��es estranhas ao Cor�o, mas aceitas pelo Isl�, segundo as quais o fim dos tempos ser� selado pela vinda do M�di, descendente direto de Maom� e executor da vontade de Al�. O nome com o qual � designado significa exatamente "o direto", em ambos os sentidos

da estirpe e da orienta��o: direto descendente do profeta, direto de Deus.Segundo alguns c�rculos mu�ulmanos, este �ltimo im� j� vive, h� s�culos, e espera o momento no qual Deus ordenar� que se revele.

9Os Senhores das Estrela

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Desde a Antiguidade mais remota, antes que tomasse forma a literatura prof�tica da B�blia, a inc�gnita do futuro foi praticamente o centro de cada pesquisa de car�ter oculto e sacerdotal. Uma enorme tarefa, j� que as pr�ticas divinat�rias acabariam por conquistar um papel importante tanto nas artes m�gicas quanto no ritualismo religioso, com freq��ncia coincidentes entre si. Isso vale para as sociedades primitivas, como tamb�m para as mais evolu�das. Existem vest�gios na civiliza��o mesopot�mica, onde historicamente teve origem a magia, e tamb�m na

eg�pcia, no mundo hel�nico, entre os celtas e nas sagas escandinavas, entre os romanos e os etruscos, na antiga China e na cultura indiana, onde filosofia e religi�o se entrela�am no maravilhoso des�gnio dos Vedas.� significativo, considerada a extrema variedade deste contexto � a similitude da abordagem humana � magia �, que as diversidades culturais e ambientais n�o costumem se diferenciar muito. Prova disso, em especial no tocante �s revela��es e profecias, � a relativa uniformidade dos m�todos adotados por videntes para perscrutar al�m do v�u do futuro, interpelando dem�nios e estrelas, perscrutando os sinais

da natureza, lendo na fuma�a dos sacrif�cios ou elaborando textos oraculares sagrados.Al�m da lenda, tudo isso torna cr�vel a hip�tese de uma origem das tradi��es m�gicas. De fato, � l�cito deduzir desta espantosa semelhan�a a eventualidade de que todas, no seu conjunto, possam remontar a uma s� raiz.Pode-se explicar esta �ltima com a exist�ncia, �s vezes imersa submissamente no curso dos s�culos, de canais ocultos de comunica��o entre os adeptos pertencentes �s mais diversas civiliza��es. Mas, um certo peso deve ser tamb�m atribu�do ao fato de que magia e adivinha��o corresponderiam de qualquer modo, n�o importa o lugar e as circunst�ncias de suas pr�ticas, �s mesmas necessidades humanas.A "ci�ncia dos magos"

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Os autores da Antig�idade falam de "ci�ncia dos magos" como de um complexo de doutrinas que v�o da religi�o � matem�tica, � medicina e a qualquer forma de conhecimento, mas, sobretudo, � arte de ler no destino

do homem sem ter de submeter-se a nenhuma conven��o temporal. E isso vale tanto na tradi��o ocidental quanto na oriental, na �tica mediterr�nea e na n�rdica.Envolvem-se nas suas origens personagens diversos, com freq��ncia enquadr�veis dentro de um esquema religioso. O romano Pl�nio, o Velho, historiador e naturalista, atribui sua inven��o a Zoroastro na P�rsia e a Mois�s entre os hebreus. Figuram, al�m disso, entre os progenitores m�ticos da magia, o deus Thot no Egito e Brahma no hindu�smo.Existe, por�m, uma figura central na origem da magia que se coloca na encruzilhada de cada tradi��o: Hermes Trismegisto, de cujo nome deriva justamente o voc�bulo "hermetismo", que significa a cultura secreta dos magos. � evidente a possibilidade de identific�-lo como o Hermes divino dos gregos � o Merc�rio dos romanos�, mensageiro dos deuses, e assim portador de verdades inacess�veis e ocultas.Trismegisto quer dizer "tr�s vezes grande". Al�m disso, o n�mero tr�s remete este arqu�tipo mitol�gico a um vasto conjunto de doutrinas m�gicas e religiosas, inclusive a crist�.Atribui-se a ele a formula��o da T�bua de esmeraldas, documento aleg�rico no qual s�o indicados os princ�pios fundamentais da pesquisa esot�rica. A tradi��o defende tratar-se de uma inscri��o adiada por Alexandre Magno em uma das pir�mides de Giz�, onde, segundo a lenda, foi depositada a m�mia de Hermes. Mas nada disso tem respaldo hist�rico, sendo Trismegisto uma figura de natureza simb�lica, que nunca existiu. �, contudo, curioso que a parte mais significativa do seu ensinamento, condensado na T�bua de esmeraldas, tenha sido efetivamente destacada sobre um papiro encontrado (ap�s escava��es

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realizadas em 1828) na tumba de um sacerdote ou mago an�nimo da Tebas do Egito, um pouco mais ao norte da atual Luxor, Nilo acima.A T�bua exprime verdades ocultas que est�o na base de qualquer processo m�gico ou religioso, com particular refer�ncia � alquimia � foi notado no Renascimento por fil�sofos neoplat�nicos �, como empreendimento voltado � conquista da gra�a divina mediante uma evolu��o interior simbolizada pela transmuta��o em ouro dos metais mais inferiores.

Retrato aleg�rico de Hermes Trismegisto, com luz divina sobre a cabe�a.

Lemos na T�bua que "o que est� no alto � igual ao que est� embaixo, e o que est� embaixo � igual ao que est� no alto", de modo a criar uma subst�ncia �nica da qual derivam todas as coisas do mundo. Seguem-se ensinamentos alqu�micos mais espec�ficos, a fim de que o adepto separe "a terra do fogo, o fino do espesso, delicadamente, com grande cuidado", obtendo assim "toda a gl�ria do mundo" e o afastamento das for�as obscuras. N�o se trata mais do que reproduzir o processo da cria��o,

gerando "a for�a das for�as. A fim de vencer tudo aquilo que � fr�gil e penetrar tudo que � s�lido".Assim foi criado o mundo, e assim ser� poss�vel obter "todas as inumer�veis adapta��es" das quais o homem tem necessidade, para prosseguir no caminho da sua eleva��o.A Torre de BabelAs primeiras not�cias certificadas de pr�ticas divinat�rias remontam ao terceiro mil�nio antes de Cristo, �poca em que floresceu na Mesopot�mia

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a civiliza��o dos caldeus, senhores de Babil�nia. S�o eles os progenitores hist�ricos da astrologia e de todas as outras tentativas de transpor a soleira do desconhecido, os primeiros homens capazes de invocar dem�nios e interrogar as estrelas.Foram os caldeus que erigiram o mais c�lebre monumento m�gico da Antig�idade, uma grande torre sagrada denominada Ziggurat ou "montanha da terra�, conhecida na B�blia como Torre de Babel.Era, segundo a tradi��o herm�tica, um templo astrol�gico, edificado sobre sete pisos, cada qual representando um planeta. Diz-se que tinha forma quadrada, uma vez que os caldeus conheciam a geometria, al�m da astronomia, e era utilizada para fins divinat�rios.O quadrado era a base do seu sistema planet�rio e era orientado de modo a simbolizar os quatro �ngulos do mundo.Pela sua altura parecendo projetada entre os astros, a torre sagrada era tamb�m chamada El-Temen-Na-Ki, que significa "casa de funda��o do c�u e da terra. Para ela conflu�am peregrinos e s�bios de todas as proced�ncias, determinando com a diversidade dos seus idiomas aquela ca�tica mistura de sons que ainda hoje � lembrada como a babel das l�nguas.Tamb�m as cores, como os n�meros e as propor��es geom�tricas, eram funcionais no exerc�cio da profecia. Os sete andares da Ziggurat eram tingidos segundo uma colora��o correspondente aos diversos planetas: de preto o andar mais baixo, dedicado ao Sol da Noite, apelido do funesto deus Adar, que na teogonia greco-romana se tornar� Saturno; de dourado o �ltimo andar, consagrado a Samas, como era chamado o Sol. Reluziam entre estes dois opostos as retra��es prateadas de Sin (a Lua), as azuis de Ishtar (V�nus), amarelas de Nergal (Marte), vermelhas de Nebo (Merc�rio), as majestosamente brancas de Marduk (J�piter). Outros nomes, atribu�dos a cada uma das divindades da fantasia popular, elimi-navam qualquer d�vida sobre o g�nero de ausp�cios que podiam trazer: Adar, prop�cio nos or�culos de interesse p�blico, mas letal naqueles

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particulares, era chamado a Grande Desgra�a; Nergal, deus da epidemia e da morte, e tamb�m da guerra, era cognominado o Inimigo ou tamb�m o Persa, o que queria dizer a mesma coisa; Nebo era chamado o Escriba, defini��o aparentemente neutra, mas que indicava a incerteza das respostas por ele condicionadas, que, como a escrita de um publicano, podiam trazer boas ou m�s not�cias.Tal como os deuses e os planetas, que eram estreitamente ligados, as cores contribu�am para facilitar a leitura do futuro pela influ�ncia que representavam. A proximidade de um animal de p�lo dourado, por exemplo, c�o ou gato que fosse, fazia pressagiar desastres ou triunfos, segundo as tonalidades fossem mais semelhantes ao infausto amarelo de Nergal ou � dourada silhueta do Sol.O mesmo valia para os outros sinais do acaso, como um chiado repentino, ou da natureza, como o rel�mpago e a chuva, o vento e as nuvens.Estes sinais independentes da vontade humana eram chamados assaput, isto �, "vozes prof�ticas". N�o era poss�vel se esquivar �s mensagens delas.Se um c�o vermelho entra no templo, os deuses o abandonar�o.Se um c�o branco entra no templo, este resistir� por longo tempo.Se um c�o amarelo entra no pal�cio do rei, este ser� destru�do.Se um c�o � encontrado sobre o trono do rei, o pal�cio ser� incendiado...Cada um, por�m, podia provocar o surgimento de sinais na medida do pr�prio problema por meio de a��es responsivas a um preciso c�digo divinat�rio. Era freq�ente o uso de flechas consagradas, por parte do rei ou dos generais, para determinar suas estrat�gias de guerra.Para decidir que inimigos atacar primeiro, escreviam os nomes deles nos dardos, que eram recolocados na aljava. Esta era sacudida com um determinado ritual, acompanhando os movimentos com esconjuros apropriados. Extra�a-se por fim ou se deixava cair no solo uma flecha. O

nome correspondente indicava o objetivo a atacar.O Livro sagrado do c�uEra obriga��o dos adivinhos, reunidos em uma casta sacerdotal privilegiada, fornecer indica��es peri�dicas sobre escolhas a cumprir no interesse do Estado. Os astr�logos compilavam relat�rios oficiais cada

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fim de esta��o e todas as vezes que, por motivos particulares, a necessidade recomendava. Nenhum empreendimento podia ser levado a cabo sem que antes fosse consultado o quadro astral para dar validade � ocasi�o.L�deres de grande coragem inverteram a marcha dos seus ex�rcitos, batendo em retirada diante de um infausto press�gio. Memor�vel foi a

ren�ncia a invadir o Egito por parte do ass�rio Senaqueribe, vencedor dos medas e babil�nios, assustado com a aproxima��o de um bando de ratos, que seus sacerdotes consideravam de p�ssimo ausp�cio.Eventos similares ajudam a entender a dimens�o hist�rica que tiveram as diretrizes prof�ticas dos videntes caldeus e quais foram suas responsabilidades.Semelhantes aos dos hebreus, estes sacerdotes influenciavam de maneira decisiva a vida p�blica com as suas respostas. Havia, contudo, diferen�a entre a adivinha��o caldaica c a vid�ncia b�blica. Os profetas hebreus e crist�os falavam por inspira��o divina, os mesopot�micos por interpreta��o dos sinais deduzidos da ordem natural das coisas. Uns eram a voz de Deus, e falavam exclusivamente para transmitir o que lhes era sugerido do alto. Os outros eram t�cnicos capazes de decifrar� ler, interpretar � os arcanos do mundo vis�vel. Seu livro sagrado era o firmamento, o seu or�culo, o universo, com suas leis imut�veis, suas esta-��es, seus ventos.Carentes de uma investidura divina, os profetas caldeus baseavam a sua arte divinat�ria principalmente no estudo e na doutrina transmitida por seus predecessores. � nesta �tica que se deve interpretar o significado inici�tico e simb�lico dos sete n�veis da Torre de Babel, preordenados a fim de assinalar os diversos graus da sabedoria sacerdotal, da evolu��o

interior, da mestria na formula��o de hor�scopos e predi��es.Muitos outros templos em terra�os sobrepostos, projetados segundo o desenho ideal da Ziggurat, surgiam pela vontade do rei caldeu ao longo das margens do Tigre e do Eufrates. Sua fun��o era pol�tica e

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administrativa, al�m de religiosa: da observa��o constante do c�u os sacerdotes extra�am inspira��es sobre leis a formular e sobre decis�es a impor ao governo. Serviam, portanto, de orienta��o ao soberano e de garantia para uma legisla��o que refletisse a ordem universal.Mas a magia dos caldeus n�o era apenas a magia superior dos n�meros e das estrelas. Era tamb�m a magia negativa dos dem�nios e das maldi��es. E no seio desta civiliza��o que nasce, junto com a vingan�a, a tradi��o do mau agouro e da magia negra. � aqui que tem origem a pr�tica mal�fica de moldar estatuetas de argila para queimar ou furar com alfinetes, a fim de transmitir o mal a dist�ncia. Os dem�nios nos jardins de Babil�nia e sobre os terra�os de Ur n�o s�o evocados apenas para prever o futuro, mas tamb�m para levar a cabo maldi��es e sortil�gios.

Astr�logo �rabe com os instrumentos da sua pesquisa

O Olhar Mal�ficoTestemunhou-se, a partir de antigas inscri��es, a exist�ncia de bruxos capazes de lan�ar feiti�os mortais ou at� mesmo de matar com um olhar � de praticar literalmente o "mau-olhado" na sua forma mais extrema. Odiosa � a imagem daquele que lan�a o feiti�o", reconhec�vel, pelo que se l� em um conjuro, pelo rosto cruel, o olhar maligno, os l�bios mal�ficos, as mal�ficas palavras...".Com freq��ncia a vontade de prejudicar se traduzia em esp�rito prof�tico, o que era, ali�s, normal em uma sociedade t�o sens�vel � adivinha��o. Da� derivava uma linguagem agourenta, na qual a maldi��o era anunciada

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profeticamente, como desdita inevit�vel para o infeliz a que era dirigida. Com conseq��ncias terr�veis:A impreca��o age sobre o homem como um dem�nio cruel,a voz estridente pende sobre ele,a maldi��o o estrangula como a um cordeiro,a estridente voz, similar � da hiena, o sobrepujoue o domina...A maldi��o n�o era sempre individual, mas com freq��ncia dirigida a uma comunidade numerosa quando n�o diretamente � humanidade inteira. Assumia ent�o tons prof�ticos de sabor apocal�ptico, como na "profecia de Akkad", em 1.500 a.C., assim chamada a partir do nome da capital imperial mesopot�mica, situada em um ponto jamais localizado exatamente ao norte da Sum�ria.Eram previs�es animadas, na pr�tica, pelo mesmo esp�rito de an�tema que em seguida caracterizaria a literatura apocal�ptica preconizando desastres universais devidos � impiedade humana. Divindades indignadas fizeram carga contra ela, predispondo a uma lavagem geral do mundo.M�dicos e sacerdotes reagiam o melhor que podiam � amea�a social dos feiticeiros. Era indispens�vel, para que as v�timas escolhidas tivessem

quaisquer possibilidades de salva��o, que estivessem em condi��es de pureza espiritual e gozando de boa sa�de.Da� a necessidade de uma interven��o conjunta do m�dico e do vidente.Procedia-se depois, subsistindo as condi��es prescritas, a uma esp�cie de exorcismo no templo de Marduk, ou de outra divindade apropriada ao caso: "O meu poder de encantamento", entoava o oficiante, "� o de Marduk. (...) Sua palavra santa est� mesclada com a minha palavra, sua saliva santa com a minha saliva. (...)"No plano do direito n�o havia piedade para quem era reconhecidamente culpado de ter praticado magia negra, independentemente do �xito nefasto da opera��o: "Se um homem fez malef�cio a outro homem", recitava o C�digo de Hamur�bi (2.000 a.C.) em um de seus primeiros par�grafo

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s, "ele � pass�vel de morte."A cultura do malef�cio contrapunha-se, por�m, na Mesopot�mia, como sempre na hist�ria religiosa dos povos, uma cultura ben�fica, protetora, representada pelos sacerdotes e pelos deposit�rios aut�nticos da "ci�ncia dos magos".A este contexto de sabedoria positiva, voltada para a realiza��o do bem, liga-se de maneira indefinida, mas certa uma das mais belas hist�rias de tradi��o crist�: a dos Reis Magos, que levam presentes simb�licos para o Redentor.Fontes medievais os apontam como caldeus.

10Os n�meros da Grande Pir�mide

Tudo o que � intelig�vel, alegava Pit�goras, pode ser explicado e comunicado atrav�s dos n�meros. Se isso � verdade, as pir�mides eg�pcias (e em especial o monumento funer�rio do fara� Qu�ops, denominado por suas dimens�es de a Grande Pir�mide) representam a mais espetacular

tentativa de transmitir o saber antigo ao longo dos mil�nios. Mas como o

conhecimento cient�fico era heran�a exclusiva e secreta da casta sacerdotal, deposit�ria de poderes sagrado e m�gicos, deve-se sustentar que �s pir�mides n�o fosse confiada simplesmente � transmiss�o de verdades de interesse profano, relativas, por exemplo, � t�cnica das constru��es, por�m alguma coisa mais complexa e fugidia, relativa a

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todo o percurso (tamb�m futuro) do g�nero humano. Da� a convic��o, cada vez mais apoiada pela elabora��o de s�mbolos e dados num�ricos, de que a Grande Pir�mide fosse, na realidade, um or�culo monumental, de cuja

interpreta��o se poderia deduzir tudo que se precisaria saber sobre os destinos do homem. Assim, se chegou a atribuir-lhe profecias que se estendem at� a nossa �poca, e al�m, colocando no terceiro mil�nio, segundo alguns no in�cio, segundo outros por volta de 2.900) o fim dos tempos.Isso pareceria igual�-lo a outros apocalipses, que situam o ju�zo mais ou menos na mesma �poca. No seu conjunto constituem, entre estes calend�rios escatol�gicos � o mais antigo situando a constru��o da pir�mide pelo menos no reinado de Qu�ops e, portanto, na quarta dinastia �, 26 ou 27 s�culos antes de Cristo.A B�blia de pedraFoi enorme o interesse de historiadores, literatos, astr�nomos e matem�ticos da Antig�idade pela pir�mide de Giz�. Her�doto de Halicarnasso, que a visitou por volta de 450 a.C., coletou de seus guias informa��es pormenorizadas sobre a m�o de obra e sobre o tempo gasto na sua realiza��o, que avalia em vinte anos. Erat�stenes de Cirene, dois s�culos depois, efetuou, juntamente com o estudo da pir�mide, pesquisas astron�micas das quais extraiu pela primeira vez a circunfer�ncia da terra. No �mbito dos mesmos estudos calculou o �ngulo de inclina��o da elipse sobre o equador, avaliando-o em 23�51', e o arco do meridiano compreendido entre os tr�picos, atribuindo-lhe um valor de 47�42', com um erro de apenas dois minutos do que veio depois a ser convencionado (vinte s�culos depois) pela Academia de Ci�ncias de Paris.Dela falaram de v�rias maneiras Estrab�o, Plutarco, Diodoro de Sic�l

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ia, Porf�rio, J�mblico e outros mestres mediterr�neos. Dedicou-lhe uma particular aten��o o historiador eg�pcio M�neton, sacerdote e escriba no s�culo III a.C., ao redigir por ordem do rei Ptolomeu II Filadelfo o seu tratado em grego sobre a antiga civiliza��o do Nilo (Aygiptiaka), elaborando entre outras coisas a teoria historiogr�fica (sempre aceita) da subdivis�o dos soberanos do Egito em trinta dinastias. Deu testemunho da sua obra, que foi perdida, o historiador hebreu Fl�vio Josefo, ao final do s�culo I da era crist�, citando-lhe trechos essenciais nas suas Antig�idades Judaicas.Deve-se destacar, por�m, que, n�o obstante a fama da Grande Pir�mide no mundo antigo, �poca em que foi celebrada como a primeira entre as sete maravilhas, somente na Idade Moderna, depois da campanha napole�nica

de 1798, as pesquisas voltadas para uma an�lise sistem�tica dos seus segredos tiveram in�cio e desenvolvimento.Foram de fato os artistas e os cientistas que acompanhavam o ex�rcito franc�s � gra�as tamb�m � cria��o, desejada por Napole�o, de um Institut d'Egypte no Cairo que suscitaram na Europa aquela difundida curiosidade pela antiguidade eg�pcia que daria vida aos modernos estudos de egiptologia. Teve assim andamento, sobre a onda de uma crescente popularidade, a explora��o met�dica da maior entre as tr�s pir�mides: estudou-se o tra�ado interno e foram calculados os volumes, as dist�ncias, as propor��es. Decolaram ao mesmo tempo as tentativas de interpretar

s�mbolos e hier�glifos que culminariam com a decifra��o � em 1821, por parte de Jean-Fran�ois Champollion � da pedra de Roseta, chave da escrita eg�pcia perdida. A ab�bada celeste sustentada pelos deuses da terra e do ar em uma decora��o funer�ria eg�pcia.Ao interesse cient�fico foi logo se entrela�ando e sobrepondo-se, por�m,

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uma difundida propens�o para ler em perspectiva esot�rica as caracter�sticas da pir�mide, procurando nas suas medidas (e na disposi��o das galerias, das c�maras, dos volumes) significados que estivessem al�m da funcionalidade estritamente arquitet�nica e funer�ria do projeto.Contribu�ram para confirmar a grande pir�mide como uma esp�cie de apocalipse de pedra, contendo revela��es an�logas, certos aspectos �s do evangelista Jo�o, relevos dos quais se deduz que suas medidas correspondem �quelas indicadas na B�blia para o templo de Salom�o. Parece poss�vel afirmar, em especial, que a c�mara sagrada do templo, ou C�mara do Or�culo, tivesse a mesma capacidade c�bica da C�mara do Rei, ao centro da pir�mide. Parece finalmente que se pode calcular que o

volume do sarc�fago real � id�ntico ao dos vasos de bronze mandados fundir para o templo de Hiram, rei de Tiro, fornecedor de m�o-de-obra e materiais para sua constru��o.Foram feitos confrontos an�logos com as medidas relativas � Arca da Alian�a, na qual foram depositadas por Mois�s as t�buas da lei. E tamb�m neste caso poder-se-iam levantar curiosas analogias de volume com o sarc�fago.No livro do �xodo (37,1) � dito que a Arca tinha comprimento de dois c�bitos e meio, largura de um c�bito e meio e altura de um c�bito e meio. No primeiro livro dos Reis (6, 2-20) diz-se que o templo mandado construir por Salom�o media sessenta c�bitos de comprimento, vinte de largura e trinta de altura; e que a C�mara do Or�culo no seu interior era de 20 x 20 x 20 c�bitos.O c�bito era uma medida aleat�ria, vari�vel de um povo para outro. O greco-romano tinha cerca de 44 cm, o eg�pcio variava dos 52 cm do c�bito real (meah suten) aos 38 cm do c�bito piramidal (menez). Todos os povos do Mediterr�neo possu�am seu pr�prio c�bito. Havia ain

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da aquele usado pelos astr�nomos �rabes, proporcional � dist�ncia aparente entre Castor e P�lux na constela��o de G�meos (c�bito maior) ou entre Pr�cion e outras estrelas na constela��o do C�o (menor).Totalmente incerta (e continua sendo) era a medida do c�bito hebraico, subdividido em palmos e dedos. Havia pelo menos quatro vers�es: de cerca de 52, 48, 46 e 38 cm. N�o passou despercebida a coincid�ncia da m�xima e da m�nima com as duas unidades eg�pcias. Isso facilitou certamente os cotejos, mas colocou indaga��es ulteriores sobre esta curiosa equival�ncia entre os par�metros utilizados pelos arquitetos das duas civiliza��es. Que poderia tamb�m ser explicado (racionalmente) por meio da escravid�o no Egito do povo hebraico, destinado a trabalhos de massa que envolviam um estreito contato com oper�rios e t�cnicos de constru��o, e conseq�entemente o aprendizado de no��es de uso comum na obra desenvolvida.O "polegar polar"Muitas foram as orienta��es seguidas no s�culo passado por defensores de uma arqueologia teos�fica, tendente a procurar na geometria da arquitetura eg�pcia a chave de futuros mist�rios, mas as teorias que, por sua originalidade, descartaram todas as outras foram elaboradas por um matem�tico e um astr�nomo, respectivamente o ingl�s Robert Taylor e o escoc�s Piazzi Smyth. O primeiro efetuou em 1850 um fracionamento do

culto piramidal, extraindo uma unidade denominada "polegar polar", com base na qual pudesse efetuar as medidas necess�rias para deduzir, dos detalhes arquitet�nicos, a mensagem oculta. O segundo, ap�s numerosas vistorias c pesquisas na Grande Pir�mide, chegou em 1865 � conclus�o de que o seu percurso interior se articulava segundo uma sucess�o temporal, e que a cada corredor, c�mara, subterr�neo, correspondia um per�odo

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hist�rico.Como o de Taylor, o racioc�nio de Piazzi Smyth era apoiado pela meticulosa precis�o dos c�lculos voltados para estabelecer uma compara��o detalhada entre as medidas dos v�rios espa�os e a �poca de refer�ncia. O que contava, de um ponto de vista cient�fico, era a exatid�o da planimetria por ele tra�ada, pela qual foi calorosamente elogiado tamb�m por especialistas que repeliam qualquer interpreta��o arcana, como Ernest Wallis Budge, egipt�logo do Museu Brit�nico, e Flinders

Patrick, arque�logo famoso, que quer repetir as medi��es destacando sobre todo o percurso uma variante m�nima, de setenta polegares, equivalentes a menos de dois metros.As teses de Piazzi Smyth foram abra�adas por esot�ricos e te�sofos, que sobre o mapa por ele elaborado reconstitu�ram o passado da hist�ria do mundo, juntaram ao tempo atual e arriscaram previs�es catastr�ficas para o futuro. Foram divulgadores apaixonados, na d�cada de 1920, os escritores Davidson e Morton Edgar.Os subterr�neos do apocalipseO itiner�rio prof�tico da Grande Pir�mide abarca uma faixa de tempo que vai da cria��o ao fim do mundo. Est� relacionada a datas precisas, uma vez que o "polegar polar" n�o � apenas uma unidade de comprimento como o c�bito, mas de tempo, comput�vel na virada de um ano. O que

permite redigir uma cronologia ligada aos espa�os, levando em conta principalmente a dist�ncia entre determinados pontos de �poca.Assim, se, por exemplo, percorremos o corredor que desce para a c�mara

subterr�nea, que corresponde � degrada��o da humanidade depois da queda de Ad�o, chega-se em um n�vel de decad�ncia final que antecede o "segundo advento do Cristo". O c�lculo dos polegares-anos o coloca um pouco al�m do ano 2000.Do mesmo modo, se percorremos em subida a galeria correspondente �

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idade evang�lica, continua��o da b�blica, depois do "primeiro advento do Cristo" alcan�a-se a Antec�mara da Revela��o, al�m da qual se cumpre o renascimento espiritual dos eleitos.Naturalmente, o c�lculo dos anos se estende al�m destas abstra��es, individualizando pretensos confrontos que vez por outra revelam-se como momentos de crise ou de retomada. Por exemplo, no s�culo XX os anos de 1914, 1929, 1936, 1938 remetem � s�rie nefasta (Primeira Guerra Mundial, colapso da economia americana, Guerra Civil espanhola e agress�o italiana � Eti�pia, impot�ncia das democracias e in�cio da expans�o hitlerista, nova vig�lia de guerra), e os anos de 1945, 1953, 1963, ao renascimento (fim da Segunda Guerra Mundial, fim da Guerra da Cor�ia, acordo EUA-URSS contra a prolifera��o nuclear). Por outro lado, ressalta-se que os anos de 1945 e 1953 correspondem � morte dos dois ditadores mais sanguin�rios de todos os tempos, Hitler e Stalin, ambos apontados como o Anticristo.Uma decisiva retomada pela humanidade deveria ocorrer, segundo as profecias extra�das da pir�mide, a partir de 1981, ano em que seriam expostas as premissas (n�o necessariamente patentes) para o advento de um "novo reino do esp�rito". Mas, estranhamente, 1981 � o ano do atentado ao papa.Previs�es completam o vatic�nio de que o "novo reino" tomar� forma perto do fim do mil�nio, para depois consolidar-se em 2025. As datas fariam pensar naquele surto de espiritualidade da qual se atribui comumente m�rito � incipiente era de Aqu�rio ou, mais realisticamente, a certas conseq��ncias emotivas de impulsos milenar�sticos em a��o. Sinais de confirma��o nesse sentido poderiam com algum esfor�o ser entrevistos no difuso crescimento de religiosidade (o que fez, por�m, contrapor-se um igual aumento de agressividade, viol�ncia e decad�ncia civil) ou tamb�m nos fen�menos reunidos sob o r�tulo gen�rico de new age, jamais totalmente esclarecida na sua real identidade e objetivos.

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Outros defendem que a evolu��o deveria requerer um espa�o de tempo mais longo, entre 2010 e 2090.Quanto � mensagem escatol�gica da Grande Pir�mide, s�o discordantes as opini�es daqueles que at� aqui se esfor�aram para decifr�-la. O mais pessimista � o ingl�s Thamson, que fixa no ano 2000 o t�rmino "daquela longa f�bula que se chama hist�ria". O mais otimista � Rutheford, que o procrastina at� 2979, praticamente mais mil anos.Mas, como para cada apocalipse diferente, existe tamb�m para as revela��es deduzidas da pir�mide a possibilidade de uma interpreta��o salvadora. O fim dos tempos poderia significar � e n�o faltam os defensores desta tese � o fim de um ciclo e a abertura de outro, com novos adventos do Messias e outros prodigiosos sinais de regenera��o.

Do "po�o do resgate" ao n�mero grego fixo PiUma breve leitura do mapa elaborado por Piazzi Smyth e desenvolvido nos detalhes por seus ep�gonos vai ajudar a compreender este emaranhado de previs�es, articuladas sobre fases alternadas de decad�ncia e de progresso.

Entra-se na hist�ria depois do dil�vio [1] por um corredor descendente [2] que leva, como se diz, � deprava��o derradeira (e � condena��o) da humanidade. Esta se exprime atrav�s de um breve corredor horizontal [3]

que conduz ao sepulcro [4], no qual dever� cumprir-se uma nova regenera��o messi�nica, indicada como "segundo advento do Cristo". Aqueles que n�o se deixarem redimir perecer�o em um estreito corredor subterr�neo [15], chamado na toponom�stica inici�tica de Morton Edgar de "segunda morte", que do sepulcro n�o conduz a lugar algum. Os

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redimidos poder�o em vez disso iniciar de novo a fatigante subida para o

"po�o do resgate" [13] e alcan�ar, depois de uma parada na gruta que simboliza a expia��o [14], o n�vel da "perfei��o humana", correspondente ao plano em que se situa a C�mara da Rainha [7].Mas n�o � esta a �nica via de salva��o. N�o � dito que a humanidade inteira deva alcan�ar a mais �nfima degrada��o para depois ser redimida. Foi-lhe dada na idade patriarcal, durante a fase inicial da descida, a possibilidade de mudar o percurso entrando no "corredor da lei hebraica" [5], que conduz ao ponto hist�rico essencial do nascimento de Jesus. A partir deste ponto os homens poder�o prosseguir em subida para o "corredor da lei evang�lica" [8] ou Grande Galeria, das altas curvas espa�osas, at� o n�vel da "perfei��o espiritual", onde est� a C�mara do Rei [11], ou proceder horizontalmente rumo � C�mara da Rainha, ao longo do corredor estreito mas seguro da "nova alian�a" [6].Na C�mara da Rainha cumpre-se a era crist�. Na do Rei cumpre-se a edifica��o final do homem e seu repouso. Para ter acesso a ela deve-se

superar a Grande Escadaria [9] e passar atrav�s da Antec�mara da Revela��o [10], chamada tamb�m "do triplo v�u". Al�m da C�mara do Rei, nos v�os a ela sobrepostos [12] tem in�cio a "reconstru��o".N�o t�m significado esot�rico os canais de ventila��o [16], que do exterior alcan�am a Grande Galeria, a antec�mara e as c�maras do Rei e da Rainha. Em vez disso t�m a disposi��o geom�trica dos locais e dos corredores, os �ngulos e as interse��es entre as diversas passagens, as circunfer�ncias que delimitam determinados pontos.Significativa � a linha ideal que individualiza no exterior da pir�mide os momentos da cria��o e da queda de Ad�o: trata-se na pr�tica de uma perpendicular que se precipita verticalmente do n�vel da "perfei��o humana" � poeira terrestre, sobre o per�metro do edif�cio. Significativa tamb�m � o gradil que enquadra numa sucess�o arcana de quadrados

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os diversos momentos do percurso. Significativa �, por fim, a constata��o, por parte do ingl�s John Taylor, estudioso das analogias geom�tricas do templo de Salom�o, que a altura da pir�mide de Qu�ops (146 m) corresponde ao raio de um c�rculo cuja circunfer�ncia (916,88) � igual, com um descarte m�nimo, ao per�metro do quadrado de base (920).Para avaliar a circunfer�ncia do c�rculo inscrito na pir�mide, multiplica-se o raio por dois e pelo n�mero grego fixo pi ( ) ou 3,14:

146 x 2 x 3,14 = 916,88

Para o per�metro do quadrado de base se multiplica o lado (230) por quatro:230 x 4 = 920 A diferen�a � de pouco mais de 3 m sobre pouco menos de 1 km. Nem chega perto da hip�tese, cara a tantos egipt�logos de orienta��o teos�fica, de que as medidas da Grande Pir�mide contivessem o segredo, entre tantos, da quadradura do c�rculo.O deus do "disco luminoso"A presen�a de uma marcante voca��o apocal�ptica na cultura religiosa eg�pcia � demonstrada n�o tanto pelo paradigma prof�tico da Grande Pir�mide � que representa de qualquer forma o resultado de uma proje��o intelectual moderna, embora refer�vel a dados milenares � quanto pelo tom e pelos conte�dos expl�citos de certos textos sagrados, em geral transcritos sobre papiros funer�rios.Exemplar em tal sentido � a dura revela��o de um des�gnio destrutivo por parte do deus solar Aton, cujo nome significa "disco luminoso", habitualmente representado como um astro e cujos raios terminam com m�os estendidas. Diz Aton, repropondo imagens para certos aspectos an�logos aos cen�rios de outros apocalipses, que pretende destruir tudo

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que criou com o seu calor."Esta terra ir� ao c�u, que tornou a ser oceano como era originalmente." Assim comunica o deus, evocando o mito do dil�vio, comum a muitas outras religi�es. A profecia, como testemunha o papiro onde ela � relatada, remonta novamente ao s�culo XIX a.C., mais de um mil�nio antes que se iniciasse a compila��o da B�blia.A enuncia��o apocal�ptica adquire tons de profunda especula��o filos�fica no mais conhecido papiro Anana, redigido por um escriba do s�culo XIV, que fornece ensinamentos �teis para uma pr�tica divinat�ria elevada. O escriba se dirige �s gera��es futuras, exortando-as a ler a sua mensagem, da qual transparece a consciente certeza de que passado e futuro sejam, como no itiner�rio prof�tico da Grande Pir�mide, estreitamente ligados:

[...] N�o deixeis de l�-la, vos que a encontrareis nos dias ainda n�o nascidos, se vossos deuses vos tiverem dado a capacidade. Ireis ler sobre o futuro, ou filhos, e conhecer os segredos do passado que j� vos � t�o

remoto, enquanto a verdade � t�o pr�xima.Explica que a voca��o prof�tica � correlata � reencarna��o, que atrav�s das vidas vividas fornece novas chaves de abordagem do futuro:Os homens n�o vivem s� uma vez para depois desaparecerem para sempre. Vivem muitas vezes em lugares diferentes, e n�o apenas neste mundo. Entre uma vida e outra existe um v�u de obscuridade, mas as portas ser�o abertas no fim para nos mostrar todas as c�maras atrav�s das quais nossos p�s vaguearam. (...)Conclui sublinhando com esp�rito apocal�ptico a necessidade de que o

mundo acabe para que o homem possa finalmente ter acesso � verdade:A for�a do tempo invis�vel ligar� longamente as almas depois que o

mundo estiver morto. Mas no fim todos os tempos passados se revelar�o.

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11O Poder Invenc�vel da SinaNum mundo dominado pela Sina, no qual n�o se tinha no��o de livre- arb�trio, a f� nos or�culos devia ser for�osamente ilimitada.Sendo o futuro alguma coisa de predeterminado e imut�vel, que a interven��o humana n�o podia de modo algum alterar, nem conformando-se nem contrariando a vontade divina, videntes e adivinhos tiveram na Gr�cia antiga um papel totalmente diverso daquele representado na sociedade b�blica. N�o dispensavam conselhos, mas forneciam informa��es sobre o que fatalmente aconteceria. Isso n�o limitava, antes aumentava a �nsia geral de conhecer o futuro, tanto no n�vel individual quanto no coletivo.Ao contr�rio, por�m, do que acontecia entre os hebreus, onde os profetas eram investidos de responsabilidades inerentes, escolhas de interesse da �poca projetadas em uma �tica escatol�gica universal, entre os gregos prevalecia a tend�ncia de interrogar os deuses sobre quest�es pessoais. O que n�o exclu�a que, em determinadas ocasi�es, viessem a ser interpelados sobre eventos relativos ao destino de uma comunidade inteira, de uma cidade, de um povo, mediante cerim�nias de particular solenidade.Mas tamb�m nessas ocasi�es a pergunta e a relativa resposta n�o iam al�m ela esfera hist�rica casual, limitando-se a prever o �xito de uma guerra, a dura��o de uma escassez,, a imin�ncia de uma calamidade

natural.Esfor�ar-se para ir al�m, sugerindo solu��es que pudessem modificar o curso dos eventos predispostos pelos deuses, n�o era apenas in�til, mas tamb�m perigoso para o adivinho, que, assim fazendo, se expunha a terr�veis repres�lias.As vontades dos deuses e as dos homensNa saga hom�rica isso � atestado pelo destino que tiveram os videntes

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troianos que tentaram opor-se com suas profecias � entrada do cavalo de madeira nos muros da cidade sitiada. Tanto Cassandra quanto Laocoonte exortaram com apelos desesperados a popula��o que festejava o aparente fim da guerra, a empurrar para fora o presente dos aqueus, esperando desse modo conjurar a cat�strofe. Mas, al�m de n�o serem ouvidos pelos concidad�os, foram cruelmente punidos pela sorte. Cassandra foi violentada junto ao altar de Atena e arrastada pelos cabelos, como presa de guerra, pelo guerreiro �jax de Oileu; Laocoonte foi triturado junto com os filhos por duas monstruosas serpentes marinhas na praia, onde tencionava sacrificar um touro em honra do deus Netuno.Bem diferente, no mesmo contexto lend�rio, � o comportamento de Calcante, sacerdote de Apolo no s�quito dos aqueus, que se limita a formular � como dele se espera � previs�es real�sticas sobre o �xito c sobre a dura��o da guerra. Corre igualmente algum risco, opondo-se �s vezes aos desejos de Agammenon, comandante supremo do ex�rcito grego, como quando o exorta a libertar a escrava Criseida, filha do sacerdote troiano Crises, para que cesse a epidemia de peste no acampamento grego. Mas todo o mal que recai sobre ele � alguma inj�ria. Agammenon o chama de "profeta de desgra�as" e o acusa de experimentar prazer no "cora��o maligno" ao prever desastres, sem, por�m, mover uma palha.Para os gregos uma coisa � contrariar o desejo de um rei, outra � contrariar a vontade de um deus.Laio, rei de Tebas � cujo or�culo previu que seria morto pelo filho �dipo, que depois se acasalar� com a m�e, Jocasta � acredita poder escapar do pr�prio destino. �dipo, por sua vez, cr� que pode esquivar-se ao pr�prio destino, quando vier a conhecer a terr�vel profecia. Criado em outro lugar, ele abandona os pais adotivos � que acredita leg�timos � e foge para

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Tebas, onde matar� Laio, sem saber que � seu verdadeiro pai, e desposar� Jocasta, que ignora ser sua verdadeira m�e.De nada serviu conhecer a profecia, que inevitavelmente se cumprir�, n�o obstante a ilus�o de ter prevenido seus eleitos.As certezas plat�nicas sobre a Atl�ntidaN�o havia espa�o, nessa concep��o da arte divinat�ria, para revela��es de car�ter apocal�ptico sobre os destinos remotos do homem. Os limites do interesse de cada um � pessoa ou comunidade � eram bem delimitados

no tempo e n�o iam al�m de algumas gera��es. Vale dizer, a pr�pria gera��o e a dos filhos, dos sobrinhos, dos descendentes mais pr�ximos.N�o havia curiosidade em torno do fim do mundo, pelo simples motivo de que o mundo dos gregos n�o podia acabar: sua filosofia da hist�ria deslizava sobre a onda das certezas plat�nicas rumo a um futuro sem fim

preordenado como o movimento dos corpos celestes, em uma cont�nua transforma��o. Jamais nenhuma cat�strofe, portanto, poderia assinalar o ocaso definitivo da humanidade, mas apenas um revezamento no seu progredir, e em seguida um recome�o. Como no caso do "grande e maravilhoso imp�rio da Atl�ntida", ao qual Plat�o atribui o m�rito de ter salvo da escravid�o e generosamente libertado todos aqueles que habitavam "o interior das Colunas de H�rcules", isto �, os progenitores da civiliza��o hel�nica.A Atl�ntida desaparece nas profundezas marinhas, conta o fil�sofo no Timeu, "entre violentos terremotos e inunda��es, em um s� dia e uma s� noite de desgra�as". Mas n�o foi um apocalipse, embora se veja alguns

tons na linguagem do texto plat�nico, pois n�o assinalou o fim do g�nero humano, nem o impacto da captura no seu envolvimento com diversas

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civiliza��es.Mist�rios eleusinos, dionis�acos e �rficosUm destaque particular no cen�rio m�gico religioso da Antig�idade

cl�ssica revestia a pr�tica dos grandes cultos secretos, ditos mist�rios, do verbo grego my�, que quer dizer "manter a boca fechada", donde my�stes, ou seja, "mantido em segredo". Grande espa�o nos seus ritos era reservado � adivinha��o, que na pr�pria l�ngua grega tomou o nome de arte m�ntica, do verbo m�inesthai, que significa "estar tomado de (sacro) furor ,Famosos na sociedade hel�nica eram os mist�rios eleusinos, dionis�acos e �rficos, que impunham aos seguidores uma complexa inicia��o. Elemento comum a todas as cerim�nias de acolhida em tais confrarias era a morte simb�lica do candidato, que assim renascia para nova vida, passando da escurid�o � luz.

Orfeu era tido como o pai de todos os mist�rios, a ele atribu�a-se, portanto, a paternidade de cada profecia.

ISIDISMagnx; Deorum MatrisAPVLEIANA DESCRIPTIO.

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DEUSA �SIS, protagonista de antigos mist�rios n�o s� entre os eg�pcios, c aqui igualada a outras divindades femininas, como Minerva e V�nus.

Por isso os adivinhos eram comumente chamados orpheotelestai, independentemente das t�cnicas adotadas, que variavam da observa��o do v�o dos p�ssaros (ornitomancia) � interpreta��o dos fen�menos naturais (aeromancia e botanomancia). Uma panor�mica, mesmo que sucinta, dos

modos adotados na Antig�idade para predizer o futuro � e que se propagam em certos casos at� nossos dias - pode dar uma id�ia conclusiva dos excessos vision�rios derivados da presun��o de colher mensagens significativas nos movimentos de um sapo (batracomancia) ou de um galo amestrado (aletriomancia), na fuma�a dos sacrif�cios (capnomancia), nos fulgores de uma chama (piromancia), nos reflexos dos espelhos (catotromancia), nos rumores intestinais (gastromancia), no aroma de uma ess�ncia perfumada (lebanomancia), no vaguear incessante de um rato faminto (miomancia), no encrespar da �gua de um charco (hidromancia),

na manipula��o de n�meros (aritmomancia) ou nas letras deduzidas de um nome (onomancia, popularizada pela escola pitag�rica). Pode-se intuir quanto espa�o havia, na espiral de tais esquisitices, para a mistifica��o e o aproveitamento da crendice popular.As pr�ticas divinat�rias eram muito difundidas nos templos, onde massas de devotos acorriam para escutar os or�culos de sacerdotes e videntes universalmente famosos, como a Pitonisa de Delfos, Epim�nides de Festo,

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Tir�sias de Tebas e sua filha Manto, fundadora do santu�rio de Claro, na �sia Menor. Mas era, sobretudo, no �mbito dos cultos secretos que a arte de predizer o futuro encontrava sua coloca��o natural.O objetivo de suas doutrinas era de lato evocar de novo para difundir entre os pr�prios iniciados, as revela��es dos deuses. Mas o ensinamento divino n�o podia ser transmitido sen�o �queles que tivessem sido primeiro purificados, deixando-se para tr�s as esc�rias da vida profana. Por isso a finalidade definitiva do orfismo era de restituir ao esp�rito sua

pureza original, libertando-o atrav�s do ascetismo.Os mist�rios eleusinos eram supervisionados por Dem�ter, deusa da terra, exilada voluntariamente no Olimpo ap�s o rapto da filha Core (Pros�rpina para os romanos) por parte do deus infernal Hades (Plut�o). N�o obstante o clima secreto dos ritos, pode-se historicamente afirmar que no conjunto representassem uma escola de regenera��o espiritual, atrav�s da qual passaram os maiores expoentes da classe intelectual grega.Parece certo que a inicia��o previsse a travessia de um assustador labirinto subterr�neo, ao t�rmino do qual o ne�fito era acolhido com

cantos e dan�as, coroado com guirlandas e cumprimentado por seu renascimento.� opini�o comum que os ritos eleusinos divulgassem um segredo m�gico de valor inestim�vel, ainda que de f�cil aprendizado. Arist�teles declarou que para conhec�-lo n�o havia nada a aprender, mas s� a experimentar.Esta era a vertente nobre da vid�ncia, que se contrapunha ao pitoresco bando de charlat�es e presun�osos. Estes �ltimos, por outro lado, mesmo tendo facilidades ao lidar com as massas incultas, eram, por sua vez, alvo de s�tiras pungentes e cr�ticas �s vezes ferozes por parte dos intelectuais.Demonstra��es exemplares nesse sentido ocorreram no s�culo IV a.C

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. da parte do comedi�grafo Arist�fanes e do fil�sofo Teofrasto, disc�pulo de Plat�o e de Arist�teles. O primeiro p�e na berlinda, na com�dia As r�s, justamente Dioniso, deus dos possuidores de esp�rito prof�tico, representando-o com todos os limites e defeitos de um med�ocre ser humano. O segundo situa a presun��o e o oportunismo dos charlat�es entre as categorias psicol�gicas descritas no op�sculo Caracter�sticas morais, galeria de retratos em afresco diluindo o desprezo no esc�rnio. Antigo calend�rio romano, com os s�mbolos das constela��es e dos planetas, sobre uma l�pide conservada no Museu de Wurzburg,

Ar�spices e profecias institucionais na Roma antigaA religiosidade hel�nica e a conseq�ente propens�o ao exerc�cio da arte prof�tica em termos atuais, relacionando as predi��es a fatos de interesse hist�rico imediato, foram herdadas nos seus aspectos essenciais pelos romanos, que, por�m, tiveram de enquadrar as pr�ticas divinat�rias dentro de r�gidos esquemas institucionais.Desde os tempos lend�rios da funda��o de Roma (753 a.C.) coube ao Estado gerir as profecias atrav�s do colegiado dos �ugures, ou seja, sacerdotes encarregados de interpretar � ou melhor, de encaminhar � a

vontade dos deuses, deduzindo-a mediante o recurso a metodologias mais austeras que aquelas em uso entre os gregos.Prevalecia entre estes a observa��o do v�o dos p�ssaros. � o que demonstra a pr�pria etimologia do termo �ugure, derivado do substantivo avis, isto �, p�ssaro, e do verbo gerere, que, entre os seus significados,

inclui tanto o de encarregar-se quanto o de mostrar-se. Era de fato obriga��o desses videntes, extrair press�gios do que os p�ssaros

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mostravam nos seus v�os.Pode-se entender que tipo de credibilidade os romanos atribuiriam a essa fun��o divinat�ria pelo lato lend�rio de que, exatamente pelas evolu��es dos p�ssaros, R�mulo tivesse extra�do ausp�cios favor�veis � funda��o da cidade quadrada.De outros sacerdotes esperava-se a tarefa de extrair progn�sticos das v�sceras dos animais sacrificados, segundo um procedimento em uso junto aos etruscos, predecessores dos romanos na Toscana e no L�cio. Eram chamados ar�spices, por deriva��o l�xica do s�nscrito haru, veias ou v�sceras, e do latim spicere, observar.Al�m dessas t�cnicas altamente especializadas, de qualquer modo, os sacerdotes romanos n�o negligenciavam em considerar como sinal da vontade divina aquilo que lhes parecia ins�lito ou estranho, como a passagem de um cometa, o desabar repentino de um temporal, o nascimento de criaturas monstruosas, a apari��o inesperada ou o comportamento singular de determinados animais.O n�mero de adeptos ao exerc�cio das artes m�nticas foi crescendo com a evolu��o do aparato estatal e a urg�ncia cada vez mais premente de veredictos confi�veis que confortassem os chefes nas suas decis�es. tamb�m porque, ao contr�rio dos gregos, os romanos n�o tinham aquela vis�o t�o perfeitamente harm�nica do universo para inibir a presun��o humana de poder intervir materialmente na hist�ria para mudar seu curso. A mesma cosmogonia latina, se bem que modelada sobre arqu�tipos gregos, exprimia valores ca�ticos e incertos pelas cont�nuas contamina��es a que se via exposta, dada a tradicional voca��o romana para assimilar os cultos das popula��es submetidas.Aos tr�s �ugures designados por R�mulo, portanto, S�rvio T�lio acrescentou um quarto, e os tribunos do povo, na era republicana, mais cinco, levando-os conjuntamente a nove em 454 a.C. E Silas incluiu outros seis. E assim acabaram se tornando quinze.Eram supervisionados no seu trabalho por um magister de extraordin�rio

prest�gio, que era o decano do colegiado e tinha de modo veross�mil o

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dever de conduzir as profecias segundo uma �tica religiosa de car�ter marcadamente pol�tico e nacional. Assim, a arte divinat�ria correspondia, na sociedade romana, � inten��o de conciliar mito e praxe no interesse superior do Estado. Por isso � compreens�vel que em torno da composi��o do colegiado surgissem encarni�ados conflitos de interesse, resultando em confrontos tamb�m violentos durante a luta entre patr�cios e plebeus no s�culo IV a.C.Esse contraste, que d� a medida do valor pol�tico inferior assumido pelo colegiado dos �ugures, foi abrandado pela lei Ogulnia, imposta pelo povo aos patr�cios no ano 300, com a qual era estendido aos plebeus o direito de ter acesso a ela.Em 391, o imperador Teod�sio, o Grande, coerente com a escolha, sancionada naquele ano, de proclamar o cristianismo como �nica religi�o -do Estado, aboliu o colegiado e vetou toda e qualquer pr�tica divinat�ria.

12As Sibilas

Um papel totalmente especial � representado no cen�rio m�gico greco-romano pelas sibilas, que, com suas profecias a longo prazo, substitu�am o costume pag�o de manter os or�culos ancorados � atualidade. Por isso, diferentemente das respostas formuladas pelos augures e pela maior parte dos profetas atuantes na Antig�idade cl�ssica, os ditos das sibilas assumiam cm muitos casos a carga de revela��es escatol�gicas, projetadas al�m dos mil�nios, rumo a um futuro no qual se cumpriam os destinos

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finais da humanidade. Em outras palavras, eram aut�nticos apocalipses, an�logos em v�rios aspectos aos de matriz judaico-crist�.Diferentemente dos outros videntes gregos c romanos, as sibilas se pronunciavam sobre o futuro extremo do mundo, al�m de ler a sorte dos mortais que as vinham consultar, envolvendo nas suas senten�as todo o g�nero humano.Falavam por inspira��o divina � por "possess�o do nume", escreve Hcr�clito � e como endemoninhadas "atravessavam com a voz milhares de anos".A Cumana, sibila de Virg�lio e do CristoExiste sobre as sibilas uma vasta literatura em grego e latim, rica em achados hist�ricos e lend�rios. Um dos primeiros a falar delas foi Plat�o, que enumerou cinco: a Fr�gia, a Cumana, a Eritr�ia, a D�lfica ou Pitonisa, a Helespontina. Outras tornaram-se populares nos anos seguintes. O romano Marco Ter�ncio Varr�o chegou a enumerar dez: a P�rsica, a L�bia, a Cim�ria, a S�mia e a Tiburtina, al�m daquelas j� listadas pelo fil�sofo grego. Outros autores falam delas difusamente: Eur�pides menciona L�bia no

pr�logo da trag�dia L�mia. Crisipo cita D�lfica no tratado Sobre a Adivinha��o, N�vio fala de Cim�ria no quarto livro do poema sobre a guerra p�nica, Erat�stenes cita S�mia, Paus�nias e Apol�nio, Eritr�ia e assim por diante, acrescentando-se com freq��ncia novas sibilas.Mas o testemunho mais relevante de �poca diz respeito a Cumana, sobre a qual Virg�lio se det�m tanto na Eneida quanto na �gloga IV, atribuindo-lhe uma profecia que foi depois, na Idade M�dia, interpretada como uma

previs�o do advento do Cristo.Chega agora a �ltima idade da profecia cumana,remontando ao in�cio do ciclo dos grandes s�culos,volta at� a Virgem,

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voltam os reinos de Saturno,uma nova ra�a chega enviada do alto dos c�us.Ben�vola sejas, casta Luzinha, com a crian�a que agora nasce,e cuja vinda dar� um fim � ra�a do ferropara fazer surgir em todo o mundo aquela de ouro...Por esses versos da �gloga, escritos quarenta anos antes do nascimento de Jesus, Virg�lio conquistou fama de grande iniciado e, aquilo que mais conta em uma �tica crist�, de vaticinador da era evang�lica. A impress�o que os seus versos suscitaram nos c�rculos culturalmente mais evolu�dos da cristandade medieval deve-se, em medida, talvez decisiva, � eleva��o do poeta latino, por parte de Dante, como pr�prio guia e mestre naquele itiner�rio infernal da Divina Com�dia, que, visto de mais perto, lembra

os cen�rios do al�m-t�mulo pag�o.Sempre se mostra surpreendente, de resto, a coloca��o do tempo do nascimento da divina crian�a como abertura de um miraculoso ciclo de reprodu��o de fen�menos hist�ricos, voltados a reproduzir a felicidade original da idade de ouro � o reencontro, em outras palavras, do �den perdido � atrav�s de um processo de regenera��o universal.De menor interesse esot�rico, uma vez que se refere a eventos passados e

j� conhecidos pelo poeta, � a profecia contida em vez disso no livro VI da Eneida, onde En�ias descobre que no L�cio se cumprir�o os seus grandes destinos; e que seus descendentes ser�o os reis albanos, R�mulo, integrantes da fam�lia Giulia. �, por�m, de grande interesse antropol�gico, pois dela se extrai uma id�ia do tipo de transforma��o psicof�sica que podia provocar na vidente o esfor�o divinat�rio, a descri��o do transe que precede o vatic�nio.A sibila se transfigura temerosamente. Muda n�o apenas a express�o do rosto, mas tamb�m a voz e por fim a estatura. Cresce nela, fisicamente, a

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"for�a agora pr�xima do Deus". At� que,de repente, nem o rosto Lhe resta, nem uma cor,os cabelos despenteados, mas o af� infla o peito,feroz, o cora��o se enche de raiva,� maior de se ver, a voz nem sequer soa humana...Virg�lio indica tamb�m o m�todo utilizado pela vidente para predizer o futuro, usando folhas espalhadas no seu antro, sobre as quais escreve as pr�prias senten�as. � prov�vel que em realidade consistisse em extrair respostas da mistura das folhas, provocada por repentinas rajadas de vento.(...) E sobre as folhas rep�e as sinas: sobre as folhas [...], escreve aquilo que prev� e na gruta, estendidas e ordenadas, onde sejam lidas, as deixa.� ela a alinh�-las "para uso dos mortais", mas o vento a toda hora as desarruma e saem voando pelo antro.Assim, pelo profundo conhecimento que o poeta demonstra ler dos mist�rios da Antig�idade, bem como da profecia sobro o iminente nascimento do Salvador, tomar� corpo na Idade M�dia a tradi��o de Virg�lio mago, culminada no costume popular de extrair previs�es dos

versos das suas obras. A difus�o desses or�culos virgilianos ser� favorecida pela simplicidade do m�todo habitualmente usado para a consulta, que consistia em abrir o volume ao acaso, procurando uma resposta ao pr�prio quesito no primeiro verso da p�gina, talvez combinado com outros, segundo uma numera��o combinada previamente.A P�rsica, a L�bia, a D�lfica e as outrasCada sibila tinha a sua particularidade hist�rica ou lend�ria, com liga��es tanto � tradi��o mitol�gica quanto � b�blica. A P�rsica era considerada nora de No�, a L�bia, filha de J�piter, a D�lfica extra�a seu poder da morte da monstruosa serpente P�ton, trespassada por uma flecha de Apolo, da� o seu apelido de virgem Pitonisa. Este �ltimo n�o indicava uma �nica vidente, mas � como era de uso comum na nomenclatura sacerdotal da Antig�idade � todas aquelas que se sucediam a profetizar no santu�rio de Apolo em Delfos, meta de peregrina��o por s�culos.

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A notoriedade desse templo, um dos mais freq�entados no mundo hel�nico, deve-se ao fato de sua sibila ser uma das mais faladas na Antig�idade. Sabe-se por Diodoro S�culo que as sacerdotisas do Apolo d�lfico que deviam estar nos templos mais antigos eram virgens e bem jovens, mas que em seguida ao estupro de uma delas, a bela Equ�crates, estabeleceu-se que n�o poderiam ter menos de cinq�enta anos.Sabe-se ainda que a Pitonisa pronunciava os seus or�culos apenas uma vez por ano, e que naquela data Delfos era praticamente invadida por milhares de devotos. A vidente jejuava tr�s dias e se banhava em uma fonte consagrada a Apolo. Mastigava folhas de loureiro c outras ervas que a predispunham � vid�ncia. Acomodava-se em seguida de pernas abertas sobre um trip� acima de um orif�cio no terreno do qual sa�a uma fuma�a inebriante, que se acreditava proveniente dos restos do monstro morto pelo deus, e esperava. Quando a fuma�a havia envolvido e penetrado todo o local � fisicamente, como parecia querer simbolizar a posi��o aparentemente indecorosa por ela assumida no trip�, na inten��o de abrir o seu corpo � possess�o divina �, a Pitonisa ca�a em transe, profetizando. De tal modo a sacerdotisa "se abandonava ao sopro do seu deus", escrevia J�mblico ainda no s�culo IV d.C., "e era iluminada".Parece que foi ela, a D�lfica, a receber pela primeira vez o nome de sibila (que em dialeto e�lico significava "aquela que traz o conselho dos deuses": de sisis, "deuses", e boullan, "aconselhar"), embora a L�bia seja

geralmente apontada como a mais antiga.Diz-se ainda que esta �ltima esteve por um certo per�odo em Delfos, predizendo o futuro sob o nome de Trofile. Mas vest�gios de sua presen�a lend�ria s�o encontrados tamb�m em Samos, em Claro e em diversos outros santu�rios.Deduz-se que a fama das sibilas n�o estava sempre radicada em um determinado lugar, antro ou santu�rio, mas que com freq��ncia a viagem representava o desafogo essencial da sua busca. Tamb�m neste caso, contudo, n�o se pode dizer que um nome devesse corresponder

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necessariamente a uma �nica mulher, sendo muito mais veross�mil que diversas iniciadas � em tempos e lugares diferentes � se descobrissem no rastro de uma mesma tradi��o.Lact�ncio, um dos primeiros escritores crist�os a ocupar-se do tema, defende sabiamente que seus nomes teriam um valor puramente convencional: "Dever�amos chamar a todas de Sibila", diz no seu manual das Divinas institui��es, "sem fazer distin��o, toda e cada vez que tivermos necessidade de recorrer ao seu testemunho."Entre as mais errantes das sibilas por assim dizer itinerantes, cuja presen�a � registrada em mais lugares, figura junto � L�bia a S�mia, que debutou como sacerdotisa no templo de Apolo em Samos, da� o nome, para depois empreender uma s�rie de viagens que a levaram a exercitar a arte prof�tica na Fr�gia. L�, construiriam para ela um monumento no templo de Apolo Esminteu, perto do qual seria encontrado o seu sepulcro, assinalado por uma coluna com a seguinte ep�grafe:Sou a renomada Sibila que Apolo escolheu para interpretar os seus or�culos, virgem eloq�ente, agora muda sob este m�rmore e ao sil�ncio eterno condenada. O favor do deus, embora morta, me concede a companhia de Merc�rio e das ninfas a cuidar de mim.Simulacros de Merc�rio e de ninfas adornariam, at� onde se sabe, este

t�mulo imposs�vel de achar entre as ru�nas da cidade perdida de Marpessa, nas proximidades de um curso d'�gua. Retrato ideal de J�mblico, deposit�rio dos segredos da arte divinat�ria na Antig�idade.

Eritr�ia, uma adivinha dos natal�cios controversosMuito popular entre os povos da �sia Menor era a sibila Eritr�ia, considerada de origem babil�nica ou, segundo o testemunho de Apolodoro, j�nica. Prevalece a segunda hip�tese, que a queria nativa de

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Eritre, cidade famosa por seus vinhos e adivinhos na pen�nsula de Mimas (atual Karaburum, na Turquia), fundada pelos cretenses, colonizada pelos j�nicos, submetida pelos atenienses (em 453 a.C.) e depois pelos persas.Tal variedade de domina��es justifica a fama cosmopolita dessa vidente, � qual se atribui, entre outras coisas, a profecia da guerra e da queda de Tr�ia. Predisse que um grande poeta cego cantaria a hist�ria, mas isso derruba a teoria de Apolodoro sobre seu nascimento, pois a saga de Tr�ia

remonta ao s�culo XI a.C. e os poemas hom�ricos ao s�culo VIII, muito tempo antes que fosse fundada a cidade de Eritre.Esta sibila dos natal�cios contidos entre as duas grandes civiliza��es de Babil�nia e de Creta � tamb�m apontada como autora de um hino a Apolo por Paus�nias o Periegeta, assim chamado pela compila��o de uma obra geogr�fica com o t�tulo Periegese da Gr�cia, na qual s�o colhidas no��es de ordem hist�rica, mitol�gica e lend�ria, al�m de cient�fica, sobre as terras do Peloponeso.De remotas n�voas barb�ricas, distantes da solandade hel�nica e mesopot�mica, parece emergir em vez disso a sibila Cim�ria, embora sua fama seja ligada por N�vio e Pis�o a acontecimentos mediterr�neos, como a guerra entre Roma e Cartago. Sua lenda entraria de fato na tradi��o mitol�gica grega atrav�s das migra��es de tribos n�mades (os cim�rios) provenientes das margens do mar de Azov sob o ass�dio dos citas. Pouco

se sabe deles: viviam por volta do ano 1.000 a.C. em T�urida, mas foram

obrigados a parar na Ass�ria e, depois de terem sido escorra�ados, na L�dia. Extinguiram-se como povo depois de serem expulsos tamb�m de l�, dispersando-se pela Europa, onde foram presumivelmente absorvidos pelos cimbros.

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A sibila Fr�gia, radicada da cidade de Ancira, e a Helespontina, famosa na Tr�ade de Ciro, o Grande, e de S�lon, possu�am maior fama de estabilidade. Particularmente venerada pelos romanos foi depois a Tiburtina, cujo culto era praticado em Tivoli. Varr�o a chama tamb�m de Albun�ia. Era muito popular nos assentamentos pastorais ao longo das margens do rio Aniene, em cujas �guas uma est�tua sua foi encontrada

com um livro na m�o.Detentora, por�m, de toda primazia entre os romanos foi a citada sibila Cumana, e n�o apenas pela fama que Virg�lio lhe concedeu. Aos seus or�culos est�o de fato vinculados os destinos de Roma desde a era m�tica dos reis. Foi ela, segundo uma lenda transformada em c�none pol�tico e religioso, quem vendeu a Tarqu�nio Prisco (segundo outros, a Tarqu�nio o Soberbo, o que limita a quest�o entre o quinto e o s�timo rei de Roma,

com menos de um s�culo de descarte) os famosos Or�culos sibilinos, que continham o segredo das sinas futuras da cidade ( Fata urbis Romae).Os or�culos sibilinosConservados no templo de J�piter Capitolino desde o s�culo VI a.C., tais escritos eram consultados pelos sacerdotes encarregados da sua cust�dia somente em raras ocasi�es, quando momentos cr�ticos ou dificuldades nas escolhas de governo o exigiam. Da� a sua validade pol�tica, al�m de religiosa..A consulta, por outro lado, acontecia por ordem � e sob a autoridade �

do Senado. Que preparou por sua vez, em 76 a.C., uma expedi��o para

reconstruir os livros destru�dos no inc�ndio de 83. A procura se restringiu �s cidades de Cumas e Eritre, despertando a suspeita � totalmente infundada � de que a sibila Cumana e a Eritr�ia fossem a mesma pessoa.� plaus�vel pensar que esses Or�culos sibilinos tivessem sido redigid

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os por mais videntes, tanto de origem etrusca quanto grega. Seja como for, parece que havia uma certa unidade no seu estilo, rigorosamente em versos. Mas a caracter�stica de exprimir-se em forma po�tica � comum a todas as sibilas, que costumavam geralmente improvisar as suas respostas em hex�metros.Certamente se pode dizer que n�o eram textos de f�cil decifra��o, sendo compilados em versos de significado herm�tico, que para exprimir conceitos de sentido consumado deviam ser variadamente articulados entre si. A dificuldade da opera��o era acrescida pelo fato de que a escrita era parcialmente velada pelo uso de caracteres obscuros e hier�glifos.Uma morte atroz era prevista para o sacerdote que, violando a consigna��o, permitisse que deuses profanos copiassem os textos sagrados. Isto � contado pelo historiador Val�rio M�ximo, ao descrever com cru�is detalhes a execu��o do sacerdote T�lio, condenado � mesma pena dos parricidas, isto �, afogado em um saco, por ter-se deixado corromper por

um cidad�o de nome Petr�nio Sabino, permitindo que ele transcrevesse o or�culo.N�o parece, por�m, que condena��es t�o ferozes servissem para deter os predadores do segredo oracular, pois exemplares de tais livros sempre circularam por Roma, sobretudo na era imperial. O fen�meno atinge a m�xima extens�o sob Augusto, que, para p�r-lhe um freio, ordenou o seq�estro e a destrui��o das c�pias em poder de particulares.Foram queimadas mais de duas mil.Ao mesmo procedimento deveriam recorrer Nero e Juliano o Ap�stata, o

qual os consultou pouco antes de ser morto em 363. O �ltimo a ordenar sua incinera��o foi Hon�rio, em 408, enquanto o Imp�rio se esfacelava sob a press�o de v�ndalos e godos. O executor material de sua destrui��o foi Estilic�o, que logo depois foi morto.

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Uma ponte entre a antiga e a nova religi�oAs numerosas transcri��es dos livros sibilinos, que as proibi��es imperiais n�o eram capazes de impedir, permitiram sua reconstitui��o � mesmo atrav�s de inevit�veis manipula��es �, no in�cio da era crist�, por parte de apologistas propensos a demonstrar como os or�culos pag�os haviam previsto o advento da nova religi�o. Havia ainda, nos or�culos atribu�dos �s sibilas, uma vis�o apocal�ptica da hist�ria que n�o somente lhes conferia uma inspirada solenidade como tamb�m encontrava detalhadas semelhan�as com as grandes premoni��es b�blicas sobre o fim do mundo.Falava-se ali de "ju�zo universal do grande Rei", com impressionantes descri��es da cat�strofe que se abateria sobre a humanidade degenerada, em tudo e por tudo similar �quelas narradas pelo ap�stolo Jo�o e por seus precursores hebreus.Ali eram listados sinais celestes, sobretudo cometas, prenunciando mudan�as sazonais. Ali se tra�avam espantosos cen�rios de morte e

regenera��o, alguns dos quais, referidos ao passado, evocando desastres como a erup��o do Ves�vio em 79, enquanto outros, referidos ao futuro, podiam ser interpretados como confirma��o (insuspeit�vel, porque de fonte paga) das profecias conclamadas da nova religi�o. A ponto de fazer

Clemente de Alexandria, primeiro doutor da Igreja, dizer em meados do s�culo II que as vis�es prof�ticas das sibilas deviam ser consideradas antecipat�rias das verdades evang�licas.O que Clemente afirma demonstra em toda evid�ncia a inten��o de relacionar o estudo das Escrituras � cultura da Antig�idade, dando-lhe aval. "Aprendei da Sibila como se deu a conhecer Deus e as coisas futuras", incita ele no seu Protrettico, que em grego quer dizer justamente

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exorta��o, "Se lerdes a Sibila encontrareis enunciado em grande destaque e clareza testemunhos sobre o filho de Deus e sobre como muitos reis moveram guerra contra o Cristo, odiando-o, e sobre aqueles que defenderam o seu nome, sobre o seu mart�rio e sobre o seu triunfo."Outros santos e intelectuais do primeiro s�culo, como Justino, que deu testemunho de sua f� com o mart�rio em 165, e Agostinho de Hipona, que soube encontrar na filosofia neoplat�nica elementos congeniais � sua grande especula��o teol�gica, tiveram uma respeitosa considera��o pelas sibilas, distinguindo as suas senten�as da desordenada idolatria dos outros or�culos. Agostinho � severo em rela��o a astr�logos e adivinhos na Cidade de Deus, mas indulgente em rela��o a essas videntes que jamais contrariaram as verdades da f�. Justino, por seu turno, reconhece nelas um certo m�rito por terem "reprovado as falsidades dos pag�os" com as suas predi��es sobre o advento do Cristo.Diferentemente do que acontece para as predi��es de qualquer outro adivinho da Antig�idade, as das sibilas foram consideradas dignas de cr�dito pela Igreja.Determinantes para a absor��o dos Or�culos sibilinos por parte do cristianismo foram, como se disse, os passos que reconduziam � tradi��o apocal�ptica, tanto pelo tom quanto pelo conte�do. Como demonstra a

repeti��o detalhada das refer�ncias � �c�lera do grande Deus�, mas tamb�m � gl�ria que advir� para o vencedor da batalha final.Deus dar� um sinal: uma estrela cintilar� no c�u imaculado, como uma brilhante coroa, por mais dias. Ser� a aur�ola da vit�ria pela qual os

homens combater�o. A grande luta conduzir� de fato [o vencedor] �

cidade celeste. Cada povo se empenhar� em duelos imortais. (...) Mas o ign�bil n�o poder� coroar-se de prata. (...)As calamidades que afligir�o os homens � aproxima��o do ju�z

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o s�o as mesmas de qualquer outro apocalipse:[...] fome, peste, guerras. Os tempos mudam em um coro de lamentos e nos de l�grimas. [...] Explode uma grande confus�o tamb�m entre os justos e fi�is, quando ent�o as estrelas de todo firmamento se mostram a todos em pleno dia, junto com o sol e a lua, enquanto o tempo acossa, veloz [...] Uma densa nuvem envolve o mundo infinito, do oriente ao ocidente, da meia- noite ao sol a pino. Um rio ardente de fogo escorre do c�u sobre a terra, causando ru�nas em todo lugar: s�o invadidos o oceano, o mar azul, os lagos e as fontes, os abismos do Hades [o vocabul�rio sibilino � aqui ainda o mesmo do paganismo greco-romano] e a ab�bada do c�u. Os corpos celestes se fragmentam e s�o velados pela negra escurid�o. Do c�u, as estrelas se precipitam no mar...Servem de contraponto a essas imagens assustadoras, nos Or�culos sibilinos crist�os, como em outras revela��es catastr�ficas e na mesma mensagem de F�tima, ecos de dor desoladora:Ai das mulheres gr�vidas nesse dia! Ai das m�es que amamentarem! Ai daqueles que moram perto do mar!...E aos lamentos, �s s�plicas, aos gritos, inevitavelmente se mistura, como nas Escrituras, o "estridor de dentes". A repeti��o tem inten��o de evidenciar, por parte dos transcritores crist�os, a analogia tamb�m formal entre a profecia sibilina e a b�blica.Nesta perspectiva, tem significado especial o fato de que o apocalipse das Sibilas tamb�m previa, al�m do limiar do horror, a possibilidade de uma solu��o salvadora. Em benef�cio n�o s� dos justos, mas at� dos maus que, penitenciando-se, imploraram a miseric�rdia divina.[...] Algo ser� concedido �s almas que suplicarem ao Deus onipotente incorrupt�vel, que lhes conceder� a salva��o do tormento do fogo e do incessante estridor de dentes. [...] E as mandar� para longe da chama que

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n�o se extingue, da vida eterna e diversa, na plan�cie dos Campos El�seos, al�m das ondas agitadas do Aqueronte...Para esta sua tr�gua entre mitologia e revela��o crist�, as sibilas constitu�ram de fato na hist�ria das grandes profecias uma ponte sobre o abismo que separava os cultos da Antig�idade cl�ssica da nova cultura

religiosa.Para confirmar o efetivo interesse suscitado no imagin�rio ocidental por essas filhas inquietantes do paganismo, deposit�rias de segredos ligados ao exerc�cio de pr�ticas execradas pelas Escrituras como blasfemas, e portanto aceitas em fun��o de um des�gnio escatol�gico mais avan�ado, existem as obras-primas de numerosos artistas que nelas se inspiraram para decorar catedrais e santu�rios.Destacam-se entre as grandes protagonistas dessa ins�lita vertente da arte

sacra as cinco sibilas retratadas por Miguelangelo ao redor da Capela Sistina (a P�rsica, a L�bia, a Eritr�ia, a D�lfica e a Cumana) e aquelas quatro sem nome nos afrescos de Rafael na igreja romana de Santa Maria della Pace. foram tamb�m atra�dos pelo fasc�nio indecifr�vel das sibilas Andr�a Del Castagno, o Guercino, o Domenichino, o Pinturicchio, Guido Reni e tantos outros mestres.Espl�ndidas sibilas adornam com seus rostos enigm�ticos a catedral de

Siena (junto com HermesTrismegisto e Pit�goras) e as paredes da Casa de Loreto, um dos mais populares centros do culto mariano. Lado a lado com os anjos e santos, elas figuram entre os motivos recorrentes na pintura renascentista.Est�o presentes at� na liturgia. Uma sibila � mencionada no canto sacro do Dies irae, introduzido no repert�rio religioso de Inoc�ncio III, papa de 1198 e 1216:Dies irae, dies illa

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solvet saeculum in favillateste David cum Sibylla.� um chamado ao fim do mundo, ao dia da ira e ao s�culo que se dissolve no fogo, como testemunham as Escrituras (Davi) e a Sibila.

O Vatic�nio da ninfa Porrina sobre a vinda de Rita de C�ssiaUma profecia sobre cuja autenticidade se podem nutrir muitas d�vidas, mas que demonstra de qualquer modo a sugest�o exercida pelas sibilas sobre o imagin�rio cat�lico, � aquela que uma gentil tradi��o �mbrica indica como precogni��o paga do nascimento de Rita de C�ssia, m�stica e taumaturga das mais veneradas pela cristandade. � a profecia da sibila Porrina, que viveu em um mitol�gico passado no vale de Roccaporena, onde nasce no fim do s�culo XIV Rita Lotti, destinada a se tornar a "santa dos imposs�veis" pelos extraordin�rios milagres que lhe s�o at� hoje atribu�dos, sobretudo relacionados a curas.No vale onde nasceu Santa Rita paira sempre uma esp�cie de encantamento indefin�vel, que uma toponom�stica inquietante torna ainda mais misterioso. A ele se tem acesso atrav�s de duas gargantas chamadas

Passo Inferno e Passo Male. Sobrep�e-se ao min�sculo povoado de Roccaporena, ao n�vel daquele que era o pomar miraculoso de Rita, onde

brotavam figos e rosas em pleno inverno, uma majestosa caverna chamada Grotta Nera, na qual os devotos hoje v�o solicitar gra�as. Na vertente sul cont�gua � Grotta d'Oro, que se dizia ter sido morada da ninfa Porrina,

uma adivinha exilada em �mbria dall�Arcadia, para onde fugira com a

irm� Carmenta, ela tamb�m dotada de poderes m�nticos, e com o filho desta �ltima, Evandro, soberano expulso do seu reino de l�ricos pastores.Ambos tinham procurado pela It�lia um local adequado ao mist�rio

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requerido para o exerc�cio da arte prof�tica: Carmenta se fixara com o

filho no alto do monte Palatino, a outra no vale em que Santa Rita viria ao mundo, alguns mil�nios depois.A voz do povo atribu�a a Porrina uma profecia, da qual o texto s� foi transcrito na d�cada de 1930 pelo historiador Cassiano Adolfo Morini, que assegurou t�-lo lido de um manuscrito em posse de um velho campon�s, o qual, por�m, n�o o quis entregar, permitindo-lhe apenas copi�-lo � m�o."Esta � a terra sagrada que me foi indicada pelo meu deus", dizia a sibila

e antecipava os futuros esplendores "at� �s mais long�nquas gera��es". Seguia-se a verdadeira e aut�ntica profecia: "Decorrer�o vinte centenas de anos depois de mim, e destes penhascos rochosos brilhar� uma luz divina, desconhecida para o mundo, � qual curvar�o a cabe�a at� mesmo as feras da floresta. E haver� a segunda. Destas paredes de granito, junto com outras cinco, vir� � luz uma pedra preciosa, a margarida, que iluminar� depois mais cinco outras. E ser� a maior, e superar� as terras e os mares, pois que a humildade vencer� a vaidade. Para c� ainda acorrer�o pessoas atra�das de todo lugar para glorificar o Deus eterno, e este vale estreito e

miser�vel ter� nome eterno no mundo."O sentido da mensagem parece corresponder � inten��o de estabelecer uma continuidade entre a heran�a sacrom�gica do paganismo it�lico

primordial, as alvoradas m�ticas da civiliza��o romana e a nova grande tradi��o crist�, na qual Rita � envolvida junto com outras "luzes divinas". A �mbria � pr�diga em tais presen�as luminosas, mas entre todas, a margarida � a mais resplandecente, diz a sibila, e est� destinada a trans

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por com sua fama mares e montanhas, conclamando peregrinos de cada canto do mundo.N�o se pode ter certeza da autenticidade do manuscrito ao qual se refere Morini, mas � significativo que avalie a data em torno da primeira metade do s�culo XVII (isto �, aos anos do processo de beatifica��o, que

representou, de fato, o reconhecimento do culto de Rita de C�ssia, j� popular) pela qualidade do papel, dos caracteres gr�ficos e pelo estilo "empolado, excessivamente prolixo".A falta do documento, extraviado depois da morte do campon�s, desde que tenha existido, autoriza a suspeita de que a "descoberta" pudesse reentrar na pol�tica cultural do regime fascista, propenso a impor ascend�ncia latina �s grandes tradi��es populares, procurando tamb�m parentescos ou filia��es diretas, at� onde era poss�vel, entre os grandes santos cat�licos e as deidades romanas.Morini escreveu tamb�m que o velho campon�s havia encontrado o texto da profecia entre os pap�is amarelecidos de um fidalgo morto cinq�enta anos antes. O que cheira a romance popular, ingenuamente interpretado por arqu�tipos perfeitos � como o vil�o e o senhor � daquela It�lia rural e aristocr�tica que a ret�rica da �poca privilegiava.Qualquer d�vida � justificada posteriormente pelo ano da publica��o (1933) e o car�ter da revista Latina Gens, � qual foi confiado o furo de

reportagem. Mas isso em nada prejudica a import�ncia efetiva daquela devo��o popular que o vatic�nio, por mais que falso, exprimia. Demonstra como nunca a penetra��o na Idade Moderna daquilo que na Antig�idade foi uma atitude recorrente do poder pol�tico em rela��o � arte divinat�ria: manipular as respostas ou simplesmente invent�-las, em apoio aos seus pr�prios des�gnios.

