As Grandes Profecias - Franco Cuomo

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Profecias

Uma nova chave de leitura das mais clebres previses da histria Traduo: G I L S O N B. S O A R E S

Sumrio11 Mil anos em um s dia 15 1 - Ftima, o "terceiro segredo" O sol enlouquecido de outubro. O silncio dos pontfices. Um "grande castigo" evitava. O lobo cinzento e o cruzado azul. Milingo acusa: Satans est na cria 19 2 - A doena do mundo La Salette, prlogo de Ftima. Lourdes: guas que curam, guas que convertem. A "Me da Solido" 37 3 - Os seis mistrios de Medjugorje Videntes de guerra. Uma descida ao inferno. As "horrendas verdades" de Ftima. Dez anos de tempo. Ratzinger: "Nada de espantoso" na mensagem da Virgem 49 4 - Um "leo ruge" contra Deus O Cristo fotografado na Porta Anglica. A hora de Satans. A Itlia dos traidores e dos espies. "Como um menino assustado..."

57 5 - O Apocalipse de Joo Em comunicao com Deus. Os sete selos. Duzentos milhes de monstruosos cavaleiros. Miguel contra o drago: crnica de uma guerra no cu. Novas pragas para no esquecer. A me de cada prostituio. Todas as Babilnias do mundo. O enigma dos mil anos. As foras obscuras da alma 75 6 - Profetas falsos e autnticos da Bblia Do Antigo ao Novo Testamento. Serpentes venenosas contra os adivinhos. Um chacal entre as runas. Pelo amor de Sio 85 7 - O dia da ira A beleza humilhada pelo fogo. Cada qual com seu apocalipse. As mulheres dos anjos 93 8 - As trs idades do mundo Os encontros com o Messias. O calendrio de Deus. O jardim de Al. Gog e Magog 103 9 - Os senhores das estrelas A "cincia dos magos". A Torre de Babel. O livro sagrado do cu. O olhar malfico 113 10 - Os nmeros da Grande Pirmide A Bblia de pedra. O "polegar polar". Os subterrneos do apocalipse. Do "poo do resgate" ao nmero grego fixo Pi. O deus do "disco luminoso" 123 11 - O poder invencvel da Sina As vontades dos deuses e as dos homens. As certezas platnicas sobre a Atlntida. Mistrios eleusinos, dionisacos e rficos. Arspices e profecias institucionais na Roma antiga 131 11 - As sibilas A Cumana, sibla de Virglio e do Cristo. A Prsica, a Lbia, a Dlfica e as outras. Eritria, uma adivinha dos natalcios controversos. Os orculos sibilinos. Uma ponte entre a antiga e a nova religio. O vaticnio da ninfa Porrina sobre a vinda de Rita de Cssia

145 13 - O crepsculo dos deuses O apocalipse viking da Edda. O "sacrifcio ensangentado" do deus da inocncia. O mstico ramo de visco. A druidesa e Diocleciano 153 14 - Um abade "dotado de esprito proftico" A disputa sobre o "milnio". Hereges e santos. A revoluo crist de Joaquim da Fiore. Dante, "fiis do amor" e rosa-cruz. A obsesso do conto s avessas 163 15 - O ltimo papa Enquanto durar o Coliseu. Os 112 pontfices de Malaquias. O "lenho da vida" 181 16 - Apocalpticos aureolados Francisco de Assis e o "poder dos demnios". Francisco de Paula, profeta da "ltima religio". Santa Brgida e o orculo das festas cruzadas. Catarina, o cisma e o papa inibido. As "sete armas" de Catarina de Bolonha. Sror Domenica e as "atrocidades" dos fiorentinos. A "atribulao" luciferiana de Margherita da Cortona. Encontro da peregrina Hildegunda com Pedro, o Anti-pedro e o Anticristo. Os espelhos msticos da monja Hildegarda. O extermnio dos "perfeitos" 199 17 - Merlin, o imortal Rumo a um caos sem retorno. Roma "agitada e sacudida". O sacrifcio de Becket 207 18 - O enigma de Nostradamus As chaves do tempo. Hitler, Hilter, Hister. Peixes eltricos e pssaros a jato. O leo cegado na jaula. As "palavras de poder". "Estando sentado noite... As "figuras nebulosas". O novo reino de Saturno. O fim de Nova York. O ataque do Grande Camelo. Piedade por quem tem fome. Morrer "no lugar de sempre". O destino dos filhos 229 19 - A grande iluso renascentista Paracelso entre super-homem e homunculus. Marsilio Ficino e a cpula do mundo. O vrus de Leonardo. Giordano Bruno: do cosmo catstrofe

241 20 - O excomungado, o santo, o cismtico Savonarola, terrorista de Deus. Ferrer coroado de fogo. Os diabos de Lutero 253 21 - Sonhos clticos O mundo de "ponta-cabea" de Mame Shipton. Uma disputa sobre o fim dos tempos. O destino atroz de Brahan Seer. As 144 luas do monge Sean 261 22 - O Aranha Negra Um "dilvio de estrelas". Ascenso e derrota ao "prncipe negro". Uma tragdia da auto-destruio. Triunfos de morte. O calendrio da loucura humana. Sobre o fio da eternidade "entre fogo e fogo". Na espiral do "nazismo mgico" 275 23 - A monja de Dresden A grande "inquietao" do sculo XXI. As trs pragas. Os 6.666 dias do demnio. Anjos e venenos. As guas mortais de Veneza. O apocalipse direcionado 287 24 - As esposas de Deus O Anticristo revolucionrio de Jeanne La Royer A Sibila do ltimo Cu. A vestal do santurio trado. Anna Maria dos Pontfices. Uma Pomba piedosa com os prncipes. As profecias "domsticas" de Teresa Gardi. O sonho de madre Clelia, freira menor. O Diabo no convento 301 25 - A dupla profecia da "amendoeira florida" A ditadura invisvel. A morte do "leo enganchado". As "serpentes" de Paulo VI e o fim do papa Luciani. O furor da "foice" sobre Roma. A mmia de Viterbo 313 26 - Os arcanjos da guilhotina Os patbulos da Razo. "Sangue, sangue, sangue..." O Anticristo "mstico" 323 27 - Dom Bosco, profeta em sonho As mortes anunciadas. Os "avisos" do Senhor. Tantos "grandes funerais" na corte. Sinais de fogo. Dois plenilnios para um "ris de paz". "Distraes" e vida breve dc Domenico Savio

333 28 - A grande besta Aleister Crowley, "santo" de Satans. A lei de Aiwass, anjo guerreiro. A nova era de Hrus. A "maldio" de Nietzsche. Meio grama de herona. As sete eternidades da Blavatsky. Todos profetas no mundo novo de Steiner. Os brancos "cavaleiros" do Graal e os magos negros de Hitler. Entre Cristo e Sigfried 353 29 Profecias negras A tragdia dos Rontanov. O orculo de Rasputin, o nazista que viu um incndio premeditado. O mago de Stalin. A vidente que reconheceu os "demnios" do poder. O amargo destino de Kennedy e Marilyn. O messias de Aqurio 369 30 - Mundos perdidos O reencarnado da Atlntida. O "anel de fogo". A alma do mundo. A Nova Jerusalm americana. O dia da Grande Desiluso 381 31 - A grande "viagem" de padre Pio O tormento das chagas. "Nada mais de massacres" no sculo XXI. Vises de sangue: Aldo Moro e Robert Kennedy. Os "despeitos" de Satans. Voando sobre Gargano 393 32 - Ftima alm de Ftima O vidente do Liri. A cincia alm da f. A economia do paraso. Os treze "segredos" de Albino. Os sinais. Como reconhecer os servidores de Satans. Trs dias de extermnio. Os profetas da ltima hora

Jamais ocorre qualquer acidente grave em uma cidade ou provncia que no tenha sido previsto por adivinhos ou por revelaes, por prodgios ou por outros sinais celestes. (Maquiavel, Discursos, I-56)

Mil anos em um s diaDo Futuro s sabemos que ele vir. Do presente temos um conhecimento no raro confuso, se no totalmente distorcido, j que estamos dentro dele e que se trata de uma realidade em transformao, de xitos incertos. A nica certeza reside no passado, nica fase realmente imutvel da nossa existncia. Podemos remov-lo, esquec-lo, mas no apag-lo; podemos fragment-lo, disfar-lo, jamais modific-lo. Contudo no vivemos seno projetados no nosso futuro. "Quase nunca pensamos no presente", escrevia Pascal, "e, quando o fazemos, no mais do que para nos dar indicaes acerca de como dispor do nosso futuro." Como o presente, instvel como entre o instante que o precedeu e aquele que o seguir, no possui uma identidade prpria reconhecvel, no momento em que o atravessamos ele se esquiva. No capaz de representar um objetivo, nem mesmo quando coincide com um resultado desejado, uma vez que no prprio instante no qual obtido surge o problema do que fazer com ele no futuro, das responsabilidades que nos apresenta e dos riscos a que nos expe, a comear pelo risco de perd-lo. Uma realidade to fugidia assim no pode fazer s vezes de meta, mas sim de um novo ponto de partida para um projeto de vida que, por sua vez, nos surgir consumado no seu trmino. E, portanto, passado e presente no passam de instrumentos para condicionar a nica realidade que realmente nos interessa, ou seja, a futura. Assim, "ns no vivemos", conclua Pascal, "mas esperamos viver, e se nos determinarmos sempre a ser felizes indubitvel que jamais o seremos, a no ser aspirando a uma 'beatitude diferente' daquela da qual se pode usufruir nesta vida". Pode-se compartilhar ou menosprezar a aspirao quela "beatitude diferente de que fala o filsofo, mas o seu arrazoado d uma idia clara das necessidades existenciais que geraram no homem a urgncia de conhecer, sem cessar, o prprio futuro, ao qual se tentou dar resposta, em pocas e civilizaes diferentes, recorrendo-se a prticas adivinhatrias que s vezes confiavam no acaso e outras vezes nos deuses. Aos adivinhos que falavam por conta prpria e aos sacerdotes que interpelavam os orculos nos templos juntaram-se depois, ao longo dos sculos, profetas designados pela vontade popular ou pela prpria

divindade, na tradio bblica -, a fim de receber as mensagens de Deus e divulg-las. A estes ltimos se sobrepuseram por fim, na era crist, as manifestaes diretas de entidades que, atravs de aparies e outros eventos considerados miraculosos pelos crentes ou talvez inexplicveis luz da razo , comunicaram previses de interesse universal. Fenmenos deste gnero foram se intensificando, em vez de rarearem, na idade moderna, provocando uma ressonncia que alcanou o ponto culminante em eventos como os de Ftima e Medjugorje. Se revisarmos a histria das grandes profecias que alimentaram atravs dos sculos as mais indecifrveis fantasias humanas e continuam a alimentar at hoje, descobriremos que correspondem a uma matriz comum, da qual brotam surpreendentes semelhanas nos mais famosos orculos de todas as religies, desde aquelas dos antigos caldeus e egpcios epstola evanglica, cornica e talmdica. Sem excluir as sibilas do mundo pago grecoromano e os abalos cosmognicos da mitologia germnica. No escapam influncia deste originrio saber oracular alguns grandes mestres medievais e renascentistas ou da idade decididamente moderna como Joaquim da Fiore e Paracelso, Nostradamus, dom Bosco que repropem sua substncia, nem que seja atravs do filtro das respectivas inspiraes. Neste tecido visionrio dominam medos ancestrais e luminosas esperanas, destinados a se confundir em um cenrio de morte e de regenerao que tem sua expresso mais perfeita no Apocalipse de Joo, a mais complexa e inspirada profecia j pronunciada sobre os destinos finais do homem, mas certamente no a nica. Ao se tentar interpret-las na sua chave mais acessvel, que aquela da advertncia sobre como se comportar para evitar a catstrofe vez por outra anunciada, estas profecias aparentemente espantosas demonstrariam, na realidade, o contrrio do quanto transparece na superfcie; e vale dizer que o fim do mundo, embora iminente, no ocorrer. fcil intuir a razo atravs de uma elementar decifrao dos textos. Do outro lado, porm, das imagens relevantes alm do limiar hermtico de cada orculo e da sua interpretao, que tambm faz parte dos objetivos desta pesquisa , a principal inteno do livro a de traar uma histria das grandes profecias" seguindo o fio da expectativa escatolgica qual

todas correspondem. Com especial ateno aos seus significados plausveis, ao contexto civil no qual foram expressadas, s motivaes que as inspiraram. Profecia a revelao ou o anncio de qualquer coisa, antes que acontea, do grego pro (antes) e phanai (falar). Referir-se a ela em tempos sucessivos implica procurar suas correlaes histricas, dada a necessidade de distinguir entre o que deveria acontecer e no aconteceu, o que deveria acontecer e aconteceu, e o que ainda deveria acontecer. Nesta ltima eventualidade so em geral assimilveis as profecias realmente "grandes", que, por sua natureza, acometem os destinos do gnero humano e so, por isso, projetadas para um futuro indefinido, ainda remoto, segundo alguns, ou j iminente, na viso de outros. Mas os tempos dos orculos, ainda que medidos s vezes por datas explcitas, no se relacionam com o calendrio profano, visto que na linguagem da adivinhao um dia pode valer mil anos, como escreve o apstolo Pedro, e mil anos um nico dia.

As arejadas curvas da catedral de Saint-Di, cuja construo foi iniciada por volta do ano l.000.

1 Ftima, o Terceiro Segredo"Est de tal forma difundido e enraizado em toda a humanidade o interesse a sugesto, a curiosidade e tambm a apreenso pelo mistrio ligado profecia mais popular do nosso tempo, ou seja, a profecia de Ftima, sempre vinculada liberao de um "terceiro segredo", que induziu certos guias do mundo islmico a reivindicar a apario de Nossa Senhora como pertencente ao seu prprio contexto religioso. Os aiatols iranianos sustentam de fato e o reforaram teimosamente em outubro de 1995, dando ressonncia televisiva a sua reivindicao que no teria sido a Virgem Maria, me de Jesus, mas sim a santa muulmana Ftima, filha de Maom e Kadigia, esposa do mstico guerreiro Ali, fundador da faco xiita no seio da religio cornica. No foi por acaso, segundo o sou ponto de vista, que Ftima optou por manifestar-se em uma localidade assinalada por seu prprio nome, embora situada no corao de um territrio de antiga tradio catlica. O que poderia ser interpretado, ademais, como uma tentativa de realar o significado universal da profecia, tal como envolver as pessoas de qualquer crena. O aspecto da Senhora como veio a ser chamada com um termo que tambm sinnimo de Madona , para as trs pequenas testemunhas s quais apareceu, poderia corresponder, por outro lado, quele de uma piedosa mulher muulmana, a cabea coberta e a elegante figura envolta por uma ampla tnica. Nem se pode ignorar que o prprio nome da cidade de Ftima remeteria de modo verossmil dominao rabe e em especial influncia dos califas fatmidas, que descendiam justamente da filha de Maom. A hiptese , porm, inaceitvel, devido evidente impossibilidade de conciliar o amor da Senhora pelo gnero humano na sua complexidade planetria, sem diferenas de f ou de doutrina, com a intransigncia prpria do fundamentalismo xiita, a ala guerreira do Isl, que reconhecida exatamente na estirpe de Ftima e Ali, portadora de revoluo e de martrio, at o ponto da ao suicida no nome santo da jihad.1

(1) Literalmente "empenho", ou tambm "esforo". Indica a guerra santa para a expanso da f, como indispensvel dever cornico. (...) Matai os idlatras onde quer que os encontrardes, e fazei-os prisioneiros, e assediai-os, e esperai-os em qualquer lugar que se preste a uma emboscada; mas se eles se arrependem, observam a prece e pagam o tributo para a esmola [zakt], ento deixai-os partir livres, pois Al sumamente misericordioso e clemente." (Coro, sura IX, 5). Alm, portanto, dessas fantasias temerrias, mas merecedoras de respeito, como expresso de um sincero envolvimento espiritual nos eventos aos quais se referem, as aparies de Ftima devem ser vistas como pertinentes mais pura (e consolidada) tradio mariana. Assim afianam as prprias afirmaes da protagonista, que nas suas mensagens aos trs pequenos portugueses se apresentou como "Corao Imaculado de Maria" e "Madona do Santo Rosrio", fazendo-se preceder por um anjo que convidava a adorar "os preciosssimos corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo, presente em todos os tabernculos do mundo". Palavras que tiram qualquer dvida sobre a matriz indiscutivelmente catlica da qual toma forma, ainda que numa tica de fraternidade universal, o desgnio misterioso de Ftima e de suas profecias. O esprito alado tambm prdigo, como a Madona, em premonies e reprimendas. Apresentou-se como o Anjo da Paz e, em uma outra ocasio, de Portugal. Emanava uma luz clarssima e se equilibrava nas rvores, mostrando o aspecto de um rapaz de seus dezesseis anos. Serviu aos meninos um clice no qual gotejava sangue de uma hstia que levitava no ar, deu-lhes a comunho e disse que Cristo estava "terrivelmente ofendido pela ingratido humana", antecipando com esta considerao uma das mais severas advertncias de Maria: "E se a humanidade no se opuser [ fabricao de armas cada vez mais poderosas] no poderei deter o brao de meu Filho." Famoso entre os ensinamentos do anjo o texto de uma curta prece, tornada popular entre os crentes por sua simplicidade, que assim diz: "Meus Deus, creio, espero, adoro e vos amo; peo-vos perdo por aqueles que no crem, no esperam, no adoram e no vos amam."

O Sol enlouquecido de outubroAs seis aparies de Ftima, na cidade da Estremadura, a 125 km de Lisboa, ocorreram entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917. Foram testemunhas trs pequenos pastores que costumavam levar seu rebanho para pastar em uma campina chamada Cova de Iria; Lcia dos Santos, de dez anos, Francisco e Jacinta Marto, de nove e de sete. A eles se juntaram multides de fiis, cuja pontual afluncia se tornara possvel porque as vises correspondiam a datas exatas, o dia 13 de cada ms. Fenmenos espetaculares, visveis aos milhares de devotos ou simples curiosos reunidos no local das aparies, aumentaram o impacto do evento. Nuvens irradiando estranhas cores sulcaram o cu de Ftima em 13 de agosto; dois relmpagos saudaram a apario dias depois, em 19 de agosto, no obstante o cu sem nuvens. Plidas nvoas envolveram as trs crianas em 13 de setembro, enquanto uma esfera luminosa gravitava distncia e ao redor choviam ptalas brancas. Mas uma impresso totalmente particular suscitou uma espcie de eclipse solar em 13 de outubro, ainda mais sensacional pelo fato de que a Senhora j o havia anunciado em uma apario anterior. "Em outubro operarei um milagre", tinha dito, "de modo que todos creiam." O anncio havia atrado mais de cinqenta mil pessoas, que no ficaram decepcionadas. O fenmeno, para justificar o que os cientistas classificaram de "aurora boreal", foi acompanhado por um movimento vertiginoso do sol, que pareceu a ponto de se precipitar sobre a terra, expandindo em torno uma combinao imprevisvel de cores. Houve pnico entre os presentes, mas tambm um mpeto indescritvel de f. Lcia, a mais velha dos trs pastores, tornou-se em seguida freira e interlocutora dos pontfices que se alternaram desde ento no trono de Pedro. a nica depositria direta da profecia ao aproximar-se o prazo indicado, ou seja, "antes do fim do sculo". Francisco e Jacinta adoeceram e faleceram pouco depois, mortos talvez pela intensidade maravilhosa de eventos insuportveis para suas pequenas e ternas almas. Francisco deixou de viver em 4 de abril de 1919, Jacinta em 20 de fevereiro de 1920. Seu fim tambm foi previsto. a prpria Jacinta quem transmite a Lcia, antes de morrer, a previso

recebida em outubro de 1918: "A nossa amada Senhora me visitou e disse que em breve Francisco ser chamado ao cu. Depois me perguntou se eu gostaria de converter ainda mais pecadores. Eu lhe disse que sim. Ento a Santa Virgem me avisou que deverei padecer muito em um hospital para a converso dos pecadores, como objeto expiatrio para lavar os pecados contra o Corao Imaculado de Maria e de Jesus." Diz-lhe ainda no ltimo encontro, quando Lcia vai visit-la no hospital: "Maria santssima me disse que serei enviada para outro hospital. No a verei mais, assim como no verei mais os meus pais. Sofrerei muito, depois morrerei. Mas no deverei ter medo, porque Ela estar comigo e me levar para o paraso." Comunica-lhe alm disso que, ao contrrio dela e do irmo, Lcia viver: "Perguntei-lhe [ Madona] se seria possvel voc vir comigo, e Ela recusou." Mas Lcia j sabia disso por ter-lhe sido transmitido diretamente pela Senhora durante a apario de 13 de junho. "Gostaria de pedir Senhora que nos levasse para o cu", dissera-lhe Lcia quela ocasio. "Sim, virei em breve para Levar Jacinta e Francisco", havia respondido a Madona, "mas devers ficar aqui embaixo por mais tempo. Jesus quer usar-te para me fazer conhecida e amada." Lcia a nica dos trs a ter dialogado com a Virgem. Francisco somente a viu; Jacinta a viu e escutou. A despedida entre as duas meninas foi penosa. "Sinto-me mal em saber que eu e Francisco entraremos no paraso enquanto voc permanecer ainda um longo tempo na terra", lastimou Jacinta ao saudar a amiga pela ltima vez. "Quando vier a guerra, no tenha medo. Estarei no cu rezando por voc." Com esta garantia comovente, cheia de ternura, Lcia e Jacinta se deram adeus, depois de j terem se despedido de Francisco um ano antes.