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O Crep�sculo dos Deuses

Existiram sibilas n�rdicas, que por volta do ano 1000 previram aquilo que na sua tradi��o � chamado de o "crep�sculo dos deuses". � o apocalipse dos escandinavos, que assinala o fim tr�gico do Midgard, o "recinto do meio", criado por Odin para hospedar os homens.Tamb�m esta cat�strofe � o prel�dio, como as outras profecias escatol�gicas, do surgimento de uma nova idade de ouro.A presta��o de contas detalhada desse apocalipse viking est� na Edda, colet�nea de cantos escritos entre os s�culos IX e XIII, mas descobertos somente em 1645 pelo bispo island�s Brynjolf Sveinsson em um �nico

c�dice, hoje conservado na Biblioteca Real de Copenhague (Codex regius 2365). O primeiro de tais textos � atribu�do a uma profetisa n�o de outro modo definida (intitula-se Predi��es da vidente, na antiga l�ngua n�rdica Volospa), a qual come�a impondo o sil�ncio e asseverando ter crescido junto ao povo dos gigantes. Destes teria aprendido a verdade acerca da origem e do fim do universo. Do deus supremo Odin teria depois recebido o dom de prever o futuro, tornando-se assim uma volva, ou seja, uma adivinha.O apocalipse viking da EddaO relato da Volospa come�a com a apari��o do gigante Hrymir, primeiro habitante do cosmo, quando ainda n�o existiam nem terras, nem �guas, nem c�u, e prossegue atrav�s da cria��o do mundo dos homens por parte de Odin, do nascimento das filhas dos gigantes (as tr�s Norne: Urd, Verdandi e Skuld) que eram encarregadas de supervisionar as quest�es humanas, o irromper do mal sobre a terra por meio da rivalidade entre as estirpes divinas dos Asi (descendentes de Odin) e dos Vani.O "crep�sculo dos deuses" � anunciado como pr�ximo e inevit�vel

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. Os deuses desapareceram em combate contra os monstros, e somente alguns deles renasceram em um mundo regenerado do sangue. O sol escurecer�,

as estrelas cair�o do c�u, a terra se afundar� nos abismos marinhos.Os sinais premonit�rios do cataclismo final ser�o, como para qualquer

outro apocalipse, os pecados dos homens:

[...] A culpa se difundir� sobre a terra, os irm�os se manchar�o de sangue fraterno, os filhos praticar�o muitos homic�dios contra os pais, incesto e adult�rio se tornar�o um h�bito, n�o haver� piedade pelo amigo.N�o faltar�o sinais ligados � altera��o das esta��es. Tr�s invernos se suceder�o, cada qual mais desolador que o outro. Nevar� at� que a terra fique completamente gelada, e ent�o os monstros romper�o suas correntes para atacar os deuses.Agitar-se-� no oceano o Grande Drag�o [a nomenclatura evoca precedentes b�blicos], e movendo-se far� transbordar as �guas sobre a terra, provocando inunda��es e terremotos. [...] O ex�rcito dos g�nios malvados combater� contra os deuses.Mas Odin reagir�, erguendo uma barreira contra os seus malef�cios, embora a maioria dos her�is alinhados do seu lado v� sucumbir no confronto.A batalha ser� tremenda, mas no final uma nova terra ressurgir� dos abismos, para poder acolher os progenitores de uma humanidade redimida.A terra emerge do mar, e � verde e bela; nos campos as colheitas crescem

sem semeadura...Prevalece, portanto, tamb�m nesta obscura saga n�rdica, a mensagem salvadora e regeneradora, t�pica de qualquer outro apocalipse. Ocorrem trag�dias c sacrif�cios, mas n�o hecatombes generalizadas, pois os justos ser�o chamados a remar sobre uma terra de clima moderado, livre da

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mordida do gelo, pr�diga de frutos e bem-estar.A profecia � difusamente retomada pelo island�s Snorii Sturluson na sua Edda do s�culo XIII, que ao contr�rio da precedente � um tratado verdadeiro e pr�prio � n�o um floril�gio po�tico � de mitologia e folclore antigo.O "sacrif�cio ensang�entado" do deus da inoc�nciaH� uma v�tima sacrificial de natureza divina tamb�m neste apocalipse do gelo: Baldr, filho predileto de Odin. Ele � o deus da inoc�ncia, luminoso e c�ndido como um cordeiro.O seu "sacrif�cio ensang�entado" � um prel�dio da guerra contra o mal e a vit�ria final do bem.Baldr morre pela trai��o do p�rfido Loki, descendente degenerado de uma estirpe de gigantes. � um ser que na tradi��o n�rdica evoca os tra�os de L�cifer: � "belo de aspecto, mas de alma malvada" e "autor de cada fraude".Traz a trag�dia � fam�lia dos deuses ao instigar o ignaro cego Hodr,

tamb�m filho de Odin, a golpear Baldr com um ramo de visco, a �nica

planta que, ao contr�rio de qualquer outra for�a, elemento ou criatura viva da natureza, n�o havia jurado poup�-lo.Para se esquivar � puni��o divina, Loki se transforma em salm�o. Mas o deus Thor, senhor das tempestades, consegue desentoc�-lo e peg�-lo pelo rabo. Por isso o salm�o, como narra a Edda de Snorri, tem o rabo fino.Uma vez capturado pelos deuses, este pr�ncipe do mal � acorrentado em uma caverna na ilha infernal de Lyngi. � amarrado � rocha com as v�sceras do filho Narni, esquartejado pelo irm�o Vali. Uma serpente lhe derrama veneno no rosto, e seus espasmos provocam terremotos.Do mesmo modo que Satan�s no Apocalipse de Jo�o, Loki dever� ficar

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aprisionado at� o tempo da batalha final. Nela tomar�o parte monstros de propor��es f�sicas enormes, que com sua f�ria levar�o destrui��o a todo lugar, at� subverter a ordem universal dos planetas.Aqui come�a a parte especificamente prof�tica desta cr�nica b�rbara sobre os destinos do mundo, que figura entre as mais espetaculares da literatura apocal�ptica de qualquer tempo e pa�s.Ao t�rmino dos tr�s invernos previstos da volva, irromper�o nos c�us lobos fam�licos, que engolir�o o sol e a lua, provocando a queda de todos os outros astros e conseq��ncias terr�veis sobre a terra, Tudo come�ar� com a redu��o de antigos equil�brios naturais: o fam�lico lobo Skoll, que das �rvores do mundo seguia o curso do sol, conseguir� alcan��-lo e engoli-lo; o mesmo far� o lobo Hati, perseguidor da lua. Ao mesmo tempo, nos oceanos, a grande serpente do Midgard � assim chamada porque cinge o mundo inteiro dos homens mordendo o pr�prio rabo � se agitar� enfurecida, provocando maremotos e inunda��es.Sobre as �guas agitadas aparecer� a horr�vel nave Nagifar, constru�da com as unhas dos mortos. Ser� pilotada pelo gigante Hrymir, mal�fico pr�ncipe do gelo e da noite. Obedecer�o aos seus comandos os monstros das terras

geladas, que formar�o junto com os "gigantes da geada" e as criaturas dos infernos o ex�rcito do mal.Sair� em campo inclusive Loki, libertado das suas correntes milenares. Acorrer�o para engrossar as fileiras deste ex�rcito devastador a esc�ria de uma humanidade degradada pelas torpezas dos �ltimos tempos.O imenso lobo Fenrir, gerado por Loki e por uma mulher bicho-pap�o, ir� escancarar as aberturas da terra at� o c�u, mordendo e devorando tudo que encontrar no seu caminho, enquanto a serpente espalhar� o seu veneno

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pelo mundo.Ser�o enfrentados pelos deuses do Valhalla, para�so dos her�is, guiados por Odin. Combater�o ao seu lado os guerreiros ca�dos em batalha e as divinas walkirie montadas nos seus cavalos alados.Odin investir� contra o lobo Fenrir a sua m�gica Gungimir, arma de extraordin�rios poderes, que desta vez, por�m, n�o ferir� o advers�rio. Fenrir de fato pegar� o deus de surpresa, engolindo-o. A gula do monstro

ir� perseguir outro de seus filhos, Vidharr, que conseguir� por�m levar a melhor, despeda�ando-lhe as mand�bulas com uma bota refor�ada de couro invulner�vel. Thor matar� a serpente do Midgard, mas sucumbir� por sua vez �s exala��es t�xicas da besta moribunda. Cair�o em combate Freyr e Tyr, divindades da fartura e da guerra. Liquidar�o a contenda Loki e Heimdall, conhecido como o "deus branco", que com sua corneta m�gica tinha dado in�cio � batalha chamando � forma��o as for�as do bem.Um inc�ndio consumir� a terra, iluminando com suas chamas a morte dos deuses. Sobreviver�o, por�m, Viddhar e Vali, filho de Odin o primeiro e de Loki o segundo, juntos com Modi e Magni, filhos de Thor, e armados com o invenc�vel martelo que pertenceu ao pai, eles se unir�o na recorda��o das gl�rias perdidas, constituindo o embri�o de uma nova teogonia.Dividir�o seus aposentos divinos com "os provados guerreiros" de Odin,

destinados a gozar de prazeres infinitos. Ser�o tamb�m poupados das chamas dois seres humanos, Lif, cujo nome significa vida, e Lifthrasir, vida de desejo, para serem nutridos de orvalho na sagrada floresta de Hoddimir. Eles dar�o origem � estirpe feliz da nova idade de ouro.Neste reino de paz renascer� o deus da inoc�ncia, para viver no novo Valhalla em companhia do seu matador Hodr, instrumento involunt�rio da

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maldade de Loki, definitivamente derrotada:Baldr retorna e mora com Hodr,o mal � banido da Terra...Muitos interpretaram estes versos como alus�o ao retorno do Cristo, depois do sacrif�cio, e ao advento da eterna paz crist�. � o que vale para muitas outras profecias escatol�gicas, todas de algum modo coincidindo pelos mais variados elementos.O m�stico ramo de viscoUm chamado ao esp�rito da crucifica��o poderia tamb�m ser colhido nos versos que exaltam a sacralidade do "ramo sang��neo", isto �, do galho de visco que serviu para matar o filho de Odin.Tal como na cruz, instrumento do mart�rio de Cristo, de fato, a madeira que provocou a morte de Baldr se torna, segundo esta interpreta��o, objeto de culto. Para todos os eleitos, � uma rel�quia dotada de grande for�a regeneradora, como os cravos ou os fragmentos da cruz.Em tal sentido se explica a tradi��o que atribui poderes exorc�sticos ao visco, considerado pelos antigos druidas como a planta m�gica por excel�ncia, indispens�vel aos seus ritos religiosos.Mais surpreendente ainda, no que concerne � analogia com a revela��o crist�, � a estrofe que conclui o canto:

Cenas do "crep�sculo dos deuses" sobre uma trompa escandinava do s�culo XVIII.Depois vem do alto para o grande ju�zoo forte senhor que domina tudo:a luta ele decide, comp�e as disc�rdiase d� as leis que duram eternamente.A influ�ncia do texto evang�lico � t�o manifesta que faz surgir s�rias d�vidas sobre a autenticidade desses versos, talvez acrescidos seguidamente por uma m�o crist�. Muito se discutiu em torno do fato de que "o grande senhor" n�o tenha nome. Leitores ing�nuos insistiram em

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poder extrair a conclus�o de que a portadora da mensagem tenha sido uma maga ou vidente pag�, na pr�tica uma bruxa, que por sua familiaridade

com os dem�nios n�o tivesse o poder de mencionar Cristo.

A druidesa e Diocleciano� classe das sibilas n�rdicas, de religi�o c�ltica, deve-se acrescentar uma certa druidesa de Tongres, florescente cidade da G�lia belga � �poca da domina��o romana, nas proximidades da atual Li�ge. Merece ser recordada, tanto por ser ignorado seu nome quanto pela particularidade da profecia que lhe foi atribu�da.Era o inverno de 270 d.C. e not�veis contingentes de tropas romanas estavam aquartelados em Tongres � espera da primavera. Alguns legion�rios se haviam alojado numa taverna no limiar do bosque, onde os

druidas, sacerdotes da religi�o c�ltica local, costumavam celebrar seus

ritos. Havia entre estes soldados um d�lmata de bela apar�ncia e f�sico robusto, com cerca de 25 anos de idade. Estava taciturno, isolado dos outros, comendo uma refei��o frugal. Frugal demais � ou pelo menos assim pareceu � mulher que o observava curiosa das sombras, como atra�da por um misterioso chamado � para um jovem de tanto vigor f�sico.Assim, quando o legion�rio terminou a refei��o e pagou a conta com uma moeda de cobre, a mulher dirigiu-lhe a palavra com uma ponta de ironia, como para chamar-lhe a aten��o.� Tu �s sovina � disse. O legion�rio se virou, fitando-a nos olhos. A tradi��o diz que se tratava de uma bela mulher, de f�sico imponente, e que se vestia da maneira exc�ntrica dos magos celtas. O jovem d�lmata viu-se ent�o diante de uma criatura de ar selvagem e cabelos escorridos sobre os ombros, como convinha a uma freq�entadora da floresta sagrada, que

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provavelmente envergava "um curto manto negro zebrado de bandeirolas vermelhas, caindo sobre cal�as largas de flanela branca, e botas de couro,

tamb�m brancas", cobrindo os ombros com "uma mantilha de l� grossa com xadrezes vermelhos".Os circunstantes pareciam demonstrar um grande respeito por essa mulher de ar t�o pitoresco e uma particular curiosidade pelo que tinha dito. Por isso fez-se um grande sil�ncio na taverna, rompido apenas pelo crepitar do fogo e pelo uivar do vento l� fora.O legion�rio ent�o, sentindo-se o centro da aten��o geral, respondeu � mulher com igual ironia:� Serei mais pr�digo � disse � quando me tornar imperador.- Ser�s imperador - rebateu ela de imediato, continuando a fit�-lo �,

quando matares o javali.Ao dizer tais palavras, a mulher saiu e desapareceu na noite.� Quem era? � perguntou o soldado aos presentes. - Uma sacerdotisa que vive na floresta � responderam. � Passa todo o seu tempo debaixo de um carvalho sagrado, � espera das revela��es

divinas. Os deuses a usam para dispensar seus conselhos aos homens. Nunca se equivocou.� Quando acontecer o que ela predisse � concluiu um outro �, lembre-se de Tongres.A partir daquele momento, come�ou para o jovem d�lmata, que se chamava Diocles, uma incessante ca�a ao javali. Onde quer que se encontrasse, dedicava-se a isso com um zelo man�aco, matando uma dezena deles. Nada, por�m, acontecia que pudesse faz�-lo pensar, por mais remotamente que fosse, no cumprimento da profecia.Sendo um bom servidor do Estado, dotado de um forte esp�rito militar al�m de coragem, ia sendo promovido, subindo na carreira. Mas n�o bastava acumular fun��es � por mais prestigiosas, como aquela de administrador do pal�cio imperial � para poder considerar cr�vel a eventualidade prevista pela druidesa.Os imperadores se alternavam em uma sucess�o de delitos, e ele estava sempre junto a eles, mas sem levar qualquer vantagem. Ca�ram Aureliano,

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T�cito, seu irm�o Floriano, Probo, Caro, seus filhos Carino e Numeriano, todos assassinados. Mas somente na morte deste ultimo, em setembro de 284, em Calced�nia, Diocles teve a ilumina��o decisiva.O jovem imperador tinha sido de fato apunhalado por seu padrasto Aper, que significa justamente javali. Era ele ent�o a besta que teria de sacrificar para subir ao trono. Diocles (que havia latinizado o seu nome para Diocleciano) o fez pessoalmente, e o ex�rcito o aclamou imperador,Seu reinado foi funesto para os crist�os, que por dez anos sofreram persegui��es cru�is.

14Um abade �dotado de esp�rito prof�tico�

Desde os primeiros s�culos do cristianismo, te�logos e int�rpretes das Escrituras se esfor�am para entender o que significaria aquele prazo de mil anos que o Apocalipse de Jo�o indicava como o tempo da pris�o de Satan�s (20, 2-3), e o que aconteceria com a sua soltura (20, 7-10). Entre

diversas interpreta��es prevalece a id�ia de que aqueles mil anos representassem o limite extremo da toler�ncia divina �s m�s a��es dos homens, al�m do qual n�o haveria mais miseric�rdia para os pecadores.Donde se deduz que a liberta��o do antigo inimigo significaria n�o s� o in�cio do confronto definitivo entre as for�as do bem e do mal, mas tamb�m o ju�zo universal. E isso, no imagin�rio religioso da �poca, s� podia significar o fim do mundo.A disputa sobre o "mil�nio"

A perspectiva era tremenda s� na apar�ncia, dado que � cat�strofe se seguiria o advento do reino de Deus, destinado a durar tamb�m mil anos.

Este era o sentido profundo da promessa da qual nasceriam as teorias medievais milenaristas, dilaceradas entre felicidade e desespero, �nsia e

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terror, temia-se o fim, mas esperava-se o renascimento com indiz�vel esperan�a. Uma felicidade milenar estava nos planos do Senhor. Entende-

se por que era preciso superar as prova��es para ter acesso a ela.O primeiro a formular explicitamente essa hip�tese foi o bispo Papia di Girapoli por volta do ano 130, a menos de cem anos, portanto, da crucifica��o do Cristo e de quarenta da compila��o do Apocalipse, nos seus cinco livros Exegeses da palavra do Senhor. Papia insistia em que, com o fim do mundo, o cristianismo triunfaria definitivamente sobre a morte: teria in�cio um mil�nio de beatitude plena e a terra seria transfigurada por d�divas do Senhor.Houve dissen��es sobre esta interpreta��o materialista do reino de Deus � qual se contrapuseram formas de gnosticismo crist�o, tendentes a ler a mesma mensagem em termos simb�licos, como o an�ncio de uma renova��o interior do homem.Ju�zos conflitantes foram expressos em rela��o a Papia pelos mestres da cristandade primordial. Eus�bio de Cesar�ia, considerado "o pai da hist�ria eclesi�stica", o classificou prontamente como indiv�duo de intelig�ncia curta. Da mesma opini�o foi santo Agostinho, orientado por uma leitura aleg�rica do Apocalipse, bem distante das promessas materiais de Papia.Outros padres da Igreja, por�m, ficaram do lado de Papia, reconhecendo que em sua Exegese ressoava o eco do ensinamento evang�lico, amorosamente filtrado atrav�s do testemunho dos anci�os. Pontificaram em tal sentido s�o Justino e os apologistas Tertuliano, Milit�o de Sardes e Te�filo de Antioquia.Um papel decisivo na afirma��o deste milenarismo nascente foi representado pelo l�der da comunidade asi�tica transmigrada para Lyon, Irineu, bispo daquela cidade e j� disc�pulo de Papia, divulgador apaixonado dos seus escritos. E, embora Papia tenha sido o primeiro a falar, � Irineu quem � considerado o verdadeiro pai hist�rico do pensamento milenarista, chamado tamb�m quiliasta, do grego chilioi, que significa mil.

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A disputa abordou a pr�pria autenticidade do Apocalipse de Jo�o, sobre o qual tamb�m Eus�bio exprime reservas, dando espa�o na sua Hist�ria eclesi�stica � opini�o de Dion�sio de Alexandria, dito o Grande, que o julgava uma obra de estilo por demais confuso e incompreens�vel para poder ser atribu�da ao quarto evangelista. Chega-se assim a sustentar que

fossem dois Jo�es, e que a confus�o derivou da exist�ncia das tumbas de ambos em �feso. Mas o n� central da pol�mica foi a contraposi��o entre aqueles que insistiram em poder interpretar a mensagem apocal�ptica, como algo destinado a realizar-se "aqui e agora", de maneira tang�vel, e aqueles que em vez disso se esfor�aram por l�-la em um sistema metaf�rico.

Hereges e santosFoi esse o pr�logo de uma diversidade dilacerante que, depois de se projetar por toda a Idade M�dia no interior da comunidade crist�, com

fortes conseq��ncias nos s�culos seguintes, sobretudo, � �poca da Reforma, reaflora hoje entre todas que esperam o cumprimento de antigas profecias ao fim do mil�nio, olhando para os eventos futuros com o �nimo condicionado pelas mais variadas sugest�es.Na pr�tica, tratou-se de um contraste ideol�gico, pois o advento real de uma nova ordem � e a perspectiva de que pudesse projetar-se mil anos � tinha implica��es revolucion�rias, inquietante tanto para os detentores do poder religioso quanto do temporal. Ao que se opuseram, por isso, soberanos e pont�fices, hostilizando qualquer ilus�o sobre a realiza��o daquela que os devotos chamavam de a Jerusal�m Celeste.Os hussitas na Bo�mia e os anabatistas na Alemanha fizeram um uso revolucion�rio do milenarismo. Os primeiros fundiram vontade de independ�ncia nacional e esp�rito de reforma religiosa, rebelando-se duplamente contra o papa e o imperador. Os segundos fundaram em

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M�nster o "reino da Nova Jerusal�m". Foram perseguidos e exterminados em massa, uns e outros, com os pr�prios l�deres. Sua vis�o do mundo sobrevive at� hoje nos movimentos protestantes dos m�rmons, dos adventistas, dos batistas e dos pietistas.Sens�veis ao apelo milenarista foram tamb�m, em ampla medida, m�sticos e videntes de f� cat�lica. Suas profecias tiveram uma influ�ncia relevante sobre prega��es e digress�es da teologia medieval. Elas foram de todos os g�neros. Senten�as de tom oracular sobre os destinos do mundo foram

pronunciadas por grandes santos, como Francisco de Assis e Br�gida de Uppsala, Margherita de Cortona e Catarina de Siena. Em muitos casos, todavia, a miragem milenarista provocou fen�menos de integralismo religioso, julgados her�ticos pela Igreja.Isso acontece, sobretudo, quando os excessos dos penitentes e a intransig�ncia mendicante de certos pregadores chegam ao ponto de comprometer os equil�brios sociais e, mais do que nunca, a unidade religiosa. Impiedosa foi ent�o a rea��o civil e eclesi�stica que se abateu com particular viol�ncia sobre monges proscritos por zelo de pobreza pela ordem franciscana (os espirituais, chamados tamb�m fradinhos, irredutivelmente pol�micos em rela��o aos luxos pontificais) e por outras comunidades mon�sticas.Especialmente feroz foi a persegui��o contra Gherardo Segarelli e a seita dos apost�licos, chamados depois dolcinianos, quando o disc�pulo Dolcino Tornielli sucedeu o mestre (queimado vivo em 1296). Tamb�m Tornielli

� inadequadamente chamado "frade Dolcino", pois nem frade era � acabou na fogueira (em 1307), ap�s ter resistido no monte Zebello, com a pr�pria companheira Margherita e cinco mil seguidores, ao ass�dio de um ex�rcito enviado pelo papa Clemente VDante Alighieri tem palavras de reprova��o contra Dolcino (Inferno,

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XXVIII, 55-60), ao passo que manifesta uma admira��o devota por Joaquim da Fiore (Para�so, XII, 136-138), fundador tamb�m ele de uma fraternidade destinada a criar perturba��o no mundo cat�lico por sua forte voca��o escatol�gica, mesmo tendo tido, ao contr�rio dos outros, a aprova��o do papa Celestino III. Mas a diferen�a entre Joaquim e os outros pregadores milenaristas n�o reside tanto no reconhecimento obtido da Igreja � que por certo lhe teria faltado se ao menos o pont�fice tivesse podido prever os efeitos do seu pensamento, inspirador entre outras coisas da rebeli�o dos fradinhos�quanto na complexidade filos�fica que o seu des�gnio prof�tico soube exprimir.� nesta perspectiva que encontra justifica��o o admirado ju�zo que Dante faz do "abade calabr�s Joaquim, dotado de esp�rito prof�tico�.A revolu��o crist� de Joaquim da FioreAs profecias de Joaquim da Fiore, monge cisterciense que viveu na Cal�bria entre 1130 e 1202, articulam-se num sistema temporal que divide a hist�ria da humanidade, em tr�s grandes eras, dominadas respectivamente pelo Deus Pai, pelo Filho e pelo Esp�rito Santo. A primeira devia considerar-se inspirada pelas leis do Antigo Testamento, a segunda, pelo esp�rito evang�lico do Novo e a terceira � que preconizava o advento dali a poucos dec�nios, em 1260 �, pelas leis universais do amor.Teria tido in�cio com o advento desta �ltima uma �poca de liberdade, depois da servid�o das duas primeiras, Mas o que historicamente criava maiores expectativas no povo crist�o - e inquieta��o entre as autoridades eclesi�sticas � era o an�ncio do triunfo iminente de uma nova Igreja do Esp�rito Santo, em lugar daquela vinculada �s hierarquias tradicionais.

Teria caracterizado esta fase de passagem o nascimento de uma nova grande ordem religiosa, destinada a desenvolver um papel decisivo na

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hist�ria da Igreja.Os franciscanos her�ticos do movimento espiritual reconheceram-se nessa profecia, tomando a si a tarefa de enfrentar "a �ltima e mais terr�vel prova do Anticristo", em nome da renova��o em andamento. Encontrar�o assim um motivo digno para suportar as terr�veis persegui��es a que ser�o submetidos. Muitos desses fradinhos, antes de serem mandados � fogueira, ser�o pregados pela l�ngua �s portas das igrejas, querendo-se assim

enfatizar a gravidade das coisas pregadas por eles.No momento em que Joaquim transcreve as suas profecias em obras de forte conota��o simb�lica, como o Coment�rio ao Apocalipse e a

Concord�ncia entre o Antigo c o Novo Testamento, a alternativa est� para ser cumprida com base em uma contagem precisa. Joaquim afirma que a primeira �poca se estende desde o tempo de Abra�o at� o de Cristo num total de 42 gera��es, fixando a genealogia b�blica. Outras 12 gera��es devem, portanto, passar para que se cumpra a segunda �poca. Calculando

ent�o um razo�vel tempo de trinta anos para cada gera��o, estabelece que a data fat�dica deva se concretizar em 1260. E como f�rmula tais vatic�nios no final do s�culo XIII � certo que faltavam apenas duas �nicas gera��es (sessenta anos, exatamente) para o cumprimento do seu des�gnio escatol�gico.Suas convic��es s�o corroboradas pelo significado que, vez por outra, ele atribui aos grandes s�mbolos apocal�pticos. As 42 gera��es correspondem aos meses de vida da besta, os gafanhotos s�o os hereges patarinos, os sete anjos do ju�zo representam outros tantos momentos hist�ricos. Enfim, a mulher amea�ada pelo drag�o, passa 1.260 dias no deserto, depois de ter

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dado � luz a crian�a que "dever� governar todas as na��es com o bast�o de ferro" (Apocalipse, 12, 6). Mas por tr�s desse v�u herm�tico o seu discurso � simples e suscita uma apaixonada espera entre os fi�is, perturbando os c�rculos intelectuais mais evolu�dos da cristandade medieval.Para o monge cisterciense a revolu��o crist� n�o se realizou como deveria.N�o se realizou na fase que aconteceu a revela��o de Jesus nem na seguinte. N�o se realizou no evento triunfal da cria��o, gerido pelo Pai, nem na instaura��o da ordem social proclamada pelo Filho. Dever�,

portanto, cumprir-se ao final do prazo indicado, por interven��o do Esp�rito Santo, ou seja, daquela terceira pessoa que pela verdade de f�

procede das duas primeiras. N�o ser�, por�m, heran�a exclusiva desta �ltima, mas de toda a Trindade, em coer�ncia com o dogma que sanciona a unidade das tr�s figuras; e que, se contrariado, exporia Joaquim � acusa��o de heresia.Nas vis�es do profeta a nova era exprime um retorno � pureza original do estado ed�nico, inf�ncia da humanidade: "O primeiro per�odo pertence aos velhos, o segundo aos jovens, o terceiro �s crian�as. (...) No primeiro era-se dominado pelo temor, no segundo se repousa na f�, no terceiro se arde

de caridade."Um v�u de poeira genu�na caracteriza a descri��o do que aconteceu ao homem e do quanto ainda est� para acontecer: "No primeiro [per�odo]

reluziam as estrelas, no segundo clareava a aurora, no terceiro resplandecer� o dia. O tempo do primeiro � o universo, do segundo a primavera, do terceiro o ver�o. No primeiro floresce a urtiga, no segundo a rosa, no terceiro o l�rio. (...)"Dante, "fi�is do amor" e rosa-cruz

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� compreens�vel o interesse que Dante manifestou por Joaquim da Fiore, se considerarmos que ambos eram presumivelmente ligados a cen�culos esot�ricos fortemente interessados em um projeto de renova��o universal. Enquanto monge cisterciense, Joaquim tinha ideais e aspira��es pr�ximas �quelas da ordem templ�ria, que havia recebido de s�o Bernardo de

Claraval os seus preceitos. Dante, por sua vez, enquanto fiel do amor, era com toda probabilidade iniciado numa doutrina secreta que tinha muitos pontos de contato com os templ�rios. Significativo �, al�m disso, que sejam ambos considerados � Joaquim da Fiore pela sua vis�o escatol�gica, Dante pelo uso que faz no para�so de s�mbolos como a �guia da justi�a divina e a rosa dos beatos � precursores do movimento rosa-cruz.

Representa��o herm�tica do universo como emana��o divina.

Vest�gios das vis�es de Joaquim podem ser rastreados, ao longo de quatro s�culos, em algumas obras chave da cultura dos rosa-cruz, tais como a Fama fraternitatis (1614) e o Confessio fraternitatis (1615), atribu�das ao pastor luterano Valentin Andreae, animador de uma seita de Tubinga direcionada � alquimia, depois fundador de grupos denominados "uni�es crist�s", de inspira��o teos�fico-utopista,Na Fama vinha enunciado o credo da ordem dos rosa-cruz, que reconduzia � afirma��o de que "de Deus se nasce, em Jesus se morre, no Esp�rito Santo se ressurge", relatada em um escrito (ex Deo Nascimur, in Jesu morimur, in Spiritum Sanctum reviviscimus) colocado no sepulcro imagin�rio do cavaleiro Christian Rosenkreuz, lend�rio fundador da ordem oculta Rosa-Cruz. A parte mais significativa da Fama, sob o perfil esot�rico, referia-se � descoberta metaf�rica do sepulcro no qual jazia,

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circundado por livros, espelhos m�gicos, hier�glifos e outros s�mbolos de sapi�ncia arcaica, o seu corpo intacto e iluminado por uma l�mpada eter-na. Imp�e-se justamente acima deste cen�rio redundante de emblemas

antigos o Credo aqui citado, correspondente nos seus elementos essenciais � perspectiva escatol�gica de Joaquim da Fiore.Elementos mais especificamente apocal�pticos estavam em vez disso presentes no Confessio fraternitatis, s�ntese divulgada da Fama. De particular interesse, em termos filos�ficos e religiosos, era pois a tentativa, por parte do enigm�tico pastor Andreae, de considerar o "ponto �mega" da hist�ria como emana��o e evolu��o do "ponto Alfa" ou "Arqu�tipo dos arqu�tipos", isto �, Deus, do qual tudo prov�m.A obsess�o do conto �s avessasA sensa��o provocada pelas profecias de Joaquim da Fiore, dois s�culos depois da virada fat�dica do ano 1000, demonstra como foram radicais um dia as fobias milenaristas na consci�ncia ocidental. N�o bastou remover a supera��o da hora que todos insistiam ser a do fim do mundo.Haviam alimentado o grande medo, com a aproxima��o da data presumida do Apocalipse de Jo�o, as hom�lias assustadoras de pregadores que colhiam em qualquer lugar sinais da iminente cat�strofe, enfatizando-lhe o horror aos olhos da popula��o aterrorizada. Aos excessos vision�rios sobrepunham-se depois eventos reais de alcance tr�gico, dos quais as cr�nicas da �poca d�o ampla descri��o: escassez, pestil�ncia, saques e viol�ncia de todo tipo. Nascem neste per�odo lendas horr�veis, como aquelas das orcas que devoram os meninos, originadas das atrocidades cometidas pelos h�ngaros nas suas incurs�es. Vikings e sarracenos aterrorizam os habitantes do litoral. Doen�as contagiosas se espalham em

tais propor��es que dizimam v�rias vezes a popula��o da Europ

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a. A fome em muitas regi�es induz os homens ao canibalismo, um costume alimentar que a mem�ria hist�rica da Europa banira, mas que durante a primeira cruzada era ainda praticado entre as fileiras dos andrajosos em guerra.Servem de contraponto a esses horrores as obras de piedade e expia��o. Peregrinos e penitentes percorrem as estradas do mundo conhecido, alguns se dirigindo para os lugares santos, outros sem rumo, entoando litanias e flagelando-se. Novas igrejas s�o constru�das, cresce a popula��o dos conventos, heran�as e doa��es afluem com cada vez mais freq��ncia e generosidade aos cofres das ordens religiosas, das abadias, dos santu�rios. Sem um objetivo aparente, uma vez que at� um concilio (em Trosby, no ano de 909) confirma que o mundo est� para acabar.Jamais na hist�ria uma profecia teve tal peso e influ�ncia sobre o comportamento humano como a revela��o apocal�ptica nas suas v�rias interpreta��es, ao aproximar-se do ano 1000. A cronologia incerta e os

erros determinados por uma contagem aproximada dos anos, com freq��ncia, relacionados a par�metros profanos, como o nascimento de um imperador, o advento de uma dinastia, a funda��o de uma cidade, aumentam a confus�o determinada pelo p�nico, fazendo assim com que o temido encontro viesse a cair em �pocas e lugares diferentes, segundo o quanto permitia o n�vel de cultura hist�rica e cient�fica das popula��es envolvidas. E quando o ano 1000 passou, em vez de soltarem um suspiro de al�vio, te�logos e devotos come�aram a se perguntar em que haviam errado os seus c�lculos e sobre que bases deveriam elaborar os novos c�lculos para determinar o dia, de qualquer modo inevit�vel, do ju�zo final.Imaginaram assim variantes sobre as contas at� ent�o efetuadas, reabilitando o parecer do vener�vel Beda, monge ingl�s renomado pela sua voca��o enciclop�dica, segundo o qual o mil�nio deveria deco

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rrer n�o do nascimento, mas da morte de Cristo. Deduz-se que o fim do mundo aconteceria em 1033. Outras teorias foram elaboradas sucessivamente, manipulando com a mais bizarra desenvoltura os n�meros dos apocalipses e as datas consideradas de particular interesse religioso, enquanto outros pregadores se ocupavam em manter viva a tens�o do imagin�rio popular, sobretudo ao final de cada s�culo,Em um desses momentos de passagem coloca-se a atividade divinat�ria de Joaquim da Fiore, que foi o mais representativo dos profetas milenaristas, gra�as tamb�m a sua capacidade surpreendente de prever acontecimentos comuns, facilmente verific�veis pelas massas, como a morte do imperador Henrique VI e a queda do reino da Sic�lia, geograficamente vizinha a sua

Cal�bria.Deve-se dizer que, embora gozando em vida de alta considera��o junto ao papa, que deu o seu reconhecimento � congrega��o por ele fundada em Fiore em 1196, Joaquim ganhou depois de sua morte um ind�cio de heresia. Quem arcou com as conseq��ncias foram os seus disc�pulos, chamados gioacchimitas, que foram perseguidos em diversas ocasi�es. A

bem da verdade, deve ser dito que isso acontece n�o tanto por causa da mensagem prof�tica de Joaquim quanto pelos excessos pol�micos dos gioacchimitas em rela��o � Igreja oficial, que deveria ser expulsa da nova Igreja do Esp�rito Santo.De tais excessos � e das persegui��es conseq�entes � foram tr�gicos protagonistas, como se viu, os apost�licos, os dolcinianos c os fradinhos.

15O �ltimo Papa

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Um lugar todo especial entre os videntes medievais � ocupado pelo irland�s Malaquias, bispo e santo cat�lico, cujo nome em ga�lico soa Mael (Malachy) Maedos Ua Morgair (O�Morgair). A ele s�o atribu�das espantosas profecias sobre papas, que t�m a particularidade de antecipar,

por meio de uma ep�grafe espec�fica para cada pont�fice, as caracter�sticas mais salientes do seu pontificado, em refer�ncia tanto � sua pessoa quanto ao contexto geral dos eventos. Algumas s�o totalmente herm�ticas e n�o � poss�vel dar-lhes um sentido, sen�o atrav�s de interpreta��es artificiosas, mas em sua grande maioria exprimem um significado consumado, agilmente rcconduz�vel ao pont�fice do qual se fala.Malaquias, que viveu entre 1094 e 1148, enumera 112, inclusive alguns antipapas, a partir do seu tempo. O primeiro � Celestino II, papa nos anos

1143 e 1144. O �ltimo � indicado com a ep�grafe Petrus romanus, e, de acordo com a profecia, deveria concluir o arco dos romanos pont�fices, portanto tamb�m da Igreja e � segundo cren�as remotas � da cidade de Roma. Aumenta o sentido apocal�ptico de uma predi��o semelhante a exist�ncia de antigos or�culos, antecedendo Malaquias em v�rios s�culos, que vinculavam a sorte de Roma e do mundo a um �nico destino.Enquanto durar o ColiseuOutro grande iniciado da magia do al�m, o vener�vcl Beda, que viveu quatrocentos anos antes, havia predito que Roma s� existiria at� quando durasse o Coliseu, e que, uma vez acabada Roma, o mundo tamb�m acabaria:Coliseus stabit et Roma.Quando cadet Coliseum, cadet et Roma.Quando cadet Roma, cadet et mundus."O Coliseu resistir� e tamb�m Roma. Quando cair o Coliseu, cair� tamb�m Roma. Quando cair Roma, cair� tamb�m o mundo."

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(O fim de Roma (e da Igreja, dos seus pont�fices) significava, portanto, nesta �tica, o fim do mundo. Vatic�nio id�ntico as sibilas haviam legado � posteridade, segundo uma tradi��o retomada da literatura crist� dos primeiros s�culos. Tamb�m o havia divulgado o cartagin�sTertuliano, um dos escritores mais rigorosos da �frica crist�, antes de romper com a Igreja para aderir � heresia de Montano, que pregava j� ent�o (ao findar do s�culo II) um retorno � f� original.A profecia permaneceu viva no imagin�rio popular romano de qualquer �poca. Tanto � que, no in�cio deste s�culo, versos lapidares lhe foram dedicados por um poeta dialetal famoso � �poca, Luigi (Giggi) Zanazzo, cujo busto enegrecido ornamenta hoje uma esquina do bairro hist�rico Campitelli, aos p�s do Campidoglio.Quanno er Coliseo croller�Tutto er monno s'a da scapicoll�.A espantosa queda, de acordo com as profecias de Malaquias, deveria estar pr�xima, pois n�o restou mais que um �nico papa entre o atual

pont�fice Jo�o Paulo II (n�mero 110 da lista) e Petrus Romanus (112, o �ltimo). O mist�rio conclusivo do or�culo est�, portanto, destinado a ser desatado somente depois da morte do sucessor de Wojtyla.� dif�cil n�o ler em sentido altamente dram�tico a atribui��o metaf�rica do nome Pedro ao �ltimo pont�fice � chamado tamb�m por certos autores de Petrus secundus�, como a querer necessariamente indicar o encerramento de um ciclo inaugurado vinte s�culos atr�s pelo primeiro

vig�rio de Cristo. De fato, n�o podem ser ignorados os motivos profundos pelos quais aquele nome nunca mais foi retomado por nenhum dos sucessores de Pedro. Mas damos agora ao or�culo de Malaquias uma olhada que permita relevar a desconcertante ades�o de suas defini��es � imagem hist�rica e humana de cada pont�fice. Com especial rela��o aos

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�ltimos, que por sua coloca��o temporal reentram no grande entrecho escatol�gico de fim de mil�nio.

Cristo e a Virgem, com os ap�stolos Paulo e Pedro, sobre a porta central em bronze de s�o Pedro. � uma das cinco encomendadas por Eug�nio IV ao Filarete, primeiro exemplo da arte renascentista em Roma.

Os 112 Pont�fices de MalaquiasAs frases s�o ordenadas segundo a cronologia dos papas aos quais se referem. Nem sempre � a tradu��o literal que d� o sentido da profecia, mas sim o chamamento do pont�fice pelo cognome e as suas conota��es her�ldicas, seu lugar de origem, aos cargos exercidos ou qualquer outro detalhe da sua exist�ncia.1. Ex castro Tiberis (Do castelo do Tibre). Celestino II (1143-1144) provinha de Citt� di Castello, sobre o Tibre. Tamb�m o seu nome profano, Guy du Chatel, sublinhava esta proced�ncia.2. Inimicus expulsus (Inimigo ca�ado). L�cio II (1144-1145) pertencia � fam�lia bolonhesa dos Caccianemici. A ep�grafe soa como uma tradu��o exata do cognome.3. Ex magnitudine montis (Da grandeza do monte). Eug�nio III (1145-1153) nasceu em Monte Magno, perto de Pisa.4. Abbas suburrannus (O abade da Suburra). Anast�cio IV (1153-1154) se chamava Corrado Suburri, isto �, da Suburra.5. De rure albo (Do campo branco). Adriano IV (1154-1159) era origin�rio da aldeia inglesa de Saint Alban e foi bispo da diocese de Alba. A ep�grafe pode tamb�m querer aludir �s t�nicas brancas dos can�nicos de Saint Ruf, da qual foi abade.

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6. Ex ansere custode (Guardi�o do ganso). Alexandre III (1159-1181) chamava-se Rolando Papero Bandinelli. Mas a alus�o poderia tamb�m

relacionar-se � prote��o exercida sobre o Campidoglio, juntamente com os tradicionais gansos capitolinos, contra o Imperador Frederico Barba-Ruiva.7. Ex tetro carcere (Do escuro c�rcere), V�tor IV, antipapa (1159-1164), foi cardeal de San Vittore no C�rcere. A ep�grafe pode tamb�m referir-se � pris�o na qual encarcerou por certo tempo o leg�timo papa Alexandre III.8. De via Transtiberina (Da via trasteverina, ou al�m do Tibre). Pascoal III, antipapa (1164-1168), foi cardeal de Santa Maria no Trast�vere. Foi tamb�m protagonista de v�rias fugas para o outro lado do Tibre.9. De Pannonia Tusciae (Da Hungria � T�scia). Calixto III, antipapa (1168-1178) proveniente da Hungria, foi cardeal de T�sculo.10. Lux in ostio (A luz na foz). L�cio III (1181-1185) pertencia � fam�lia dos Allucignoli, da� a refer�ncia � luz, e foi bispo de Ostia, que contribui tamb�m para a asson�ncia na ep�grafe.11. Sus in cribro (O porco no crivo). Urbano III (1185-1187) provinha da fam�lia dos Crivelli e tinha sobre o bras�o um porco em uma joeira ou

crivo.12. Ensis Launntiis (A espada de Louren�o). Greg�rioVIII (1187) foi cardeal de S�o Louren�o em Lucina e trazia uma espada no bras�o.13. De schola exiet (Sa�do da escola). Clemente III (1187-1191) provinha da fam�lia dos Scholari.14. De rure bovense (Da campina de Bovi). Celestino III (1191-1198) era um Orsini do ramo dos Bovoni, propriet�rios de terra na campina de Bovi.15. Comes signatus (O conde assinalado). Inoc�ncio III (1198-1216) descendia dos condes de Segni e tinha por ep�grafe a invoca��o b�blica: "Senhor, dai-me um sinal da vossa benevol�ncia."16. Canonicus de latere (Can�nico ao lado, ou ao flanco). Hon�rio III (1216-1227) foi can�nico em Laterano.17. Avis ostiensis (O p�ssaro de Ostia). Greg�rio IX (1227-1241) tinha

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uma �guia no bras�o e era cardeal de Ostia.18. Leo sabinus (O le�o sabino). Celestino IV (1241) foi bispo de S�o

Marcos, da� a refer�ncia ao le�o, e depois de Sabina. Tinha, al�m disso, um le�o no emblema.19. Comes Laurentius (O conde Louren�o). Inoc�ncio IV (1242-1254) era o conde Louren�o Sinisbaldi dos Fieschi. Foi tamb�m cardeal de S�o Louren�o em Lucina.20. Signum ostiense (O signo de Ostia). Alexandre IV (1254-1261) pertencia aos condes de Segni e foi bispo de Ostia.21. Hierusalem Campaniae (Jerusal�m de Champagne). Urbano IV (1261 -1264) era natural de Troyes, no departamento de Champagne, e foi patriarca de Jerusal�m.22. Draco depressus (O drag�o esmagado). Clemente IV (1265-1268) tinha adotado o bras�o dos guelfos, retratando uma �guia que esmaga um drag�o (s�mbolo gibelino) sob suas garras.23. Anguineus vir (O homem da serpente). Greg�rio X (1271-1276) era um Visconti de Piacenza, em cujo bras�o destaca-se a serpente que prende um homem na garganta.24. Concionator gallus (O pregador franc�s). Inoc�ncio V (1276) foi um dos mais persuasivos pregadores transalpinos.25. B�nus comes (O conde bom). Adriano V (1276) chamava-se Ottobono, dos condes Fieschi.26. Piscator tuscus (O pescador tosco). Jo�o XXI (1276-1277) tinha por nome de batismo Pedro, como o ap�stolo pescador, foi bispo de T�sculo e morreu na T�scia, emViterbo.27. Rara composita (A rosa composta). Nicolau III (1277-1280) foi cognominado Compositus pelos seus esfor�os em compor cada disputa religiosa. Leva por isso em grande conta a necessidade de ditar regras certas �s ordens religiosas e criou uma c�lebre bula, para impor a pobreza aos franciscanos.

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Tinha tamb�m uma rosa no bras�o.28. Ex telonio liliacei Martini (Do banco do lili�ceo Martinho). Martinho IV (1281-1285) foi por muitos anos o tesoureiro de San Martin de Tours, cidade dominada pela dinastia francesa dos Capetos, assinalada heraldicamente por l�rios (liliacea). Aparece estranhamente na ep�grafe, al�m do nome da localidade, aquele que assumir� como pont�fice.29. Ex rosa leonina (Da rosa leonina). Hon�rio IV (1285-1287) tinha no bras�o de fam�lia dois le�es levando rosas.30. Picus inter escas (O pica-pau entre os chamados). Nicolau IV (1288-1292) provinha de Ascoli Piceno. Diz-se que seus primeiros habitantes tinham tomado o nome de um pica-pau (picus) que aparece nos seus bras�es.31. Ex eremo celsus (Elevado do ermo). Celestino V (1294) foi elevado ao

trono pontifical da sua condi��o de eremita, � qual por outro lado quis retornar depois de ter expresso aquilo que Dante chama de "grande ren�ncia".32. Ex undarum benedictione (Da ben��o das ondas). Bonif�cio VIII (1294-1303) chamava-se Benedito e tinha no bras�o faixas azuis onduladas.33. Concionatur patareus (O pregador de Patara). Benedito XI (1303-1304)

pertencia � ordem dos frades pregadores e tinha como santo padroeiro Nicolau, nascido em Patara, na L�cia.34. De fasciis aquitanicis (Das faixas de Aquit�nia). Clemente V (1305-1314) era natural da Gasconha, na Aquit�nia, e tinha no bras�o vistosas faixas douradas.35. De sutore osseo (Do sapateiro de ossos). Jo�o XXII (1316-1334) era

filho de um sapateiro, que se chamava Deuse (ou d�Euse).36. Corvus schismaticus (O corvo cism�tico). Nicolau V, antipapa (1328-1330), era natural de Corvara, perto de Rieti. A alus�o � refor�ada pela refer�ncia ao cisma que o papa promoveu.37. Frigidus abbas (O frio abade). Benedito XII (1334-1342) foi abade do mosteiro de Fontanafredda (Font-froid) na diocese de Narbona.

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38. Ex rosa atrebatensi (Da rosa de Arras). Clemente VI (1342-1352) foi bispo de Arras, chamada pelos antigos celtas de Atrebati. Tinho o bras�o

salpicado de rosas.39. De montibus Pammachii (Dos montes de Pammachio). Inoc�ncio VI

(1352-1362) teve o t�tulo cardinal�cio de Pammachio. No seu bras�o destacavam-se seis montes.40. Gallus vicecomes (O visconde franc�s). UrbanoV (1362-1370) tinha o t�tulo de visconde e era franc�s de nascimento. Foi tamb�m n�ncio apost�lico junto aos Visconti de Mil�o.41. Novus de virgine forti (Novo da virgem forte). Greg�rio XI (1370-1378) cumpriu um ato de renova��o � �poca transferindo o papado de Avinh�o para Roma por incita��o de Catarina de Siena, uma virgem forte, que o havia severamente advertido a comportar-se como homem forte ("Sede viril, Santidade"). E de se destacar tamb�m que antes de ser papa foi cardeal de Santa Maria la Nova, em N�poles, mas � uma motiva��o menor em rela��o � primeira.42. De cruce apost�lica (A cruz apost�lica). Clemente VII, antipapa (1378-1394), tinha uma cruz no pr�prio bras�o e foi cardeal do t�tulo dos Doze Ap�stolos. Mas cruz apost�lica pode ser entendida tamb�m como sofrimento da Igreja pelo cisma por ele provocado.43. De inferno praegnanti (Do inferno � mulher gr�vida). Urbano VI (1378-1389) pertencia � fam�lia dos Pregnani, cujo nome remete ao termo latino de gravidez, e havia nascido em uma localidade chamada Inferno, em N�poles.44. Cubus de mixtione (Cubo da miscel�nea). Bonif�cio IX (1389-1404) tinha muitos cubos sobre o bras�o, que davam a impress�o vis�vel de se misturarem, sobrepondo-se uns aos outros. Al�m da interpreta��o her�ldica, pode-se extrair uma explica��o simb�lica da pedra (o cubus)

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sobre a qual apoiava-se o edif�cio da Igreja, composto por um conjunto (mixtione) e elementos diversos.45. Luna cosmedina (Lua de Cosmedin). Benedito XIII, antipapa (1394-1423), chamava-se Pedro de Luna e foi cardeal de Santa Maria em Cosmedin.46. De meliore sidere (A melhor estrela). Inoc�ncio VII (1404-1406) pertencia � fam�lia Migliorati e tinha por emblema her�ldico uma estrela luminosa.47. Naula de Ponte Nigro (Navegante de Ponte Negra). Greg�rio XII (1406-1415) foi cardeal de Negroponte. O atributo de navegante (nauta) refere-se � sua origem veneziana. Malaquias o usar� tamb�m para Jo�o XXIII, enquanto patriarca de Veneza.48. Flagellum solis (O flagelo do sol). Alexandre V, antipapa (1409-1410),

exasperou o cisma, agravando aquilo que era considerado pela Igreja um flagelo. Tinha um sol sobre o bras�o.49. Cervus sirenae (O cervo da sereia). Jo�o XXIII, antipapa (1410-1415), provinha de N�poles, cidade simbolizada na Antig�idade pela sereia Partenope. Foi depois cardeal de santo Eust�quio, que tinha por emblema

um cervo.50. Columna veli aurei (A coluna do velocino de ouro), Martinho V (1417-1431), da fam�lia Colonna, foi cardeal de San Giorgio del Velo d�oro.51. Schisma barcinonicum (O cisma de Barcelona). ClementeVIII, antipapa

(1424), provinha de Barcelona, onde tinha amadurecido a sua decis�o cism�tica.52. Lupa coelestina (A loba celestina). Eug�nio IV (1431-1447) foi can�nico dos celestinos e tinha uma loba no bras�o.53. Amator crucis (Amante da cruz). F�lix V, isto �, Amedeo de Sav�ia, antipapa (1440-1449), ligou-se � f� por uma paix�o atormentada e contradit�ria. Tinha sobre o bras�o a cruz de sua linhagem.54. De modicitate lunae (A mod�stia da lua). Nicolau V (1447-1455) teve nascimento humilde em Sarzana, que tem por sua vez origem da romana Lua.55. Bos pascens (O boi no pasto). Calixto III (1455-1458) ostentava sobre as pr�prias ins�gnias um boi no pasto, tradicional emblema dos Borgia.

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56. De capra et albergo (Da cabra e do albergue). Pio II (1458-1464) foi secret�rio das fam�lias Capranica e Albergati.57. De cervo et leone (O cervo e o le�o). Paulo II (1464-1471) foi bispo de Cervia e cardeal de S�o Marcos, o evangelista do le�o alado. O le�o

remete tamb�m ao seu bras�o gent�lico.58. Piscator minorita (O pescador menorita). Sisto IV (1471 -1484) era filho de pescadores lig�rios e frade menor.59. Praecursor Siciliae (O precursor da Sic�lia). Inoc�ncio VIII (1484-

1492) tinha o nome de Jo�o Batista, precursor de Cristo, e foi n�ncio apost�lico na corte de Fernando I de Castela, rei da Sic�lia.60. Bos Albanus in porto (O boi albano no porto). Alexandre VI (1492-1503) traz sobre o trono de Pedro o tradicional boi her�ldico dos Borgia. Mas a ep�grafe de Malaquias fornece desta vez duas indica��es a mais, em rela��o a Calixto III, evocando os per�odos episcopais no Porto, em

Portugal, e depois em Albano, perto de Roma.61. De parvo homine (O pequeno homem). Pio III (1503) era um Piccolomini.62. Fructus Iovis iuvabit (O fruto de J�piter amadurecer�). J�lio II (1503-1513) era fruto da dinastia do carvalho (della Rovere), �rvore sagrada para J�piter, retratada tamb�m no seu bras�o. Teve virtudes pol�ticas e

militares que serviram (deram frutos) �s fortunas da Igreja. Mas a digress�o mitol�gica pode tamb�m querer aludir a sua paix�o pela arte cl�ssica.63. De graticula politiana (Da grade poliziana). Le�o X (1513-1521) era

filho de Louren�o de M�dici e disc�pulo do Poliziano. A grade recorda justamente o mart�rio do santo de batismo paterno.64. Leo Florentius (O le�o Florent). Adriano VI (1522-1523), de origem

holandesa, se chamava Florent. Tinha no bras�o um le�o flamengo.65. Flos pilae aegrae (A flor da coluna fr�gil). Clemente VII (1523-1524)

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tinha por emblema a flor med�ceo. A coluna fr�gil � provavelmente a Igreja vacilante sob o seu pontificado por causa do cisma na Inglaterra, provocado por sua oposi��o ao div�rcio de Henrique VIII.66. Hyacinthus medicorum (O jacinto dos M�dici). Paulo III (1534-1549), da fam�lia Farnese, cujo bras�o era adornado por seis jacintos, sucedeu a um papa dos M�dici, ap�s t�-lo servido com muita fidelidade. Mas a ep�grafe poderia tamb�m referir-se ao t�tulo cardinal�cio dos santos Cosme e Dami�o, doutores em medicina, e que lhe foi conferido antes de assumir o trono.67. De corona montana (Da coroa os montes). J�lio III (1550-1555) chamava-se Giovanni Maria del Monte, era nascido em Monte San Savino e tinha tr�s montes coroados de louros no bras�o.68. Frumentum floccidum (Frumento est�ril). Marcelo II (1555) foi papa

por 23 dias, muito pouco para deixar vest�gios. Por isso o frumento do seu bras�o � fl�cido, est�ril.69. De fide Petri (Pedro e sua f�). Paulo IV (1555-1559), que se chamava

Pedro, foi um zeloso promotor do Tribunal da F�, instituindo entre outras

coisas o Index dos livros proibidos.70. Aesculapii pharmacum (A medicina de Escul�pio). Pio IV (1559-1565) havia estudado medicina, mas a refer�ncia a Escul�pio pode tamb�m remeter indiretamente a sua estirpe, que era a dos M�dici.71. Angelus nemorosus (O anjo do bosque). Pio V (1566-1572) tinha nome

de anjo, Miguel, e nascera em Bosco, perto de Alessandria.72. Medium corpus pilarum (O corpo partido entre as esferas). Greg�rio

XIII (1572-1585) dirigiu a Igreja nos anos da reforma copernicana, que na pr�tica revolucionou a rela��o do homem com as esferas celestes. Tinha, al�m disso, sobre o seu bras�o um drag�o de corpo partido ao meio,

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circundado por bolas.73. Axis in medietate signi (O eixo na metade do signo). Sisto V (1585-1590) tinha por emblema um le�o, signo tamb�m zodiacal, dividido ao

meio por um eixo.74. De rore coeli (O orvalho do c�u). Urbano VII (1590) teve o pontificado mais breve da hist�ria: treze dias. O orvalho indica talvez o espa�o de uma manh�. Poderia, por�m, referir-se a uma lenda de Rossano Calabro, onde foi bispo e onde se acreditava que certas noites ca�sse do c�u o man�, expandindo-se sobre a relva �mida e leve como orvalho.75. De antiquitate urbis (Da antiga cidade). Greg�rio XIV (1590-1591) procedia da antiga cidade de Cremona, fundada em 218 a.C. como posto avan�ado romano, mas n�o basta para dar um sentido completo � senten�a, que poderia referir-se � interven��o nas guerras religiosas na Fran�a por parte do novo pont�fice, o qual excomungou Henrique IV e enviou (de Roma, a antiga cidade) uma tropa de mercen�rios. Muitos interpretaram a excomunh�o como intromiss�o da antiga cidade da Igreja. � significativo de qualquer modo, de um ponto de vista hist�rico, que as profecias de Malaquias tenham sido notadas pela primeira vez durante o conclave que elegeu este papa, com a inten��o de usar o progn�stico a favor do cardeal Girolamo Simoncelli, proveniente de Orvieto. Tentou-se de fato manipular sobre a etimologia de tal localidade, que em latim seria urbs vetus, isto �,

cidade antiga, para dar aval � candidatura. Mas foi eleito o cardeal Nicolau Sfrondati de Cremona, cuja ep�grafe teve de adaptar-se com relativa dificuldade.76. Pia civitas in bello (A pia cidade em guerra). Inoc�ncio IX (1591) censurou de maneira sens�vel o peso das guerras religiosas na Fran�a, nas quais o papado foi envolvido por seu predecessor. Por pia cidade n�o se deve interpretar necessariamente Roma. Poderia tratar-se de Paris, dilacerada por carnificinas entre cat�licos e huguenotes.77. Crux romulea (A cruz rom�lea). Clemente VIII (1592-1605) pertencia

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� fam�lia Aldobrandini, que se gabava de descender dos primeiros crist�os. Havia por isso sobre o bras�o uma cruz romana, ou seja, rom�lea.78. Undosus vir (O homem similar � onda). Le�o XI (1605) passou pela hist�ria da Igreja como uma onda. Seu pontificado durou 25 dias.79. Gens perversa (Ra�a perversa). Paulo V (1605-1621) teve de lidar com eventos de particular crueldade humana, como o eclodir da guerra dos Trinta Anos. Deu, al�m disso, grande impulso �s miss�es na �frica, na �sia e nas Am�ricas, junto a povos considerados perversos. Mas foi ele

pr�prio acusado de grande maldade, entre outras coisas fazendo condenar

� morte o autor de um libelo, nem sequer publicado, que o comparava em ferocidade a Tib�rio.80. In tribulatione pacis (No empenho da paz). Greg�rio XV (1621-1623) foi mediador de paz, mas tamb�m se deixou envolver em guerras sangrentas, como a dos Trinta Anos. Pesado foi o tributo religioso em cima dos conflitos da �poca: a assinatura de um tratado com o imp�rio

otomano, em 1621, teve por conseq��ncia a feroz guerra empreendida

pela Pol�nia contra os hereges.81. Lilium et rosa (O l�rio e a rosa ). Urbano VIII (1623-1644) provinha de Floren�a, cidade do l�rio. Instruiu o processo pela beatifica��o de Rita de C�ssia, uma das santas mais populares da cristandade, que tem por emblema a rosa. Mas a senten�a poderia tamb�m referir-se � guerra que eclodiu durante o seu pontificado entre Fran�a (o l�rio) e Inglaterra (a rosa),82. Iucunditas crucis (A alegria da cruz). Inoc�ncio X (1644-1655) foi eleito papa em 14 de setembro, dia da exalta��o da cruz.83. Montium custos (O zelador dos montes). Alexandre VII (1655-1667) tinha no bras�o colinas sobrepostas por uma estrela. Criou em Roma os Montes da Piedade, institui��o destinada a conservar um grande valor

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econ�mico e social.84. Sidus olorum (O astro dos cisnes). Clemente IX (1667-1669) foi eleito papa na Sala dos Cisnes. Teve grande considera��o por poetas e artistas.85. De flumine magno (Do grande rio). Clemente X (1670-1676) se torna papa em um dia de cheia do Tibre. Mas conta-se ainda que, ao seu nascimento, o rio transbordou e as �guas invadiram o quarto onde se encontrava o ber�o, que flutuou.86. Bellua insatiabilis (Fera insaci�vel). Inoc�ncio XI (1676-1689) foi

chamado ironicamente de insaci�vel porque n�o podia ficar um instante sem Cibo, aludindo � intimidade com o cardeal de tal nome [que significa alimento], o qual visitava assiduamentc. A fera era o leopardo sobre o bras�o da fam�lia.87. Poenitentia gloriosa (Penit�ncia gloriosa). Alexandre VIII (1689-1691) foi eleito papa no dia de s�o Brunone, grande penitente da Igreja. Mas, em se tratando de uma penit�ncia gloriosa, � prov�vel que a ep�grafe se refira ao arrependimento de Lu�s XIV no leito de morte pelos vexames em rela��o � Igreja na Fran�a.88. Rastrum in porta (O rastelo na porta). Inoc�ncio XII (1691-1700) era

da fam�lia Pignatelli Del Rastello, cujo pal�cio gent�lico esteve algum tempo �s portas de N�poles. Pode-se dar um sentido pol�tico � ep�grafe, remetendo-a �s perdas territoriais do imp�rio otomano, chamado a Porta, em seguida �s vit�rias russas.89. Flores circumdati (As flores circundadas). Clemente XI (1700-1721) mandou cunhar depois de eleito uma medalha na qual o seu bras�o aparecia circundado por flores, com a legenda em latim "Flores circumdati".90. De bona religione (A boa religi�o). Inoc�ncio XIII (1721-1724) distinguiu-se na tentativa de fazer com que o povo discernisse entre a boa religi�o e o jansenismo.91. Miles in bello (Soldado em guerra). Benedito XIII (1724-1730) tentou impor em Roma uma r�gida austeridade, punindo com o c�rcere os

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prelados que usavam barba ou peruca, proibindo a loteria e mandando a Inquisi��o perseguir as prostitutas. Sua miss�o se transformou, portanto, em uma verdadeira guerra moral, confundindo os assuntos do Estado e da alma � maneira dos integristas isl�micos. Mas isso, ao que tudo indica, n�o � suficiente para explicar a ep�grafe de Malaquias.92. Columna excelsa (A coluna excelsa). Clemente XII (1730-1740) era um Colonna, deu grande impulso �s obras p�blicas e mandou erigir a colunata de S�o Jo�o em Latr�o.93. Animal rurale (Animal de campo). Benedito XIV (1740-1758), o genial papa Lambertini, foi comparado por seus dons intelectuais ao boi de santo Tom�s de Aquino, doutor da Igreja.94. Rosa Umbriae (Rosa da �mbria). Clemente XIII (1758-1769) foi governador da prov�ncia �mbrica de Rieti. Foi comparado por seu car�ter doce a uma rosa. Morreu obcecado por ter de tomar uma decis�o sobre a supress�o, imposta por fortes press�es externas, da ordem dos jesu�tas.95. Ursus velox (O urso veloz). Clemente XIV (1769-1774) absolveu sem delongas a Companhia de Jesus. A ep�grafe poderia aludir � precipita��o freq�entemente irracional das suas decis�es, mas tamb�m, mais gloriosamente, �s velozes vit�rias reportadas do urso russo sobre os turcos otomanos durante o seu pontificado.96. Peregrinus apostolicus (Peregrino apost�lico). Pio VI (1775-1799) foi arrastado em dolorosa peregrina��o pelos franceses que o fizeram prisioneiro: em Floren�a, Siena, Bolonha, Parma, Turim e por fim na Fran�a, onde morreu.97. Aquila rapax (A �guia rapace). Pio VII (1800-1823) foi feito, tamb�m ele, prisioneiro pela rapace �guia napole�nica, que na pr�tica privou o papado do poder temporal.98. Canis et coluber (O c�o e a serpente). Le�o XII (1823-1829) foi julgado fiel como um c�o (aos interesses da Igreja) e insidioso como uma

serpente (em rela��o aos seus inimigos). O c�o poderia tamb�m indicar a vigil�ncia imposta pelo seu regime policialesco contra a serpente

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carbon�ria, que tramou implacavelmente contra ele.99. Vir religiosus (Homem religioso). Pio VIII (1829-1830) se distingue pelo seu generoso e incondicional esp�rito de piedade, expresso tamb�m pela sua toler�ncia em rela��o aos carbon�rios.100. De balneis Etruriae (Dos banhos da Etr�ria). Greg�rio XVI (1831-1846) provinha dos cam�ldulos de Balneis na Toscana (Etr�ria), cujo mosteiro ficava pr�ximo das fbntts hidrominerais de Moggiona.101. Crux de cruce (Cruz da cruz). Pio IX (1846-1878) viu a cruz dos Sav�ia sobrepor-se � da Igreja. Foi esta, em sentido espiritual, a sua cruz: toda uma sucess�o de adversidades geradas pela cruz da qual era obrigado, como pont�fice, a defender a independ�ncia.102. Lumen de coelo (Lume do c�u). Le�o XII (1878-1903) tinha por emblema um cometa que atravessa o c�u. Mas tamb�m em sentido metaf�rico, o seu pontificado foi iluminante pela coragem das quest�es sociais das quais se fez promotor, lan�ando entre outras coisas um firme an�tema contra a explora��o do trabalho, inclu�do, como o homic�dio, entre os pecados que "gritam vingan�a em presen�a de Deus".103. Ignis ardens (Fogo ardente). Pio X (1903-1914), o popular papa Alfaiate foi animado por uma religiosidade que se pode, sem ret�rica, comparar a um fogo ardente. Conservou a humildade e os h�bitos do p�roco rural que foi, n�o quis t�tulos para os pr�prios parentes, deixou que o irm�o continuasse como modesto empregado nos correios. Indiferente �s cr�ticas modernistas, colocou um fervor especial na salvaguarda dos antigos valores contra certas manifesta��es difusas de intoler�ncia leiga. Ao fogo da santidade se sobrep�s, quando morreu, aquele tr�gico da guerra mundial.104. Religio depopulata (A religi�o despovoada). Benedito XV (1914-1922) viu a sociedade do seu tempo despovoada pela mais terr�vel guerra jamais travada at� ent�o.105. Fides intrepida (F� intr�pida). Pio XI (1922-1939) resistiu

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intrepidamente aos regimes totalit�rios, lan�ando an�temas contra o

nazismo e o comunismo. Imp�s ao fascismo uma concordata com plena vantagem da Igreja.106. Pastor angelicus (Pastor ang�lico). Pio XII (1939-1958) foi o pastor que angelicamente partilhou os sofrimentos do seu rebanho na tempestade da Segunda Guerra Mundial. A interpreta��o parece gen�rica e amortecida. Adquire, por�m, maior consist�ncia se remetida �s persegui��es sofridas pelo clero nos pa�ses comunistas (tamb�m no n�vel da alta hierarquia, como no caso do cardeal Mindszenty). Sob este aspecto, a profecia encontra respaldo naquela de F�tima, que prenuncia uma hecatombe pela qual o "O Santo Padre ter� muito a sofrer". Tamb�m de "reino humano do Ang�lico genitor fala Nostradamus (na X Cent�ria, quadra 42), aludindo deste modo a um papa que procura salvaguardar uni�o e paz no furor de uma guerra eclodida na metade do seu pontificado ("no meio da sua clausura"), como se deu efetivamente para Pio XII.107. Pastor et nauta (Pastor e navegante). Jo�o XXIII (1958-1963) foi patriarca de Veneza e teve como seu pr�prio emblema um barco com a vela enfunada. Inaugurou o h�bito das longas viagens pastorais.108. Flos florum (Flor das flores). Paulo VI (1963-1978) tinha flores-de-lis no seu bras�o gent�lico. A senten�a inclui-se entre aquelas de cita��o her�ldica, as mais recorrentes no or�culo de Malaquias, mas pode tamb�m referir-se � extrema gentileza de esp�rito do papa Montini.109. De medietate lunae (A metade de uma lua). Jo�o Paulo I (1978) foi pont�fice por 33 dias. Morreu na metade do m�s lunar.110. De labore solis (A fadiga do sol). Jo�o Paulo II, pont�fice desde 1978, � assinalado por uma ep�grafe que, interpretada literalmente, poderia referir-se � busca por fontes alternativas de energia, t�pica de nosso tempo, da qual s�o emblematicamente representativos os resultados obtidos em mat�ria de energia solar. Mas o termo trabalho, na acep��o latina, significa tamb�m empenho ou sofrimento. Pode-se, portanto, entender a

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profecia como destaque do mal-estar geral que aflige a humanidade, com particular respeito �quelas pragas planet�rias � fome, tens�es, viola��es dos mais elementares direitos humanos � que est�o hoje � luz do sol, tamb�m pela extens�o capilar da grande comunica��o. H� enfim que se levar em conta a grande fadiga deste papa itinerante, sempre em viagem pelo mundo apesar da idade e das seq�elas de um ferimento doloroso, que pode fornecer posteriores chaves de leitura para uma compreens�o profunda da imagem proposta.111. De gloria olivae (A gl�ria da oliveira). A ep�grafe pareceria preconizar um momento de paz, mas tamb�m � como freq�entemente acontece nas senten�as de Malaquias � a ascens�o de uma pessoa ligada de algum modo, por quest�es her�ldicas ou de outra natureza, ao s�mbolo da oliveira. Poderia em tal sentido ser interpretado como o advento definitivo na cidade de Roma � cujos destinos est�o exorcisticamente ligados, como se disse, �queles do papado � de uma for�a que se exprime no s�mbolo da oliveira. Poderia com mais verossimilhan�a referir se a

Jerusal�m, preconizando o �xito feliz do processo de paz entre palestinos e israelenses. Poderia tamb�m significar uma evolu��o decisiva do ecumenismo crist�o. Lida, por�m, superficialmente, pelo valor pac�fico da imagem sobre a qual se baseia, a profecia poderia ser considerada auspiciosa. Parece, por�m, sinistra a continua��o, que reprop�e tradicionais cen�rios apocal�pticos. A gl�ria da oliveira seria, portanto, ef�mera, caso se leve em conta aquilo que o or�culo prev� para os anos imediatamente subseq�entes. 112. Petrus romanus. Ao contr�rio das outras senten�as, esta, que diz respeito ao �ltimo papa, faz-se acompanhar de uma nota explicativa. Nela se l� que o segundo Pedro reinar� no momento de "extrema persegui��o

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da Santa Igreja Romana", pastoreando suas ovelhas "entre muitas tribula��es, ao fim das quais a cidade das sete colinas ser� desrru�da e o Juiz tremendo julgar� o seu povo". Tudo isto deveria acontecer por volta

de 2000. Tem-se a impress�o de que a ep�grafe deseja contradistinguir, mais que uma pessoa f�sica, uma situa��o hist�rica.O "Lenho da vida"H� boas raz�es para se considerar ap�crifas as profecias de Malaquias. E tal � o parecer da Igreja, sustentado pelas argumenta��es dos padres

bolandistas, assim chamados pelo nome do jesu�ta belga Jean Bolland, fundador em 1643 de uma nova historiografia eclesi�stica, tendente a enquadrar as vidas dos santos e qualquer outro argumento de interesse hagiogr�fico em uma �tica cient�fica.Em primeiro lugar, parece suspeito o fato de que se tenha come�ado a falar disso apenas em 1590 (a 442 anos da morte do pretenso autor) e no decorrer de um conclave, com a evidente finalidade de influenciar o �xito.Essas perplexidades n�o s�o reduzidas pela publica��o, em 1595, de uma obra dedicada a Filipe II da Espanha intitulada Lignum Vitae, ornamentam et decus Ecclesiae (O lenho da vida, ornamento e decoro da Igreja). Organizada por um monge beneditino de origem flamenga, um tal Arnold de Wion, nascido cm Douai, a obra transcreveu as senten�as sem

fornecer indica��es adequadas sobre como ele estaria de posse delas.O t�tulo do volume tem um forte valor esot�rico, al�m de religioso, uma vez que o Lenho da vida na simbologia crist� indica a cruz, por�m em sentido mais herm�tico pode ser entendido como Bosque da exist�ncia. Em tal moldura o autor insere, sem raz�o aparente, junto �s vidas dos beneditinos ilustres, aquele que chama "uma certa profecia sobre os sumos pont�fices", asseverando ter decidido divulg�-la "porque � curta, jamais foi publicada c muitos desejam conhec�-la".� certamente estranho, como salientaram os bollandistas, que o or�culo n�o mencionasse nenhum contempor�neo de Malaquias, que, no entanto

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, gozava de not�vel fama na cristandade enquanto primaz da Irlanda. Mas � absolutamente desconcertante que n�o fale tampouco de Bernardo de Claraval, em cujos bra�os morreu o vidente, seu confrade na ordem cisterciense. Ainda mais que Bernardo escreveu uma apaixonada biografia de Malaquias, reportando outras profecias dele, que por certo tiveram o seu peso na causa de canoniza��o, indicada em 1190 por Clemente III, o papa apontado como aquele que "sai da escola".Um outro argumento adotado pelos bollandistas contra a originalidade do texto � a confus�o que o autor faz entre papas e antipapas, sem sombra de distin��o. Mas se poderia refutar esta abordagem dizendo que foi tanta a confus�o sobre dilacera��es cism�ticas na Igreja, a ponto de induzir a erro os seus mais devotos servidores. Assim como se poderia perguntar se as profecias n�o teriam sido mantidas em segredo por seus deposit�rios, na ordem cisterciense ou nas hierarquias pontificais, a fim de evitar que interferissem na livre elei��o dos papas; pelo menos at� quando, para ter sido anotado por Wion, essa exig�ncia cesasse.Definitivamente, as opini�es expressas atrav�s dos s�culos sobre as profecias de Malaquias foram m�ltiplas c discordantes. Entre os primeiros a negar-lhes autenticidade, depois da divulga��o por parte de Wion, foi o sacerdote Fran�ois Carri�re com sua Hist�ria cronol�gica dos pont�fices romanos e precogni��es daqueles futuros segundo s�o Malaquias (Lugduni, 1602). Opuseram-se a ele Gabriele Buccellino, com uma ampla compila��o no seu N�cleo hist�rico universal (Ulm, 1659), e Pietro Graffio com uma poderosa Disputa hist�rica sobre a sucess�o dos pont�fices romanos (Marburgo, 1677). Em 1689, a menos de um s�culo da publica��o do Lignum de Wion, havia pelo menos dez edi��es diferentes do or�culo, contra o qual se lan�aram com particular fervor, a este ponto,

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os bollandistas, defensores da verdade fundamentada sobre bases racionais e certezas comprov�veis. Destacou-se como porta-voz desta pol�mica o jesu�ta Claude-Fran�ois Menestrier, com um tratado denominado Filosofia das imagens enigm�ticas (Lyon, 1694), no qual refuta extravag�ncias, anacronismos e falsidades divulgadas pelas pretensas predi��es de s�o Malaquias, baseadas na maior parte em nomes supostos e em bras�es quase totalmente desconhecidos � �poca.S�o estes os pressupostos dial�ticos de uma disputa que, nem mesmo o lluminismo conseguiu sufocar e que dura at� hoje, contrapondo as �nsias escatol�gicas de todos aqueles que atribuem �s discutidas predi��es de Malaquias uma credibilidade apocal�ptica � no sentido vocabular de revela��o nada mais que press�gio funesto � e daqueles que em vez disso as colocam entre as curiosidades divinat�rias de fim de mil�nio. Talvez n�o existam pontos de encontro entre as duas posi��es. Uns excluem que a Provid�ncia possa dar raz�o � "burla de um cardeal humanista e literato que tinha tempo para matar durante um conclave". Os outros respondem citando o ap�stolo Paulo: "N�o apagueis o esp�rito, n�o desprezeis as profecias."''

16Apocal�pticos aureolados

As Profecias Medievais gravitam na sua grande maioria em torno do fim do mundo; e a Igreja, por mais desconfiada ou absolutamente contr�ria em certos casos ao abuso do milenarismo, deveria em geral tolerar esta difusa tend�ncia dos pregadores � e dos videntes, santos ou charlat�es � em

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revolver os medos humanos mais ancestrais.A doutrina, de resto, n�o era preventivamente contr�ria � afirma��o de um esp�rito prof�tico que canalizasse terrores e esperan�as voltadas para perspectivas contempladas das Escrituras, a fim de que isso n�o degenerasse em histeria niilista e abuso letal de expia��o. Era desta opini�o o maior te�logo da ortodoxia, Tom�s de Aquino, que na Summa reconhecia � profecia possibilidade de inspira��o divina, enquanto disposi��o do esp�rito � portanto proveniente do Criador � que podia licitamente investir tanto quest�es religiosas quanto pol�ticas, com o fim de orientar as a��es humanas (ad directionem humanorum actuum).N�o houve, portanto, limita��es � divulga��o de or�culos e predi��es apocal�pticas por um grande lapso de tempo depois do ano 1000, uma vez que a primeira proibi��o formal de preconizar o fim do mundo se deu somente em 1516, por iniciativa do quinto concilio de Latr�o. Tentou-se assim conter o uso sem crit�rio e com freq��ncia intimidat�rio das profecias por parte de pregadores �s vezes improvisados, mas n�o se pode dizer que o edito do conc�lio produzisse efeitos decisivos, como, por exemplo, inculcar na alma popular o difuso sentimento da espera escatol�gica. N�o � motivo de espanto, portanto, o cr�dito adquirido junto a vast�ssimas multid�es de devotos pelas profecias de certas altas personalidades do Ocidente crist�o, assinalado naqueles s�culos por um crescendo de fervores m�sticos, �xtase e vis�es.

Francisco de Assis e o �poder dos dem�niosForam atribu�das a Francisco de Assis profecias relativas a "tempos repletos de grandes tribula��es e afli��es, nos quais [...] a caridade de muitos esfriar� e se instalar� a iniq�idade dos perversos". Em tais tempos, "o poder dos dem�nios ser� deixado mais livre que de h�bito", l�-se mais

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adiante no texto, que faz parte dos Escritos latinos do santo, e "a pureza imaculada tanto da nossa ordem quanto de outras ser� abalada".Parece evidente a refer�ncia � contamina��o her�tica que envolver� certas ordens mon�sticas, n�o apenas franciscanas, por causa de seus excessos mendicantes e de outras dissen��es em rela��o a Roma. Por�m, o mais importante � que Francisco previa com mais de um s�culo de anteced�ncia o grande cisma do Ocidente:Pouqu�ssimos crist�os de cora��o aut�ntico e de caridade perfeita obedecer�o ao sumo pont�fice e � Igreja romana. Um aspirante ao papado, sem ser canonicamente eleito, naquela tribula��o utilizar� qualquer ast�cia para insinuar em muitos a corrup��o do seu cora��o.V�o se multiplicar ent�o os esc�ndalos, nossa religi�o ser� dividida, e in�meras subdivis�es posteriores se suceder�o entre todos que n�o resistirem ao erro, ou que nele tenham consentido. Haver� tais e tantas opini�es e cismas no povo, nos religiosos e no clero, que se aqueles dias n�o forem abreviados segundo a promessa evang�lica e se n�o forem sustentados pela miseric�rdia de Deus, tamb�m os eleitos ser�o envolvidos pelo erro.A virtude, naqueles dias, ser� coberta pelo sil�ncio dos pregadores, oprimida, negada. A santidade da vida ser� ludibriada.Tal como outras revela��es apocal�pticas, a profecia de Francisco distingue entre "aqueles que perderam o entusiasmo pela religi�o, que n�o resistiram constantemente �s tenta��es previstas como prova para os

eleitos", e aqueles que, em vez disso, "por amor e zelo da verdade se dedicaram � piedade, suportando persegui��es e inj�rias". A estes �ltimos s� "aparecer� um ref�gio em Deus, que os salvar�, porque confiaram Nele".

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Francisco de Paula, profeta da ��ltima religi�o"Tamb�m gozou de grande fama como profeta Francisco de Paula, o santo

taumaturgo formado na solid�o da vida eremita em um selvagem barranco calabr�s, onde em competi��o de humildade com o seu grande hom�nimo de Assis fundou a ordem dos frades "menores". Foram-lhe atribu�dos milagres espetaculares, como atravessar o estreito de Messina sobre o pr�prio manto, fato pelo qual � considerado o padroeiro dos marinheiros italianos. Pisou uma vez numa moeda de ouro da qual escorreu sangue, sob os olhos de Ferrante de Arag�o, rei de N�poles, para mostrar-lhe o

quanto eram in�quos os tributos que impunha a seus pr�prios s�ditos.N�o fazia mist�rio, n�o obstante o car�ter esquivo, de seus poderes divinat�rios, que tinham a inten��o de trazer luz ao futuro da Igreja. "Foi-me concedido o esp�rito da profecia", escrevia em 5 de fevereiro de 1482

ao nobre Simone de Limena, senhor de Spoleto, "e dizer com freq��ncia coisas maravilhosas que surgem a respeito da reforma da Santa Assembl�ia do Alt�ssimo."Profetizou o advento de uma era de regenera��o, na qual "n�o estar� mais no mundo nenhum senhor que n�o seja da ordem da santa mil�cia do Spiritu Sancto". A profecia n�o se refere ao surgimento de uma nova ordem de cavaleiros, como pretenderam alguns, induzidos evidentemente ao erro pelo fato de que nela � mencionada uma fraternidade de "cavaleiros armados, sacerdotes solit�rios e hospital�rios devot�ssimos", que eram as qualidades recorrentes nos guerreiros mon�sticos de uma �poca, como, por exemplo, os templ�rios. Retoma de prefer�ncia a mensagem do Apocalipse sobre o ju�zo final, no decorrer do qual se salva-r�o aqueles que s�o apontados pelo Senhor.Na profecia se l� de fato que os senhores desta mil�cia "trar�o o signo de Deus vivo no peito, por�m muito mais no cora��o". Tal signo, contud

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o, "s� ser� concedido �queles que h�o de ser salvos e eleitos". N�o resta d�vida, portanto, de que por este seu esclarecimento Francisco de Paula deva ser colocado entre os videntes apocal�pticos mais ligados � revela��o de Jo�o.A ordem � qual se refere, de fato, ser� "a grande fundadora de uma nova religi�o [a �ltima religi�o, como destaca mais adiante], que destruir� a seita maometana, extirpar� os hereges e todos os tiranos do mundo, pilhar� pela for�a das armas um grande reino e far� um curral de ovelhas e um s� pastor, e induzir� o mundo a um modo de viver santo e reinar� at� o fim dos s�culos". � este, claramente, o reino da promessa que torna salvadora a mensagem do Apocalipse de Jo�o e de seus ep�gonos. Claro � o aceno aos eleitos que para este reino afluir�o,clara � a refer�ncia a sua dura��o eterna, clar�ssimo � o an�ncio da convers�o Universal � �nica religi�o, ainda que cruelmente retratada sem qualquer miseric�rdia � como ali�s era praxe no estilo da �poca � pela "seita maometana" e por todos os hereges.

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S. FRANCISCO ORA PER NOI

S�O Francisco de Assis recebe os estigmas no alto do Verna, entalhe em madeira do s�culo XVII.

Junto a este vislumbre de paz, escreve Francisco em uma das suas cartas prof�ticas, o mundo inteiro "n�o ter� mais que doze reis, um imperador e um papa e pouqu�ssimos senhores, e estes ser�o todos santos". Expressa com tal simplicidade esta sua vis�o harm�nica da sociedade humana, regida por tantos governantes quanto foram os ap�stolos, submetidos com eq�idade aos supremos detentores de autoridade divina e temporal, o santo eleva um fervoroso agradecimento ao Senhor por ter-se dignado a dar-lhe "esp�rito prof�tico com grand�ssimas profecias, n�o obscuras como as de outros de seus servos".N�o h� d�vida na "suavidade de divino amor" que essas revela��es suscitar�o naqueles que "se deleitar�o a l�-las com freq��ncia e tirar c�pia com enorme fervor, que tal � a vontade do Alt�ssimo".Francisco de Paula profetizou com tr�s meses de anteced�ncia a pr�pria morte, retirando-se para esper�-la em uma cela onde ela o colheu em 2 de abril de 1507, aos 91 anos de idade, bicou insepulto por onze dias, emanando um delicado perfume de flores.