O Silncio dos Pontfices a incgnita ligada ao desfecho do "terceiro segredo", pelas terrveis implicaes que subentende, que mantm desperto acima de tudo o interesse relativo aos fatos de Ftima neste nosso sculo, que registra mais de quatrocentas aparies marianas, com uma profuso de mensagens confiadas a personalidades humildes ou extraordinrias, como Gemma

Galgani, na Toscana; Rosalia Put, na Blgica; Matilde von Schonewerth e Teresa Neumann, na Alemanha; Adrienne von Speyr, na Sua; padre Pio da Pietrelcina; o monge Boutros Mounsef, no Lbano; o anarquista convertido Bruno Cornacchiola, em Roma. Mas realmente uma incgnita o "terceiro segredo", ou j se acha revelado? O papa o deveria ter divulgado em 1960, segundo uma data solicitada ao que parece por Lcia, obedecendo inspirao recebida. Se ainda no se havia consumado na ocasio tudo quanto estava previsto nas duas primeiras profecias, ambas confirmar-se-iam com lmpida fidelidade. As duas foram formuladas pela Senhora na sua terceira apario, em 13 de junho de 1917. A primeira comunicava o iminente fim da guerra, mas prenunciava "uma outra pior", a ser iniciada "no reinado de Pio XI" (1922-1939). A segunda fazia uma exata previso sobre o advento j prximo do comunismo (faltavam trs meses para a Revoluo de Outubro), mas vaticinava seu fim atravs "da consagrao da Rssia ao meu Corao Imaculado". Mais complexa que a primeira na sua formulao, esta segunda profecia projetava a eventualidade de um fim do mundo "por causa dos delitos da humanidade, atravs da guerra, da fome e das perseguies contra a Igreja e o Santo Padre". Contra estes males a Virgem pedia gestos de reparao, como a comunho dos fiis no primeiro sbado de cada ms. "Se meus pedidos forem ouvidos", acrescentava, "a Rssia se converter e se far a paz. Do contrrio difundir seus erros pelo mundo, suscitando guerras c perseguies Igreja. Muitos bons sero martirizados, o Santo Padre ter muito sofrimento, vrias naes sero reduzidas a nada. Mas no fim meu Corao Imaculado triunfar. O Santo Padre consagrar a Rssia a mim. Se esta se converter, um intervalo de paz ser concedido ao mundo." E tudo isso aconteceu, seja pelo lado negativo (guerra, fome, perseguies, aniquilao e desaparecimento de mais naes), seja pelo positivo (consagrao e converso da Rssia). At mesmo o sofrimento fsico do papa, em seguida ao atentado de 1981, relatado no mesmo contexto divinatrio. Depois da confirmao de tais previses, comea o tempo do "terceiro segredo", comunicado na apario de 13 de outubro de 1917 e sempre guardado nos arquivos do Vaticano, foi transcrito por Lcia em 1943, e por ela prpria entregue ao bispo de Leiria (em 1957), num envelope lacrado

que depois foi encaminhado ao papa. Nunca foi divulgado ao pblico, embora indiscries amadurecidas nos ambientes diplomticos dem crdito s hipteses de que, por deciso de Joo XXIII ou pelo seu sucessor, Paulo VI , possa ter cado no conhecimento dos governantes dos Estados Unidos e da Unio Sovitica, talvez at da Gr-Bretanha. Provavelmente em outubro de 1962, coincidindo com a crise dos msseis em Cuba, quando o mundo esteve beira da guerra, ou pouco mais tarde, para pr um limite proliferao nuclear. No tranqilizadora pelo contrrio, aumenta a apreenso universal mais do que seria capaz a revelao de uma efetiva ameaa uma lamentvel declarao de Joo Paulo II, que diz no considerar oportuna a divulgao de uma mensagem na qual "se l que os oceanos inundaro continentes inteiros, que os homens seriam privados da vida repentinamente", ainda mais que "muitos querem saber s por curiosidade e sensacionalismo. Qual ento, parte o silncio, a resposta frente a eventualidades to catastrficas? Rezemos muito", recomenda o pontfice. "Recitemos at mesmo o santo Rosrio." Coerente neste ponto com o esprito de Ftima, cujas profecias so espantosas pelos males que deixam entrever, mas que sempre oferecem ao mesmo tempo uma possibilidade de salvao, de preveno do desastre final, atravs do arrependimento e da prece.

Um "grande castigo" evitvelAs indiscries sobre o "terceiro segredo", em todo caso, no se limitaram hiptese de que tivesse sido comunicado s superpotncias. Um ano depois da crise de Cuba, em 15 de outubro de 1963, um jornalista alemo (Louis Emrich) afirmou estar de posse dele e o publicou no Neues Europe, de Stuttgart. Jamais houve prova, confirmao ou desmentido de que se tratava do "segredo" autntico, H quem lhe d crdito e quem o considere, em vez disso, uma fraude. Eis aqui o texto, imediatamente reproduzido na imprensa mundial, nos seus trechos mais importantes: [...] Um grande castigo cair sobre todo o gnero humano, no hoje nem

amanh, mas na segunda metade do sculo XX. [...] Em nenhum lugar do mundo existe ordem e Satans reina nos escales mais altos, determinando o andamento das coisas. Ele efetivamente conseguir introduzir-se at na alta hierarquia da Igreja; conseguir seduzir os espritos dos grandes cientistas que inventam armas com as quais ser possvel destruir em poucos minutos grande parte da humanidade. Ter em seu poder as potncias que governam os povos e as incitar a produzir enormes quantidades daquelas armas. E, se a humanidade no se opuser, serei obrigada a deixar livre o brao de meu Filho. E ento vereis que Deus castigar os homens com severidade maior do que o fez com o dilvio. Chegar o tempo dos tempos e o fim de todos os fins, caso a humanidade no se converta; e se tudo permanecer como hoje, ou pior, ou principalmente se agravar, os grandes e poderosos iro perecer junto com os pequenos e os fracos. Tambm para a Igreja chegar o tempo das suas maiores provaes: cardeais vo se opor a cardeais, bispos a bispos. Satans marchar nas suas fileiras e ocorrero mudanas em Roma. Aquilo que est ptrido cair, e aquilo que cair no mais se reerguer. A Igreja ser ofuscada e o mundo assolado pelo terror. Tempo vir em que nenhum rei, imperador, cardeal ou bispo esperar aquele que ainda vir, mas para punir segundo o desgnio do meu Pai. Uma grande guerra ser desencadeada na segunda metade do sculo XX. Fogo e fumaa cairo do cu, as guas do oceano transformar-se-o em vapor, uma onda se erguer turbulenta e tudo afundar. Milhes e milhes de homens morrero de hora em hora, e os que permanecerem vivos invejaro os mortos. Para qualquer lugar que se olhe ser angstia, misria, runa em todos os pases da Terra. Estais vendo? O tempo se aproxima cada vez mais e o abismo se alarga sem esperana. Os bons morrero junto com os maus, os grandes com os pequenos, os prncipes da Igreja com os seus fiis, os reinantes com os seus sditos. Haver morte em toda parte por causa dos erros dos insensatos e dos guerrilheiros de Satans, o qual ento reinar absoluto sobre o mundo... A mensagem prosseguia e conclua com um aceno ao renascimento dos sobreviventes, os quais, depois de terem implorado ao Pai, seriam benditos e reerguidos "como na poca em que o mundo ainda no era to pervertido". Mas, at mesmo diante de uma perspectiva to catastrfica, a profecia deixava aberto um caminho de salvao. Advertia, claro, que "o fim de

todos os fins" estava prximo, porm dava espao para uma variante defensiva, estabelecendo uma condio para derrotar o mal: que a humanidade se convertesse. Ameaava com eventos apocalpticos, mas somente "se a humanidade no se opuser (...) se tudo permanecer como hoje..." No havia mais que um de tais sinais na mensagem. At o brao irado do Cristo podia ser parado por interveno da Me, sempre que a humanidade fizesse por merecer. O prprio Sat podia ser derrotado se os lderes dos povos se submetessem s diretrizes celestes. Todo o corpo proftico de Ftima, afinal, se articula neste mecanismo de perspectivas contrapostas. Continuamente so encontrados vestgios no apenas nas seis aparies centrais, mas em cada outra forma de contato estabelecido tambm sucessivamente entre a Senhora e seus trs pequenos interlocutores. Quereis oferecer-vos a Deus para exercitar as prticas de reparao pergunta a Senhora s trs crianas no primeiro encontro, em 13 de maio -, expiar todos os pecados com os quais Ele ofendido e solicitar a converso dos pecadores? - Sim, queremos. - Devereis sofrer muito, mas a graa de Deus ser a vossa fora. Com este pacto se acertam as condies para que, atravs do sofrimento dos trs inocentes e daqueles que os imitarem, sejam resgatados os males do mundo e conjurado o castigo. Um dia, surge aos olhos das trs crianas a viso do inferno: urros, lgrimas e estridor de dentes, como rezam as Escrituras. - Vistes aonde vo acabar as almas dos pobres pecadores? pergunta a Senhora depois que a cena atroz dissolvida. Para salv-los, o Senhor quer estabelecer no mundo a devoo ao meu Corao Imaculado. Se for feito aquilo que vos direi, muitas almas se salvaro e haver paz. Em torno desta sucesso de "se" gravita o senso terrvel das profecias de Ftima, que exatamente por isso no devem ser interpretadas segundo um ponto de vista irremediavelmente catastrfico. O que vale tambm para aquele temvel terceiro segredo", uma vez que no h previso que se possa ler em separado do corpo proftico ao qual pertence.