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Santa Br�gida e o or�culo das festas cruzadasDeve-se a santa Br�gida da Su�cia (Birgitte Persson, 1303-1373) uma profecia totalmente incomum, vinculada a exatas cad�ncias temporais. Sempre surtia efeitos no calend�rio se fossem verificadas determinadas condi��es. Eis o texto, elaborado em 1360 e encontrado em uma caixa de chumbo no cemit�rio beneditino de N�poles:"Quando a festa de s�o Marcos coincidir com a da P�scoa, a festa de santo Ant�nio com a de Pentecostes, a festa de s�o Jo�o Batista com o Corpus Christi, haver� dificuldades para todo o mundo."� indubit�vel que ocorreram dificuldades s�rias em 1791, quando a conjun��o se verificou, na plena subleva��o da ordem revolucion�ria na Fran�a, destinada a provocar conseq��ncias duradouras em toda a sociedade civil. A santa havia profetizado para aquele ano �a ira de Deus

sobre toda a terra�.As datas voltaram a coincidirem 1848, no decorrer de um dos per�odos mais tormentosos do s�culo, quando os movimentos ressurgimentais italianos abalaram antigos equil�brios, com resultados sangrentos. Vacilou tamb�m naquele ano o poder temporal dos papas, e Pio IX viu-se obrigado � fuga. Br�gida tinha previsto para aquela data a revolta de "povo contra povo".O �ltimo enredo funesto das seis festividades se deu em 1943, em meio � mais assustadora guerra de todos os tempos, envolvendo todos os povos da terra. Voltar�o a conjugar-se em 2038, ano, por�m, que vai al�m das profecias de santa Br�gida, pois prev�em o fim do mundo em 1999, quando "as luzes se extinguir�o".S�o recorrentes nos or�culos da vidente sueca, transcritos em latim por

seus confessores no livro das Revela��es, diversos eventos hist�ricos contradistinguidos tanto por valores religiosos quanto pol�ticos. Neste �mbito se colocam as previs�es, por ela expressas ao atravessar a Gr�cia

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em dire��o � Terra Santa, sobre o fim do imp�rio crist�o do Oriente e sobre a submiss�o das popula��es balc�nicas ao jugo otomano."O imp�rio, os reinos e as senhorias [dos gregos] jamais estar�o seguros nem em paz, mas submetidos a inimigos dos quais padecer�o danos horrendos e longas mis�rias."A tomada de Constantinopla por Maom� II, em 29 de maio de 1453, e a her�ica morte em batalha de Constantino IX, �ltimo imperador do Oriente, autenticaram a profecia, pouco mais de oitenta anos ap�s ter sido formulada.Destacam-se, al�m disso, entre as Revela��es surpreendentes acenos � Revolu��o Francesa, indicada como o movimento que expulsaria "o l�rio reinante" (emblema da monarquia dos Capetos) para hastear "o signo da impiedade" (a �rvore da liberdade). Refer�ncias mais espec�ficas permitem individualizar, no contexto de tais profecias, a figura de Napole�o, definido como "a �guia que recolher� a coroa perdida do l�rio"."Naquele tempo sair� da ilha [a C�rsega, evidentemente] um terr�vel filho do homem, que traz a guerra no seu valoroso bra�o, que � frente dos gauleses combater� it�licos, germanos, russos, ib�ricos e turcos, subvertendo cada coisa."� a epop�ia, segundo Br�gida, do "filho de um homem obscuro [de nascimento plebeu] vindo do mar". Ter� o m�rito de "portar o admir�vel signo na terra da promessa", far� com que os �rabes conhe�am a cruz, do Egito � S�ria, mas provocar� grande "tribula��o na Igreja de Deus", invadindo Roma e fazendo o papa ref�m de seus soldados (Pio VII, 1809)."Ai de n�s, quando o filho [do homem escuro] sentar-se no trono do l�rio."O interesse de tais profecias reside nas descobertas realizadas com s�culos de dist�ncia, mas deve-se dizer que Br�gida da Su�cia gozou de not�vel popularidade em vida por suas extraordin�rias vis�es, com freq��ncia

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destinadas a funcionar como advert�ncia e como conselho sobre o comportamento de papas, pr�ncipes e reinantes. Teve grande significado a mensagem com que induziu Greg�rio XI a romper a "escravid�o avinhonesa", regressando a Roma.O papa tergiversava contra as expectativas de toda a cristandade, e ent�o

Br�gida, agora � beira da morte, comunicou-lhe ter sabido numa vis�o da Madona que ele morreria se n�o levasse o papado de volta a Roma."Bem pouco poder� rejuvenesc�-lo a ci�ncia dos m�dicos, nem o ar puro da sua terra", dissera sobre ele a Virgem, segundo Br�gida, "se n�o se decidir a regressar."Impressionado, o papa apressou-se a seguir a ordem "da Madona", levando o trono de Pedro de volta a Roma em 1374, ap�s humilhantes sessenta anos de ex�lio na Fran�a. Br�gida partiu pouco depois, em sinal de santidade n�o s� pelas suas profecias, pelas vis�es recebidas em �xtase e outros fen�menos m�sticos que protagonizou, mas tamb�m pela intensa obra de caridade que desenvolveu no extremo norte da assolada Terra Santa, por suas peregrina��es apaixonadas e pela funda��o, enfim, da ordem do s�o Salvador, chamada "das brigidinas".Catarina, o cisma e o papa inibidoA profecia da santa sueca sobre o papa duvidoso se cruzou com a interven��o resoluta de uma outra mulher da cristandade, Catarina de Siena, como ela, decidida a retirar Greg�rio XI, �ltimo pont�fice franc�s, da sua vergonhosa passividade.N�o se sabe quantas mulheres, mesmo com fama de santidade, poderiam

tomar a liberdade de dizer ao papa: "S� viril, santidade, n�o temeroso." Catarina Benincasa o fez, interpretando com amorosa firmeza o mal-estar de toda a comunidade crist� pelas hesita��es de Pierre Roger de Beaufort, feito cardeal aos dezoito anos pelo tio Clemente VI e depois papa pelo partido avinhon�s, incapaz de esquivar-se �s press�es dos prelados da Fran�a, submissos por sua vez ao rei.

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Eram tempos mortificantes para os fi�is. Enquanto Greg�rio tergiversava em Avignon, os bispos em Londres se riam, dizendo que "se o papa � franc�s, Cristo � ingl�s". Emergiam assim, abertamente, os sinais da

crescente impaci�ncia pela centralidade da Igreja romana, desautorizada agora por uma situa��o mais compar�vel � escravid�o de Israel na Babil�nia.Decisiva foi nesta situa��o cr�tica a profecia de Br�g�da, decisiva foi a advert�ncia de Catarina, sensitiva dotada de uma marcada intui��o divinat�ria. Testemunha isso seu confessor Raimondo da C�pua: "Em Catarina habitava um esp�rito prof�tico t�o perfeito e cont�nuo, que nada lhe ficava escondido das coisas que lhe diziam respeito ou que pertenciam �queles que com ela conviviam, ou que a ela recorriam para a sa�de de

suas almas."Existem numerosas provas desse "esp�rito prof�tico", no quadro das previs�es por ela formuladas sobre o futuro da Igreja, que em sua enuncia��o pormenorizada v�o muito al�m do que um intuito comum, mesmo afinado por uma intensa pr�tica pol�tica, poderia sugerir.N�o vacilou ao prever que a corrup��o dos eclesi�sticos superaria a das cortes seculares, mas, sobretudo, ao delinear no seu alcance efetivo as repercuss�es do cisma sobre a f�.A um sacerdote que lhe perguntava por que o povo estava perdendo a f�,

respondeu: "Ver�s o quanto saber�o fazer de pior os eclesi�sticos t�o logo o papa queira expurgar os seus costumes escandalosos. Provocar�o um esc�ndalo em toda a Igreja de Deus, um cisma que, como peste her�tica, a dividir� e a far� passar tribula��es."Negou que aquela que estava para sobreviver pudesse ser considerada "uma verdadeira e pr�pria heresia", Preferiu defini-la como "uma esp�cie de heresia", uma vez que geraria �uma certa dissens�o na Igreja e em toda a cristandade".

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E previu tamb�m o resgate da Igreja, que descreveu com uma elegante alegoria: "A esposa que agora est� feia e malvestida ser� bel�ssima e adornada de pedras preciosas e coroada com o diadema de todas as virtudes."As "sete armas" de Catarina de BolonhaUma outra Catarina, tamb�m ela santificada pela Igreja, distingue-se alguns dec�nios mais tarde no uso da profecia como instrumento de influencia pol�tica e religiosa. Foi Catarina dei Vigri, uma freira clarissa muito popular em Bolonha na primeira metade do s�culo XV, que, tal como santa Br�gida, prev� a queda de Constantinopla e a morte do �ltimo imperador crist�o do Oriente.Not�vel foi o peso das profecias de Santa Catarina de Bolonha e de suas miraculosas interven��es � pelo que foi transmitido � nas ocorr�ncias da cidade. Profetizou em 1443, enquanto se encarni�ava o ass�dio posto em pr�tica pelo conde Luigi dal Verme de Mil�o, que as mil�cias deste �ltimo seriam repelidas pelos bolonheses comandados por Annibale Bentivoglio. O que efetivamente aconteceu na v�spera da Assun��o, data que s� aumentou o seu cr�dito divinat�rio, considerada a fama que tinha de poderosa mediadora de gra�as, al�m de vidente.A fam�lia Bentivoglio voltou a aparecer nos seus vatic�nios quando ela previu o fim dessa linhagem, o que, de fato, aconteceu depois de sua morte.Suas profecias est�o coletadas no livro das Revela��es, tal como o de santa Br�gida. Descreve acuradamente o seu itiner�rio m�stico e vision�rio, como Catarina de Siena, em uma esp�cie de confiss�o �ntima que chamou de Tratado das sete armas espirituais.S�ror Domenica e as "atrocidades" dos florentinosMuitas foram as sibilas aureoladas da cristandade medieval. Prevaleceu em todas, com raras exce��es, uma voca��o escatol�gica entremeada de refer�ncias ao Apocalipse de Jo�o e aos seus s�mbolos.Falam difusamente do Anticristo, figura central da confus�o catastr�fic

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a que precede o ju�zo final, Margherita de Cortona e Hildegunda de Col�nia.

Anjos e santos sobre Legendario impressos em Veneza em 1513, e conservados nos Uffizi.

J� Hildegarda de Bingen fala de monstros e cavaleiros celestes, de anjos e de vinte regeneradores. A monja florentina Domenica Del Paradiso, antes perseguida por suas vis�es e depois beatificada, fala da ira divina em termos que parecem antecipar as modernas mensagens marianas de F�tima e La Salette, com profus�o de apelos � reden��o dos maus. Ela se diferencia das outras pelo �mbito restrito ao qual se referem as suas mensagens, que, provindas do Cristo em vis�o, n�o abarcam a humanidade como um todo, mas sim o povo de Floren�a. A coisa � historicamente marcante, porque as predi��es de s�ror Domenica come�am por volta de 1517, projetando-se por toda a primeira metade do s�culo, portanto nos anos imediatamente subseq�entes ao an�tema lan�ado pelo Conc�lio de Latr�o contra os pregadores milenaristas. N�o se deve por isso excluir que a vidente tivesse desejado deste modo � restringindo o alcance das suas profecias somente a Floren�a � conjurar o risco de incorrer no rigor das san��es eclesi�sticas.H� uma esp�cie de di�logo apaixonado e dolente entre a s�ror e a

apari��o, que poderia ter se estendido, ainda que n�o transpare�a

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dos relat�rios da monja, a horizontes mais amplos. Jesus lamenta as ofensas recebidas dos florentinos, repetindo vezes sem conta que deseja "castig�-los severamente�. S�ror Domenica suplica para que n�o o fa�a e que envie os castigos unicamente para seu corpo. E atendida, mas n�o basta, uma vez que as "grandes atrocidades dos florentinos continuam a crescer, sem que transpare�am das suas a��es sinais de arrependimento". A apari��o volta ent�o a discorrer sobre a calamidade que est� prestes a se abater sobre a cidade: "Dentro de poucos dias ver�o que mandarei um dil�vio

sobre Floren�a, que ser� alagada por vinte palmos de altura, e as pontes ruir�o, e os campos n�o dar�o frutos. (...) Mandarei escassez, outras

inunda��es e pestil�ncias, e os florentinos ser�o testemunhas no futuro da minha ira e da minha justi�a."Mais uma vez s�ror Domenica implora para que a cidade seja poupada e o castigo aplicado sobre ela. � outra vez atendida. O resto se repete com reiterada monotonia, num alternar de miseric�rdia e ressentimento divino. Tudo foi transcrito fielmente e entregue aos cuidados da ordem das monjas da Crocetta, fundada por s�ror Domenica, at� o s�culo XIX. O documento foi descoberto em 1846 e dado � imprensa, provido de notas relativas �s calamidades prenunciadas e em boa parte acontecidas.Muitos castigos, anunciados em um primeiro momento para o presente, foram prorrogados nos s�culos. �Para que vejas que tuas ora��es me agradaram�, l�-se numa das mensagens do Cristo � s�ror Domenica, "e para que tenhas um cora��o amoroso para com teu pr�ximo, n�o mandarei mais estes flagelos. [...] Saibas, por�m, que chegar� o tempo em que os castigarei por 28 anos, e nos sete finais depois de 1700 os florentinos teus compatriotas ficar�o sem pr�ncipe. [...] Os castigarei depois nos quarenta sobre o 1700

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com uma inunda��o e muita escassez. [...] No pr�ximo s�culo nono [leia-se o XIX], levantar-se-�o tr�s diferentes coroas com suas grandes pretens�es sobre a Toscana, tua p�tria estimada."Assim, entre n�meros e charadas, a profecia se difunde sobre a hist�ria

futura de Veneza, oferecendo aos exegetas refer�ncias �s vezes n�tidas, outras vezes nebulosas.O que interessa n�o � tanto o n�vel de confirma��o que se consegue quanto � modernidade da prova divinat�ria que, se bem que referida a uma comunidade restrita, reprop�e a linguagem das advert�ncias dirigidas seguidamente (e principalmente no s�culo XX) a todo o g�nero humano."Se n�o se converterem e n�o deixarem o mal, ai de todos quando virem no c�u um cometa pr�ximo ao p�lo �rtico."A "atribula��o" luciferiana de Margherita da CortonaDistinguem-se, pela idoneidade das fontes que as ilustram, as vis�es prof�ticas de Margherita da Cortona, sendo objeto de estudo por parte dos padres bollandistas, isto �, daqueles historiadores cat�licos que foram os primeiros a expor � como se diz � a necessidade de ancorar a hagiografia a uma documenta��o adequada. S�o estes r�gidos defensores de uma nova historiografia religiosa, de fato, a contar que, em uma das tantas apari��es a Margherita � presa de uma crise m�stica no decorrer da qual vertia copiosas l�grimas �, o Cristo lhe teria prenunciado "uma grande tribula��o no mundo, provocada pelo dem�nio L�cifer".Continua o relato da vis�o mostrando que o dem�nio "far� a volta ao mundo e preparar� solicitamente o caminho para o Anticristo, como um seu precursor, suscitando uma tal confus�o que muitos padres sair�o de suas ordens e muitas monjas dos pr�prios mosteiros", Reinar�o naqueles dias homic�dio e trai��o, e "uma falange completa de dem�nios se arrojar� contra o g�nero humano".

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Margherita (1247-1297) era uma bel�ssima criatura de passado agitado, que merece um esbo�o para que possa ajudar a compreender o repentino surgimento nela de uma sensibilidade vision�ria, devida talvez � passagem traum�tica da felicidade profana � vida m�stica. Os bi�grafos a descrevem como mulher desejosa de entregar-se desmedidamente, que se apaixona aos dezesseis anos pelo nobre Arsenio di Montepulciano, que depois ser�

morto. � uma obscura trag�dia medieval, de amor e sangue. Morto o amante ao qual se entregara com tanta paix�o � e com o qual tivera um

filho �, Margherita descobre que "nenhum objeto terreno pode conter a abund�ncia do seu amor e se retira para o convento, onde se consumir� em um crescendo de penit�ncias, �xtases e jejuns.Existem outros achados, fora do c�rculo bollandista, dos seus dons prof�ticos. Os cronistas est�o em geral de acordo ao relatar "que o Senhor lhe concedera o dom de interpretar, propiciando-lhe uma luz particular a fim de que as palavras com as quais predizia as coisas futuras resultassem verdadeiras".Reza a tradi��o que o Redentor, em uma das suas primeiras apari��es, a tivesse exortado a divulgar as suas profecias: "N�o descuides de avisar aos homens viciosos e arranja o tempo que te seja poss�vel para extirpar os v�cios deles e inserir-lhes nas mentes a virtude. Infundirei maravilhosas gra�as nas palavras que te caber�o proferir [at� que] possam prenunciar o que infalivelmente acontecer�."Encontro da peregrina Hildegunda com Pedro, o Antipedro e o AnticristoS�o os olivais de Jerusal�m, ao cair da noite, o cen�rio no qual o Anticristo e seus ac�litos se manifestar�o em vis�o � alem� Hildegunda, peregrina na Terra Santa. A mulher seguia recitando salmos junto aos outros devotos ao longo de um beco, quando surgiram diante deles tr�s homens, dois envoltos em amplos mantos vermelhos e o terceiro adornado de preciosos paramentos sacerdotais.A lenda diz que eles n�o passaram despercebidos, sem contar o aspecto vistoso, porque deixavam rastros de fogo, dos quais se elevavam vapores

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de fuma�a. - Quem sois? � perguntou Hildegunda.Os tr�s, aproximando-se, fitaram-na com olhos terr�veis, revelando sua identidade.- Eu sou Pedro � disse o que envergava os paramentos sacros.� Eu sou o Antipedro � disse o segundo. - E eu sou o Anticristo � declarou o terceiro, que caminhava no meio dos

dois.Significava que quando viesse o tempo do Anticristo tamb�m o papa se teria alinhado com ele, caminhando junto ao antipapa. A antiga profecia do Apocalipse adquiria de tal modo uma conota��o moderna, antecipando o que certos videntes dos nossos dias teriam dito acerca da infiltra��o de Satan�s no Vaticano.Declarada sua identidade � at�nita Hildegunda, os tr�s sinistros mensageiros desapareceram, deixando ao seu consternado estupor esta santa lend�ria, da qual nem mesmo se sabe com certeza o sexo. Tamb�m sua hist�ria � como a de Margherita, que, no entanto, se baseia em dados mais concretos � merece ser recordada como contribui��o � compreens�o da aura fabulosa que pairava em torno dos deposit�rios do mist�rio divinat�rio.Segundo a hagiografia, Hildegunda viveu sob identidade masculina no mosteiro cisterciense de Schoenau, perto de Heidelberg, fazendo-se chamar frei Giuseppe. A m�e, pertencente � nobreza de Col�nia, tinha morrido ao dar � luz, e, uma vez que a rec�m-nascida tamb�m esteve a ponto de morrer, o pai fizera uma promessa de lev�-la � Terra Santa se

sobrevivesse. Assim aconteceu, e a menina, tornada adolescente, foi levada a Jerusal�m. Para evitar os riscos da viagem, cortaram-lhe os cabelos, deram-lhe roupas masculinas e ela foi chamada de Giuseppe pelo pai, que veio a morrer em Tiro, no caminho de volta. Vendo-se de repente s�, a jovem continuou fingindo-se de rapaz, mendigando nas ruas. At� que um mercador alem�o, movido pela piedade, levou-a de volta � p�tria

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.Na Europa, continuou fazendo-se passar por homem e teve muitas aventuras perigosas. Foi tamb�m enforcada, sendo confundida com um ladr�o, mas um anjo sustentou-lhe o peso por tr�s dias, salvando-lhe a vida. Inspirada por Deus, recolheu-se em seguida ao convento, onde viveu entre os frades, como um deles.A morte sobreveio na Semana Santa de 1188, e diz-se que s� ent�o os frades descobriram, ao lavar seu corpo, a natureza feminina de frei Giuseppe.

Os espelhos m�sticos da monja HildegardaSem nada de lend�ria, bem enraizada na hist�ria, foi em vez disso a m�stica figura da monja Hildegarda, nascida no ano da primeira cruzada (1098) que se tornou em uma pregadora aclamada em Trier, Mog�ncia, Col�nia e muitas outras cidades da Alemanha, cujo g�nio se expressou n�o apenas na po�tica complexidade das suas profecias, mas tamb�m na m�sica sacra, na pr�tica herbalista c no estudo da natureza. Tem-se a medida de sua fama pelo tom com que o abade de Brauweiler, uma das mais c�lebres comunidades mon�sticas da Europa, escreve-lhe suplicando-lhe para "indicar por carta o que Deus poder� inspirar-te ou revelar-te a este prop�sito [um exorcismo contra um dem�nio de excepcional poder] mediante uma vis�o".E sua vida foi, com efeito, uma inexaur�vel sucess�o de vis�es, que

inspiraram a escritura do Scivias (imperativo que soa Conhece os caminhos [da f�]) e de dois outros livros, Dos m�ritos divinos e Das obras da vida, obras-primas inici�ticas destinadas a provocar diversas disputas teol�gicas, recebendo por fim a aprova��o do papa com o aval de s�o Bernardo. O grande m�stico de Claraval lhe havia captado o significado profundo, esplendidamente passado atrav�s de uma simbologia redundante de preciosas imagens, Como estas que se seguem:Vi uma figura cujo rosto e p�s reluziam com tal esplendor que meus olhos foram cegados. Sobre o traje de seda branca trazia um manto verde magnificamente ornado de gemas. Das orelhas pendiam j�ias, tinha braceletes e adere�os de ouro fino cravejados de pedras...

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Al�m da interpreta��o, que indica com tanto brilho a sabedoria preeminente da beatitude divina, este retrato sobrenatural mostra uma magnific�ncia vis�vel que se imp�e tamb�m pelas qualidades liter�rias. Assim prossegue a vis�o:Vi uma segunda figura. [...] Tinha no lugar da cabe�a um esplendor deslumbrante e no centro do ventre uma cabe�a de homem barbudo, de cabelos grisalhos e garras de le�o nos p�s. Era sustentada por seis asas

vertiginosas; duas partiam para tr�s e subiam acima do esplendor, duas baixavam sobre a nuca, duas desciam pelos quadris at� os calcanhares. Se elevavam e distendiam como para al�ar v�o. Seu corpo n�o era coberto de penas, mas de escamas, como um peixe. As asas eram adornadas de espelhos...Esses espelhos traziam inscri��es de significado esot�rico crist�o, como �caminho e verdade� e �porta de todos os arcanos de Deus�. � a pr�pria Hildegarda que insere em seu texto chaves de interpreta��o. Os espelhos indicam "os cinco luminares de diferentes �pocas: Abel, No�, Abra�o, Mois�s e, por fim, o Filho de Deus". Seguem-se explica��es complexas sobre a figura coberta de escamas e outros detalhes deste cintilante afresco, que parece querer levar �s �ltimas conseq��ncias os horrores e as maravilhas da revela��o apocal�ptica.Sobre o fim dos tempos, a vidente de Bingen fornece uma indica��o que, lida hoje em dia, evoca medos sinistros, ligados substancialmente ao cen�rio delineado por Malaquias sobre o crep�sculo do papado. Deixou de fato escrito que o Anticristo chegaria a trazer a rebeli�o e a morte entre os povos "quando sobre o trono de Pedro sentar-se um papa que ter� adotado os nomes de dois ap�stolos de Jesus�.Se assim fosse, deveria tratar-se entre n�s do breve pontificado de Jo�o

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Paulo I, no ano de 1978.O exterm�nio dos "perfeitos"Al�m de difundir-se no imagin�rio apocal�ptico, Hildegarda ancorou boa parte das suas profecias ao pr�prio tempo. Volta a aparecer nesses or�culos a curto prazo a premoni��o sobre a ascens�o na Europa da heresia c�tara, que com efeito atingiu sua expans�o m�xima nos anos imediatamente seguintes a sua morte, ocorrida em 1179.Aos seguidores desta doutrina de origem manique�sta, que pregava um radical dualismo entre o reino de Deus e o do dem�nio, considerado o �nico pr�ncipe do mundo terreno, Hildegarda atribui "pensamentos de

escorpi�o e a��es de serpente", anunciando nestes termos a vinda:Vir� um povo seduzido pelo Diabo e por este mandado � terra, com rosto p�lido e postura de grande santidade. [...] Vestir� mantos ordin�rios de cores desbotadas, com tonsura austera e apar�ncia de serena tranq�ilidade. [...] N�o manipular� dinheiro e praticar� uma tal abstin�ncia que ser� dif�cil encontrar nesse povo qualquer defeito. O diabo estar� com eles...A vidente recha�a assim como hip�crita a propalada austeridade dos c�taros, chamados tamb�m albigenses pela sua forte concentra��o na cidade de Albi, no Languedoc. E, com efeito, eles eram not�rios pelo seu

desprezo pela vida, da qual se libertavam deixando-se morrer de inani��o, Tratava-se efetivamente de um suic�dio, que assinalava o coroamento de

um rito regenerador, chamado endura.Esta religi�o de teor marcadamente m�stico era administrada por sacerdotes denominados perfeitos pelo rigor da sua exist�ncia, que os tornava emaciados e hier�ticos.A profecia de Hildegarda teve imediata confirma��o na hist�ria. Os

c�taros conquistaram enorme poder na Fran�a meridional, exportando sua

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doutrina para muitos outros estados da Europa, sendo por fim exterminados durante uma cruzada feroz pregada contra eles pelo papa Inoc�ncio III em 1208, que se estendeu num crescendo at� 1243, ano da tomada de Monts�gur, seu �ltimo ref�gio.A vidente, que certamente contribuiu com sua profecia para agitar os �nimos contra os c�taros, juntamente com tantos outros pregadores cat�licos, previu tamb�m o fim. "Os pr�ncipes e outros personagens de grande estatura se lan�ar�o contra eles e os matar�o como lobos raivosos", l�-se na predi��o por ela divulgada, "onde quer que os encontrarem."

E foi o que aconteceu.

17Merlin, o imortalA profus�o medieval de m�sticos e videntes de inspira��o religiosa, int�rpretes de uma realidade maturada nos rigores da vida mon�stica e na ascese, n�o bastou para impedir a prolifera��o de or�culos ligados � tradi��o m�gica mais esp�ria, assinalada por supersti��es que representavam a heran�a extrema de um pagamsmo agora declinante. Contudo havia uma tal confus�o no imagin�rio popular, que coube aos

pr�prios homens da Igreja endossar na maior parte dos casos o resgate de

antigas lendas, mais pr�ximas da f�bula que da hist�ria, manipuladas em uma �tica prof�tica e projetadas rumo ao fim do mundo.A mais espetacular destas manipula��es n�o podia sen�o referir-se ao mais c�lebre dos magos gerados das n�voas de hist�rias sem tempo: Merlin, o imortal, art�fice de reinos e encantamentos, que segundo a lenda, permanece vivo e aprisionado para sempre numa gruta � ou numa floresta, ou no oco de uma �rvore � por um feiti�o de amor.

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Suas predi��es come�aram a circular na segunda metade do s�culo XII, depois que o bispo ingl�s Geoffrey de Monmouth, que viveu entre 1100 e 1155 em Oxford, onde ensinava, transcreveu em latim um pequeno volume (em l�ngua galesa) intitulado Profecias de Merlin, consultado � margem de uma pesquisa hist�rica mais complexa sobre a antiga Brit�nia. O texto foi extrapolado e inserido por Geoffrey no seu tratado sobre a Hist�ria dos reis da Brit�nia, tamb�m este inspirado em um antigo livro gal�s, que depois se perdeu. N�o �, portanto, poss�vel formular hip�teses sobre a proced�ncia efetiva das profecias � como das not�cias sobre

soberanos da Brit�nia, entre os quais avultam personagens como Lear, Uther Pendragon e Arthur �, mas os dons m�gicos de Geoffrey fizeram suscitar grande curiosidade em torno de suas narrativas e, especialmente, sobre as profecias atribu�das a Merlin.

Rumo a um caos sem retornoO or�culo � lido a partir de uma dupla perspectiva: uma de interesse especificamente hist�rico, no que diz respeito aos destinos da Inglaterra; a outra de significado escatol�gico, assimil�vel aos grandes cen�rios do fim do mundo.A primeira se articula sobre toda uma s�rie de pequenas f�bulas referentes �quele tecido proto-hist�rico do qual germinaram as grandes lendas de

cavalaria de Arthur e da T�vola Redonda, de Excalibur e da procura do Graal. Prevalecem neste afresco os s�mbolos. A luta entre povos � a luta de drag�es e de guerreiros de barb�rico poder, na qual interagem prod�gios e encantamentos de natureza mais demon�aca que divina. Extrai-se em cada caso luzes sobre a identidade hist�rica de Arthur, sobre a dimens�o tribal do seu poder e sobre a origem tot�mica do nome Artus ou Arthur,

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que em ga�lico significa Urso.A outra perspectiva � mais pertinente ao grande entrecho prof�tico medieval, com uma nota de interesse mais relacionado �s comuns especula��es apocal�pticas, uma vez que denota um conhecimento astrol�gico avan�ado. A cat�strofe do c�u e da terra n�o � provocada por um gen�rico desequil�brio natural, mas por um preciso jogo dos astros, reconhec�veis nos respectivos pap�is zodiacais. Os G�meos deixar�o de abra�ar-se entre si, as �guas do Aqu�rio ser�o sugadas de volta �s nascentes, a balan�a [Libra] pender� desequilibrada de um lado, �ries tentar� soergu�-la com seus chifres, a Virgem cavalgar� o Sagit�rio, a cauda do Escorpi�o arremessar� setas em volta, o C�ncer jogar� sua sombra sobre o Sol e assim por diante, num caos sem retorno.� este, segundo Merlin, o fim do mundo. Provocado por estrelas que parecem evocar com seus caprichos as divindades pag�s das quais extraem o nome: Marte chamar� V�nus para si com os reflexos do pr�prio elmo, Merc�rio jogar� longe o escudo, Saturno transformar� em chuva o seu triste rancor, V�nus desaparecer� no c�u, J�piter inverter� a rota e as "doze casas planet�rias chorar�o ao ver-se abandonadas por seus inquilinos". Servir�o de contraponto ao seu pranto os lamentos das Pl�iades, enquanto a Lua percorrer� enlouquecida o zod�aco conduzindo sua carruagem.Um contexto mitol�gico desses representa a prova mais patente, se � que se poderia pensar de outra forma, da falsa ingenuidade que se oculta atr�s

da atribui��o de tais profecias a um mago qualquer de tradi��o c�ltica, como se subentende Merlin (Myrrdin, em ga�lico) ou quem quer que seja, uma vez que a refer�ncia � nomenclatura greco-romana dos planetas

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exclui qualquer parentesco do profeta com o paganismo dru�dico cont�guo e misturado nas ilhas brit�nicas com as emergentes idealidades crist�s.

� exatamente essa proximidade, de resto, o �nico dado correto na lenda de Merlin e nos p�lidos achados hist�ricos relevantes por volta de 450, sete s�culos antes da opera��o de Geoffrey sobre o texto das suas pretensas profecias. N�o s�o explicadas, diferentemente, as raz�es por que Merlin, depois de ter gerado o plano para a coroa��o de Arthur, tenha ficado � sombra do bispo Dubric, que colher� seus frutos. Toda a opera��o � conduzida por Merlin desde o primeiro momento do nascimento de Arthur: � ele quem consente a Uther Pendragon (o Grande Drag�o, predestinado a gerar a nova estirpe real depois das sangrentas lutas dos bar�es) acasalar-se, sob disfarce e com falso nome, com Ygrein para que

seja concebida a crian�a chamada pelo destino; � ele quem o toma em confian�a e o educa para seu futuro papel r�gio; � ele quem enterra a espada m�gica na rocha. Mas cabe ao bispo Dubric celebrar a cerim�nia de investidura; � Dubric quem fala ao ex�rcito arturiano antes da decisiva batalha contra os sax�es; � Dubric quem se torna tutor espiritual do reino. O que se entende, pois a nova Brit�nia tinha necessidade de um rei crist�o, mas para poder coro�-lo devia primeiro derrotar os outros pretendentes com todas as for�as de que podia dispor por heran�a ancestral: as da magia.

Arthur e os cavaleiros da T�vola Redonda em uma rara edi��o alem� da saga de Lancelot(Lancelot von See, 1488).

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Por isso n�o � arriscada a hip�tese daqueles que insistem em que Merlin e Dubric sejam a mesma pessoa, que entre originalmente em cena nas vestes de mago para depois envergar os paramentos sacros do bispo. Como tamb�m n�o � arriscado insistir em que o autor do volume chegado �s m�os de Georfrey deva ser um monge ou, de qualquer modo, um escritor de cultura crist�, talvez o pr�prio arcediago de Oxford do qual o havia recebido por empr�stimo.Significativo, no que diz respeito a esta imagem dividida de Merlin-Dubric,

� que a ambos s�o atribu�dos nascimentos profanos e n�o-naturais. Assim como Merlin � o lend�rio filho de um dem�nio dos bosques com uma virgem, Dubric nasce da uni�o entre uma freira e uma criatura que, segundo a tradi��o mon�stica, poderia ser identificada como um diabo da esp�cie dos �ncubos.

Um astr�logo tra�a um hor�scopo consultando a ab�bada celeste.

Roma "agitada e sacudida"A multiplicidade das caracter�sticas que remetem � figura de Merlin n�o diz respeito apenas � sua identidade religiosa, dilacerada entre o paganismo c�ltico e a nova f� crist�. Hist�ria e lenda contribuem para a suposi��o de que os modelos reais do personagem tenham sido mais de um, justificando assim o envolvimento em situa��es hist�ricas diversas, com freq��ncia de grande dimens�o pol�tica.� com base nas profecias de Merlin que Eduardo III justifica as pretens�es inglesas ao trono da Fran�a em 1346, mas � sempre por um or�culo de Merlin que os franceses confiam as suas esperan�as de independ�ncia a Joana d'Arc, oitenta anos depois. E por fim um papa dos mais

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intransigentes na luta contra a feiti�aria e a supersti��o, Inoc�ncio III, apela para uma predi��o de Merlin na sua cruzada contra os c�taros.

Merlin � chamado de muitas maneiras por aqueles que utilizam suas profecias, mas todos concordam em estabelecer suas origens no s�culo V, na Brit�nia entregue a barb�rie com a retirada das legi�es romanas. De especial destaque, entre essas figuras pendentes entre mito e hist�ria, � o Merlin chamado Ambr�sio, que evoca com toda a credibilidade o general

Ambr�sio Aureliano, romano de origem, mas alinhado com os brit�nicos na luta contra os sax�es. Foi ventilada em tempos recentes a hip�tese de que Ambr�sio pudesse ser uma personifica��o do pr�prio Arthur, pelo seu papel de chefe na guerra contra os sax�es. N�o � de espantar, portanto, que outros tivessem entrevisto nele Merlin, confortados nesta sua suposi��o pelo valor sagrado do nome Ambr�sio, que significa, ali�s, divino. Tamb�m a data��o hist�rica da presen�a deste mago-comandante na Brit�nia, por outro lado, coincidiria com a fase transit�ria de dom�nio do rei traidor Vortigern, aliado dos sax�es em 449, aquela de Uther, pai de Arthur, portanto com os anos da tradicional saga de Merlin.Atribui-se a Merlin Ambr�sio (ou Merlin o Divino, se quisermos interpretar o segundo nome como um atributo) um or�culo de particular interesse para a It�lia, publicado em Frankfurt em 1640 pelo italiano Davide Zanazzo.Trata-se evidentemente de um ap�crifo posterior � �poca do Merlin hist�rico-lend�rio, no qual n�o teria sido poss�vel formular indica��es t�o espec�ficas sobre a geografia pol�tica da It�lia, com refer�ncias ao reino da Sic�lia, � Marca Anconitana e assim por diante.

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� um or�culo de tom apocal�ptico, que anuncia eventos desastrosos, sem por�m acenar para o fim do mundo, A ru�na assola boa parte das cidades italianas. Est� especificado em termos um tanto vagos o destino que caber� a cada uma. Roma ser� "agitada e sacudida", Lucca cair� "na escurid�o de espantosos equ�vocos, Arezzo pagar� "o fio das suas a��es", Siena e Pisa sofrer�o "os efeitos da ira de Deus�. Igual destino tocar� a Perugia, que "n�o poder� escapar ao flagelo". Floren�a ser� oprimida por "uma espantosa vendeta", mas o pior estar� reservado � Bolonha, definida pelo redator das profecias como "covil de fil�sofos", a qual "cessar� de existir".Nem todas as regi�es ser�o golpeadas do mesmo modo. A Toscana e a

Em�lia (as mais citadas) ficar�o "grandemente aterrorizadas", a Camp�nia ser� "punida� com todo o reino da Sic�lia, mas a Lombardia terminar� "completamente em ru�na". Mil�o ser� "desenraizada do solo" e G�nova dever� "sofrer muito pelas m�os dos seus inimigos". Veneza ter� de

defender-se de "gente pior do que os turcos". O ducado de Spoleto ser� devastado.Tudo isso acontecer�, como � da tradi��o escatol�gica ocidental, com o advento do Anticristo, cuja f�ria ser�, por�m, contida gra�as � interven��o de um homem "t�o forte e robusto" que ser� comparado a Sans�o. Este her�i sem nome ser� de fam�lia italiana. Por enquanto, n�o parece identific�vel em nenhum personagem hist�rico determinado,O sacrif�cio de BecketDe profecias ap�crifas, inventadas imediatamente ap�s a morte do vidente

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em quest�o, a hist�ria divinat�ria est� cheia. Seu objetivo foi quase sempre o de interferir no m�rito de quest�es contingentes, de interesse pol�tico e religioso. Era indispens�vel, para que tal pudesse acontecer, que se lhes conferisse a paternidade de personagens de particular import�ncia hist�rica ou lend�ria.�, por exemplo, o caso de uma predi��o atribu�da a Thomas Becket, o arcebispo de Canterbury, massacrado em 1161 por ter se recusado a submeter-se � autoridade de Henrique II, transformando-se depois disso num dos santos mais populares da Inglaterra. Tratava-se de um escrito "descoberto" em um convento ingl�s por volta de 1660, a cinco s�culos portanto do mart�rio do prelado, e enviado rapidamente a Roma.Continha informa��es de v�rios tipos sobre o futuro da Inglaterra e da humanidade inteira, entre as quais se destacava o an�ncio de um retorno da Igreja anglicana (depois que todas as heresias tivessem sido extirpadas) debaixo da asa de Roma. Pode-se entender qual fosse o interesse do papado

em fazer circular uma tal profecia em uma �poca de grandes conflitos, marcada pela aspereza da fratura religiosa. Mas, al�m desse evidente fim

instrumental, o que prova com toda a clareza a implausibilidade do documento � a alus�o � Igreja anglicana, que ainda n�o existia na �poca de Becket. O cisma, de fato, s� veio a ocorrer em 1534, pelo ressentimento de Henrique VIII em rela��o a um pont�fice que lhe negava o div�rcio, quando o arcebispo de Canterbury j� havia muito deixara este mundo.N�o se pode negar, por�m, com tanta ingenuidade, uma certa agudeza por parte de quem quer atribuir a paternidade da profecia exatamente a Becket, morto por proteger da invas�o r�gia a autonomia da cristandade inglesa.Contribui para evidenciar a falsidade do texto o estilo (e, em certos casos, o

conte�do) das outras profecias nele formuladas, que reprop�em imagens

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e intui��es tornadas populares um s�culo antes pelo grande Nostradamus, cujas Cent�rias j� eram c�lebres e submetidas a m�ltiplas interpreta��es em toda a Europa.Fala-se, entre outras coisas, no ap�crifo ingl�s de armas capazes de causar a morte mediante um fogo que n�o deixa rastros, de um l�rio (a Fran�a) destinado a perdei a coroa, de uma �guia que sobrev�m trazendo exterm�nio e obscurecendo o sol com suas asas. S�o s�mbolos recorrentes nas estrofes de Nostradamus, que para a consci�ncia do homem contempor�neo evocam os fantasmas da hecatombe nuclear, da revolu��o francesa, das guerras napole�nicas e � como veremos � do nazismo.

18O Enigma de Nostradamus

A enorme popularidade de Michel de Nostredame, que depois latinizou o nome em Nostradamus � maneira dos humanistas da Renascen�a, n�o � v�lida para desbastar os tantos lugares-comuns acumulados sobre sua conta, no decorrer dos s�culos. N�o � v�lida, especialmente, para permitir um real aprofundamento hist�rico das variadas atividades por ele desenvolvidas, com intui��es geniais, sobretudo, no campo da medicina e das ci�ncias naturais. Essa popularidade tamb�m n�o � v�lida, em definitivo, para individualizar o efetivo alcance cultural da sua pesquisa, transversalmente conduzida atrav�s dos mais distantes campos do saber.De Nostradamus muito se disse, muito se escreveu e tamb�m muito se fantasiou, elaborando conjecturas com freq��ncia carentes de toda credibilidade, escassamente plaus�veis, de modo algum documentadas, alimentadas o mais das vezes pela curiosidade m�rbida que paira em torno

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da sua fama de bruxo, de mago. Poucos sabem que foi tamb�m um grande m�dico, capaz de enfrentar com modernos sistemas de preven��o o flagelo da peste. Poucos sabem que foi um estudioso s�rio dos procedimentos biol�gicos naturais, e que gra�as a estas suas pesquisas p�s em funcionamento uma verdadeira e aut�ntica ind�stria de cosm�ticos e

produtos de beleza, elixir da juventude, creme fortificante e ess�ncias regeneradoras, da qual d� testemunho um livro intitulado Receitas singulares para manter o corpo s�o. Poucos sabem que foi, enfim, um atento observador dos fen�menos astron�micos � al�m de astr�logo � e ao mesmo tempo um pesquisador da sabedoria perdida, um viajante incans�vel, um decifrador de alfabetos remotos, conhecedor de v�rias l�nguas, leitor apaixonado de obras fundamentais do g�nio universal, como a Divina com�dia de Dante e as trag�dias de �squilo, que comentou com devota dilig�ncia.Apesar da superficialidade com a qual � transmitida a sua hist�ria, em suma, Nostradamus foi um intelectual fin�ssimo na exata acep��o do humanismo renascentista, que pressupunha a satisfa��o das curiosidades mais disparatadas em nome de uma cultura generalizada, mas ao mesmo tempo profunda. Por certo, pode-se dizer que foi o t�pico expoente � como Paracelso, Marsilio Ficino, Giordano Bruno � daquela classe intelectual que tinha grande desprezo pela id�ia de "especializa��o" no sentido

moderno, entendida como divis�o do conhecimento em fragmentos para privilegiar ou dispor em raz�o de escolhas contingentes, tendo em vez disso optado por dedica-se � an�lise do conhecimento na pluralidade dos seus aspectos, da filosofia � medicina, � f�sica, �s literaturas de cada civiliza��o e, em certos casos, � magia, � alquimia, � adivinha��o. Foi este �ltimo aspecto que polarizou o interesse popular, at� quando Nostradamus viveu,

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gra�as, sobretudo, � extraordin�ria difus�o das Cent�rias, ou seja, o conjunto do seu "corpo prof�tico", dividido em dez blocos de cem quartetos cada, onde se podem colher circunstanciais alus�es a fatos, coisas e personagens ainda por vir no tempo.As chaves do tempoPublicadas em duas tiragens (em 1555 as quatro primeiras partes, em 1588 as seis restantes) e muitas vezes reimpressas, traduzidas, interpretadas, as Cent�rias s�o um entrecho de profecias formuladas em versos herm�ticos e sibilinos, sem nenhuma ordem cronol�gica, abarcando uma faixa de tempo que se estende at� o ano 3797. Muito al�m, portanto, das previs�es milenaristas comuns, que gravitam, na maior parte dos casos, em torno do ano 2000.Muitas dessas predi��es (�s quais se juntaram os Press�gios, escritos entre 1555 e 1566, ano da morte de Nostradamus) chegaram a achados detalhados em eventos j� ocorridos, outros s�o confiados � fantasia dos exegetas, com freq��nCia, propensos a basear as suas hip�teses em complexos c�lculos matem�ticos e procedimentos de tipo enigm�tico. Al�m de desordenar toda norma de escrita e cunhar novos voc�bulos, de fato, o autor recorre a anagramas, met�foras, metaplasmos (transforma��o fon�tica de palavras) e met�teses (invers�o de letras ou sons), metalepses (met�foras duplas e triplas), ep�nteses (inser��o de letras), encaixes, transposi��es e assim por diante.Da� resulta ter de reconhecer Paris no vocabul�rio Rapis e em Luas o nome deturpado de Saul, que indica o povo hebraico. O que n�o � t�o dif�cil assim. Mas o jogo se complica, por exemplo, se tiver de vir � baila o motivo por que nunca um "grande rei" proveniente da regi�o francesa de

Angoul�me (Angolmois, em um l�xico arcaico) deveria representar para a

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Europa uma terr�vel amea�a, destinada a explodir "o s�timo m�s de 1999".Libera-se o arcano traduzindo Angolmois em Mong�lia, da qual � o anagrama. Da� que na geografia simb�lica de Nostradamus deve-se interpretar Mong�lia como um lugar terrificante, n�o uma regi�o espec�fica do Oriente, da qual se espera um tem�vel agressor da humanidade, provavelmente o Anticristo. E �, portanto, no final do mil�nio, em julho de 1999, que tal flagelo deveria, segundo a fat�dica estrofe - uma das poucas em que se especifica uma data �, abater-se sobre a civiliza��o ocidental.No s�timo m�s do ano de 1999vir� do c�u um grande rei do horrorpara ressuscitar o grande rei da Mong�lia.Marte reinar� felizmente antes e depois.Hitler, Hilter, HisterPermanece totalmente inexplic�vel, entre os tantos enigmas ligados �s

profecias de Nostradamus, a precis�o com que o vidente preconiza os horrores do nazismo e o holocausto do seu povo (era de fam�lia judia, embora convertida h� muitas gera��es) chamando Hitler pelo nome bem umas quatro vezes, tr�s nas Cent�rias (II�24, IV�68, V�9) e uma nos Press�gios (15). Ao faz�-lo, recorre a uma leve transposi��o de letras, pela qual Hitler se torna Hilter, e duas por uma substitui��o consonantal, transformando-o em Hister. Parecia entrever nesta �ltima manipula��o a inten��o de evocar por asson�ncia a loucura hist�rica do ditador. Mas vejamos em detalhes o que Nostradamus diz de Hitler. No 15�. press�gio o chama de "o indigno ornado" (ornado, entende-se, pelas ins�gnias do poder agora conquistado) e acrescenta que por sua causa "o eleito primeiro (isto �, o povo hebraico) recear� a grande fornalha" (a refer�ncia aos fornos cremat�rios � evidente). Explica depois na segunda cent�ria o andamento

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da guerra desencadeada por "bestas de fluvial fome" (fome insaci�vel), quando baixar� em campo contra Hitler "a maior parte dos outros" (os aliados) enquanto ele deportar� os perseguidos "em jaulas de ferro" (os vag�es chumbados) sem que o perceba "nenhum rapaz da Alemanha" (todos diriam de fato que nunca souberam de nada). Segue-se na quarta cent�ria uma alus�o � estrat�gia dos "dois maiores (Hitler e Mussolini), para a conquista dos territ�rios africanos e asi�ticos, que provocar� luto e pesar "de Malta � costa da Lig�ria" (nas rotas, isto �, dos navios sacrificados na batalha do Mediterr�neo). Completam a seq��ncia - que por�m n�o corresponde, segundo os h�bitos de Nostradamus, a nenhuma ordem cronol�gica � refer�ncias � liberdade tra�da, ao "bloqueio naval aberto por Hitler" (a tentativa de isolar a Inglaterra mediante a guerra submarina) e ao nascimento de uma " rep�blica, fasch�e" na It�lia setentrional, isto �, uma rep�blica "enraivecida" com um �s� a mais, que parece ali colocado para criar uma asson�ncia com o adjetivo "fascista", � �poca desconhecido.Em cada uma das estrofes indicadas aparece o nome de Hitler, alterado, como se disse, em Hilter ou Hister.Peixes el�tricos e p�ssaros a jatoDeve-se destacar que s� se chega � compreens�o de muitas estrofes indecifr�veis apenas depois da verifica��o do evento descrito, mas isso n�o redimensiona a extraordinariedade de cita��es relativas a nomes e detalhes que ningu�m � �poca do vidente podia conhecer. Muitos s�o, em tal sentido, os achados deduzidos da nist�ria deste nosso s�culo: a prop�sito do rogo vivo que reduz cidades a p� com a �morte escondida dentro de globos horr�veis e assustadores" (evidente premoni��o da explos�o nuclear e da radioatividade que continua em seguida a matar, invis�vel) ou do "cospe-

fogo" que domina os c�us da batalha da Fran�a (tradu��o literal d

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o ca�a ingl�s spitfire) ou do avi�o a jato, tecnicamente descrito como um "ins�lito p�ssaro" que se move impelido por um "tubo que respira" (a turbina, exatamente) com velocidade tal que "desaparece c�lere no horizonte" lan�ando em torno um sibilo dilacerante (huy huy, escreve o vidente, formulando uma clara onomatop�ia do som provocado pela m�quina).Uma outra surpreendente antecipa��o t�cnica � aquela do submarino, n�o tanto pelo fato de que Nostradamus previa o irromper amea�ador de um "peixe de ferro� que tornar� mais cruel a guerra para quem tem "a sua frota bem distribu�da no mar" (os comboios, principal objetivo da guerra subaqu�tica), mas pela expl�cita refer�ncia � eletricidade "selada" (etlettre enfermee) no interior do escafo. Causa particular estupor a lexicalidade incerta daquele voc�bulo � �poca inexistente, que muitos entenderam prosaicamente como refer�ncia a uma letra ([et] lettre) e n�o a uma forma de energia que o autor n�o podia conhecer. Mas que sentido teria uma "letra selada" em um submers�vel? Sabe-se, por outro lado, que entre as t�cnicas adotadas por Nostradamus para impedir aos profanos a compreens�o de certas profecias suas consta o uso freq�ente de palavras transcritas de modo a poder chamar a aten��o dos leitores comuns para outras desconhecidas ou totalmente inexistentes, mas capazes de poder adquirir um sentido perfeito no futuro.Quando do interior de um peixe de ferrosair� para depois fazer guerra a letra selada[quem?] tiver a sua frota bem ramificadapelo mar aparecendo perto a terra latina.

O Le�o cegado na jaulaHitler com a sua espantosa "fornalha" representa algo mais que uma simples profecia. E uma tentativa assombrosa � uma das mais inexplic�veis j� registradas na hist�ria divinat�ria � de evocar realidades futuras com o nome delas. O vidente chega inclusive a uma minuciosa descri��o de certas atitudes t�picas do ditador, evidenciando entre outras

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coisas a delirante agita��o orat�ria: chama-o de "raivosa l�ngua" e "vencedor ensang�entado que arenga". Mas n�o s�o subestimadas, no afresco vision�rio das Cent�rias, outras surpreendentes antecipa��es: da Revolu��o Francesa (em especial, uma aut�ntica e adequada cr�nica da fuga de Varennes), da subida ao poder de Napole�o ("mais carniceiro do que pr�ncipe"), da execu��o de Mussolini e de seus hierarcas (o "negro feroz", com os seus "penduricalhos no pesco�o e nos p�s"), das duas guerras mundiais, do comunismo (a "foice") e da queda do muro de Berlim,

das infind�veis tens�es entre a civiliza��o isl�mica e a ocidental, citando exatamente no processo com a sua sigla hist�rica (UAR) a Rep�blica �rabe Unida, constitu�da em 1958 por Egito e S�ria.N�o devemos de qualquer modo subestimar o fato de que para a verifica��o de muitas profecias precisou-se esperar s�culos � como no caso das que citamos em rela��o ao nosso tempo �, enquanto para outras o achado foi r�pido. Neste caso inclui-se a previs�o da morte do rei da Fran�a Henrique II, marido de Catarina de Medici, protetora do vidente, que, por suas modalidades singulares e totalmente imprevis�veis, suscitou enorme resson�ncia quando Nostradamus ainda era vivo. Eis o texto:O jovem le�o superar� o velhono campo b�lico em singular duelo.Na jaula de ouro os olhos lhe furar�,duas feridas em um s� golpe, para morrer de morte cruel.Bem, o soberano foi derrotado numa justa pelo jovem Gabriel de Lorcey, conde de Montgomery. Henrique tinha quarenta anos, seu advers�rio, 29.

Ambos traziam no escudo a ins�gnia de um le�o. O rei tinha a cabe�a protegida por um elmo com celada de ouro, que lhe cobria o rosto como as grades de uma jaula. A ponta da lan�a de Montgomery, quebrando-se no impacto, enfiou-se na celada, furando os olhos de Henrique, que antes de

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morrer padeceu de uma dolorosa agonia de dez dias.O epis�dio, t�o minuciosamente descrito por Nostradamus, aconteceu em 30 de junho de 1559, quatro anos ap�s a publica��o do texto prof�tico, inserido na primeira cent�ria. � �poca o vidente, j� popular em toda a Fran�a, tinha 56 anos, tendo nascido em Saint-Remy-de-Provence em 1503, e estava no �pice da sua atividade.

Hermes Trismegisto, representado sobre um mosaico ao domo de Siena, que demonstra a proximidade entre certos mitos pag�os e a tradi��o crist�.As "palavras de poder"A origem judia n�o havia acarretado restri��es ou confiscos para Michel de Nostredame. Al�m do mais, sua fam�lia era composta de m�dicos e not�rios fi�is �s institui��es mon�rquicas e ao culto cat�lico, adotado muitas gera��es atr�s. Ele pr�prio, mesmo sendo deposit�rio de segredos herdados da antiga estirpe de Issacar, uma das mais nobres e ortodoxas tribos de Israel, praticava com respeito e devo��o a nova f�.P�de, portanto, estudar livremente medicina nas universidades de Avignon e Montpellier, distinguindo-se como estudante na luta contra a peste de Lyon. Mas seus sucessos cient�ficos atra�ram a inveja dos outros m�dicos, motivo por que optou por atuar num �mbito mais reservado, dedicando-se � produ��o de f�rmacos prodigiosos para o seu tempo e �s pr�ticas divinat�rias. Contribuiu para a sua retirada do exerc�cio ativo de uma profiss�o muito amada a perda da jovem esposa Adriele e dos filhos, mortos por uma fatal ironia do destino exatamente daquela doen�a que ele havia em tantas ocasi�es derrotado.Nostradamus viajou muito, depois desta fase preliminar da sua vida, e

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hospedou-se em mosteiros nos quais aprofundou seus conhecimentos esot�ricos. Vivenciou o r�gido regulamento mon�stico da abadia de Orval, chamada tamb�m de �urea Vallis, em cuja biblioteca p�de consultar livros essenciais a sua forma��o espiritual. Teve contatos e experi�ncias no mundo isl�mico e no Ocidente, em Veneza, no Egito, na Alemanha e junto a diversas cortes da It�lia, acolhido em todos os lugares com uma defer�ncia e uma disponibilidade que permitem acreditar que ele tenha pertencido a uma ordem inici�tica. Nada se sabe desta misteriosa fraternidade, mas � presum�vel que se enquadrasse naquela rede de rela��es clandestinas entre intelectuais e viajantes interessados � como o alem�o Agrippa von Nettesheim, fundador de uma "comunidade dos magos" com ramifica��es em toda a parte, o ingl�s John Dee, o italiano Giordano Bruno, o su��o Paracelso � na troca de segredos, sobretudo cient�ficos, aprendidos durante suas peregrina��es. N�o se deve, portanto, ignorar que Nostradamus tamb�m tenha pertencido a esse c�rculo de "vener�veis camaradas", a partir do qual se formou posteriormente, no in�cio do s�culo XVII, a sociedade secreta rosa-cruz.O sucesso e a notoriedade do vidente, ap�s a publica��o das primeiras Cent�rias, induziram Catarina de Medici a cham�-lo � corte, em Paris, como m�dico pessoal de seu filho Carlos IX, rei de mente t�o fr�gil quanto sua sa�de f�sica. N�o deixou por isso de perserutar as n�voas do futuro, criando em torno de si mist�rio e estupor, tamb�m em seguida �s curas realizadas mediante a aplica��o de m�todos modernos, sem mistifica��es nem truques.Costuma-se dizer que o segredo mais significativo de Nostradamus

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consistisse na sua capacidade de pronunciar com a entona��o certa as "palavras de poder" aprendidas atrav�s do estudo dos hier�glifos do Egito, durante uma estada no vale das pir�mides. Que n�o se esque�a, de resto, que o vidente foi tamb�m um decifrador perito de alfabetos perdidos, do qual se conhece a familiaridade com os antigos textos (comenta-se que estivera de posse do Almagesto de Ptolomeu) e com as inscri��es rupestres de civiliza��es remotas.Al�m de qualquer conjectura sobre a real ess�ncia de seus poderes, � certo que a vida do "mestre de Salon", assim chamado pelo nome da aldeia proven�al na qual se estabeleceu depois de suas longas andan�as, foi rica de epis�dios espantosos e inexplic�veis, nem sempre documentados atrav�s da inser��o no complexo prof�tico das Cent�rias, e, portanto, lend�rios.Digno de nota entre estes � o encontro, nas imedia��es de P�dua, com um an�nimo padre franciscano, diante do qual o jovem Michel se ajoelhou de repente, como subjugado por um imperativo sobrenatural. O religioso, embara�ado tamb�m pela surpresa dos confrades que haviam assistido � cena, convidou-o a levantar-se com um gesto resoluto, perguntando-lhe por

que se comportava daquele modo; e Nostradamus, sem hesita��o, respondeu com uma pergunta ainda mais espantosa do que aquela inesperada genuflex�o:� N�o deveria talvez me ajoelhar diante daquele que um dia estar� sentado no trono de Pedro?O an�nimo franciscano era de fato Felice Perretti, que dali a algum tempo seria coroado papa, com o nome de Sisto V.Nostradamus n�o viveu o suficiente para poder constatar pessoalmente o

cumprimento desta sua profecia juvenil (em 1585), mas � certo que o papa Perretti ter� recordado, ao ouvir a resposta do conclave, a extravagante previs�o do desconhecido viajante encontrado anos atr�s na bruma da

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plan�cie v�neta."Estando sentado � noite..."De viajante incans�vel, que tinha sido, at� o retiro na aldeia de Salon, o mais popular vidente da fran�a � e se pode bem dizer da Europa � mudou de h�bitos depois de ent�o, confiando o �xito das pr�prias incurs�es no futuro a uma nova pesquisa met�dica, marcada por hor�rios precisos e rituais bem definidos. Tornou-se a partir de ent�o um h�bito cotidiano para ele recolher-se ao escurecer para o seu "secreto estudo", como escreve na abertura da primeira Cent�ria, e ali ficar sentado em solid�o numa cadeira at� o alvorecer, tentando entrever � luz de uma d�bil chama "aquilo em que n�o � v�o crer". Conta ele pr�prio que para evocar a "divina vis�o" se servia de uma vara mantida ereta entre os bra�os � a tradicional vara m�gica, posta au milieu des branches �, enquanto uma aura m�stica

envolvia seu corpo como uma nuvem. Transparecem do seu testemunho interessantes semelhan�as com as pr�ticas sibilinas, em especial as da Pitonisa ou D�lfica, descritas por J�mblico e Diodoro S�culo.Estando � noite em secreto estudoapenas sentado na cadeira de ramosa chama ex�gua que da solid�o cintilafaz dizer aquilo em que n�o � v�o crer.A vara na m�o no meio dos bra�osa bainha da roupa e o p� lambido pela ondamedo e voz vibram ao longo das mangasde esplendor divino. O divino senta-se ao lado.Nostradamus favorecia, al�m disso, o estado de transe indispens�vel para incitar nele a centelha divinat�ria mediante espelhos e braseiros em chamas. Da� se deduz que lhe eram familiares as t�cnicas da antiga catotromancia, como era chamada (do grego k�toptron, espelho, e katoptrik�s, espelhante) a arte de extrair profecias dos brilhos das superf�cies refletivas. Eram utilizados com tal objetivo, desde os tempos

mais remotos, al�m dos espelhos comuns, �s vezes c�ncavos ou convexos,

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cacos de vidro, recipientes de �gua estagnada ou ainda esferas de cristal, predominantes, sobretudo, entre os �rabes. Parece que Nostradamus focalizava as pr�prias vis�es na �gua contida em uma bacia de lat�o, sustentada por um trip� do mesmo metal, mas mantinha aceso ao mesmo

tempo um braseiro, tolerando a sugest�o m�ntica de suas reverbera��es afogueadas. Tudo afinal leva a crer que o seu m�todo divinat�rio pessoal se baseasse numa intera��o entre t�cnicas diversas, entre as quais se contavam � junto � catotromancia tradicional � a hidromancia e a piromancia, al�m naturalmente da astrologia. � ele pr�prio quem fala da exist�ncia de um nexo entre o movimento dos corpos celestes e as coisas por ele vistas "olhando em um espelho ardente".Nostradamus era ajudado nesta sua sistem�tica, mas extenuante pesquisa

por um fiel aprendiz chamado Jean-Ayme de Chavigny, formado tamb�m em medicina na Universidade de Montpellier, autor de mem�rias das quais temos uma descri��o acurada da apar�ncia f�sica do vidente, homem de forte envergadura e rosto suave, marcado por uma expressividade intensa. Tinha, como se evidencia tamb�m pela iconografia, um olhar encorajador, austero mas tendente ao sorriso. O disc�pulo anota, a ins�lita cor cinza-

claro dos olhos, a testa larga, a austeridade da barba bem-cuidada, a s�bria eleg�ncia no vestir, mas tamb�m a tend�ncia � repentina mudan�a de humor em rela��o ao pr�ximo, como acometido por intui��es que transformavam uma cordialidade inicial em manifesta desconfian�a, ou vice-versa.Era, contudo, dotado de uma caracter�stica constante para esquivar-se � influ�ncia dos eventos, capaz de suportar o peso da trag�dia sem sucumbir

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e as lisonjas da gl�ria sem se exaltar. Experimentou estas �ltimas em mais de uma ocasi�o em Salon, para onde aflu�am pr�ncipes e soberanos a fim de render-lhe homenagem, entre os quais os duques de Sav�ia e o pr�prio

Carlos IX. Conta-se que o rei, recebido na cidade por uma delega��o municipal, interrompeu prontamente o orador que lhe fazia um discurso de sauda��o para correr at� o vidente: "Nada de discursos. S� vim por causa de Nostradamus."As "figuras nebulosas"Nesta fase feliz da sua vida, satisfeito nos estudos e venerado pelos poderosos, Michel quis tamb�m resgatar sentimentos perdidos com a morte da primeira mulher e dos filhos. Voltou a casar-se, portanto, aos 45 anos, com uma graciosa vi�va de Salon � Anne Ponsard, dona entre outras coisas de um dote de quatrocentos florins, um capital que veio a incrementar o seu j� minguado patrim�nio �, com a qual teve oito filhos. A um destes, o pequeno C�sar, nascido em 1553, quando j� tinha cinq�enta anos, Nostradamus dedica uma longa carta, atrav�s da qual se dirige com

efeito � posteridade, fornecendo elucida��es sobre as raz�es do modo por ele escolhido para expor as suas profecias. Nela se l� que "os reinos, os partidos e as religi�es sofrer�o mudan�as t�o diametralmente opostas em rela��o ao presente que se eu fosse apontar aquilo que o futuro reservar�, aqueles [os homens do presente] se veriam em desacordo com as suas vis�es e previs�es". Mais adiante o vidente admite ter desejado "retardar com senten�as obscuras e amb�guas a respeito de fatos futuros, tamb�m os mais urgentes, a fim de que as mudan�as humanas aconte�am sem escandalizar a fragilidade do ouvinte". Por isso, acrescenta sem reservas, sua mensagem � "passada atrav�s de figuras nebulosas mais do que nitidamente prof�ticas".

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Det�m-se, pois, sobre a necessidade de levar em conta que "tr�s tempos coexistem na eternidade, sendo a revolu��o [o evoluir dos eventos] subordinada a causas passadas, presentes e futuras".Exprime de tal modo uma moderna concess�o das pr�ticas divinat�rias, sublinhando com toda a clareza crit�rios pr�prios de uma f�sica projetada al�m das barreiras do tempo, segundo o qual o futuro finca ra�zes no passado e, por necess�ria liga��o, no presente.Declara, al�m disso, que as estrofes das suas Cent�rias "cont�m vatic�nios progressivos, deste momento at� o ano 3797". � um dado que nenhum leitor poderia ter colhido de outra maneira, por uma leitura tamb�m profunda do texto, sendo as profecias recolhidas sem nenhuma ordem cronol�gica nem indica��es expl�citas sobre o tempo ao qual se referem.Descobrem-se tamb�m, pela carta ao filho, detalhes relativos aos transes vision�rios do profeta. Para estimul�-los, costumava inalar "arom�ticos efl�vios", queimando incenso no braseiro.A carta, datada de 1�. de mar�o de 1555, � tamb�m uma confirma��o da religiosidade de Nostradamus, que, ao dissertar sobre astrologia e influxos planet�rios, reconduz cada devo��o sua � "onipot�ncia de Deus eterno".Insiste em que tudo prov�m de Deus na seguinte e c�lebre carta, endere�ada tr�s anos depois, em 27 de junho de 1558, a Henrique II, atribuindo ao Esp�rito Santo, entre outras coisas, o papel de supremo inspirador de cada profecia. N�o desmente com isso sua necessidade de recorrer a "c�lculos astron�micos correspondentes aos anos, meses, semanas de regi�es, periferias e da maior parte das cidades de toda a Europa e de parte da �frica e da �sia", mas subordina os resultados de tais c�lculos ao des�gnio divino, n�o ao fato.O novo reino de SaturnoA carta ao rei da Fran�a confirma as preocupa��es que o vidente nutria sobre as possibilidades de que suas profecias fossem interpretadas corretamente, motivo pelo qual se esfor�a para fornecer a chave em arcanos. Para tal objetivo se voltam presumivelmente as contagens sobre a

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evolu��o do g�nero humano atrav�s de eras e patriarcas, aos quais dedica boa parte da mensagem.Mas o que realmente interessa nessa carta � a vis�o escatol�gica de Nostradamus, que coloca a vinda do Anticristo em concomit�ncia com eventos descritos �s vezes de forma herm�tica, segundo o seu estilo, outras vezes claramente. Diz por exemplo que "os arcos constru�dos pelos antigos Marciais [guerreiros] se confundir�o com as ondas�, deixando intuir cataclismos an�logos �queles previstos pelos mais variados apocalipses: inunda��es, terremotos, cidades e restos humanos submersos. Explica,

por�m, em termos totalmente acess�veis, que "no Adri�tico haver� uma profunda disc�rdia, de tal forma que aquilo que estava unido ser� separado, e aquela que antes era uma grande cidade ser� reduzida a uma casa". Dir-

se-ia que o profeta fala da atual situa��o balc�nica, de uma Iugosl�via uma vez unida e agora desintegrada em comunidades hostis entre si, da sangrenta guerra que da� resultou, da trag�dia albanesa e tamb�m dos ventos de secess�o que sopram sobre o territ�rio do Vale do P�. Diz, de fato, que a cidade de Veneza "abre as suas asas", como prestes a voar embora.Neste caldeir�o de disc�rdia deveriam manifestar-se os primeiros sinais dos eventos previstos pelas escrituras apocal�pticas: "Neste per�odo e naquela regi�o o poder infernal levantar� contra a Igreja de Jesus Cristo o poder de todos os que se op�em � sua lei, e ser� o segundo Anticristo!� O primeiro deveria manifestar-se em 1792, como ele diz na mesma carta, no decorrer de um evento "para considerar a renova��o do s�culo" com uma grande persegui��o contra a Igreja crist�. Como realmente aconteceu no �pice da

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Revolu��o Francesa.Tamb�m este inimigo ainda por vir "perseguir� a Igreja e o seu verdadeiro Vig�rio com a ajuda dos reis temporais, seduzidos por causa da sua ignor�ncia por l�nguas mais cortantes que espadas nas m�os do insensato".Especificando que ser� o pr�prio Vig�rio a ser perseguido, Nostradamus deixa entender que o perseguidor, isto �, o Anticristo, se apresentar� usurpando como seu este t�tulo. Refor�a o conceito afirmando, pouco mais adiante, que "o sangue dos verdadeiros eclesi�sticos correr� por toda a

parte".O cen�rio projetado pelo vidente prev�, portanto, a contraposi��o de duas comunidades religiosas e a supremacia da leg�tima. Nisto sua mensagem � n�tida, transparente: haver� mais uma vez o cisma, e o mal assumir� o aspecto do bem, tamb�m gra�as � universalidade das for�as que se enfileiram contra os justos."A persegui��o ao povo eclesi�stico ser� sustentada pelo poder dos reis Aquilon�rios [setentrionais] aliados aos Orientais. Tal persegui��o durar� onze anos, ou pouco menos, a partir do momento em que capitular� o mais forte dos reis Aquilon�rios. Depois disso sobrevir� o seu aliado Meridional, que por� em a��o por tr�s anos uma persegui��o ainda mais dura contra o povo da Igreja, mediante a apostasia pregada pelo detentor do poder absoluto na Igreja militante."Eis, portanto, que ao Evangelho do papa desautorizado estar� sobrepondo-se a palavra do usurpador, sustentado na pr�tica pelos poderosos da terra.

Est� claramente descrita no texto uma aut�ntica e apropriada situa��o de cerceamento ao santo povo de Deus , agredido por inimigos provenientes

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de qualquer ponto cardeal, exceto do Ocidente.Seria por isso a Am�rica o �ltimo ref�gio, como aventam outras profecias sobre os papas, para a Igreja perseguida?Nostradamus n�o deixa entender aquilo que assevera ver, mas diz que "ser� espalhado mais sangue humano de eclesi�sticos inocentes do que vinho". O autor desses estragos ser� "o mais terr�vel rei Aquilon�rio". As m�s a��es deste �ltimo evocam o afresco apocal�ptico de Jo�o e de seus precursores b�blicos:"Correr� como �gua de chuva torrencial o sangue nos templos e nas vias p�blicas, v�o se avermelhar os rios mais pr�ximos [n�o � dito por causa de qu�, mas � evidente que Nostradamus pretende referir-se a um lugar espec�fico] e o mar se tingir� de vermelho por causa de uma guerra naval."� devasta��o v�o se sobrepor epidemias irresist�veis, escassez e "afli��es t�o grandes jamais acontecidas desde o tempo da funda��o da Igreja

crist�". O mundo ser� reduzido a um estado de primitiva desola��o e "ser� novamente destru�do pelo paganismo o Sancta Sanctorum [Roma?], enquanto o Novo e o Antigo Testamento ser�o queimados", mas a dura��o deste reino infernal ser� relativamente breve, segundo Nostradamus, pois

"n�o durar� mais que a morte natural" do Anticristo.A guerra entre as for�as do bem e do mal n�o deveriam, portanto, prolongar-se al�m de 25 anos. O vidente o diz explicitamente, determinando que em tal faixa de tempo "o pr�ncipe infernal reinar� pela �ltima vez". Ser�o anos terr�veis, no decorrer dos quais "tremer�o tanto os reinos da cristandade quanto os dos infi�is (...) e ocorrer�o espantosas guerras e batalhas, e casas queimadas, saqueadas, destru�das com grande

derramamento de sangue virginal, esposas e vi�vas violentadas, rec�m-

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nascidos arremessados para se arrebentarem contra os muros derrubados das cidades, e se cometer�o tantas daquelas atrocidades por meio de Satan�s que quase todo o mundo ser� desfeito e devastado".Aqui Nostradamus insere a profecia universalmente considerada como uma

antecipa��o da moderna guerra a�rea. Tal ru�na, escreve de fato, ser� precedida pela passagem de "ins�litos p�ssaros" que gritar�o no ar huy huy, como se viu, para desaparecer logo em seguida. � dif�cil n�o reconhecer no sibilo e na velocidade desses monstros alados as caracter�sticas dos atuais jatos de combate.O resto da profecia repete em termos ortodoxos, se bem que permeado de refer�ncias astrol�gicas, a tradi��o escatol�gica das Escrituras, refor�ando a perspectiva salvadora. Depois dos estragos e devasta��es "ser� restabelecido um outro reino de Saturno e s�culo de ouro: Deus Criador dir�, ouvindo a afli��o do seu povo, que Satan�s seja enviado no abismo da voragem, na fossa profunda�. Isso est� escrito nos textos sacros, especifica Nostradamus, mas tamb�m "nas coisas celestes vis�veis, ou seja, Saturno, J�piter, Marte e os outros planetas em conjunto".O fim de Nova York� dif�cil estabelecer, entre as tantas estrofes de fundo catastr�fico das Cent�rias, quais se referem efetivamente a uma hip�tese de fim do mundo e quais fazem parte, em vez disso, da normal sucess�o de calamidades e guerras. As estrofes comumente interpretadas como premonit�rias da destrui��o de Nova York fazem pensar em algo muito similar a um desastre final. Numa delas se l� que "o fogo arder� a 45� [s�o graus de latitude, correspondentes, com uma aproxima��o m�nima, � posi��o geogr�fica de Nova York] avizinhando-se da grande cidade nova e num segundo explodir� em grande chama espalhada". Em uma outra � citada uma

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"grande cidade sobre o oceano mar�timo circundada por p�ntanos de cristal no solst�cio invernal e da primavera", e esta � uma particularidade das

�guas estagnadas que circundam Nova York, tornadas similares a extens�es de cristal do gelo invernal e do degelo primaveril. Naqueles meses a cidade

"ser� sacudida por um vento assustador", no qual diversos leitores entreviram uma premoni��o do fim nuclear.Um sinal da aproxima��o da guerra final pode tamb�m ser entrevisto, segundo certos exegetas, na estrofe em que se fala da guerra do "grande muro". A refer�ncia a Berlim parece manifesta, tamb�m pela alus�o a certas "nostalgias" provocadas pela liquida��o hist�rica do marxismo, "posto � morte demasiado r�pido":Antes do conflito o grande muro cair�:o grande [ser� posto] � morte demasiado r�pido e pranteado.Nave imperfeita: a maior parte nadar�.Junto ao rio a terra se tingir� de sangue.

Se o muro de que se fala � realmente o de Berlim, a nave imperfeita poderia ser o comunismo, que envolveu muitos homens no seu naufr�gio, obrigando-os a nadar com as pr�prias for�as que lhes restavam para n�o se afogarem. Mas poderia tamb�m tratar-se da ONU (ou de qualquer modo da sociedade internacional), incapaz de administrar as tens�es geradas pela ruptura do equil�brio entre os dois blocos.Cabem no contexto da guerra temida como, pre�mbulo do fim do mundo, � mas leg�veis tamb�m � parte, como profecias totalmente aut�nomas � as estrofes que indicam na expans�o isl�mica talvez o fator principal da desestabiliza��o mundial, com alus�es �s vezes expl�citas � amea�a integrista.Poderia referir-se ao surgimento desta �ltima a estrofe (X, 72, j� citada)

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que assinala o advento de "um grande rei do terror" a partir de julho de 1999. A id�nticas conclus�es, ali�s, pareceriam conduzir os versos que descrevem o Egito "tremente pelo incremento maometano" (II, 86) ou a captura do rei do Marrocos "em nome dos �rabes"." � evidente em ambos os casos a alus�o ao agravamento das atuais lacera��es no interior do mundo isl�mico, com refer�ncia espec�fica ao crescimento do fundamentalismo, dedicado a aterrorizar e abater aqueles que a ele se op�em� como os governos do Cairo e de Rabat � com uma guerra de exterm�nio entre f�s contrapostas.Para a queda do rei do Marrocos o texto indica tamb�m uma data em c�digo, que dir-se-ia muito pr�xima do ano 2000. Nostradamus fala, de fato, do "ano 1607 da Liturgia", que deveria ser calculado fazendo interromper a contagem da segunda metade do s�culo IV, assinalada pela

fixa��o definitiva das regras cat�licas (Liturgia, literalmente "servi�o" tanto em favor quanto por parte do povo) em contraposi��o �s heresias em expans�o. Mas por Liturgia, visto que se fala de quest�o isl�mica, o

vidente teria podido tamb�m entender a H�gira, isto �, o evento que

assinala o in�cio da era mu�ulmana, cujo calend�rio � computado a partir de 16 de julho de 622, data da fuga de Maom� (H�gira significa exatamente isto: emigra��o) de Medina para Meca. Neste caso, a profecia deveria consumar-se em 2229.

O Ataque do Grande CameloReconduzem ao mesmo cen�rio de cruzada isl�mica contempor�nea as estrofes que assinalam desembarques l�bios nas costas do Adri�tico, terror em Malta e pilhagens nas ilhas vizinhas (I, 9), uma maci�a infiltra��o

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maometana na Fran�a (I, 18) e o irromper sobre os B�lc�s de hordas

dirigidas a dar de beber "ao Grande Camelo" no Dan�bio e no Reno (V, 68).Esta invas�o poderia tamb�m ser entendida em sentido de migra��o �tnica, como aconteceu h� tempos na Fran�a e mais recentemente na It�lia. � sintom�tico que em outra estrofe seja dito: "os �rabes ser�o aliados dos polacos". Se relacionada ao nosso tempo, a profecia poderia ter a ver com a

conflu�ncia para o cora��o da Europa de massas desestabilizadas, provenientes tanto dos pa�ses do Leste quanto do mundo isl�mico. Mas o vidente fala tamb�m de sangue derramado em grande quantidade sobre a

terra, no Sena e no mar, de popula��es vacilantes e de uma batalha junto aos Alpes, na qual o Galo (isto �, a Fran�a, aliada a outros estados europeus) derrotar� o invasor. Pareceria, portanto, redundante circunscrever este conflito de civiliza��es �s tens�es determinadas por uma dif�cil conviv�ncia.Cabe no mesmo floril�gio apocal�ptico a crua perspectiva das persegui��es a que ser�o submetidas, no curso dessa que parece em certos aspectos uma guerra de conquista e, em outros, um �xodo destinado a subverter o assentamento etnol�gico do planeta, as comunidades de religi�o cat�lica ou hebraica. Nostradamus fala de viol�ncias, devasta��es e pilhagens dos "grandes templos". E ainda uma vez transparece de suas palavras uma acurada preocupa��o com a sorte do seu povo original:A Sinagoga est�ril sem mais nenhum frutoser� recebida entre os infi�is.A filha do perseguido da Babil�niamiser�vel e triste lhe cortar� as asas.Aqui o vidente prev� uma tal derrota para Israel a ponto de p�r a Sinagoga,

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agora "est�ril e sem frutos", � merc� dos infi�is, que a absorver�o em seu pr�prio seio. Mais uma vez, como na mais pura tradi��o apocal�ptica, fala-se da Babil�nia, que neste caso n�o � mais apenas um s�mbolo, mas poderia de fato indicar a bacia do Tigre e do Eufrates, onde encontra sustenta��o e for�a a amea�a de um povo miser�vel e infeliz (talvez os palestinos), decidido a "cortar as asas" de Israel.Esta eventualidade � ilustrada em outra parte por Nostradamus em termos estrat�gicos de uma extrema modernidade: chegado "� sua �ltima m�o", o ex�rcito de Alus (ou seja, Saul, como se disse) n�o poder� mais defender-se por mar. Ser�, ao mesmo tempo, amea�ado por um golpe militar urdido "entre dois rios" (ainda uma alus�o a Bagd�, banhada pelo Tigre e o Eufrates) e posto em crise pelo "negro irado", isto �, pelo �rabe.Na sua �ltima m�o o sanguin�rio Sauln�o poder� mais proteger-se por mar:entre dois rios cair� por m�o militar,o negro irado o far� arrepender-se.Uma alus�o � "cidade banhada pelos dois rios" retorna ainda em uma estrofe dirigida como uma advert�ncia ao papa:Romano pont�fice acautela-te ao te aproximarda cidade banhada por dois rios.L� cuspir�s teu sangue,Tu e os teus quando florir a rosa.A profecia parece subentender a d�vida de que eventuais media��es de paz por parte do pont�fice possam de qualquer modo favorecer o advers�rio. Se esta � a chave certa de leitura, � preciso deduzir que pretende resguardar o chefe da cristandade de mostrar-se solid�rio demais com seus tradicionais inimigos. Poderiam resultar disso problemas t�o s�rios a ponto de ele correr o risco de "cuspir sangue".

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N�o atrav�s de negocia��es, mas contrapondo a for�a � for�a, este trabalho de povos poder� enfim abrandar-se mediante a interven��o de "falanges de ouro, de azul e de vermelho�. Tais ex�rcitos, cujas ins�gnias recordam as cores dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Fran�a, conseguir�o "subjugar a �frica e ro�-la at� o osso". � uma imagem cruel, que deixa intuir um indigno desfrute se projetando nos s�culos.Piedade por quem tem fomeNostradamus est� sempre atento aos sofrimentos dos povos, pelos quais mostra uma sincera piedade, como quando descreve a "grande escassez" que dizimar� as pessoas de boa parte do planeta. Dizimar�, quando? Na estrofe se pode colher uma refer�ncia ao atual e desolador drama do Terceiro Mundo, mas tamb�m uma alus�o mais geral � fome eterna das na��es menos desenvolvidas.A grande escassez que sinto aproximar-sevir� mais vezes para depois tornar-se universal,t�o grande e longa que se ver� arrancaras ra�zes do bosque e o beb� da teta da m�e.Junto � escassez, entre as pragas de um futuro que parece sempre mais identific�vel neste fim de mil�nio, Nostradamus simplesmente previu uma horrenda doen�a epid�mica. A particularidade da profecia, articulada sobre duas estrofes diferentes, e que esta moderna pestil�ncia deveria insurgir � ou ser insurgida, caso se trate da Aids, como a maioria tende a interpretar � a vig�lia do grande conflito final, para ser depois debelada definitivamente ao seu cumprimento, quando a humanidade sobrevivente "far� renascer o seu sangue da antiga urna". E eis as duas estrofes fatais:Um ano depois da horr�vel guerra que se prepara para o Ocidentevir� uma pestil�ncia t�o forte e assustadoraque [n�o se salvar�] jovem, velho nem animal.Sangue, fogo, Merc�rio, Marte, J�piter na Fran�a.Nascido sob as sombras de jornada noturna estar� no reino da bondade soberana:far� renascer o seu sangue da antiga urna

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renovando o s�culo de ouro do bronze.Torna-se totalmente evidente, na sucess�o das duas estrofes, a inten��o de estabelecer uma concatena��o, como em cada apocalipse, entre expia��o tr�gica (guerra, sangue, terror, doen�a) e regenera��o.Morrer "no lugar de sempre"Nostradamus previu de modo detalhado sua pr�pria morte. Escreve de pr�prio punho, no �ltimo dos Press�gios, que seria encontrado "no lugar de sempre" depois de ter "ido a Deus":... encontrado morto junto ao leito e o bancopelos parentes mais pr�ximos, amigos, irm�os de sangue.Assim, em sua mesa de trabalho, junto ao leito, ao alvorecer de 2 de julho de 1566, o corpo inanimado de Michel de Nostredame foi encontrado pela mulher Anne Ponsard e pelo fiel Chavigny, disc�pulo e amigo, ligado ao

mestre por v�nculos de estreita irmandade.Deixou para a posteridade uma advert�ncia muito similar �quela feita por Jo�o do seu Apocalipse, convidando qualquer um a ler os seus vers�culos e ponder�-los "com reflex�o", punindo com a maldi��o do c�u quem fosse regulado de outra maneira:Quem ler estes vers�culos que os pondere com a devida reflex�o.Que fique longe o vulgo profano e ignorante.N�o vos aproximeis de astr�logos charlat�es, tolos e b�rbaros.Maldito seja pelo c�u quem se comportar diferentemente.

O Destino dos FilhosDir-se-ia que o primeiro a arcar com os custos dessa maldi��o tenha sido um dos oito filhos de Nostradamus, o desafortunado Michel, que, tentado talvez pelo orgulho de ter o mesmo nome do pai, quis imitar-lhe a fama, dedicando-se superficialmente e com m�-f� � arte prof�tica.Carente da prud�ncia e dos dons paternos, o jovem Michel se deixou levar por predi��es facilmente intelig�veis, sem recorrer a formula��es herm�ticas, vendo-se assim privado de justificativas perante a frustrada consuma��o delas. Cometeu, al�m disso, o erro de divulgar profecias

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de interesse contingente e imediato, que, n�o se consumando, o expuseram ao rid�culo.Assim, desconfortado e desacreditado publicamente pelo insucesso recorrente de seus vatic�mos, o incauto Michel recorreu a um detest�vel expediente. Prenunciou o inc�ndio de Pouzin, cidadezinha do Vivarais assediada pelas tropas reais, e tentou ele pr�prio provocar o sinistro durante a noite.Foi descoberto por uma ronda enquanto ateava fogo nas casas da periferia, pateticamente certo de que a consuma��o do inc�ndio lhe valeria grande prest�gio. Capturado e julgado sumariamente, foi condenado a um fim t�o infamante quanto atroz, que consistia em ficar amarrado ao solo e pisoteado por cavalos enfurecidos.Assim morreu, sob a indiferen�a dos cronistas, envergonhando o grande nome que levava, Michel de Nostredame, filho, por vaidade e mal-intencionada imita��o paterna, em 1567, um ano apenas depois da morte do pai.Diferente foi a sorte dos outros sete filhos, que, gra�as tamb�m �s riquezas deixadas pelo pai, estimadas em trinta mil escudos de ouro, al�m de credenciais de grande valor junto aos poderosos da Fran�a, tiveram uma vida respeit�vel e abastada.O mais feliz foi C�sar, filho predileto do vidente e por isso mesmo instru�do pelo pai a conscientizar-se de que a maior gra�a que um homem pode esperar � aquela de n�o conhecer o pr�prio futuro.Foi por isso que C�sar, removida qualquer curiosidade sobre a dura��o do seu destino e sobre a dos outros, viveu uma exist�ncia serena e culta.Nostradamus teve com Anne Ponsard quatro filhos homens e quatro mulheres. Os homens foram C�sar, Michel, Charles e Andr�, que se tornou capuchinho. As mulheres foram Jeanne e Madeleine, que desposaram nobres de Salon, e Anne e Diane, que continuaram solteiras.

O bem estar derivado das riquezas paternas permitiu-lhe dedicar-se ao estu-

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do da hist�ria, da poesia, da pintura, sem deixar de cultivar as rela��es sociais adequadas ao seu n�vel elevado, j� que foi c�nsul de Salon. Tal como o pai, ganhou a estima do rei, apesar da sucess�o das dinastias e do

fim dos Valois, protetores de Nostradamus. O novo rei Lu�s XIII o tratou

com simpatia e defer�ncia, conferindo-lhe a honraria de gentilhomme ordinaire da C�mara. Para c�mulo da sorte, foi tamb�m feliz no amor, pelo pouco que se sabe do seu bem-sucedido matrim�nio com Claire de Grignan, donzela da corte.Nos p�los extremos desses destinos � na trag�dia do estouvado Michel e no sucesso de C�sar �, reside talvez o ensinamento mais concreto e humano que se pode aprender do acontecimento humano que foi Nostradamus.

19 - A grande ilus�o renascentista

Tamb�m o exerc�cio da arte prof�tica, como cada manifesta��o do pensamento, ressentiu-se do grande processo evolutivo renascentista, tendente a estabelecer as bases para uma renovada concess�o do saber universal. O crit�rio dominante, por parte daqueles que haviam fixado as

novas regras da pesquisa cient�fica e filos�fica, foi o de entender o conhecimento como s�ntese das mat�rias mais disparatadas, de modo a constituir para o intelectual renascentista � para o cientista tal como para o artista e o literato � um patrim�nio abrangente de no��es de qualquer g�nero, de ordem naturalista e metaf�sica ao mesmo tempo, m�dico

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e filos�fico, matem�tico e liter�rio, alqu�mico e religioso.N�o eram mais apenas os astr�logos e os adivinhos, portanto, a difundir profecias, mas sim s�bios destinados a exceder em muitos outros campos

do saber, m�dicos e naturalistas como o grande Paracelso, fil�sofos como Marsilio Ficino e Giordano Bruno, artistas e inventores da estatura de um Leonardo, polemistas animados como Savonarola por uma f� impetuosa e reformadores empenhados, como Lutero, a desordenar os cen�rios da cristandade ocidental.Paracelso entre super-homem e homunculusUm dos mais singulares e completos protagonistas dessa grande saga do engenho humano � desse fervor intelectual destinado a produzir uma vis�o totalmente nova do mundo � foi o su��o Teofrasto Bombast von Hohenheim, dito Paracelso, m�dico e filho de m�dico, instru�do pelo pai na profiss�o e depois laureado na Universidade de Basil�ia. Mas, al�m de estudar medicina e filosofia, o jovem Hohenheim dedicou-se � alquimia sob a orienta��o do abade Trit�mio � um dos mais eruditos ocultistas do seu tempo � e ao estudo dos metais. Aperfei�oou tais conhecimentos trabalhando por conta de um an�malo alquimista rico dos c�rculos de Trit�mio, um tal Fugger, propriet�rio de bancos e minas, que lhe permitiu efetuar um estudo aprofundado do mundo mineral junto a algumas cavernas

rochosas no Tirol.

O abade Trit�nio, mestre de Paracelso, no estudo das ci�ncias secretas.

Desse entremeado de disciplinas aparentemente t�o distantes surgiram as

premissas para a moderna medicina homeop�tica, pois Paracelso, elaborando uma complexa teoria sobre a "interse��o do organismo humano

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com o universo", chega � conclus�o de que o similar se cura com o similar. Dela derivam novos sistemas de cura, baseados no uso terap�utico das subst�ncias minerais e de outros produtos naturais.A teoria de Paracelso n�o estava totalmente isenta de sugest�es m�gicas, baseando-se na convic��o de que pudesse substituir uma correspond�ncia direta entre o macro e o microcosmo, isto �, entre o universo e o corpo humano, mas, em subst�ncia, prevalece um interesse experimental que levou a resultados de grande import�ncia cient�fica, como a primeira intui��o da exist�ncia de uma rela��o de causalidade entre germes e doen�as.

Paracelso, profeta e m�dico, previa a crise ecol�gica e a desorienta��o social no mundo moderno.� evidente que essas novas teorias n�o deixariam de esbarrar na medicina oficial, sustentada pelas fac��es mais retr�gradas do clero, tanto cat�lico quanto luterano, temerosos quanto �s implica��es teol�gicas da filosofia natural proposta por Paracelso, a qual estabelecia como pre�mbulo da sua pesquisa cient�fica uma n�tida distin��o entre revela��o divina e � como a definiu nos seus Serm�es � revela��o natural, sustentando que para obter esta �ltima cada um deve agir por iniciativa pr�pria, atrav�s da observa��o direta dos fen�menos e da experimenta��o.Contribuir�, pois, para torn�-lo suspeito de heresia o fato de que, ao expor sua doutrina sobre a rela��o entre o universo e o corpo humano, ele se

aventurava em perigosas considera��es sobre a alma e sobre suas correspond�ncias astrais.O ressentimento acad�mico e a preven��o eclesi�stica s�o aumentados por

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sua decis�o de dar aulas em l�ngua vulgar, em vez de latim, na Universidade de Basil�ia, para onde foi chamado a lecionar, com pouco mais de trinta anos, em 1526. As tens�es se exacerbaram quando contestou as teorias m�dicas de Galeno e Avicena, chegando ao exagero de queimar publicamente as obras de ambos. Isso deu um pretexto a seus detratores para for��-lo a deixar Basil�ia.Seguiram-se anos de lend�rias peregrina��es, que o levaram a atravessar a Europa de um extremo a outro � aclamado e seguido, venerado �s vezes como um santo �, e a deslocar-se at� a �frica e a �sia em busca daquilo que definia como o �rqueo e a quintess�ncia, isto �, os primeiros ativos da exist�ncia, dos quais brota a vida.Foram-lhe atribu�das curas miraculosas, operadas mediante rituais de "simpatia", ou seja, tendentes a transferir a doen�a de um enfermo para um animal, uma planta ou outro organismo vivo. � certo que percebeu primeiro a exig�ncia � s� levada a s�rio pela medicina oficial no in�cio do s�culo XIX � de combater a dor f�sica, al�m do mal, mediante o uso anest�sico do �ter e de p�lulas de l�udano, por ele mesmo confeccionadas e ministradas com �xito extraordin�rio, n�o obstante o sarcasmo dos outros doutores, para os quais n�o passavam de "esterco de rato". Mas os seus prod�gios mais inquietantes aconteceriam durante experimentos tendentes a reproduzir in vitro a vida biol�gica. De fato est� associada ao seu nome a tentativa de gerar o homunculus, m�tica criatura de imita��o humana que no imagin�rio renascentista pareceria antecipar uma id�ia de fecunda��o artificial. Ainda que, em subst�ncia, n�o tenha se tratado de nada mais,

para m�dicos e ocultistas, que o sonho v�o de imitar Deus.Nesta �tica de super-homem se estabelecem as suas profecias, atrav�s d

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as quais se esfor�a, sobretudo, para p�r em guarda a humanidade futura, contra o mau uso da ci�ncia. � fortemente pol�mico, nestas predi��es, em rela��o "�queles que ferem o sol" ou que definitivamente "envergam as roupas do sol". � evidente a refer�ncia ao uso impr�prio das energias naturais, agravado pela tentativa de us�-las por ambi��o, vaidade e orgulho.Para os cientistas que tentar�o no futuro servir-se do sol para fins de poder, Paracelso prev� um ruinoso destino: "O sol � vida, mas nas m�os dos homens se tornar� morte."N�o ser� apenas a gest�o irrespons�vel da ci�ncia, contudo, a gerar um difuso mal-estar na humanidade. Paracelso preconiza para os s�culos vindouros convuls�o social, �nsia e desorienta��o: "Todos correr�o. (...) Haver� cabe�as demais a buscar vantagem pr�pria, e o justo ser� exclu�do."� cr�tico em rela��o aos confrontos do sistema democr�tico de governo, ao qual atribui a responsabilidade pela degrada��o geral: "Muitas cabe�as governar�o, e ningu�m se dar� conta de que s� uma deveria governar." Vir�, por�m, um "novo tempo" em que a ordem ser� restabelecida com m�todos fortes: "Cabe�as demais cair�o. (...) Uma s� ser� a cabe�a, uma s� a espada."Ser� necess�rio destruir "para nos tornarmos adultos". E somente crescendo, paradoxalmente, o homem encontrar� "a civilidade da inf�ncia". Somente crescendo poder� "voltar a viver como as crian�as, que n�o conhecem ast�cia nem logro". Le�es ferozes e rugentes se tornar�o mansos e doces como crian�as, e tamb�m os s�bios poder�o redimensionar sua erudi��o, pois finalmente a humanidade "compreender� que o gr

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ande saber n�o traz paz, mas sim agita��o".Para a mensagem que tentam transmitir ao homem contempor�neo, as profecias de Paracelso s�o de fato um corol�rio cort�s das suas pesquisas sobre o mist�rio das for�as naturais atuantes.Seus estudos sobre mecanismos da exist�ncia biol�gica se estenderam al�m de cada limiar de credibilidade cient�fica, indo atr�s de ilus�es que parecem concretizar-se na faculdade de dominar o pr�prio destino ao ponto de mudar de sexo. Ap�s sua morte, foi encontrado em seu corpo uma esp�cie de hermafroditismo que, se procurado intencionalmente por ele pr�prio, permitiria supor sua vontade de verificar em si mesmo a perfei��o original do estado paradis�aco primordial. Uma tentativa de deflorar a imortalidade atrav�s do arrepio da cria��o, que, por�m, n�o vale para assegurar-lhe a longevidade.Paracelso morreu aos 47 anos, em 1541, em Salzburgo, onde havia finalmente encontrado prote��o, depois de tanto perambular, junto �

diocese de um bispo progressista genuinamente interessado no seu saber. Quis deixar no epit�fio ditado para o pr�prio t�mulo um claro sinal da sua convic��o de que vida e morte nada mais s�o que dois momentos de uma mesma opera��o. Est� escrito em sua l�pide no cemit�rio de S�o Sebasti�o, em Salzburgo:Anno MDXLI die XXIII septembrisVitam cum morte mutavit."Em 23 de setembro do ano 1541 transformou a vida em morte."

Marsilio Ficino e a c�pula do mundoA pressa em conciliar magia e religi�o, ou ainda, mais especificamente, a

especula��o filos�fica com os princ�pios fundamentais da doutrina crist�, foi o centro do humanismo renascentista. Torna-se particularmente intensa nos c�rculos neoplat�nicos florentinos, e em especial entre os membros

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da academia formados por volta de 1470 em torno de Marsilio Ficino, promotor da discuss�o sobre a natureza divina do homem, gra�as � qual este �ltimo estaria em condi��es de conhecer Deus e de elevar-se at� Ele.Para demonstr�-lo, o fil�sofo se valeu de alguns princ�pios fundamentais da doutrina plat�nica, sustentando que a alma do homem, por sua natureza, n�o pode sen�o voltar � mesma fonte da qual emanou, isto �, Deus. Da�, derivaram estranhas tentativas de individualizar uma precisa coloca��o da alma na ordem natural das coisas, situando-a em posi��o intermedi�ria entre Deus e a mat�ria. � reconhecido o seu papel de c�pula do mundo, isto �, liga��o, momento de uni�o entre a realidade do infinito � do qual participava enquanto imortal � e a realidade finita da natureza ou do fato.

Enobreceu-a, por fim, atribuindo-lhe um desejo de beleza que era desejo de

bem, animado pela for�a inesgot�vel de um amor voltado � conjun��o com Deus.Livres sobre esta base da suspeita de cultivar voca��es her�ticas, os

neoplat�nicos tiveram uma liberdade relativamente ampla (com algumas exce��es, como no caso de Pico della Mirandola, pela sua tentativa de

conciliar a Cabala hebraica com a teologia crist�) para aventurar-se pelos

profundos meandros do hermetismo, apropriando-se de um conhecimento em torno do qual giravam os s�mbolos da alquimia e da adivinha��o.Marsilio Ficino contribuiu decisivamente para isso traduzindo do grego o Corpus hermeticum, um conjunto de dezessete tratados de natureza inici�tica, que comunicava segredos m�gicos e oraculares em forma de

di�logo entre o adepto e a divindade. Tratava-se de escritos em que era evidente a influencia da religi�o eg�pcia tardia, atribu�dos pela fanta

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sia popular ao m�tico Hermes Trismegisto, fundador de todas as religi�es, mas na realidade redigidos nos dois ou tr�s primeiros s�culos depois de Cristo.Os ensinamentos contidos no Corpo herm�tico s�o, com freq��ncia, formulados de modo prof�tico. Exerceram por isso sobre os neoplat�nicos � e sobre os fil�sofos renascentistas em geral � uma influ�ncia voltada a alimentar a sensibilidade para as antigas pr�ticas divinat�rias, que foram, portanto, bastante comuns entre os intelectuais da �poca.Os s�mbolos presentes no texto evocam, em certa medida, a linguagem apocal�ptica, mas as predi��es s�o na maioria acess�veis em seu significado real, que parece �s vezes de uma extraordin�ria simplicidade (e atualidade, para as refer�ncias � decad�ncia do mundo contempor�neo em termos humanos e ecol�gicos).Nele se l� que o "o homem envenenar� a terra, as �guas, a atmosfera" e a essa altura "ter� envenenado tamb�m seu cora��o". Deste cora��o �rido n�o jorrar�o mais sentimentos vitais, e ent�o "ter� in�cio, por falta de amor, a agonia do mundo".De nada servir�o os grandes poderes conquistados pelo homem sobre a natureza mediante o progresso tecnol�gico, pois justamente "quando tiver dominado a terra e escalado o c�u, quando estar� imerso nos abismos marinhos, quando acreditar� ter derrotado o tempo, o tempo se abater�

sobre ele".O discurso se torna aqui escatol�gico, seja no que concerne aos s�mbolos, familiares � religi�o crist�, seja pelos eventos enunciados: "No c�u uma mulher com a cabe�a coroada por doze estrelas indicar� o sol. Sobre a terra

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o terror apertar� os cora��es, enquanto na cidade entre os dois rios o

homem dos dois nomes assistir� ao tormento de dois m�rtires. O senhor das trevas se apresentar� na apar�ncia da luz. Vir� uma cruz gamada para ensang�entar o mundo. Uma foice ceifar� v�timas e um martelo as esmagar�, at� um toque de trombeta anunciar o s�timo dia, para a ressurrei��o dos mortos.�A cruz gamada � o signo do Anticristo, emblema de um satanismo hoje difundido em n�veis grosseiros de popularidade. Era assim nos primeiros

s�culos da era crist�, quando a profecia foi formulada, e o � at� hoje. A foice e o martelo, cujo valor simb�lico atual n�o � o das origens, suscitam em vez disso o estupor. E mais uma vez ocorre a alus�o � cidade entre os dois rios, que Nostradamus tamb�m cita nas suas Cent�rias, referindo-se provavelmente a Bagd�. De novo se alude, por�m, ao homem dos dois

nomes que, segundo alguns exegetas, poderia ser um papa, que assiste impotente ao mart�rio dos seus fi�is.Por que exatamente em Bagd�?A quest�o fica sem resposta nas condi��es atuais, mas � digno de nota que justamente em uma estrofe de Nostradamus se leia a advert�ncia ao "pont�fice romano" para que fique longe da cidade dos dois rios se n�o quiser "cuspir sangue", ele e sua gente.O v�rus de LeonardoA fama de alguns grandes personagens do Renascimento nos seus respectivos campos de atividade foi tal que fez passar para segundo plano, muitas outras particularidades do seu intelecto, inclusive certos lampejos de vid�ncia expressos, �s vezes, com surpreendente precis�o, outras vezes em forma enigm�tica, � maneira daqueles profetas que preferiram ocultar atr�s de um v�u herm�tico o significado daquilo que tinham visto. Mais que uma aut�ntica voca��o prof�tica, portanto, suas predi��es

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vieram a ser atribu�das a geniais intui��es, talvez devidas � premoni��o pr�pria de uma sensibilidade cultural superior.Certamente Leonardo da Vinci foi dotado de uma predisposi��o natural para direcionar ao futuro a sua pr�pria curiosidade, ele foi autor de profecias distribu�das nos seus c�digos, que representam de algum modo a vertente vision�ria de um g�nio que simplesmente havia tentado traduzir na pr�tica � mediante inven��es pouco vi�veis, por�m, como as m�quinas voadoras � os pr�prios est�mulos criativos.Trata-se de aforismos e senten�as sobre eventos futuros, nem sempre decifr�veis. Em certos casos o significado � claro, expl�cito: "Uma cruel doen�a vir� aos homens, que com as pr�prias unhas dilaceram as suas carnes." N�o h� met�fora, � tudo muito simples: entende-se que haver� uma tremenda epidemia, sem que se saiba onde nem quando, e � tudo. Lemos em outro lugar que "sair�o da terra animais vestidos de treva, os quais [...] atacar�o a gera��o humana que, com ferozes mordidas e mistura de sangue, ser� por eles devorada�. Aqui h� met�fora. Estes animais que v�m de fora da terra para exterminar a humanidade representam algo diferente daquilo que a imagem sugere. Poderia se tratar de germes, ainda mais porque vestidos de treva, isto �, invis�veis. Mas � apenas uma conjectura. O significado fica obscuro.Do mesmo modo, fica claro quando ele diz: "Vejo de novo Cristo vendido e

crucificado, e martirizado os seus santos." Evidentemente, anuncia aqui novas persegui��es para a Igreja, que no futuro � como este �ltimo s�culo mostrou � n�o faltar�o. N�o se entende a que se refere quando diz: "Corpos sem alma mover-se-�o por si mesmos, e levar�o consigo incont�veis gera��es de mortos, tomando as riquezas dos circunstantes viventes."

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� uma cena de filme de terror, interpretada por zumbis que roubam os vivos. Mas esta imagem dos vivos perseguidos pelos mortos retorna mais vezes nas senten�as de Leonardo:"Muitos mortos se mover�o com f�ria e pilhar�o e amarrar�o os vivos.""Ver-se-� os mortos carregarem os vivos em diversas partes.""Homens sair�o das sepulturas transformados em p�ssaros e atacar�o os outros homens tomando-lhes o alimento das pr�prias m�os � mesa."Tudo isso � leg�vel talvez como uma alegoria do remorso. A lembran�a dos mortos ata os homens, os arrasta para longe das moradas tranq�ilas, tira-lhes a vontade de se alimentar.Retorna a hip�tese de um v�rus letal em mais uma senten�a obscura: "Escorrer� pelo ar a nefanda esp�cie vol�til, a qual atacar� os homens e os animais, e daqueles se alimentar� com grande alarde: encher� seus ventres de vermelho-sangue." A profecia pareceria referir-se de modo particular � guerra bacteriol�gica e � natureza vol�til dos venenos espalhados pelas armas qu�micas, destinados a golpear indistintamente homens e animais. O que poderia tamb�m valer como alus�o �s conseq��ncias de um apocalipse ecol�gico.A este �ltimo, por outro lado, Leonardo parece querer referir-se em mais pontos:"Ver-se-� as plantas ficarem sem folhas e os rios interromperem seus cursos [...] e as maiores �rvores das selvas serem carregadas pelo furor dos ventos do oriente ao ocidente.�"As �rvores e os arbustos das grandes selvas se converter�o em cinzas.""Os animais aqu�ticos morrer�o nas �guas ferventes.""Ao final a terra ficar� vermelha pela fogueira de muitos dias, e as pedras

se converter�o em cinzas."

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O homem representado como um microcosmo, submetido �s mesmas leis do universo, segundo a concep��o filos�fica renascentista.A confus�o � tal que subverte a ordem natural dos lugares e das coisas: "Ver-se-� todos os elementos misturados passarem rapidamente com grande revolu��o ora em dire��o ao centro do mundo, ora em dire��o ao c�u, e [...] das partes meridionais em dire��o ao frio setentrional [...] do oriente para o ocidente."Por fim, os homens, como as plantas e cada outro elemento, "mudar�o o hemisf�rio imediato".Giordano Bruno: do cosmo � cat�strofeO desastre ecol�gico e a falta de amor em uma humanidade sempre mais

condicionada pela avidez e pela ambi��o individual foram previstos com desoladora clareza tamb�m por Giordano Bruno, tr�gico her�i do pensamento livre, antes de ser queimado como herege.O fil�sofo v� al�m da sua vida um mundo no qual "o dinheiro e o ego�smo reinar�o soberanos". Um mundo no qual "se ver�o santos e madonas por toda parte, milagres e acontecimentos extraordin�rios e rodas de fogo no c�u". Mas n�o ser� um mundo pio. Pelo contr�rio, as ci�ncias ocultas se espalhar�o, fazendo pros�litos: "Astrologia, magia, alquimia e satanismo envolver�o muitas pessoas."N�o ser� uma simples moda, pois "Satan�s estar� presente sobre a terra e muitos o seguir�o�.Anacronicamente, nesse �nterim, a humanidade se deixar� corromper por essas cren�as antigas, o progresso cient�fico levar� o homem al�m dos confins do universo. Ao aproximar-se da destrui��o final, "o homem viajar� no cosmo e do cosmo conhecer� o dia do fim".

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Tamb�m Bruno est�, portanto, convencido de que o poder do homem sobre o universo n�o servir� para salv�-lo; pelo contr�rio, "exatamente quando o homem se acreditar senhor do cosmo, muitas cidades ricas ter�o o fim de

Sodoma e Gomorra".Os sinais do firmamento ser�o similares aos prenunciados por qualquer apocalipse: o c�u se dobrar� sobre si mesmo, engolfando-se, e "um sol

negro engolir� no espa�o o sol, a lua e todos os planetas que giram ao redor do sol".Esta �ltima anota��o � crucial, pois revela que, al�m da inten��o prof�tica, Bruno teria abra�ado a vis�o copernicana do mundo � segundo a qual a terra n�o era mais o centro do universo �, antes que encontrasse confirma��o experimental e matem�tica na obra de Galileu e de Kepler. � um dado que demonstra qu�o distante estaria das ilus�es renascentistas este desafortunado fil�sofo. Pode-se bem dizer que sua execu��o, em 17 de fevereiro de 1600, figura entre os grandes ritos de passagem das certezas antigas �s d�vidas da era moderna.Inaugura-se nos reflexos da sua fogueira uma esta��o melanc�lica que nada mais tem da luminosa magnific�ncia de uma �poca. Tamb�m as cores do mundo circundante v�o se desbotando e destemperando nos tons t�nues � por�m cada vez mais escuros � do cinza e da noite. O negro se torna a cor mais comum ao alvorecer do s�culo XVII, nos trajes, nas mob�lias e na decora��o. Compreende-se o motivo. A Europa est� de luto pela morte do homem renascentista, pela dissolu��o do ideal cl�ssico, do �ltimo grau de perfei��o alcan�ado por aquele equil�brio harm�nico de corpo e intelecto,

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que as est�tuas de F�dias e os di�logos de Plat�o haviam consagrado ao primado da natureza.Agora, enquanto as chamas consomem o corpo estropiado de Bruno, aquele

primado � perdido. Na travessia de uma era para outra n�o existem mais esperan�as para aqueles que haviam insistido em estar, no pr�prio orgulho, no centro do universo. As novas intui��es cient�ficas e as aud�cias de mestres prontos a desafiar o pat�bulo por uma id�ia rompem as �ltimas seguran�as, provocando ao mesmo tempo uma urg�ncia desmedida de

austeridade � de negro, a prop�sito � e de rigor.Sem aviso pr�vio, na virada do s�culo o homem se v� como uma criatura rebaixada de protagonista � espelho e modelo da perfei��o divina � a fragmento de um indecifr�vel vazio. N�o � mais o �rbitro do universo, mas o pior � que se d� conta de nunca ter sido. A nova verdade � impiedosa: o mundo helioc�ntrico de Cop�rnico � de tal forma confinado e insond�vel que n�o s� o homem n�o pode estar no centro, como tamb�m nem sequer tem condi��es de mensur�-lo e conhec�-lo.Enquanto Giordano Bruno morre em Roma, Shakespeare, em Londres, escreve Hamlet, trag�dia do amb�guo mascarado por piedade filial. Ali tamb�m termina uma �poca de ouro, dissolvem-se as certezas da era elisabetana, o renascimento ingl�s. S�o os pr�prios intelectuais que o suprimem, mas para ficarem �rf�os depois. Em J�lio C�sar, um ano antes, um filho tinha matado o pai; em Hamlet, ele o vinga, apreensivo por existirem "mais coisas entre o c�u e a terra" do que possa conter a v� filosofia humana.A abdica��o n�o � indolor. Quando a d�vida aflora, contrap�em-se o

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integrismo, o ressentimento, o preconceito. N�o se renuncia a um primado de tal porte sem reagir com a mais cruel determina��o.Giordano Bruno inclui-se entre os primeiros a pagar a conta. Depois de sua

morte, haver� um espantoso incremento nas atividades da Inquisi��o, tanto no mundo cat�lico quanto no protestante. Ser� especialmente planejada e reorganizada a "ca�a �s bruxas", com uma ferocidade meticulosa, anotada, obstinada, sem igual nas persegui��es mais sanguin�rias nos s�culos precedentes.Contam-se entre as v�timas desse cruel preconceito numerosos astr�logos, profetas e videntes das mais diversas origens.

20O Excomungado, O santo, O cism�ticoTr�s sacerdotes de estatura espiritual extraordin�ria � um italiano, um espanhol e um alem�o, homens m�sticos e de a��o � elevaram sua voz prof�tica na evolu��o daquele humanismo que assinalou a hist�ria da Europa, do crep�sculo medieval a toda a extens�o do Renascimento, at� o grande trauma da Reforma. Um acabou na fogueira: Girolamo Savonarola; outro foi santificado: Vincent Ferrer; o terceiro fundou uma nova Igreja, separada daquela de Roma: Martinho Lutero. N�o existem pontos especiais de contato entre eles, salvo a radical idealidade das respectivas convic��es, por demais distantes entre si. Mas exatamente por esse motivo Lutero, Savonarola e Ferrer merecem figurar lado a lado entre os profetas do seu tempo, como testemunhos de tr�s diferentes maneiras de entender (e de administrar) o poder divinat�rio.Savonarola, terrorista de DeusPara Girolamo Savonarola, dominicano impelido por sua intransig�ncia a

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impor uma r�gida moraliza��o dos costumes na Floren�a dos Medici, soberbamente culta e festiva, a profecia foi o instrumento terrorista de persuas�o. Obtendo plenos poderes ap�s a queda dos Medici, instaurou uma ditadura teocr�tica (1494) proclamando por decreto Jesus Cristo rei do povo florentino. Apoiado pelo movimento chamado dos piagnoni, que na realidade era uma seita dedicada ao uso de qualquer meio para submeter o povo �s regras do mais austero carolismo, pregou com paix�o alucinada um evangelho do qual era banida a piedade. Converteu libertinos e prostitutas, destruiu obras de arte consideradas licenciosas, proibiu jogos e festas, substituiu as populares can��es carnavalescas por salmos lit�rgicos,

expulsou da cidade os mercadores judeus. Utilizou para isso um sistema de espionagem e dela��o sem igual, encorajando crian�as a denunciar os pais, e os criados, aos patr�es, Mas eram de tal modo inflamadas suas prega��es, t�o terrificantes suas profecias sobre o fim do mundo, que at� mesmo os artistas e fil�sofos acabaram por ser atra�dos por essa sufocante tirania

espiritual. Entusiasmaram-se ao ponto de se submeterem �s suas regras os Robbia e os Botticelli, o jovem Miguelangelo e, com particular �mpeto, Pico della Mirandola, bastante perto da morte (1494) n�o obstante os seus trinta anos de idade.Nesse clima de perp�tua penit�ncia, Savonarola quis emprestar solenidade � Quaresma de 1497 com uma espetacular fogueira na pra�a della Signoria, na qual foi queimado tudo que pudesse recordar o luxo e o divertimento da antiga Floren�a; e n�o foram apenas cartas de jogo e fr�volas pe�as de seda, mas principalmente pinturas preciosas, instrumentos musicais raros, livros de Petrarca e de Boccaccio. Um ano depois, na mesma pra�a, ardia o seu

corpo, junto com outros dois dominicanos, como ele condenados pelos ataques dirigidos a Alexandre VI, indigno vig�rio de Cristo.Os historiadores est�o divididos quanto ao papel desempenhado pelo frad

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e dominicano e sobre o uso instrumental mais inspirado que fez da profecia. H� quem defenda hoje sua santifica��o e conteste sua figura como express�o fan�tica de uma vis�o do mundo superada. Foi, segundo alguns, um aut�ntico iniciado, se n�o exatamente um "prot�tipo dos profetas iluminados por Deus". Foi, segundo outros, um tirano inspirado por um fundamentalismo religioso levado �s �ltimas conseq��ncias. E em todo o caso redimensionada a influ�ncia por ele exercida sobre a mais evolu�da das cidades italianas da �poca, explic�vel com as contradi��es da

sociedade humanista, afligida por uma crise espiritual n�o resolvida, necessitada de respostas civis e religiosas.Nesta situa��o de contornos indefin�veis, Savonarola se inseriu com a for�a das suas profecias, sustentado por uma incur�vel �nsia sobre a decad�ncia dos costumes e da religi�o. Assim, exaltado por �xtases que assumiam na sua imagina��o a inelut�vel for�a da revela��o, acabou por acreditar-se "realmente designado pela vontade divina a exercer entre os homens errantes a fun��o de reprecnsor e de profeta".� ele pr�prio quem d� garantias da sua boa-f� no Di�logo sobre a verdade prof�tica, onde procura demonstrar que a verdade � uma s� e que a mentira � pecado, mais grave ainda se consumada atrav�s de profecias enganadoras.Mas e "se enganasses de boa-f� a ti mesmo"? A tal pergunta, feita pela voz de um interlocutor imagin�rio, o frade responde: "N�o, n�o � poss�vel. Conhe�o a pureza das minhas inten��es. Adorei sinceramente o Senhor. Procuro imitar suas pegadas. Passei noites em claro nas ora��es. Perdi a paz, consumi a sa�de e a vida pelo bem do pr�ximo. N�o, n�o � poss�vel que o

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Senhor me tenha enganado. Esta luz � a pr�pria verdade; esta luz ajuda

minha raz�o, rege minha caridade."Essa luz o inspirou nas suas prega��es, transcritas em grande parte por

aqueles que o ouviram, seguindo-o com ind�mita const�ncia de 1483 at� o ano de sua morte. Os temas prof�ticos s�o extra�dos do Apocalipse e das Ep�stolas de Jo�o, das Lamenta��es de Jeremias, do G�nesis, dos Salmos, do �xodo, dos livros de Ageu, Am�s, Ezequiel, Rute, Miqu�ias. A originalidade das suas profecias reside na credibilidade das conex�es por

ele estabelecidas entre o texto sagrado e a realidade contempor�nea. Evitou as investiga��es teol�gicas, enunciando suas verdades de forma simples, acess�vel a qualquer um, como cr�nica de fatos agora prestes a vir. Ambientou no seu pr�prio tempo o fim do mundo e o advento do reino de Deus. Identificou o Anticristo em Rodrigo Borgia, no pont�fice Alexandre VI, atraindo assim a excomunh�o e depois a morte.Muito se debateu sobre o esc�ndalo suscitado pela sua propens�o ao uso pol�tico da profecia e as acusa��es que por repres�lia lhe lan�aram as autoridades eclesi�sticas. Mas soube habilmente responder que exatamente esta obstina��o por parte delas demonstrava a autenticidade de tudo que dizia. �As coisas futuras n�o incitam � sua persegui��o natural", defende em um dos seus �ltimos serm�es, em 14 de mar�o de 1497, um ano antes de acabar na fogueira, "mas cada vez que virdes que as previs�es t�m persegui��o, principalmente pelos homens maus e os servos do diabo, como t�m estas, ent�o � o sinal de que elas s�o [inspiradas] por Deus."No mesmo serm�o exortou a duvidar daqueles profetas que, diferentemente

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dele, n�o eram perseguidos, pois isso significava que as verdades deles n�o eram inspiradas pelo Esp�rito Santo, mas ditas "da pr�pria cabe�a" e, portanto, in�cuas. Dedicou ao seu trabalho de vidente, glorificado pelas massas populares e detestado pelo alto clero, um op�sculo intitulado Comp�ndio das revela��es, onde descreve, junto com as pr�prias vis�es, a ang�stia experimentada ao decidir se o divulgava ou n�o.N�o se limitou a profetizar eventos de natureza escatol�gica, como o fim do mundo, mas tamb�m fatos de interesse imediato � e privado, como no caso de Pico della Mirandola, ao qual previu a data da morte � que se verificaram pontualmente.Previu o fim de Louren�o de Medici e do papa Inoc�ncio VIII no mesmo ano de 1492, o trauma provocado na Igreja romana pela elei��o simon�aca de Alexandre VI, a queda na It�lia de Carlos VIII � que chamou de o "novo Ciro" - e a sua entrada em Floren�a no mesmo dia da morte de Pico, 17 de novembro de 1494.

Ferrer coroado de fogoN�o menos terrificantes que as profecias de Savonarola, as de Vincent Ferrer foram igualmente funcionais para um des�gnio pol�tico e religioso, pois a prega��o deste frade � tamb�m ele dominicano, e sustentado por uma f� vision�ria � coincide com o grande cisma do Ocidente. Tamb�m Ferrer, portanto, se arrojou com f�ria guerrilheira contra aqueles que considerava os inimigos da aut�ntica Igreja, com grave risco pessoal de acabar na fogueira, uma vez que na grande confus�o do momento n�o era simples distinguir entre papa e antipapa qual fosse o leg�timo sucessor de Pedro.Errou inicialmente, influenciado pelo cardeal aragon�s Pedro de Luna, seu compatriota, que o induziu a alinhar-se do lado de Clemente VII, pont�fic

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e em Avignon. Arrependeu-se alguns anos depois, quando o pr�prio Luna sucedeu Clemente com o nome de Benedito XIII. Foi para ele um momento

de grande desorienta��o, que agu�ou a intensidade apocal�ptica de suas vis�es, impelindo-o a fazer prega��es t�o espantosas a ponto de ser representado em certos retratos com a cabe�a coroada por l�nguas de fogo e com as asas do anjo exterminador �s costas.Estremecendo �s suas palavras, que produziam aut�nticas rajadas de p�nico e de arrependimento, os ouvintes se aglomeravam em torno do seu p�lpito para obter a b�n��o. Contribuiu sensivelmente para a reunifica��o da Igreja, sendo santificado em 1455 por Calixto III � passados apenas 36 anos da sua morte, ocorrida em 1419 �, n�o obstante ter apoiado de in�cio dois antipapas.Entre as imagens mais sinistras do repert�rio prof�tico de Ferrer figura a de um drag�o que "surgir� do mar da Lig�ria e ter� por arma [emblema, no sentido her�ldico] uma serpente ostentando tr�s coroas". E uma representa��o simb�lica do poder sat�nico que persegue a cristandade, amea�ando em particular o seu pastor. A continua��o da profecia anuncia fatos que dizem respeito justamente ao papa, e que segundo muitos especialistas se comprovariam. Eis o texto:"O sumo pont�fice ser� conduzido da Cidade do Sol para Babil�nia, mas morrer� nas suas vizinhan�as. Surgir� ainda um outro, S�timo, que ser� arrastado para o ex�lio. O drag�o colocar� um �dolo anticrist�o misto."O pont�fice ao qual se refere a vis�o de Ferrer seria Pio VI, deportado, por exig�ncia de Napole�o, de Roma (a cidade do Sol) para a Fran�a (Babil�nia), onde morreu ap�s muitos sofrimentos, n�o na capital, ma

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s "nas suas vizinhan�as", em Valence. Sucedeu-o um outro Pio (S�timo), que foi por sua vez deportado por Napole�o na Fran�a e depois libertado pela queda do imperador, sendo obrigado a um novo ex�lio pelo per�odo de "cem dias", sob a prote��o dos Sav�ia em G�nova.Se este � o sentido da profecia, entende-se por que o drag�o deveria "surgir do mar da Lig�ria", que banha a C�rsega, terra natal de Napole�o. Daquele mesmo trecho de mar, ali�s, o imperador surgiu uma segunda vez com a sua fuga de Elba, for�ando o papa a um novo ex�lio.Tamb�m as tr�s coroas da ins�gnia ostentada pelo drag�o encontrariam uma justifica��o, se esta � a chave correta, enquanto ligada ao imp�rio, ao reino da It�lia e ao papado, expropriado dos seus territ�rios pelo invasor franc�s. Nesse sentido poderiam ser interpretadas as duas invectivas que aparecem logo depois na profecia: "Ai de ti, � Etr�ria! Ai de ti, � Em�lia!"Na nova ordem napole�nica, de fato, o gr�o-ducado de Toscana tornara-se o reino de Etr�ria, e o papado devia ceder as prov�ncias de Bolonha e de Ferrara, junto com a Em�lia e Romanha.Resta entender o que pretende o vidente com "�dolo anticrist�o misto", colocado pelo drag�o no interior da Igreja. Se referente a Napole�o, como o resto da profecia, poderia significar a tentativa imperial de impor aos hierarcas cat�licos uma religi�o concordat�ria, laicamente revista e controlada por "Babil�nia", como havia acontecido depois da revolu��o com o clero franc�s "jurado". Mas o or�culo poderia tamb�m querer abrir uma janela sobre outros eventos futuros e referir-se ao surgimento de uma espiritualidade confusa, contaminada por cultos estranhos ao catolicismo, se n�o absolutamente hostis, como acontece em nossos dias com a prolifera��o � na pr�pria Roma � de seitas, movimentos e novas cren�as amb�guas.

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O resto da profecia � lido nessa perspectiva, que fala de persegui��o ao clero enquadrando-o em uma �poca de grave crise da f�, talvez a nossa: "Ai de todos aqueles que trazem a tonsura! Parecer� quase que Deus n�o quer mais ouvir as preces dos justos."� uma sofrida admiss�o do extremo enfraquecimento da esperan�a do homem na gra�a divina, que ser� como que negada por um Deus surdo �s invoca��es dos justos. Seguir�, por�m, a subleva��o e, por fim, "o drag�o ser� esmagado, desventrado pelo caudilho Carlos e morrer� como um c�o no quarto ano de seu reinado".N�o se entende quem seja este moderno cruzado de nome Carlos, que mata o Anticristo como a um c�o, mas formulou-se a vacilante hip�tese de que poderia tratar-se do futuro rei da Inglaterra, habilitado a representar a cristandade � enquanto chefe da Igreja anglicana � ap�s a submiss�o do Vaticano �s for�as do mal.Esta �ltima eventualidade � preconizada explicitamente por Ferrer, como muitos outros profetas antes e depois dele: "Muitos que usam a tonsura adorar�o o �dolo anticrist�o e queimar�o incenso em sua honra." Da� se deduz que no clero da �ltima era n�o estar�o somente perseguidos em nome de Cristo, mas perseguidores em nome do Anticristo. Um usurpador se sentar� ent�o no trono de Pedro, indicado na profecia como "o imperador dos romanos", que morrer� com o drag�o quando enfim prevalecerem as armas do bem.� o �ltimo ato de uma luta sem quartel, ao fim da qual "o grande caudilho Carlos reconduzir� o pont�fice � Cidade do Sol e ser� pelo mesmo pont�fice coroado imperador do Oriente e do Ocidente".

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Com esta investidura triunfa definitivamente o reino de Deus sobre a terra, em conformidade com a revela��o de Jo�o e dos outros apocal�pticos, aos quais Ferrer se adapta repropondo um modelo de perfeito Estado crist�o universal. F a utopia, jamais abrigada pelo imagin�rio pol�tico medieval, de um "povo de Deus" governado por um chefe espiritual absoluto, protegido nas suas prerrogativas por um �nico soberano (do Oriente e do Ocidente)

que ele pr�prio legitimou ao p�r-lhe na cabe�a a coroa.Deveria durar, uma vez realizada, at� 2.537, ano do fim do mundo segundo os c�lculos do santo profeta, com base na numera��o dos Salmos.Os diabos de LuteroMartinho Lutero, o irrequieto pai da reforma protestante, n�o ficou imune � obsess�o do Anticristo, que antes dele havia atormentado hereges e santos. Tamb�m ele insiste em t�-lo personificado no papa, tal como Savonarola, c considerou assim como certo que o fim do mundo fosse iminente. Estabeleceu que sobreviria em 1550, com base em contagens efetuadas segundo a tradi��o b�blica em torno das tr�s idades do mundo. At�m-se a isso por dados comuns �s culturas hebraica e crist�, compartilhados tanto pelo Talmude quanto pelos Padres da Igreja, segundo os quais o fim sobreviria em seis mil anos a partir da cria��o, assim definidos: dois mil de leis naturais ou de caos, dois mil de lei mosaica, dois mil de lei messi�nica.Leva em conta poss�veis variantes determinadas pela contagem diferente que deveria ser feita de certos tempos extraordin�rios, remetidos � vida e � morte do Cristo. Redige enfim, como apoio � sua predi��o, uma cronologia intitulada Supputatio annorum mundi, isto �, Contagem dos anos do mundo.Em 1540 escrevia: "Exatamente neste ano s�o transcorridos 5.500 anos [da cria��o]." Dever-se-ia deduzir, segundo a teoria por ele seguida, que

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faltavam quinhentos anos para o fim do mundo, previsto, portanto, para 2.040. Acrescentava, por�m, que uma correta avalia��o dos tr�s dias decorridos entre a morte e a ressurrei��o do Cristo (que "foram na realidade dois dias e meio") induzia a antecipar tal data para 1550.N�o viveu o bastante para poder constatar a n�o-confirma��o de sua conjectura prof�tica. Morreu quatro anos antes, na reconfortante certeza de ter-se redimido e de ter redimido a humanidade com a sua oportuna revolu��o teol�gica. Procurou longamente os sinais do fim agora pr�ximo, atribuindo ao castigo divino muitas calamidades do seu tempo, entre as quais a expans�o da sifilis, que entrou na literatura exatamente naqueles anos, atrav�s de um poema de argumento mitol�gico intitulado Syphilis, sive de morbo gallico (S�filis, ou a doen�a francesa), publicado em P�dua em 1530 por Girolamo Fracastoro, astr�nomo e m�dico de cardeais. � poss�vel que ao ter personalizado um tal flagelo, atribuindo-lhe o nome gentil de um pastor arc�dico, filho de N�obe, tenha contribu�do para acentuar em certos humanistas devotos algo mais que d� a sensa��o de poder reconduzir os efeitos a um des�gnio sobrenatural.Al�m, contudo, da propens�o a buscar na realidade circundante os sinais de um iminente apocalipse, o elemento que principalmente agu�ou a sensibilidade prof�tica do jovem Lutero, quando ainda n�o passava de um frade agostiniano acometido de crises m�sticas profundas, foi o senso da predestina��o, percebida como uma condena��o ou uma promessa, �s quais, de qualquer modo, n�o se poderia escapar.Em uma carta a Melanchton, seu fiel colaborador e primeiro te�rico da Reforma, escreveu em 1521: "Quando assumi os votos mon�sticos para grande desd�m do meu pai, recordo t�-lo ouvido dizer, depois que se acalmou: 'Contanto que n�o seja um logro de Satan�s!� Estas palavras fincaram ra�zes t�o profundas no meu cora��o que nada, de todas a

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s coisas ditas por ele, ficou impresso em mim com mais tenacidade. Creio que foi Deus quem falou pela sua boca, como se de longe, para me prevenir e corrigir.�Mas Deus n�o interv�m s� para aconselh�-lo: decide todo o curso da sua exist�ncia, contradizendo nos fatos tudo que o pr�prio Lutero pregou em mat�ria de livre-arb�trio. E ele, com uma certa �nfase, o admite: "O meu Deus me carrega, o meu Deus me impele � frente em vez de conduzir-me. N�o sou o patr�o de mim mesmo. Queria repousar, e eis-me, em vez disso, bem no meio da luta."� uma luta feroz, na qual Satan�s participa como entidade pensante, ativa, previdente: "Creio que Satan�s, desde a minha inf�ncia, tenha previsto em mim aquilo que hoje sofro", l�-se numa outra carta, para Hans Lutero, "e

por isso interferiu com incr�veis maquina��es com o objetivo de me

desorientar e de criar obst�culos, de modo que com freq��ncia me pergunto se entre todos os mortais n�o escolheu s� a mim.�A fobia do Diabo esteve entre os aspectos que mais aproximou Lutero, em termos de comportamento cotidiano, dos profetas milenaristas. Desde a idade da ordena��o sacerdotal e por toda a sua vida, esse grande l�der religioso insiste em ser fisicamente agredido por Satan�s, com o qual dizia manter extenuantes pugilatos � noite, vendo-se pela manh� machucado e banhado de suor. Atribu�a ao seu inimigo a mol�stia produzida por nuvens de moscas ou outros eventos aparentemente fortuitos, como o fragor de barris postos a rolar pelas escadas por m�o infernal. Afirmava reconhecer a passagem do rumor de gravetos crepitantes que o acompanhava. Reagia, quando a n�usea se tornava insuport�vel, com invectivas violentas, �s vezes

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obscenas, que, segundo suas palavras, punham em fuga o advers�rio.Restavam, por�m, na sua casa certos esp�ritos malignos, duendes e fantasmas que lhe bagun�avam a cozinha, movendo vassouras, frigideiras e panelas, ou tamb�m fazendo saltar as nozes no prato que tinha � sua frente. Estava sinceramente convencido de que deveria olhar ao jogar seixos num po�o, para n�o despertar os esp�ritos adormecidos no fundo.Estava ainda seguro de que cada coisa, por mais abomin�vel, fosse funcional ao cumprir-se a predestina��o assim como est� configurada nos des�gnios de Deus.Tamb�m a obra do dem�nio, portanto, n�o obstante os tormentos que lhe provocava, devia ser considerada algo necess�rio � consuma��o de um destino prof�tico, em harmonia com um projeto

preordenado. Justificou desse modo o suic�dio, explicando que era uma fatalidade urdida por Satan�s, que preparava com sua pr�pria m�o a arma ou o la�o para o pobre predestinado. Ele mesmo reconhecia ser invadido em certos momentos de prostra��o

pelos horrendos e espantosos pensamentos. Atribu�a sua origem � aten��o da qual era objeto por parte do dem�nio. Certa vez confidenciou isso ao prior Staupitz, monge agostiniano de extraordin�ria sabedoria e bondade de alma, que lhe respondeu: "N�o sabes, Martinho, o quanto te � necess�ria e �til essa tenta��o: ver�s que Deus n�o te p�e � prova em v�o, e sim porque quer utilizar-te para coisas grandiosas." Extraiu dessa premoni��o uma enorme seguran�a sobre seu pr�prio destino e sobre o da Reforma, que considerava inspirada por Deus, tal como os Evangelhos e certas grandes profecias do passado. Interrogado uma vez sobre as possibilidades de reconcilia��o com Roma que ele podia entrever, respondeu: "Se � obra humana se dissipar� por si mesma, se vem de Deus nada poder� det�-la." Nem mesmo mil diabos.Dessas monstruosas criaturas da sua fantasia, enviadas contra ele para

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impedir seu empreendimento, Lutero fala impetuosamente de um hino composto �s pressas (em viagem, enquanto seguia para expor suas teses perante a Dieta de Worms) e que logo se tornou a Marselhesa da Reforma:

Fosse tamb�m a terra povoada de dem�niosprontos a nos devorarN�o tremeremos ao aspecto delese nossa seria a vit�ria.

Monge, do p�lpito do refeit�rio, em uma abadia do s�culo XIII.

Se o pr�ncipe das trevas passar � a��oestamos protegidos dos seus golpes,pois sua condena��o j� est� escritae bastaria uma palavra para dispers�-lo.Nos tomam, pois os dem�nios o corpo e os bense os filhos e as mulheres: tudodeixaremos que levem,pois a n�s restar� o reino dos c�us.

Tanta certeza tornou Lutero arrogante em rela��o a quem quer que o contradissesse, induzindo-o a agredir o opositor com o mesmo turpil�quio do qual se servia para exorcizar os dem�nios. Deixava escandalizados alguns dos mais tolerantes, livres e despreconceituosos intelectuais da Europa.Severo foi o julgamento de Erasmo de Roterd� sobre os tons da prega��o luterana: "Gritam sem parar: Evangelho! Evangelho! Mas gostaria de ver explicado s� esse. (...) Vejo novos hip�critas, novos tiranos, mas n�o vejo uma centelha de esp�rito evang�lico."Ainda mais indignada foi a contesta��o de Thomas Morus, o moderado autor de Utopia, que depois acabou no pat�bulo anglicano por n�o ter

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abjurado o seu credo cat�lico: "Lutero s� fala de latrinas, de esterco e de lama, usando a l�ngua nos modos mais ultrajantes. Se continuar a servir-se dessa linguagem da prostitui��o, e a encher a boca de �gua suja, urina e defeca��o, outros poder�o adequar-se ao seu estilo ou fazer at� pior. Ao que nos diz respeito, daremos as costas �s suas obscenidades, deixando que ele mesmo fa�a bom proveito das suas expectora��es."Concorda com ele, dois s�culos depois, tamb�m Voltaire, fil�sofo certamente n�o suspeito de simpatias pelo papa: "N�o se pode ler sem um sorriso de piedade o modo como Lutero trata com a maior rudeza os seus advers�rios, principalmente o papa: papinha, pap�o, �s um asno, um

asninho, segue devagar porque a estrada est� congelada, poderias quebrar

uma perna e as pessoas perguntariam que diabo aconteceu, como � que se estropiou este asno de papa."Mas a intoler�ncia luterana vai bem al�m do esc�rnio em rela��o aos cat�licos, contra os quais assume aspereza de cruzada: "Qualquer um que

ajudar com o bra�o ou com os pr�prios bens a devastar os bispos e a hierarquia episcopal � um bom filho de Deus, verdadeiro crist�o que observa os mandamentos do Senhor." Nem mesmo lhe ocorreram d�vidas quando incitou seus seguidores a uma aut�ntica guerra de exterm�nio: "Se contra os ladr�es adotam a forca, contra os assassinos, a espada, contra os hereges, o fogo, n�o lavaremos as m�os no sangue destes mestres de perdi��o, destes cardeais, destes papas, destas serpentes de Roma e de

Sodoma que contaminam a Igreja de Deus?"N�o teve, ali�s, piedade pelos camponeses alem�es, homens que haviam aderido � sua reforma, quando se rebelaram contra os pr�ncipes, de cujo

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apoio o movimento protestante tinha, evidentemente, necessidade maior. Existem atrozes testemunhos da impiedosa determina��o com que Lutero incitou os nobres a massacrar o povo: "Vamos, vamos, pr�ncipes, feri, trespassai: � chegado o momento maravilhoso em que um pr�ncipe pode, ao trucidar vil�es, merecer o para�so mais facilmente do que outros com prega��o!Justificou a carnificina, apesar dos motivos que a haviam provocado, como puramente de cunho religioso, como vontade de Deus: "Acho que todos os camp�nios devem perecer, porque atacam pr�ncipes e magistrados, j� que empunham a espada sem a autoridade divina. (...) Nenhuma miseric�rdia, nenhuma toler�ncia � devida aos camp�nios, mas � indigna��o dos homens de Deus, (...) Os camp�nios est�o banidos por Deus: pode-se trat�-los como a c�es raivosos!�Mas a pior crueldade Lutero a expressou em conseq��ncia daquela demonomania que esteve entre as constantes mais irracionais da sua exist�ncia, e que o induziu a incentivar al�m de qualquer limite a ca�a �s bruxas nos territ�rios por ele controlados. Assumiu, para tal fim, as regras do Malleus Maleficarum (Martelo das feiticeiras), o manual compilado pelos inquisidores alem�es Kramer e Sprenger para uso dos tribunais eclesi�sticos, assim chamado pelo seu objetivo de "martelar as feiticeiras". Deixou sobre estas pobres mulheres defini��es que continuam sendo os testemunhos mais delirantes do preconceito do qual foram v�timas:"S�o as prostitutas do Diabo, que roubam o leite, desencadeiam tempestades, cavalgam bodes e vassouras, estropiam e tornam inv�lida a pessoa aleijando-a, atormentam as crian�as no ber�o, transformam os objetos em outras coisas, dando assim a um ser humano o aspecto de um boi ou de uma vaca, induzem homens e mulheres � fornica��o e �

imoralidade."Endere�ou cada esfor�o contra esta �ltima, tendendo como Savonarola a modificar os costumes do povo de maneira radical, at� priv�-lo de qualquer atrativo de ordem profana. Teve resultados an�logos no que diz

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respeito �s regras de vida impostas nas cidades alem�s, das quais baniu divers�es c festas, estigmatizando em especial a poesia como corruptora, a filosofia como diab�lica, as ci�ncias como in�teis.

21Sonhos C�lticos

A civiliza��o dos antigos celtas, com seus druidas e suas feiticeiras, seus elfos e suas sinas, deixou vest�gios que se mantiveram vivos por muitos s�culos depois do advento do cristianismo. O que aconteceu com evid�ncia maior junto �queles povos que, amea�ados e mortificados na sua independ�ncia, perceberam uma necessidade especial de salvaguardar as

pr�prias tradi��es, embora em contraste com as regras da religi�o

dominante. Da� a extraordin�ria propens�o dos povos da Esc�cia e da Irlanda para as pr�ticas m�gicas, as profecias, os esconjuros; e o zelo persecut�rio, em repres�lia, por parte da monarquia inglesa, que claramente intu�a o desafio subentendido na sobreviv�ncia da heran�a paga.O entrecho de raz�es pol�ticas e religiosas estreitou-sc mais nos anos das tens�es provocadas pela cria��o da Igreja anglicana, com o ato de submiss�o do clero � autoridade r�gia, determinando um pavoroso crescendo de processos e execu��es. Nesse per�odo, durante o reinado de Henrique VIII, tornou-se popular na Inglaterra com o nome de Mam�e Shipton a vidente Ursula Sonthiel, a qual, n�o obstante a fama de bruxa, n�o foi perturbada at� sua morte em 1561, protegida pelo temor que seus poderes suscitavam em qualquer um que se aproximasse.Dizia-se que era filha de uma feiticeira, deposit�ria dos segredos de uma das tantas assembl�ias secretas proliferadas sobre os restos da religi�o

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dru�dica. Granjeou e aumentou tal fama com seu estilo de vida, escolhendo por habita��o uma gruta nos ermos de Yorkshire, junto �s ru�nas de um templo megal�tico circular, � orla de um bosque denominado Witchwood, ou Floresta das Bruxas.Teve tamb�m o aspecto de uma bruxa, de acordo com os mais comuns estere�tipos das f�bulas. Contam todos aqueles que a encontraram que era uma esp�cie de giganta "com o corpo deformado e a cara horr�vel, mas dotada de excepcional intelig�ncia".Foi sepultada em um lugar desconhecido, que devotos e ocultistas procuraram por muito tempo identificar, convencidos de que dali ela continuasse a exercer as suas misteriosas faculdades.

O mundo de �ponta-cabe�a� de Mam�e ShiptonH� uma extraordin�ria modernidade nas profecias de Mam�e Shipton que destoa do contexto campon�s do qual elas possam ter sido remanejadas � se n�o at� mesmo inventadas, em boa parte �, depois de sua morte. A vidente, ou algu�m por ela, se permite descrever um futuro tecnologicamente avan�ado, no qual "as carruagens andar�o sem cavalos e os pensamentos dar�o a volta ao mundo em segundos [...], o homem transpor� as montanhas sem necessidade do cavalo e descer� sob a �gua andando, dormindo, falando [...], o ferro flutuar� sobre o mar como uma nave de madeira, o fogo e a �gua far�o maravilhas". Existem, portanto, autom�veis e ondas de r�dio nas vis�es atribu�das a Mam�e Shipton, e aeroplanos capazes de transportar o homem al�m das montanhas, submarinos, escafandros para mergulho, navios de estrutura met�lica e uma maravilhosa energia gerada pelo fogo e pela �gua, ou seja, o vapor. N�o h�, por�m, felicidade. O mundo, por causa do uso imoderado de todos esses meios, ser� "desolado por infort�nios". Haver� uma ri

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queza amb�gua, pois "se achar� ouro aos p�s de uma planta", ou seja, ser� f�cil descobrir sempre novas fontes de energia ou de ganho, mas n�o se obter� um bem-estar aut�ntico. O mundo ser� como "virado de ponta-cabe�a", e a riqueza se concentrar� nas m�os de poucos, sem ser distribu�da.Esse quadro realista e decadente antecipa um fim do qual Mam�e Shipton indica a decad�ncia exata, pouco mais de quatro s�culos ap�s sua morte: o mundo deveria acabar categoricamente, no seu entender, em 1991. E o que se l� nas predi��es que fizeram circular em seu nome na primeira metade do s�culo XVII, coligidas em 1641 em um volume intitulado As profecias de Mam�e Shipton durante o reinado de Henrique VIII. Deve ser dito, por�m, que a perspectiva escatol�gica dessa ins�lita vidente resulta um tanto confusa, e 1991 n�o � a �nica data por ela designada como a �ltima praia sobre os oceanos do tempo. Indica em outra profecia o ano de 1681, prazo muito mais pr�ximo da humanidade da �poca, que gerou um certo p�nico � sua aproxima��o.O fato de que tais anota��es n�o encontrem correspond�ncia com o evento prenunciado permitiria p�r uma pedra definitiva em cima das profecias de Mam�e Shipton, t�o populares � �poca, mas sem redimensionar o efetivo papel descoberto na hist�ria divinat�ria dessa mulher de origem miser�vel, que teve peso e considera��o naqueles mesmos ambientes pol�ticos nos quais vigorava o mais irredut�vel preconceito em rela��o � bruxaria, o que se explica com a grande quantidade de profecias referidas a quest�es contingentes do seu tempo e � personalidade da corte.Al�m de impelir-se rumo aos cen�rios apocal�pticos em um futuro remoto, de fato Mamie Shipton previu a ascens�o e ru�na do cardeal Thomas

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Wolsey, do chanceler Thomas Cromwell e de outros personagens pr�ximos a Henrique VIII. Previu a coroa��o de uma mulher que reinaria por longo tempo sobre a Inglaterra, e � o que acontece com Elisabete, filha de Ana Bolena e de Henrique. Previu a decapita��o de Maria Stuart e de um "rei branco", seu descendente, no qual n�o � dif�cil reconhecer Carlos I pela predile��o que tinha pela cor branca nos seus trajes. Previu, enfim, com uma profecia sibilina, o advento de "um pr�ncipe n�o nascido, que desnudar� as cabe�as raspadas": tratava-se de Eduardo VI, vindo ao mundo por parto ces�reo, o qual dissolveu as ordens mon�sticas e confiscou todos os seus bens.Nas profecias de Mam�e Shipton h� tamb�m uma invas�o da Inglaterra, jamais acontecida. O tempo indeterminado e o invasor indefinido, por�m, deixam espa�o para as hip�teses mais incontrol�veis. Poderia ocorrer sabe-se l� quando, ou referir-se � perda de territ�rios de ultramar. Poderia por outro lado querer indicar, por extens�o, toda a sociedade ocidental.Uma disputa sobre o fim dos TemposUma curiosa disputa sobre a data do fim do mundo indicada por Mam�e Shipton foi provocada depois de sua morte por um adivinho escoc�s chamado Mac Duff, muito menos famoso do que ela e desejoso de aparecer. Declarou solenemente que, baseado nas Escrituras e nos seus pr�prios c�lculos, o apocalipse n�o poderia sobrevir antes do ano 6.000, quatro mil anos mais tarde do tempo previsto por Shipton.Quem conciliou as duas datas foi um abade erudito que conhecera a vidente em vida: o prior de Beverly, citando a tese do bispo irland�s Usher, � �poca no auge, sobre as origens do universo. N�o havia contradi��o, disse, entre as profecias de Mam�e Shipton e as de Mac Duff, porque ela havia contado os anos a partir do nascimento de Jesus, e ele a partir do dia da cria��o, correspondente, segundo Usher, ao dia 22 de outubro de 4.004 a.C. Tanto por uma quanto pela outra, portanto, o fim do mundo deveria sobrevir por volta de 2000.

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A defasagem entre as duas previs�es, concorda-se, era totalmente irrelevante: para Mam�e Shipton o calend�rio da humanidade deveria parar em 1991, para Mac Duff seis mil anos depois de 4.004 a.C., isto �, cm 1996. E o que representavam cinco anos de diferen�a em cima de seis

mil�nios de toda a hist�ria do homem?

O destino atroz de Brahan SeerUm destino menos feliz do que aquele que coube a Mam�e Shipton, que passou inc�lume atrav�s das persegui��es do seu tempo, envolveu o m�stico escoc�s Coineach Odhar, nascido na ilha de Lewis no in�cio do s�culo XVII e celebrizado com o nome de Brahan Seer, que significa "o vidente".Tamb�m se disse que era filho de uma bruxa, na realidade uma pastora com dist�rbios mentais adquiridos pela vida solit�ria nas montanhas. Comentou-se especialmente que a m�e, antes de o dar � luz, teria encontrado nas imedia��es de um cemit�rio uma turba de mortos rec�m-sa�dos das sepulturas, que se dirigiam para uma montanha. Do grupo do al�m-t�mulo, segundo a lenda, tinha-se destacado uma jovem que, apresentando-se a ela como "a filha do rei da Noruega, morta afogada em uma tempestade e aqui sepultada", tinha-a presenteado com uma pedra azul.� Leva-a para teu filho � teria dito antes de desaparecer. � Com esta

pedra, ele poder� ver sem limites de tempo nem de espa�o.Al�m, contudo, desses pre�mbulos lend�rios, Brahan Seer adquiriu rapidamente a fama de grande adivinho n�o tanto por suas predi��es

milenar�sticas, expressas em termos simb�licos complexos, �s vezes incompreens�veis, mas pelas respostas simples e extremamente precisas que ele costumava dar a todos que o interrogavam sobre quest�es pessoais, da mais estreita intimidade.E foi tal simplicidade que o destruiu, pois uma de suas consulentes, a condessa de Seaforth, n�o suportou ter recebido dele a confirma��o de suas pr�prias d�vidas sobre a fidelidade do marido. Assim, ap�s comprovado que este tinha uma amante, foi tomada por tamanha crise de

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raiva que ordenou que o vidente fosse imerso em uma caldeira de piche fervente. A �poca, na b�rbara Esc�cia dos cl�s, era enorme o poder de vida e morte que a nobreza podia exercer sobre os seres humanos comuns.Condenado a esse fim atroz, Brahan Seer morreu lan�ando an�temas contra a casa dos Seaforth, sobre cuja extin��o se alongou numa s�rie de detalhes t�o penosos quanto in�teis. Disse que o �ltimo var�o da fam�lia se tornaria "prisioneiro do sil�ncio" e que a �ltima f�mea ("uma mocinha de capuz branco") teria matado a irm�. Assim aconteceu realmente, dois s�culos depois, quando o �ltimo senhor de Seaforth foi acometido de uma doen�a que o deixou surdo-mudo e sua filha atropelou a irm� com uma cale�a, matando-a. No momento do acidente a jovem usava um capuz branco na cabe�a.Esses tristes detalhes e a lament�vel sorte de Brahan Seer, infeliz v�tima de um dos mais cru�is supl�cios jamais reservados para um bruxo, n�o devem distrair do efetivo interesse que mais tarde suscitaram algumas de suas profecias de sinal escatol�gico, especialmente em refer�ncia � monarquia inglesa.Redundante de s�mbolos aparentemente insignificantes � uma profecia, famosa pelo interesse suscitado em seguida entre os ocultistas, sobre o fim da Inglaterra. Brahan Seer v� "uma vaca cinzenta e sem chifres que, aparecendo de repente, demolir� as seis chamin�s da Gairloch House".

Acrescenta que ent�o "ningu�m poder� mais ouvir o canto do galo e

haver� uma grande desola��o [...] cair� do c�u uma chuva negra e se ouvir� um rumor infernal".Independentemente da dificuldade de decifrar as imagens, a predi��o n�o foi tomada com a devida considera��o � �poca, uma vez que aparecia adulterada desde o in�cio por uma aparatosa inexatid�o. A Gairloch House

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n�o tinha seis chamin�s. Ali�s, n�o as tinha de fato. Era uma constru��o r�stica de um s� andar, assim chamada por ser usada como casa de campo da fam�lia Gairloch, em uma aldeia escocesa hom�nima por motivos de antiga vassalagem.Mas por volta do final do s�culo, v�rios anos depois da morte do vidente, acasa foi restaurada e ampliada. Foi dotada de um novo sistema de aquecimento e sobre o telhado apareceram as seis chamin�s que ningu�m, exceto Brahan Seer nas suas fantasias vision�rias, tinha podido ver at�

ent�o. Da� se deduz que, se o detalhe das chamin�s se tornara imprevisivelmente aut�ntico, tamb�m o resto da profecia poderia se tornar.A modesta aldeia de Gairloch adquiriu, portanto, para a Inglaterra o mesmo significado apocal�ptico que o Coliseu sempre tivera para Roma.

Fora dito no passado, pelo monge Beda e por tantos outros videntes, que "quando cair o Coliseu cair� tamb�m Roma". Do mesmo modo, Brahan Seer dissera que "quando ca�rem as seis chamin�s da Gairloch House cair� a Inglaterra".Ocorreu assim, no s�culo XVIII, uma not�vel retomada de curiosidade e interesse em torno das profecias do desventurado adivinho escoc�s, com particular rela��o com a chamada "das seis chamin�s", sempre objeto das mais variadas interpreta��es. Pensou-se que a vaca cinzenta e sem chifres poderia querer indicar, com sua repentina apari��o no horizonte, um m�ssil ou um bombardeiro at�mico, ou mesmo um submarino capaz de semear a destrui��o em volta. Cairiam, portanto, ao seu surgimento as

chamin�s da Gairloch House, que indica a parte pelo todo, isto �, as ilhas brit�nicas ou todo o mundo civil. O resto, do fragor infernal das explosï¿

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½es � chuva negra do c�u, reconduz a um veross�mil cen�rio nuclear, com sua desola��o imensa e a subvers�o das regras naturais mais comuns, a come�ar pela sucess�o normal dos dias.Nenhum galo, portanto, saudar� mais com seu canto, ap�s a passagem da vaca cinzenta, o nascer do sol.As 444 luas do monge SeanFoi muito popular na metade do s�culo XVII na sociedade ga�lica, que agrega as culturas da Esc�cia e da Irlanda, uma profecia atribu�da ao monge irland�s Sean, que viveu no s�culo XIV e � considerado o int�rprete privilegiado do Apocalipse de Jo�o, do qual se insiste que tivesse aprendido em sonhos segredos surpreendentes. Variadamente batizada nas ilhas brit�nicas, a profecia de Sean � chamada "do oitavo selo" pelos irlandeses e "do quinto cavalo" pelos escoceses. Para os ingleses, � "o chamado da morte".Tratar-se-ia de uma esp�cie de continua��o do Apocalipse, um ap�ndice quefornece novos detalhes de interesse, sobretudo, ecol�gico sobre o fim do mundo. "S�o Jo�o escolheu-me pois sou Jo�o", come�a o monge no seu escrito, alegando ser um sinal de predestina��o a homon�mia entre ele e o evangelista, dado que em ga�lico Sean quer dizer Jo�o, "para revelar-me a �ltima verdade que no seu livro n�o est� escrita. [...] Fitou-me nos olhos e me entregou uma pena dourada, ordenando-me que escrevesse [aquilo que � necess�rio conhecer] a fim de que os selos sejam completamente rompidos e os homens possam afinal saber, de pai para filho, como ser� o �ltimo p�r-do-sol. E eu escrevi aquelas palavras que se expandiam como flores de morte dos l�bios de um gigante."Porque na vis�o de Sean o evangelista � um homem de estatura f�sica enorme, envolvido numa t�nica branca manchada de preto. Tal combina��o de cores foi interpretada como sinal de luto, e � por isso que a

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profecia � chamada pelos ingleses de "o chamado da morte" (death�s call). Por�m, mais do que as palavras ditas pelo gigante contam as imagens que a essas se sobrep�em, mostrando aos olhos do at�nito Sean "um cavalo

que corre enlouquecido sobre a terra, seca e est�ril como o ventre de uma

velha, sob c�us opacos como v�us de morte sobre o rosto de um homem em agonia".� o quinto cavalo do Apocalipse, que aos flagelos trazidos pelos quatro primeiros acrescenta agora a loucura, nova e �nica companheira do homem em um mundo que n�o tem mais nada a doar, pois tudo o que tinha foi dissipado e destru�do. Por isso a profecia � chamada pelos escoceses "do quinto cavalo".Depois Sean viu "o homem", uma pobre criatura perdida entre o c�u e a terra, que estendia a m�o � procura de alimento �sem encontrar nada que n�o �gua p�trida e p�es de cicuta". Monstros horr�veis comiam o ar em torno, sempre mais f�tido e rarefeito. Do alto um anjo anunciava: "Faltam ainda 444 luas."Soaram, portanto, as sete trombetas do ju�zo, a humanidade foi dizimada

por todo tipo de calamidades, e, quando o �ltimo selo foi rompido, os sobreviventes se dispersaram sobre a terra "como um bando de cavalos enlouquecidos". N�o havia possibilidade de escapar a essa priva��o geral de ju�zo, pois "a loucura descia do c�u como chuva sobre odres vazios".Todo homem foi assim abastecido com sua dose de aliena��o, que o tornou solit�rio e mudo, incapaz de falar aos seus semelhantes e por fim consigo mesmo. � nesse cen�rio marcado pela incomunicabilidade e pelo sil�ncio que se conclui a profecia do monge Sean, chamada pelos irlandeses "do oitavo selo" porque narra aquilo que acontecer� depois de rompido o s�timo.Procurou-se enxergar nesse desolador afresco de melancolia c�ltica, ofuscado por n�voas que parecem evocar brumas atl�nticas, uma antecipa��o da

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crise existencial do homem moderno enquadrada na mais vasta crise ambiental do planeta. Os monstros que devoram o ar subtraindo a respira��o dos

viventes seriam, segundo tal interpreta��o, as maquinarias dos complexos industriais ou ainda, numa �tica mais avan�ada, as centrais nucleares. Outras passagens aludem explicitamente a rios e extens�es marinhas contaminadas por enxofre e l�quidos infernais, como a dizer infectados ao ponto de n�o mais poderem conter formas de vida.N�o ocorrem enfim esfor�os de fantasia particulares, a fim de reconhecer o povo das metr�poles atuais nesses seres humanos s� pela apar�ncia, em estado de perene depress�o, que, segundo o or�culo, "morrer�o em solid�o mesmo vivendo entre milhares de pessoas".Por outro lado, parece obscuro o significado das 444 luas que deveriam preludiar, com a sua sucess�o, o sobrevir da cat�strofe final. Considerado em termos de tempo real, o ciclo de uma lua esgota-se em um m�s. H�

quem tenha tirado a conclus�o de que o desenrolar dos eventos ligados ao rompimento do oitavo selo deveria consumar-se no giro de 37 anos, equivalente a 444 luas. Poderia tratar-se, querendo insistir em tal conjectura, da idade do Anticristo, protagonista cruel do extremo decl�nio do mundo.Outros preferiram dar ao n�mero uma interpreta��o simb�lica, como foi feito anteriormente para o 666 da besta. Seguindo, portanto, a s�ntese esot�rica do 444, conseguiram chegar mediante duas adi��es (4 + 4 + 4 = 12, e depois 1 +2 = 3) � Trindade, meta de perfei��o humana e divina.

22O Aranha Negra

� conhecido com um pseud�nimo pitoresco, devido ao fato de que

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"assinava" as pr�prias profecias desenhando no in�cio de cada folha uma min�scula aranha negra. N�o s�o conhecidas as suas generalidades nem o tempo e o lugar exato onde viveu, ainda que habitualmente se costume identific�-lo com um monge b�varo que viveu entre o fim do s�culo XVI e o in�cio do XVII. D�o cr�dito a esta coloca��o temporal do vidente chamado Aranha Negra (o Schwarze Spinne, dada a origem alem�) os seus escritos prof�ticos, que prosseguem ordenadamente por anos, a partir dos

primeiros do s�culo XVII, assinalando para cada per�odo as ocorr�ncias � e mais ainda as atmosferas, as situa��es � principalmente significativas.Estendem-se at� o ano 3.000, que designam como o tempo do "dil�vio de estrelas", pre�mbulo de um fim que "inexoravelmente" sobrevir� a 7 de junho do ano de 3017.Nesse dia "a terra ser� abalroacla por uma terra [...], se mover� como um b�bado, cambalear�, se partir� em dois peda�os [...] e a gl�ria e a sapi�ncia e a riqueza dos terrestres se dissolver�o no espa�o eterno, sem deixar qualquer sinal de si".Um "dil�vio de estrelas"Tudo isso chegar� como uma liberta��o, pondo fim a um per�odo de seca e de luz cegante que ter� reduzido os homens no n�vel de "animais errantes". Assim Aranha Negra descreve essa era de desola��o, por t�-la visto "nos c�us eternos" como em um espelho:A noite ser� uma m�e avara. Uma perene luz diurna queimar� os olhos. Secar�o as nascentes e o vento transportar� areia em fogo por toda a parte. As florestas se tornar�o deserto, as cidades ser�o como cemit�rios abandonados. Os filhos dos homens n�o ser�o mais homens, mas seres

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irreconhec�veis, vagando como animais errantes. Lento e silencioso ser� o �ltimo tempo do homem. Aparecer�o e desaparecer�o nos c�us corpos sem nome, deixando uma esteira de sombra e de luz. A terra se abrir� como um cad�ver em putrefa��o, de cujas feridas sair�o fuma�a e veneno...Tamb�m para o Aranha Negra, portanto, como para o monge Sean e outros videntes de uma �poca na qual o desastre ecol�gico n�o era previs�vel, o fim do mundo ser� precedido por uma degrada��o mortal do meio ambiente. O homem ser� envenenado atrav�s de uma assimila��o lenta e dolorosa, que provocar� um verdadeiro processo de transmuta��o gen�tica, tornando-o irreconhec�vel em rela��o ao que fora em certa �poca. Ambos os monges concordam enfim ao preverem para os �ltimos herdeiros da esp�cie humana um futuro de aliena��o e de sil�ncio, incomunicabilidade e solid�o.Dessa �poca de horror aos nossos dias descobre-se que, embora procrastinado de um mil�nio em rela��o � mais difusa opini�o daqueles videntes que o haviam colocado por volta do ano 2.000, o fim do mundo j� come�ou. Tratar-se-ia, segundo o Aranha Negra, de um processo assinalado por fases alternadas de retomada e reca�da, progresso e degrada��o, destinado a concluir-se de qualquer modo pela decad�ncia para ele indicada do ano 3.017. Vimos de que modo. Vejamos agora atrav�s de que passagens nos deveria chegar a hist�ria.Ascens�o e derrota do "pr�ncipe negro"Os �ltimos anos do s�culo XX assinalam para o Aranha Negra "a demoli��o do Templo", isto �, da Igreja crist�. O Anticristo, a quem chama de "o pr�ncipe negro", seria j� nascido em 1966 e teria iniciado sua prega��o em 1996, ao completar trinta anos, propondo �s massas leis

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enganosas e aliciadoras: "Gozai at� o �xtase e sereis felizes, adorai C�sar e sereis exaltados, roubai e sereis honrados." Por�m a coisa mais surpreendente � que este pr�ncipe infernal se instalaria com a sua corte

exatamente no Vaticano: "Ter� banquetes � sombra da grande c�pula, e milhares de pescadores [de almas, sup�e-se, portanto padres] beijar�o sua m�o [...] que aben�oa e destr�i."Poder-se-ia deduzir que entre o Anticristo e o papa exista um estreito entendimento. N�o � uma hip�tese nova: muitos textos apocal�pticos � e as pr�prias mensagens marianas do s�culo XX, a come�ar por F�tima � denunciam um risco similar.Mas o Aranha Negra inclina-se para a eventualidade de uma submiss�o do pont�fice ao Anticristo mais do que a de uma aut�ntica cumplicidade. Afirma de fato que, em 1997, Pedro ser� encerrado numa caverna, vigiado pelo velho lobo. Ser�, portanto, ref�m, e n�o aliado, do "pr�ncipe negro".A palavra deste �ltimo germinar�, enquanto o leg�timo pastor n�o ter� mais nenhum poder sobre o seu rebanho. A ordem natural das coisas ser�

subvertida: o pastor se nutrir� da relva amarga dos prados e as ovelhas se

sentar�o � mesa "diante da garrafa de vinho e do queijo�. E n�o dever�o voltar � noite ao redil, pois o pastor "n�o ter� mais o c�o" para conduzi-las."N�o haver� mais guardi�es. Haver�, por�m, ainda mais patr�es." O que ele quer dizer? Que os adeptos do "pr�ncipe negro" governar�o, fazendo promessas que n�o poder�o cumprir, tamb�m pela sua in�rcia no comando."Pegai o trigo", dir�o �s massas os novos chefes, "e o trigo se tornar�

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cinzas. Pegai a luz, e a luz se tornar� treva. Pegai a casa do pai, e seus muros exibir�o as rachaduras dos s�culos."Deveria ter in�cio dessa maneira � em 1998, escreve o monge b�varo � a verdadeira e pr�pria "demoli��o do Templo". Sobre seus muros "se abrir�o rugas milenares", enquanto "as pilastras se vergar�o como bambus ao vento".Haver� uma di�spora que fragmentar� o povo crist�o em "duas mil irm�s", isto �, assembl�ias secretas, seitas ou tamb�m comunidades de prece aut�nticas, mas "somente alguns a cobrir�o de verdadeira luz". E em 1999, ano da "ressurrei��o de Caim", o Anticristo celebrar� sua vit�ria: "Vir� sobre a terra o filho do mal, e ser� o alferes do pr�ncipe negro. [...] Verdes estandartes triunfar�o ao vento [� a cor do integrismo isl�mico e da bandeira da L�bia] e Caim enxugar� seu cutelo em uma bandeira da cor do leite e do sol [a bandeira do Vaticano � branca e amarela]. A palavra do pr�ncipe negro � uma tempestade que carrega a nave [tradicional met�fora da Igreja], um fulgor que despeda�a o carvalho [representa��o do poder leigo].Mas no pr�prio ano da sua apoteose o "pr�ncipe negro" ser� tra�do c vendido "por trinta flores murchas". Nisto, como quer a tradi��o milenarista, a figura do Anticristo � especular no mal aquela do Cristo: � tra�do aos 33 anos, e tamb�m ele por trinta moedas, eficazmente simbolizadas por ef�meras flores sem vida.Ser�o aqueles mesmos "homens verdes" que o haviam aclamado a "preparar uma armadilha no levante [mais uma vez a refer�ncia � terra

isl�mica] na qual o grande pr�ncipe da noite cair� e ser� amarrado com cordas, como se costuma fazer com os chacais".