O lobo cinzento e o cruzado azulSobre o mistrio de Ftima introduziram-se fantasias com freqncia distorcidas, mimadas por elucubraes de fundo milenarista que justificam os mais artificiosos teoremas. No podiam faltar, pelo atentado repentino ao papa em 13 de maio de 1981, aniversrio da primeira apario de Ftima, dedues tendentes a procurar motivos ligados ao fundamentalismo islmico. Veio complicar o cenrio um segundo atentado no mesmo aniversrio, 13 de maio de 1982, e exatamente em Ftima, pela mo de um padre espanhol que por acaso foi ordenado sacerdote pelo bispo dissidente Lefebvre. fcil ceder tentao de ligar um atentado ao outro, como sinal da coincidncia entre integralismos conflitantes, porm, convergentes nos seus objetivos extremos: o islmico, representado pelo "lobo cinzento" turco Ali Agca, e o catlico, personificado pelo padre Juan Fernndez Khron, ligado ao movimento tradicionalista do "exrcito azul de Ftima". Mas, pelo comportamento e pelo desvario de ambos, fica mais a impresso de que, alm de certas coincidncias superficiais, os dois autores de atentados no tm condies de representar ningum mais seno a si mesmos. Ambos colocam a verdade oculta de Ftima no centro de seus prprios desgnios, arvorando-se em porta-vozes de uma abstrata exigncia de se conhecer o terceiro segredo". Aps ter sido preso, Khron divulga uma espcie de proclamao na qual solicita ao Vaticano e sror Lcia a imediata revelao da profecia. Ali Agca, por seu turno, afirma em suas recentes memrias que "Deus havia ordenado por meio da Madona que aquela mensagem deveria ser impreterivelmente anunciada no ano de 1960", lamentando que se pudesse chegar ao ponto de "calar, bloquear a mensagem do Eterno, onipotente, criador, dominador do universo". Neste ponto a confuso grande. Ali Agca contesta, inclusive, os sinais exteriores do catolicismo como a Capela Sistina, que, segundo ele, "ridiculariza a idia do Juzo Final" de maneira idlatra, e preconiza o advento do Mdi, o novo Mestre islmico que "vir para o fim do mundo" a fim de instaurar o imprio de Al, embora se faa fiador da vontade do Deus cristo, que transmite ordens pela voz da Madona. Mas tudo isso no pode causar tanto espanto, caso se leve em conta as

coisas por ele ditas na audincia de 28 de maio de 1985, quando, diante do tribunal que o julgava, declarou, com a maior naturalidade: "O atentado ao papa est ligado ao terceiro segredo de Ftima. Em nome do Deus onipotente, eu anuncio o fim do mundo. Eu sou Jesus Cristo, o Verbo encarnado e reencarnado... Todos podem dizer que sou um louco, mas reflitam: o papa foi at minha cela e definiu o nosso encontro como maravilhoso, excepcional, da vontade de Deus..." E eis Joo Paulo II transformado por Ali Agca, aps ter sido definido por ele como "comandante dos cruzados [contra o Isl] camuflado em lder religioso", em interlocutor privilegiado para um dilogo que, por mais que tenha fludo, girou em torno da idia crist do perdo. O roteiro no simplifica nem explica tais contradies mais decorativas que substanciais de coincidncias, pressgios e surpreendentes casualidades ligadas ao desgnio homicida contra o papa na tica de Ftima. At o nome do lugar de nascimento de Ali Agca, pelo modo como soa em italiano, evoca desoladoras perspectivas de sofrimento: Malatia [doena]. Dele emerge, como um vrus homicida, o "lobo cinzento". E impelido por foras obscuras, que alimentam nele a presuno de ser o Mdi ou Jesus ou, mais modestamente, "um anjo em forma humana", como grita aos jornalistas na audincia de leitura da sentena de priso perptua, em 29 de maro de 1986. V sinais e pressgios em toda parte. Para ele um sinal que sua irm se chame Ftima e que tenha nascido em 1960, ano da revelao frustrada. um sinal tambm que a primeira pessoa a bloque-lo na Praa de So Pedro, depois de ter atirado no papa, tivesse sido uma freira chamada Lcia, como a vidente que preserva o segredo em um convento portugus. um sinal que na noite anterior ao atentado tivesse dormido no Hotel Isa, visto que Isa em rabe significa Jesus. "Que fato singular", se permite escrever, "partir do Hotel Jesus para ir disparar contra o lder da religio de Jesus."

Um anjo portador de notcias profticas em todas as religies, sobre vitrais da catedral de Bruges, sculo XIII.

Mas, alm do vazio que se esconde por trs de todos esses matizes por si ss, insignificantes, caso se queira ler os atentados contra o papa em relao Ftima, isto deve ser colocado no contexto proftico das aparies. Que o papa teria muito a sofrer foi dito textualmente pela Senhora na parte j anotada de sua mensagem, onde prenunciava tambm a consagrao da Rssia. Seguindo-se, portanto, literalmente as previses transcritas por sror Lcia, o sofrimento do papa devia ou ao menos podia estar ligado ao fim do comunismo em termos de causa-efeito. Agca e Khron foram, portanto, segundo esta tica, instrumentos da profecia. Se depois relacionarmos as ocorrncias do pontificado de Joo Paulo II com o declnio e o esfacelamento do imprio sovitico, ento o foram de forma mais ampla, incidindo sobre um processo histrico de dimenses de poca. O "lobo cinzento" entendeu isso perfeitamente, e esta, no obstante os tons exaltados nos quais a exprime, sua nica intuio verdadeiramente grande: "Eis o atentado ao papa, uma das causas que determinaro o colapso do imprio sovitico e do comunismo internacional. (...) Serei eu a provocar, com o atentado ao papa, o incndio da floresta stalinista, que ser queimada e destruda em poucos anos." Atribui sua ao a solicitaes indecifrveis, dificilmente cabveis em parmetros humanos. No foi ele quem decidiu: "os 'misteriosos' decidiram por mim", diz. Deve ao estmulo deles o fato de ter assumido o papel histrico que, em funo do mistrio de Ftima, ele assumiu. Seja como for, o papa Wojtyla o reconheceu, dando-lhe uma medalha comemorativa das aparies e do atentado: de um lado esto as trs crianas aos ps da Virgem e a data 14 de maio de 1917; do outro lado a efgie do pontfice e a data 13 de maio de 1981. No dcimo aniversrio do atentado, o pontfice ofertou Senhora, como prova de amor e agradecimento, o projtil que o tinha atravessado. Encontra-se agora em Ftima aquele fragmento de chumbo que deveria t-lo matado, engastado como uma gema entre as pedras do mstico diadema de Maria. inquietante que, s acusaes de Agca e de Khron contra a hierarquia do Vaticano pelo silncio sobre o "terceiro segredo", tenham se juntado recentemente as do cardeal africano Emanuel Milingo, que por sua formao carismtica de certo exerce influncia sobre amplas camadas de

fiis. Para Milingo, a cria romana estaria infiltrada por foras satnicas, que colocariam obstculos divulgao da profecia. Mais explicitamente, sequazes do demnio estariam entre os altos prelados, ativamente empenhados em impedir que a mensagem da Virgem possa chegar ao seu destino, ou seja, ao conhecimento da humanidade. Alm de ser famoso por suas missas de cura, no decorrer das quais registraram-se fenmenos considerados prodigiosos por milhares de devotos, Milingo patrocina encargos de alta responsabilidade religiosa e tambm social, na qualidade de adido secretaria vaticana para a imigrao. arcebispo de Lusaka e muito amado pelos catlicos que se identificam com a religiosidade espetacular, capaz de produzir efeitos visveis, anlogos queles proporcionados pelos milagres descritos nos Evangelhos. Tudo isso confere s suas afirmaes um peso particularmente dramtico, j que provm de uma voz digna de crdito no seio da cristandade, bem distante da loucura criminosa de Agca e Khron. Milingo tambm famoso por seus exorcismos, o que lhe confere uma particular "competncia", se assim se pode dizer, em questes demonacas. Por um lado, aquilo que diz parecer coincidir com as profticas advertncias da Senhora, nas quais h claras referncias intromisso de Satans no seio da alta hierarquia eclesistica, que por isso ser dividida por contrastes irremediveis. Por outro lado, porm, deve-se levar em conta que em tais profecias o papa est acima de qualquer suspeita e apontado como uma vtima, jamais como cmplice, da iniqidade geral. Portanto, no havendo dvidas sobre o fato de que o "terceiro segredo" esteja guardado numa caixa-forte qual somente tm acesso o papa e seus assessores de confiana, e qualquer referncia influncia de poderes satnicos sobre a deciso de torn-lo pblico (deciso que compete exclusivamente ao pontfice) carece totalmente de fundamento. Contrariamente, no carece de fundamento, sendo coerente com a profecia, a afirmao de que outros expoentes da hierarquia vaticana podem estar ligados a tais poderes. O que espantoso, de qualquer modo, mas no h nada que se possa fazer quanto divulgao sonegada da profecia. O efeito demolidor da acusao lanada por Milingo (em 23 de novembro de 1996, durante um congresso internacional sobre o tema "Ftima 2000: a paz

mundial e o Corao Imaculado de Maria") ganhou fora pelo fato de o monsenhor Martin Malachi, ex-secretrio do cardeal Augustin Bea, ter sado em campo nos Estados Unidos para endoss-la. Bea esteve ao lado de Joo XXIII no momento em que este abriu o envelope contendo o texto da profecia que acabara de chegar de Portugal, em 1957. Foi o primeiro, portanto, a v-la junto com o papa e compartilhar a deciso de no divulgla. No um detalhe desprezvel que a adeso de Malachi ao ponto de vista de Milingo tenha sido expressa atravs da revista Fatima Crusader, ligada s faces extremistas do integralismo catlico, particularmente ativas nas duas Amricas. Nela surge um teorema, indemonstrvel na sua complexidade, porm sobrecarregado de indcios que reconduzem ao atentado de Khron, ao citado "exrcito azul de Ftima" e, em sentido mais geral, ao fundamentalismo lefebvriano.

2 A Doena do Mundo"J revelei isto em La Salette, s crianas Mlanie e Maximin. Hoje o repito a ti." Tal frase, inserida no texto apcrifo do "terceiro segredo" de Ftima, fornece uma chave til de leitura comparada para as profecias de origem mariana. De fato, a referncia apario anterior em La Salette (19 de setembro de 1846, tambm testemunhada naquela ocasio por dois pequenos pastores:

Mlanie Calvat e Maximm Giraud, de quinze e onze anos) induz a realar algo mais do que uma simples relao entre as diversas mensagens atribudas Madona, que se fundem ligadas por uma espcie de conseqencialidade, graas qual talvez seja possvel retomar o fio. Em outras palavras, pode-se tentar, retrocedendo a Ftima atravs de Lourdes, La Salette e outros encontros at agora registrados (997, do sculo 1 at hoje, dos quais 367 com crianas), traar uma espcie de anamnese do dom proftico mariano no seu vocabulrio e no seu contedo, para dizer como chegou at ns.

La Salette, prlogo de FtimaEm La Salette a Senhora antecipa a mensagem apocalptica de Ftima, impondo as mesmas condies para que a catstrofe seja evitada: prece e expiao. O vocabulrio idntico: "Se as pessoas no se converterem, serei obrigada a deixar livre o brao de meu Filho. Idnticos so os infortnios preconizados: "Muitas grandes cidades sero queimadas e quase destrudas, outras engolidas por terremotos. (...) Os justos muito sofrero. (...) Um precursor do Anticristo far sua apario. (...) Roma perder a f e tornar-se a sede do Anticristo." Totalmente similares so, por fim, as perspectivas referentes disposio ordenada dos planetas, destinados a um transtorno sem igual: "As estaes mudaro, bem como o clima. A gua e o fogo provocaro terremotos terrveis e grandes destruies; montanhas e cidades cairo. As Estrelas e a Lua no tero mais a fora para resplandecer (...) os demnios do ar produziro fenmenos prodigiosos no cu e sobre a terra." A profecia de La Salette, todavia, mesmo afetando, como a profecia posterior de Ftima, o destino de todo o gnero humano, se dilui em um dilogo de tom minimalista com os camponeses locais, aos quais fornece previses agrcolas, desastrosas mas circunscritas assim pareceria aos seus campos: "Se a colheita se perde, a culpa vossa. Mostrei isto o ano passado com as batatas, mas no levastes em conta. Mas sim, quando deparastes com os danos, blasfemastes contra o nome de meu Filho. Continuaro a apodrecer este ano. No Natal j no haver mais. Se tiverdes trigo, no o semeeis. O trigo semeado ser comido pelos insetos, e aquele

que vingar acabar em p quando for debulhado. Sobrevir uma grande escassez. (...) As nozes mofaro e a uva apodrecer." Vale para esta escassez de mbito local aquilo que se disse para a guerra e para as mais espantosas catstrofes planetrias. Ela pode ser prevenida pode-se definitivamente inverter a tendncia dos eventos e transmutar a desgraa temida em um triunfo de prosperidade, mas sob uma condio: "Se vos converterdes, ento as pedras e as rochas transformar-se-o em fartura de trigo e as batatas nascero espontaneamente, nos campos." O tom da exortao prece materno, pleno de ternura, indulgente. A Virgem pergunta afetuosamente, em dialeto: "Dizeis a vossa prece, filhos meus?" E logo depois acrescenta: "Ah, filhos meus, deveis diz-la bem, de manh e noite. Quando no tiverdes tempo, rezai ao menos um pai-nosso e uma ave-maria, Quando puderdes, rezai a mais." No deve causar espanto esta extrema elasticidade dos tons, s vezes severos outras vezes clementes, definitivamente afveis, que resultam dos testemunhos daqueles aos quais a Me de Deus apareceria. A Madona comunica-se e mostra-se nas modalidades mais dspares, afirmam os especialistas marianos, segundo a mentalidade e a sensibilidade dos interlocutores pr-escolhidos, adaptando-se aos costumes do lugar, lngua, aos hbitos e ao nvel cultural. mulher de cor ou de pele branca, de cabelos louros ou negros, festiva ou chorosa, menina ou amadurecida, ensangentada ou radiosa, em conformidade com o que as circunstncias sugerem, mas h um denominador comum em todas as imagens que a Senhora prope de si: a sua beleza, sempre recoberta de uma dulcssima piedade para com aqueles aos quais se dirige. uma entidade sobrenatural que se manifesta como considera mais conveniente, com a inteno, prevalecente sobre qualquer outra, de assegurar uma recepo correta da mensagem na sua verdadeira essncia.

As sete dores da Virgem Maria em um entalhe em madeira do sculo XVI.

Tambm os trajes so mutveis, correspondendo, como a linguagem, aos usos e particularidades da poca, do territrio, da vicissitude na qual a apario se verifica. Mutveis so do mesmo modo as cores e os efeitos luminosos que acompanham a viso, correspondentes a uma simbologia de fcil interpretao, funcional como qualquer outro detalhe do fenmeno para ilustrar os significados profundos.

Lourdes: guas que curam, guas que convertemAlm de profetizar sobre os destinos da humanidade e sobre aqueles mais restritos dos lavradores locais , a Virgem de La Salette estabelece uma espcie de nexo divinatrio com futuras aparies. Comunica a Mlanie uma data precisa 1858, ano de Lourdes at a qual evitar divulgar o terrvel segredo do qual se tornou depositria. como subentender que dentro cm breve o "testemunho" desta mensageira sacra passar para outra mocinha, tambm ela pauprrima, alm de doente e totalmente carente de instruo. Bernardette Subirous, de catorze anos, encontrar a Senhora em uma esqulida (e mal-afamada) gruta da periferia de Lourdes, em 11 de fevereiro de 1858. Comer o capim entre as pedras como uma cabra, far brotar uma fonte cavando a terra com as mos nuas, cair em xtases maravilhosos ou assombrosos. Ouvir horrendas vozes infernais c suavssimas notas celestiais. A Madona revelar-lhe- em dialeto que a Immaculada Councepciou. Na sua ignorncia primitiva, Bernardette no podia saber o que era a Imaculada Conceio. Foi perguntar ao proco, e este negou-se a esclarecer qualquer dvida acerca de sua f. Foi tratada igualmente como louca por muitos anos e humilhada de todas as maneiras pelas irms do convento para o qual se retirou. A Senhora tambm revelou "segredos" a Bernardette, entre os quais uma prece de misteriosos poderes, que no deveria ser divulgada. Mas no itinerrio proftico das aparies marianas, Lourdes representa algo diferente de Ftima e La Salette, encontros caracterizados por uma preponderante tenso divinatria. Assinala, outrossim, o momento taumatrgico da misericrdia divina, pronto a privilegiar a cura do corpo em

sentido simultaneamente piedoso e ilustrativo, como nos Evangelhos, onde o milagre reunia o duplo objetivo de curar o doente e de gerar o estupor no nimo dos incrus, predispondo-os converso. As guas de Lourdes curam e convertem. Ao seu apelo se deve o afluxo de dois milhes de peregrinos por ano. H muitos doentes entre eles, mas tambm curiosos e cticos. Dentre os ltimos as converses so freqentes, provocadas no raro por terem presenciado curas cientificamente inexplicveis. No extraordinrio poder curativo desta fonte brotada de modo tambm inexplicvel, ao toque de dedos movidos por inspirao mstica, reside o verdade no segredo de Lourdes. Neste sentido, sintomtica a exortao dirigida a Bernardette pela Senhora na sexta apario, em 21 de fevereiro: "Reza pelo mundo doente." Ela nunca havia usado, nem usar nas subseqentes aparies, uma expresso do gnero. uma metfora a ser lida em significado mais amplo, entende-se, mas no deve ser subestimada a eficcia puramente figurativa do termo.

A "Me da Solido"Referncias precisas s profecias de Ftima e La Salette continuam a surgir no arco das aparies que se sucedem na segunda metade do sculo XIX e no incio do XX. Confirmam-no as revelaes confiadas a Mlanie e Maximin, antecipam-no aquelas sobre as quais daro testemunho Lcia, Jacinta e Francisco. Especialmente em La Fraudais, no departamento do Loire, a vidente Marie Julie Jahenny protagonista desde 1873 at 1941, ano de sua morte, de fenmenos extticos ligados paixo de Cristo (cicatrizes, chagas da flagelao, lividez por ligao pelos pulsos e, por fim, o sinal de um mstico anel nupcial no dedo), no decorrer dos quais "v" os mesmos cenrios de morte descritos nas mensagens de Ftima e La Salette. Os seus silncios induzem um outro grande estigmatizado, padre Pio, a dizer sobre ela que " como uma violeta na sombra, espera de resplandecer na luz da verdade". No hospital de Lyon, em 1882, comparecendo por dezenove vezes cabeceira de uma jovem mulher chamada Anne Marie Coste, que sofre de

tuberculose ssea, a Senhora (apresentada como "Me da Solido") enuncia uma sentena j proferida: "Se a humanidade no se converter, no posso mais deter a mo de meu Filho, j por demais paciente." Repete a mesma coisa cm 1884 em Diemoz, nos Alpes franceses: a interlocutora, Marie Louise Nerbollier, 27 anos, recebe as cicatrizes. Tornase ela tambm promotora do culto da "Me da Solido". Muitas outras profecias sobre a guerra iminente, sobre revolues e sobre males provocados pela degenerao da humanidade se sucedem entre La Salette e Ftima: em 1848, na cidade de Obermauerbach, Alemanha, uma Madona vestida de rosa e com vu branco chora porque no pode mais "impedir, a punio de Deus"; em 1850, em Lichen, na Polnia dividida entre a Prssia e a Rssia, anuncia que um dia "os povos do mundo se espantaro ao constatar que a sua esperana de paz depender da Polnia" (e assim se viu); em 1859, em Green Bay, EUA, exorta uma vidente a realizar prodgios para que os americanos "aprendam a amar Jesus" (a Guerra de Secesso iminente); em 1867, em Kirchdorf, ustria, repete que "se a humanidade ainda resistir converso haver uma grande desolao e muitas desgraas" (assinala que "muitos raios cairo do cu e muitas casas sero tomadas pelas chamas"); em 1871, em Pontmain, cidadezinha francesa prestes a ser ocupada pelos prussianos, exorta os habitantes a no fugir, pois uma interveno divina os proteger ("Rezai", diz, "meu Filho se deixa enternecer", e na mesma noite o exrcito prussiano batia em retirada). Em 1876, na Alemanha, nas imediaes de Trier, repete-se a mesma situao de Lourdes: Maria aparece para trs crianas de oito anos declarando ser a Imaculada Conceio, termo incompreensvel para os pequenos videntes, que confirma como no caso de Bernardette a autenticidade da viso. Brota ento no lugar uma fonte, qual afinem muitos doentes que obtm curas prodigiosas. A Senhora se separa das crianas anunciando que retornar "em pocas de perigo e de ameaa". No mesmo ano em Pellevoisin, Frana, confia a uma dona-de-casa chamada Stella Faguette uma mensagem proftica, na qual exprime entre outras coisas o seu lamento pelos futuros sofrimentos daquele pas: "A frana sofrer", diz, "apesar de eu ter feito muito por ela." Como em La Salette, em Ftima, e em tantas outras ocasies, insiste em afirmar que o primeiro remdio contra tal ameaa "a converso dos pecadores".