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E eis que chega 2.000, ano da "gl�ria do fogo". Explodir� a esta altura

uma guerra devastadora e fulminante, capaz de poder representar o fim do mundo, por�m n�o ser� ainda o fim, mas uma prova indispens�vel para a obten��o de "uma paz solene, uma paz majestosa, ilimitada, sem horizontes".

O acordo entre Satan�s e a Igreja, previsto e temido por todas as profecias apocal�pticas.

Como prova, ser� tremenda e t�o r�pida a ponto de n�o deixar aos homens "nem sequer o tempo de erguer os olhos para o c�u". Ao contr�rio do verdadeiro fim do mundo, que sobrevir� "lenta e silenciosamente" mil anos mais tarde, esta ser� "fugaz como um rel�mpago". Causar� a impress�o de que tudo esteja acabado, e inutilmente os homens "procurar�o agarrar-se aos destro�os � deriva do que foi a barca de Pedro". Ser�o arrastados para o mar, onde submergir�o numa �gua de fogo "e em chamas se concluir� uma era".Haver�, contudo, "quatro transtornados sobreviventes sobre os escombros de dois mil anos", os quais "entender�o que tudo n�o passou de um sonho amargo". Entender�o, al�m disso, que n�o estava na gl�ria, mas sim na busca da paz, o verdadeiro sentido da vida. A esses ser� confiada a reconstru��o do "novo tempo", com a recomenda��o de liquidar tudo aquilo que poder� ser desviante ou danoso em rela��o �s necessidades reais da exist�ncia:Fazei com que a oliveira reverde�a, mas queimai a rosa.Uma trag�dia da autodestrui��oCome�a depois de 2.000, para os sobreviventes � "gl�ria do fogo", um caminho de renascimento e purifica��o, que comportar� novas provas e

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muitos "triunfos": no bem (triunfo do amor, do belo, do saber) como no mal (triunfo de Caim, de Judas, do sangue), at� o decl�nio extremo e o

"dil�vio de estrelas".O Aranha Negra insiste em que o caminho do homem no terceiro mil�nio

atravessar� tr�s fases, muito menos id�licas do quanto prometem certos del�rios tranq�ilizadores da new age sobre a era de Aqu�rio.Haver� uma fase de forma��o da nova sociedade, que se consumar� no prazo de 160 anos, assim subdivididos: medo no primeiro dec�nio (2001-

2010), reequil�brio no segundo (2011-2020), retomada no terceiro (2021-

2030), loucura no quarto (2031-2040) e nova reca�da nos anos restantes (2041-2160). Seguir-se-� o tempo dos triunfos, que durar� por quatro s�culos e quatro dec�nios, determinando a evolu��o de uma humanidade rumo a metas mais abrangentes, simbolicamente representadas pela apoteose da mulher (2161-2200), do guerreiro (2201-2250), do sol (2251-2300), do pai (2301-2350), do espa�o (2351 -2400), da carne (2401 -2450), do amor (2451 -2500), da beleza (2501-2550) e do conhecimento (2551-2600). Outros triunfos menos exaltantes determinar�o a partir desse momento o envio da par�bola descendente, destinada a consumar-se no "dil�vio de estrelas". Triunfar�o antes que o mundo acabe os grilh�es (2601-2650), a noite (2651-2700), depois Caim (2701-2750), Judas (2751-2800), e o sangue (2801-2850), a peste (2851-2900), a morte (2901-3000).Caso se queira dar um sentido �quilo que o inc�gnito monge b�varo

deixou escrito, suas profecias devem ser lidas como trag�dia da autodestrui��o humana. Tudo que de mal deveria acontecer segundo o

Aranha Negra nos tempos por vir n�o se deve a um destino inexor�vel,

mas sim ao comportamento do homem e �s suas escolhas. N�o � uma fatalidade, mas um castigo, ou pelo menos a conseq��ncia da disseminada presun��o humana de poder dominar o universo. O que leva a entrever,

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al�m das n�voas do apocalipse por ele projetado � como de qualquer outro, de resto �, uma margem de salva��o, uma possibilidade de interven��o do homem sobre o seu pr�prio destino.� a mesma mensagem encontrada na revela��o de Jo�o e no crep�sculo pag�o dos deuses germ�nicos, na premoni��o virgiliana sobre a nova idade do ouro e nas apari��es marianas. Significativa nesse sentido � a surpreendente intensifica��o destas �ltimas em �poca recente, n�o obstante a manifesta relut�ncia das autoridades eclesi�sticas em dar cr�dito ao fen�meno como evento sobrenatural. Todas t�m em comum, junto � severidade do veredicto sobre o fim agora iminente, a advert�ncia triste � humanidade para que mude, conjurando in extremis a cat�strofe por meio da convers�o e da prece.Tamb�m nas mais l�gubres e inevit�veis premoni��es do Aranha Negra, por outro lado, aparecem s�mbolos que deixam entrever a possibilidade de uma regenera��o sem reca�da. Podem ser atribu�dos valores decididamente positivos para momentos assinalados pelo triunfo do amor, da beleza, do conhecimento, que pareceriam propor de novo em um cen�rio futuro antigas harmonias de signo helen�stico, renascentista, neocl�ssico. E se a estes momentos se sucedem outros de car�ter destrutivo, nos quais prevalece a cultura dos grilh�es e do sangue, isso n�o se deve ao des�gnio inelut�vel de um deus cruel, mas sim �s puls�es de morte que o homem cultiva e realiza em si mesmo. S�o est�mulos que se pode, voluntariamente, resistir. A "sorte do homem" depende do fato de que isso aconte�a on n�o, ao contr�rio de uma predestina��o perversa.� para isso que converge, no fim das contas, o mesmo Aranha Negra, quando reconhece que o homem � "ator do tempo que desaparece" e que sua mente � "como um campo de trigo, cujas espigas parecem iguais, mas

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s�o diferentes", a ponto de poder produzir ou negar o pr�prio fruto com base em um projeto de livre-arb�trio.

Triunfos de morteO homem destinado a atravessar esse mil�nio de "triunfos" � e depois,

segundo o Aranha Negra, sucumbir� ser� dotado de sete sentidos em vez de cinco, gra�as aos quais "dominar� a mat�ria". Ser�o sentidos com toda probabilidade telep�ticos, uma vez que permitir�o falar "sem abrir a boca" e viajar "sem sair do lugar". Suas pesquisas o levar�o a insistir em ter descoberto "a casa da alma", que, tal como foi descrita pelo vidente, assemelha-se � internet, a m�e de todas as redes", mas com efeitos desestabilizadores para o esp�rito, que ficar� perturbado. Haver� progresso da medicina e "muitas doen�as ser�o curadas ao se tocar o c�rebro com um alfinete de ouro", gra�as tamb�m � recupera��o de um saber perdido: "retornar�o muitas palavras desaparecidas, ressurgir�o muitas coisas sepultadas, para morrer de novo".V�o se agu�ar junto aos dotes telep�ticos as potencialidades medi�nicas do c�rebro, permitindo a qualquer um "ouvir a fala dos mortos". Cair�o as barreiras entre a vida e a morte, provocando uma certa confus�o, "pois haver� homens vivos j� se acreditando mortos e homens mortos achando que ainda est�o vivos".N�o satisfeitos em operar curas prodigiosas, os detentores do poder cient�fico ir�o intervir sobre a natureza humana, produzindo sensacionais muta��es, mas "o homem modificado pelo homem [atrav�s de experi�ncias de engenharia gen�tica, dir-se-ia] ser� um monstro". Um monstro que poderia ser a imagem espelhada do homem do qual ser� extra�do, porque clonado.

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Ser� necess�rio, para p�r um fim a tais horrores, a chegada do c�u de um profeta "sobre um carro puxado por quatro le�es".Haver� nos primeiros tempos da regenera��o uma retomada do senso religioso e "o homem voltar� a falar com o seu �nico Senhor, que est� nos c�us". Surgir�o novas igrejas, outras ser�o destru�das."Deus conhece todas as l�nguas", escreve o vidente, "e n�o precisa de int�rpretes." Deduz-se que a urg�ncia de prece envolver� todos os povos.N�o bastar�, por�m, impedir que o g�nio cient�fico avance at� o limite extremo da autodestrui��o, elaborando a arma que levar� � extin��o definitiva do g�nero humano. Esta arma estar� j� pronta nos anos do

"triunfo do sol", gra�as provavelmente � descoberta da energia nuclear. Ir� se aperfei�oar nos s�culos seguintes, atrav�s de novas guerras, que cancelar�o os efeitos purificadores do fogo, trazendo entre os homens o �dio e as paix�es mais deterioradas, at� o crep�sculo definitivo.Inutilmente, na virada de 2.900, os �ltimos s�bios ainda dotados de um

resqu�cio de raz�o seguir�o pregando novos caminhos de salva��o, pois "todas as estradas levar�o � grande fornalha, onde foi celebrado o eterno matrim�nio entre o gelo e o fogo".O fim come�ar� "no vale dos �ltimos s�bios, onde C�sar deixou suas pegadas", provavelmente o Egito, mas talvez tamb�m na pr�pria Roma. Ali "cair� uma estrela enorme, e onde antes verdejavam as plantas se abrir� uma imensa cratera. Em v�o, tr�s cavaleiros partir�o para um lugar que o monge chama a Nova Roma "para procurar a vida". Ser�o detidos por uma estrela "na estrada que conduz � pequena colina", onde assistir�o a um horrendo espet�culo: "Homens arrancar�o a pele de outros homens e muitas m�es desmembrar�o os pr�prios filhos.�

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O calend�rio da loucura humanaA inquietude suscitada pelas profecias do Aranha Negra na idade moderna, a partir do s�culo passado, explica-se com os achados sobre fatos j� acontecidos, por ele previstos em datas precisas. Diferentemente de outros videntes do passado, e do pr�prio Nostradamus, o an�nimo monge b�varo trata de enquadrar suas vis�es em um impec�vel esquema cronol�gico, elaborando um calend�rio capaz de permitir acesso ao exato contexto hist�rico de cada vis�o sem ser preciso recorrer a chaves especiais.Foi poss�vel assim constatar que havia previsto a migra��o dos puritanos denominados pilgrim fathers das costas inglesas para as americanas (1620), a decapita��o de Carlos I da Inglaterra (1649), a constitui��o dos Estados Unidos (1776), a Revolu��o francesa (1789), a coroa��o de Napole�o como imperador (1804) e a sua morte (1821), a fuga de Pio IX

de Roma (1848), o regic�dio de Umberto I (1900), a Revolu��o Russa (1917), as duas guerras mundiais e por a� vai, para citar apenas alguns de

seus memor�veis instant�neos hist�ricos.Para cada uma dessas predi��cs serviu-se de express�es simb�licas, mas pertinentes, de f�cil interpreta��o, caracterizadas em certos casos por uma l�rica transpar�ncia. Vejamos:Escreveu que uma flor deslizaria sobre a �gua "at� alcan�ar a margem deserta", e � o que acontece aos exilados puritanos que alcan�aram, em 1620, como por ele indicado, a costa selvagem de Massachusetts a bordo de um navio chamado Mayflower, ou seja, "flor de maio".Previu que 1649 seria "um ano de sangue para s�o Jorge", padroeiro da Inglaterra, e naquele ano foi decapitado o rei Carlos depois de ter juntado "novas folhas sobre a �rvore, j� mortas": as folhas �s quais se referiam eram as modifica��es efetuadas pelo soberano nos rituais da Igreja

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anglicana, tendentes a restaurar as ostenta��es exteriores do catolicismo, � �poca suprimidas. Acrescenta que depois da execu��o as ma��s assumiriam o lugar dos camponeses na aragem do campo: permaneceram de fato no poder os "cabe�as-redondas", como eram chamados os seguidores do dilador Cromwell, com uma express�o que parecia evocar a forma de uma ma��.Associou 1776 ao nascimento de uma na��o "sobre um tapete de estrelas", e a 4 de julho daquele ano na Filad�lfia foi constitu�da a federa��o americana, cuja bandeira estrelada simboliza a uni�o dos estados-membros. Quis especificar que a liberdade explodiria "ao 13�. toque do sino", e votaram de fato os expoentes das treze col�nias em luta pela independ�ncia, cada qual saudado com um badalo de sino.Viu a faustosa monarquia de Versalhes convulsionada cm 1789 por "um turbilh�o de sangue entre os blocados", e em 5 de maio se reuniram nos seus sal�es os Estados gerais, representando o clero, a nobreza e o povo (Terceiro Estado), indicados na profecia como "tr�s lobos fam�licos, prontos a se dilacerarem". Explodiu pouco depois a insurrei��o, e a Bastilha foi tomada.Disse que em 1804 uma �guia subiria ao altar para receber uma coroa "por m�o anelada", e�6 o que acontece na catedral de Notre-Dame, onde Napole�o foi consagrado imperador por Pio VI. A �guia era o seu emblema, por�m o que mais espanta no texto prof�tico � o verbo usado para descrever a din�mica do evento: n�o � dito que o papa teria coroado a �guia, como seria correto, mas que lhe teria oferecido materialmente a coroa. As coisas ocorreram de fato segundo um ritual ins�lito: o papa n�o p�s a coroa sobre a cabe�a de Bonaparte, mas a entregou a ele, que se coroou com as pr�prias m�os.Da �guia napole�nica o Aranha Negra previu tamb�m a "morte sobre a �gua" em uma ilha perdida no oceano, em 5 de maio de 1821. Mas viu simplesmente surgir, naquele mesmo ano, para logo desaparecer, uma grande ilus�o de liberdade "na Terra de Pedro", como chama no seu vocabul�rio a It�lia. E eis os fatos: uma insurrei��o dos carbon�

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rios no Piemonte obriga V�tor Emanuel I a abdicar em favor do irm�o Carlo Fclice, na aus�ncia do qual o regente Carlo Alberto concede a constitui��o, mas � desautorizado pelo rei, que a revoga e pede aos austr�acos que intervenham. Carlo Alberto � indicado como "a estrela" das esperan�as liberais, mas n�o � um astro fulgurante: por suas d�vidas e mudan�as de opini�o o profeta o define como "estrela p�lida c fugaz, de luz incerta", antecipando o julgamento de todos que o ridicularizaram perante a hist�ria como o "Hamlet it�lico" (Carducci) e o "rei Bamboleio".Ainda no �mbito da Renascen�a italiana, o Aranha Negra tra�ou uma cr�nica detalhada do que teria acontecido a Roma em 1848, com a fuga de Pio IX para Gaeta depois do assassinato do seu ministro Pellegrino Rossi: "Enquanto a lua m�ngua, Bruto golpear� mais uma vez [Bruto � sin�nimo de delito pol�tico, em nome da liberdade], e o sangue cair� sobre pedras milenares que Pedro deixar� para tr�s." Mas n�o ser�o apenas pedras que o papa deixar� para tr�s, abandonando o pr�prio posto: "Pedro deixar� para tr�s as formigas [isto �, o povo] para refugiar-se em um novo redil adornado de pedras preciosas." � evidente a reprova��o do vidente ao comportamento do pont�fice.A continua��o da profecia descreve a proximidade do povo com o poder: �Tr�s degraus separar�o as formigas do port�o." De fato, tr�s meses depois � proclamada a rep�blica romana, governada por um triunvirato. O "port�o" � o que hoje se chama jornalisticamente de "pal�cio", ou seja, a sede do poder pol�tico. Os "tr�s degraus" podem indiferentemente indicar os tr�s meses que se levou para instaurar o novo regime ou ainda os tri�nviros (Mazzini, Armellini e Saffi) que serviram de filtro �s aspira��es

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populares.A Guerra de Secess�o americana figurou entre os cen�rios descritos com particular apreens�o pelo Aranha Negra, que viu se adensarem em 1861 �nuvens contra nuvens na Terra Nova [americanos contra americanos] para desencadear uma tempestade sob o mesmo c�u". O profeta recorreu

tamb�m nesta ocasi�o � met�fora das estrelas, por ele usada para indicar os Estados Unidos. Escreveu que parte dessas estrelas teriam escolhido "o caminho da p�lvora", isto �, da derrota, como ocorreu para os estados secessionistas, que conseguiram de qualquer modo "brilhar na primeira metade da noite". Obtiveram de fato vit�rias no in�cio, mas foram obrigados � rendi��o depois de um banho de sangue "no ano do loureiro" (1865). H� uma esp�cie de simpatia piedosa, da parte do monge, por esses infelizes protagonistas de uma guerra que n�o foi travada por eles em defesa do escravismo, como superficialmente � apresentada, mas sim pela autonomia sulista do poder central de Washington: chama-os em conjunto de "a flor cortada", em refer�ncia talvez � rosa amarela do Texas, s�mbolo imortalizado por uma can��o muito cara ao imagin�rio secessionista.

A Terra Nova volta tamb�m em uma profecia de interesse italiano, relativa ao assassinato de Umberto I, ocorrido em Monza em 29 de julho de 1900. Da Terra Nova surge de fato "o corvo para o grande funeral", isto �, o anarquista Gaetano Bresci, proveniente da cidade de Paterson, Nova Jersey. Mas n�o � o �nico detalhe surpreendente de tudo que o Aranha Negra escreveu com tr�s s�culos de anteced�ncia sobre a "coroa ensang�entada" deste Sav�ia. Contou de fato em uma profecia precedente, referente a 1897, que uma serpente teria dado "um salto para uma sebe" com a inten��o de fazer cair uma estrela, a qual permaneceria, em vez disso, "alta no c�u". E a 22 de abril daquele ano, enquanto Umberto se dirigia ao hip�dromo de Capannelle, em Roma, um jovem saltou de uma sebe � margem da estrada sobre o estribo da carruagem, desferindo uma punhalada no rei, por�m sem feri-lo gravemente. "O veneno n�o ser� mortal", dissera o vidente, e Umberto sobreviveu � mordida da "serpente",

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para vir a morrer tr�s anos depois em Monza, fulminado pelo rev�lver do "corvo" chegado da Terra Nova.

Sobre o fio da eternidade "entre Jogo e fogo"Emergem das profecias do Aranha Negra para o s�culo XX os fantasmas

das primeira e segunda guerras mundiais ("uma plan�cie de cruzes" e "uma chuva de sangue"), da Revolu��o Russa ("o grande inc�ndio"), da guerra civil espanhola ("um grande tapete estendido para a prece dos mortos") numa sucess�o de mortandade sem solu��o de continuidade, sem tr�gua "entre fogo e fogo", sem pausa "entre sangue e sangue". E todos s�o envolvidos: os ditadores com suas ideologias de morte (Hitler, Mussolini e Stalin s�o os "tr�s lobos fam�licos que adentram a floresta [do mundo] com as suas tr�s hordas sanguin�rias"), mas tamb�m as democracias com as suas medrosas hipocrisias (as tentativas diplom�ticas de prevenir o massacre s�o "uma macabra dan�a de esqueletos"), e o pr�prio pont�fice, com os Pactos de Latr�o, "abre a porta" por mero interesse ao fascismo,O Aranha Negra � severo sobre as escolhas de Pedro na tr�gica situa��o da guerra: diante da "gir�ndola de sangue" a pol�tica do papa � "branca

como o leite de uma novilha, mas astuta como um lagarto ao sol". Leite e sol, branco e ouro, como as cores da bandeira do Vaticano.Concisa e essencial, no que se refere � It�lia, � a s�ntese da par�bola fascista: o �mulo de C�sar "parte montado num cavalo vermelho, que se tornar� negro, para depois se afogar na corrente do rio das tr�s embocaduras". Mussolini come�a como socialista (vermelho) para depois virar fascista (negro) e ser envolvido pela derrota do Eixo, a alian�a Roma-Berlim-T�quio, simbolicamente representada pelas tr�s

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embocaduras de um mesmo curso d�gua.Afogou nos mesmos vagalh�es o mais sinistro e tir�nico dos seus aliados. Assim o Aranha Negra descreve o fim de Hitler: "A toca do lobo ser� reduzida a um monte de escombros, que ser�o divididos por uma espada." E este foi o destino de Berlim, sob cujas ru�nas ficou sepultada a loucura

do ditador no seu bunker.A espada dos vencedores dividiu em quatro a cidade e a na��o.

Na espiral do "nazismo m�gico"Deve-se paradoxalmente ao nazismo o relan�amento do interesse em torno das profecias do Aranha Negra no s�culo que passou.Parece que os manuscritos originais se haviam perdido em grande parte no in�cio do s�culo XIX e se dispersado entre v�rios propriet�rios, que em muitos casos n�o faziam id�ia do seu valor. Alguns foram reencontrados na Fran�a e outros junto � Biblioteca de Col�nia no final do s�culo. Submetidos a novos estudos, concordaram em encomendar uma moderna interpreta��o do seu conte�do, com base em achados relativos ao que havia acontecido anteriormente. Os resultados de tais estudos deveriam, por�m, alarmar nos anos 1930 os c�rculos esot�ricos nazistas, morbidamente sens�veis a cada forma de magia e adivinha��o, que evidentemente perceberam o significado catastr�fico dos eventos ligados

ao futuro da Alemanha.Hitler era reconhec�vel como "o lobo" destinado a desaparecer sob os escombros da sua toca, e eram reconhec�veis os acontecimentos do desenrolar de uma guerra que jogaria por terra as ins�gnias do Reich. Foi

ent�o empreendida pelos servi�os secretos uma ca�ada sem tr�gua aos manuscritos ainda dispersos, conduzida em sintonia com outras opera��es an�logas com vistas � descoberta de textos e rel�quias que tivessem um

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valor antimal�fico, tais como a lan�a de Longino e por fim o Santo Graal, como resultaria de escava��es empreendidas � �poca na Fran�a

meridional, explic�veis com a convic��o difundida entre muitos ocultistas de que o c�lice m�stico tivesse pertencido aos hereges albigenses chamados c�taros, exterminados sete s�culos atr�s. Expedi��es

arqueol�gicas procuravam, enquanto isso, no Tibete as "provas" da pureza original da ra�a ariana e no Egito as chaves do saber antigo.N�o se sabe se as profecias restantes do Aranha Negra chegaram a ser encontradas, mas em 1938 foi confiado a um erudito chamado Ludwig Birzer, da Gestapo, a miss�o de reelaborar o conte�do, trazendo-lhe novos significados. Na realidade, os expoentes do �nazismo m�gico e o pr�prio Hitler estavam animados em rela��o a esse ins�lito vidente por inten��es contradit�rias: se por um lado queriam cancelar algumas de suas profecias, pelo que nelas se pudesse deduzir sobre os destinos da Alemanha, por outro tamb�m queriam valorizar e relan�ar a mensagem abrangente, tratando-se da obra � genial a seu modo, �nico no seu g�nero � de um autor alem�o.O Schwarze Spinne podia ser na realidade utilizado como t�pica express�o cultural de uma germanidade lend�ria, sens�vel aos mitos e �s exalta��es vision�rias, capaz de gerir com desenvoltura � mas com organiza��o exemplar, quase man�aca � a pr�pria voca��o natural para o dom�nio de poderes sagrados e m�gicos. Podia sobrepujar no imagin�rio europeu a fama do franc�s Nostradamus, contrapondo �s suas Cent�rias, t�o

herm�ticas, t�o inacess�veis, um resumo prof�tico imponente para ir muito al�m pela simplicidade expressiva, cuidado nos detalhes, regularidade

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cronol�gica.Foi assim que as suas profecias, relidas e expurgadas pelo professor Birzer, vieram a ser divulgadas durante o segundo conflito mundial, obtendo impressionante sucesso popular. O "lobo fam�lico" no qual se podia identificar Hitler foi transformado em "nova estrela", e muitos detalhes tr�gicos da iminente hist�ria alem� foram manipulados de modo a poderem ser referidos a outras na��es, mas no conjunto a obra do Aranha Negra era fiel e eficazmente transmitida.Qual possa ter sido, em subst�ncia, a interven��o acertada entre Ludwig Birzer e a Gestapo sobre aqueles textos jamais se saber�, pois alguns anos depois o estudioso morreu num bombardeio. Ou foi v�tima dos pr�prios servi�os secretos, que assim mascararam o homic�dio.A reaproxima��o alem� com o mito prof�tico ligado ao monge b�varo n�o foi uma opera��o recente. Os ingleses j� se haviam apropriado dele fazia um bom tempo, inserindo-o desde o s�culo XVIII no seu patrim�nio folcl�rico e lend�rio. Por ele foram atra�dos, sobretudo, os escoceses, junto aos quais tornou-se popular com o nome de Foreteller Monk, isto �, o "monge vidente". Foi tamb�m chamado, com conota��o mais diab�lica, de Wizard Monk, ou "monge mago", e invocado pelas feiti�arias mais extravagantes.

23A Monja de Dresden

Quando Napole�o esteve � beira da morte no seu ex�lio em Santa Helena, comentou-se que "o grande pecador, ao apagar de sua estrela, encontrar�

paz e perd�o entre os bra�os de uma santa". A santa era provavelmente a ilha na qual morria. Ou pelo menos assim pareceu quando a singular previs�o foi divulgada pelo abade austr�aco Nicholas Holbne, talvez

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interessado politicamente em redimensionar a fama de blasfemo do imperador, grande inimigo da Igreja, ou simplesmente atra�do pela tenta��o de fazer-se passar por vidente.Mas provou-se que a profecia n�o era sua, e sim de uma freira que viveu um s�culo antes em um convento perto do rio Elba e que ali morreu bem

jovem, em 1706, � idade de 26 anos. Dela n�o se conhecia generalidades nem origens, salvo o fato de que nascera em Dresden e de que se tratava de "uma mo�a de condi��o humilde, chamada por uma voz celeste para transcrever mensagens divinas para os poderosos da terra". A essa ordem ela havia obedecido com zelo, enviando relat�rios circunstanciais das pr�prias vis�es a papas e monarcas, tanto em latim quanto em alem�o, mesmo sendo semi-analfabeta.Deduz-se que tenha sido ela a Santa entre cujos bra�os morria o imperador, arrependido dos seus pecados, visto que ela havia prenunciado sua convers�o.Pouco importa qual fosse na realidade o sentido dessa profecia, e se devemos entender por santa a ilha de Santa Helena ou a piedosa virgem que previra o evento com mais de um s�culo de anteced�ncia. O que importa � que pela resson�ncia mundial da morte de Napole�o, acrescida pelos boatos de uma reconcilia��o com a Igreja, criou-se em torno da an�nima monja de Dresden uma aura de curiosidade intrigante, que envolveu n�o apenas padres e ocultistas, mas tamb�m historiadores de

vis�o aberta, interessados em estudar o caso sob uma �tica cient�fica, como exigia a cultura racionalista da �poca.As pesquisas levaram � descoberta de trinta cartas, res�duo de uma correspond�ncia bem mais vasta, da qual foi poss�vel extrair espantosas considera��es sobre o n�vel cultural da autora, que, se realmente inculta � no limite do analfabetismo, como as not�cias recolhidas em ambientes religiosos deixavam supor �, devia efetivamente t�-las escrito em um estado de transe muito similar �quela condi��o de vid�ncia ext�tica que os crentes chamam de inspira��o divina.

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A Grande Inquieta��o do s�culo XXIA coisa mais surpreendente nas profecias atribu�das � monja de Dresden � que elas correspondem a um esquema totalmente an�logo �quele elaborado ao fim do s�culo XII por Joaquim da Fiore, o abade "dotado de

esp�rito prof�tico" que causara tanta impress�o em Dante Alighieri e em outros grandes esp�ritos medievais, com a sua escatologia sistem�tica,

perfeitamente enquadrada em evang�lica filosofia do fim do mundo. At� ela, que n�o havia provavelmente aprendido a ler nem muito menos compreender o Coment�rio ao Apocalipse e os outros escritos prof�ticos do cisterciense Joaquim, al�m de outros banidos pelos te�logos, divide o arco da hist�ria em tr�s tempos: "tr�s mil�nios dedicados ao Eterno". Ela tamb�m coloca cada um desses per�odos sob a influ�ncia de uma figura da Trindade. E fixa a data do ju�zo final nos �ltimos tempos do terceiro. Prev� que o fim do mundo se consumar� no ano 3.033, calculando o tempo a partir do sacrif�cio (a Reden��o) antes do nascimento do Cristo.Passou o mil�nio do Pai. Aquele que estamos vivendo � o mil�nio do Filho. O terceiro e �ltimo ser� o mil�nio do Esp�rito Santo. Depois vir� a inquieta��o da terra.A monja diz "depois vir�, mas na mesma carta se l� que essa "inquieta��o� (da terra e dos povos: turbalio terrae et turbatio gentis) ter� in�cio com v�rios s�culos de anteced�ncia do fim dos tempos e aumentar� em dolorosa sintonia com a degrada��o da humanidade, at� manifestar-se na sua extrema pot�ncia na data prevista. J� em 2.413, diz a Voz que inspira a vidente, dever� considerar-se "aben�oado o homem que jaz agora sob a terra". Horrores espantosos lhe ser�o poupados, uma vez que a parti

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r daquele ano "muitas terras ser�o convulsionadas [...] e onde navegavam barcos caminhar�o os carros, e onde andavam os carros se agitar�o as ondas do mar".E isso �ser� s� o in�cio�, sublinha a Voz, �porque inquieta��es sucessivas ocorrer�o em 2.419, em 2.483, em 2.490, em 2.516, em 2.526". Assim sucessivamente, a intervalos regulares e breves, at� 2.953, quando se dar� o �ltimo abalo antes daquele final.

Napole�o embarca no Bellerofonte. O nome do navio foi predito por Nostradamus na Cent�ria VIII, estrofe 13.

As tr�s pragasOs cen�rios apocal�pticos da monja de Dresden n�o diferem grande coisa dos muitos que remontam � idade b�blica: "Tudo tremer�, e a terra se agitar� como as ondas do mar, os carvalhos seculares se vergar�o como juncos ao vento, os rios transbordar�o para inundar as cidades. Enormes crateras se abrir�o para engolir pa�ses inteiros, como o homem abocanha um peda�o de p�o."Ter�o, por�m, a caracter�stica de relatar de maneira sistem�tica as mais variadas desditas do tipo de purifica��o � n�o s� no sentido de expia��o, mas tamb�m de prova �, exigida pela particularidade do tempo no qual

sobrevem, que no seu caso (e no nosso) � a idade do Filho, necessitada de "uma limpeza geral, pois o homem manchou tudo". Tal limpeza "exigir� padecimento e dores para toda a humanidade, que ao fim do mil�nio ser� expurgada por tr�s pragas".Vejamos quais s�o as tr�s pragas:Haver� uma epidemia mortal, que vir� como uma chuva, atingindo, sobretudo, os corrompidos na carne, os viciados, os filhos de Sodoma e Gomorra. Depois vir� o fogo, mas ningu�m ver� as chamas nem a f

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uma�a, e tudo ir� virar cinzas, e naquelas cinzas estar� a morte. Ocorrer�o por fim uma grande seca e uma grande fome, e sobre a terra se abrir�o feridas profundas e o trigo n�o mais germinar�, apenas relva envenenada.S�o pragas que a humanidade deste nosso tempo conhece: a epidemia tem todas as caracter�sticas que a opini�o comum associa � Aids, doen�a "punitiva" por excel�ncia; o fogo que produz cinzas mortais sem mostrar-

se ao olho humano, porque n�o tem chamas nem fuma�a, � com toda certeza uma energia contaminante, provavelmente nuclear; a fome � a fome, um mal j� end�mico do planeta, que aflige quatro quintos da popula��o mundial, estreitamente ligado por sua natureza � seca, sobretudo, na �frica.�s tr�s pragas, que n�o s�o dif�ceis de reconhecer entre os males efetivamente representados na realidade contempor�nea, ir�o se sobrepor ao fim deste mil�nio tr�s sinais "l�gubres como abutres, cujo v�o dar� in�cio ao cortejo f�nebre". Dar� in�cio, isto �, aos ritos de passagem da atual idade do Filho �quela, iminente, do Esp�rito Santo. E eis o que deveria acontecer:"Cair�o sobre a terra luzes do c�u, e o �ltimo C�sar cair� na poeira. No c�u se refratar�o clar�es de sangue e tudo ser� fogo, tudo ser� doloroso como uma ferida, porque as �guias ir�o penar ate a morte. O del�rio

invadir� a terra, e este ser� o �ltimo sinal."Tais sinais, para quem souber entender o sentido, ter�o a fun��o salvadora da "m�o que quer impedir a queda no abismo". N�o haver� outros, porque "depois n�o existir�o mais abismos".Muitos n�o entender�o sua advert�ncia "porque sua �nica preocupa��o ser� a de acumular ouro". Tal ser� a �nsia de riqueza que, "quando o

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ouro mudar para a cor do sangue, eles dir�o que tem a cor das rosas".Aqueles que, pelo contr�rio, reconhecerem os sinais encontrar�o "a estrada da Grande Vida, na qual cada um receber� aquilo com que sonhou, n�o aquilo que pediu [...], um longo caminho flanqueado por prados floridos c cortado por frescos regatos nos quais homens, animais e plantas beber�o juntos. Tudo ser� paz, e o homem sorrir� no seu caminho.Tudo ser� sil�ncio, e os p�ssaros pousar�o sobre ramos repletos de frutos".Assim ser�o os homens que ter�o superado as provas previstas para a virada de 2000, livres da �nsia de acumular riquezas e do af� de se altercar com outros primatas in�teis. Sobre a estrada do Grande Caminho seguir�o apenas uns poucos, sem pressa:

Nenhum desses correr�, nenhum gritar�.Ningu�m, sobretudo, ser� oprirnido pela necessidade de defender-se:Ningu�m portar� armas, porque n�o haver� mais inimigos.Os 6.666 dias do dem�nioN�o ser�o apenas sinais a reconhecer e provas a superar para se poder entrar com pleno direito, como homens livres, na era do Esp�nto Santo. Ser� preciso enfrentar, adverte a monja, entidades mal�ficas operantes a fim de realizar um des�gnio inteligente de corrup��o, conduzido com cada meio e a cada n�vel da sociedade. Seu fim seria a instaura��o do reino de Satan�s na terra.A vidente indica nesta virada de mil�nio o per�odo no qual a presen�a diab�lica ser� principalmente ativa sobre a terra. Afirma em uma das suas cartas ter individualizado o projeto e conhecer seus artif�cios, que a esta altura j� deveriam estar entre n�s, perfeitamente inseridos em um tecido social em boa parte correspondente �s suas expectativas.Como agentes do dem�nio, enganaram facilmente os homens, deixa entender a profecia, que, al�m de n�o saberem reconhec�-los, teriam

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achado aliciadoras as suas propostas, totalmente de acordo com a difundida avidez, por riquezas profanas.O tempo deles sobre a terra estaria, por�m, prestes a se concluir, e seus planos a ponto de fracassar, n�o obstante a efici�ncia da organiza��o da qual dependem e a perversa genialidade de quem os guia. Desde que os c�lculos da monja sejam exatos:De 1940 a 2010 L�cifer sediar� sobre a terra um guia seu [...] que falar� a l�ngua de �tila e envergar� os trajes de C�sar. A corte de Satan�s ser� composta de seis luc�fugas [dignat�rios infernais, assim chamados porque fogem � luz] e do guia Weighor, que dominar� triunfante a terra por 6.666 dias. Ser� o tempo da grande pestil�ncia, da floresta da iniq�idade. Mas depois toda a corte ser� jogada no fogo, e os �ltimos dem�nios reduzidos a cinzas envenenadas.A concep��o hier�rquica e organizativa da corte infernal aqui enunciada pela monja � digna de especial nota, de um ponto de vista cultural, pois mostra um conhecimento detalhado da "moderna" demonologia elaborada por escritores como Wier, Bouguet, Remy e o pr�prio Jaime I da Inglaterra, no qual vinha racionalizado o preconceito conferindo a antigas supersti��es um fundamento cientificista distorcido. Para uso da Inquisi��o, e evidentemente de qualquer um que pretendesse ganhar autoriza��o para interferir em rela��o � perdi��o ou salva��o do g�nero humano, toda a cosmogonia infernal foi recenseada e reordenada nos �ltimos dois s�culos � da decad�ncia do Renascimento a todo o s�culo XVII � em uma esp�cie de contra-sociedade complexa e aristocr�tica, atuante em antinomia com aquela terrena para provocar a ru�na. EFFIGIES IOANNIS WIERIANNO ATATIS LX SALVTIS MDLXXVI.Jean Wier, o jesu�ta demon�logo que catalogou sete milh�es de diabos no s�culo

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XVI.

Esta aristocracia malvada tinha os seus l�deres, na maioria dem�nios herdados do paganismo, como Asmodeu e Astaroth, �mpias divindades do Oriente M�dio que exigiam sacrif�cios humanos, ou este Weighor de origem provavelmente n�rdica; cada l�der tinha os seus seguidores, burocraticamente investidos de autoridade sobre legi�es e companhias de

diabos numericamente comensurados pelo seu grau. O jesu�ta Jean Wier

havia-os catalogado em mais de sete milh�es (7.405.926, para sermos exatos), divididos em 1.111 legi�es de 6.666 dem�nios cada uma, sob comando de 72 pr�ncipes. Bouguet havia prevenido que os que se infiltraram na corte infernal sobre a terra se multiplicavam "como larvas em nossas hortas". Michaelis havia invocado para aquele que se envolvesse com esses agentes de Satan�s "uma morte nada comum, para servir de exemplo a todos". Remy o apoiou, explicando que o supl�cio, quanto mais terr�vel poss�vel, era do pr�prio interesse dos bruxos, tratando-se da �nica possibilidade que tinham de se redimir do dom�nio do Diabo. Veio por fim dar um verniz r�gio a essa disputa de �cio europeu o rei Jaime I da Inglaterra, j� rei da Esc�cia desde 1.567, como Jaime VI, que, obcecado pela id�ia de poder cair v�tima de um "compl� de magia", havia induzido o Parlamento a votar um estatuto contra os encantamentos. Depois envolveu-se com as t�cnicas da ca�a �s bruxas, escrevendo um tratado no qual explicava como reconhec�-las. E, ainda ao final do s�culo XVII, sofisticados intelectuais de diversos pa�ses se aprofundavam em acuradas lamenta��es sobre o perigo social representado pela bruxaria.

Pode-se bem compreender em que medida tal "debate" poderia ter envolvido pregadores e profetas, sempre orientados a sondar as vias mais desconhecidas dos futuros destinos do homem. A monja de Dresden nos d� nesta profecia uma demonstra��o convincente.O pr�prio recurso ao 6.666 para indicar os dias do triunfo infernal sobre a

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terra (dezoito anos e oito meses) n�o � um franco apelo em causa pr�pria do 666 apocal�ptico, mas sim uma prov�vel informa��o sobre o n�mero de dem�nios ao comando do guia e dos seus luc�fugas, que a piedosa mulher insiste em corresponder � lista elaborada por Wier. E, visto que os luc�fugas s�o seis, cada um vem a dispor de 1.111 unidades mal�ficas, ou seja, o equivalente, em n�vel individual, ao n�mero completo das legi�es.N�o demonstra nada, mas a recorr�ncia de n�meros e de circunst�ncias aparentemente fortuitas na adivinha��o n�o � nunca considerada casual, mas sim comprobat�ria de alguma coisa que, fugindo � raz�o comum, tem uma raz�o especial de ser.

Anjos e VenenosH� um fundo de racionalidade nas vis�es da monja de Dresden que se exprime, sobretudo, atrav�s de informa��es particularizadas acerca de um progresso tecnol�gico impens�vel � �poca, com amplas alus�es ao uso de instrumentos hoje ao alcance de todos, como o telefone, a televis�o, o r�dio:Voar� um dia a voz, e os homens se falar�o al�m dos mares e montanhas; voar�o as imagens, e os homens poder�o se ver al�m dos mares e montanhas...Contudo existe mais desencanto que estupor exaltado nessas suas cr�nicas do futuro. Certas faculdades lhe parecem in�teis, em certo sentido, dado que n�o procuram a felicidade. A televis�o, afirma explicitamente a monja, mesmo que n�o saiba do que se trata, n�o est� a servi�o do bem:As imagens voar�o como os anjos, mas n�o irradiar�o as luzes dos anjos.Essa desoladora avalia��o do progresso se deve, claramente, � propens�o

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da vidente em considerar o desastre ecol�gico � como, ali�s, muitos de seus precursores � entre as maiores causas da hecatombe para a qual o homem se encaminha: "Com a aproxima��o do fim tudo ser� um veneno, porque o homem ter� decretado matar o homem. [...] O ventre da terra se

tornar� p�trido, e tudo aquilo que est� nela murchar�, mas os homens continuar�o a comer o interior do seu ventre e morrer�o. A morte ter� a cor do ventre, mas os homens dir�o que aquele � o odor da natureza."Parece que a monja, ao advertir as futuras gera��es da degrada��o para a qual caminha a natureza, queira coloc�-las de sobreaviso contra as adultera��es dos alimentos. J� hoje os novos alimentos manipulados pelo homem, enlatados, quimicamente tratados, assumiram cores desconhecidas, odores ins�litos, mas a publicidade n�o faz mais que exaltar-lhes as qualidades "naturais", tentando exatamente demonstrar que eles t�m as cores e os odores da natureza.No entanto "o ventre murcho [da natureza] provocar� mais mortes do que uma guerra. Depois, quando tudo estiver murcho, quando tudo for morte, na aurora da era do Esp�rito Santo [isto � agora, a aurora do s�culo XXI], o enorme ventre ser� enchido de enxofre e purificado. (...) Os seus venenos

voar�o pelo ar, espalhando a morte em torno".Diz a monja de Dresden que o homem teria gasto 333 anos para envenenar o planeta e 666 para eliminar os venenos. Visto ent�o que nos primeiros anos do s�culo XXI a terra deveria ter alcan�ado o grau m�ximo de m�s condi��es de vida, deduz-se que o processo de envenenamento deve ter come�ado por volta de 1670, com um s�culo de anteced�ncia � Revolu��o Industrial, naquela fase de passagem da oficina t�xtil do artes�o para as grandes manufaturas que na hist�ria da economia � chamada de proto-industrial.Os 666 anos necess�rios para o saneamento do planeta representam um

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evidente pretexto para exigir a aten��o sobre a inevitabilidade da presen�a diab�lica, tamb�m nos per�odos de regenera��o, mas est�o somente a indicar o quanto � mais dif�cil reconstruir do que destruir, a ponto de exigir o dobro do tempo.As �guas mortais de VenezaCausa particular impress�o, nessa perspectiva de mortal degrada��o

ambiental, a previs�o daquela que deveria ser a morte de Veneza, sufocada por "�guas viscosas e venenosas". A monja compara a inclina��o da lagoa � f�ria barb�rica dos hunos que devastaram em 452 a majestosa cidade de Aquil�ia: "Aquil�ia foi destru�da por Atila. [...] Veneza ser� destru�da pelo novo �tila de a�o quando os s�culos a ter�o tornado p�trida. Imensas bocas de fogo se elevar�o para o c�u, vomitando venenos que cair�o sobre as �guas, tingindo-as da cor do sangue seco."N�o � dif�cil reconhecer no moderno �tila de a�o o complexo industrial da vizinha Marghera, e nas bocas projetando suas l�nguas de fogo para o

c�u as chamin�s das f�bricas. � poss�vel, por outro lado, numa passagem da profecia, tentar deduzir quanto ainda restaria de vida � cidade dos canais: "Cinco vezes a sombra de Aquil�ia se projetar� sobre Veneza, e depois Veneza ser� N�nive e Ishtar, e por sua vez, em ru�na, afundar� no sepulcro de sangue seco."O que significa? Que � preciso multiplicar por cinco, a conselho dos especialistas, a data do fim de Aquil�ia. Depois disso Veneza sofrer� o

mesmo destino de N�nive com o seu templo de Ishtar. Se a hip�tese est� correta, o ano de seu afundamento definitivo no Adri�tico poderia ser .2260.Causa um certo alarme o fato de que a monja tivesse especulado naquela mesma carta sobre outras datas acerca dos destinos de Veneza, que se

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revelaram depois fundamentadas. Escrevera, entre outras coisas: "Dez anos se passar�o da minha morte [ocorrida em 1706] e o le�o perder� as garras." Com efeito, entre 1716e 1718, a Rep�blica sofreu golpes, como a perda da Mor�ia reconquistada pelos turcos, que redimensionaram definitivamente o seu poder.

O Apocalipse DirecionadoA agonia de Veneza e o seu fim, que por anos se tornaram lend�rios, figuram entre as profecias da monja de Dresden que abordam mais de perto a realidade italiana contempor�nea.De particular interesse em tal sentido � a previs�o segundo a qual deveria aflorar no Adri�tico, em anos n�o muito remotos, uma faixa de terra entre a It�lia e o litoral da antiga Iugosl�via ou da Alb�nia. Seria uma esp�cie de caminho entre as �guas, destinado a unir os dois litorais.Uma interpreta��o por assim dizer realista dessa profecia induziu certos especialistas a considerar a eventualidade de um abalo s�smico, de tal pot�ncia que fizesse empalidecer a lembran�a dos terremotos de Messina e de San Francisco juntos. Mas as palavras da monja podem ser lidas num valor simb�lico, que leve em conta o que aconteceu � e continua a acontecer, num crescendo � depois da desintegra��o da federa��o iugoslava e da rep�blica popular albanesa. Nesta luz, o caminho entre as �guas poderia ser uma met�fora do fluxo migrat�rio, por meio do qual, milhares de desesperados v�m desembarcando j� faz algum tempo, clandestina e arriscadamente, no litoral italiano.N�o se trataria, portanto, de uma faixa de terra material, mas de algo que

do mesmo modo determina um tr�fego direto e incontrol�vel entre territ�rios um dia mantidos afastados pelo mar. Ao se aproximarem hoje at� se estabelecer uma intercomunica��o, se tal hip�tese de leitura � vi�vel, seria um trauma pol�tico em vez de geol�gico. Um terremoto, sim, mas institucional e econ�mico.

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Um discurso an�logo pode ser feito em torno da eventualidade, tamb�m ventilada pela monja, de que o mar Tirreno deva se transformar num lago. Tamb�m aqui se pensou num transtorno tel�rico sem precedentes, de propor��es realmente apocal�pticas, na acep��o comum � n�o inici�tica� do termo. Tudo bem, mas em uma perspectiva igualmente realista, conquanto metaf�rica, pode-se dizer que esse mar j� possa ser

considerado um lago destinado �s manobras aeronavais da OTAN, teatro

de eventos misteriosos e tramas obscuras, de cuja impenetrabilidade � testemunha a n�o solucionada trag�dia de Ustica.Al�m desses cen�rios que se prestam a m�ltiplas interpreta��es, a It�lia do s�culo XXI � para a monja de Dresden o espelho de uma sociedade em

crise, talvez no decl�nio definitivo, tornado ainda mais dram�tico pela

exist�ncia de v�nculos �s vezes obscuros entre poder religioso e poder civil, entre C�sar e Pedro, envolvidos num abra�o nebuloso, de contornos amb�guos:Fui conduzida em sonho ao cimo de uma colina, aos p�s da qual estendia-

se a cidade aben�oada, mas n�o conseguia distinguir nada mais que o Coliseu. Todas as pilastras estavam adornadas com bandeiras vermelhas, multid�es a ela tinham acesso por 62 portas, enquanto das arcadas superiores choviam moedas de ouro, que t�o logo tocavam a terra se transformavam em pequenas chamas de fogo para depois se extinguirem imediatamente. E o povo lutava para se apoderar de uma moeda de ouro, degolando-se, mas t�o logo algu�m conseguia p�r as m�os em cima, percebia que n�o havia nada, pois as m�os s� conseguiam agarrar o ar. O povo continuava a entrar [...] e de repente houve uma terr�vel confus�o. Arcadas e pilastras come�aram a oscilar, depois a desabar, fazendo cair pesos enormes sobre as pessoas, de modo que ningu�m podia entrar ou sair. [...] Vi depois surgir uma prociss�o de cardeais e bispos que, em vez

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de rezar, brigavam entre si. "Querem relacionar a Igreja a Jerusal�m", gritava algu�m, "fizeram um pacto com o Diabo", gritavam outros. A seguir houve um grande estrondo e elevou-se uma nuvem de poeira.

LUCIFUGE ROFOCALES�mbolo e assinatura de um dem�nio pertencente � categoria dos luc�fugas, sobre os quais se det�m a monja de Dresden nas suas profecias.

Como em uma transmiss�o televisiva comum pode-se assistir a uma imponente manifesta��o sindical � ou partid�ria, o que d� no mesmo �, representada como uma esp�cie de Pentecostes vermelho, j� que no Coliseu se mant�m por tradi��o os ritos da Semana Santa. Mas n�o � o fogo do Esp�rito Santo, mas sim uma chuva de moedas de ouro, que se espalha sobre os fi�is da nova religi�o; e todos se empenham para se apoderar delas, deixando-se envolver num est�ril jogo de azar. As fichas postas no pano s�o, por�m, de valor t�o ef�mero que se consomem como fogo-f�tuo sob os olhos dos contendores. Segue-se a essa desengon�ada competi��o uma esp�cie de talk show que aprisiona os participantes em uma arena cujas portas s�o obstru�das por escombros. Os homens do poder (eclesi�sticos, neste caso) d�o um lament�vel espet�culo de si mesmos, brigando como lojistas lesados nos seus pr�prios interesses. Uma grande nuvem de poeira cobrir� por fim suas vergonhas.Dir-se-ia quase que a monja de Dresden, al�m de intuir o enorme poder do meio televisivo, pudesse ter tido uma acurada vis�o dos programas. Com

pena e arg�cia, e com impercept�vel ironia.

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As Esposas de Deus

Muit�ssimas religi�es foram pr�digas em profecias que ficaram em certos casos famosas, a partir do s�culo XVII, por todo o s�culo do lluminismo e da Revolu��o Francesa, com interessantes desdobramentos no s�culo XIX e por fim em nossos dias. Retomou-se assim um costume que foi muito difundido na Idade M�dia � que havia envolvido grandes nomes da cristandade, como Br�gida da Su�cia e Catarina de Siena �, para depois decair na �poca renascentista, at� desaparecer com o veto do V Conc�lio, de Latr�o ao exerc�cio das pr�ticas divinat�rias, em 1516, especificamente voltado para impedir as predi��es apocal�pticas. Este �ltimo, um detalhe que n�o devia ser desprezado, visto que uma constante das profecias formuladas pelas sibilas crist�s foi a vis�o escatol�gica do fim do mundo. A outra constante foi a rela��o epital�mica com Deus, ou seja, nupcial em sentido m�stico, motivo pelo qual foram muitas a insistir que podiam se considerar, nos seus abandonos vision�rios, suas esposas. O caso da monja de Dresden inclui-se entre os mais evidentes, mas n�o o

�nico no qual o milenarismo adquiriu uma import�ncia por assim dizer

cient�fica, gra�as a uma an�lise racional do processo involutivo do homem, mesmo simplesmente no sentido mais lato que se possa imaginar, sem renunciar �queles n�tidos del�rios que aproximam certas vis�es prof�ticas ao �xtase dos santos. "Viram" do mesmo modo o fim do mundo e eventos ligados ao mais comum decurso da hist�ria, como a guerra, as revolu��es e as vicissitudcs dos poderosos, freiras de variada cultura e

extra��o social, dedicadas o mais das vezes ao isolamento e � contempla��o. Estiveram entre elas estigmatizadas, como a agostiniana Catarina Emmerich, que reconheceu mais vezes o Anticristo nas suas

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vis�es; apaixonadas musas prof�ticas da grandeza de um papa, como a

dominicana Pomba Ardente, que previu com riqueza de detalhes a elei��o de Pio IX; mulheres famosas por operarem milagres e curas, como a franciscana da ordem terceira Teresa Gardi; an�nimas videntes ocultas atr�s de um pitoresco pseud�nimo, como a "Sibila do �ltimo C�u"; e tantas outras criaturas que viveram � sombra dos conventos, cujas grades

da clausura n�o as impediram de perscrutar cen�rios muito distantes e tremendos, mas tamb�m os locais mais pr�ximos do cotidiano, prenunciando eventos triviais de administra��o comum, acontecidos realmente depois em curto prazo.Foram estes �ltimos, em muitos casos, a maioria DAS profecias sobre destinos extremos da humanidade a dar aval � credibilidade de uma vidente, devido � imediata possibilidade de achados, e a procurar uma popularidade com freq��ncia desmesurada, tal como chamar para si a aten��o dos poderosos.O Anticristo revolucion�rio de Jeanne La RoyerJeanne La Royer, que viveu no mosteiro de Foug�res na segunda metade

do s�culo XVIII, destacou-se entre as monjas videntes da �poca pelas acusa��es dirigidas �s hierarquias eclesi�sticas nos anos da Revolu��o Francesa.Mulher de escassa cultura, ao ponto de ter continuado analfabeta, tal como sua mais c�lebre coirm� de Dresden, adquiriu popularidade sustentando com not�vel anteced�ncia da Revolu��o ter visto "uma grande pot�ncia elevar-se contra os c�us e saquear o vinhedo de Deus, a ponto de transform�-lo numa via p�blica". Foi mais expl�cita ao descrever "a

Fran�a transformada num exterminado deserto, invadido por uma solid�o espantosa, dividido em prov�ncias similares a charnecas desoladas, atravessadas por viajantes que roubavam e destru�am cada coisa".Lamentava com particular �nfase, nessas suas primeiras profecias, o oportunismo e a velhacaria dos padres que se submeteriam � ordem republicana, aceitando suas condi��es. Definia-os como "covardes, indignos, falsos pastores, lobos camuflados com peles de cordeiro [...]

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entrados nos redis com o �nico objetivo de enganar as almas ing�nuas,

esfolar os rebanhos de Deus e permitir a profana��o dos altares".Advertiu, n�o obstante a ignor�ncia a ela atribu�da, sobre o peso anti-religioso da filosofia iluminista, demonizando-a com uma alegoria vision�ria: "Vi um dia sob uma montanha uma �rvore verde e forte, carregada de flores c frutos. Vi uma outra a poucos passos, muito menos forte, mas que parecia da mesma esp�cie. Entre as duas estava surgindo uma terceira, que aos meus olhos pareceu destinada a crescer tanto que superaria as outras. [...] Mas uma voz gritou: 'Cortai as ra�zes desta �rvore a fim de destru�-la para sempre.' Perguntei por que, e foi-me dito que a primeira �rvore era a Igreja, a segunda era a planta das ordens religiosas nascidas a sua sombra, a terceira representava as filosofias que nos �ltimos tempos tentaram envenenar a mensagem do Cristo."Naqueles que chamava de os �ltimos tempos, ali�s, Jeanne La Royer j� se acreditava estar, considerando a Revolu��o como uma esp�cie de apocalipse, destinada a evoluir para a devasta��o e as guerras mundiais. E como em cada apocalipse que se preze, o mal seria devastador, mas n�o triunfante. Ao Anticristo se contraporia o Cristo restaurador: "Ser�o impostos falsos cultos [como aconteceu com a deusa Raz�o], mas ser�o sucessivamente abolidos [como ocorreu com a Restaura��o] e as antigas tradi��es ser�o restabelecidas."A profecia realizou-se a curto prazo, com o fim da ordem republicana e depois napole�nica, mas Jeanne n�o teve como testemunh�-lo, pois morreu em 1798.Entre os sinais que mostrariam no futuro a infiltra��o de for�as sat�nicas na Igreja estava, predisse, a supress�o da "l�ngua das catacumbas", ou seja, o latim, dos seus rituais. Tratar-se-ia, denunciou, de uma precisa tentativa anti-religiosa voltada a espoliar a liturgia de sua vestimenta m�stica original. Caso se leve a s�rio tais an�lises, a aboli��o da missa em latim deveria significar para os nossos tempos que o Anticristo j� chegou.Mas junto ao Anticristo viria novamente tamb�m o Cristo. Jeanne

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comunica ter recebido o an�ncio Dele mesmo em vis�o: "A imagem do mundo est� passando e o dia da minha �ltima vinda se aproxima. Quando o sol est� para se p�r, diz-se que o dia termina e a noite est� para chegar. Para mim, todos os s�culos s�o como um dia s�. Calcula tu quanto dever� durar ainda o mundo pelo percurso que o sol ainda tem de fazer.Estas �ltimas palavras deveriam conter uma chave sobre os tempos do fim do mundo, mas a �nica coisa que se pode deduzir � a relatividade das conven��es cronol�gicas de uso corrente.� mesma fonte divina Jeanne La Royer atribui os ju�zos sobre as hierarquias eclesi�sticas, semelhantes a outras registradas, sempre por via sobrenatural, em tempos mais recentes: "N�o t�m mais o direito de falar no meu nome, porque tra�ram a causa da minha Igreja. (...) Seja o que for que pretendam de v�s, n�o os atendeis. Separai-vos deles."Os padres que a monja encontra nas suas vis�es premonit�rias est�o

sempre "vestidos com camisas elegant�ssimas e fin�ssimas, como para uma festa solene, mas n�o vestem casulas nem pluviais. S�o afetados e bem-cuidados, de comportamento alegre". Resumindo, s�o simp�ticos e desabusados, de uma desenvoltura cativante, mas a voz de sempre adverte: "Cuidado, minha filha, n�o confies."

A Sibila do �ltimo C�uA corrup��o da Igreja de Roma na decomposi��o geral do mundo aparece tamb�m nas vis�es da Sibila do �ltimo C�u, uma religiosa assim chamada pelo uso freq�ente que faz desta imagem para indicar os dias do ju�zo. Os dias "do �ltimo c�u" deveriam sobrevir, a seu ver, "pouco antes que o mil�nio se junte ao mil�nio", ou seja, ao findar do s�culo XX.Mas antes que a cortina se feche definitivamente sobre a hist�ria do homem - e que Deus despeje sobre a terra aquelas calamidades que

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marcam cada apocalipse � deveria verificar-se uma miraculosa "convers�o da Igreja de Roma ao cristianismo". A profecia, do modo como � enunciada, subentende um ju�zo ainda mais cr�tico em rela��o ao clero cat�lico, pois significa que a sua religi�o "n�o tinha mais nada a ver com aquela pregada pelo Cristo", a ponto de exigir uma nova convers�o.Com este evento "o s�culo se tornar� de tal forma suave de tal modo que pare�a um �nico ano [sem esta��es, nem frio nem quente] e a luz do sol iluminar� tamb�m a noite, entre estrelas cadentes".E "uma mulher que chega envolver� a cabe�a com seu diadema real".� a passagem mais obscura da profecia. Quem � esta mulher de estirpe

real? Poderia ser, segundo os especialistas, a Igreja ou a cidade de Roma, que afinal s�o a mesma coisa na linguagem das grandes profecias. Poder-

se-ia deduzir um retorno do catolicismo, depois da convers�o, ao esplendor espiritual das origens.No suave decl�nio deste s�culo das noites iluminadas pelo dia, os verdadeiros crist�os viveriam "o sonho dos moribundos", praticando modelos de vida an�logos �queles dos ap�stolos nas comunidades primitivas, na mais total comunh�o dos bens e das inten��es.Poderia talvez tratar-se de uma renova��o crist� em sentido socialista? � um cen�rio poss�vel, se for considerado o rigor das cr�ticas feitas pela Igreja, depois da derrocada do comunismo, em rela��o ao sistema capitalista, muito distanciado por sua vez da pr�tica evang�lica.A hip�tese de que com essa imagem a vidente pretendesse aludir a um transbordamento de cristianismo original antes do fim � como pre�mbulo de salva��o para o maior n�mero poss�vel de crentes � � endossada pela sua ins�lita descri��o do que acontecer� sob "o �ltimo c�u". N�o inunda��es nem terremotos, nem torrentes de fogo ou guerras de exterm�nio, mas "mortos que ressurgem" e outros benefici�rios de milagres que felizmente encontram por si mesmos o modo como sempre haviam sonhado ser:Correr� veloz o aleijado, recobrar� a audi��o o surdo, a vis�o o

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cego, a fala o mudo; e viver�o todos em comunidade, pois comum ser� a terra,

superabundante de frutos sem ser dividida por sebe ou muro...Encontra-se na profecia, al�m da clar�ssima alus�o � aboli��o da propriedade em sentido tradicional, uma fiel cita��o dos milagres de cura que caracterizaram o itiner�rio terreno de Jesus e de seus ap�stolos. E � nesta perspectiva feliz que deveria concluir-se, longe dos horrores familiares ao imagin�rio apocal�ptico, a hist�ria do mundo.Tais profecias foram divulgadas por volta de 1730. � a �nica data que temos da Sibila do �ltimo C�u.A vestal do santu�rio tra�doBem mais tenebroso � o cen�rio que imagina para o fim do mundo a m�stica Elisabetta Canori-Mora no in�cio do s�culo XIX. H� fartura de testemunhos nos relatos dos seus arrebatamentos ext�ticos, aut�nticas invers�es em um esplendor definido por seus bi�grafos como "inacess�veis ao homem", atrav�s do qual "via-se intimamente unida a Deus, de modo que n�o se distinguiu, sentindo-se como se transformada naquela luz divina".Mas al�m daquela soleira, em vez de paisagens serenas, ela v� coisas espantosas, que ilustra (como neste escrito de 1818) em um estilo lento e constante, pr�digo de detalhes terrificantes: "Foi-me mostrado o mundo. Eu o via todo em revolta, sem ordem, sem justi�a. Os sete pecados capitais eram levados em triunfo e por toda parte via-se reinar a injusti�a, a fraude, a libertinagem e todo tipo de iniq�idade. O povo estava mal-acostumado,

sem f�, sem caridade [...] com fisionomia mais animalesca que humana, deformada pelo pecado."Ela assegura ter "visto" a Igreja de Roma tra�da por seu clero. Denuncia por isso as "infidelidades de alguns ministros do Santu�rio, que em vez de apoiar a Igreja tra�am-na com as falsas m�ximas do mundo e com o fato de se deixarem levar pela pol�tica mundana".� o pr�prio Deus que lhe mostra os estragos que os padres infi�is fa

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zem no seu templo, comunicando-lhe com infinito desd�m a decis�o de "mudar para outro lugar o p�lpito verdadeiramente infal�vel da santa Igreja". N�o � a �nica profecia que prenuncia, para os �ltimos tempos, uma transfer�ncia do papado para uma sede diferente e distante de Roma.Mas quando surgir�o esses "�ltimos tempos"? Segundo o que escreveu

Canon-Mora, deveremos estar quase chegando l�. Isso lhe teria sido confidenciado pelo seu interlocutor celeste ao exprimir-lhe a pr�pria indigna��o pelas m�s a��es humanas e por aquelas ainda mais graves dos padres, por bom tempo mais culpados do que qualquer outro pecador: o fim deveria consumar-se, segundo a palavra de Deus transmitida por sua escrupulosa porta-voz, entre menos de dois s�culos a partir da data da vis�o, que ca�a exatamente em 19 de mar�o de 1820.O Deus que dialoga com Elisabetta Canori-Mora est� entre os mais severos de todos j� encontrados na literatura apocal�ptica. Quando levanta o bra�o armado de "terr�vel chicote" o faz porque decidiu exterminar "quase todos os homens". Elisabetta piedosamente intercede, implorando-lhe que descarregue sua ira sobre ela: "Voltai para mim o forte castigo, aniquilai-me, fazei de mim o que vos aprouver, mas salvai os pobres pecadores, salvai a Igreja."Suplicando assim para ser escolhida como "v�tima de reconcilia��o", encontra justamente a coragem para aferrar o Pai Eterno por um bra�o e det�-lo. A esta altura Deus "suspende" o castigo, mas n�o perdoa. N�o totalmente aplacado, comunica que a sua ira voltar� a explodir em futuro

n�o muito distante.Elisabetta tem a aud�cia de perguntar-lhe quando. "N�o ser� assim t�o distante quanto pensas", responde o Senhor.Diante de tal resposta, a vidente se d� conta de que n�o resta muito a fazer. Adiamentos posteriores s�o impens�veis, explica em outro escrito seu, pois "as preces das almas que o Senhor se digna a chamar de prediletas v�o postergando o castigo, mas vir� aquele tempo terr�vel e

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tremendo em que Deus far� ouvidos moucos e n�o escutar� prece alguma". O castigo, em outras palavras, pode ser procrastinado, mas n�o cancelado.

A segui-la estar�o n�o apenas os anjos do Senhor, mas os diabos do inferno, que por vontade divina ser�o soltos de seus grilh�es e deixados livres para assolarem a humanidade impenitente. Canori-Mora conta ter visto uma legi�o sair das fossas infernais e espalhar-se sobre a terra como "ministros da justi�a divina", devastando pal�cios, vilas, aldeias, cidades c prov�ncias inteiras. Recorda com indiz�vel horror "o tenebroso e terrificante abismo de onde sa�am aqueles esp�ritos infernais com as mais horrendas e nojentas formas de monstros, e de homens nefandos que andavam destruindo e devastando todos aqueles lugares onde Deus foi ultrajado, profanado, idolatrado e tratado sacrilegamente, n�o deixando o

menor vest�gio".

Uma inquietante "prova" da presen�a demon�aca nos conv�nios: o contrato estipulado, segundo os inquisidores, entre Satan�s e o cura Urbano Grandier, confessor das ursulinas de Loudun, mandado para a fogueira em 1634.

Do mesmo modo como fez Jeanne La Roycr em rela��o ao Iluminismo, Elisabetta Canori-Mora reconhece no positivismo do seu tempo a antec�mara do integrismo laico, genitor prol�fico das doutrinas materialistas mais extremas. Arremete por isso contra "as perversas m�ximas da moderna filosofia" e em especial, com particular furor, contra aquilo que tais m�ximas tentam conciliar com a moral crist�.Em 1824, escreve ter sido conduzida por Deus a um denso matagal e de ter parado diante de cinco �rvores de altura desmesurada, que com suas ra�zes produziam e alimentavam milh�es de plantas est�reis e selvagens". Eram "as heresias que infestam o mundo em nossos tempos, opondo-se totalmente ao nosso santo Evangelho".

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� sintom�tico que a vis�o de Elisabetta volte a propor a mesma filosofia florestal de Jeanne La Royer, para ela certamente desconhecida, descrevendo as filosofias da �poca como �rvores a cortar.Devem igualmente ser cortadas as plantas est�reis aos p�s delas, que a

vidente descreve como "pobres almas inumer�veis, depravadas na sua consci�ncia, sem f�, sem religi�o [...], almas subvertidas e todas dedicadas �s falsas m�ximas da filosofia de nossos tempos, que aviltam a santa lei de Deus e os seus divinos preceitos".Mais pareceriam almas perdidas que malvadas, necessitadas mais de piedade que de rigor, mas o Deus inspirador de Canori-Mora n�o reconhece nenhuma atenuante para elas; s�o criaturas "n�o apenas est�reis, mas nocivas e p�ssimas, merecedoras de serem jogadas no fogo eterno".Chora a m�stica Elisabetta na luz que a une ao seu "divino Amo", interrogando-o entre um gemido e outro com enf�tico arrebatamento. "Meu Deus, quando ser� que poderei fazer com que sejais visto com honra c glorifica��o, como conv�m, por todos os homens? (...) Como s�o poucos aqueles que vos amam e como � grande o n�mero daqueles que vos desprezam! Por quanto tempo ainda prosseguireis deixando que vos ofendam?"Deus tem para ela palavras de consolo, cujo sentido �, por�m, terr�vel para o resto do g�nero humano: "Alegra-te, minha filha dileta, enxuga tuas l�grimas: o tempo est� nas minhas m�os, e posso abrevi�-lo o quanto me aprouver."Jamais de um profeta veio uma defini��o mais seca e eficaz da relatividade do tempo do homem nas vontades de Deus.Anna Maria dos Pont�ficesAnna Maria Taigi, da Ordem Terceira Descal�a, morta em Roma em 1837, e a dominicana Rosa Pomba Ardente, morta dez anos depois no mosteiro de Santa Catarina, em Taggia, cimentaram-se mais realisticamente sobre o destino pol�tico do papado, transtornando em certos casos as previs�es da diplomacia internacional. Ambas deram as provas mais convincentes das pr�prias capacidades divinat�rias sobre

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progn�sticos relativos � elei��o ou � morte dos pont�fices, mas tamb�m sobre a dura��o e os fatos salientes de cada pontificado, com refer�ncias �s vezes imprevis�veis � pol�tica europ�ia, suscitando surpresa e sensa��o entre as autoridades eclesi�sticas.Esteve no centro de interesse destas �ltimas, sobretudo, a Taigi, que n�o obstante uma vida esquiva e reservada ganhara fama de vidente dotada de uma especial predisposi��o para tudo que dizia respeito aos papas. Havia previsto o retorno de Pio VII do ex�lio e exatamente o dia em que diria novamente a missa em S�o Pedro, a elei��o de Le�o XII e a sua morte, a elei��o de Pio VIII e a brevidade do seu pontificado. Causou alvoro�o a not�cia da iminente morte do pont�fice que ela fez chegar ao seu secret�rio e pontualmente se confirmou na data apontada.Suas profecias foram a partir de ent�o solicitadas e atentamente avaliadas

pela c�ria romana, que era assim informada com preciosa anteced�ncia

sobre eventos de especial import�ncia pol�tica e social, como a revolu��o que eclodiu logo depois da elei��o de Greg�rio XVI e uma epidemia de c�lera.Interrogada sobre quem seria o sucessor de Greg�rio, deu indica��es aptas a identificar com mais de dez anos de anteced�ncia o futuro pont�fice Pio IX, que � �poca era apenas um sacerdote, completamente desconhecido para ela. Foram-lhe feitas perguntas pormenorizadas, visando entre outras coisas a verificar se o papa ao qual aludia j� fazia parte do Sacro Col�gio. Respondeu decididamente que n�o, frisando que no momento n�o passava de um simples padre, destinado a uma delicada miss�o em terras long�nquas. E de fato, na �poca, o padre Giovanni Maria Mastai Ferrett

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i era mission�rio no Chile. Foi-lhe perguntado em que cidade tinha nascido ele, e ela respondeu que no Estado romano, mas n�o em Roma, e sim nas

costas do Adri�tico. Mastai Ferretti era de Senigallia.A outras perguntas respondeu fornecendo detalhes muito pormenorizados sobre acontecimentos do novo pontificado. Disse que este papa seria "aclamado pelo povo" e "obsequiado tamb�m pelo turco e outros povos n�o-crist�os", que deveria reagir a oposi��es de todos os lados, que ficaria isolado na p�tria, mas receberia apoio do exterior, que reformaria o clero e a estrutura do Estado, que imporia submiss�o tamb�m aos soberanos.Quem coletou as declara��es de s�ror Anna Maria foi um sacerdote

romano chamado Pallotti, o qual, coordenando os v�rios elementos, foi capaz de identificar no agora cardeal Mastai Ferretti, antes que o conclave se pronunciasse, o papa por ela indicado. Falou antes com um abade cisterciense, p�roco da igreja de s�o Bernardo nas Termas de Diocleciano, e em seguida com o padre capuchinho Fulgenzio da Carmagnola, prior do convento da Madonna di Campagna, cujos testemunhos contribu�ram para aumentar o interesse can�nico pelas profecias dessa misteriosa monja descal�a, h� pouco desaparecida em odor de santidade, levando para o

t�mulo os segredos de pelo menos cinco papas. Assim se colocaram as premissas pela beatifica��o, ratificada setenta anos depois, sob o pontificado de Benedito XVFicou de tal forma enraizada na id�ia de que os destinos da humanidade gravitassem em torno da figura do papa � e em especial no momento da sua elei��o �, para profetizar que os �nicos a se salvarem no apocalipse iminente seriam "aqueles poucos que se converteram para eleger um novo papa".Uma Pomba piedosa com os pr�ncipesTamb�m deve sua fama a uma profecia sobre Pio IX a freira dominicana

Rosa Pomba Ardente, que por sua vez indicou como sucessor de Greg�rio XVI "um papa pio de nome, de natureza e costumes". Previu, al�m disso,

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que perderia o trono e que o reconquistaria gra�as a Napole�o III, n�o ainda imperador dos franceses. O que acontece quando este �ltimo, para contrabalan�ar a presen�a austr�aca na It�lia e recompensar o pr�prio eleitorado cat�lico, debilitou em 1849 a Rep�blica Romana reconduzindo o papa ao seu posto.Descreveu a vis�o da interven��o francesa como tripudio de "muitas bandeiras tricolores com a bandeira do papa", mostrando-se indulgente sobre o espet�culo dos padres "obrigados a aben�o�-lo".Diferentemente da Taigi, a Pomba Ardente se apoia em suas profecias numa observa��o atenta do mundo pol�tico laico, al�m do religioso, deixando-se tamb�m envolver emotivamente nos casos de seus protagonistas. Mostrou, por exemplo, uma simpatia que raiava a ternura por Lu�s Filipe de Orl�ans, o "rei-cidad�o", do qual previu a derrubada do trono: "Pobre Lu�s Filipe�, falou sobre ele. "Ser� obrigado a fugir da Fran�a para ir morrer na Inglaterra." N�o foi igualmente sens�vel � sorte de Napole�o III, do qual disse, equivocando-se, que o seu reinado duraria

muito pouco.Mas foi bem-sucedida ao verificar os fatos de suas predi��es sobre casos do ressurgimento italiano. Previu com exemplar concis�o o destino de Carlo Alberto, para o qual manifestou uma esp�cie de piedade subentendida: "O rei do Piemonte acorrer� em primeiro lugar para combater, mas ser� derrotado e for�ado ao ex�lio. [...] Morrer� nos confins da Espanha. Ser� sucedido pelo jovem filho primog�nito."Figurou entre aqueles videntes, n�o muitos, que previram a data da pr�pria morte. Deu um retrato de si mesma, de como se tornaria antes da passagem (�consumida e quase transparente, � quisa de um esqueleto�), e acrescentou que a sua hora seria chegada "no instante em que os frades dominicanos realizassem a prociss�o do Santo Sacramento, no domingo a

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partir da oitava do Corpus Christi". Isso se deu em 6 de junho de 1847, cumprindo-se suas palavras.Suas profecias suscitaram particular interesse no alto clero franc�s. Foram compiladas pelo bispo de Ventimiglia, que assim impediu sua dispers�o. Em 1860 foram publicadas pelo cardeal Caum, tamb�m ele franc�s.As profecias "dom�sticas" de Teresa GardiNem todos aqueles que tiveram o dom da profecia, muito comum entre os fi�is agrupados nas primeiras igrejas crist�s, o usaram para grandes fins escatol�gicos ou para desatar os n�s da alta pol�tica europ�ia. Dedicaram-se a profecias mais "dom�sticas", mais pr�ximas das necessidades simples das respectivas comunidades �s quais se pertenciam, a imolense Teresa Gardi e a bolonhesa Clelia Barbieri, talvez ambas cientes do pouco tempo que tinham de vida.Foram por isso, muito amadas por seus concidad�os, que reconheceram na aparente banalidade das suas profecias cotidianas uma utilidade imediata e um desapego quase total pelas mesquinhas vaidades do mundo.Enquanto monja terceira franciscana,Teresa Gardi informou com um ano de anteced�ncia aos seus confrades sobre a supress�o das ordens regulares, ocorrida em 1810, garantindo-lhes por�m a sobreviv�ncia da deles. Avisou-lhes com igual solicitude, em 1818, que o convento da Observ�ncia, ao qual pertenciam, estava para ser restaurado. Comunicou

isso ao seu confessor pouco antes do alvorecer de 10 de maio, e por volta do meio-dia chegava do Vaticano uma carta que confirmava a provid�ncia.Predisse ao cardeal Justiniani, bispo de �mola, de partida para o conclave

de 1830, que lhe seria oferecida a candidatura pontificial, mas que um grave obst�culo impediria sua elei��o, sem que ele, por�m, ficasse desiludido. Aconteceu de fato que Justiniani fosse votado por ampla maioria para a inclus�o no turno final (7 de janeiro de 1831) e que sua candidatura acabasse bloqueada pelo rei da Espanha. Foi eleito ent�o Greg�rio XVI, mas Justiniani foi igualmente gratificado com uma prestigiosa recompensa, pois o novo papa o quis junto a si no Vaticano no

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estrat�gico posto de secret�rio dos memoriais.Tendo grande intimidade com seu confessor, amargurado ao mesmo tempo pelas medidas contra a ordem franciscana, consolou-o prevendo-lhe que de qualquer modo morreria envergando seu h�bito religioso, mas dali a muitos anos, depois dela. Os frades puderam de fato vestir o pr�prio h�bito, depois de dez anos de redu��o ao estado secular, em setembro de 1819, o que permitiu ao confessor da vidente ser sepultado com o h�bito da ordem, quando morreu em 1840.Teresa o havia precedido em alguns anos, como predissera, expirando em 1�. de janeiro de 1837. Foram-lhe atribu�dos v�rios milagres, sobretudo curas e interven��es contra a esterilidade feminina.

O sonho da madre Clelia, freira menorS�o atribu�dos prod�gios de v�rios g�neros tamb�m a Clelia Barbieri, morta aos 23 anos em 1870, depois de ter realizado o temer�rio des�gnio de fundar uma nova ordem mon�stica, chamada das Freiras Menores de Nossa Senhora das Dores. Indicou �s suas irm�s, carentes de uma casa que as acolhesse, o campo no qual esta seria erguida. Foi nos seus �ltimos dias de vida, em in�cios de um julho ensolarado.J� sem for�as, Clelia estava "ligeiramente apoiada no peitoril da janela", e dali "com doce complac�ncia o seu olho l�cido vagueava sobre a extens�o de um belo campo de erva medicinal, no meio do qual flamejava o vermelho r�stico das papoulas". Foi a esta altura que "rompeu-se na sua mente o v�u do futuro", e depois de ter chamado com um doce aceno as outras freiras para junto de si, apontou o indicador al�m do peitoril, assim dizendo: "Naquele campo surgir� a vossa casa; e l� ireis morar, mas n�o sereis sempre unidas, mas sim espalhadas pelo mundo a trabalhar no vinhedo do Senhor. N�o vos acompanharei, mas estarei sempre convosco. E l� vir�o carro�as e cavalos.�Madre Clelia Barbieri morreu poucos dias depois, a 13 de julho de 1870. E

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dentro de alguns anos, l� onde ela a tinha "visto" antes de morrer, a casa foi edificada; e inaugurada com um afluxo espetacular de "carro�as e cavalos", totalmente ins�lito para um evento de interesse religioso na It�lia de Porta Pia, laica e anticlerical.Conta-se que at� hoje naquele lugar madre Clelia faz ouvir sua voz pelos

que se recolhem em prece.O Diabo no conventoO dem�nio e o Anticristo foram os protagonistas mais ass�duos das hist�rias sobre o fim do mundo que essas sibilas em h�bito de freira verificaram no decorrer de suas vis�es, dando um atemorizado testemunho a respeito.Por tradi��o medieval o Diabo sempre foi familiar nos conventos femininos. E com maior raz�o nas celas daquelas religiosas "dotadas de esp�rito prof�tico" que quiseram se estender al�m dos limites do tempo rumo �quela data desconhecida que "o homem n�o deve conhecer, porque o Pai reservou para si esse segredo". Assim diz Santa Hildegarda, a iluminada de Bingen, que para come�ar, por�m, n�o leva em conta tal proibi��o, anunciando desde o tempo das cruzadas que o apocalipse chegaria por volta do ano 2000, tanto � que, para preparar o evento, diversos anticristos teriam freq�entado a terra entre 1955 e 1980 com as piores inten��es.Muitos j� se depararam com esses senhores do mal, tanto em nossos dias

quanto no mais profundo passado, extraindo perturbadoras experi�ncias. Tamb�m no plano f�sico, pois s�o incont�veis os casos de pancadas, sev�cias e tormentos corporais infligidos pelos dem�nios �s v�timas designadas, com tanto maior empenho quanto mais resoluta a rea��o delas.V�tima freq�ente de entidades demon�acas foi a dulc�ssima Gemma Galgani, um dos vultos mais ternos e sedutores do calend�rio lit�rgico,

morta aos 25 anos (em 1903) depois de ter vencido a incredulidade dos m�dicos com os seus �xtases cruentos, com as suas chagas, com suas levita��es. Os diabos a rodeavam no decorrer de seus arrebatamentos

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m�sticos e, repelidos, a maltratavam, provocando-lhe les�es que em v�o a ci�ncia tentou classificar como de natureza hist�rica.Outra que tamb�m teve �xtases sanguinolentos foi Caterina Emmench, por volta de 1830, durante os quais encontrou "mais anticristos", todos juntos, dedicados a uma esp�cie de prova geral do fim do mundo. Justificou-lhes

a presen�a como necess�ria, explicando que muitos emiss�rios de Satan�s devem ser postos em liberdade sobre a terra, antes do ju�zo, como "castigo e tenta��o" para os homens.Uma irm� enfermeira do hospital Saint-Omer, na Fran�a, Bertina Bouquillon, morta com ind�cios de santidade, previu em 1850 a instaura��o de uma esp�cie de rela��o privilegiada entre as monjas e o Anticristo. �N�s n�o o veremos, e nem mesmo as irm�s imediatamente depois de n�s", disse, "mas aquelas que o seguirem cair�o sob o seu dom�nio." Acrescenta que "nada parecer� mudado, quando ele chegar, e tudo na casa continuar� como de costume, os exerc�cios espirituais, as

atividades habituais... e as nossas irm�s descobrir�o que o Anticristo � quem manda".Conheceu em vis�o, "tr�s dias de treva cont�nua, no decorrer dos quais far�o luz, somente as velas de cera aben�oada", a estigmatizada Marie

Julie Jahenny em La Fraudais, no departamento do Loire. "Viu", naqueles tr�s dias dominados pelo Anticristo, "aparecer os dem�nios em forma abomin�vel, fazendo o ar ressoar de blasf�mias horr�veis", e todo o

planeta transformar-se em "um imenso cemit�rio".Mas nem todos os homens seriam dominados. Uma outra freira, Maria Jesus Crucifi�, de Pau, no Languedoc, avaliou com base em vis�es an�logas, por volta de 1880, que sobreviveria "a quarta parte da humanidade". Isto �, muitas, muit�ssimas pessoas, mais de quantas n�o foram contadas dos outros apocalipses.