Em 1896, cerca de cinqenta eruditos c algumas freiras tornam-se portadores de uma trgica profecia para a cidadezinha francesa de Tilly-surSculles. A Virgem prenuncia a destruio de Tilly, e o vaticnio acompanhado de espetaculares fenmenos celestes, como ocorrero em Ftima. A pequena cidade ser arrasada durante a Segunda Guerra Mundial. Premonies exatas da grande guerra dar-se-o mais uma vez na Frana em 1909, em Gray, durante uma missa, e em Alzonne, em 1913, diante de quinhentas pessoas. Ainda em Alzonne, em 1921, renovada a profecia de Ftima sobre o segundo conflito mundial. Intervenes simultaneamente profticas e protetoras causaro estupor na longnqua China, durante a feroz Revolta dos Boxers. Muitos catlicos, ocidentais e chineses, sero perseguidos e mortos, com freqncia de modo atroz, no decorrer daquela insurreio motivada pela urgncia quase mstica de preservar o que restava do Imprio Celestial da contaminao estrangeira. MARIAVIRCO MINESTER DE TEMPVLOCEROSATE

Um antigo testemunho do culto de Maria sobre pedra tumular do

sculo V, achada em Saint-Maximin, na Provena. Como que evocada pela aflio dos fiis, a Virgem aparecer trs vezes naquele ano de 1900, diante de numerosas testemunhas: uma vez no cu de Pequim, em companhia do anjo guerreiro Miguel; depois em Tong-Lu e em San-Tai-Dse, cidades ameaadas pelos rebeldes. Nesta ltima verificou-se um caso de lacrimao, interpretado por seus habitantes como sinal da vontade divina em proteg-los contra a seita xenfoba, agora a ponto de demolir as defesas ocidentais. Era funo disso, foi dado s lgrimas o sentido de uma premonio sobre a iminente derrota dos Boxers. Tomando conhecimento do fato, estes ficaram, de tal forma impressionados, que encerraram o assdio e se retiraram. Pouco depois, foram dispersados pelo corpo expedicionrio europeu, que retomou o controle de todo o territrio chins.

5 Os Seis Mistrios de MedjugorjeAo aproximar-se o ano 2.000, as aparies marianas intensificaram-se desmesuradamente e adquiriram uma realidade predominantemente

proftica. Seu nmero cresceu a ponto de fazer com que cerca da metade das manifestaes de que se tem notcia desde o incio da era crist aos nossos dias (isto , 455 de 997) fosse registrada no sculo XX. Quase todas, alm disso, voltam a propor, com variaes mnimas, as profecias de Ftima e La Salette. Uma profecia especfica sobre o incio da Segunda Guerra Mundial, a curto prazo, deu-se a 15 de setembro de 1938 na rea rural da Bretanha, onde uma jovem mulher que ordenhava vacas (Jeanne-Louise Ramonet, de vinte anos, natural de Krizinen) teve a primeira de muitas vises marianas, que se sucederam por anos. A Senhora comunicou-lhe que uma nova guerra estava s portas e acrescentou melancolicamente: "Eu a retardarei por alguns meses, porque no posso ficar surda s preces pela paz que neste momento me so dirigidas, l em Lourdes." A tenso mundial era grave, e muitos haviam recebido as anteriores exortaes Marianas prece. Hitler j anexara a ustria e exatamente naqueles dias obtinha a cesso dos Sudetos com os acordos de Munique. Maria conseguiu "deter o brao de seu Filho, como j o dissera em outras ocasies, por um ano: em 1. de setembro de 1939 o Reich invadia a Polnia, provocando a interveno tardia da frana e da Inglaterra. Referia-se tambm Segunda Guerra Mundial a imagem da "luz do sol obscurecida pelas nuvens da batalha desencadeada pelo maligno", preconizada em 1925, pela vidente alem Anna Henle, paraltica e estigmatizada desde os sete anos de idade. Disse ter recebido a visita da Senhora de La Salette, que a exortava a rezar prometendo-lhe que depois do escurecimento o sol tornaria "a iluminar o mundo na presena de Deus".

Videntes de guerraAs vises profticas se multiplicaram nos anos da guerra, e nem sempre foram de tom catastrfico, mas portadoras muitas vezes de esperana. Em Dublin, em setembro de 1939, nos primeiros dias do conflito, uma mulher quase cega "viu" a Madona, com o Menino nos braos, pisando um drago infernal. "Nada a temer", disse-lhe a Senhora, "a guerra no alcanar a Irlanda." Como de fato aconteceu. Em Bauxires, na Frana, foram recebidas mensagens com as quais a

Virgem explicava que a tragdia devia ser atribuda s blasfmias dos homens, sem prever, porm, qualquer arrependimento, uma vez que nos anos seguintes disse Maria o fervor religioso seria ainda mais reduzido. Diminuiria o afluxo dos fiis missa dominical, acrescenta, e o rito do matrimnio perderia a antiga sacralidadc. Mas isso s aconteceria depois da guerra, o que significava que o massacre atroz devia acabar: no era o fim do mundo. O conflito em curso e a nsia de avistar seu fim no desviaram, contudo, a ateno dos videntes das perspectivas apocalpticas de fim de milnio. Em 1941, em Lauquiniz, Espanha, a Senhora aparece vestida de preto cor inslita nas manifestaes marianas, densa de pressgios lgubres anunciando que num dia no muito distante "ver-se- reluzir uma grande cruz no cu e a justia divina descer sobre o mundo". Naquele dia "um vento uivante se elevar sobre toda a terra, e muitos morrero de terror". Nesta ocasio renovou suas advertncias, fazendo uma referncia acurada s profecias que continuavam sem ser ouvidas, "J apareci em diversos lugares do mundo", disse, "mas ainda so poucos os que crem em mim." Coube a uma empregada holandesa chamada Ida Pederman, mulher de vida aparentemente melanclica, mas destinada a passar por uma das mais intensas experincias msticas deste sculo sob a orientao do dominicano Frehe, testemunha de muitas de suas vises, receber em 25 de maro, em Amsterd, a profecia mais esperada: "Vejo cair cruzes gamadas..." O anncio do fim da guerra num momento em que a Alemanha parecia evidentemente derrotada (o pas assinar a rendio em 18 de maio) no seria primeira vista to excepcional. Todos podiam ver que as cruzes gamadas caam por toda parte na Europa. Mas a viso de Ida Pederman muito mais complexa do que parece, pois se articula numa grande variedade de indicaes simblicas para lanar a disposio futura do mundo nos mais imprevisveis desdobramentos polticos e religiosos. Ida Pederman viu, simultaneamente queda das susticas, estrelas que desapareciam. Viu mais adiante uma pomba negra voar embora do Vaticano e uma branca chegar. Maria tomou-lhe a mo e conduziu-a pelo jardim sobrenatural da Jerusalm Celeste, onde est "a verdadeira justia, que precisa ser reencontrada caso no se queira perder o mundo novamente . Viu por fim a Madona desaparecer, na ltima viso de 1958, e apresentar no seu

lugar uma histria sangrenta sobre um clice que transbordava ao se encher, inundando a terra. Pode-se interpretar as estrelas desaparecidas do cu como sinal do iminente desaparecimento de naes de antiga tradio religiosa, como as repblicas blticas anexadas Unio Sovitica. No revezamento das duas pombas sobre a Igreja pode-se, em vez disso, colher o sentido da renovao destinada a surgir do Conclio Vaticano II: a pomba negra leva embora consigo o antigo esprito religioso, a branca introduz o novo. a prpriaVirgem quem fornece esta chave de interpretao, dizendo vidente que ocorre entre os fiis "uma nova educao, mais alinhada com o tempo, mais social. Quanto ao sangue que transborda do clice sobre a terra, no aquele trgico das carnificinas, mas sim o sangue redentor do Cristo. Telogos e exegetas do simbolismo religioso concordam, ao interpretar esta imagem, que ela fruto de uma tica salvadora, como sinal de regenerao para a humanidade atravs do rito da Eucaristia. o mito portentoso do Graal que sobrevive na moderna simbologia visionria: o sangue que transborda da taa da mstica ceia vacina e remdio contra qualquer mal para todos aqueles que se deixam inundar. A viso de Ida Pederman era, por outro lado, acompanhada pelo eco de uma voz mscula que assim ressoava, sem qualquer equvoco: "Quem me come e me bebe recebe a vida eterna e o verdadeiro Esprito." A Senhora apresentou-se vidente holandesa como "Me de todos os povos", uma denominao em harmonia com a urgncia universalmente sentida, depois dos horrores da guerra, de solidariedade internacional.

Uma Descida ao InfernoCom o ps-guerra retornam as mensagens que reconduzem de maneira mais direta tradio apocalptica de Ftima e La Salette. Em 1947, em Montichiari, Lombardia, a Madona aparece durante uma funo na catedral e diz: "Jesus no pode mais suportar as ofensas graves. Queria mandar um castigo sobre a terra. Mas eu", prossegue, repetindo uma expresso recorrente em diversas aparies anteriores, "contive sua mo e ainda obtive misericrdia."