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A conclus�es mais consoladoras, sem se dar ao trabalho de contar os mortos que havia "visto", chega a monja catal� Filomena de Santa Colomba, depois de quatro anos de �ncubos no mosteiro de Vais, em 1868: "Por quatro anos vi de modo terr�vel os castigos e as cat�strofes que pairavam sobre o mundo. (...) Mas tive, apesar disso, o consolo de saber que do Cora��o de Jesus brotaria um rio de gra�as que fecundaria de novo o mundo crist�o e tornaria a Igreja triunfante."Deduz-se que os esquemas desse novo milenarismo, atualizado e corrigido pela sensibilidade m�stica feminina, tenderiam a receber com particular �mpeto o sentido de salva��o das antigas revela��es, reconhecendo a uma mais abrangente representa��o do g�nero humano a possibilidade � se n�o exatamente o direito, legitimado pelo amor divino � de superar a prova do apocalipse. Como intuindo que a horrores em massa se possam contrapor os efeitos de uma reden��o em massa, como a operada por Cristo.

25A dupla profecia da "amendoeira florida

Houve duas profecias chamadas "da amendoeira florida", uma no s�culo XVIII, na Fran�a, e a outra ao findar da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, sem que entre ambas exista qualquer nexo vis�vel, nem de estilo nem de conte�do. Ambas t�m, por�m, em comum a particularidade do seu achado, que aconteceu de maneira totalmente fortuita entre as pedras demolidas de dois santu�rios hist�ricos, o primeiro em Palos de

Moguer, em Portugal, onde Crist�v�o Colombo parou para rezar antes de sua viagem, o segundo em Berlim, ao escavar os destro�os da igreja de S�o Paulo, bombardeada em abril de 1944. Ambos os manuscritos estavam contidos em recipientes lacrados, o primeiro num cofre de antiga feitura artesanal, o segundo em um moderno tubo de chumbo.A ditadura invis�vel

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Foram dois pedreiros empenhados na. demoli��o de um portal da igreja de Palos, ao final do s�culo XVII, que acharam o primeiro cofre, contendo dois rolos de pergaminho que o tempo tornara quase ileg�veis. Neles se reconheciam s�mbolos herm�ticos e uma caprichada escrita em caracteres g�ticos.Decepcionados por n�o terem encontrado um tesouro, como os fizera esperar o cuidado como o cofre fora ocultado em um interst�cio da parede, os oper�rios venderam por umas poucas moedas o que haviam encontrado.Os manuscritos foram acabar na Fran�a e ali reemergiram como precioso

documento esot�rico alguns dec�nios mais adiante, por iniciativa de algu�m que foi capaz de decifr�-los, chegando tamb�m a identificar o autor como um monge cisterciense de origem alem�. Era essa de fato a l�ngua usada pelo autor do documento, ainda que entremeada por s�mbolos c hicr�glifos que exigiam �rdua interpreta��o.Foi chamada profecia "da amendoeira florida", porque o autor se servira desta imagem para nomear o n�mero das primaveras � portanto dos anos � �s quais se referia. Foi dif�cil, n�o obstante essa indica��o, identificar datas exatas, pois o tempo da reda��o era incerto e, portanto, n�o se podia estabelecer qual seria o ponto de partida para contar as flora��es da amendoeira indicadas pelo vidente. Foi contudo poss�vel identificar alguns grandes perfis hist�ricos, como o da �guia destinada a ser envolvida por "nuvens tempestuosas" de Leipzig e Waterloo (Napole�o, claramente) e dos "dois c�sares sem coroa" que iriam ensang�entar a Europa (Hitler e Stalin, ou Mussolini).Foram enunciadas com exagero, onde o texto era leg�vel, muitas alus�es tremendas guerras futuras, mas tamb�m a tens�es e golpes de m�o que convulsionariam as "flores da Europa", como eram chamados no documento os v�rios Estados. Encontraram-se diversas refer�ncias a experi�ncias totalit�rias, a personagens que pisoteariam com o maior desprezo os mais elementares direitos humanos, a conflitos ideol�gicos

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destinados a degenerar em sangrentos ajustes de contas. Descobriu-se enfim que diversas dessas profecias diziam respeito � "terra de Pedro", isto �, � It�lia, onde fizeram circular o or�culo na segunda metade do s�culo XIX, depois de ter sido provavelmente manipulado e adaptado ao gosto da �poca pelos almanaques populares.Provocou certa curiosidade uma tentativa de retratar a hist�ria italiana recente � do �ltimo p�s-guerra at� hoje, bem entendido � como uma escadaria de "degraus que descem", express�o ainda mais estranha caso se considere que cada escada cont�m em si a potencialidade da subida e da descida, segundo o ponto de vista de onde nos situamos, jamais uma s� das duas. Mas os "degraus" da It�lia republicana deveriam retratar, na �tica da "amendoeira florida", apenas o movimento descendente. Como a querer simbolizar uma progressiva degrada��o da democracia.Tais degraus eram assinalados por imagens atr�s das quais se queria identificar com certa desenvoltura os presidentes da Rep�blica, tal como se procedeu para os papas na profecia de Malaquias. � poss�vel se reconhecer Enrico De Nicola no "navegante ousado" que deveria ser o timoneiro da nave It�lia nos anos dif�ceis do p�s-guerra; Luigi Einaudi no "bom celeiro", por causa da sua perspic�cia econ�mica; Giovanni Gronchi na "medalha dupla", ao ser eleito com os votos do governo e da oposi��o; Ant�nio Segni na express�o "do mar aberto", como primeiro presidente de origem insular, pois era da Sardenha; Giuseppe Saragat no "sol ao levante", pela chamada ao emblema do seu partido; Giovanni Leone no "navegador silencioso�, talvez por causa do sil�ncio que quis ou teve de observar depois do esc�ndalo que causou sua ren�ncia; Sandro Pertini no homem "da �nica lei", pela pol�tica de imagem que o havia colocado em uma condi��o de privil�gio tal que impedia no nascedouro qualquer cr�tica ou diverg�ncia em rela��o a ele.

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Uma nota de particular coer�ncia parece ser colhida no retorno da alus�o � origem insular no caso de Francesco Cossiga, tamb�m ele da Sardenna como Segni, ligeiramente modificada em uma dic��o quase sin�nima da primeira, como "do mar de C�sar" em vez de "do mar aberto". Vale dizer

do Mediterr�neo, o antigo mare nostrum dos romanos.A seq��ncia muda de tom ap�s o oitavo presidente, deixando as met�foras adapt�veis ao �nico l�der para ilustrar uma situa��o confusa e tensa, determinada por um processo de mudan�a institucional em a��o. Uma situa��o no decorrer da qual o chefe de listado poderia ser induzido a "concentrar nas suas m�os muitos poderes", por iniciativa pr�pria ou por press�es de um determinado alinhamento. Poderia ter partido da necessidade de "corrigir o rumo da nave enlouquecida", mas tamb�m da atribui��o, decidida pelo Parlamento, de novas compet�ncias mais concretas � figura presidencial, inicialmente concebida com um papel mais representativo do que decisivo.Aqui param as previs�es da primeira "amendoeira florida� para a It�lia, interpretadas, como se viu, em uma chave de par�bola descendente, em conclus�o da qual o sistema democr�tico pareceria degenerar em uma esp�cie de ditadura invis�vel, mais semelhante a uma oligarquia � a um acordo entre for�as de extra��o diferente e portadoras de interesses m�ltiplos, tamb�m em contradi��o m�tua � que � centraliza��o manifestada pela autoridade governante sob a �gide de um �nico partido.� curioso que nessa brev�ssima panor�mica metaf�rica compare�am nada menos que seis imagens de inspira��o n�utica, tais como o rumo a corrigir, os dois navegantes, o sol levantino e as alus�es � origem insular de dois presidentes. Como se o divulgador do texto tivesse desejado facilitar de alguma maneira a identifica��o do pa�s ao qual pretendia referir-se, por excel�ncia marinho.

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A morte do "le�o enganchado"A igreja de s�o Paulo estava reduzida a um monte de escombros, naquela

triste primavera berlinense de 1944, quando um homem desesperado como tantos outros, escavando� procura n�o se sabe de qu�, encontrou um tubo de chumbo estranhamente lacrado em ambas as extremidades, constituindo assim um rudimentar recipiente cil�ndrico. Abriu-o antes de

entreg�-lo � pol�cia, como previam em tais casos as r�gidas leis de guerra, e descobriu no seu interior um manuscrito enrolado.O documento foi examinado clandestinamente, talvez pela mesma pessoa que O havia encontrado ou por outros a quem o cedera, e imediatamente reconhecido por uma mensagem de esperan�a. Anunciava na verdade, em uma linguagem arcana que parecia evocar certas alegorias de Nostradamus, a queda do nazismo entre a "13a flora��o da amendoeira", data report�vel, segundo os c�lculos de quem primeiro interpretou o documento, ao pr�ximo ano de 1945. O evento era indicado como "morte

do le�o enganchado", com uma imagem que poderia ter sido tranq�ilamente extra�da do besti�rio fant�stico de mestres anteriores.� parte isso, n�o era um vatic�nio dos mais originais. J� fazia algum tempo que se falava do fim iminente da Alemanha, e pelo andamento da guerra parecia que n�o tardaria muito. N�o havia nada de transcendental, portanto, no manuscrito extra�do das ru�nas da igreja de s�o Paulo, a n�o ser que se queira dar a ele uma validade miraculosa, em parte motivada pelas circunst�ncias do achado, no meio dos detritos de um santu�rio demolido pelo �dio, em parte pelo estado de �nimo da pobre gente que o tivera nas m�os, gente comum, extremada pelos bombardeios e pela fome, afligida em muitos casos pelo luto, para a qual n�o existia sonho mais ansiado que a "morte do le�o enganchado".A paternidade da profecia foi atribu�da a um monge beneditino do s�culo

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XIX; e tamb�m nisso, como nas caracter�sticas do achado, houve simplesmente uma analogia hist�rica transit�ria entre as duas profecias

"da amendoeira florida".O conte�do derrotista da mensagem, mal o boato come�ou a circular entre a popula��o berlinense, p�s em alarme a pol�cia, que tentou identificar os divulgadores, sem obter sucesso, por causa tamb�m da tr�gica precipita��o dos eventos. Esta valida��o, por assim dizer pol�tica e militar do documento, induz a ventilar a hip�tese de que pudesse ter sido inspirada pela inten��o de acelerar a retirada da frente interna � ou por motivos quaisquer de propaganda � e que por isso tivesse sido escondido numa igreja.� um aspecto que contribui para redimensionar notavelmente a j� fr�gil credibilidade do or�culo no conjunto das suas previs�es, que se estendem bem al�m da derrota da Alemanha, at� o s�culo XXI.Cada ano, at� a virada do mil�nio, � indicado com express�es de uma certa sugest�o po�tica, mas t�o enxugado a ponto de n�o deixar espa�o para verifica��es circunstanciadas. O ano de 1975 aparece ligado, por exemplo, a uma "tempestade de cruzes", e o de 1987, a uma "clareira de cruzes". Mas que ano, entre exterm�nio, guerras, cataclismos, n�o o foi? O ano de 1974 � proposto como "caminho das estrelas". Talvez pela inaugura��o no C�ucaso de um telesc�pio fara�nico, que com a sua lente de 42t podia prescrutar os mais remotos cantos do cosmo? E por que o ano de 1984 � chamado de o ano do "del�rio espacial"? Porque dois astronautas americanos tinham "navegado" de corpo livre no vazio, fora do ventre seguro da sua nave? Mas todo ano, na constante sucess�o das descobertas, das experi�ncias e das viagens espaciais, � o ano das estrelas.O ano de 1982 � o "do homem novo". For�ando um pouco, � poss�vel procurar um nexo com a descoberta na Fran�a do GHRF, ou seja, do fator

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que regula o horm�nio do crescimento, ou com a aplica��o nos EUA, pela primeira vez, de um cora��o artificial num ser humano. Pode ser um crit�rio, mas um ano depois nasce em N�poles uma menina concebida em proveta, enquanto o Time proclama o computador o "personagem do ano"; e um personagem, antes de tudo, � for�osamente uma pessoa. N�o se poderia, portanto, com igual pertin�ncia, aplicar a esses dois casos a profecia "do homem novo"? Por outro lado, 1983 � chamado de "hosana das pessoas". Por qu�?O ano de 1985 � assinalado como "a voz do Anticristo", e, percorrendo o

notici�rio, descobre-se que no z�o de Londres nasce naquele ano uma zebra gerada por uma �gua em cujo �tero foi inserido o embri�o. E um experimento ao qual se seguir�o outros, e que em muitos casos recordar�o as monstruosidades animais do Apocalipse. O que ali pode-se considerar como "sinais"? N�o se passa um ano, de qualquer modo, sem que o Anticristo, pelo que dizem os notici�rios, n�o tenha feito ouvir sua voz. Assim como n�o h� ano em que n�o se possa, de algum modo, adaptar refer�ncias a "sonhos proibidos" (usado para o ano de 1978), � "loucura da terra" (1988) ou � "espera do homem" (1989). Que ano n�o � de espera para o homem?E eis a virada final do mil�nio: o ano de 1990 � chamado "sinal do c�u", 1991 � a "luz da noite", 1992, a "queda das estrelas", 1993, a "morte do homem", 1994, o "urro da fera", 1995, a "solu��o da m�e", 1996, o "dil�vio sobre a terra", 1997, a "morte da lua", 1998, a "gl�ria nos c�us". O ano de 1999 talvez seja o �nico ano reconhecido por uma indica��o de sentido consumado! "o novo Pedro", Poderia significar n�o s� um revezamento entre papas, mas tamb�m, em um sentido mais amplo, uma renova��o da Igreja.A �ltima data, a do s�culo XXI, � assinalada pelo tema "triunfo da

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oliveira", obsoleto mas encorajador, que pareceria no m�nimo excluir quaisquer alus�es ao fim do mundo. As "serpentes" de Paulo VI e o fim do papa LucianiMuitas profecias, tal como a da "amendoeira florida", foram, no passado, atribu�das a monges an�nimos, vagamente identificados com a refer�ncia a um lugar, a um mosteiro, a uma ordem religiosa. S� umas poucas s�o realmente originais, dignas de aten��o, merecedoras de ser recordadas em uma hist�ria da adivinha��o. Quase nenhuma � cr�vel. Representam, todavia, em muitos casos, um documento curioso da propens�o humana para traduzir em previs�es exorc�sticas as expectativas, os temores e as aspira��es mais comuns ou, indiferentemente, as fantasias mais inveross�meis.

Mist�rio e solid�o no claustro da catedral de Narbonne, do s�culo XIV

Profecias atribu�das a um certo "monge de P�dua" circularam na It�lia em 1700, dando informa��es pormenorizadas sobre os �ltimos vinte

pont�fices. Repropunham de maneira mais detalhada os retratos j� focalizados por Malaquias. Depois descobriu-se que tinham sido copiadas quase integralmente das predi��es de um eremita do s�culo XIV, chamadoTeol�sforo, j� publicados em sua �poca (em 1527, em Veneza, portanto facilmente encontradi�as em P�dua) sob o t�tulo Delle grandi tribolazione dello Stato della Chiesa. A obra n�o havia granjeado uma especial popularidade, tamb�m porque empanada pela notoriedade de Malaquias. Isso havia facilitado o pl�gio pelo "monge", que vulgarizara o texto, enriquecendo-o com alguns trechos de sua lavra exatamente sobre a presen�a do Anticristo na c�ria romana da decad�ncia.A verdadeira crise teria tido in�cio, segundo diz, com o papa assinalado

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pela ep�grafe Flos Florum (Paulo VI), sufocado por uma corte "infestada

de serpentes". Seria depois avivada por De medietate lunae (Jo�o Paulo I, seu sucessor), praticamente ref�m de um conselheiro infiel, descrito na profecia como "um grande colaborador do Anticristo".Sobre o papa Luciani o "monge" escreve que concluiria seu pontificado no sangue, "v�tima dos seus inimigos". Sangue n�o houve, mas circulou com insist�ncia o boato de que ele teria sido envenenado.H� tamb�m um momento de aut�ntica gl�ria nessa dram�tica cr�nica do que para o monge � o ep�logo do catolicismo romano, e � registrado sob o pontificado de De gloria olivae (o sucessor do papa Wojtyla) com a reunifica��o de todas as igrejas crist�s. Mas n�o ser� mais que a �ltima labareda de f� "antes da demoli��o templo". Que ocorrer� em 2013 (nisto o "monge" � mais fiel �queles a quem plagia), com o inc�ndio de Roma. Um final coerente com a difundida cren�a de que Roma e a Igreja est�o destinadas a desaparecer juntas.Seu decl�nio � comparado ao de N�nive por outro monge, tamb�m ele do s�culo XVIII por�m aut�ntico: um frade mendicante chamado �ngelo, o qual, parafraseando o profeta Naum, prenuncia um nebuloso crep�sculo para a cidade "repleta de mentiras".A profecia localiza o princ�pio do fim em uma �poca na qual em Roma "sentar-se-�o dois reis". A unidade da It�lia ainda est� mais de um s�culo distante, mas a alus�o do frade �ngelo parece clara: "Uma coroa entrar� pela porta [fora de met�fora, a Porta Pia] e tentar� superar a velha coroa." Ent�o "prevalecer�o duas leis e o verdadeiro juiz se trancar� na sua torre at� quando uma terceira coroa, mas desta vez de chumbo, n�o portar o

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ramo de oliveira". E assim foi: o papa se trancou dentro dos muros do Vaticano como numa torre inviol�vel, em pol�mica com o usurpador Sav�ia, para ficar at� que uma terceira coroa (de metal vil: o fascismo)

interviesse para conciliar as duas primeiras.O resto da profecia � retorcido e com freq��ncia incompreens�vel. Cita muitas coroas de diversas proced�ncias, que nada t�m de r�gio ou de sacro, mas representam em qualquer caso o poder. De escasso interesse �

a hip�tese de que frade �ngelo pudesse ter adivinhado quanto tempo reinariam na It�lia os Sav�ia, multiplicando o n�mero dos ap�stolos (doze) e dos anjos do Apocalipse (sete), citados sem motivo aparente na profecia. Os Sav�ia, com efeito, reinaram 84 anos, de 1861 a 1945, ainda

que o veredicto definitivo tenha se dado com o referendo de 1946, mas n�o � como haver descoberto a dist�ncia da terra � lua combinando entre si os n�meros da Grande Pir�mide.De maior interesse � a afirma��o de que antes da queda a coroa de Pedro ser� "cortada em duas por uma foice". Poderia referir-se � consolida��o no seio do clero de simpatias marxistas, j� emergidas em diversas ocasi�es, e aos lit�gios que �s vezes ocorrem com os setores mais conservadores da Igreja. Tais tend�ncias, configurando-se com o tempo em uma verdadeira corrente ideol�gica, poderiam provocar uma fratura compar�vel a um cisma.Da� se deduz que, considerando a imagem da foice sob uma �tica integrista, a fratura j� existe.

O furor da "foice" sobre RomaA eventualidade de que um dia a Igreja possa prestar um "horrendo paneg�rico" ao materialismo transparece tamb�m de um antigo manuscrito encontrado em Urbino, no mosteiro de Santa Clara, do qual foi depois extra�do, em meados do s�culo passado, uma esp�cie de versinho prof�tico. Tamb�m deste or�culo, que no estilo canhestro dos versos pareceria ligar-se � tradi��o das pasquinadas, a paternidade �

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atribu�da a um monge: Bartolomeo da Saluzzo.Aparece tamb�m no seu escrito o emblema da foice, a "foice do servidor" mais exatamente, isto �, do povo, que a empunha como um s�mbolo no momento da rebeli�o:... e a foice do servidorbater� com grande furor.O "elogio" �s for�as representadas pela foice ser� a conseq��ncia natural desse "furor". Ser� uma esp�cie de humilhante compromisso, que colocar� a igreja de joelhos diante de um antigo inimigo. O poeta parece deleitar-se:Ver-se-� como bem domadase tornar� a Roma depravada.A Roma de frei Bartolomeo � "abjeta e porca", agora pronta para um fim

tr�gico e vergonhoso, um massacre que n�o desculpar� as v�timas (padres e freiras) dos seus pecados. N�o ser� o sangue nobre do mart�rio que escorrer� quando se erguer a foice, mas o da carnificina.Ai de mim, quantos covardesentre monjas, padres e frades!Ai de mim, como humilhadosser�o os prelados,amarrados, aprisionados, acorrentadose para o ex�lio mandados...A Roma abjeta e porcaque o grande fardo de Pedro suporta,ver� o sangue escorrerdos muitos destinados a morrer...Ser� no decorrer desse mortic�nio, entre gritos de "mata, mata, mata", que o Anticristo triunfante receber�, segundo Bartolomeo da Saluzzo, o ato de submiss�o por parte da Igreja, em forma de "horrendo paneg�rico" � facilmente reconhec�vel ideologia da foice.Ser�o envolvidas na ru�na da "desavergonhada Roma" as outras cidades da It�lia:... cidades ornadas e ricas,

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como Floren�a a bela e a N�poles gentil,cada uma se tornou um canil.Junto com a Roma �mpia e depravadaentrar�o numa grande enrascada...Nem os genoveses estar�o segurosse penetrarem seus fortes muros...O povo mal preparadode Rimini e de Arezzo,de Roma e de Faenzaser� pisoteado, desolado,erradicado, arruinado...E assim o povo de Mil�o, de Veneza, de Bolonha, de Parma e Piacenza, enquanto toda a pen�nsula n�o for purificada "pela foice, pela espada e pela lan�a":Logo ser�s pingada,� It�lia profanada.� um apocalipse vermelho e provincial essa hecatombe cantada por frei Bartolomeo em versos que n�o se adequam � grandiosidade do cen�rio evocado. Sua pr�pria trucul�ncia � mais pitoresca que assustadora, mais rumorosa que dolorosa. Cheira a taverna romana. Mais do que com a ira divina, parece ter de ajustar as contas com o ressentimento pessoal do frade contra as hierarquias eclesi�sticas. Isso se evidencia pela aspereza com que se dirige aos cardeais em fuga:Ficai com o manto vermelho,conservai o crucifixo no pesco�o,ser�o de grande valiaentre a medula e o osso.Quando? O frade n�o diz, mas garante que "quando o povo for bem castigado, bem flagelado e desolado", vir� um novo pastor, capaz de governar "com zelo e amor" o papado. O "papado�, diz Bartolomeo da Saluzzo, n�o a Igreja como comunidade dos fi�is em sentido lato: o "papado", como se podia entend�-lo na Roma de Pio IX (os versos s�o

dat�veis entre 1850 e 1870), na plenitude das suas atribui��es temporais. Deduz-se que massacres e atos anticrist�os n�o deveriam provocar o fim, mas sim o renascimento.A m�mia de Viterbo

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O nascimento de uma profecia em circunst�ncias muito similares �quelas que caracterizaram a descoberta das "amendociras floridas" deu-se em 1720 em Viterbo, onde, escavando num cemit�rio, oper�rios encontraram em uma cripta subterr�nea um cad�ver perfeitamente conservado, que,

pela t�nica que vestia, provou ser um monge penitente, que apertava na m�o um pergaminho.O achado de um cad�ver intacto n�o tem em si nada de necessariamente miraculoso. Diversos fatores podem contribuir para a mumifica��o do

corpo, como a umidade e a temperatura, o mofo, a presen�a de determinadas subst�ncias qu�micas na terra. Mas no passado representava um sinal da santidade do defunto, em especial se era um religioso. Aumenta a aura prodigiosa da descoberta, no caso da m�mia de Viterbo, a presen�a daquele pergaminho que comprimia no punho e que, entregue

�s autoridades eclesi�sticas, acabou por conter revela��es prof�ticas.Estas estavam escritas em ordem cronol�gica, como na "amendoeira florida", mantendo, por�m, uma cad�ncia decenal em vez de anual. Enunciavam com maior clareza os eventos aos quais se referiam, n�o obstante a forma sucinta, deixando-se entrever a subst�ncia. Real�stica e clara era a refer�ncia �s guerras coloniais americanas (�de 1760 a 1780 a Am�rica arder�: America ardebit), � persegui��o ao clero durante a Revolu��o Francesa ("de 1790 a 1800 a Igreja de Deus ensang�entar� : ex ecclesia Dei scaturiet sanguinem), �s guerras de independ�ncia na It�lia, de hegemonia na Europa e de secess�o nos Estados Unidos ("de

1860 a 1870 a ira de Deus sobre o mundo inteiro�: ira Dei super omnem terram).No que se refere ao s�culo XX, a profecia se difundia piedosamente sobre os anos do segundo conflito mundial, evidenciando a falta de f� que espalharia a desola��o na terra de 1940 e 1950. N�o fazia distin�ï

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¿½o entre a primeira e a segunda metade do dec�nio, entre guerra e p�s-guerra, como se o verdadeiro mal n�o fosse o conflito em si, mas o esp�rito pag�o que o havia gerado, e que perdurando nos anos de paz se traduzia na recusa cabal em celebrar ritos adequados de repara��o ou agradecimento. Textualmente, de fato, citando uma frase do livro de Daniel, o divulgador do texto lamentava por todo o dec�nio a "falta de sacrif�cios" no sentido antigo de oferendas ao Senhor.Mas isso se explicava com a aproxima��o do s�culo XXI, um encontro que amadureceria os tempos para a vinda do Anticristo. E � por isso que de 1950 em diante n�o podia haver outra vis�o para o profeta que n�o "abomina��o e desola��o" sobre a terra.Deste modo declinante "desaparecer�o muitas esp�cies animais, condenadas � morte pelo homem", que depois condenar� simplesmente a si mesmo "porque tudo aquilo que crescer� sobre a terra ser� a ess�ncia da morte". Vir� completar a obra de extin��o ao fim do mil�nio "uma pestil�ncia chovida do c�u, que tolher� qualquer for�a do homem" a ponto de impedi-lo por fim de lutar "contra os vermes que rastejam pelo solo".

26Os Arcanjos da guilhotina

A Revolu��o Francesa inspirou muitos videntes, que precederam os seus horrores, descrevendo em detalhes matan�as e epis�dios salientes. Houve eclesi�sticos entre esses arcanjos da guilhotina, como Jeanne La Royer, de quem j� se falou, sensibilizados evidentemente pela precogni��o das viol�ncias �s quais o clero seria submetido, mas tamb�m adeptos de

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sociedades inici�ticas e ocultistas ligados � corte, como Cagliostro. A mais impressionante entre as profecias sobre o que estava para acontecer na Fran�a veio, por�m, de um escritor de sucesso como Jacques Cazotte, autor, entre outras obras, de um romance triste que antecipava o g�nero g�tico rom�ntico (O diabo apaixonado, 1772) e de curiosos contos de imita��o da novel�stica �rabe (Continua��o das Mil e uma noites, 1789). A profecia foi pronunciada em janeiro de 1788, durante um jantar oferecido por um membro da Academia Francesa. Estavam presentes literatos c personalidades da corte.H� um relato detalhado do dramaturgo Jean Fran�ois La Harpe, um dos poucos sobreviventes entre todos que estiveram no jantar. Ele reportou acuradamente as falas, estupefato, como qualquer outro comensal, pelo que estava sendo dito. Tratou-se em resumo de uma conversa��o culta e mundana, tornada depois terrificante para a maior parte dos presentes, chamados pessoalmente por causa de Cazotte, que n�o era apenas um intelectual na moda, procurado nos sal�es por seu esp�rito arguto, mas

principalmente � deve-se recordar � um iniciado na doutrina secreta do

"fil�sofo desconhecido" Louis-Claude de Saint-Martin.Os Pat�bulos da Raz�oO jantar terminara havia pouco. O poeta Nicolas-S�bastien Roch de Chamfort havia lido alguns de seus versos libertinos. Come�ou-se a falar

de literatura, depois de filosofia e, inevitavelmente, das futuras mudan�as. Mencionou-se a Revolu��o. Cazotte ficava insolitamente � parte, sem intervir, mas ouvindo com muita aten��o aquilo que era dito.Todos expressaram muita simpatia pelas novas id�ias iluministas, elogiando particularmente Voltaire. Foi proposto um brinde ao triunfo da filosofia da Raz�o. Alguns dos mais idosos, erguendo as ta�as com os outros, manifestaram um amargo queixume pelo fato de que n�o poderiam talvez assistir, por causa de sua idade avan�ada, � aurora dessa nova idade da Raz�o.� Ireis v�-la, senhores � disse ent�o Cazotte, levantando-se para se

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despedir. � Todos vereis esta grande revolu��o sublime que tanto desejais. Sereis todos atendidos, vos asseguro. Como sabeis, sou um pouco profeta...� N�o � preciso ser profeta para diz�-lo � comentou algu�m a esta altura, provocando risadas gerais.� � verdade � rebateu o escritor �, mas � preciso s�-lo para o que ainda me resta a dizer-vos. Sabeis o que acontecer� com esta revolu��o e com todos v�s aqui presentes? Sabeis que conseq��ncias trar� o triunfo da Raz�o?Todos se voltaram contra ele, dizendo-lhe que o advento da Raz�o s� podia trazer coisas �timas, nenhuma conseq��ncia com a qual deveriam se preocupar. Com especial ardor, um membro da Academia lhe fez notar que no reino da Raz�o triunfariam os mais nobres ideais: a filosofia, a humanidade, a liberdade.� E � exatamente em nome da filosofia, da humanidade, da liberdade,

que ser� decretado o vosso fim, marqu�s de Condorcet � replicou Cazotte.� O que pretendeis dizer?� Que no reino da Raz�o morrereis contorcendo-se no ch�o de uma cela, depois de vos envenenardes para escapar da carnificina. � Em seguida, dirigindo-se aos outros, o escritor os interpelou com imensa tristeza: � Quanto a v�s todos, recordai que haver� uma verdadeira religi�o, a da Raz�o, pois far� erguer os seus templos em toda a Franca.� Jamais me tornarei sacerdote daqueles templos � sorriu ent�o Chamfort, cuja moralidade decadente o protegia de qualquer cont�gio demag�gico.� Ireis vos tornar � objetou melancolicamente Cazotte �, pois vos cortar�o as veias com 22 golpes de navalha, caro Chamfort, mas s� morrereis depois de meses de agonia.Prosseguiu, no embara�oso sil�ncio que se seguiu �s suas �ltimas

palavras, dirigindo-se a um outro comensal:� V�s, por sua vez, monsieurVick d�Azyr, n�o tereis apenas as veias

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cortadas; elas ser�o abertas seis vezes num s� dia, por um ataque de gota, e morrereis na mesma noite. � Dirigiu-se aos outros no mesmo tom: � V�s, monsieur de Nicolas, morrereis no pat�bulo. V�s, monsieur de

Bailly, no pat�bulo. E tamb�m v�s, monsieur de Malesherbes. No pat�bulo...Foi interrompido por um dos presentes, que ainda n�o tivera seu nome citado:� Estais condenando toda a Academia!� Tamb�m sereis decapitado, monsieur de Roucher.� Mas isto � uma fixa��o! � reagiram os demais. � Decidistes exterminar todos n�s?� Eu n�o... N�o fui eu que o jurei.� Quem foi ent�o? Os turcos, os mong�is?� N�o, de modo algum. Foi a filosofia da Raz�o... � Todos se entreolharam, sem entender. Cazotte fitou um por um � sua volta, depois,

com um tom explicativo, repetiu: � Aqueles que vos condenar�o ser�o todos fil�sofos: ter�o constantemente na boca as mesmas m�ximas que estais adulando h� uma hora, repetir�o vossas pr�prias palavras, citar�o como v�s as frases de Voltaire e de Diderot.� E quando deveria acontecer tudo isto?� Tudo estar� terminado dentro de seis anos, no m�ximo.� Se isto � verdade, h� algo de miraculoso no que dizeis � observou La Harpe, que o havia escutado, ao contr�rio dos outros, em respeitoso sil�ncio.� Miraculoso � o que vos acontecer�.� Dizei-me o que �.� Renunciareis � vossa f� protestante para tornar-vos cat�lico.� Ent�o estamos tranq�ilos � zombou Chamfort com um sorriso. � Se esperarmos at� que La Harpe se converta, nos tornaremos imortais.Encorajada pela tirada, interveio neste ponto a duquesa de Grammont: - N�o profetizastes a morte de nenhuma mulher - ironizou. � N�s pelo menos podemos ficar tranq�ilas.

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� Vosso sexo n�o vos salvar� desta vez.� O que quereis dizer?� Que sereis tratadas como os homens, sem qualquer distin��o.� Mas ent�o � o fim do mundo!� N�o sei, mas sei que subireis ao pat�bulo com outras damas, todas na mesma carro�a, e tereis as m�os atadas �s costas.� Ah, n�o! Que me espere pelo menos uma carro�a com cores de luto. � Riu. Ningu�m a acompanhou.� Damas superiores a v�s, duquesa, seguir�o na mesma carro�a, com as m�os atadas �s costas.� Superiores a mim?... Ent�o ser�o princesas reais!� Mais superiores ainda.Mas quem est� acima das princesas de sangue sen�o a rainha? O jogo se tornara pesado demais para ser levado adiante. A duquesa tentou desviar o discurso com um coment�rio:� Vai acabar que n�o me permitir�o sequer um confessor!� Exatamente, duquesa. N�o o tereis. Nem v�s nem as outras. O �ltimo ao qual ser� permitido um, por gra�a especial, ser�...Cazotte hesitou. Houve uma pausa bastante tensa. Depois algu�m ousou perguntar:� Quem?� O rei.O dono da casa a esta altura se levantou e, com firme cortesia, fez notar que com esta afirma��o ele havia ofendido a sensibilidade de todos os

presentes. Cazotte anuiu e se curvou numa mesura. Mas a duquesa ainda queria provoc�-lo:� E o que ter�eis a dizer de v�s, meu caro profeta?� Algo que se l� na B�blia acerca do s�tio de Jerusal�m. Houve um homem que, enquanto se combatia, fez por sete dias o giro dos muros, entre sitiantes e sitiados, gritando sem parar: "Desgra�a para Jerusal�m, desgra�a para Jerusal�m!" No s�timo dia gritou: "Desgra�a para Jerusal�m e para mim mesmo!" E naquele momento uma pedra catapultada contra os muros o atingiu, massacrando-o.Dito isto, Cazotte repetiu a mesura e, sob sil�ncio geral, se retirou.

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Isto � tudo que sabemos sobre aquele espantoso sarau atrav�s do fiel testemunho de La Harpe, que figurou entre os poucos opositores da revolu��o a ter a vida poupada, mesmo acabando preso como inimigo do povo. Miraculosamente, � o caso de se dizer, se levarmos em conta o fim

que coube � quase totalidade dos aprisionados junto com ele.Converteu-se ao catolicismo depois de ter estado encarcerado.Mas Cazotte n�o escapou ao pat�bulo. Foi guilhotinado em 25 de setembro de 1792, quatro anos ap�s predizer aquele destino aos comensais da Academia e a si mesmo.Menos r�pido e muito mais penoso foi o fim do amigo Chamfort, que para evitar a pris�o suicidou-se desastradamente, como predito, passando

por um longo sofrimento."Sangue, sangue, sangue..."Uma outra profecia ligada � Revolu��o Francesa foi pronunciada em uma abadia da Borgonha (Mousytier St. Jean, em Auxoir) em 3 de dezembro de 1750. Testemunha direta foi o padre prior, que depois de t�-la ouvido em presen�a de outros confrades, transcreveu-a para depois envi�-la � abadia de Cluny, a matriz da mesma ordem cisterciensc, onde est� conservada at� hoje. Chamam-na "profecia de padre Calixto", do nome do frade ao qual foi atribu�da.No manuscrito se l� que "tr�s flores de l�rio da coroa real cair�o no sangue, uma outra na lama e uma quinta se eclipsar�", enquanto "os malvados se devorar�o mutuamente". Depois, como um sinistro estribilho repetido em mais trechos: "Sangue, sangue, sangue se beber�..."O l�rio � o emblema dos Bourbon da Fran�a. As tr�s flores a cair no sangue s�o o rei Lu�s XVI, sua mulher Maria Antonieta e a irm� do

soberano, Elisabete, todos os tr�s guilhotinados em 1793. A flor ca�da na lama � o delfim, o herdeiro de apenas oito anos, confiado por desd�m � fam�lia do sapateiro Simon e que desapareceu sem deixar vest�gios. O

eclipsado � o conde de Proven�a, irm�o do rei, destinado depois do e

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x�lio a tornar-se Lu�s XVIII.Assim, entre pat�bulo e ex�lio, "as altezas ser�o rebaixadas", ainda que entre os seus verdugos reinar� igualmente a morte.A profecia continua para evidenciar aquelas que ser�o, na onda revolucion�ria, as desgra�as da Igreja: "Igreja de Deus, tu gemer�s. Ministros do Senhor, chorareis sobre as novas profana��es. Mas n�o ser�o apenas os aristocratas e padres a sofrer. "A vingan�a celeste golpear� todas as classes."A Revolu��o ser� de fato uma divindade cruel que, segundo uma feliz imagem mitol�gica, devorar� os seus filhos tal como Saturno. Como negar, por outro lado, que, entre aqueles que subiram ao pat�bulo nos anos do Terror, estiveram mais burgueses e politiqueiros, envolvidos pelos sobressaltos do poder, do que nobres e eclesi�sticos perseguidos como tais? Como ignorar que todo o povo franc�s, e n�o apenas os membros de uma classe antes privilegiada, tenha sofrido e pagado as conseq��ncias da Revolu��o? Como ignorar, enfim, que as pr�prias guerras napole�nicas, pelo alt�ssimo tributo cobrado em vidas humanas, tenham sido algo muito similar a um castigo para toda a na��o?Tamb�m padre Calixto, como Jeanne La Royer e outros videntes condicionados pela pr�pria f� crist�, "v�" os eventos revolucion�rios em uma chave escatol�gica do fim do mundo: "A vingan�a celeste se aproxima, o tempo encolhe. [...] A iniq�idade sujou a terra. [...] Que santos rezar�o por n�s? [...] N�s abusamos do Sacrif�cio [da reden��o] e o Sacrif�cio cessar�."As condi��es executadas por ordem dos "tristes" carniceiros da Revolu��o adquirem sob esta luz uma fun��o quase sacra, de instrumento da justi�a divina: "N�s somos unidos � terra [...] e a terra culpada ser� purificada com fogo. [...] Sangue, sangue, sangue se beber�. [...] As senten�as dos tristes ser�o executadas: a morte colher� padres, monges e laicos..."� a l�gica cruel da regenera��o apocal�ptica. O homem acredito

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u-se capaz de "poder servir pelo menos como esteio Dele", e Ele o excluiu, abandonando �povo e rei � pr�pria sorte.N�o fica claro o que Calixto pretende dizer mais adiante, ao afirmar que "uma espada de fogo se elevar� do mar e por duas vezes imergir� rubra de sangue nas suas ondas". Est� claro, por�m, que o mar representa o caminho da salva��o e do ex�lio para os sobreviventes: "As rel�quias do grande naufr�gio ser�o impelidas pelas ondas do norte."As ondas do norte s�o as da Mancha, atrav�s das quais procuram ref�gio na Inglaterra os sobreviventes das grandes fam�lias da Fran�a. S�o elas, verdadeiramente, as "rel�quias" do naufr�gio que afundou o seu mundo. Levam consigo as patentes e as ins�gnias dos seus privil�gios perdidos. E tamb�m um simples anel nobili�rquico no dedo, uma �rvore geneal�gica transcrita sobre um antigo pergaminho, assume nesta di�spora de �poca uma m�stica dignidade de rel�quia toda pr�pria.A profecia refere-se de qualquer modo aos esquemas apocal�pticos tradicionais prevendo um renascimento ap�s a expia��o. E depois de todos aqueles l�rios cortados, pisados, dispersos, � ainda a mesma flor a trazer a salva��o: "Uma flor de l�rio resplendente desce das nuvens. [...] A f� ressurge: um homem, instrumento de Deus, vem reacender os archotes. Felizes aqueles que sobreviveram. [...] Gl�ria a Deus!"� dif�cil considerar "resplendente" um personagem opaco como Lu�s XVIII, mas � indiretamente a ele que se refere a profecia, enquanto portador emblem�tico, mesmo sem m�rito de tudo que os l�rios haviam representado para a Fran�a antes da hecatombe revolucion�ria. Uma vez que n�o s�o necessariamente as qualidades dos homens a dar um sentido � hist�ria, mas sim o que cada uma delas representa no momento em qu

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e a atravessa � e s� naquele momento � enquanto "instrumento de Deus.�O Anticristo "m�stico"Uma poss�vel alus�o � Revolu��o Francesa, com particular aten��o �s persegui��es em rela��o ao clero, � colhida em uma profecia conservada na biblioteca dos capuchinhos de Genzano, dat�vel entre a segunda metade do s�culo XVII e o in�cio do XVIII, portanto um s�culo antes dos eventos que menciona. "Surgir� na Fran�a um novo imp�rio", l�-se, "e ent�o ai de v�s, � sacerdotes, porque sereis dispersados, perseguidos e exilados."� discut�vel se o termo imp�rio deva ser lido como sin�nimo de poder, de nova ordem pol�tica, e, portanto, tamb�m de revolu��o, ou se est� relacionado, em sentido literal, ao imp�rio napole�nico. Diversos detalhes do texto induzem a considerar mais correta a segunda hip�tese, que de qualquer modo n�o empana o interesse hist�rico do vatic�nio, em qualquer caso assimil�vel �s profecias ligadas � revolu��o, da qual o imp�rio teve filia��o direta. E tamb�m a advert�ncia aos sacerdotes conserva toda a sua validade se ela se refere ao regime napole�nico, fortemente persecut�rio em rela��o a eles, e n�o ao dos jacobinos. N�o s�o, portanto, vazias de significado � qualquer que seja a interpreta��o do escrito � as premoni��es relativas � aboli��o das ordens religiosas e ao confisco de seus bens, pelos quais "todos os eclesi�sticos [ser�o] reduzidos a mendigar dos leigos o sustento e tudo que � necess�rio para o pr�prio sustento e para o culto".A pr�pria maneira como chegou ao fim essa ditadura hostil � Igreja, pela forma como aparece ilustrada no or�culo, n�o deixaria d�vidas. O no

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vo imp�rio ser� de fato derrotado por uma alian�a "entre pot�ncias orientais e setentrionais", depois do que "a Igreja de Jesus Cristo gozar� de sossego, mas por pouco tempo". Reconquistada de fato sua plena tranq�ilidade com a queda de Napole�o, o papado voltar� a perd�-la pelas vicissitudcs rcssurgimentais, at� ser espoliado por completo do seu

territ�rio.

Lu�s XVI obrigado a p�r na cabe�a o barrete fr�gio em uma estampa popular do s�culo XVIII.

A profecia, at� aqui de f�cil interpreta��o, elabora mais adiante uma complexa trama escatol�gica, prenunciando a vinda de um �Anticristo

m�stico�, contra o qual deveria levantar-se um l�der "da estirpe de Carlos Magno, por todos, considerada extinta".Em primeiro lugar, o entrecho desperta curiosidade por conferir ao Anticristo o atributo "m�stico", jamais usado em lugar algum. � poss�vel que o vidente tenha desejado assim dar uma id�ia da extraordin�ria predisposi��o do dem�nio em mostrar o contr�rio daquilo que realmente �, assumindo as apar�ncias da santidade at� mimetizar-se entre as mais altas hierarquias eclesi�sticas, o que coincidiria com tudo que reportam muitas outras profecias sobre a infiltra��o sat�nica no Vaticano.De grande interesse � tamb�m a din�mica do conflito entre o Anticristo e esse descendente de Carlos Magno, que o papa "coroar� e declarar� leg�timo imperador dos romanos", consignando-lhe o estandarte e o crucifixo. O novo soberano "destruir� todas as heresias e derrotar� totalmente o imperador do norte, chamado de Anticristo m�stico". Participar�, pois, com o pont�fice da reforma da Igreja, "assumindo o governo temporal". Libertar� por fim o papa e os bispos de cada

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problema contingente, conferindo-lhes prebendas vital�cias, para que possam "viver em paz, separados todos de qualquer avareza terrena, at� o

fim dos s�culos.Livre por isso de qualquer preocupa��o, o pont�fice "escolher� doze fi�is de sua religi�o e os enviar� pelo mundo em miss�o, e estes ter�o o dom de converter as pessoas � religi�o de Nosso Senhor Jesus Cristo, � reserva [com exce��o] dos hebreus, os quais est�o reservados para o fim do

mundo".Conclu�a-se assim, repropondo o antigo preconceito da "diversidade" dos hebreus, a profecia do desconhecido capuchinho de Genzano. Sem deixar entender, no fundo, se o ser "reservados para o fim do mundo" devia ser considerado um an�tema ou um privil�gio. 27Dom Bosco, Profeta em SonhoO dom da profecia se exprime nos santos atrav�s do �xtase, da apari��o reveladora, da percep��o de vozes. Constitui uma significativa exce��o a esta regra s�o Jo�o Bosco, profeta por excel�ncia entre as grandes figuras religiosas da idade moderna, que teve suas vis�es quase exclusivamente em sonhos. Tanto que faz seu principal bi�grafo, o sacerdote Lemoyne, dizer que "o nome de dom Bosco e a palavra sonho s�o insepar�veis".As mortes anunciadasOs sonhos de dom Bosco foram essencialmente de tr�s esp�cies: aqueles que se referiam a ele, aqueles que se referiam aos outros (e foram os mais tremendos, dada a sua propens�o para "ver" em sonho a morte das pessoas que conhecia, adivinhando em muitos casos a data) e aqueles relativos aos grandes eventos hist�ricos. A estes �ltimos se juntam certos sonhos espetaculares, simb�licos, sobre os destinos da Igreja e de toda a humanidade, verdadeiras sagas on�ricas de inspira��o apocal�ptica.Sonhou desde rapaz, no que diz respeito a si mesmo, que se tornaria

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padre e que fundaria congrega��es religiosas; que cuidaria dos jovens,

transmutando muitos lobos potenciais em cordeiros; sonhou com os meios que lhe permitiriam realizar o seu projeto; com a cidade que deveria procurar para poder empreender sua miss�o. Sonhou coisas que aconteceriam por outros sessenta anos, desde a mais tenra adolesc�ncia (seu primeiro sonho premonit�rio, sobre a miss�o para a qual se sentia

convocado, ocorreu quando tinha nove anos, em 1824) at� a morte, que sobreveio em 3 de janeiro de 1888, em Turim.Mas os sonhos que lhe deram a extraordin�ria fama de vidente � em certos aspectos sinistra, ainda que compensada por uma bondade inata e espont�nea, jamais separada da vontade pr�tica de traduzir-lhe os efeitos em obras concretas � foram aqueles nos quais prev� o fim de tantas pessoas, sobretudo entre os seus disc�pulos. H� documentos escritos dessas premoni��es, como a anota��o encontrada em 1864 na enfermaria do orat�rio, na qual havia assinalado a morte iminente de dois jovens aprendizes. Eis o texto:"Orat�rio de s�o Francisco de Sales, 30 de janeiro de 1864. Dom Bosco me disse na noite de 29 de janeiro: Caro Moncardi, dois s�o os artes�os que antes de findar a pr�xima quaresma dever�o ir ao para�so: Tarditi e Palo. Fica atento. Moncardi Ignazio, enfermeiro."O aviso foi respondido pelo enfermeiro em um envelope lacrado e entregue ao padre Alasonatti, sacerdote salesiano, que em cima anotou: "Para abrir depois da P�scoa de 1864."Ao abrir-se o envelope, a profecia se realizou: Palo morreu em 26 de fevereiro, Tarditi em 12 de mar�o, quinze dias antes da P�scoa, que naquele ano ca�a em 27 de mar�o.Testemunho de um epis�dio an�logo foi prestado por dois de seus disc�pulos, Giuseppe Buzzetti e Modesto Davico, que contaram terem sido exortados um dia por dom Bosco, repentinamente, a se ajoelharem e orarem "por aquele dos nossos companheiros que esta noite morrer�". Na

manh� seguinte, ao dizer a missa, convidou todos os aprendizes a dizer um De profundis por um deles, um tal Ros�rio Pappalardo, morto antes da aurora.Predisse do mesmo modo a morte de outros jovens do orat�rio, como

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Marchisio, Foranzio, Maestri, indicando com freq��ncia a data do �bito. A um rapaz chamado Francesco Dalmazzo disse que viveria 49 anos e se tornaria padre: "Estar�s no orat�rio comigo", acrescentou, "e depois da

minha morte ser�s feito can�nico." F tudo correu exatamente assim: padre Dalmazzo se tornou can�nico e reitor de Catanzaro depois do fim de dom Bosco, morreu com 49 anos, em 10 de mar�o de 1895.Id�ntica previs�o fez para um outro sacerdote, Pietro Cogliolo, ao qual

disse que viveria 57 anos, como realmente aconteceu. Por�m a mais surpreendente dessas predi��es aparentemente l�gubres, que ele, no

entanto, considerava �teis para aqueles �s quais se referiam, pondo-os em condi��es de se prepararem para a passagem, foi feita para o pequeno Michele Rua, destinado a se tornar seu �ntimo colaborador.Notou o menino na primeira vez em que foi ao orat�rio e, depois de t�-lo olhado atentamente, tomou-lhe uma m�ozinha entre as suas, fazendo men��o de dividi-la em duas. N�o lhe explicou ali o significado do gesto, mas em seguida, tendo o menino lhe perguntado explicitamente, disse: �Significa, Michelino, que tu com dom Bosco far�s sempre a metade.E, ao crescer, Michele Rua dividiu com dom Bosco muitas coisas, a come�ar pelo trabalho do orat�rio, at� se tornar seu mais fiel assistente, seu burocrata, seu vig�rio, seu sucessor. Dividiu por fim a morte, expirando na mesma idade em que morreu seu mestre, no mesmo lugar e do mesmo mal.Os "avisos" do SenhorA espontaneidade com que dom Bosco costumava comunicar aos interessados certas profecias, convencido talvez de que conhecer a data da pr�pria morte pudesse ser um privil�gio para um crist�o, �s vezes lhe provocou aborrecimentos. Como quando o comiss�rio de Turim o convidou a abster-se de falar das futuras mortes, j� que eram not�cias capazes de causar perturba��es e que, de qualquer modo, n�o se provavam corretas.A esta �ltima obje��o dom Bosco replicou que jamais lhe acontecera anunciar uma morte que depois n�o se consumasse na data prevista. E

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para demonstr�-lo disse ao comiss�rio o nome de um seu subordinado de apenas 26 anos, Giovanni Boggero, destinado a morrer brevemente. O comiss�rio, levando em conta a �tima sa�de e a curta idade de Boggero, se permitiu duvidar. Foi desmentido dentro de tr�s meses.Evitou, a partir de ent�o, desafiar de novo o sacerdote como se fosse um reles charlat�o.N�o � necess�rio, por�m, sustentar que essa fun�rea particularidade do dom prof�tico do vidente fosse por ele aceita com esp�rito leve. Pelo contr�rio, provocava-lhe emo��es dolorosas, mas, sobretudo, no in�cio, s�rias d�vidas sobre a credibilidade do que "via" em sonho e sobre a oportunidade de cont�-lo. Ele pr�prio admite o qu�o lenta e trabalhosa foi sua evolu��o no modo de gerir tais profecias: "Ao contar estes sonhos, anunciando mortes iminentes, prevendo o futuro, muitas vezes permaneci na incerteza, n�o acreditando t�-los compreendido e temendo dizer mentiras. [...] S� anos depois, quando morreu o jovem Casalegno e o vi no caix�o, sobre duas cadeiras no p�rtico, tal como no sonho, ent�o n�o hesitei mais em crer firmemente que aqueles sonhos fossem avisos do Senhor."

Tantos �grandes funerais� na corteAs profecias de dom Bosco sobre lutos por vir envolveram tamb�m, de modo repetitivo e dram�tico, a casa de Sav�ia, provocando no soberano, perturba��es pelas quais o vidente veio a ser advertido. Aconteceu pela primeira vez em 1854, em uma circunst�ncia que tornou ainda mais desagrad�vel o an�ncio, visto que o parlamento cisalpino estava para votar as leis sobre a aboli��o de certas ordens religiosas e a profecia podia parecer uma intimida��o eclesi�stica. Na verdade dom Bosco,

depois de haver sonhado diversas vezes com um valete que anunciava primeiro "um grande funeral", depois "grandes funerais na corte", escreveu duas cartas a V�tor Emanuel II informando que "a m�o da morte" estava estendida sobre a casa reinante.Recebeu por duas vezes a visita de um emiss�rio do rei, o marqu�s

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Domenico Fassati, que o questionou severamente, desafiando-o a persistir nos seus vatic�nios. N�o ficou impressionado e, com toda a serenidade, respondeu que "a verdade em certos casos n�o pode nem deve ser silenciada".Morriam dali a pouco a rainha-m�e Maria Teresa, vi�va de Carlo Alberto, a 12 de janeiro de 1855, e oito dias depois a rainha Maria Adelaide, consorte de V�tor Emanuel, aos 33 anos de idade. Morria na mesma noite o irm�o do rei, Ferdinando Maria Alberto, duque de G�nova, tamb�m com 33 anos. Morria por fim, em 17 de maio, poucos dias antes que o rei assinasse as leis sobre as ordens religiosas, o pequeno pr�ncipe V�tor Emanuel Leopoldo, de apenas quatro meses, que ao nascer provocara a morte de Maria Adelaide.Aniquilado por todos esses "grandes funerais da corte", o rei quis ir pessoalmente ao orat�rio salesiano e conversar com dom Bosco, do qual se tornou um devoto entusiasmado, a ponto de exprimir a convic��o de que se tratasse de um santo, algo decididamente ins�lito para um soberano de pouca f� que sempre demonstrara ser.O sacerdote tamb�m "viu" o fim de V�tor Emanuel, no Natal de 1877.

Evitou, por�m, fazer declara��es p�blicas, limitando-se a exortar os fi�is a rezar pelo rei, que em 9 de janeiro seguinte faleceu de uma s�bita pneumonia. "Viu" no mesmo sonho a morte de Pio IX, acontecida um m�s depois da do soberano.N�o foi essa a �ltima profecia sobre a casa reinante. Previu, depois da morte de V�tor Emanuel, que seus herdeiros s� manteriam o cetro por mais tr�s gera��es.Outras dinastias, al�m da dos Sav�ia, tiveram de dom Bosco impiedosos progn�sticos sobre o seu pr�prio futuro. O ex-rei de N�poles, Francisco II de Bourbon, exilado em Roma, que havia desejado encontr�-lo para perguntar-lhe quando reconquistaria seu trono, recebeu a resposta: �Jamais recuperareis vosso trono, e nem sequer voltareis a ver N�poles�.Escreveu de pr�prio punho em uma folha ainda conservada nos arquivos do Instituto Salesiano de San Severo, em Puglia, uma profecia sobre o fim dos Habsburgo: "Quando a �guia bic�pite descer na tumba, a

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aguiazinha ser� derrubada do trono."A profecia vai at� os �ltimos anos de vida do santo. Francisco Jos� era imperador da �ustria-Hungria. Desceria ao t�mulo em 1916, deixando � "aguiazinha" Carlo somente o tempo de sentar-se no trono para ser logo derrubado.Sinais de fogoEmbora privilegiando a vis�o on�rica, as profecias de dom Bosco encontraram tamb�m outras maneiras de express�o. Continuam famosas as revela��es que teve por meio da manifesta��o de l�nguas de fogo em momentos de especial tens�o interior. Certa vez ocorreu-lhe, enquanto realizava exerc�cios espirituais com alguns devotos, ficar como que paralisado ap�s ter recitado um De profundis e visto pairar sobre o altar duas chamas semelhantes �quelas recorrentes na iconografia pentecostal.

Correspondendo a uma �poca apareceu escrito "apostasia", correspondendo � outra "morte". Depois do que as duas chamas rodopiaram em dire��o aos fi�is reunidos em prece para depois pararem sobre a cabe�a de dois deles: aquela com a palavra "morte" sobre a cabe�a de um aristocrata e a outra sobre a de um comerciante, not�rio por sua profunda devo��o.Este �ltimo, num breve lapso de tempo, teve uma crise religosa e abra�ou a f� protestante. O nobre morreu.Uma l�ngua de fogo, do mesmo modo, fez dom Bosco reconhecer um jovem franc�s, que jamais tinha visto antes, como um predestinado � vida eclesi�stica. Este fora � igreja de Maria Auxiliadora para encontr�-lo com o objetivo de pedir-lhe conselhos sobre a eventualidade de tornar-se sacerdote, sem haver, por�m, anunciado antes sua visita. Mas t�o logo dom Bosco o viu, iluminado pela m�stica chama, o chamou � parte, dirigindo-lhe em franc�s as respostas que ele esperava, mesmo sem ainda

ter formulado qualquer pergunta.Esse jovem chamava-se Antoine Malain. Tornou-se salesiano, depois mission�rio e por fim bispo.

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Tais espis�dios, por mais espantosos que fossem, n�o tiveram de qualquer modo uma influ�ncia especial no reconhecimento da santidade de Jo�o Bosco, por parte da Igreja, em 1934. Foram de fato privilegiados, no exame de Canoniza��o, os seus grandes m�ritos de educador, que o levaram a cuidar de milhares de rapazes pobres e desajustados, fundando para eles escolas profissionais e col�gios. Mais que os aspectos m�sticos e vision�rios da sua personalidade, teve import�ncia, portanto, para os fins da santifica��o, sua sensibilidade social, que o induziu, entre outras coisas, a promover uma intensa atividade mission�ria em uma nova �tica humanit�ria, como atividade de servi�o dirigido �s pessoas mais necessitadas de assist�ncia material do que espiritual.As profecias de dom Bosco, em outras palavras, s�o de um ponto de vista eclesi�stico um optional. Podemos crer ou n�o nelas, dar-lhes um valor miraculoso ou consider�-las como ramifica��o psicol�gica de uma personalidade ultra-sens�vel. Num e noutro caso n�o s�o arranhados nem acrescidos os elementos sobre os quais a Igreja (e a hist�ria) se baseou para a sua santifica��o.Dois plenil�nios para um "�ris de paz"Al�m de tantas premoni��es de interesse individual, s�o atribu�das a dom Bosco m�ltiplas profecias de significado hist�rico universal, que escondem atr�s de uma linguagem fortemente simb�lica indica��es precisas, capazes de permitir o reconhecimento dos fatos e do per�odo a que se referem. H� uma profecia plena de esperan�a para a humanidade, segundo a qual "o pecado ter� fim" e se abrir� um processo de paz destinado a concluir-se com a apari��o sobre o mundo de "um sol t�o luminoso como nunca o foi, das chamas do Cen�culo at� hoje, e que nem se ver� at� o �ltimo dos dias".Quando? Um detalhe induziria a sustentar que o processo, destinado

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evidentemente a cumprir-se a longo prazo, j� tenha tido in�cio. O texto da mensagem diz de fato que "o �ris de paz" desapareceria da terra "antes que transcorram dois plenil�nios no m�s das flores". N�o � um fen�meno comum a concomit�ncia de dois plenil�nios em um mesmo m�s, e a

�ltima vez que ocorreu em maio (o 'm�s das flores', dedicado al�m disso � Virgem, que dom Bosco amava com especial arrebatamento) foi em 1988. Coincidiu com os fatos que levaram � desagrega��o do imp�rio sovi�tico, � derrubada do muro de Berlim e assim por diante, preconizados al�m de tudo na segunda mensagem de F�tima.Refer�ncias ao comunismo se repetem em outras profecias de dom Bosco, tal como a chamada "do cavalo vermelho", na qual se assiste ao irromper de uma diab�lica besta no orat�rio, com um tal �mpeto capaz de aterrorizar os rapazes at� ent�o serenos e p�-los em fuga. Era "um cavalo vermelho que corria velozmente na dire��o deles, a crina ao vento, as orelhas eretas c os olhos coruscantes, corria t�o veloz que parecia ter asas".Em sonho, o sacerdote se perguntava se n�o poderia ser �um dem�nio sa�do dos abismos infernais". Uma voz lhe respondia: �� um cavalo do Apocalipse."A vis�o � comumente interpretada como uma representa��o da "democracia sect�ria" (� a express�o usada pelo bi�grafo Lemoyne, j� citado) que avan�ava na tentativa de impor-se "sobre governos, escolas, munic�pios e tribunais". A fuga dos rapazes do orat�rio era o sinal da sua "obra devastadora em preju�zo da ordem social, da sociedade religiosa, das institui��es pias e do direito de propriedade privada".Outras bestas em outros sonhos cumprem uma mesma fun��o simb�lica. Uma vez � um sapo gigantesco, assinalado tamb�m por um emblem�tico signo vermelho. Uma outra s�o os cavalos dos cossacos que bebem nas fontes de S�o Pedro. � talvez a mais popular das imagens transmitidas

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� posteridade por dom Bosco, n�o sendo naturalmente entendida em sentido literal. Aqueles cossacos e aqueles seus cavalos � e o lugar no qual beberam � s�o a met�fora de qualquer outra coisa, que vai al�m da fobia do comunismo, ainda que na superf�cie permane�a esta interpreta��o mais comum, com freq��ncia com o objetivo de suscitar ironias compreens�veis.Parece muito mais plaus�vel que o vidente tenha desejado aludir desta maneira � decad�ncia da Igreja contempor�nea, arrefecida nas suas tradi��es e nos seus ritos. Lida em tal sentido, a profecia aparece de modo mais veross�mil, direcionada a estigmatizar � como outros or�culos insuspeitados de ambig�idade ou m�-f�, tamb�m no �mbito mariano � certas formas de desmoronamento ideol�gico e de compromisso por parte de um clero forte, talvez condicionado ao seu pr�prio interior por bajuladores impulsos anticrist�os.Tal leitura confirma o zelo com que dom Bosco se faz porta-voz de Deus, em outra profecia, contra a in�rcia desses padres, pregui�osos na melhor das hip�teses, corrompidos na pior: "Por que n�o correis para chorar entre o vest�bulo e o altar? Por que n�o andais sobre os telhados, nas casas, nas ruas, nas pra�as e em cada lugar, mesmo inacess�vel, para levar a semente da palavra divina?"� a Igreja da luta contra o mal, n�o da aquiesc�ncia e do c�lculo pol�tico, que dom Bosco "v�" navegar em um apocal�ptico cen�rio marinho, majestosa, bem armada, � testa de uma grande esquadra, mas com o vento contr�rio, em uma tempestade que "parecia favorecer os inimigos".

At� quando, inspirado pela vis�o de uma coluna assinalada pelo nome de Maria Auxiliadora e de uma outra sobre a qual resplendia uma eucaristia, o comandante supremo pensou, para derrotar o inimigo, em "reunir em torno de si os pilotos das naves secund�rias e pedir conselho sobre o que fazer". Travou-se portanto uma batalha, e "o pont�fice se p�s ao tim�o para levar a nave na dire��o das duas colunas". A luta foi feroz e "muitos navios advers�rios afundavam no mar", mas a certa altura "o pont�fice

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fica ferido e cai com honra: solicitamente socorrido, � golpeado pela segunda vez, cai e morre". Mas enquanto j� se grita vit�ria nos navios do Anticristo, entra um novo pont�fice, que "supera qualquer obst�culo e guia a nave para as colunas", enquanto os vasos advers�rios se dispersam

e afundam.Desejou-se buscar neste �pico sonho de inspira��o milenarista, voltado a descrever a Igreja dos �ltimos tempos, agredida, mas por fim triunfante, a maior quantidade poss�vel de achados sobre a hist�ria recente do papado e previs�es para a futura. Tentou-se reconhecer na reuni�o com os comandantes das naves o Conc�lio Vaticano II, pronto a imprimir uma manobra decisiva na condu��o da esquadra; no primeiro ferimento do pont�fice, o atentado de Ali Agca, ao qual deveria seguir-se um segundo, mortal, n�o necessariamente em rela��o a ele, mas ao seu sucessor; na coluna de Maria Auxiliadora uma refer�ncia ao M desejado pela devo��o mariana por Jo�o Paulo II sobre o pr�prio bras�o; nos ventos e na a��o violenta dos inimigos as perturba��es e os obst�culos contra os quais lutou e ainda luta a Igreja de fim de mil�nio. Tudo isso, por�m, � relativo. O que conta � a evid�ncia dos significados de fundo do afresco que representa a comunidade crist� em luta pela pr�pria liberdade e sobreviv�ncia, com justa magnific�ncia de armas e equipamentos.� uma chave para poder entrar no sentido efetivo de outras profecias, na apar�ncia, banais."Distra��es" e vida breve de Domenico SavioH� um dos disc�pulos de dom Bosco que, por ser como ele dotado de esp�rito prof�tico e por ter-lhe deixado uma recorda��o tal a ponto de induzi-lo a escrever sua vida, n�o pode ser ignorado; � Domenico Savio, aluno no Orat�rio Salesiano de Turim, morto em 1817 � idade de quinze anos. O que se sabe dele se sabe principalmente do mestre, que no giro de dois anos publicou em Letture cattoliche uma comovente biografia do disc�pulo, depois ampliada e reimpressa mais vezes.

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A breve vida de Domenico foi pr�diga de �xtases e momentos de grande beatitude, no decorrer dos quais teve vis�es que dom Bosco, especialista inigual�vel na mat�ria, considerou de not�vel interesse. Era reticente ao falar delas, chamando-as simplesmente de "distra��es".De uma em particular, por�m, exprimiu o desejo de que o papa fosse informado, tratando-se de uma quest�o atinente � convers�o ao catolicismo de todo um pa�s. Confiou-a a dom Bosco, nestes termos: "Gostaria de dizer a Sua Santidade, se pudesse falar-lhe, de n�o deixar nunca de ocupar-se com especial solicitude da Inglaterra, pois Deus est� preparando um grande triunfo do catolicismo naquele reino.O sacerdote lhe perguntou ent�o em que elementos baseava essa convic��o, e Domenico, antes de responder-lhe, recomendou que a coisa ficasse s� entre eles. Obtida a garantia, assim respondeu, fornecendo um testemunho tecnicamente precioso para o conhecimento dos modos atrav�s dos quais costumava deslizar da prece em �xtase e do �xtase em vis�o, at� sentir uma esp�cie de transe divinat�rio: "Na manh� de 7 de setembro passado, enquanto fazia o agradecimento depois da comunh�o,

fui tomado por uma forte distra��o, e me pareceu ver uma vast�ssima plan�cie, cheia de gente envolta por uma n�voa densa. Caminhavam como homens que, tendo perdido a vida, n�o v�em mais onde metem os p�s. Este pa�s � a Inglaterra, disse algu�m pr�ximo a mim [Domenico �, portanto, parte, a esta altura, da sua pr�pria vis�o]. Quando ia perguntar outras coisas, vi o sumo pont�fice, assim como o vira retratado em tantos

quadros. Avan�ava atrav�s daquela imensa turba, majestosamente vestido, segurando entre as m�os um luminos�ssimo archote. E quanto

mais se aproximava, mais a n�voa ia desaparecendo naquele clar�o, de

modo que os homens pareciam envoltos na luz do meio-dia. Aquele archote � a religi�o cat�lica, que deve ainda iluminar os ingleses, explicou-me o amigo." E talvez n�o seja um detalhe desprez�vel a

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presen�a nessa paisagem vision�ria de um amigo desconhecido, que � maneira de Virg�lio explica ao viajante ext�tico tudo aquilo que � preciso saber sobre o lugar em que se encontra e sobre o objetivo final da profecia.Essa conversa��o entre dom Bosco e Domenico Savio teve lugar em setembro de 1856. Seis meses depois, em 9 de mar�o do ano seguinte, Domenico estava morto, "distra�do" tamb�m na passagem por maravilhosas vis�es, que expirando o fizeram dizer ao pai, como para consol�-lo da imensa dor que demonstrava: "Meu papai, se soubesses que coisa bela estou vendo..."O rapaz se foi sem poder realizar o desejo de comunicar a Pio IX o vatic�nio sobre a Inglaterra. Dom Bosco o fez um ano depois, suscitando

no papa curiosidade e enternecimento.A profecia pode hoje ser lida na perspectiva do des�gnio ecum�nico em rela��o ao qual est�o se orientando cada vez mais as igrejas crist�s, mas tamb�m em refer�ncia a um crescimento espec�fico da aten��o anglicana, muitas vezes manifestada nestes �ltimos tempos, pela catolicidade romana.Domenico Savio foi proclamado santo no centen�rio da sua morte por Pio XII, que o designou padroeiro dos estudantes. E considerado no imagin�rio lit�rgico como "a obra-prima pedag�gica" de dom Bosco.

28A grande bestaSatan�s tamb�m teve seus "santos" e seus profetas. Na segunda metade do s�culo XIX e na primeira do s�culo XX, ele foi prol�fero de adeptos e de sociedades mais ou menos secretas, tendentes a virar pelo avesso n�o s� os valores evang�licos (ou seja, os da religi�o crist�, a inimiga por excel�ncia), como tamb�m qualquer outro culto, inclusive o da raz�o.

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Um bom testemunho � dado por Aleister Crowley, um dos mais turvos e discutidos personagens do mundo m�gico moderno, em uma carta a um confrade: "Hoje eu disse: ao diabo o cristianismo, o racionalismo, o budismo, todo o peso dos s�culos. Trago-lhes uma realidade positiva e primordial que se chama magia; e gra�as � magia construirei para mim

um novo para�so e uma nova Terra. (...) Eu quero blasf�mia, assass�nio, estupro, revolu��o, tudo, bom ou mau, contanto que seja forte!�Aleister Crowley, "santo" de Satan�sO sonho de poder construir para si "um novo para�so e uma nova Terra� era para Crowley totalmente natural, convencido como estava de ser algo similar a um deus; assim, para usar suas palavras textuais: "um deus coroado, que todos os homens adorar�o e blasfemar�o por s�culos.A que g�nero de divindade pretendia se referir fica evidente pelo seu comprazimento em atribuir a si mesmo t�tulos como "a grande besta" ou

ainda "o santo de Satan�s". Costuma transcrever junto a tais defini��es, como ulterior esclarecimento da sua identidade demon�aca, o n�mero 666, que no Apocalipse de Jo�o designa o Anticristo. Pois n�o lhe bastava qualificar-se, como tantos outros satanistas da �poca, profeta do Anticristo: ambicionava ser o pr�prio Anticristo e ganhar a fama de o pior dos viventes, amplamente reconhecido pela imprensa internacional, concorde ao design�-lo como "o mais perverso dos homens".Mas n�o bastava sua espetacular insuperabilidade no mal para realizar o novo �den, baseado em uma s�ntese extrema de magia sexual e antigos cultos pag�os. Ocorria que uma nova era se abria, liberando a humanidade dos v�nculos com as antigas leis morais, religiosas e civis. Neste des�gnio se coloca o papel de mago profeta por ele assumido, e da

revela��o da qual se fez portador ao t�rmino de complexos ritos medi�nicos no Cairo, no decorrer dos quais eram invocados esp�ritos e deuses do antigo Egito. Entre estes, manifestaram-se o deus H�rus, invocado por Crowley como "o vingador da cabe�a de falc�o", e uma entidade de nome Aiwass, apresentada como "anjo guardi�o" do mago. Um esp�rito pertencente a um c�rculo de "chefes secretos", no qual declarou possuir o grau de ipsissimus, ou seja, qualquer coisa que na sua intraduzibilidade pareceria indicar o eu profundo do operador de magia,

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o seu pr�prio limite, como por efeito de um desdobramento esquizofr�nico. E o que disse a Crowley foi de fato aquilo que o pr�prio Crowley pensava e desejava: "N�o nos ocupamos dos rejeitados e dos indignos: que morram nas suas abje��es. Porque esses n�o ouvem. A compaix�o � o v�cio dos reis: pisoteia os infelizes c os fracos. Esta � a lei dos fortes, esta � a nossa lei e a alegria do mundo. N�o pensar, � meu rei, naqueles que mentem dizendo: deves morrer. Porque na verdade n�o morrer�s, mas viver�s."Como anjo, pelas coisas que diz, Aiwass n�o tem nada de celeste. Aparece a Crowley e a sua companheira Rose, que o assiste no rito com seus dons de vidente, sob a pele de "um homem alto e moreno, abaixo dos trinta, bem-proporcionado, forte e voluntarioso, com um rosto de rei b�rbaro, e os olhos velados para impedir que seu olhar incendeie aquilo que v�". Declara o que realmente representa convidando o mago e sua mulher a beber um elixir inebriante como sacramento de gratid�o ao seu "senhor deus o Diabo". Crowley descobrir� em seguida que Aiwass n�o � outra sen�o �jax, um semideus mic�nico no qual reside o esp�rito de um dos dois her�is que com o mesmo nome participaram da tomada de Tr�ia, ora a servi�o do deus Set, o fratricida, matador de Os�ris e destruidor de qualquer coisa, chamado tamb�m Shaitan e, para os crist�os, Satan�s.Alguns anos mais adiante, os progenitores do nazismo, reunidos a sua volta em sociedades secretas de inspira��o sat�nica, ir�o se entreter com os ensinamentos de Aiwass sobre a "necessidade" de pisotear os fracos e os infelizes, enquanto isso, o her�i ou semideus ou "anjo guardi�o" de Crowley comunica ao mestre a profecia que o leg�tima como o "deus coroado" de uma nova ordem mundial, anunciando-lhe o advento de uma nova era sob a �gide de H�rus, a partir daquele ano de 1904. Crowlev torna p�blica a profecia, denominando-a o novo �on de H�rus. Permutou o termo, indiferentemente, da linguagem misteriosa da antiga Gr�cia ou da filosofia gn�stica dos primeiros s�culos crist�os: na primeira acep��o, o �on est� indicando o tempo como absoluto, adorado como divindade;

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na segunda, uma entidade espiritual indefinida, proveniente diretamente do princ�pio criador do universo, dotado de poderes de intermedia��o entre as trevas e a luz. Ambas as acep��es caem bem, pois nos dois casos o �on corresponde a algo de eterno e fugidio, destinado a existir eternamente. Servindo-se, portanto, dessa defini��o, Crowley supera cada restri��o milenarista: sua era n�o durar� nem mil nem um milh�o de anos, mas para sempre.A lei de Aiwass, anjo guerreiroMas para que o �on possa ser expresso na total malignidade dos seus efeitos � necess�ria a aplica��o de certas normas essenciais, que Aiwass dita em forma de vers�culos ditir�mbicos pelo horrendo tenor. Crowley extrai o seu Livro da lei. Eis uma passagem:Seja vetada a miseric�rdia: malditos aquelesque t�m compaix�o.Mata e tortura: n�o poupes ningu�m.Para me adorares toma vinho e drogas estranhasque indicarei ao meu profeta:embriaga-te,O ditado do "anjo" Aiwass conclu�a com a imposi��o de recusar qualquer lei, com exce��o da vontade de fazer aquilo que se quer. Assim, em termos muito amb�guos, o dem�nio apropriava-se de um ensinamento

fundamental de santo Agostinho: Ama e jaze aquilo que quiseres, retirando-lhe, por�m, o imperativo ama.Crowley a chamou de lei de Thelema (que em grego quer dizer vontade) e fundou na Sic�lia, em Cefal�, uma abadia sat�nica com tal nome, onde pudesse pratic�-la em toda liberdade com seus seguidores. O juramento para admiss�o era, com algumas varia��es, o seguinte, que ali�s foi subscrito pela Mulher escarlate, como Rose, a vestal de Crowley, era conhecida entre as iniciadas:Eu me dedicarei por completo � Grande Obra.Eu me erguerei no orgulho.Cumprirei obras de perversidade

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Matarei o meu cora��o,Serei escandalosa e ad�ltera.Eu me cobrirei de j�ias e roupas faustosas.N�o terei peias na presen�a de todos os homens.Prostituirei de gra�a o meu corpo� concupisc�ncia de todos os seres viventesque o solicitarem.Eu reclamo os t�tulos de Mist�rio dos Mist�rios,Babalon a GrandeN�mero 156Roupa da Cortes�e Ta�a das Abomina��es.A hist�ria dessa pobre mulher, que � �poca do juramento tinha 41 anos e havia compartilhado por completo as monstruosas experi�ncias de Crowley, dando-lhe entre outras coisas uma filha com o nome inveross�mil de H�cate Noite Athatur Safo Jezabel Lilith, � contada por ela mesma no seu Di�rio m�gico de Babalon, vida e loucura da "esposa do caos", como costumava tamb�m chamar-se. Testemunho de uma uni�o vista como "ininterrupta orgia sexual", ao fim da qual a autora nada mais deseja sen�o "morrer entre os bra�os da besta 666, que era e � o meu amante, meu companheiro, meu pai, meu filho e tudo aquilo que uma mulher pode querer encontrar num homem".A nova era de H�rus�s pr�ticas de magia negra na abadia de Telema, da qual nasce tamb�m uma esp�cie de filosofia telemita, inspiradora de v�rias confrarias sat�nicas contempor�neas, deveriam servir para consumar a profecia de Aiwass, favorecendo a incid�ncia do �on ou nova era de H�rus, iniciada em 1904, mas bastante longe de ser sequer uma p�lida realiza��o dos seus objetivos. O trabalho para lev�-los adiante, a fim de que o or�culo pudesse cumprir-se na plenitude dos seus efeitos, era imenso, al�m das for�as de qualquer mortal comum. Precisava cancelar uma eternidade e substitu�-la por outra. Era necess�rio, para dar espa�o ao novo �on,

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"tirar do meio os destro�os do velho �on", isto �, do cristianismo e da hist�ria humana na sua complexidade: "A civiliza��o, assim como a conhecemos, e todos os seus valores devem ser destru�dos e cancelados por completo,

do mesmo modo como foi destru�da e cancelada a Atl�ntida." Era preciso dar vida, em breve, a uma nova Idade M�dia, um par�ntese de barb�rie que deve ser atravessado, a fim de libertar O homem de qualquer v�nculo

n�o apenas �tico mas tamb�m est�tico."� preciso amar a putrefa��o", l�-se em uma carta de Crowley a um dos seus adeptos mais chegados, Mudd, enamorado de Rose, "e transmut�-la em forma de beleza." Depois, a Rose: "A prop�sito do meu amor pela putrefa��o, est� exatamente aqui a raiz do meu amor pelas piores prostitutas, as negras, Olga do nariz quebrado e assim por diante, at� a �ltima impureza, o esqueleto..."Os ritos na abadia de Telema baseavam-se numa prom�scua e exasperada atividade sexual, intercalada com a celebra��o de missas negras e outros ritos sat�nicos, com grande derramamento de sangue sacrificial."N�o esque�ais de sacrificar grandes e pequenos animais, como prescrito no Livro da lei", recomendava Crowley, dando ele pr�prio o exemplo crucificando aranhas ap�s t�-las batizado com �gua benta. Os pequenos animais eram seguidamente comidos durante os banquetes rituais.Das li��es de Crowley se aprende que "o melhor sangue � aquele do ciclo mensal da lua, depois o sangue fresco de um menino, depois o dos inimigos, depois o do sacerdote ou dos fi�is, por fim [apenas em �ltimo lugar] o de um animal".Nesie sangue seriam empastados p�es especiais, a serem usados em uma par�dia blasfema da Eucaristia: "Fazei o p�o para com�-lo em minha honra", ordenava a besta aos seus seguidores, "colocai-o sobre meu altar

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e condimentai-o com o perfume de vossas preces.Mas al�m dessas pantomimas vulgares, que pela sua meticulosidade lit�rgica n�o podiam ser entendidas como manifesta��es de anarquia espiritual, mas sim como aceita��o de uma nova escravid�o, havia na profecia do novo �on um projeto que, em sentido mais amplo, poderemos definir como "pol�tico" e que em boa medida influiu sobre o curso dos mais dram�ticos eventos do s�culo XX. Ou seja, havia a inten��o

declarada de determinar no homem "o desmoronamento da mentalidade humanit�ria" mediante uma a��o combinada "de for�a e de foco", isto �, dos elementos inerentes � natureza divina de H�rus. Nisso resultava que "o primeiro ato do seu reino" devia ser o de "arrojar o mundo na cat�strofe de uma guerra imensa e impiedosa".Esta guerra imensa e impiedosa ocorreu, assim como a a��o combinada de For�as tendentes a eliminar a mentalidade humanit�ria do planeta. Nisso a profecia da besta teve os mesmos achados de outras profecias que, como a de F�tima, se propunham o fim oposto de salvaguardar "a mentalidade humanit�ria". Como o porta-voz de H�rus augurava a guerra, os porta-vozes do Deus crist�o a receavam: ambos, � verifica��o dos fatos, "viram" um evento que depois realmente aconteceu. Mas � tamb�m verdade que com a prova da for�a e do fogo foram os ex�rcitos de H�rus, portadores da tentativa desumanizante vaticinada por Crowley,

que sofreram uma fragorosa derrota.A "maldi��o" de Nietzsche� f�cil intuir que tipo de sugest�o os ideais de superioridade m�stica condensados no Livro da lei possam ter exercido sobre os primeiros te�ricos do nazismo, seja pelo seu conte�do espec�fico, seja pela sua encena��o: o rito noturno, a evoca��o de antigos deuses, a apari��o do anjo guerreiro Aiwass, portador de uma nova "revela��o" perturbadora,

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em muitos aspectos an�loga ao credo anti-humanit�rio expresso por Friedrich Nietzsche no seu Anticristo: "� humanidade algu�m deve ser

superior, por for�a, por grandeza de alma, por desprezo.�Como Crowley � com lev�ssima anteced�ncia, sinal de que a "maldi��o estava no ar �, Nietzsche havia elaborado sua invectiva contra o homem em forma de Maldi��o do cristianismo. Como Crowley, havia superado os tradicionais conceitos do bem e do mal dizendo que conta somente "o senso de poder, a vontade de poder, o pr�prio poder", assim como havia indicado a felicidade naquilo que se experimenta "quando uma resist�ncia � vencida�. Como Crowley, havia reconhecido um novo dever em vez da piedade de uma �poca: "Os fracos e malsucedidos devem sucumbir, e � preciso dar-lhes uma m�o neste sentido."Ao contr�rio de Crowley, por�m, Nietzsche permaneceu s� na pr�pria loucura. Crowley, n�o. Descobrira em si um protetor de poder sobre-humano, refugiando-se sob a asa negra de Satan�s e profetizando seu advento. Havia procurado pros�litos e instrumentos para a divulga��o do seu credo desde a primeira juventude, entrando na poderosa seita da Aurora Dourada (Golden Dawn), � qual pertenciam personagens como o

romancista Bram Stoker, autor de Dr�cula, e o Poeta William Butler Yeats, que depois se tornou senador pela Irlanda e ganhador do pr�mio Nobel.

DA CHI SARA L'ANTICHRISTOG E N E R A T O.

O nascimento do Anticristo no frontisp�cio de um or�culo popular.

Rapidamente se tornara mestre, mas havia sa�do ap�s os devastadores efeitos de um aut�ntico duelo de magia negra com um outro desp�tico

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l�der da seita, um tal Samuel Liddel Mathers, evocador tamb�m ele de

nefastas entidades demon�acas. Havia continuado a entretecer rela��es nas suas viagens com artistas e literatos de fama internacional, como Rilke, Rodin, Frank Harris e Somerset Maugham, tornando-se popular�ssimo pelo estilo orgi�stico da sua vida al�m de pelos rituais praticados nos locais das antigas religi�es. Manteve a f� na sua fama, rapidamente conquistada em menos de trinta anos, celebrando espetaculares cerim�nias entre as ru�nas de um templo asteca no M�xico e depois na Indon�sia, Jap�o, Ceil�o e no Cairo, onde havia recebido a profecia de Aiwass.Aderiu em seguida � Ordo Templi Orientis (a OTO, aquela mesma Ordem do Templo do Oriente, sediada na Su��a alem�, entre cujos membros ocorreu em tempos recentes uma espantosa mortandade, com grande resson�ncia na imprensa), assumindo bem cedo o seu controle. Faziam parte da seita personalidades de grande prest�gio intelectual, como Rudolf Steiner � que se retirou em 1913 para criar a sua pr�pria escola antropos�fica �, mas tamb�m expoentes deteriorados do novo esoterismo alem�o de signo nazista.Not�vel foi o interc�mbio de influ�ncia entre as duas vertentes desta

filosofia desviada, sobre a onda de envolvimento emotivo rec�proco, que

em seguida induziu Crowley a entrever em Hitler um instrumento dos des�gnios de H�rus para a realiza��o da nova era vaticinada por Aiwass.O nazismo reprimiu, depois da subida ao poder, muitos c�rculos aos quais estiveram ligados muitos dos seus primeiros sustent�culos, entre os quais

a Ordem do Templo do Oriente, e foi provavelmente nessa ocasi�o que Crowley pronunciou uma frase reveladora do seu pr�prio senso de impot�ncia (e de inveja, mas tamb�m de admira��o) diante do quanto a Alemanha estava realizando no mal: "Antes de Hitler, era eu."Meio grama de hero�na

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Foi talvez o ressentimento por n�o ter podido ser em primeira pessoa o art�fice da sangrenta cat�strofe que deveria inaugurar o seu �on, ou tamb�m a tentativa extrema de obter para si aquele poder que por toda a vida tinha perseguido, o que impeliu Crowley, depois da deflagra��o da guerra, a solicitar uma audi�ncia com Churchill para propor-lhe um sistema m�gico seguro a fim de derrotar a Alemanha. Mas Churchill, habitualmente atento �s sugest�es mais dementes dos ocultistas sobre como lidar com Hitler, se n�o por outra coisa pelo menos com o objetivo

de imaginar que rea��es poderia ter o advers�rio em determinadas circunst�ncias, recusou-se a receb�-lo. Preferiu a consultoria do austr�aco Waltet Johannes Stein, autor de uma Hist�ria do mundo � luz do Santo

Graal� obra que fez Heinrich Himmler, depois de l�-la, ordenar a pris�o de Stein para induzi-lo a colaborar com o Anherbe, o secret�ssimo "escrit�rio oculto" das SS. Escapando � pris�o e refugiado na Inglaterra, Stein tornara-se consultor pessoal de Churchill sobre motiva��es psicol�gicas do F�hrer e seus dons medi�nicos, fornecendo indica��es preciosas quais seriam os seus comportamentos.Churchill obteve outras informa��es sobre a depend�ncia de Hitler por certos condicionamentos esot�ricos da primeira hora de prescritos ligados anteriormente ao nazismo, como Hermann Rauschning, que deu testemunho dos gritos noturnos do F�hrer, dos despertares repentinos, das frases extravagantes, aparentemente privadas de significado e intercaladas por "n�meros", que costumava balbuciar nos per�odos de sono-vig�lia. H� quem tenha relatado tais rea��es hist�ricas �s f�rmulas m�gicas da Aurora Dourada, da OTO e de outras associa��es nas quais a invoca��o diab�lica era uma pr�tica comumente voltada para a aquisi��o de superpoderes.De qualquer modo, por�m, Aleister Crowley foi interpelado sobre certos assuntos � ele que tanto o havia desejado e que morreu s�, desesperado

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e na indig�ncia mais extrema �, pouco depois de ter visto quanto exterm�nio tinha trazido ao mundo a guerra preconizada pelo anjo Aiwass como pr�logo da nova era de H�rus.Permanecem, como testemunho das suas �ltimas ang�stias, as anota��es por ele escritas entre uma dose e outra de hero�na: "Experimentar meio grama: bastar� a dose? Feito, 17h15. (...) Mais hero�na, estou precisando. Mas qualquer outra coisa faria o mesmo efeito. � o t�dio do AD [Anno

Domini]. (...) Uma garota ou uma partida de xadrez poderia bastar. (...) N�o tenho mais energia para come�ar uma revis�o ou uma pesquisa. (...) Sete da noite, aquela dose despertou pensamentos melanc�licos, pensamentos sobre as coisas preciosas que perdi. A minha inconsciente loucura. (...) Que idiota sou. (...) A hero�na me ajudar� a esquecer?"Com estes pensamentos no cora��o, morreu, em 1947, o "deus coroado" Aleister Crowley, em cuja doutrina se quis recentemente entrever uma antecipa��o da assim chamada Era de Aqu�rio e dos ideais pr�prios da new age. Se assim fosse, teriam raz�o todos que olham com desconfian�a para a incontrol�vel difus�o de novas espiritualidades de conota��o incerta, voltadas mais para desconjuntar do que refor�ar a predisposi��o humana pelas verdades transcendentes.As sete eternidades da BlavatskyPassou pouco menos de um s�culo do advento do �on de H�rus at� o in�cio de uma "nova eternidade" na qual muitos ep�gonos do crowleynismo quiseram ver o an�ncio de "maravilhas maiores do que aquelas testemunhadas por Dante". Mas a express�o "nova eternidade" � uma contradi��o em termos: a eternidade n�o pode ser mais que uma. Como o infinito: se somamos dois deles, temos dois mundos finitos. Assim se daria com duas eternidades: somando-as, n�o obteremos mais que duas �pocas finitas.�, por�m, significativo que de mais eternidades fale uma grande

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contempor�nea de Crowley, madame Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da Sociedade Teos�fica, algo intermedi�rio entre uma seita e uma nova escola de pensamento, na qual se formou o pr�prio Steiner.Blavatsky imaginou o tempo universal como uma entidade vivente, adormecida no seu pr�prio rega�o infinito. Nisso se deduz um conceito de extremo interesse pelos cultores da arte prof�tica, como se o tempo nada mais fosse que um destilado de eternidade (ela as conta em sete, mais exatamente) ou apenas "uma ilus�o produzida pela sucess�o de consci�ncia enquanto viajamos atrav�s da Eterna Dura��o".O tempo �, portanto, uma conven��o, ele n�o existe, nunca existiu. Entende-se que uma tal afirma��o, se aceita, explicaria cada forma de profecia como um comun�ssimo efeito dos sentidos, tendente a reportar coisas vistas ou sentidas na peregrina��o da consci�ncia por meio daquilo que, por pura comodidade, chamamos de s�culos ou mil�nios.Blavatsky fala sobre isso em uma das primeiras estrofes da sua monumental obra A doutrina secreta, sem a menor mod�stia subintitulada "s�ntese da ci�ncia, da religi�o e da filosofia", indicando tamb�m ela como o termo �on como as suas sete eternidades. Em sentido herm�tico grego, em sentido gn�stico? � totalmente irrelevante. O que conta � que, embora debatendo-se na tentativa de demonstrar que a "palavra eternidade, do modo como � entendida na teologia crist�, n�o tem nenhum significado para o ouvido asi�tico", e que na religiosidade v�dica, mais familiar para ela, a pr�pria imortalidade tem um t�rmino, aconselha ent�o a necessidade de dar �s suas sete �pocas uma avalia��o temporal comput�vel em termos convencionais. Mesmo que para isso se adotem par�metros que tornam praticamente insond�veis aos olhos da hist�ria as sete idades de que fala, fixando sua dura��o em arcos temporais que v�o al�m dos limites tradicionais do conhecimento humano.Tratar-se-ia na realidade de ondas de energia provenientes da imensid�o do universo, que Blavatsky chama tamb�m de "raios", cada um dos quais

teria alimentado um �on da civiliza��o humana. Mas todas se

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relacionariam, no seu conjunto, a uma �nica "grande idade" (em l�ngua v�dica, um Manvantara ou Mah�kalpa), correspondente a 311.040.000.000.000 anos humanos ou cem de Brahma. A cada Manvantara segue-se um outro, e assim as eternidades se acumulam entre si, produzindo a civiliza��o.Um �nico dia de Brahma, segundo esse calend�rio esot�rico, corresponde a 4.320.000.000 anos mortais, mas n�o se pode revelar aos profanos o quanto dura cada eternidade individual, pois sua dura��o s� se real�a atrav�s "dos c�lculos mais secretos", multiplicando o n�mero 7 por expoentes vari�veis segundo a coloca��o daquela eternidade no mundo subjetivo e real ou mesmo objetivo e irreal. Blavatsky garante ter apreendido mediunicamente o segredo de mestres tibetanos, colocados pelo seu saber al�m do tempo, como Djwhal Kuhl e Koot Homi, caracterizando este �ltimo por uma especial afinidade com Cristo.Sem aprofundamentos posteriores, pode-se compreender como esses c�lculos vedados � consci�ncia comum s�o capazes, de algum modo, de fornecer aos iniciados uma chave para abrir as fechaduras do tempo, ou pelo menos dar-lhes a ilus�o de poder faz�-lo. Certamente, em uma �tica que n�o � a da percep��o humana.Blavatsky tamb�m teve tenta��es demon�acas, como demonstraria a publica��o em 1887, em Londres, da revista Lucifer, por ela dirigida, na qual dava apoio �s raz�es do anjo rebelde e deca�do, considerado em certas teogonias gn�sticas como "o verdadeiro portador da luz", em contraposi��o � vontade obscurantista de uma divindade prevaricadora.Todos profetas no mundo novo de SteinerUma contribui��o inteligente � compreens�o dos mecanismos atrav�s dos quais poderia cumprir-se a atividade prof�tica, permitindo a um ser humano comum "ver" e relatar eventos colocados em uma dimens�o diferente de tempo e de lugar, vem, no in�cio do s�culo XX, de Rudolf

Steiner, figura genial de cientista animado por especial propens�o ao

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estudo dos mist�rios que fogem � raz�o. Esteve junto de Blavatsky nos primeiros anos de afirma��o do pensamento teos�fico, viveu em seguida a experi�ncia de uma sociedade inici�tica como a OTO, realizou enfim

sua plena autonomia cultural fundando a Sociedade Antropos�fica, voltada para o estudo profundo dos mist�rios ligados � criatura humana, assim como a teos�fica o era em rela��o aos de natureza transcendente e divina.Em tal contexto, que comportava um entrecho de estudos entre ci�ncias moderna e antiga, taumaturgia e medicina, biologia e espiritismo, pedagogia, religi�o, artes e tecnologia, Steiner elaborou uma teoria pr�pria sobre fatores que determinam o desenvolvimento ps�quico do homem, colocando a profecia entre as manifesta��es mais elevadas do

esp�rito e da mente, sinal certo de uma evolu��o intelectual agora avan�ada.Defende de fato em sua obra, A ci�ncia oculta, imponente s�ntese dos estudos antropos�ficos sobre a natureza real do homem em rela��o � pr�pria evolu��o e � da f�sica, da qu�mica, da agricultura. Evoluindo assim em dire��o a n�veis superiores de sensibilidade e de conhecimento, o homem seria capaz, segundo Steiner, de aprender tais leis e decodific�-las. Conhecendo-as, poderia intuir de modo variado quais teriam sido os desdobramentos seguintes do caminho humano � e do pr�prio �, at� colher deles os aspectos mais imprevis�veis e obscuros.

O dom da profecia, considerado sob esta luz, n�o teria nada de sobrenatural, mas seria a consequ�ncia natural de um progresso espiritual

e/ou intelectual de tal forma completo, que daria ao homem condi��es de "ver" al�m da cortina do tempo.Isso n�o significa que a vid�ncia, entendida em sentido steineriano, deva

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ser considerada efeito de um ass�ptico exerc�cio das fun��es mentais, pois os m�todos pratic�veis por aqueles que atingiram um adequado n�vel evolutivo s�o m�ltiplos, segundo o rumo seguido na pr�pria evolu��o, que pode ter privilegiado a intelig�ncia ou o esp�rito, ou outros componentes da personalidade, abrindo as mais variadas portas �s chaves da percep��o.Enobrecida de tal modo a arte divinat�ria, Rudolf Steiner formulou as pr�prias profecias sobre aqueles que ser�o os futuros est�gios evolutivos da humanidade. O homem, depois de ter passado atrav�s de planos de exist�ncia influenciados pelo Sol, pela Lua e por Saturno, se apressa agora rumo a uma era governada por J�piter, no decorrer da qual as capacidades perceptivas se agu�ar�o at� permitir a comunica��o com guias espirituais que bem poucos atualmente s�o capazes de sentir. O dom prof�tico se tornar� comum ent�o a todo o g�nero humano, transformando-se em uma capacidade natural, fisicamente encontr�vel em qualquer um. O que trar� tamb�m um equil�brio diferente entre nascimento e morte, unindo numa mesma corrente da vida todo o g�nero humano e as novas criaturas com as quais entrar� em contato.Pode-se entender tudo isso como vatic�nio da conquista, por parte do homem, de um estado de imortalidade? Steiner deixa entender que, se n�o exatamente de imortalidade, se tratar� de continuidade da exist�ncia no cosmo, al�m dos limites at� aqui impostos � vida terrena.Parece digno de nota um detalhe que h� algum tempo acompanha a profecia de Steiner: � que com a aproxima��o da nova era de J�piter (ou seja, agora ou em breve) ter�amos de atravessar fases preparat�rias, no

decorrer das quais a humanidade manteria contato com entidades

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ang�licas. Assim, com objetivo quase proped�utico, levando-se em conta aqueles que deveriam ser os encontros fundamentais com os guias espirituais de um futuro agora pr�ximo, os homens estariam prestes a travar conhecimento com arcanjos e querubins, serafins, coros de anjos e outras criaturas reveladas at� agora, desde as origens do mundo, apenas a uns poucos eleitos. O que provoca curiosidade nesse detalhe � primeira vista extravagante da profecia de Steiner � e que induz a n�o subavaliar a credibilidade � � o fato de que exatamente nestes �ltimos anos, depois de s�culos de desinteresse tamb�m por parte da Igreja, manifestou-se de maneira totalmente espont�nea, como estimulado por sabe se l� qual misteriosa inspira��o, um interesse de massa pelos anjos, caracterizado por uma morbidez popular que n�o tem igual em outros fen�menos an�logos.Isso � atestado pelo surgimento inesperado de uma literatura n�o-elitista, de cunho marcadamente divulgativo e comercial, na qual h� tudo que se possa desejar conhecer sobre esses esp�ritos gentis e resolutos, t�o dif�ceis de imaginar no seu dia-a-dia, nas suas rela��es com os homens, nas suas interven��es de prote��o ou de comunica��o, que pela primeira vez estariam para ser chamados para absorver em vasta escala, fora do m�stico canal dos milagres, sua fun��o de mensageiros.Um outro elemento a ser lido como um poss�vel achado atual da predi��o de Steiner � o an�ncio de que nesta fase de progresso as diferen�as raciais tenderiam a desaparecer. E � aquele que a prazo n�o necessariamente longo estaria por verificar-se em seguida � aglomera��o e � rapidez assumidas pelos grandes f�uxos migrat�rios, com milh�es de indiv�duos confluindo para as mesmas metas a partir dos cantos mais diversos (e desesperados) do

mundo. Mas talvez a profecia, enquanto deduzida da an�lise de um

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processo evolutivo do homem, deva ser lida em um sentido mais nobre, qual ausp�cio al�m da previs�o de uma supera��o dos �dios, dos preconceitos e das discrimina��es que ainda dilaceram o g�nero humano.Lado a lado com esta hip�tese de homologa��o das ra�as, segue a do advento de uma religi�o �nica, que Steiner chama de "ci�ncia religiosa", brotada de uma s�ntese das verdades profundas que em forma e medida diversas est�o presentes em qualquer credo. As tentativas de levar � consuma��o o processo ecum�nico em curso entre as igrejas crist�s � e as barganhas entre as grandes religi�es de cada latitude, com freq��ncia mancomunadas por uma mesma urg�ncia em participar das grandes manifesta��es pela paz, em Assis como em outros centros emblem�ticos da f� � tornam esta eventualidade nada mais que ut�pica.Pode-se deduzir por esses achados que a contribui��o mais original de

Steiner para uma valida��o realista da arte divinat�ria e das suas possibilidades tenha surgido da intui��o de que clarivid�ncia e arte de ver longe s�o rea��es semelhantes, destinadas a se integrar e se compensar toda vez que se manifestar no homem o "esp�rito prof�tico". Pois, para ser profeta, � necess�rio saber ver claro, mas tamb�m de longe, e n�o apenas ver, mas olhar ou � como a etimologia sugere � mirar.A arte de ver claro e longe foi �til a Steiner para formular hip�teses n�o s� sobre o futuro da humanidade, mas tamb�m sobre o seu mais remoto passado.Identificou na sobreviv�ncia da parte ps�quica e espiritual do homem o instrumento para reconstruir o que se chamava de "o passado primordial". Este procedimento tamb�m � descrito na Ci�ncia oculta, onde se l� que "se um ser entra na exist�ncia corp�rea, sua parte material desaparece depois da morte f�sica, mas as for�as espirituais que da sua

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profundeza geraram e sustentaram o corpo n�o desaparecem do mesmo modo". Tais for�as "deixam tra�os, imagens exatas, impressas no fundamento espiritual do mundo". Estes tra�os s�o percept�veis aos olhos de "qualquer um que seja capaz de elevar a pr�pria faculdade perceptiva do mundo vis�vel para o invis�vel".Steiner foi dotado de tais faculdades, sendo capaz de avan�ar com os pr�prios sentidos naquela imensa arena espiritual em que s�o conservados "todos os eventos passados da hist�ria mundial". N�o havia possibilidade de n�o crer nele quando contava tais coisas, pois "n�o descrevia, mas via verdadeiramenre os objetos e as cenas daqueles reinos desconhecidos, tornando-os t�o vis�veis aos outros a ponto de fazer-lhes aparecer os fen�menos c�smicos em a��o". Este �ltimo testemunho � de Edouard Schur�, deposit�rio, tamb�m ele, de um conhecimento profundo dos antigos mist�rios � transposto na obra Os grandes iniciados �, que encontrou Steiner em Paris ap�s ter assistido a uma confer�ncia dele em 1906.

Os brancos "cavaleiros" do Graal e os magos negros de HitlerEntende-se que os nazistas tivessem odiado Steiner pela sua f� no homem, assim como haviam admirado Crowley pelo seu anseio de destrui��o e de morte. O templo do saber antropos�fico, materialmente edificado na Su��a de Steiner e chamado de Goetheaneum em homenagem a Goethe, seu primeiro grande mestre ideal, foi incendiado em 1923. Steiner construiu um segundo e prosseguiu na sua pesquisa, suscitando um rancor cada vez mais profundo em Hitler, que dizia consider�-lo culpado pela derrota alem� na Primeira Guerra Mundial em conseq��ncia da influ�ncia que ele

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exerceu, com suas faculdades paranormais, sobre o general Helmuth von Moltke, comandante supremo do ex�rcito alem�o na fase cr�tica da invas�o da B�lgica e da Fran�a.Em realidade n�o se pode dizer que Moltke tivesse um est�vel equil�brio mental: acreditava ser a reencarna��o de um papa (Nicolau I) e de poder encontrar o Santo Graal. Foi exatamente esta paix�o pelo Graal que suscitou nele uma grande atra��o pela filosofia inici�tica de Steiner e a incrementar a amizade entre eles, mas por certo n�o foi essa a causa da derrota alem�. O pr�prio Hitler o sabia, mas se obstinava em lan�ar sobre Steiner uma acusa��o t�o louca para encobrir os verdadeiros objetos do seu �dio.Tratava-se com efeito de um desafio entre iniciados de forma��o oposta, um tendendo � realiza��o do mal na sua forma mais extrema, o outro, inclinado � salva��o da humanidade. Uma contraposi��o manifestou-se concretamente atrav�s da filia��o de Steiner a sociedades inici�ticas (como a OTO, antes da sua degenera��o) de s�mbolo humanit�rio, que o

induziram, entre outras coisas, a valorizar a mensagem evang�lica por meio de uma teoria do "Cristo c�smico".Esta sua particular conota��o inici�tica e a possess�o de faculdades paranormais haviam determinado a admiss�o de Steiner num c�rculo restrito de cultores do mito do Graal, que se contrapunha ao uso sat�nico

que do mesmo mito pretendiam fazer os c�rculos esot�ricos nazistas, em especial a seita denominada Thule Gesellschaft, da qual faziam parte Rudolf Hess e tudo da pior esp�cie entre os magos negros alem�es.Steiner e os outros "cavaleiros" do Graal haviam descoberto as tramas sat�nicas da Thule, e iam por ser mortos por sic�rios da seita, designados

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segundo rituais an�logos aos praticados nas antigas sociedades alem�s "de justi�a e de vingan�a", como a hist�rica Santa Vehme.Foi uma profecia que salvou a vida de Steiner, contra o qual a Thule havia preparado um atentado a ter lugar na esta��o de Munique, aonde ele chegaria da Su��a em abril de 1922. Veio-lhe uma premoni��o telep�tica, como habitualmente lhe acontecia. N�o quis, por�m, lev�-la em conta, pois na l�gica dos fi�is do Graal n�o se deve modificar o pr�prio destino por meio de instrumentos m�gicos, como a profecia por ele recebida. Foi ent�o para Munique, e teria sido morto � sua chegada, se adeptos de sua pr�pria fraternidade n�o tivessem ido aguard�-lo, estando por sua vez cientes do atentado por meio de um dos seus, infiltrado na Thule.Isso n�o foi magia, mas sim atividade regular de espionagem, e Steiner o

aceitou como uma solu��o natural para induzi-lo a mudar seus planos e regressar na mesma hora � Su��a.N�o voltou mais a Munique e dedicou-se com todas as suas energias � pes-quisa antropos�fica, permanecendo ainda por muitos anos entre os principais objetivos dos sic�rios nazistas, dos quais, por�m, sempre conseguiu escapar. N�o tiveram a mesma sorte muitos outros intelectuais, pesquisadores e, sobretudo, cultores de estudos esot�ricos, assassinados naquele mesmo per�odo por ordem dos tribunais ocultos da Thule. Foram 367 as v�timas confirmadas desses homic�dios, em sua maior parte considerados "pol�ticos" nos primeiros quatro anos de vida do partido nazista. Houve entre eles muitos "cavaleiros" do Graal e adeptos de cultos secretos que nada tinham a ver com pol�tica, e que ningu�m mais reconhece por aquela que era a sua efetiva identidade espiritual.Entre Cristo e SigfriedO profetismo nazista n�o era um fen�meno aut�nomo do movimento hitlerista, por este gerado, mas algo anterior, cuja origem deve ser pesquisada numa esp�cie de religiosidade �tnica muito difundida na

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Alemanha no in�cio do s�culo, inclinada a alcan�ar novos ideais dos antigos cultos b�rbaros.A humilha��o sofrida pela Alemanha ao t�rmino da Primeira Guerra Mundial havia incentivado tal tend�ncia em vez de mitig�-la. Existiam j� muitas associa��es dedicadas � exalta��o m�stica do "esp�rito nacional�, como as Comunidades Religiosas Alem�s (fundadas em 1907 pelo pintor

Fahrenkrog), a Ordem Alem� (1911) e a Comunidade de F� Alem� (1917), com fins an�logos aos da Thule e das outras seitas secretas, embora, ao contr�rio delas, atuassem �s claras. Outras surgiram depois da guerra, como a Associa��o Germ�nica dos Pa�ses N�rdicos (em Berlim, em 1924) e a Comunidade Religiosa do Norte (1928), com a inten��o de "realizar a imortalidade do homem n�rdico atrav�s de sua prog�nie", isto �, aquilo que Hitler tentaria fazer com as suas depura��es raciais. O general Erich von Ludendorff � chefe do estado-maior na fase final da guerra (1915-1918), depois aliado de Hitler no fracassado Putsch de 1923 � acabou por fim fundando uma seita, dando-lhe o nome de Sociedade do Bosque de Abetos,

com evidente refer�ncia ao papel sagrado e m�gico destas �rvores tipicamente n�rdicas no esoterismo da natureza, o que demonstrava um sect�rio desprezo por tudo que n�o fosse alem�o e um incur�vel pessimismo em rela��o � sociedade civil.Merece ser destacado, como o paradoxo grotesco de uma hist�ria sob outros aspectos tr�gica, o fato de que os fundamentos ideol�gicos dessa exasperada teoria da superioridade germ�nica tivessem sido elaborados por um franc�s, o conde Joseph Arthur de Gobineau, no seu Ensaio sobre a desigualdade das ra�as (Essai sur l�in�galit� des races humaines, 1855), baseado na certeza de que os destinos do mundo deveriam depender da sobreviv�ncia de uma �nica ra�a, ariana e "civil", sobre todas as outras.

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O objetivo declarado dos grupos que se haviam inspirado em tal doutrina em termos absolutamente religiosos era o de neutralizar em conluio com os

nazistas a hegemonia das "duas religi�es principais" na Alemanha, portanto do cristianismo cat�lico e protestante, a fim de reafirmar "a espiritualidade n�rdica dos padres". Para que isso pudesse acontecer era necess�rio escolher "homens e mulheres de pura ra�a alem�" de cada v�nculo com a Igreja romana, e � claro que a quest�o n�o era apenas religiosa, pois o conceito de "pura ra�a alem�" implicava a elimina��o das outras.

Necessidade da qual teve tr�gica experi�ncia, primeiro e mais do que qualquer outra ra�a, o povo hebraico, cujo holocausto teria sido seguido pelo dos cat�licos, se a Alemanha n�o tivesse sido novamente derrotada.A perspectiva da conquista do mundo, que pareceu aos alem�es n�o muito remota depois da ascens�o de Hitler ao poder, tornava vi�vel a id�ia de que essa religiosidade folcl�rica pudesse triunfar, permitindo aos seus adeptos impor "a pot�ncia divina da alma n�rdica sobre a terra e em tudo".Tratava-se de "escolher entre Cristo e Sigfried". Uma alternativa que poste-riormente demonstra o qu�o historicamente motivadas foram as conjecturas daqueles que quiseram reconhecer em Hitler o Anticristo (embora por demais manifesto, por demais visivelmente mau, ao passo que o Anticristo � uma figura que sabe ocultar sua verdadeira identidade) e um

projeto sat�nico nos seus planos de conquista mundial,Ao Reich que lhes abria os bra�os, dissolvendo at� mesmo numerosas seitas, os novos profetas impuseram condi��es que n�o deixavam margem a d�vidas sobre os seus objetivos: "N�s n�o aderimos ao Terceiro Reich junto com as outras religi�es, mas no lugar das duas f�s principais e de

qualquer outro culto como a �nica e verdadeira for�a religiosa alem�."

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A profecia da qual eram portadores previa um processo de evolu��o c�smica ao fim da qual sobre a terra seria constitu�do um �nico reino, regido por uma �nica estirpe, no qual encontrariam lugar e merecida gl�ria apenas os seguidores da religi�o aclamada, isto �, a de Sigfried. Com a

condi��o de que sempre observassem as virtudes essenciais da honra e da fidelidade, tivessem discernimento no que se refere � Natureza, e, portanto, orgulho das pr�prias ra�zes e zelo pela sua integridade.Como profecia, se comparada aos grandes mitos escatol�gicos do aut�ntico paganismo germ�nico, n�o era grande coisa. N�o apenas ignorava tudo aquilo que o imagin�rio alem�o havia produzido de realmente grandioso no passado sobre os destinos do mundo, como tamb�m tirava da magnific�ncia tr�gica do "crep�sculo dos deuses" uma imagem de tranq�ilizante bem-estar, longe de qualquer epop�ia guerreira.Mas era isso que servia ao Reich, mesmo com o risco de diluir a crueldade ideol�gica do nazismo em uma esp�cie de rom�ntica divaga��o sobre tem�ticas inutilmente fabulescas. Hitler havia intu�do isso e, para evitar que pudesse acontecer, manteve a r�deas curtas Ludendorff e outros que,

como ele, eram por demais male�veis �s sugest�es do folclore. Muitas sociedades foram banidas, inclusive a "do bosque de abetos". Mas foi por fim aprovada por lei, em 1936, a defini��o de "fiel" ou "crente" em sentido nacionalista, com base num formul�rio no qual se l�, entre outras coisas:Nossa igreja � a P�tria alem�.Nossa comunidade � o Povo alem�o.Nossa B�blia � a alma alem�. Nossos sacerdotes s�o todos os alem�esconscientes da id�ia de ra�a.Nosso credo � sangue e terra, liberdade e honra.Nosso s�mbolo � a antiga su�stica pag�.Nosso futuro se chama Alemanha.

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Podia-se ver que futuro era esse. E em que for�as se basearia de fato a religi�o de Sigfried.A aspira��o de poder "libertar a P�rsia e o Iraque", ber�os ancestrais da estirpe ariana, permanece at� o fim entre as esperan�as mais alucinantes do F�hrer. � quando os seus ex�rcitos desfecharam no C�ucaso a malsucedida ofensiva de 1942, que com o seu fracasso precipitaria para a Alemanha o in�cio do fim, uma unidade de alpinistas das SS escalou o pico do Elbruz, monte sagrado dos crentes no mito ariano, para fincar l� em cima a bandeira com a su�stica. O ritual in�til � que provocou em Hitler uma rea��o inexplicavelmente raivosa, como se tivesse lido um press�gio do que em breve aconteceria � foi precedido por uma cerim�nia "religiosa" oculta, no decorrer da qual a bandeira a ser fincada no monte, foi benzida segundo a liturgia luciferiana da Ordem Negra.Vale lembrar que o teto do C�ucaso, como era chamado o Elbruz com os

seus 5.641 m de altitude, � para a mitologia cl�ssica a rocha � qual foi amarrado Prometeu, por ter se rebelado contra os deuses, portanto sagrada para os adoradores do anjo rebelde por excel�ncia, reunidos � �poca na seita chamada "dos amigos de L�cifer".Evidencia-se at� que ponto ficaram gravadas na personalidade de Hitler in-flu�ncias demon�acas daquilo que lhe disse pouco antes de morrer um dos sete fundadores da Thule, o satanista Dietrich Eckart, veterano do ex�rcito e mago negro, desiludido talvez por n�o ter sido ele a assumir pessoalmente os destinos da grande partida que estava para ser jogada: "Sigam Hitler. Ele

dan�ar�, mas fui eu que escolhi a m�sica. Eu o iniciei nas artes secretas, abri sua vista emba�ada e lhe dei o meio para se comunicar com as pot�ncias supremas. N�o tenham pena de mim. Influenciei a hist�ria

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mais do que qualquer outro alem�o."Hitler, por sua vez, assim falou sobre ele, ap�s t�-lo visto em a��o: "� um homem que me orgulho em admirar. Conhece o verdadeiro significado do �dio e sabe demonstr�-lo." 29 Profecias Negras Principalmente no in�cio e por volta dos meados do s�culo XX surgiram profetas aut�nticos ou pretensos, magos e curandeiros, que tentaram exercer certa influ�ncia na hist�ria para satisfazer uma urg�ncia selvagem de poder pessoal; e que para consegui-lo se puseram a servi�o de d�spotas terrenos (como o russo Rasputin e o alem�o Hanussen) ou do pr�prio Anticristo, com o qual chegaram a identificar-se (como se viu no caso do ingl�s Crowley) at� o ponto de enlouquecer. Foram grandes portadores de infort�nios para si mesmos e para os outros, mas dotados de cordas inici�ticas incomuns, entre as quais teve uma proemin�ncia tr�gica a intui��o prof�tica. Pois a aut�ntica capacidade de adivinhar o futuro n�o � um dom exclusivo dos santos e daqueles que por uma efetiva propens�o para o bem s�o merecedores disso, mas de qualquer um que consiga se apropriar deles nos modos mais discut�veis, independentemente da bondade de seus objetivos. Podem, portanto, ser boas pessoas, mas p�ssimos profetas, ou mesmo esc�ria, por�m dotadas de extraordin�rias qualidades divinat�rias. Por sorte nem sempre � assim, mas acontece.A hist�ria nos mostrou charlat�es de bom cora��o, animados pelas melhores inten��es, mas totalmente incapazes pela pr�pria mediocridade natural de levar a cabo uma �nica boa a��o, e bruxos sem escr�pulos, motivados pelo ego�smo mais s�rdido, capazes de consumar assombrosos prod�gios no pr�prio interesse. O monge siberiano Grigorij Efimovic

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Rasputin, como muitos videntes que acreditaram poder crescer na considera��o do mundo com o favor dos poderosos, inclui-se entre os exemplos mais evidentes desta �ltima esp�cie. Realizou curas miraculosas e legou-nos detalhadas profecias, que se abateram como uma maldi��o

sobre quantos lhe sobreviveram.Causou uma desgra�a irrevers�vel para quem lhe deu cr�dito e foi o

primeiro a ser envolvido. E ainda dif�cil avaliar qual foi o seu peso real na ru�na da fam�lia imperial russa, exterminada pelos bolcheviques em Ekaterinburg em 16 de julho de 1918. Naquela data Rasputin j� estava morto havia dois anos, assassinado por eminentes personalidades da corte numa tentativa j� tardia de libertar o czar Nicolau II, e, sobretudo, a czarina Alexandra, da sua nefasta influ�ncia.

A Trag�dia dos RomanovEm diversas ocasi�es os aristocratas haviam tentado afastar Rasputin da dire��o de S�o Petersburgo, mas a ascend�ncia adquirida sobre a czarina com as misteriosas curas praticadas no seu filho Alexis, hemof�lico, era tal que o tornava praticamente irremov�vel. Mas no in�cio de 1916 esse louco vidente, dotado de uma sensibilidade demon�aca e de um inexplic�vel

poder taumat�rgico, deu-se conta de que o seu tempo estava para findar. Teve premoni��o do que se tramava contra ele e que o jogo era mortal,

pois n�o se tratava mais de simplesmente afast�-lo da corte, mas de eliminar de uma vez por toda sua inc�moda presen�a. Escreveu ent�o ao czar, em 18 de abril, uma carta contendo uma sinistra profecia, que n�o se tratava apenas de uma prova da sua instintiva vid�ncia, mas do uso chantagista que costumava empregar, exercendo um obscuro poder sobre todos � sua volta.Rasputin informava ao soberano j� ter certeza de que morreria "antes do ano-novo", colocando-o subdolosamentc diante de uma dupla possibilidade: "Se eu for morto por assassinos comuns, e em especial pelos

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meus irm�os camponeses, n�o temas por teus filhos, czar de todas as R�ssias, porque reinar�o mais cem anos. Mas se eu for morto pelos nobres [...] eles dever�o deixar a R�ssia e ningu�m da tua fam�lia se salvar�" Em breve intimava o czar a salvar-lhe a vida, sob pena de um fim traum�tico

da sua dinastia,N�o obteve desta vez a prote��o necess�ria e a profecia se cumpriu na sua totalidade: no que se referia a ele pr�prio, foi morto "antes do ano-novo",

em 16 de dezembro, pelo gr�o-duque Dimitri Pavlovic e pelo pr�ncipe

Felix Yussupov; quanto aos nobres, foram obrigados pela revolu��o a deixar a R�ssia; no que se referia aos Romanov, foram massacrados por completo (incluindo a criadagem) pelo soviete de Ekaterinburg, nos Urais.Uma profecia igualmente sinistra, de fortes princ�pios intimidativos, havia assinalado o momento de maior ascend�ncia de Rasputin, alguns anos antes, sobre o casal imperial. Era janeiro de 1912. A presen�a deste santarr�o intrigante na corte se prolongava por cinco anos, com efeitos delet�rios sobre a imagem de Nicolau II al�m de sobre suas escolhas pol�ticas, que de alguma maneira conseguia condicionar a ele. Altos oficiais e dignit�rios pressionaram o czar para que se livrasse dele. Pontual, chegou tamb�m desta vez uma profecia do monge, que se afastando por iniciativa pr�pria lan�ou um ultimato nem um pouco velado: "Esperarei dia e noite que o czar me chame para seu lado. Se n�o o fizer, perder� dentro de oito meses seu filho e pouco mais adiante o trono."Era mais uma maldi��o do que um vatic�nio, e surtiu incrivelmente efeito. Em 20 de setembro, dentro dos oito meses, o pequeno Alexis sofreu um ferimento superficial no joelho, pouco mais que um arranh�o, mas era o quanto bastava, dada a sua hemofilia, para p�r em risco sua vida.O herdeiro do trono, que tinha oito anos � �poca, foi acometido de febres fort�ssimas enquanto a perna inchava de modo apavorante. Foi diagnosticado "um grave envenenamento do sangue", diante do que os m�dicos foram obrigados a reconhecer sua pr�pria impot�ncia. O pro

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fessor Fedorov, luminar russo de fama internacional, ratificou aquela que era para

todos os efeitos uma senten�a de morte: "A medicina nada pode fazer." Tal como as preces do povo russo, exortadas em massa pelos popes nas igrejas de sua imensa p�tria.O filho do czar agonizava. O corpo todo l�vido e o estado incipiente de coma n�o davam esperan�as.Foi a esta altura que a czarina imp�s sua decis�o, que para o czar era uma esp�cie de capitula��o aos desejos do monge: "Mande cham�-lo.�Rasputin foi localizado na Sib�ria, na sua aldeia natal de Pokrovskoe, de onde saiu para depois difundir por todas as R�ssias a sua fama de taumaturgo, capaz de realizar as curas mais miraculosas. E com efeito se dizia que havia redimido doen�as incur�veis, curado gente desenganada j� a um passo da morte, recuperado a vis�o de cegos e estancado hemorragias mortais, em uma quase imita��o dos milagres evang�licos.Os guardas enviados para busc�-lo comunicaram-lhe em que estado se encontrava o pequeno Alexis e o intimaram a seguir com eles para S�o Petersburgo. Respondeu que n�o era necess�rio e se retirou para um quarto, onde entrou em uma esp�cie de transe. Passou horas em contempla��o, como colhido por um �xtase que, dado o personagem, seria dif�cil considerar de inspira��o divina. � noite, voltando a si, escreveu para a czarina uma seca mensagem, dizendo-lhe que n�o devia mais temer pela vida do filho: "Deus contou tuas l�grimas, ouviu minhas preces. Teu filho se salvar�. Mas que os m�dicos o deixem em paz."Em S�o Petersburgo o herdeiro do trono sa�a do coma.Observando o corpinho n�o mais l�vido e a febre em n�tida diminui��o, Fedorov teve que admitir pela segunda vez a sua pr�pria impot�ncia: "� uma melhora totalmente inexplic�vel, totalmente estranha �s pesquisas da ci�ncia."

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Como n�o fora capaz de curar a enfermidade, o grande m�dico n�o estava em condi��es de explicar a cura. A feiti�aria do monge siberiano havia vencido. Rasputin foi chamado de novo � corte, recebido como um santo,

recoberto de novos e antigos privil�gios.Permanece um mist�rio qual tenha sido na realidade a fonte da magia exercida pelo monge, cujos poderes n�o derivavam certamente da ascese.N�o obstante a ostenta��o de certos arrebatamentos ext�ticos, de fato, n�o houve nada de efetivamente "santo" na sua vida, sobre cuja extrema dissolu��o concordam todos os testemunhos hist�ricos. Foi homem de uma sensualidade descontrolada, brutal, dedicado a todos os excessos. Foi imoderado na bebida e glut�o � mesa, capaz de consumir, sem conseq��ncias para sua lucidez, incr�veis quantidades de vodca e comida condimentada. Reuniu mulheres de todos os tipos em banquetes e orgias de

onde sa�ram comprometidas, para dizer o m�nimo, damas da corte muito pr�ximas � czarina.Na noite em que foi morto ingeriu uma grande quantidade de doces e licores envenenados, que n�o tiveram nenhum efeito sobre ele, obrigando os conjurados a alterar seus planos. Morreu lutando fisicamente contra seus

assassinos e quase estrangulando um deles, mesmo tendo sido alvejado por muitos tiros de rev�lver, confirmando tamb�m nesta �ltima prova a exist�ncia nele de uma for�a que n�o era humana, n�o era natural, nem tampouco sobrenatural no sentido m�stico subentendido habitualmente pelo termo. Seu segredo permanece, portanto, entre os mais impenetr�veis e dignos de aprofundamento entre os muitos dos quais se disseminou a hist�ria do esoterismo e da grande arte prof�tica em especial.O or�culo de RasputinDestaca-se no per�odo de maior prest�gio de Rasputin na corte, logo depois da cura de Alexis, sua profecia sobre o futuro da R�ssia e sobre grandes

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mudan�as que marcariam a hist�ria. Nela se fala do advento de "um czar que n�o ser� mais czar, por�m ter� mais poder que o czar". N�o � dif�cil reconhecer a� o perfil de uma lideran�a totalit�ria, detentora de um poder absoluto e incontrol�vel, em duas palavras, o rosto do socialismo real.O or�culo anuncia que "quinze luas depois da morte a Santa [ou seja, a R�ssia] ser� tirada dos altares e um coro de setecenros dem�nios cantar� uma nova m�sica em um p�ntano de sangue. [...] A cruz ser� posta de lado, os martelos bater�o sobre os altares, as igrejas arder�o em chamas".A morte com a qual se abre a vis�o � aquela do pr�prio profeta, sem a qual n�o ocorreria aquele tr�gico desenrolar dos eventos que agora se prepara para narrar. � Rasputin quem conta os anos a partir do pr�prio sacrif�cio, como conv�m ao negro messias do qual representa o papel.H� tr�s datas certas naquilo que diz, verific�veis a partir do in�cio da revolu��o: os quinze meses passados entre sua morte (16 de dezembro de 1916) e a transfer�ncia da capital para Moscou (14 de mar�o de 1918), que sancionou de fato a mudan�a; o triunfo do ate�smo, que retira a R�ssia dos altares; os setecentos membros da assembl�ia constituinte (707, mais exatamente) com a sua "nova m�sica". Expl�citas s�o as refer�ncias aos massacres (os p�ntanos de sangue), aos novos s�mbolos do poder sovi�tico (o martelo sobre os altares), �s persegui��es religiosas (a cruz ultrajada e as igrejas em chamas).O texto prof�tico continua com o ritmo e a pontualidade de uma saga romanesca, cujas fases s�o detalhadamente ilustradas por s�mbolos de f�cil interpreta��o: desde o in�cio desencadeia-se "uma furiosa rixa em fam�lia". Os protagonistas s�o uma serpente e um abutre. O r�ptil est� em fuga

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, pois se fala de "ca�a � serpente". O abutre, para liquid�-lo, "afia a espada em uma nuvem". Reunido assim o �pice do seu poder, "investir� contra os seus vermes" at� ser por sua vez liquidado ap�s a passagem de "uma nova serpente".N�o � preciso uma agudeza especial para ler os acontecimentos, identificando-se o abutre em Stalin e a serpente no seu grande inimigoTrotski, refugiado no M�xico e l� alcan�ado por "uma nuvem", ou seja, por um sic�rio sem uma pr�pria identidade hist�rica, uma figura de baixo perfil, ao qual foi dado o encargo de elimin�-lo (a "espada"). N�o se deve excluir, em uma l�gica vision�ria, que a escolha dos dois animais

simb�licos possa ter sido inspirada pela premoni��o do lugar onde se daria o ajuste de contas, pois o bras�o do M�xico representa exatamente uma �guia que aperta nas garras uma serpente.Claro que � uma refer�ncia aos expurgos stalinistas, nos quais viram-se envolvidos os pr�prios colaboradores do d�spota; o abutre investe contra seus vermes, � dito na profecia. A "nova serpente" � sem d�vida Krushev, pronto a mudar de pele com a morte de Stalin, passando clamorosamente "de cora��o a cora��o", isto �, da idolatria incondicional do ditador � sua execra��o.Segue-se uma calma apenas aparente: "A �gua corre tranq�ila no leito do grande rio, mas debaixo dele se agitam centelhas de fogo e brilhos de morte." E a certo ponto sobrevir� a crise: "Abrir-se-�o as portas do est�bulo quando estiver repleto de bois, e ent�o adeus... adeus, Santa, adeus Santa

das Santas." Foi o que aconteceu com a abertura das fronteiras, a queda do muro e a di�spora do imp�rio sovi�tico: havia tantos bois no seu est�bulo,

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mas bastou abrir as portas "e adeus, Santa das Santas". � interessante que

esta �ltima express�o, que n�o alude simplesmente � R�ssia (a Santa), mas ao conjunto de Estados sob ela federados (Santa das Santas).O que aconteceu �no tempo do sol�: significa durante o pontificado de

Jo�o Paulo II, indicado nas profecias de Malaquias com o lema De labore solis, ou �trabalho do sol". O achado hist�rico pareceria de resto imprevisto: quem �, se n�o Wojtyla, o papa que, "depois de tanta desola��o e tanta desordem", rep�s "a cruz da Santa sobre os altares"?A queda do imp�rio seguir-se-� a escassez: "n�o crescer� um talo de relva �s margens do Volga", e a R�ssia ter� necessidade de ajuda. Tamb�m isto aconteceu. Nos �ltimos anos viu-se "a Santa maldita" correr afanosamente "do grande mar � l�ngua de mar", isto �, do Atl�ntico ao Mediterr�neo, pedindo socorro aos Estados Unidos e � Europa."Sinos de paz" foram ouvidos quando veio � Roma "o homem marcado na fronte" (Gorbachev), mas se tratou de apar�ncia: "em breve se aperceberam de que quem puxa as cordas [dos sinos] � a morte". Seguem-se novos jogos de poder amb�guos, representados por Rasputin com a imagem de um rato que foge do gato para depois devor�-lo. O rato � Yeltsin? Gorbachev � o gato? Como quer que seja, "prepara-se um logro sutil para o mundo inteiro", segundo o or�culo de Rasputin, e novas desgra�as para a R�ssia, de tal forma espantosas que "n�o sobrar� terra para sepultar os mortos".O nazista que "viu" um inc�ndio premeditadoFoi v�tima da pr�pria profecia � como muitos outros dos astr�logos e sensitivos que buscaram fortuna sob a asa do nazismo � o austr�aco Erik

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Hanussen, um dos videntes mais populares do per�odo que vai do fim da

Primeira Guerra Mundial � d�cada de 1930, consultado v�rias vezes pelo pr�prio Hitler.Sua hist�ria � em muitos aspectos obscura e deixa indaga��es em aberto sobre a efetiva natureza da rela��o que teve com os nazistas, a cujos servi�os secretos foi de algum modo ligado. Figurou decerto entre os ocultistas que suscitaram o interesse das hierarquias hitleristas, particularmente atra�das e influenci�veis, como o pr�prio F�hrer, por or�culos e charadas m�gicas. E n�o resta d�vida de que procurou extrair vantagem desse interesse por ele, satisfazendo a irracional necessidade dos pr�ceres nazistas � e do pr�prio Hitler � de conhecer o futuro.Viu-se, por outro lado � e est� historicamente comprovado �, como foi m�rbido o envolvimento dos c�rculos esot�ricos alem�es nos acontecimentos que deram origem ao partido nazista, entre cujas ascend�ncias ideol�gicas inclui-se procurar ritos e mitos de um paganismo her�ico, super-humano, papel representado por congrega��es dedicadas ao homic�dio e ao sacril�gio � principalmente a Thule, campo ideol�gico para Rudolf Hess e outros hierarcas de primeira hora �, na elabora��o daquele conjunto de doutrinas pairando entre del�rio de onipot�ncia e sugest�es demon�acas das quais extra�ram linfa e os mais degenerados fantasmas do imagin�rio nazista.A popularidade de Hanussen se estendia bem al�m da aten��o demonstrada no que se refere �s personalidades do regime ent�o nascente. Apresentava-se em p�blico nos maiores teatros alem�es, atraindo milhares de espectadores por suas profecias, das quais dava espet�culo entrando em transe em pleno palco.Havia traduzido em best-seller as coisas "vistas" durante suas fugas de consci�ncia, publicando um livro de cunho prof�tico, intitulado O fim de

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Nova York, onde contava a evolu��o e a decad�ncia da metr�pole americana em um futuro pr�ximo, com profus�o de detalhes cient�ficos � moda de J�lio Verne. Muitos desses detalhes, sobretudo no que concerne ao abuso de novas tecnologias na vida cotidiana, revelam-se hoje consumados.Estava, portanto, no �pice de um sucesso destinado a crescer quando decidiu, em 1933, inaugurar em Berlim um templo esot�rico pessoal, que

queria chamar de Pal�cio do Oculto. Estava � �poca com 44 anos, tendo nascido em 1889, e possu�a uma extraordin�ria veia criativa, na qual conviviam ambi��es de charlat�o e aut�nticos dons prof�ticos.Para agitar a inaugura��o, pensou em surpreender seu grande p�blico � composto tamb�m por personalidades do partido e intelectuais do regime

�, com uma profecia clamorosa, capaz de ressoar na imprensa no dia seguinte.Cat�strofes e inc�ndios sempre foram argumentos de grande apelo popular, adequados entre outras coisas a satisfazer a vaidade daqueles adivinhos que

acreditam poder se igualar aos grandes videntes apocal�pticos. Apresentou, portanto, uma profecia deste tipo, anunciando durante o seu transe, aut�ntico ou simulado que fosse, um inc�ndio de dimens�es �picas para uma data muito breve. Chamou-a de "o inc�ndio de uma grande casa", deixando para a fantasia dos espectadores a interpreta��o do que poderia significar.Era a noite de 26 de fevereiro. No dia seguinte os nazistas incendiaram o Reichstag, sede hist�rica do Parlamento alem�o, para jogar utilmente a

culpa nos comunistas. O efeito da jogada foi para Hanussen, em termos publicit�rios, de um benef�cio extraordin�rio, por�m letal.Podia ser interpretado como espantosa confirma��o dos seus dons prof�ticos, e assim foi para muitos, mas tamb�m como o fruto de uma indiscri��o sussurrada nos ambientes nazistas que costumava freq�entar.

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Nos dois casos, mostrava a periculosidade de Hanussen, que, se inspirado por uma autentica vid�ncia, podia deixar escapar nos seus estados de transe revela��es incontroladas; se impelido por inten��es fraudulentas, podia tentar outros truques desfrutando dos segredos dos quais tinha conhecimento por sua familiaridade com os mais diversos expoentes da classe dirigente.O fato � que, pouco mais de um m�s depois, em 7 de abril de 1933, Hanussen foi seq�estrado por desconhecidos e morto, junto com sua amante Adrianna Bierdzynska, tamb�m ela uma sibila t�pica do grande circo que era o alem�o.O motivo mais plaus�vel do homic�dio, levado a cabo no estilo da pol�cia secreta, por executores jamais identificados, pareceria ser devido � profecia sobre o inc�ndio da "grande casa", divulgada de modo t�o inoportuno �s v�speras do evento. E a solu��o mais simples, negociada. Mas � igualmente plaus�vel que outras profecias mais reservadas, confiadas pessoalmente a

Hitler, pudessem ter irritado ou assustado o ditador, induzindo-o a ordenar a elimina��o do vidente. Se tais previs�es tivessem a ver, por exemplo, com o futuro da Alemanha, pelo modo como correram efetivamente as coisas, n�o seria de espantar uma dura senten�a de morte, motivada em primeiro lugar pela inten��o de evitar sua divulga��o. N�o se deve excluir, por outro lado, que, pela sua colabora��o com os servi�os secretos, Hanussen pudesse ter vindo a conhecer fatos que deveria ignorar.Foram suprimidos no mesmo per�odo outros expoentes do c�rculo esot�rico nazista, como Karl Gunther Heimsoth, astr�logo de Rohm, e o ex-padre Bernard Stempfle, proveniente como Hess do "circuito" da Thule. Diversos

elementos, portanto, permitem pensar que muitos ocultistas poderiam estar envolvidos nos ajustes de contas em andamento entre diferentes fac��es do nazismo na escalada rumo � conquista definitiva do Estado.

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N�o se deve enfim menosprezar um detalhe de modo algum secund�rio: Erik Hanussen era judeu, e sua familiaridade com os mais eminentes entre aqueles que se tornariam os perseguidores do seu povo � e que j� se instru�am em perversas doutrinas sobre ra�a � se apressava agora para tornar-se mais que contradit�ria, inadmiss�vel. Ainda mais que Hitler, al�m de consult�-lo, pedira-lhe por um certo per�odo autenticas "li��es" de astrologia, estabelecendo com ele uma intimidade dificilmente compat�vel com a imagem de si mesmo que havia imposto � Alemanha.

O Mago de StalinTeve um destino an�logo ao de Hanussen, ainda que tenha sido muito menos popular em vida � tendo por isso de atuar na mais absoluta clandestinidade, em um estado de semideten��o �, o ocultista russo Aleksandr Barcenko, a servi�o de Stalin nos anos negros da NEP, a "nova pol�tica econ�mica" (Novaja Ekonomiceskaja Politika) inaugurada por Lenin e levada adiante por seu sucessor at� o fim dos anos 1920. Foram tamb�m os anos da ascens�o e da consolida��o de Stalin no poder, depois da elei��o para secret�rio-geral do partido, em 1922, e da morte de Lenin, em 1924. Foram, sobretudo, os anos da insurg�ncia e do agravamento do

conflito com Trotski e outros poderosos inimigos, como Kamenev e Zinoviev, contr�rios a uma pol�tica caracterizada por um parcial retorno aos m�todos capitalistas, at� mesmo por motivos de sobreviv�ncia do Estado socialista.Nesta situa��o de tens�o persistente, envenenada pela diverg�ncia agora irrevers�vel com um l�der destinado, como Trotski, a constituir uma refer�ncia para o comunismo internacional, Stalin recorreu a qualquer instrumento de luta poss�vel, estabelecendo as premissas para aqueles que seriam os grandes expurgos dos anos 1930. Neste contexto se insere a

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presen�a entre seus colaboradores de Aleksandr Barcenko, um esoterista de Petrogrado com uma particular predisposi��o para o hipnotismo e para a leitura do pensamento, destinado a desaparecer no giro de poucos anos sem

deixar vest�gios sen�o nos arquivos da pol�cia secreta, aos quais os

jornalistas tiveram acesso ap�s o colapso da Uni�o Sovi�tica.� s� a esta altura que se soube como tamb�m Stalin, tal como Hitler, teve por um certo tempo o seu vidente pessoal; e n�o se deve excluir que possa ter tido outros, pois em geral o recurso �s pr�ticas m�gicas � e em especial a divinat�ria, mesmo limitado a breves per�odos � cria estados de depend�ncia dos quais � dif�cil se libertar. Sobretudo em n�veis de poder que comportam uma �nsia cont�nua de conhecer, de prever, de prevenir aquilo que matura nas mentes alheias.N�o por acaso, uma constante na literatura sobre grandes ditadores e sobre sua rela��o com o universo m�gico reside na sua ambi��o de poder ler o pensamento de todos � sua volta.E foi exatamente com este fim que Stalin se serviu de Barcenko, no quadro de um programa de pesquisa paranormal, evidentemente secreto. N�o se sabe muita coisa, mas parece que puseram � disposi��o de Barcenko um aparelhado laborat�rio nos por�es da Lubianka, hist�rica sede dos servi�os secretos de Moscou. Ali se desenvolveriam experimentos complexos com cobaias humanas, tendentes � pesquisa de um m�todo de transmiss�o (e de leitura, presumivelmente) do pensamento.A not�cia, por si mesma pobre, tem sua import�ncia para o universo que lhe serve de fundo, demonstrando que for�a de penetra��o poderia ter conservado vid�ncia e pr�ticas m�gicas no imagin�rio pol�tico de homens no v�rtice de um regime que havia banido transcend�ncia e religi�o ï

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¿½ e a pr�pria psican�lise �, como express�es das supersti��es mais deterioradas.Entende-se que pelo seu envolvimento neste paradoxo Barcenko n�o podia sen�o ser suprimido, no m�nimo em virtude de ter conhecimento da submiss�o de Stalin a uma ilus�o para ele inadmiss�vel.A vidente que reconheceu os "dem�nios" do poderNem todos aqueles que buscaram um contato com os ditadores para fornecer indica��es sobre a sorte que os aguardava foram movidos por

avidez ou poder. Motivos bem mais nobres de humanidade e altru�smo inspiraram uma m�stica vision�ria chamada Elena Ajello, conhecida pelos seus �xtases sangrentos, culminados em 1922 com o aparecimento de chagas sobre as quais se realizaram acurados estudos m�dicos, a ponto de induzir a Igreja a empreender depois de sua morte, ocorrida em 1966, um processo de beatifica��o.Mulher dedicada exclusivamente � sua voca��o religiosa � e aos encargos derivados de sua posi��o de fundadora de uma comunidade mon�stica feminina e de mais de vinte abrigos para menores abandonados �, Elena Ajello foi acometida nos anos 1930 pela urg�ncia de comunicar a Mussolim as desgra�as que o esperavam caso se aliasse � Alemanha.Como muitas outras videntes de inspira��o crist�, extra�a mensagens das pr�prias vis�es, reportando o que vez por outra, dizia ela, lhe era comunicado por Jesus, pela Madona ou por diversas entidades celestiais. Era ajudada no recebimento de tais "avisos divinos" � n�o raro sobre temas totalmente estranhos aos seus conhecimentos, como, por exemplo, a pol�tica externa do fascismo � por suas irm�s em correntes de prece. Mas � tamb�m poss�vel que seus dons de sensitiva a pusessem em condi��o de perceber a forte conota��o sat�nica do nazismo, apesar de nada saber da sua matriz ideol�gica e dos projetos de morte cru�is que dele surgiriam.N�o foi ouvida, e o resto da hist�ria � mais do que sabido. Perseverou

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depois da guerra na inten��o de induzir aqueles que detinham os destinos dos povos a desistir dos seus planos de hegemonia. Eram os anos da guerra fria, e as consci�ncias tentavam se recuperar do trauma do conflito rec�m-terminado, receando a todo momento que eclodisse outro ainda pior.Novos erros foram difundidos no mundo por "uma propaganda �mpia", voltada a "suscitar em toda parte persegui��es, ru�na e morte". Isso trazia grande ang�stia para a Virgem, que assim avisava aos homens pela boca de Elena em abertura daquilo que n�o parecia um dec�nio de esperan�a (7 de janeiro de 1950): "Se os homens n�o pararem de ofender meu filho, n�o estar� longe o tempo em que a justi�a do Pai mandar� sobre a terra o devido flagelo, e ser� o pior castigo j� visto na hist�ria da humanidade."No tom e no estilo, o aviso repropunha aquilo que j� se ouvira em F�tima e no decorrer de outros c�lebres encontros marianos do s�culo XX: o oferecimento de um novo pacto de convers�o, que servisse para conter a ira divina. Foi repetido muitas vezes por Elena Ajello nos anos seguintes, com a cad�ncia regular (e de certo modo obsessiva) dos pregadores medievais:

"O flagelo est� pr�ximo: um fogo jamais visto descer� sobre a terra e grande parte da humanidade ser� destru�da. Ser�o horas de desespero para os �mpios." (1952)"A ira de Deus est� pr�xima: o mundo ser� atormentado por grande

calamidade, revolu��es sangrentas, fortes terremotos, escassez, epidemias e espantosos furac�es. Tudo ser� convulsionado por uma nova e terr�vel guerra." (1955)"O mundo se tornou como um vale de aluvi�o abarrotado de detritos e lama. Ter� ainda que suportar as mais duras provas da justi�a divina antes

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que a chama infernal arda sobre toda a humanidade. Grandes calamidades trar�o confus�o, l�grimas e dores para todos." (1959)A guerra est� sempre, de qualquer modo, no centro de qualquer mensagem, descrita com uma fartura de detalhes que em termos puramente dial�ticos

enfatizam a credibilidade da revela��o. Sabe-se enfim quanto durar�: setenta horas, no decorrer das quais "se ver� o poder da luz sobre o poder

das trevas".Tamb�m nestas mensagens dos �ltimos tempos da sua vida, como aqueles sobre Hitler e Mussolini de vinte anos antes, a vidente investe com terr�veis julgamentos contra os l�deres pol�ticos no poder: "Aqueles que governam se tornaram verdadeiros dem�nios encarnados, e enquanto falam de paz preparam as armas mais mort�feras para destruir povos e na��es."A Igreja, como representante do poder do povo de Deus, � a primeira advers�ria desses novos criminosos, sustentados e inspirados, como Hitler no seu tempo, pelas for�as do mal: "Os ditadores da terra, verdadeiros monstros infernais, derrubar�o por terra as igrejas com os sagrados cib�rios e destruir�o povos e na��es, e as coisas mais caras." N�o s�o exce��o os pol�ticos �que se dizem crist�os". A inf�mia est� impl�cita nessa mesma condi��o de governante, independentemente da f� praticada, pois pela pr�pria natureza "aqueles que governam n�o compreendem, n�o possuem o verdadeiro esp�rito crist�o". Em uma palavra, o que falta � a capacidade de "ver" a verdade. E "tamb�m na It�lia s�o como lobos rapaces vestidos em pele de cordeiro, porque enquanto se dizem crist�os abrem as portas do materialismo, fazendo espalhar-se a desonestidade dos costumes".Da� derivar� "um verdadeiro e grande duelo entre mim e Satan�s", confidencia a entidade a Elena em uma das �ltimas apari��es, "e todos

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gritar�o que � o fim do mundo". Mas tamb�m esta eventualidade pode ser conjurada "se os homens retornarem a Deus com uma vida verdadeiramente crist�". O sentido da mensagem � duplo: por um lado, renova a proposta do pacto, por outro, deixa entender que o Anticristo pode

ser tamb�m derrotado sem traumas nem flagelos, atrav�s da pr�tica de "uma vida verdadeiramente crist�".O amargo destino de Kennedy e MarilynEntre as profecias que sinistramente se abateram sobre grandes cen�rios pol�ticos do s�culo XX causam particular impress�o as da americana Jeane Dixon sobre John Kennedy, fruto de uma vis�o tida na catedral de S�o

Mateus em Washington, onde tiveram lugar alguns anos depois os funerais do presidente assassinado em Dallas. Dixon tanto prenunciou a vit�ria nas elei��es de 1960, especificando a data, quanto a morte antes de findar o mandato, fez isso na televis�o, suscitando um eco de estupefa��o na

opini�o p�blica.A vis�o, por ela registrada em 1956, remontava a 1952, quando o futuro presidente n�o passava de um deputado democrata no Congresso dos EUA. Dixon "viu" esse jovem de olhos azuis, alto e hem-apessoado, com o caracter�stico topete desordenado sobre a testa, apoiado na entrada da Casa branca. A imagem estava de in�cio envolta por "uma deslumbrante luz branca" e sobre o edif�cio iam se formando os quatro algarismos do ano de 1960. Depois tudo estava obscurecido por "uma nuvem negra e amea�adora", enquanto os n�meros iam se desfazendo at� desaparecer sob uma chuva leve, mas constante.A vidente completava o relato acrescentando que � vis�o sobrepusera-se uma voz, proveniente do vazio em torno de si na igreja, anunciando-lhe que

aquele homem se tornaria presidente dos Estados Unidos, mas n�o

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terminaria o mandato. Sobre isso, disse ainda Dixon, a voz foi ainda mais clara, especificando que seria assassinado.N�o se pode dizer que Jeane Dixon fosse uma aventureira do oculto em busca de publicidade f�cil. A �poca da profecia j� era uma das mais

conhecidas clarividentes do mundo, famosa por suas rubricas astrol�gicas sobre os maiores cotidianos da Am�rica, freq�entemente interpelada por pessoas de primeiro plano no mundo da pol�tica e do cinema. Foi consultada pelo presidente Roosevelt em outubro de 1944, o qual, j� doente e sabendo do fim iminente, queria saber se teria tempo para ver a conclus�o da guerra. Respondeu-lhe que estaria morto dali a seis meses, como efetivamente aconteceu.N�o foi uma predi��o espantosa, pois as condi��es do presidente eram tais que qualquer um intuiria o pouco tempo de vida que lhe restava, mas predisse com exatid�o outras mortes de destaque, todas violentas, como as de Gandhi, de Martin Luther King e de Dag Hammarskjold, o secret�rio geral da ONU que se espatifou com seu pr�prio avi�o durante uma das suas febris miss�es. Previu, al�m disso, no c�rculo dos Kennedy, o desolador fim de Marilyn Monroe e o de Robert, assassinado cinco anos depois do irm�o, enquanto se preparava para emul�-lo na campanha presidencial.Predisse o sucessor de Roosevelt, Harry S. Truman, que seria reeleito em 1948. O cumprimento da predi��o criou uma not�vel sensa��o, pois contradizia qualquer progn�stico pol�tico, tendo os democratas do Sul

provocado uma cis�o e apresentado seu pr�prio candidato.Muitos dos seus or�culos, oscilantes entre premoni��es extremas de

sucesso e morte, de vit�ria e de cat�strofe, foram pronunciados em transmiss�es televisivas e radiof�nicas dirigidas ao grande p�blico, fascinando e desconcertando milhares de pessoas.N�o ficou imune ao senso de ang�stia que habitualmente acompanha nos

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sensitivos a percep��o do futuro, sobretudo se tendente a coletar dele mais os desdobramentos tr�gicos do que os felizes. Confidenciou a um de seus

bi�grafos: "Quando tenho de anunciar esses eventos que dever�o acontecer na nossa gera��o e al�m, de cunho freq�entemente catastr�fico, sou invadida por uma grande ansiedade." Confirmou que o seu m�todo divinat�rio baseava-se essencialmente em "vis�es, mensagens telep�ticas e sensa��es ps�quicas". Al�m disso, revelou estar convencida de que cada homem fosse dotado de meios aptos a se comunicar com a mente divina e que em alguns suavizasse "um esp�rito similar ao dos profetas b�blicos",Usou, por�m, suas profecias, em muitos casos, com fins abertamente propagand�sticos, atribuindo ao comunismo internacional a responsabilidade por cat�strofes nem sempre verific�veis. � l�cito suspeitar, no que se refere a este aspecto da sua atividade, que mantivesse contato com a CIA ou outros �rg�os interessados em alimentar uma psicose anticomunista no Ocidente, Da� derivaram alarmismos e diagn�sticos errados sobre aqueles que seriam os futuros equil�brios mundiais. Com lapsos �s vezes clamorosos, como no caso da profecia sobre a terceira guerra mundial: caberia � China desencade�-la nos anos 1980, invadindo a R�ssia e em seguida a Finl�ndia e a Noruega. Por outro lado, errou ao profetizar invas�es sovi�ticas no Ir� e na Palestina. Viu, por�m, com perfei��o a convers�o da R�ssia ao cristianismo, coincidindo nisto com a profecia de F�tima. O messias de Aqu�rio H� um lugar para Jeane Dixon tamb�m na literatura escatol�gica sobre o fim do mil�nio. De fato, profetizou o nascimento em 1962, no Oriente M�dio, de um menino que, ao crescer, se tornaria um grande iniciado e converteria todos os povos a uma �nica f�. Para a data indicada, da qual se

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deduzia que chegaria � idade do Cristo pouco antes da virada do s�culo, e pelo fato de que teria pregado uma nova religi�o, insiste em poder identificar nele o Anticristo. Dixon insiste particularmente em que seria o portador de "uma nova cristandade", totalmente desnaturada em rela��o ao ensinamento evang�lico, alterada com o objetivo de desvirtuar a Igreja de Roma e absorver qualquer outra religi�o. Ampliou a capacidade dial�tica e a capacidade de seduzir, dons peculiares do Anticristo, acrescentando que teria come�ado a mostrar sua for�a na d�cada de 1980 para depois crescer em poder na d�cada seguinte, at� lan�ar o �pice da sua afirma��o em 1999. Apareceria aos olhos das massas, quando fosse chegado esse tempo, como uma esp�cie de messias enviado para "responder �s invoca��es do mundo".Aumenta a sugest�o m�gico-religiosa da profecia o fato de que Dixon tivesse sonhado o menino - assim disse - nos bra�os da rainha eg�pcia Nefertite, grande sacerdotisa do deus solar Aton no s�culo XIV a.C., da qual seria gerado um descendente. Hoje, passados mais de 35 anos do an�ncio, esse predestinado deveria estarentre n�s, cercado de pros�litos, pronto a p�r em a��o seu projeto mundial. J� deveria ter sido revelado de algum modo, com sinais percept�veis para alguns, n�o para todos, e apressar-se rumo � consolida��o definitiva do seu poder. Deveria, segundo a profecia; mas ningu�m pode dizer at� que ponto ela seja previs�vel.Nicholas Campion, um famoso astr�logo, rastreou-lhe o hor�scopo com base nos dados fornecidos por Dixon, segundo os quais nasceria, pouco depois da meia-noite (aos dez minutos, mais exatamente) de 5 de fevereiro de 1962, em Jerusal�m. Resultou que todos os planetas estavam em Aqu�rio.Da� se deduz que poderia ter sido o messias da new age, evidentemente dispon�vel em alguns de seus exageros a se fazer representar por tudo de

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pior que at� aqui havia gerado o imagin�rio apocal�ptico.Vem aumentar as expectativas um eclipse solar no dia anterior �quele fixadopara o nascimento. F�cil, deduzida e inevit�vel foi a presun��o de que poderia se tratar de um sinal de Aton.

30Mundos perdidos

A B�blia e os Mundos Perdidos, da Atl�ntida � civiliza��o eg�pcia, est�o presentes no repert�rio fant�stico dos maiores profetas americanos do s�culo XX como est�mulo a enobrecer o futuro - ou dar-lhe uma id�ia espetacular, caso se queira - e como resultante de grandes experi�ncias passadas. O que, por�m, n�o impediu os videntes mais populares de conciliar esta urg�ncia de "nobreza hist�rica" com a grande demanda de profecias de interesse pr�tico e imediato, concernente a fatos e personagens ligados � atualidade. Foi visto, no caso de Jeane Dixon com quanto zelo esta sensitiva dotada de um agu�ado sentido de autopromo��o havia

inundado a opini�o p�blica de espantosas predi��es sobre a vida e a morte de presidentes, sobre equil�brios internacionais e tudo o mais que pudesse ser not�cia na imprensa, sem com isso deixar de construir para si uma imagem ligada aos faustos fara�nicos do antigo Egito.Do mesmo modo, Edgar Cayce - chamado o "profeta adormecido" por sua especial propens�o a visitar os universos mais impenetr�veis atrav�s da hipnose - previu eventos de particular relev�ncia econ�mica e social, como a quebra da bolsa de Wall Street e as possibilidades de especula��es imobili�rias no litoral da Virg�nia, permitindo que muitos enriquecessem com os seus conselhos, mas deu prest�gio �s pr�prias pesquisas

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investigando sobre o mist�rio da Atl�ntida, com resultados que a arqueologia submarina confirmou em parte.

O reencarnado da Atl�ntida

Como Jeane Dixon havia extra�do sua profecia sobre o Anticristo de um sonho no qual asseverava ter encontrado a rainha Nefertite, Cayce extraiu a

dele sobre a Atl�ntida revivendo em estado hipn�tico uma vida anterior, no curso da qual foi - assim disse - sacerdote do rei marinho Pos�idon na capital do continente perdido. Garante ter assistido ao cataclismo final e ter

afundado no oceano com os outros habitantes. Atribuiu as causas da cat�strofe ao uso disseminado de poderosas energias de origem c�smica, que j� anteriormente, fugindo ao controle humano, haviam provocado desastres. Contou sobre a danosa explos�o de um cristal no qual se achava concentrada a energia solar, literalmente "capturada" e armazenada com tecnologias avan�ad�ssimas. Descreveu maremotos causados por desequil�brios energ�ticos e outras espantosas calamidades naturais. Confirmou em tom altamente sugestivo tudo que Plat�o havia contado no

Timeu e no Cr�tias. Reportou que os sobreviventes da civiliza��o perdida da Atl�ntida navegaram at� a Am�rica ou a �frica, dando vida a novas sociedades evolu�das no Egito, M�xico e Peru. As pir�mides seriam uma prova disso.Vista dessa perspectiva, a hist�ria da Atl�ntida era apenas uma fascinante excurs�o no passado, uma retrocogni��o de grande interesse parapsicol�gico, mas carente de aspectos precognitivos, sem desembocar, portanto, no futuro. Conquistou em vez disso um valor prof�tico quando Cayce focalizou suas vis�es num futuro n�o distante, prenunciando a descoberta dos restos da antiga civiliza��o no fim dos anos 1960 no oceano Atl�ntico. Especificou inclusive a �rea, ao largo das Bahamas. E, com efeito, em 1968, foram identificadas l� onde o vidente indicava, na costa

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de North Bimini, ru�nas de grande interesse arquitet�nico, das quais se devia deduzir a exist�ncia em idade remota de uma civiliza��o adiantada, engolida pelas �guas, da qual n�o se tinha not�cia hist�rica, apenas lend�ria.Cayce n�o p�de dar sua opini�o sobre aqueles escombros, estando morto h� mais de vinte anos � �poca, desde 1947.

O �anel de fogo"

A Atl�ntida para Cayce n�o foi apenas o objeto de uma pesquisa em torno de eventos j� ocorridos - ou que se supunha tivessem acontecido -, mas sim a met�fora m�tica de cat�strofes que deveriam convulsionar a terra dali a poucos anos. Sustenta de fato que boa parte dos territ�rios mais populosos do planeta, como o Jap�o e a Am�rica setentrional, seria coberta pelas

�guas no fim do mil�nio. Devido ao rebaixamento dessas terras - e pela reemers�o de outras -, haveria o deslocamento do eixo terrestre, que teria

come�ado a modificar sua disposi��o desde 1936.E eis o mapa, por ele mesmo tra�ado em 1934, das catastr�ficas "modifica��es" que alterariam a face do planeta por volta do ano 2000:

A Europa setentrional mudar� de aspecto dentro de poucos segundos. O solo se abrir� em uma �rea norte-ocidental da Am�rica. O Jap�o submergir� quase por completo. Uma terra emergir� ao largo da costa oriental da Am�rica. Na Groenl�ndia o gelo, ao se soltar, liberar� grandes massas de �gua. Nos oceanos �rtico e Ant�rtico ocorrer�o erup��es vulc�nicas nas zonas t�rridas. Entre a Terra do Fogo e a Ant�rtida emergir� uma nova terra. Os p�los sofrer�o uma inclina��o que determinar

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� um clima t�rrido em zonas hoje frias ou subtropicais.

J� se fala h� bom tempo de mudan�as clim�ticas, e as previs�es cient�ficas coincidem em boa medida com as do vidente. Do mesmo modo, encontram

eco em certos temores dos cientistas as afirma��es de Cayce sobre as causas das inunda��es por ele preconizadas, devido ao gradual crescimento do n�vel do mar, que em sua opini�o deveria sofrer no fim do s�culo um repentino acr�scimo de dez metros.Este fen�meno estaria se verificando de fato - n�o nas propor��es

apocal�pticas indicadas por Cayce - por causa das les�es na camada protetora de oz�nio que envolve a terra, das quais derivaria a longo prazo

um derretimento das calotas polares.Um papel determinante nessas cat�strofes iminentes seria representado pela atividade dos vulc�es que, segundo a teoria de Cayce, teriam comunica��o subterr�nea entre si. Existiria, a seu ver, um "anel de fogo" em torno do Jap�o, da China, da Indochina e da Austr�lia, destinado a provocar altera��es geol�gicas sens�veis no subsolo, com terr�veis conseq��ncias em todo o mundo. Grande aten��o foi dedicada pelo vidente - no que se refere a esse aspecto tel�rico das suas profecias - � atividade dos vulc�es italianos Etna e Ves�vio, que atrav�s da hipnose ele "via" ligada �quela de outros vulc�es da Martinica e de outros lugares. Da concomit�ncia das suas erup��es se poderia intuir uma retomada geral das atividades vulc�nicas sobre toda a terra, pre�mbulo das grandes transforma��es prenunciadas em 1934.Sonhou os cen�rios futuros do planeta imaginando voltar � vida atrav�s da reencarna��o. "Viu" estados americanos inteiros, como o Missouri e o

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Mississippi, submersos por pavorosas inunda��es; "viu" transbordarem os grandes lagos na fronteira com o Canad�, e suas �guas se espalharem Estados Unidos abaixo, passando pela Louisiana at� o golfo do M�xico; "viu" o nada onde uma vez existiu Nova York, submersa por um terremoto tal qual a Atl�ntida; "viu" em seguida oper�rios trabalhando para reconstru�-la.Mas n�o foi somente um profeta apocal�ptico. Predisse tal como Dixon a morte dos presidentes Roosevelt e Kennedy, tens�es raciais e mudan�as sociais nos EUA, o fim do comunismo e o retorno da religi�o na R�ssia, fazendo tamb�m ele pr�prio a verdade de F�tima. Mas o que lhe proporcionou maior fama na juventude, e que atraiu para seu est�dio de Virginia Beach uma clientela cada vez mais vasta, foi seu grande talento ao

formular as mais inveross�meis previs�es econ�micas, das quais extra�am muitas vantagens.

O adivinho que busca resposta �s suas indaga��es al�m dos confins do cosmo.

� �poca, ou seja, no in�cio do s�culo XX, Edgar Cayce tinha trinta anos, tendo nascido em 1877, e uma discreta fama de taumaturgo. Visitava os doentes atrav�s da hipnose e com freq��ncia conseguia realizar curas surpreendentes. Praticando essa atividade de maneira cada vez mais intensa, deu-se conta de poder reconstruir, sempre atrav�s da hipnose, o passado e o futuro dos pr�prios pacientes, propiciando conselhos que no mais das vezes se revelaram bem-fundamentados.Da hipnose dos pacientes passou em seguida � sua pr�pria, entrando em estados de transe no decorrer dos quais havia come�ado a "ver" eventos

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freq�entemente destinados a se consumar, outras vezes situados em um futuro mais distante, que n�o podiam ainda ser comprovados. Tinha assim atra�do para si a aten��o de cientistas e pol�ticos, al�m da aten��o das pessoas comuns. A f� na reencarna��o havia feito o resto, induzindo-o a viagens extraordin�rias nas suas vidas passadas bem como naquelas por vir.Fez descobertas originais ao expor ao grande p�blico o sentido das suas vis�es. Como quando formulou uma esp�cie de paradigma daqueles que podiam ser considerados os "pecados" peculiares das diversas na��es civis.O pecado dos EUA era o de eles n�o terem adequado os pr�prios comportamentos ao lema inscrito na sua moeda, ou seja: "Cremos em Deus" (In God we trust); o pecado da Gr�-Bretanha era a soberba nacional; o da Fran�a, a lux�ria; da China, o isolamento. Quanto � It�lia, ber�o do cristianismo, o seu pecado era o de ter-se desviado e n�o seguido o ensinamento. Assim como o da �ndia, ber�o de outra grande civiliza��o religiosa, era inverso: o de ter aplicado a tal ponto a espiritualidade que negligenciou as necessidades do homem.Tamb�m esses singulares "boletins" internacionais eram deduzidos pelas

realidades conhecidas em estado de hipnose, pois o n�vel cultural de Cayce em estado de vig�lia era bastante modesto, n�o lhe permitindo, portanto, an�lises aprofundadas de ordem hist�rica e social. O aspecto prof�tico do quadro assim formulado consistia em prever para cada pa�s um castigo dirigido a punir eminentemente o seu pecado. Como por exemplo, para os EUA, um mal-estar social de propor��es cada vez mais vastas, tendente a restringir a margem de dist�ncia entre riqueza e pobreza.

A alma do mundo

Hipnose e mediunidade foram os instrumentos essenciais da arte prof�tica

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de Cayce, que insiste poder entrar em contato atrav�s delas com a alma do mundo - com o Akasha dos grandes iniciados orientais, a causa criadora primordial, ligada a todos os fen�menos naturais, tamb�m ignorados pela ci�ncia - e folhear aquilo que chamava o Livro da Vida, testemunho de uma intelig�ncia universal e do seu saber oculto, emergente do fundo de uma consci�ncia comum � humanidade inteira. Por ele foram influenciados

mestres da estatura intelectual de Carl Gustav Jung e Rudolf Steiner. O primeiro na elabora��o da sua teoria do "inconsciente coletivo" e dos "arqu�tipos" atrav�s dos quais se manifestaria a comunh�o ancestral de todas as criaturas humanas; o segundo ao lan�ar as bases de um novo espiritualismo ocidental, que pusesse o homem em sintonia com a sociedade mediante o recurso ao Testemunho do Akasba, outro nome usado

por Cayce para indicar o Livro da vida.

A roda da vida e da morte na interpreta��o do budismo tibetano. Esta evidente presen�a de elementos orientais no sistema divinat�rio de Cayce entrou em colis�o com a exig�ncia t�pica dos grandes pregadores e profetas americanos de atingir pelos pr�prios serm�es ou profecias da B�blia. Pelo contr�rio, muitos dos argumentos deduzidos do pensamento v�dico e budista foram enunciados pelo "profeta adormecido" naquela linguagem ret�rica e bomb�stica que havia, como os demais, herdado das origens puritanas do sentimento religioso americano.Foi pr�digo, portanto, nas suas profecias, de alus�es � fun��o cat�rtica dos desastres anunciados, depois dos quais teria tido in�cio uma "segunda reden��o" da humanidade. � por isso que daqui a poucos anos o Cristo dever� novamente encarnar-se sobre a terra para guiar os homens e depois

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t�-los, mais uma vez redimidos, na constru��o da Nova Jerusal�m, por Cayce definida como "n�o apenas um lugar, mas uma condi��o da alma". N�o havia em tudo isso nem sequer a sombra de uma contradi��o, a sua concep��o do mundo combinando com o que havia extra�do dos cultos orientais.Sob esse aspecto, as profecias representam na sua originalidade um processo coerente com aquela tradi��o que tivera entre os seus primeiros protagonistas, os movimentos pela conota��o milenarista em sentido quase medieval, animados por uma �nsia escatol�gica que beirava a obsess�o, como a dos m�rmons, sempre numerosos no territ�rio americano, e dos milleritas extintos ou reunidos nas igrejas adventistas depois do fracasso de

cada c�lculo deles sobre a data do fim do mundo.