Sua interlocutora Pierina Gilli, uma enfermeira do hospital de Montichiari que j havia sido protagonista de fenmenos ocultos. Recebera inclusive a visita noturna de demnios que a espancaram violentamente, recobrindo-a de hematomas. Para escapar, foi obrigada a refugiar-se junto s freiras do hospital onde trabalhava. Naquela assustadora circunstncia, teve uma viso do inferno. Era um lugar superpovoado, conforme relatou depois, de padres negligentes aos seus votos: "A primeira fileira de amaldioados formada pelas almas consagradas dos religiosos que traram sua profisso, a segunda daqueles que morreram em pecado mortal, a terceira pelos sacerdotes de Judas..." Vinte anos depois, em 17 de abril de 1966, sempre atravs de Pierina, a Senhora enriquecer de significados os fenmenos de Montichiari, criando uma analogia com Lourdes. Ordenar mulher que se dirija s imediaes da gruta de Fontanelle, um pouco distante do centro habitado, onde existe uma nascente, e lhe dir: "Meu Filho pleno de amor e enviou-me a este lugar para tornar a fonte taumatrgica." Note-se que a linguagem difere daquela que usou com Bernardette. Maria emprega o adjetivo "taumatrgica", que a pequena vidente francesa, na sua ignorncia, jamais compreenderia, enquanto Pierina, pela sua experincia em assuntos sanitrios, tem condies de interpretar corretamente. "Desejo que os doentes e todos os meus filhos possam vir a esta fonte miraculosa", dir, alm disso, "mas dize aos fiis que desejo tambm a devoo deles ao Santssimo Sacramento, para que vo primeiro igreja honrar o meu filho divino e agradecer a Ele por tanta graa e misericrdia." a dialtica de Ftima, que tende a solicitar ao povo de Deus, a prece como pressuposto da graa. Quer se trate de curar, como neste caso, quer de escapar ao flagelo punitivo final. Tambm com Ftima, tal como com Lourdes, a Senhora de Montichiari estabelecer um nexo, algumas semanas depois, aparecendo em um campo de trigo no dia de Corpus Christi, em 9 de junho. "Quero que este trigo", dir a Pierina, chegue em muitas hstias a Roma, e de l a Ftima, em 13 de outubro."

A harmonia geomtrica e espiritual da arquitetura religiosa medieval: interior da catedral de Soissons, sculo XIII.

Assim, entre prodgios, graas e profecias que se entrelaam, a rede dos fenmenos marianos se adensa com a aproximao do novo milnio, tendendo a traduzir todas as coisas ditas pela Madona em uma nica mensagem. Que pode aparecer no seu complexo repetitivo, porm tinge-se cada vez mais de milenarismo no encurtar do tempo. "Quando todos os homens adquirirem f no meu poder haver paz", diz a Virgem em um bosque perto de Pfaffenhofen, Alemanha, em 25 de abril de 1946. Esta mensagem, comenta o bispo, "sintetiza quase tudo o que foi dito nas aparies precedentes". A Senhora dir a mesma coisa em Turzovka, na Tchecoslovquia, no vero de 1958: "Se as naes se converterem a Deus vivero sobre a terra em paz, felicidade, harmonia e beleza." Dirige-se uma guarda-florestal, que depois das primeiras aparies ser internada em um manicmio pelas autoridades comunistas. Mensagem idntica ser recebida em Saigon em 1963 pelas freiras de um convento no qual a Madona se manifesta mais vezes: "Deus quer doar-vos a paz, mas somente se praticardes a prece e o amor ao prximo."

As "horrendas verdades" de FtimaVez por outra, tem-se a impresso de que a Madona, ao lastimar-se pela escassa influncia exercida sobre a humanidade por suas mensagens, leva em conta a revelao sonegada do "terceiro segredo" de Ftima. Significativo no seu amargor desolado, aparece em tal sentido aquilo que a Virgem confia pequena vidente napolitana Teresa Musco, de oito anos, acometida de uma doena terrvel, em 30 de setembro de 1951: "Apareci em Portugal, em Lourdes, em La Salette, onde deixei minhas mensagens, mas quase ningum me deu ouvidos. (...) Agora te falarei do terceiro mistrio de Ftima. As autoridades eclesisticas querem reserv-lo s para elas, ningum quer assumir a responsabilidade de torn-lo pblico antes da vinda de Paulo VI. [...] O atual papa no ousa divulg-lo porque o mistrio contm verdades horrendas! A poca o trono de Pedro era ocupado por Pio XII. Depois dele, tornar-se-ia papa, em 1958, o cardeal Roncalli, sob o nome de Joo XXIII. Este s em 1963 seria sucedido pelo cardeal Montini, nomeado Paulo VI, e a pequena

Teresa no poderia saber disso. A Senhora renova em termos mais destacados a advertncia sobre as conseqncias desastrosas da indiferena humana em Heroldsbach, na Alemanha, a 31 de outubro de 1952. Tem como interlocutores quatro mocinhas entre doze e treze anos, s quais j apareceu vrias vezes. "No quiseram ouvir minha vontade nem a de meu Filho", diz a elas. "Agora tarde demais para que a humanidade se converta." Deixa, porm, uma esperana, embora em forma de ultimato: Este o ltimo apelo que dirigimos aos homens." Mas um apelo, ainda que o ltimo, representa uma possibilidade de salvao para quem sabe acolh-lo. As vises de Heroldsbach foram acompanhadas de fenmenos ticos singulares, como o surgimento de uma coroa de rosas (segundo alguns da prpria Virgem, com o Menino nos braos, em torno do sol. Espetacular foi a descrio que as mocinhas fizeram do ltimo encontro, no decorrer do qual Maria foi precedida por um cortejo de anjos e vrios santos. Entre estes reconheceram Teresa de Lisieux, Bernardette, Gemma Galgani e Antnio de Pdua. O apelo repetiu-se mais vezes nos anos que se seguiram, em tom de ultimato severo, diludo porm por uma piedade que sempre induz a Senhora a sugerir meios de escape. "A jarra est cheia, a gua transborda", diz a Madona na aldeia espanhola de Garabandl, em 18 de junho de 1965, a Conchita Gonzles, uma jovem de quinze anos que, junto com trs outras jovens da mesma idade, tinha vises desde 1961. Lamenta que uma de suas mensagens precedentes (sempre em Garabandl, datada de 18 de outubro de 1961) no tenha sido acolhida, e por isso se despede dizendo: "Esta minha ltima reprimenda neste lugar." A compaixo, porm, prevalece, na dureza da despedida: "Devereis de fato preocupar-vos para que a ira divina no desabe sobre vs. Se implorardes o perdo com sinceridade de alma, vs o tereis. (...) Amo-vos muito e no quero a vossa maldio. Chegamos s ltimas advertncias... Depois de cinco anos de uma alternncia de xtases e horrores, verificaes acuradas do estado fsico e mental das quatro jovens, confrontos sobre notcias por elas divulgadas em torno de fatos que no podiam conhecer objetivamente, os acontecimentos de Garabandl foram definidos por Paulo

VI como "a segunda estada de Maria sobre a terra, a histria mais bela j escrita da encarnao de Cristo". Conchita e suas amigas puderam ver, alm da Virgem, os prprios anjos zeladores. Um deles "aparentava cerca de nove anos e irradiava uma poderosa luminosidade; tinha os olhos negros, a pele morena e cachos louros; envergava um traje azul comprido e trazia s costas halos reluzentes de colorao rosa-claro". Mas viram tambm coisas tremendas, que o arcanjo Miguel lhes mostrou na noite de 19 de junho de 1962, e que se recusaram depois a contar. Conchita gritou, em transe: " terrvel! No, no escreverei isto!" Outras testemunhas relatam ter ouvido ecos apavorantes e vozes humanas. Foram apanhadas no tumulto das frases excitadas que ressoaram como lamentos: "Fazei morrer primeiro as crianas pequenas! Dai s pessoas o tempo para se confessarem!" As mocinhas, em lgrimas depois da viso, no quiseram falar com ningum. - Vimos o fim dos tempos - limitaram-se a dizer mais tarde, Foi terrvel, como se fssemos postas na fogueira. Uma profecia anloga foi colhida na Blgica por um senhor muito equilibrado, o funcionrio belga Leon Theunis, de 44 anos. A Madona apareceu-lhe em 1967, durante suas frias nas Ardenas, e depois na igreja de Mortsel, onde ele vivia. "Os habitantes sobre a terra sero aniquilados", disse Maria. "S uns poucos sobrevivero. (...) As cidades sero abandonadas, as fundaes da terra abaladas." Ela falou tambm em Akita, Japo, em 1973, de um grande "castigo" em preparao para toda a humanidade. Quem recebeu a profecia foi uma monja japonesa chamada Sagarawa Katsuko, tratada pelas outras irms de sror Ins. "A ira de Deus contra o mundo est agora acesa", disse Maria, contrapondo, porm, a esta ameaa sua vontade de salvar de qualquer modo o gnero humano: "Tento junto a meu Filho mitigar a clera do Pai celeste. Por isso me mostrei com tanta freqncia no mundo." Em uma apario posterior, Sagarawa descobriu (e transcreveu) de que teor seria o castigo que estava nos planos de Deus se a humanidade no se

redimisse: "(...) Uma punio mais dura que o dilvio universal, uma punio como jamais houve at aqui. No h dvidas quanto a isso. O fogo cair do cu e muitos homens morrero, inclusive padres e devotos. E os sobreviventes sofrero a ponto de invejar os mortos." Alm do significado geral, a profecia relata tambm, como bem evidencia a ltima frase, aquilo que j fora dito em Ftima. E mais uma vez o cenrio malfico mitigado por uma estratgia de amor. Maria recomenda como "nico meio de defesa a recitao do Rosrio e o sinal-da-cruz. Existe, portanto, a possibilidade de salvao. E ela, a Me de Deus, mostra-se decidida a exercer todo o seu poder, sobre os homens e seu Filho, para que isso acontea. "Se for necessrio, aparecerei em cada casa", dir em 1981 em Medjugorje.