A Nova Jerusal�m americana

Sobre o advento da Nova Jerusal�m tamb�m basearam o seu des�gnio prof�tico os m�rmons, seguidores de uma doutrina de inspira��o b�blica que conta hoje com cerca de 5 milh�es de adeptos em mais de cinquenta pa�ses, mas com quatro quintos concentrados nos EUA. Ali edificaram sua "cidade santa" de Salt Lake City �s margens do Lago Salgado, no Utah, por eles mesmos colonizado na metade do s�culo XIX.A sua Nova Jerusal�m, contudo, ao contr�rio daquela vaticinada por Cayce,n�o deveria ser constru�da pelos homens, mesmo orientados pelo Redentor, mas sim descer diretamente do c�u em um lugar do qual n�o se conhece a localiza��o e que os m�rmons chamam de Si�o. Como se justifica

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a expectativa de um prod�gio de tais propor��es: atrav�s da f� no progresso espiritual do homem, que � �poca j� deveria ter alcan�ado um n�vel tal capaz de torn�-lo similar a Deus. Nos textos sagrados l�-se a respeito dessa seita fundada em 1830 em Fayette (Nova York) pelo pregador Joseph Smith, vulgo Joe, que "Deus foi por um tempo assim como atualmente � o homem" e que, portanto, "o homem pode se tornar assim como agora � Deus".Baseia-se nessa presun��o o ponto de for�a (ou de debilidade) da profecia m�rmon, segundo a qual o homem para ter sido criado "� semelhan�a de Deus" � potencialmente id�ntico ao seu criador, em condi��es, portanto, de alcan��-lo na sua perfei��o, que representa o �ltimo est�gio insuper�vel de uma evolu��o � qual cada ser humano inteligente pode aspirar. Por isso os m�rmons insistem que quando a humanidade amadurecer para tanto, o Cristo ressurgido lhe aparecer� acima do templo de Salt Lake City e fundar� em territ�rio americano um "reino m�rmon milenar", cujos habitantes viver�o todos cem anos (meta final de contas modestas, caso sejam considerados os atuais objetivos da medicina).A profecia, de pura inspira��o milenarista, prev� � data dos mil anos de vida do reino uma nova revolta de Satan�s, que no entanto ser� derrotado e confinado definitivamente no inferno com aqueles que o seguiram. Esta ser� para eles "uma segunda morte", enquanto todos os outros se tornar�o imortais. V�o se salvar tamb�m aqueles que tiverem as suas culpas, mas n�o a ponto de mecerecem os castigos infernais, e que viver�o em um estado de modesta por�m perene felicidade, como em um limbo. Os outros ser�o divididos em duas categorias: os "honrados", isto �, aqueles que se aproximar�o da verdade sem conseguirem colh�-la, e os "eleitos", que

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em vez disso ter�o recebido a ess�ncia. Os primeiros receber�o a "gl�ria celeste". Subir�o al�m das nuvens e atravessar�o diversos n�veis novos de perfei��o, prosseguindo no seu itiner�rio at� se identificarem com Deus.Os m�rmons est�o hoje reunidos na Igreja de Jesus Cristo dos Santos do �ltimo Dia, mas al�m desse distorcido chamado ao cristianismo, a doutrina deles se distancia cada vez mais da letra evang�lica. Convencidos de que

Jesus fosse unido em matrim�nio com Maria Madalena, Marta e Maria, os m�rmons praticaram a poligamia at� serem impedidos por uma lei do Congresso aprovada em 1862, por eles formalmente aceita somente em 1890. Concebiam por outro lado as rela��es entre vivos e mortos sob uma luz totalmente particular, contemplando a possibilidade de matrim�nio com os falecidos, que chamam "n�pcias pela eternidade". Praticam tamb�m, em grande segredo, um rito chamado "batismo dos mortos", dedicado aos antepassados que em vida n�o puderam ser iniciados na doutrina m�rmon, ainda n�o revelada.A particularidade do rito � que n�o se trata de uma gen�rica fun��o de sufr�gio para os defuntos, mas de um sacramento concedido a indiv�duos anagraficamente identificados, "rastreados" atrav�s de meticulosas pesquisas geneal�gicas entre os progenitores dos fi�is. Da� a import�ncia dos arquivos anagr�ficos para o povo m�rmon, que considera a fun��o sagrada.Os acontecimentos ligados � afirma��o da comunidade m�rmon se incluem entre os mais sofridos que assinalaram o nascimento de numerosos cultos de origem b�blica e evang�lica nos EUA. O fundador Joseph Smith e seu irm�o Hiram foram linchados em 1844 em Carthago, Illinois, depois de terem sido presos sob a acusa��o de destruir a sede de um jornal hostil a

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eles. Contribuiu para fomentar a ira da multid�o o ressentimento de outras "igrejas" concorrentes da morm�nica, considerada ademais portadora de esc�ndalo pelos seus costumes polig�micos.Smith deixou 27 vi�vas, mas calcula-se que tenha tido mais de quarenta esposas. Seu sucessor, Brigham Young, morto em 1874, deixou dezessete, com uma prole de 56 filhos.O texto fundamental do credo morm�nico �, junto com a B�blia, o Livro de M�rmon, cujo nome deriva do ingl�s more (mais) e do eg�pcio amon (bem). Escrito em hier�glifos reproduzindo caracteres de imita��o mesopot�mica, �rabe e eg�pcia, o texto conta a "hist�ria" do continente americano desde 600 a.C., quando os habitantes originais (iraeditas) foram expulsos pelos israelitas. Estes colonizaram o territ�rio dividindo-se em dois povos: os nifitas, fi�is a Deus e �s tradi��es, e os lamanitas, rebeldes e pag�os, na pr�tica os �ndios da saga pioneir�stica, uma experi�ncia que os m�rmons teriam conhecido bem, seguindo em caravanas para as fronteiras do Oeste. Os lamanitas exterminaram os nifitas, mas antes que a estirpe se extinguisse, no ano 421 d.C., os �ltimos sobreviventes (o profeta M�rmon e seu filho Moroni) escreveram esse livro em t�buas de ouro, enterrando-o

para que um dia pudesse ser encontrado pelos novos colonos, vindos como os nifitas do mar. Na noite do equin�cio de outono de 1823, o dia 21 de setembro, nas vestes luminosas de um anjo, Moroni aparece a Joseph Smith, ent�o com dezoito anos, revelando-lhe a exist�ncia do livro, sepultado em uma caixa no monte Cumorah, nas imedia��es da cidade de Nova York. Apenas em 1827 Smith conseguiu ficar de posse dele, gra�as a uma outra revela��o de Moroni. Embora analfabeto, traduziu seu conte�do servindo-se de dois cristais sacros, tamb�m uma doa��o do anjo, e o fez publicar em 1830.Inicia naquela data a verdadeira a��o de proselitismo dos m�rmons e

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a sua longa marcha de pouco mais de 2.700 km rumo �s regi�es despovoadas do Oeste, onde em 1847 fundaram a cidade de Salt Lake Ciry.Sobre o telhado do seu templo, constru�do entre 1853 e 1859, ergue-se uma gigantesca est�tua de Moroni, o anjo da revela��o. � ali que dever� mostrar-se Jesus - dentro em breve, segundo a profecia -, quando chegar a hora de fundar um novo reino.

O dia da Grande Desilus�o

A obsess�o do fim do mundo, que por mais que se expresse em termos de esperan�a causa quase sempre apreens�o, gerou nos Estados Unidos, por volta da metade do s�culo XIX, uma difundida �nsia de que sua data podia ser fixada. Pelos c�lculos efetuados quase exclusivamente sobre textos b�blicos nasceram ent�o diversas profecias, todas tendentes a demonstrar a imin�ncia do ju�zo universal. A mais c�lebre, pela repercuss�o e pela vastid�o dos consensos suscitados, foi a de William Miller, em torno da qual se formou (no mesmo ano em que nasciam os m�rmons, 1830) um movimento chamado millerita.Miller estava convencido de que por meio das Escrituras o Senhor tivesse desejado transmitir aos homens a chave para identificar a data do ju�zo universal, a fim de que ningu�m seja apanhado de surpresa. Insiste em que a indica��o fundamental estivesse no livro de Daniel, l� onde est� escrito que "depois de 2.300 dias [anos, esotericamente] o santu�rio ser� purificado" (8,1 4) e que este prazo � "para o tempo do fim" (8,17). Leva

tamb�m em conta n�meros relativos para a reconstru��o e o fim de Jerusal�m: "Setenta semanas foram fixadas para o teu povo, para a tua cidade santa, para que seja coibida a prevarica��o, tenha fim o pecado, seja cancelada a iniq�idade, venha a eterna justi�a. [...] Que fique bem

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entendido: a partir de quando sair o edito para a reconstru��o de Jerusal�m at� para Cristo, o Pr�ncipe, ser�o sete semanas mais 62 semanas. Ser�o reconstru�das as pra�as e as muralhas em tempos de ang�stia. Depois de 62 semanas o Cristo ser� morto. [...] A cidade e o santu�rio ser�o destru�dos, devastados. [...] Ele confirmar� o pacto com muitos em uma semana, e na metade da semana ser�o menos as oferendas e os sacrif�cios, e irromper�o no templo a abomina��o e desola��o, e a desola��o durar� at� o fim." (9,24-27)Sobre este monte de n�meros, nos quais aparecia com inexor�vel regularidade o seten�rio, Miller elaborou c�lculos complexos, por meio dos quais concluiu que o ano do fim do mundo seria 1843. Computou os anos que iam da reconstru��o de Jerusal�m � crucifica��o de Jesus, mais aqueles da crucifica��o ao fim do paganismo, do fim do paganismo � afirma��o do poder temporal dos papas, desta "abomina��o" ao seu fim, extraindo a

prova inequ�voca de que o apocalipse chegaria em 1843. Contando do resto 2.300 anos a partir da reconstru��o do templo (457 a.C., segundo a sua

opin�vel estimativa), chegava-se a 1843. Portanto, era aquela, de qualquer modo que se calculasse, a data do fim do mundo.Acreditaram nele. Extremamente zeloso, buscou confirma��o posterior no terceiro livro de Mois�s, o Lev�tico, onde o Senhor amea�a punir Israel sete vezes pelos seus pecados (26, 18-28). Efetuou novos c�lculos que lhe permitiram justamente fixar o dia exato do evento: 21 de mar�o de 1843, equin�cio da primavera.Passou o tempo que o separava desta data, agora fat�dica para milh�es

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de pessoas, orando de um extremo a outro dos EUA. Foi seguido por multid�es de exaltados, para os quais foi necess�rio organizar enormes acampamentos ao relento ou sob lonas de circo, j� que teatros comuns n�o conseguiam abrig�-los. Os milleritas se multiplicaram e constitu�ram uma seita que em breve fez chegar a palavra do mestre � Europa e por fim nas long�nquas miss�es africanas.Al�m do movimento de Miller, tamb�m tiveram grande impulso naqueles anos no continente africano as profecias baseadas em n�meros da B�blia, com especial aten��o �s chaves de Daniel. Apoiaram o c�lculo dos 2.300 anos da reconstru��o de Jerusal�m muitos outros videntes e pregadores, como John "Aquila" Brown e William Cummins Davis, nos EUA, Jos� Maria Gutierrez, no M�xico, e Manuel Lacunza, no Chile, promotores estes �ltimos de uma escola prof�tica latino-americana. Pouco variavam as datas previstas para o fim do mundo, desde que se considerasse como ponto de partida o ano 457 a.C., como fizera Miller, ou um ano pr�ximo. N�o era totalmente seguro, de fato, quando fosse emitido exatamente o decreto para

a reedifica��o de Jerusal�m, mesmo se num espa�o de tempo estimado � �poca entre 457 e 453.Foram assim propotas pela �nsia dos crentes datas oscilantes entre 1843 e 1847, com uma n�tida prefer�ncia popular por 1843, pela ascend�ncia de Miller sobre as massas.Cenas hist�ricas saudaram a chegada de 1843, e quando chegou a data do

equin�cio milhares de pessoas se dirigiram aos campos para esperar sob as

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estrelas o fim do mundo. A aurora as surpreendeu at�nitas e perdidas. Censuraram-se pela f� que nutriam em Miller, o qual prop�s um novo c�lculo em arrebatados serm�es. A data foi fixada para a primavera de

1844 e depois, seguindo-se nova desilus�o, para o outono daquele ano, dia 22 de outubro. Mas, quando este novo c�lculo tamb�m se frustrou, o prest�gio de Miller se desfez em peda�os e a seita se dissolveu como neve ao sol.Os milleritas que haviam doado os seus pr�prios bens foram considerados pelos tribunais como incapazes de entender e de querer. Ocorreram atos de viol�ncia e tentativas de linchamento contra os mais estreitos colaboradores de Miller, mas, sobretudo, uma imensa amargura entre aqueles que acreditaram sinceramente na sua mensagem. Alguns se identificaram com as igrejas adventistas, assim chamadas pela sua espera de um novo "advento" de Cristo. Os demais se dispersaram numa di�spora sem retorno.Miller morreu dali a alguns anos, em 1849, procurando novas chaves na B�blia. De infarto, segundo se disse.Ainda hoje a data de 22 de outubro de 1844, �ltima fronteira da profecia millerita, � recordada por certos historiadores americanos como �o dia da Grande Desilus�o".

31A Grande �Viagem� de Padre Pio

O Papa acabara de conceder � pequena grande santa Teresa de Lisieux, chamada tamb�m de Menino Jesus, o t�tulo de �doutora da Igreja", que s� duas mulheres de estatura hist�rica enorme, como Catarina de Siena e Teresa de �vila, tinham at� ent�o recebido em toda a hist�ria da cristandade. Padre Pio da Pietrelcina o havia previsto em 1922, antes mesmo que ela, embora com apenas 25 anos e ainda nem de todo conhecida, fosse beatificada.� uma das profecias "m�nimas" desse frade, destinado a se tornar santo por

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sua vez, que tamb�m fez das "grandes". Padre Pio, � �poca Francesco Forgione, tinha ainda 35 anos e era sacerdote h� doze, estigmatizado h� quatro e objeto de severas restri��es impostas pelo Santo Of�cio. Suspeito de impostura, foi-lhe proibido celebrar a missa em p�blico e manter correspond�ncia com os fi�is, os quais, por�m, continuavam a vener�-lo e a pedir-lhe a b�n��o.Estava por isso em resignada priva��o no seu convento de San Giovanni Rotondo, naquele maravilhoso canto de Puglia que � o Gargano, quando foi procurado por uma devota que lhe trazia a fotografia de uma freira menor morta com sinais de santidade no Carmelo de Lisieux. Fora-lhe enviada por

uma amiga da Fran�a e pedia que padre Pio a aben�oasse.O frade sorriu ao olhar a imagem.- N�o � beata ainda - disse -, mas todos j� a consideram uma santa. Um dia o ser�, dentro em breve. Ou melhor, corrijo-me, ser� uma grande santa.

Teresa de Lisieux foi beatificada um depois e, dali a dois anos, feito santa. Grande logo se tornou, pela onda de devo��o suscitada em todo o mundo com os ensinamentos profusos na sua Hist�ria de uma alma. Apenas hoje

recebeu a confirma��o do t�tulo de "doutora da Igreja", que a coloca no mesmo plano de Tom�s de Aquino, Alberto Magno e Roberto Bellarmino.

O tormento das chagas Sempre no tema da santidade, talvez a mais importante, das profecias de padre Pio, com certeza a mais tr�gica por si mesma, foi colocada por escrito quatro anos antes, em 29 de setembro de 1918, nove anos depois de ter recebido as chagas, em carta a uma outra devota. Estava agora transformado em uma ef�gie sangrenta da paix�o de Cristo, com o dorso trespassado pela lan�a de um arcanjo que lhe apareceu em vis�o, as mï

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¿½os e os p�s perfurados, o cora��o lesado. Debilitado e transtornado por tudo que descobrira em �xtases sobre aquilo que o futuro lhe reservava, abatido pela dor f�sica, escreveu que "mil mortes mais atrozes bem pouco representariam diante desta cruz que me foi enviada por Deus e que me acompanhar� at� o fim da minha viagem".N�o � uma profecia como tantas. � a profecia de um prod�gio concatenado econseq�ente �quele, j� por si mesmo extraordin�rio, da estigmatiza��o: "(...) at� o fim da minha viagem: Padre Pio previu que � sua morte - e portanto � �poca - as m�sticas feridas desapareceriam do seu corpo.

Prenuncia, em outras palavras, um fen�meno ins�lito e cientificamente

inexplic�vel, como o desaparecimento repentino das chagas sobre o corpo do defunto. Fen�meno considerado habitualmente como uma prova da efetiva autenticidade - ou da origem sobrenatural, para quem acredita - das chagas.E � o que acontece no caso de padre Pio, como havia escrito, ao fim da sua "viagem", na noite de 23 de setembro de 1968. As chagas desapareceram por reconstitui��o espont�nea dos tecidos na sua carne morta, em seguida a um processo fisiol�gico que, tendo se verificado sobre um cad�ver, exclu�a as poss�veis causas de histeria, habitualmente invocada pelos c�ticos (e pelo padre Agostino Gemelli, no seu caso junto com outros detratores) como explica��o c�moda para tudo que fugia � raz�o.Ao prever o prod�gio que se verificaria ap�s sua morte, padre Pio preconizava a data. Sabia - e o disse em seguida, pouco antes do fim - que sua "viagem" estaria terminada em exatos cinq�enta anos ap�s o desaparecimento das chagas, como de fato aconteceu. �Nada mais de massacres� no s�culo XXI

Ao contr�rio do que aconteceu no caso de outros grandes protagonistas do

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misticismo ocidental, � dif�cil pensar que a fantasia possa ter acrescentado muito � "lenda" de padre Pio ao atribuir-lhe extraordin�rios poderes. Comenta-se que possu�a a maravilhosa capacidade de ler os pensamentos de quem lhe estava � frente (e �s vezes cartas em envelopes fechados) e de estar presente em dois lugares ao mesmo tempo (biloca��o), de descobrir verdades distantes no tempo, de resistir a lutas extenuantes com o dem�nio. Bem, de cada um desses fen�menos, que tanta perturba��o provocaram no seu tempo nas hierarquias eclesi�sticas a ponto de induzi-las a uma aut�ntica persegui��o a ele, existem achados que puseram em pr�tica "o personagem religioso talvez mais conhecido do s�culo XX, conhecido tamb�m entre os protestantes, hindus, budistas e por fim ateus", como veio a dizer numa entrevista o padre Paolino Rossi, que defendeu sua beatifica��o. Mas foi tamb�m um dos homens mais atribulados e sofredores, misteriosos e imprevis�veis do mundo cat�lico contempor�neo, lacerado entre as beatitudes da ascese e as penas da crucifica��o.Neste vaiv�m de �xtase e mal-estar - com febres de at� 48�C, desmaios e violentas alterca��es f�sicas com entidades mal�ficas - aparecem profecias de ar milenarista que extrapolam as previs�es apocal�pticas tradicionais para indicar o s�culo XXI como meta de felicidade e bem-estar.� a mais surpreendente das coisas ditas no decorrer do s�culo que passou sobre o que aconteceria na virada do mil�nio. Nem castigos nem cat�strofes, nada de inunda��es e terremotos, guerra, escasseza, desola��o, nada disso, mas uma tomada de consci�ncia geral e regenera��o tamb�m pol�tica. O ano 2000, scgundo esta profecia colhida em 1957, pelo jornalista americano Daniel Harvey, deveria representar "o momento da grande reconcilia��o universal e da instaura��o de uma ordem em marcha

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h� milhares de anos". O que significa que naquela data, ou seja, agora, a humanidade deveria estar preparada para uma nova idade de ouro, pois "Deus dispensa suas benesses apenas se os homens", disse tamb�m o frade ao jornalista, "est�o em condi��es de compreend�-las".Dos pol�ticos da �poca deu uma defini��o cr�tica, mas indulgente: "S�o como certos doentes que n�o podem suportar a luz do dia e preferem ficar numa sala com as persianas fechadas, mas muito em breve haver� que se

abrir os olhos ou, se n�o eles mesmos, os seus sucessores:� Previu, ao dizer isso, o fim das ideologias dentro de uns trinta anos, vale dizer por volta de 1987, como na realidade aconteceu: "Todos os ideais pol�ticos que est�o na origem das mis�rias atuais desaparecer�o por vontade de Deus:� Acrescenta que "a ci�ncia tornar� in�teis certas batalhas est�reis". N�o fica claro ao que se refere, mas poderia ter desejado dizer que a evolu��o tecnol�gica levaria � realiza��o de sistemas tais de ataque e defesa que tornariam impratic�vel um confronto armado.Na mesma ocasi�o disse ainda, textualmente: "No s�culo XXI n�o haver� mais massacres:� Estava ciente do qu�o inveross�mil poderia parecer uma previs�o deste tipo no ano em que a confer�ncia da OTAN decidia a instala��o de bases de m�sseis na Europa, e a dos partidos comunistas, em Moscou (64 pa�ses, inclusive a China), refor�ava o empenho da luta antiimperialista at� o fim. Mas a sua esperan�a de paz, projetada rumo a um futuro n�o distante, era intensa: "Eu sei que ainda n�o vai tudo bem sobre a nossa terra, e que milh�es de homens est�o prontos a empunhar suas armas. Mas, se Deus quiser, dentro de trinta anos o milagre h� tanto esperado se cumprir�:�

Vis�es de sangue: Aldo Moro e Robert Kennedy

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Para ele a terra era como um corpo "ainda afetado por fur�nculos", mas capaz de ser curada. A similitude do organismo doente e necessitado de cuidados entrava entre as imagens congeniais � sua sensibilidade taumat�rgica, gra�as � qual pudera efetuar prodigiosas curas e tamb�m, como garantem testemunhos plaus�veis, uma ressurrei��o. Quem voltou � vida teria sido um menino de seis meses, morto durante a viagem empreendida pela m�e para lev�-lo a San Giovanni Rotondo, onde esperava que o pequeno, acometido de uma grave doen�a, pudesse ser curado por interven��o de padre Pio.O menino deixara de viver no trem, mas a m�e n�o desanimou e, confiando num milagre, quis prosseguir na viagem at� San Giovanni Rotondo.Que o menino estivesse decididamente morto � demonstrado por um detalhe macabro: a m�e depositara o corpinho em uma mala ap�s envolv�-lo "em algumas roupas", como reporta escrupulosamente Antonio Pandiscia

na sua biografia de padre Pio. E eis o que acontece � chegada, como conta na sua essencialidade Pandiscia, sob o t�tulo significativo Como L�zaro: "Quando padre Pio viu o conte�do da mala, empalideceu e chorou. Voltando os olhos para o c�u, rezou intensamente por alguns minutos: 'Mas por que gritas, n�o v�s que o menino dorme?!' O menino, de fato, dormia serenamente:�Estava presente no epis�dio o professor Guglielmo Sanguinetti, diretor da Casa sollievo della sofferenza, a grande obra hospital�ria desejada por padre Pio, que constatou a morte cl�nica do menino ao abrir a mala, e, logo depois, a inesperada reviravolta.Eventos do tipo, que aumentavam desmesuradamente o carisma do padre sobre seus devotos, eram por ele desdramatizados e redimensionados, freq�entemente no ato. Conhecia muito bem os limites dos pr�prios poderes, claramente convencido de n�o ser nada mais que um intermedi�rio, cuja intercess�o podia, em certos casos, provocar uma interven��o divina. Nisso era coerente com o ensinamento das Escritura

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s sobre a possibilidade de operar milagres ou formular profecias, que n�o reside no indiv�duo, sendo apenas um dom concedido pelo c�u.� nisso que se distingue, por outro lado, o aut�ntico carisma sagrado das artes dos curadores que, com a imposi��o das m�os, conseguem infundir uma energia pr�pria sobre o doente. A energia curativa do taumaturgo de

Pietrelcina n�o vinha de dentro de si, mas ele a invocava do alto, em prece, para depois direcion�-la para onde seu cora��o apontava.Insistia em deixar isso bem claro. "Como voc� � bobo", disse uma vez ao jornalista Giovanni Gigliozzi, que o agradecia pela cura de um parente, "Fui eu quem o curei? Foi aquele l� em cima! N�o tenho nada a ver com isso:� Havia naturalmente afeto e confian�a entre os dois, sendo Gigliozzi � �poca diretor, por pura devo��o, do peri�dico Casa soliero della sofferenza.Apontar a cura f�sica de seres humanos individuais, at� mesmo recusando aceitar o m�rito, tornava-se para padre Pio pretexto prof�tico, do qual extrair por analogia or�culos de al�vio universal. A uma senhora americana que havia livrado de uma grave doen�a de pele que a fizera sofrer por longo tempo, ele disse: "Est�s curada, como um dia estar� o mundo curado da fome."Deste modo, atrav�s de paralelos e confrontos entre os acontecimentos humanos individuais e aqueles universais, o vidente mostrava com simplicidade a sua f� na vontade de um Deus do qual nada escapa, em constante tens�o de bem.Assim, um dia, ao dirigir-se a uma turba de peregrinos afligidos por dolorosas doen�as, vaticinou a derrota do mal do s�culo: "Vejo a iminente vit�ria dos homens sobre a doen�a mais terr�vel entre todas as que est�o matando a cada ano milhares de pessoas: o c�ncer." Acrescenta que cientistas de todo o mundo deveriam colaborar entre si para descobrir o rem�dio, evidenciando assim a urg�ncia de solidariedade e irmandade

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em qualquer empreendimento voltado para o bem da humanidade. Era por isso,

talvez, que se deveria "lutar ainda muito", insiste realisticamente em especificar, antes de se alcan�ar um resultado tang�vel.N�o escaparam � vis�o prof�tica de padre Pio os horrores do terrorismo. Um dia, enquanto sa�a da capela onde costumava encerrar-se em prece, sua aten��o foi atra�da por um jornal dobrado sobre uma mesa. Estampava com destaque na primeira p�gina uma foto de Aldo Moro. O frade se aproximou, fitando-a com uma express�o primeiro perturbada, a seguir aterrorizada. Cobrindo os olhos com as duas m�os murmurou, quase chorando: "Sangue... Quanto sangue:� Era in�cio dos anos 1960."Viu" do mesmo modo a morte de Robert Kennedy, que, ao contr�rio de Moro, n�o conhecia sequer atrav�s da imprensa, j� que n�o lia jornais. Descreveu detalhadamente a cena, exprimindo uma piedade profunda por aquele homem "jovem e sorridente� que varava a multid�o convencido de "voar rumo � vit�ria enquanto Deus j� o estava chamando". Por�m a coisa mais surpreendente n�o foi a precis�o dos detalhes, como a alus�o � origem palestina do assassino, filho de "uma ra�a que sofre nas suas carnes", mas sim a certeza expressa pelo vidente de que "o crime poderia ter sido evitado", Havia "pelo menos tr�s pessoas" junto � v�tima que sabiam o que estava para acontecer, segundo padre Pio, e nada fizeram para evit�-lo. O

que coincide com as hip�teses de compl�, que a seguir afloraram em torno dos motivos e mandantes desse delito que permaneceu praticamente insol�vel.

Os �Despeitos� de Satan�s

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Juntamente com outros profetas e iniciados de qualquer �poca, padre Pio

teve a constante adversidade das for�as do mal, seja l� como se o queira entender, que no seu caso materializaram os pr�prios efeitos em agress�es f�sicas, pancadas, terr�veis "despeitos", Ele chamava de "cossacos" esses emiss�rios do dem�nio, que no decorrer da noite realizavam espantosas incurs�es na sua cela, aterrorizando com o seu alvoro�o os outros frades do convento. Seu interlocutor direto, em muitos desses confrontos, era o "cossaco" por excel�ncia, uma personifica��o de Satan�s, que de in�cio tentava conquist�-lo com as mais falsas propostas para depois reagir com

f�ria inaudita �s suas recusas.L�-se em uma carta do frade ao seu pai espiritual sobre uma agress�o "daquele cossaco" que se prolongou das dez da noite at� as cinco da manh�. "N�o fez mais que me golpear continuamente: pensei que aquela ia ser a �itima noite da minha exist�ncia:� Tais tormentos se intensificaram depois que padre Pio recebeu as chagas: "Ca�ram-me em cima como tigres esfomeados, amaldi�oando-me, amea�ando que me fariam pagar caro.

Mantiveram a palavra: a partir da� come�aram a me bater diariamente...�As viol�ncias dos dem�nios provocavam tanto barulho que aterrorizavam n�o somente os confrades de padre Pio, mas tamb�m os moradores das

casas pr�ximas. Decidiu-se uma vez chamar um exorcista, e por algum tempo os fen�menos se interromperam. Uma outra vez, quando estava ainda no mosteiro de Foggia, antes de transferir-se definitivamente para Gargano, foi h�spede dos frades o bispo de Ariano Irpino. O prior do convento, padre Nazareno d'Arpaise, quis p�r o prelado a par, informando-o sobre as estranhas coisas que poderiam acontecer durante a noite. Mas o bispo, homem moderno e atualizado, ironizou seus temores: "Ora, a Idade M�dia j� acabou h� muito tempo! N�o v� me dizer que ainda cr

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� nessas tolices!"

Monges e eremitas s�o, por tradi��o, molestados ou tentados pelos dem�nios, como neste desenho datado de 1512 de Urs Graj

A conversa acabou ali, mas pouco mais tarde, enquanto o bispo ceava com os frades, ouviu-se por todo o convento um precipitar de passos em dire��o ao quarto onde estava trancado padre Pio e um estrondo t�o violento que

parecia uma detona��o. Padre Pio foi encontrado quase desmaiado, empapado de suor. O bispo, aquela noite, n�o quis dormir sozinho.O frade continuou a sofrer de tais dist�rbios por toda a vida; e tamb�m no altar, enquanto dizia a missa, aconteceu-lhe �s vezes ter de ficar atento a "alguma coisa" que tentava impedir o prosseguimento do rito, sobretudo na

proximidade da eleva��o da h�stia. N�o se deve excluir que tais impedimentos pudessem ser atribu�dos a certas interrup��es ou pausas que prolongavam a dura��o da missa por uma hora ou pouco mais.Testemunhos de sacerdotes que o conheceram intimamente fazem crer que as primeiras intromiss�es do Diabo na vida de padre Pio remontam � sua mais tenra inf�ncia. Fala-se de "tormentos diab�licos" desde a idade de quatro anos. O padre Benedito, de S�o Marcos em Lamis, declarou por escrito que "o Diabo se apresentava em figuras horr�veis, com freq��ncia amea�adoras, espantosas", impedindo-o de dormir. O pr�prio padre Pio, ao falar daqueles anos, recordava que quando sua m�e apagava as luzes para

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a noite "e tantos monstros se acercavam de mim, eu chorava". Contava; al�m disso; sobre "um homem vestido de padre" que o esperava � soleira da casa para n�o deix�-lo passar, mas que por�m fugia ao sinal-da-cruz.Mas, junto com os dem�nios, vieram tamb�m naqueles mesmos anos os anjos e os santos. Aos �ncubos se alternaram as vis�es beat�ficas. "Os �xtases e as apari��es come�aram ao quinto ano de idade", anotou padre Agostino, de S�o Marcos em Lamis, no seu di�rio, "e foram cont�nuos. Interrogado sobre como tinha escondido isso por tanto tempo, respondeu candidamente que nunca o havia mencionado porque acreditava que fosse coisa comum, que acontecia com todas as almas:�A literatura sobre a luta entre Satan�s e padre Pio � vasta, e tem o m�rito de ser muito documentada, n�o obstante a particularidade do tema. Tamb�m os epis�dios mais inveross�meis t�m sempre o aval de algu�m que viu, que ouviu, que estava de algum modo presente, para n�o falar dos achados f�sicos sobre o corpo do capuchinho, marcados por hematomas e escoria��es devidos a maus-tratos de todo g�nero.Entre os mais terr�veis relatos em torno dos embates do bom frade com os dem�nios, inclui-se o do aparecimento - n�o vamos chamar de apari��es � de um monstruoso c�o negro num quarto fechado a cadeado do lado de fora. Padre Pio dormia ao lado, e durante a noite ouviu passos al�m da parede, como se algu�m andasse de um lado para outro no quarto. Acreditando que fosse um frade que n�o conseguia dormir ou estivesse passando mal, levantou-se para peguntar-lhe atrav�s da janela se precisava de alguma coisa. Mal havia chamado do peitoril, toda a resposta que ouviu do interior foi um terr�vel latido. Teve o tempo justo para recuar e viu saltar pela janela uma besta de propor��es enormes, de p�lo liso, negr�ssimo, que antes de fugir pelos telhados se voltou na dire��o dele mostrando dois olhos em brasa. O c�o desapareceu na noite. Constatou-se

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na manh� seguinte que o quarto anexo estava fechado h� meses.Mas o Diabo n�o se dedicava apenas a traumatizar o seu inimigo aparecendo-lhe nas formas mais horr�veis. N�o deixava de apoquent�-lo, como � tradi��o diab�lica em rela��o �s almas pias, com "brincadeiras" que submetiam a duras provas sua paci�ncia. Interferia, sobretudo, na correspond�ncia de padre Pio, tentando isol�-lo daqueles com os quais

tinha liga��es de sintonia espiritual. Uma vez fez desaparecer o texto de uma carta que o frade esperava ansiosamente de seu mestre espiritual. � abertura do envelope, a folha apareceu totalmente em branco. Uma outra vez, a escrita tornou-se ileg�vel por uma repentina mancha de tinta, que se derramara por toda a folha. Mas desta vez padre Pio pegou o aspers�rio e

borrifou a carta com �gua benta, fazendo sumir a mancha e reaparecer a escrita.Tamb�m disso existe documenta��o escrita pelo pr�prio punho de padre Pio, que relatou o ocorrido ao seu correspondente. Al�m do mais, estava presente � abertura das missivas o monsenhor Salvatore Pannullo, arcipreste de Foggia, que confirmou o acontecido. Estava presente tamb�m uma terceira vez, quando padre Pio recebeu uma carta em grego.Esperava-se que o frade recorresse a algu�m que a traduzisse, mas em vez disso ele come�ou tranq�ilamente a l�-la.- Conhece grego? - perguntou-lhe ent�o o arcipreste, com uma ponta de estupor.- N�o - respondeu padre Pio com a maior naturalidade. - Meu anjo da guarda traduziu para mim. Voando sobre Gargano

Atribui-se a padre Pio uma profecia sobre a reconvers�o da Inglaterra � religi�o cat�lica. Viu-se como um vatic�nio do g�nero, antecipado por outros videntes antes dele, encontra hoje uma certa correla��o no evolui

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r do processo ecum�nico pela reunifica��o das igrejas crist�s, apressado a seu tempo pelo papa, mas tamb�m - no que diz respeito especialmente � Igreja anglicana - num renovado interesse dos fi�is anglo-sax�es pelo ritual romano, desejosos, como a pobre princesa Diana, de assistir a cerim�nias

lit�rgicas tradicionais.A profecia remonta � d�cada de 1920, e � interessante o contexto na qual foi pronunciada. Deu-se durante uma conversa entre um pastor protestante regressado das miss�es africanas e um grupo de frades cat�licos, entre os quais padre Pio. Falou-se de milagres, e o mission�rio anglicano disse que tamb�m entre os seus pastores havia alguns capazes de realiz�-los. Um dos capuchinhos negou essa possibilidade. Padre Pio, por sua vez, deu raz�o ao protestante:- � Deus quem faz os milagres, e os faz para quem bem entende. Pode, portanto, se sair muito bem uma alma boa que o invoque sinceramente pelas pr�prias necessidades.- Mas a gra�a... - objetou o frade.- Existem muitas almas boas entre os protestantes - respondeu padre Pio -, como nem sempre elas s�o encontradas entre n�s, que temos a sorte de

conhecer toda a verdade e n�o uma parte... Conheci muitas santas criaturas, inglesas e americanas, provenientes do protestantismo.- E elas acham poss�vel - perguntou neste ponto o pastor ingl�s � a convers�o da Inglaterra?- Sim, a Inglaterra se converter�, mas n�o toda ela... Os ingleses se converter�o pouco a pouco.� uma hip�tese que hoje, oitenta anos depois da predi��o, parece nada mais que remota. O refluxo dos ingleses no catolicismo, se houver, ser� lento e gradual. Ocorrer� "pouco a pouco", como disse padre Pio.Seu interlocutor anglicano foi o primeiro. Tornou-se cat�lico depois

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daquela conversa, dando assim um sinal da credibilidade sobre a qual se apoiava a predi��o formulada pelo capuchinho com tanta simplicidade e respeito pelas convic��es religiosas alheias. Nos anos seguintes, outros protestantes passaram ao catolicismo atrav�s do contato com padre Pio. A mais espantosa dessas convers�es teve por protagonista um oficial da for�a a�rea americana, estacionado em B�ri logo depois da guerra.O oficial esteve no centro de um epis�dio entre os mais estranhos do �ltimo conflito. Tendo que bombardear um posto militar alem�o no Gargano, nas imedia��es do povoado de San Giovanni Rotondo, havia quase alcan�ado o alvo no comando de uma esquadrilha de bombardeiros. Estava previsto, para n�o errar o objetivo, um cl�ssico bombardeio de varredura, segundo os c�nones t�ticos observados � �poca pelas for�as a�reas aliadas. O pre�o em vidas humanas, entre a popula��o civil, seria elevado. Mas poucos segundos antes de lan�ar a mort�fera carga de bombas, quando j� estavam sobre o povoado de San Giovanni, os pilotos americanos viram destacar-se diante deles no c�u a gigantesca figura de um frade que agitava os bra�os, enquanto a instrumenta��o, como enlouquecida, indicava uma mudan�a de rota.E de fato era aquilo que estava acontecendo: os aparelhos se desviaram sem

responder aos comandos dos pilotos, despejando sua carga de bombas sobre

uma �rea desabitada dos bosques circundantes.O depoimento dos outros pilotos envolvidos no inveross�mil epis�dio salvou com toda certeza seu comandante da corte marcial, mas depois da guerra, sendo designado para o quartel-general de B�ri, o oficial quis visitar San Giovanni Rotondo, onde lhe foi dito que havia um santu�rio e um frade com sinais de santidade, capaz de extraordin�rios milagres.

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Acompanhou-o o general italiano Bernardo Rosini, ao qual se deve este testemunho. Foram com eles alguns pilotos que haviam participado da a��o sobre o Gargano. Bem, t�o logo o oficial americano entrou na sacristia com seu s�quito, padre Pio foi ao seu encontro abrindo os bra�os e, em dialeto beneventano lhe disse: "Ah, ent�o �s aquele que queria matar todo mundo!..."O americano, empalidecendo, se ajoelhou a seus p�s. Padre Pio o fez levantar. Os dois conversaram por um longo tempo e se tornaram amigos. A convers�o - n�o s� do oficial, mas dos outros pilotos - foi o ep�logo natural do encontro. Permanece um mist�rio a l�ngua atrav�s da qual se comunicaram o frade e o oficial americano, pois este n�o entendia uma palavra de italiano e muito menos daquele complicado dialeto com que padre Pio o havia saudado ao "rev�-lo". Mas a quem quer que lhe perguntasse o oficial sempre respondeu que padre Pio se dirigira a ele em ingl�s.32F�tima al�m de F�tima

Iniciamos por F�tima, a profecia mais tr�gica e popular do s�culo XX, entre as mais alarmantes de todos os tempos, e n�o somente para os crist�os, mas para tantos fi�is de outros cultos, envolvidos em uma id�ntica �nsia de conhecer aquele "terceiro segredo" sobre o qual foram formuladas at� agora as mais tremendas hip�teses. Partimos de F�tima, um mist�rio cat�lico que pertence ao mundo inteiro, em torno do qual existem intrincadas reivindica��es �s vezes surpreendentes, mas legitimadas por uma participa��o real naquele mesmo mist�rio, dignas, portanto, de

respeito, como no caso dos aiatol�s citados, convencidos de que a Senhora da apari��o seja uma santa mu�ulmana e, como tal, escutada. Partimos de F�tima, porque muitos elementos da profecia induzem a procurar um elo,

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a identificar o fio de uma continuidade com as grandes revela��es apocal�pticas do passado, principalmente a de Jo�o, mas sem desprezar as contribui��es dos profetas b�blicos e de qualquer outra religi�o, documentadas das escrituras antigas ou da boca do povo, de mitos e lendas de origem inclusive pag�, mas em todo caso convergentes no sentido de uma vis�o comum dos destinos finais do homem.O itiner�rio percorrido atrav�s das grandes profecias de cada tempo e pa�s - e tamb�m as pequenas, que em certos casos representam uma gema��o das maiores, �teis para a compreens�o delas - oferece pontos de sustenta��o de uma hip�tese do g�nero, ou seja, que F�tima possa ser lida, sem nada tolher da originalidade divina da mensagem, como quintess�ncia escatol�gica da hist�ria do homem. Falamos de pontos de sustenta��o, � bom repetir, mas n�o de demonstra��o, de uma possibilidade totalmente intuitiva e aleat�ria, longe de qualquer certeza, que n�o nasce de uma tese nem tende a constituir uma; e que n�o fere a ess�ncia misteriosa do evento ao qual se refere, mas tenta favorecer sua compreens�o, nos limites profanos em que � poss�vel, at� mesmo atrav�s de interroga��es destinadas a permanecer, por sua natureza, sem resposta.Partimos de F�tima, em definitivo, para n�o achar outra possibilidade de concluir o itiner�rio sen�o voltando a F�tima. O que, para uma viagem que queria ser de simples reconhecimento hist�rico, e n�o o foi, pareceria um sinal pelo menos extravagante. A prova daquela imprevisibilidade que, por for�a de coisas que se devem levar em conta quando nos aventuramos, mesmo com a cautela do cronista, vai al�m da soleira da percep��o. O vidente do Liri

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O esp�rito de F�tima � uma s�ntese de horrores e ternura, no qual o espanto se entrela�a � esperan�a, mantendo inalterado o equil�brio entre a amea�a do castigo e a possibilidade de evit�-lo, entre a justa ira do Pai e o indulgente amor da M�e.Tamb�m os primitivos apocalipses, como se viu, baseavam-se em um equil�brio an�logo, pelo qual a pena era sempre equilibrada por uma hip�tese salvadora. Sem, por�m, a do�ura de F�tima, em cuja mensagem h� uma corda a mais. A do amor.� uma corda que j� vibrou, antes de F�tima, em outras ocasi�es de exalta��o m�stica, e continua sempre a vibrar numa sucess�o de fen�menos que reprop�em o eco em outro lugar - e de outras maneiras, em formas m�ltiplas, mas assimil�veis a um mesmo des�gnio - sobre o fio de uma tradi��o prof�tica que tem ra�zes milenares, mas rebentos nov�ssimos, de flora��o totalmente imprevis�vel. Vibrou em Lourdes e Medjugorje, com �xitos de resson�ncia mundial, mas tamb�m em uma infinidade de outros lugares que a devo��o popular considera agora "santos". Um dia talvez surgir�o santu�rios nesses lugares, ou n�o, mas o certo � que aquilo que ali acontece envolve videntes e devotos os mais diversos por cultura e extra��o, todos igualmente animados daquele esp�rito de F�tima no qual n�o existe s� a excita��o da f�, mas a necessidade �ntima de ter acesso a verdades imperscrut�veis.Ao esp�rito de F�tima pareceria por muitos aspectos conect�vel o que h� dez anos acontece em Isola del Liri, uma nobre cidade pequena de grandes mem�rias renascentistas no cora��o do L�cio, a uns 30km de Frosinone, onde um homem j� anci�o mas de for�a extraordin�ria, tamb�m no sentido f�sico, para as provas �s quais � submetido, recebe "mensagens" de t

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eor dram�tico e ao mesmo tempo salvador de entidades que se manifestam no semblante da Virgem Maria, de Jesus e do pr�prio Deus Pai. As vis�es

acontecem no decorrer de �xtases com freq��ncia, cruentos, acompanhados de fen�menos e rea��es f�sicas reconduz�veis � cristologia da Paix�o, como estigmas, chagas, tumefa��es e outros sinais de mart�rio. Mas n�o obstante certas apar�ncias comuns a toda uma casu�stica de interesse religioso e antropol�gico, o caso deste estigmatizado de complei��o robusta e rosto franco, de belas fei��es e olhos claros, chamado Albino Reale e nascido em 1920 em Arpino, apresenta caracter�sticas pr�prias e incomuns, que exigiram a aten��o de m�dicos, psiquiatras e autoridades eclesi�sticas. Com �xitos surpreendentes, tanto no que se refere � natureza dos estigmas no corpo de Albino quanto aos seus estados de �xtase.Atestam isso os laudos periciais assinados por m�dicos ilustres, agora nos autos da comiss�o diocesana institu�da (e presidida) por monsenhor Luca Brandolini, bispo de Sora.O neuropsic�logo Adriano Paolini, membro laico da comiss�o, assegura que Albino "n�o � um iludido nem um mentiroso, mas um homem extremamente confi�vel", que, submetido aos mesmos exames efetuados na sua �poca em padre Pio, n�o se provou "nem esquizofr�nico nem delirante, nem propenso a psicoses ou outras patologias". Acrescenta que "certamente

em boa-f� produz fen�menos inexplic�veis em cada n�vel", dos quais � provavelmente apenas o meio de transmiss�o, pois s�o devidos a "algo que se desencadeia por si s�, sem ser desejado nem procurado por ele". Mas

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deve-se excluir taxativamente, conclui, que a origem do caso possa ser uma

s�ndrome hist�rica. E Paolini, que se gaba de uma prolongada experi�ncia de estudo em torno de fen�menos considerados extraordin�rios, com especial refer�ncia �queles de interesse eclesi�stico, esteve tamb�m entre os especialistas naquela �poca interpelados sobre as chagas de padre Pio.

A ci�ncia al�m da f�

No caso de Albino Reale houve acertos tanto em rela��o �s vis�es quanto �s les�es sobre o corpo. No que se refere �s primeiras, os testes feitos por Paolini, especialista em hipnologia, demonstraram que Albino "n�o � paciente sugestion�vel nem hipnotiz�vel" e que recebe suas mensagens" em estado de consci�ncia alterada". Em uma condi��o, isto �, que no seu caso parece como "a resultante de um transe no qual confluem as caracter�sticas do �xtase m�stico, da mediunidade e do sono hipn�tico, n�o aquelas da possess�o diab�lica".Esta �ltima distin��o, fundamental em fen�menos do g�nero, tornou-se poss�vel atrav�s de encefalogramas, efetuados pelo neurofisi�logo Marco Margnelli de Mil�o, que permitem identificar as caracter�sticas sintom�ticas dos diversos estados de consci�ncia atrav�s de par�metros como a sensa��o de beatitude (presente nos fen�menos ext�ticos, ausentes nos diab�licos) ou a atividade ideomotora (ausente nos ext�ticos, presentes nos possu�dos), o desdobramento da personalidade (t�pico da possess�o, jamais revelado no �xtase), a modalidade da entrada em transe (repentina

no �xtase, progressiva na possess�o). Concorrem para estabelecer tais diferen�as an�lises neuro-hormonais (por exemplo, aumento da atividade

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adrenal�nica no transe ext�tico ou diab�lico, diminui��o na medi�nica ou hipn�tica), processos neurofisiol�gicos (nada de suor no �xtase, freq�ente na possess�o, sempre na hipnose) e rea��es musculares vis�veis ou de outra natureza.Quanto aos estigmas e outras les�es, o dr. Adolfo Panfili, da Universidade Cat�lica de Roma, presidente da Associa��o Internacional de Medicina Ortomolecular (AIMO), atesta que se trata de "feridas topograficamente correspondentes � da crucifica��o do Cristo", situ�veis "no contexto dos sessenta casos analogamente documentados no mundo [...] de 1930 a hoje, segundo o crit�rio de avalia��o, universalmente reconhecido pelos institutos eclesi�sticos e cient�ficos, de Thurston".� um atestado t�o diligente e t�o corajoso do ponto de vista cient�fico, que opr�prio bispo Brandolini deve ter ficado sem espa�o, tanto que at� agora evitou pronunciar-se sobre o caso, neste ponto fiel � tradicional cautela da Igreja. Os outros m�dicos, por sua vez, compartilham abertamente o conte�do. Para Paolini, as les�es no corpo de Albino Reale s�o "absolutamente espont�neas", pois as an�lises a que foram submetidas

mostrariam qualquer tentativa de provoc�-las por meio de corte ou perfura��o. Para Margnelli, que defendeu com unhas e dentes a excepcionalidade do fen�meno durante um animado debate do programa

televisivo Misteri, na RAI-2, n�o apenas o "caso Reale" apresenta aspectos totalmente inexplic�veis � luz dos atuais conhecimentos cient�ficos, como tamb�m aparece assinalado por particularidades que excluem qualquer suspeita de demonismo ou mistifica��o, tornando-o digno de especial aten��o.Exprime esta particularidade com total evid�ncia o fato, por si s� paradoxal, de que s�o os cientistas a ser impelidos, em vez do bispo, para o

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terreno da imponderabilidade, e que seja o bispo, por sua vez, a se refrear, como se preocupado n�o tanto com a eventualidade de uma fraude, mas sim com algo similar a uma onda capaz de arrastar os fi�is para longe da ortodoxia. �, por�m, uma eventualidade que parece remota para o dr. Paolini: no fundo, diz ele, na casa de Albino se reza e se realizam obras de convers�o, �s vezes de cura, sem se aceitar ofertas de qualquer esp�cie, raz�o pela qual deve-se excluir a finalidade de lucro. A documenta��o engloba numerosos casos de mudan�a radical de vida: casais reunidos depois de per�odos traum�ticos de separa��o, alco�licos e drogados que abandonam o v�cio, gente de vida desregrada que reencontrou um equil�brio civil.Admite, por�m, deixando responsavelmente ao bispo a �ltima palavra, que o parecer dos m�dicos representa "apenas uma verdade cient�fica, n�o religiosa".

A economia do para�so

Al�m desta "verdade cient�fica" e das suas particularidades, o que h� de realmente in�dito no caso �, por um lado, a personalidade do vidente, homem originalmente carente de impulsos ascetas, dedicado ao seu trabalho de oper�rio na f�brica de papel de Isola del Liri e ao amor por uma esposa que lhe dera duas filhas, depois gradualmente chamado � vida m�stica, ao sofrimento f�sico, ao recebimento de mensagens prof�ticas; por outro, a "qualidade" destas �ltimas, que retomam com uma especial coer�ncia o fio de tudo que foi dito em F�tima e durante outros hist�ricos encontros marianos, ligando entre si predi��es diversas para extrair um �nico suco, com o preciso mandato de divulg�-lo para qualquer um que seja posto a par.Aqueles que receberam a mensagem t�m o dever de faz�-la circular. O

imperativo da Madona, em uma apari��o de 15 de julho de 1990, baseia

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-se numa l�gica desconcertante na sua elementar simplicidade: "J� que sabem, t�m a obriga��o de avisar os outros." Consegue que "por esta raz�o, como ap�stolos, devem falar e pregar". A advert�ncia � firme, mas razo�vel: "Falai e, se n�o vos escutam, n�o faleis mais. Fizestes o que era poss�vel...�Numa outra apari��o, em 23 de dezembro de 1992, Maria explica que "a difus�o das mensagens � obra da caridade, de apostolado, pois o conhecimento delas em muitas pessoas d� frutos inesperados de bem", visto que "estas pessoas, depois de terem lido alguma informa��o sobre apari��es decidem-se a pregar mais, fazer mortifica��es, praticar mais os mandamentos, buscar a palavra de Deus...�Convida, portanto, "tu que chegaste a este ponto na leitura da mensagem" a

"divulg�-la entre teus amigos e conhecidos". Suas raz�es s�o sustentadas pelo bom senso, al�m de uma imensa piedade pelo g�nero humano: "Calcula: se um em vinte ou em cem extra�sse uma vantagem espiritual, terias contribu�do para cumprir uma a��o que tem eternas repercuss�es..."� a economia da salva��o e da perdi��o, em que os c�lculos podem produzir dana��o ou beatitude. Ao confront�-los, a Virgem se mostra dulc�ssima ou atormentada, �s vezes humanamente desiludida: est� "muito descontente", confidencia certa vez a Albino, em 17 de janeiro de 1993, "porque n�o foi levada a s�rio a sua mensagem de 1917".� a Madona de F�tima que fala, nesta e em outras ocasi�es, mas n�o � a �nica forma na qual gosta de manifestar-se ao vidente. N�o desdenha mudar de traje, para diz�-la em termos profanos, evocando nas suas apari��es perfis iconogr�ficos diversos, report�veis �s tantas formas nas quais a devo��o popular se expressa. Uma vez � a Madona de Lourdes,

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outra vez de Pomp�ia, depois de Medjugorje, de Loreto, de F�tima. Embora "sempre ela, uma s�", assinala Albino na sua candura.� uma outra singularidade do caso, devida talvez � tentativa de corresponder-se com os fi�is atrav�s das m�ltiplas fantasias que o imagin�rio cat�lico produziu, e nas quais foi prodigiosamente atendido. Mas entre todas � Maria de F�tima aquela que podemos chamar de "a dona da casa" na habita��o-santu�rio do Liri. � ela o estopim que pela primeira vez faz explodir em vis�o a centelha prof�tica de Albino. N�o deixa d�vida a respeito a apari��o de 11 de dezembro de 1993, no decorrer da qual a Virgem diz ver "tanta gente que chega de toda parte para visitar este lugar escolhido e aben�oado pelo Pai celeste: Isola del Liri se torna a segunda F�tima e toda a cidade deve ser transformada com o passar do tempo".Em 17 de novembro de 1994, Jesus confirma: "Aqui em Isola del Liri ser� constru�do um santu�rio em honra de minha M�e:�� o aval vision�rio daquilo que representa nesta saga prof�tica - da qual Albino n�o � mais que um elo, e Liri uma etapa - o esp�rito de F�tima, que afinal � o mesmo de Lourdes, de La Salette, de Medjugorje. O que se mant�m bem presente, pois a diversifica��o � sempre apenas virtual, e a Madona - seja l� como se queira cham�-la -, uma s�.Albino a descreve "muito jovem, de carna��o clara, loura, com olhos celestes". Os cabelos tendem algumas vezes a escurecer, mas prevalecem sempre na imagem os tons claros. Tem uma voz t�nue, dulc�ssima. Jesus por sua vez � severo: "Quando a gente o v�, fica espantado", diz Albino. � austero, imponente, robusto: "Um homem bem alto, com 1,93 m.� Como

ele pode saber com tanta exatid�o? "Ele me disse, uma vez em que me pegou pela m�o e me levou para caminhar sobre um mome."

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Anjos e beatos �s portas do c�u em uma gravura de Jacques Caillot para o Livro dos Santos, 1636.E como � fisicamente Deus Pai? Por manual: "Velho, velh�ssimo, com uma grande barba branca:� Tem uma voz que ribomba como um trov�o: "Quando me fala, a casa toda treme:�Aparecem separadamente, mas �s vezes juntos, ou tamb�m acompanhados por outros santos, � como se o teto se escancarasse, diz Albino, e se formasse sobre ele "uma grande nuvem luminosa, uma esp�cie de arco-�ris", na qual v�o se delineando distintamente as fisionomias dos v�rios personagens. Entre estes, "O arcanjo Miguel e s�o Pedro, Rita de C�ssia, Francisco de Assis, padre Pio...�.

Os treze �segredos� de Albino

A insist�ncia com que as figuras aparecem em vis�o e voltam a assinalar a obriga��o de divulgar as mensagens, para qualquer um que delas tenha

conhecimento, pareceria um outro sinal do nexo com F�tima. Um dos elementos por que h� tanto clamor em torno do "terceiro segredo" � a insistente retic�ncia dos pont�fices (sete) em tornar p�blico o conte�do, em contraste com aquelas que pareceriam ser as diretrizes do c�u. N�o se entende, de fato, por que a Madona se incomodaria em transmitir uma mensagem de interesse universal para v�-la depois bloqueada exatamente

pelo "vig�rio" de seu Filho, institucionalmente designado para a execu��o da vontade de Deus na terra. Por outro lado, entende-se por que esteja aborrecida, como diz na apari��o de 17 de janeiro de 1993, diante da desaten��o com que sua palavra foi recebida. E entende-se que sobre o

mesmo conceito insistem tanto Jesus quanto o Deus Pai."Cada coisa que desta nossa voz vos � comunicada para a gl�ria de Deus, tendes o dever de difundi-la e n�o cont�-la inativa no vosso cora��o", diz o

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Cristo a Albino em um �xtase no dia 19 de abril de 1992. "Quem possui, porque recebeu do Senhor, deve ser portador para o pr�prio irm�o e n�o fechar-se na alegria da posse da voz do Senhor ou dos seus servos, mas reparti-la com os outros. [...] L� e faze difundir estas mensagens, porque nestas mensagens existe a riqueza da palavra do Senhor, e para que outros possam gozar da paz que delas emana.�Acrescenta em uma outra vis�o, em 3 de outubro de 1993, que para difundir as mensagens de Maria "todos os meios � disposi��o s�o bons: livros, textos datilografados, jornais...�.Mas n�o existe uma contradi��o no fato de que exatamente a mais perturbadora destas mensagens, aquela considerada at� hoje decisiva em rela��o a cada outra profecia, esteja encerrada h� oitenta anos na caixa-forte do papa? � evidente que sim, a ponto de a pr�pria Virgem confessar o veto pontifical, revelando a Albino que "o famoso terceiro segredo de F�tima" seria j� praticamente conhecido desde 1963. Tratar-se-ia do mesmo documento enviado, "a t�tulo informativo", pelas autoridades do Vaticano aos EUA, Uni�o Sovi�tica e Inglaterra, insistindo ser "necess�rio, ou melhor, indispens�vel, a convers�o e a cessa��o das experi�ncias nucleares". Deram-lhes com anteced�ncia o texto, que Maria reprop�e na sua apari��o de 23 de agosto de 1992, sem varia��es acerca do que foi relatado � �poca nos jornais.Mas ent�o, se o "segredo" � aquele j� publicado, por que os papas se obstinam em n�o querer falar? Exatamente por isso, a rigor de l�gica. Por que continuaram a mant�-lo secreto quando na verdade j� n�o o era mais? Como justificar, se assim corressem as coisas, todas aquelas afirma��es sobre a inconveni�ncia de divulg�-lo por causa do seu tremendo conte�do? Por que todo este zelo em quererem aparecer a todo custo como deposit�rios quando o segredo j� era de dom�nio p�blico? Pergunt

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as que, por�m, s� fazem sentido se os fatos realmente correram daquele modo e se o texto aut�ntico � aquele do qual se tem conhecimento. Do que, � parte as coisas ditas em vis�es pela Madona de Albino, n�o se tem prova alguma.Mas Albino tamb�m tem os seus segredos: treze coisas a dizer sobre destinos futuros do homem, que por enquanto n�o pode revelar porque foi proibido pelas pr�prias entidades que as revelaram.Mas n�o obstante o segredo e seus treze fatos espec�ficos, transparece das vis�es um conjunto desolador. "A batalha est� entrando nos seus momentos decisivos", anuncia a Virgem em uma profecia datada de 3 de maio de 1993; e recomenda: "Invocai com freq��ncia a prote��o de s�o Miguel, que � o chefe de todo este ex�rcito formado pelos anjos e pelos santos, pelas almas em purga��o e por v�s, para lutar contra o dem�nio e os maus esp�ritos�.Acrescenta: "O tempo do meu triunfo chegou, pois o �pice do poder de Satan�s chegou�.Outras entidades se interp�em. S�o Pedro diz que "estes s�o os tempos mais dif�ceis que j� existiram desde a cria��o do mundo" (12 de dezembro de 1993). O arcanjo Miguel refor�a aquilo que a Virgem j� disse, ou seja,

invoc�-lo: �S� as preces dos homens acendem esta minha espada que se torna forte, e consigo derrotar o mal que existe no mundo inteiro. Eis por que a Virgem Maria, a nossa rainha, insiste em: rezar, rezar, rezar! (...) S� com as vossas preces conseguireis manter acesa a minha poderosa espada.� (9 de novembro de 1994)Tr�s dias depois interv�m o Deus Pai, com a autoridade desolada de um genitor a ponto de ter que adotar as medidas mais duras em rela��o a u

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ma prole incorrig�vel. Nos seus �xtases, Albino o chama de Jahw�. S�o 4h45. Extenuado pelas copiosas perdas de sangue, o vidente transcreve as palavras: "Filhos meus, tudo est� se cumprindo segundo a Escritura. Concedi um pouco de tempo a minha esposa Maria sant�ssima para que pudesse fazer a humanidade compreender que a �poca do fim dos tempos

est� �s portas. A maior parte n�o quis acreditar, n�o quis se penitenciar, n�o quis rezar com o cora��o sincero. [...] Sou obrigado a intervir para salvar aqueles que me permaneceram fi�is nas prova��es. Grandes castigos est�o para atingir toda a humanidade, porque estou por demais ofendido pela sua indiferen�a."Sobre o rigor do pai, apesar de tudo, prevalece o amor pela sua prole extraviada, � qual dirige uma palavra de encorajamento: "Pe�o-vos, filhos que cr�em na minha palavra de verdade, nunca temais, porque eu, o onipresente Jahw�, estou sempre convosco, at� o fim dos tempos, e vos aben��o."

Os sinais

Para que cada um esteja preparado e em condi��es de salvar-se quando sobrevier a cat�stofre, Maria revela os sinais atrav�s dos quais se possa reconhec�-la. S�o sinais, diz, j� claramente indicados nos Evangelhos e nas cartas dos santos Pedro e Paulo, que come�aram a mostrar-se nestes anos. Escolhe a �ltima noite de 1993 para comunicar isto a ele. S�o cinco horas. Dirige-se a Albino como "mam�e celeste e profetisa destes �ltimos tempos":

O primeiro sinal � a difus�o dos erros que levam � perda da f� e � apostasia. S�o erros propagados por falsos mestres, por falsos te�logos que n�o

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ensinam mais a verdade do Evangelho, mas sim perniciosas heresias. [...] O

segundo sinal diz respeito ao irromper de guerras e de lutas fratricidas, que levar�o ao predom�nio da viol�ncia e do �dio e a um esfriamento geral da caridade, enquanto se tornar�o mais freq�entes as cat�strofes naturais, como epidemias, escassez, inunda��es e terremotos. [...] O terceiro sinal ser� a sangrenta persegui��o daqueles que se manter�o fi�is a Jesus e ao seu Evangelho e permanecer�o fortes na f�. [...] O quarto sinal ser� o horr�vel sacrif�cio consumado por aquele que se opor� a Cristo, ou seja, o Anticristo. Entrar� no templo santo de Deus. Vir� para colocar-se contra tudo aquilo que os homens adoram e chamam Deus. Vir� com o poder de

Satan�s, com toda a for�a de falsos milagres e falsos prod�gios, usar� cada tipo de logro para fazer o mal. [...] O quinto sinal � constitu�do por fen�menos extraordin�rios, que ocorrer�o no firmamento do c�u: o sol escurecer�, a lua perder� seu esplendor, as estrelas cair�o do c�u e os poderes celestiais ser�o transtornados. O milagre do sol, ocorrido em F�tima durante a minha apari��o, quer indicar-vos que agora entrastes nos tempos em que se cumprir�o estas advert�ncias, que vos preparar�o para o retorno de Jesus na gl�ria. Ent�o se ver� no c�u o sinal do Filho do homem: todos os povos da terra chorar�o e ver�o o Filho do homem subir �s nuvens do c�u com grande poder e esplendor.

Mas a batalha realmente decisiva, como se sabe pela antiga tradi��o, � aquela empreendida por Satan�s para desagregar a Igreja e assumir o dom�nio. O tema volta nas profecias de Albino como naqueles dos s�cu

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los precedentes. "Dize-o, Albino!", exorta a Senhora de F�tima em uma apari��o em 17 de janeiro de 1993. "Dize que o dem�nio est� ganhando a batalha decisiva. [...] O dem�nio quer dominar as almas consagradas [dos

sacerdotes] e trabalha para corromp�-los, para induzir os outros � impenit�ncia final, e utiliza todas as ast�cias, sugerindo por fim p�r em dia a vida religiosa: al�m da esterilidade interior. [...] Filhos meus, ou estamos com Deus ou estamos com o dem�nio."Significativo � o aceno para p�r em dia a vida religiosa, sin�nimo de decad�ncia e perda do sentido da tradi��o, agora fendida por inova��es que cada vez mais a afastam do ensino evang�lico. J� o disseram outros profetas, n�o apenas na idade moderna, preparando com s�culos de antecipa��o a aboli��o da missa em latim e outras reformas lit�rgicas, tendentes segundo eles a aviltar a sacralidade do rito.

Como reconhecer os servidores de Satan�s

O constante apelo ao clero para cuidar dos pr�prios deveres � um outro

ponto de continuidade e de contato tem�tico com F�tima. � recorrente nas mensagens recebidas por Albino o desconcerto divino por um arrefecimento do zelo eclesi�stico que cada vez mais degenera em uma esp�cie de destacada aquiesc�ncia, quase uma rendi��o em rela��o �quilo que as modas imp�em. N�o uma rendi��omansa, mas medrosa: �toler�ncia�, � como a chama Jesus em uma apari��o em 16 de outubro de 1992, mas trata-se de "uma toler�ncia que faz envergonhar e enrubescer quem verdadeiramente reza". Uma rendi��o, portanto, em mat�ria de f�, que investe o estilo na prece.A mensagem � de uma brevidade essencial, mas com acentos quase l�ricos, cadenciada pelo pranto que lhe destaca o conte�do: "Chora o meu coraï¿

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½ï¿½o pelos meus sacerdotes, fiadores da minha palavra. Chora ao ver a toler�ncia deles, que jaz envergonhar e enrubescer quem realmente reza fundindo-se com o Esp�rito de meu Pai." Dois meses depois, uma mensagem menos dolente na apar�ncia, por�m mais seca no desapontamento que exprime: "Que fa�o eu dos pastores que descuidam do rebanho? Dever�o me prestar contas e perecer�o vergonhosamente�. � mais uma vez a vergonha, como se v�, o par�metro da mal-entendida toler�ncia.Apari��es sucessivas, n�o apenas de Jesus, mas de Maria na diversidade dos t�tulos que lhe s�o atribu�dos pela devo��o popular, de "Virgem imaculada", "Consoladora dos aflitos", "Maria sant�ssima das gra�as" e assim por diante, delineando um quadro tendente a mostrar nos detalhes a exist�ncia de um plano preciso das for�as do mal para sufocar as do bem. Mas � um plano, ver-se-� enfim, que serve a estas �ltimas para triunfar sobre as primeiras.Montando entre si os elementos projetados nas v�rias mensagens, evidencia-se que existe "uma grande apostasia" em a��o. Seu objetivo

principal � permitir "que o mist�rio da iniq�idade entre no templo santo de Deus". Mas com a apostasia tem in�cio tamb�m uma era de "grande purifica��o", que dever� consumar-se atrav�s das duas fases sucessivas da "grande tribula��o da qual fala a divina Escritura" e do "grande castigo que prepara a segunda gloriosa vinda do Filho". Em prepara��o para a batalha final, o Pai "est� separando o bem do mal, a luz das trevas; est� para tolher a liberdade a Satan�s, aos dem�nios e a todas as for�as do mal". Por isso, "nestes dias se manifestar�o com grande poder toda a sua for�a malvada"

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contra o verdadeiro povo de Deus. O equ�voco n�o � mais poss�vel, pois a separa��o operada pelo onipotente Jahw� ser� n�tida: "Todos aqueles irm�os que est�o na luz estar�o nos pr�ximos dias plenos de Esp�rito Santo, doado por Deus Pai. Todos aqueles que est�o na treva ser�o escravos de Satan�s, que far� deles o que quiser, porque n�o ser�o mais eles a decidir, mas ser�o as for�as do mal a operar neles.�Como ser� poss�vel reconhec�-los? "Das obras dele sabereis que s�o escravos de Satan�s�.N�o ser� simples defender-se da sua nefasta influ�ncia, pois "nestes �ltimosmeses, antes do encerramento definitivo da era do mal, o dem�nio tenta penetrar nas vossas mentes, mas tamb�m no vosso cora��o, na confus�o dos pensamentos e dos sentimentos, com o �nico objetivo de enfraquecer a vossa f�". � marcante que o vidente, ao se referir a esta cr�nica assim como a aprendeu em vis�o, n�o fale de "�ltimos meses" de uma era futura, mas "destes �ltimos meses", usando o verbo em um presente de tom real�stico, n�o metaf�rico, bem enraizado em uma atualidade que nem todos est�o ainda em condi��o de reconhecer.A verdade gritada pela Virgem � que seu inimigo Satan�s "sabe que resta para ele pouco tempo e � por isso que se desencadeou com todos os seus ex�rcitos de anjos rebeldes sobre cada fam�lia".�s terrificantes perspectivas das prova��es que defini��es como a "grande purifica��o", ou "tribula��o", ou "castigo" deixam entrever se contrap�em, por�m, como se d� na tradi��o prof�tica mariana, certezas tranq�ilizadoras. "Na tempestade que est� vindo estarei sempre convosco", diz Maria de F�tima a Albino. "Cegarei Satan�s com a minha prece. (...) Sou a vossa

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M�e, posso e quero ajudar-vos. Vereis em toda parte o fulgor que ilumina o c�u e a terra. Com ele despertarei quem est� adormecido e iluminarei quem est� no escuro�.E Cristo, por sua vez: "N�o me obrigueis a ser juiz, sou o amigo eterno e o amor absoluto. Glorificai-me com a vossa exist�ncia�. Com o convite para repetir, de dia, de noite, quanto mais vezes for poss�vel: "Se Jesus est�

conosco, podemos tudo, tudo, tudo.�Em troca, promete: "Eu n�o vos deixo. N�o vos deixo sozinho e assustados, e vos darei presentes cada vez maiores.�A recomenda��o � uma s� para todos: "N�o sejais colhidos de surpresa�.Para os sacerdotes h� um incitamento especial para "pregar o poderio de Satan�s a fim de poder exaltar o poderio infinito de Deus". Serve para evidenciar que tamb�m atrav�s das tramas do Diabo se realiza enfim o

projeto divino. Vale para isso aquilo que disse Maria comunicando que o tempo do seu triunfo era chegado, visto que o de Satan�s estava no �pice.Existe, pois, sempre para o clero, uma advert�ncia que parece ali formulada para a consola��o do vidente, obrigado tamb�m ele a topar, como qualquer outro profeta ou sensitivo envolvido em fen�menos de origem incerta, com a incredulidade quando n�o exatamente com a aberta hostilidade eclesi�stica. "Parai, bispos e sacerdotes", intima a Virgem, "de obstruir o

meu caminho em dire��o a meus filhos, cessai de combater as minhas apari��es�.O vidente n�o poderia diz�-lo melhor: sendo ele obstru�do, obstruem a entidade divina que se vale dos seus �xtases para se comunicar com os homens. � a influ�ncia b�blica que se entrela�a com o esp�rito de F�tima para repropor a antiga quest�o da credibilidade dos profetas, que s�o aut�nticos, se credenciados expressamente por Deus.

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Tr�s dias de exterm�nio

Existem nas profecias de Albino ecos de outros or�culos que facilmente se conciliam com o esp�rito de F�tima, o qual, ali�s, corre nos tempos como um rio, deixando que na pr�pria corrente confluam �guas provenientes das mais remotas nascentes. Existe a influ�ncia b�blica, em sentido n�o s� apocal�ptico como tamb�m metodol�gico, para o convite a saber reconhecer a mensagem prof�tica. Existe a influ�ncia de Joaquim da Fiore e da escatologia medieval, impl�cita no an�ncio de que uma nova era do Esp�rito Santo estaria agora �s portas (vis�o de 22 de agosto de 1993). Existe a influ�ncia de um racionalismo crist�o mais moderno, que mitiga e compensa a intransig�ncia expressa em toda parte sobre a necessidade de

manter inalterada a tradi��o. Vale para isso o racioc�nio (recebido em um dos primeiros �xtases, em 2 de maio de 1988) sobre a necessidade de n�o confiar exclusivamente na f� para a realiza��o dos pr�prios des�gnios: "Muitos, por uma educa��o errada, ou querem fazer tudo por si ou deixam tudo por conta de Deus. Em geral os primeiros se encontram entre os ateus,

os segundos entre os crist�os: ambos os grupos pecam por presun��o�. Existe, pois, a influ�ncia da obsess�o milenarista "monacal" pelo feminil, fen�meno de vasto f�lego entre o s�culo XIX e o in�cio do XX, do qual deram dram�tico testemunho, videntes da estatura m�stica de Anna Maria Taigi e Marie Julie Jahenny, que "vivenciaram" com extraordin�rio realismo nas suas vis�es, os dias do Anticristo.

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Acerta em particular o recurso, naquelas que s�o talvez as mais perturbadoras profecias de Albino, aos mesmos cen�rios cavernosos de perdi��o que com tanta profus�o de detalhes horr�veis foram descritos um s�culo antes por essas mulheres t�o distantes, por sensibilidade e forma��o, por sua cultura simples, solar, apurada pelo eco - dir-se-ia - das cascatas do

Liri. Eis de que modo Albino o reprop�e pela voz da Madona (profecia de 15 de julho de 1990), do Senhor (4 de novembro de 1992) e mais uma vez da Madona (11 de outubro de 1993)."O plano dos dias que est�o por vir est� delineado nos m�nimos detalhes no Livro da Vida.� Assim exorta a Virgem, anunciando um acontecimento que "assinala o in�cio de terr�veis dores", tamb�m pela c�lera do Pai, que nos �ltimos tempos "viu aumentar os infantic�dios". Com esta refer�ncia expl�cita � atualidade do aborto, inclu�do entre as pragas anticrist�s por excel�ncia, a mensagem entra ao vivo: "Muitos se converter�o por causa do fen�meno que meu filho est� preparando. Muitos cair�o no inferno sem tempo para se arrependerem. Se pudesse p�r o futuro diante de vossos olhos, deixar�eis logo as vossas ocupa��es mundanas por uma vida de preces. [...] Haver� um grande aviso, depois um milagre e, se depois disso o homem n�o mudar, ser� atingido por um cometa. [...] Este vir� diretamente do c�u e ningu�m poder� presumir que seja obra dos homens ou que se trate de um fen�meno natural. De fato [...] ser� visto por cerca de duas semanas suspensa no c�u, antes que venha a golpear a terra, aterrorizando os homens. Aqueles que permanecerem com Deus n�o ter�o medo, porque conhecem o plano do Pai."Depois da Virgem fala o Senhor, anunciando como iminente a chegada de

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"uma escurid�o imensa que durar� por tr�s dias e tr�s noites". O ar se tornar� irrespir�vel, nocivo para a sa�de, e "tamb�m a luz artificial ser� dif�cil de utilizar: apenas as velas benzidas poder�o arder e iluminar naqueles terr�veis dias". Aparecer�o dem�nios j� descritos em outras profecias, horr�veis de se ver e ouvir, por suas blasf�mias. "Raios e centelhas entrar�o nas casas, mas n�o conseguir�o apagar as velas benzidas; n�o ser�o apagadas pelos ventos nem pelos terremotos�. O c�u ser� atravessado por "uma nuvem vermelha como o sangue", enquanto "um forte rumor far� a terra tremer", e sobre ela, enfim, �reinar� uma grande desola��o". A vegeta��o ser� completamente destru�da e os sobreviventes n�o ser�o mais que "uma quarta parte da humanidade".A profecia cont�m, al�m disso, recomenda��es acerca de como comportar-se quando se ouvir um rumor tremendo: "Deveis fechar as portas e janelas de modo a cobrir a luz que vem de fora, e n�o sejais curiosos, porque sereis punidos. Ouvireis vozes de pessoas queridas, mas n�o devereis abrir a porta porque n�o s�o elas, e sim dem�nios que vos enganam para poder entrar nas vossas casas. Recolhei-vos em prece diante do Crucifixo e recomendai-vos em prece diante do Crucifixo e recomendai-vos a Deus com muita f�, sem temor. [...] Se acreditardes em tudo isto, n�o tendes necessidade de outras revela��es�.De fato, n�o ocorreram outras revela��es subseq�entes da Madona acerca dessas jornadas de trevas, que "n�o ser�o o fim do mundo", mas apenas "um sinal". H�, por�m, uma informa��o importante: tudo isso acontecer� �quando o trono de Pedro estiver vazio". O que n�o significa necessariamente o fim do papado, pois poderia tamb�m acontecer juntamente com um condave, entre a morte de um papa e a elei��o do novo. N�o haveria tempo de sobra, n�o se tratando mais do que tr�s

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�nicos dias: "tr�s dias e tr�s noites em escurid�o completa".No final "surgir� o sol e os homens voltar�o para Deus. Na espera, por�m, Maria recomenda como m�e preocupada: "Levai aqueles c�rios para casa e conservai-os sempre prontos, como as virgens sensatas."Fim da mensagem.Voltando, portanto, �s concord�ncias com outras profecias, e em especial com o milenarismo oitocentista, deve-se destacar que os tr�s dias de treva cont�nua j� tinham sido conhecidos e descritos nos seus �xtases tamb�m por Jahenny, Taigi, s�ror Maria Jesus Crucifi� e outras profecias inspiradas pela mesma obsess�o (neste nosso s�culo Elena Ajello, cujas previs�es assinalavam que a terceira guerra mundial deveria durar setenta horas, portanto, tr�s dias). Tinham "visto" os dem�nios horripilantes e ouvido suas blasf�mias, as devasta��es e a terra transformada em um imenso cemit�rio. Haviam recomendado o recurso �s velas benzidas, que, contudo, s� teriam feito luz nos casos dos justos, n�o dos �mpios. Haviam, enfim, calculado que s� um quarto da humanidade sobreviveria.

Os profetas da �ltima hora

O que h� ent�o de novo na profecia de Albino? Aparentemente, nada. Caso se tratasse de uma not�cia de jornal j� deveria ter sido considerada superada. Tratando-se em vez disso de uma profecia, pode-se consider�-la boa ou n�o, segundo as convic��es de cada um, mas "por sua pr�pria conta e risco", como diria um famoso historiador das religi�es. Pois repropor cen�rios j� previstos por profetas anteriores �, na economia geral da

adivinha��o, motivo de cr�dito a mais. Pelo menos por tr�s bons m

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otivos.Um, porque as predi��es escatol�gicas, direcionadas a adivinhar quais ser�o os destinos extremos do homem, s�o for�osamente de coisas ligadas a um �nico fio, ao longo do qual correm os mesmos progn�sticos, vez por outra retomados com varia��es m�nimas ou em vers�o totalmente id�ntica. Como demonstra, ali�s, a tradi��o apocal�ptica - que h� dezenove s�culos reprop�e os v�rios quadros da "revela��o" de Jo�o nas interpreta��es mais diversas, mas sem mudar-lhe a subst�ncia e com freq��ncia tampouco a forma - tamb�m fora do �mbito judaico-crist�o.Dois, porque a "comunica��o" de profeta em profeta das mesmas imagens ou palavras faz parte da praxe divinat�ria, sobretudo em mat�ria religiosa. Como sistematicamente demonstram as apari��es marianas, caracterizadas por intera��es �s vezes exasperantes, no estilo, no vocabul�rio, na pros�dia das v�rias mensagens, que pareceriam entre si copiados, enquanto simplesmente respondem a um �nico fim invari�vel. Nesta �tica, deve-se entender por "comunica��o" n�o apenas a transmiss�o telep�tica ou por canais que escapam ao controle da raz�o, mas a pura e simples "transcri��o" do texto, pois tamb�m ao impulso de recopi�-lo podem ser atribu�das motiva��es de necessidade psicol�gica. Dos quais se encontra respaldo cient�fico na citada teoria jungiana do inconsciente coletivo. E tamb�m a alus�o ao Livro da Vida na abertura da profecia sobre o "plano dos dias que est�o por vir", representa para seus ecos steinerianos um excelente testemunho em tal sentido.Tr�s, porque n�o se entende por que um vidente j� exposto ao habitual ceticismo alheio deveria chamar para si novas contesta��es f�ceis

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atingindo textos j� conhecidos, publicados e comentados pelos especialistas, se n�o impelido por uma necessidade superior, percebida por ele talvez inconscientemente, talvez voltada a inserir quem sabe qual nova cunha - ou preencher quem sabe qual voto - no seu mosaico pessoal vision�rio.Como negar, ademais, que os mesmos conceitos retomados por um foram igualmente retomados por outro - e por mais um outro antes dele - escavando quem sabe qual arquivo da mem�ria universal? Vale com maior raz�o para s�mbolos e sinais que, como aqueles de Albino e das freiras

milenaristas antes dele, exigem a aten��o do homem sobre eventos hoje mais reconhec�veis do que um tempo, como o desastre ecol�gico (o ar

"nocivo", letal para a sa�de), uma crise energ�tica de propor��es planet�rias ("tr�s dias no escuro", sem sequer luz artificial), a deflagra��o nuclear (a "nuvem vermelha" seguida de um terr�vel trov�o) e seus subprodutos ("raios e centelhas" que se infiltram em toda parte).Deste ponto de vista, portanto, o �ltimo a falar depois de tantos n�o passa de um elo da cadeia apenas um pouco mais pr�ximo do fim, investido assim de uma tr�gica dignidade em rela��o aos outros, porque diretamente envolvido na cat�strofe que ainda continua �s portas.Aos profetas da �ltima hora, quando tamb�m premidos a repetir coisas j� ditas, � confiada uma responsabilidade dupla em rela��o aos seus predecessores: comunicar o que est� para acontecer, mas tamb�m de que modo preveni-lo, pois n�o h� destino apocal�ptico que n�o possa ser mudado. As grandes profecias de cada tempo - e as marianas do �ltimo s�culo em especial - s�o pr�digas de conselhos sobre como modificar o curso, transmutando em regenera��o o desastre. N�o ocorrem especiais chaves para ter acesso a este seu significado profundo. Basta saber ler com os olhos do cora��o.

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