Dez anos de tempoForam confiadas aos videntes de Medjugorje (seis jovens entre quinze e vinte anos: Manja Pavlovic, Jakov Colo, Mirjana e Ivan Dragevic, Ivanka e Vicka Ivankovic) seis profecias, uma para cada um deles. Acompanhadas de uma ordem rigorosa, jamais adotada antes de forma to radical: no as revelar, nem sequer aos padres e ao prprio pontfice, seno na poca devida. Sobre estes seis segredos sabe-se apenas que dizem respeito ao futuro da Igreja e de toda a humanidade, ao culto de Maria e a eventos ligados vida dos depositrios. A eles a Virgem, apresentada como "Rainha da Paz", disse tambm alguma coisa de significativo sobre a maneira de discernir as falsas profecias das autnticas. "As verdadeiras", disse Maria, "duram no tempo; as outras so esquecidas. Manifesto-me quando assim deseja meu Filho. O mundo diz que apareci outras vezes, mas em certos casos por interesse ou fantasia. A verdade est em Lourdes, em Ftima, em Garanbandl, cm Medjurgorje, em Roma..." Alm disso, ops-se ao hbito difundido de interpretar suas previses sob uma tica assustadora, mesmo quando aparentemente prenunciam catstrofes: "As pessoas tm necessidade de f, no de temores" (28 de junho de 1981).

uma nova possibilidade de leitura das mensagens apocalpticas, procurando e privilegiando nelas os elementos capazes de neutralizar o castigo, mediante a observncia das condies impostas pela vontade divina, no apenas em termos de expiao, e sim de f, atribuindo prece um valor festivo. Neste sentido, o prodgio de Medjugorje representa uma autntica epifania da evoluo da tradio proftica mariana. um sinal que redimensiona a profunda derrota sentida pelo homem frente prpria perversidade insanvel, determinando uma verdadeira e singular reviravolta. Perdem assim credibilidade aquelas mensagens subseqentes que, prescindindo disso, insistem em propor atrozes solues finais. O que no vlido para limitar sua proliferao. Muitas foram registradas a partir de ento, e a tendncia foi sua ascenso no intervalo de tempo que separou estes eventos da chegada do ano 2000. Em Marpingen, Alemanha, uma profecia de tom inslito pela sua dureza foi coletada por um campons em 1983. As palavras atribudas Madona so repletas de ressentimento ("Minha mensagem foi deturpada e caiu no ridculo..."), recriminao ("Mostrei-vos o inferno com os pecadores perdidos eternamente, fiz com que vsseis o maior de todos os milagres, o prodgio do sol...), reprovao ("Os pecados de hoje superam todos aqueles do passado pela sua gravidade. [...] Triunfa somente a escravido do vcio, o dio, o descontentamento, o litgio, a inveja, a avidez, o livre amor dos sentidos..."), ameaa ("Desgraa e guerra de caractersticas desmesuradas vos surpreendero..."), ma, sobretudo, carentes de misericrdia, pois no deixam vias de escape: "Vossos pecados suscitaram a ira de Deus e provocaram duas guerras mundiais. (...) No vos espanteis se ocorrerem outras catstrofes. (...) Foi-vos concedido muito tempo para redeno e melhora. No servir, no ter mais sentido apelar no momento da desgraa: 'Senhor, Senhor!...'" Pecados demais, pecadores demais pelo mundo. uma interao que submete a esperana a uma dura prova. A mensagem repetida a 28 de maro de 1984 em Jall-el-Dib, nos arredores de Beirute, um territrio j devastado pela violncia endmica. coletada por uma jovem cujo nome soa tambm como uma premonio, Joana d'Arc Farage, de dezoito anos, tal como a "donzela de Orlans". O indefectvel anncio de um castigo

catastrfico, porm, faz-se acompanhar de mltiplas sugestes para evit-lo: exerccios espirituais, eucaristia, recitao do Rosrio, vida devota e amigvel nas relaes com o prximo.

Representao popular da crucificao com elementos simblicos, como a palmeira despedaada e os muros da Jerusalm terrena. Aparies e profecias de contedo anlogo se entrelaam na mesma ocasio entre Polnia, Burundi, Hungria, Estados Unidos, Argentina, Canad, Egito e outras regies de cada continente. No vero de 1985, por fim, a Virgem relana o seu ultimato (desta vez da Irlanda, em um santurio pouco distante do convento cisterciense de Mont Melleray), fixando um prazo exato: "O mundo tem dez anos de tempo para se converter se no quiser enfrentar a ira de Deus. Os fiis de Melleray descobrem em que pode consistir esta ira atravs de

uma espantosa viso, no decorrer da qual alguns meninos assistem a uma espcie de novo dilvio universal, com afogamentos em massa e barcos afundados por mars irresistveis. "Quero que caiba ao povo irlands difundir minha mensagem pelo mundo", diz a Madona, explicando a escolha com o seu amor pela Irlanda, terra devota, que merece ser poupada. "Deus est contente com a Irlanda. A Irlanda ser salva..." Mas reservar tal esperana s para a Irlanda contrasta com a misericrdia de Maria, Me generosa dos povos e Rainha da Paz. Assim, a certa altura, num mpeto de amor, dramatiza: "Se as pessoas rezarem e se converterem, Deus salvar o mundo e a Irlanda." Deixa entender, portanto, que ps debaixo do seu manto todos os pecadores da terra. o rigor de Ftima que se dilui no esprito de Medjugorje.

Ratzinger: "Nada de espantoso" na mensagem da VirgemVem afianar a interpretao salvadora das profecias marianas, com particular ateno ao "terceiro segredo" de Ftima, uma recente entrevista do cardeal Joseph Ratzinger, diretor da Congregao para a Doutrina e a F, ao jornalista alemo Peter Seewald. O cardeal, apontado como "o nico a conhecer a mensagem de sror Lcia junto com o papa", disse que ela no esconde nada de particularmente "perturbador" em relao s verdades anunciadas pela Igreja Catlica, confirmando o que j havia defendido em outras ocasies, ou seja, que as profecias de Ftima voltam a propor aquilo que Jesus afirma nos Evangelhos: "Se no vos converterdes, todos perecereis" Ratzinger especificou que o "terceiro segredo" a nica profecia ainda mantida nos arquivos secretos daquilo que j foi o Santo Ofcio. Depois desmentiu indiretamente a autenticidade do texto poca divulgado, afirmando que at ento "no mais que trs ou quatro pessoas" tiveram conhecimento dele. Por isso definiu como concluses despidas de fundamento os boatos acerca do temido anncio da terceira guerra mundial. Ao ser perguntado se a leitura do segredo o tinha perturbado, o cardeal respondeu com um seco "no". Acrescentou inclusive que o texto no anuncia catstrofes iminentes e que, ao l-lo, no se viu "diante de nada

particularmente espantoso". Finalmente, bateu mais uma vez na tecla de que a comunicao transcrita por sror Lcia "no vai de modo algum alm daquilo que est contido na mensagem crist enquanto tal". As palavras de Ratzinger, por mais tranqilizadoras que sejam na superfcie, correm o risco de aumentar a inquietao provocada nos fiis pelo veto divulgao da mensagem mariana. Aquilo que o cardeal diz contrasta de forma surpreendente com o parecer a seu tempo expressado por Joo Paulo II sobre a poca inoportuna para divulgar o "terceiro segredo", devido ao seu apavorante contedo. No se trata de cortina de fumaa, mas sim de referncias explcitas ao que a Virgem teria anunciado: o papa fala de inundaes ocenicas e homens arrancados "repentinamente" da vida, o cardeal exclui qualquer referncia a catstrofes iminentes. A resposta sobre quem diz a verdade est nos arquivos do Vaticano.

4 Um leo ruge contra DeusCom lgrimas no corao conclamo todos orao. Chegou a hora do Apocalipse." um dos 195 "apelos" atribudos a Jesus Cristo (e transcritos entre 8 de setembro de 1987 e 23 de outubro de 1988 em Roma) pela freira queniana Anna Hadija Ali, junto ao monsenhor Emmanuel Milingo. Sror Anna protagonizou fenmenos que causaram sensao em 1994 aps a publicao de um pormenorizado relatrio, recheado de fotos garantem de Jesus, que lhe teria aparecido muitas vezes, confiando-lhe mensagens sobre um j prximo futuro da humanidade. As aparies teriam ocorrido nos arredores da Porta Anglica, junto aos aposentos de monsenhor Milingo, pelo qual Anna teria sido curada anteriormente (desde pequena sofria de misteriosos sangramentos) e depois consagrada na Ordem das Filhas de Jesus, por ele fundada. Contribuiu para creditar como plausveis as revelaes de sror Anna a complexidade dos conceitos teolgicos expostos, voltados para a proposio de uma "retomada do culto eucaristial tradicional". A jovem queniana (que

contava 23 anos poca das primeiras aparies) de fato possui cultura limitada, tendo interrompido os estudos por motivo de sade, sem terminar o curso secundrio. interessante destacar que so recorrentes no seu caso, como no de Ftima, nebulosas referncias cultura islmica. Anna na realidade filha de pai muulmano e me catlica. No prefcio do livro, ela agradece amorosamente a ambos. Com extrema cautela, o arcebispo Milingo declara "no atribuir a nada mais que nossa f humana os eventos extraordinrios narrados no livro que contm revelaes transmitidas sror Anna Ali"; e, para evitar equvocos, acrescenta no ser sequer adepto da idia de subtrair-se ao julgamento definitivo da Igreja, qual se submeter "incondicionalmente".

O Cristo fotografado na Porta AnglicaAnna no fotografou a apario por iniciativa prpria, mas sim por sugesto dos seus superiores, aps ter comunicado a eles aquilo que acontecia em seu quarto na Porta Anglica. Causa profunda impresso, contudo, a rgida semelhana do retrato com outras imagens consideradas sobrenaturais do Cristo, e em especial com uma foto batida na Palestina em 1876 a fotografia mais antiga do gnero , hoje conservada nos arquivos do Vaticano. O que h de certo que se trata da mesma pessoa, se no exatamente do mesmo retrato, o que poderia constituir, segundo o ponto de vista no qual se baseia, uma prova a sustentar ou negar a autenticidade da foto. Mas no nos cabe estabelecer tal fato. Vejamos, em vez disso, em que termos a freira descreve, durante uma conversa com o padre Mbukanma, a entidade que se manifestou como Filho de Deus: Veio com a sua luz, envolto em um esplendor azul profundo como o cu. Sua presena iluminava todo o lugar. Vestia uma tnica vermelha cor de sangue, com mangas folgadas. Os cabelos eram escuros e cintilantes. - O que disse Ele quando voc o viu? - Deu-me uma mensagem e, a Seu pedido expresso, comecei a escrever aquilo que me dizia. - Que atitude Ele assumiu enquanto falava? - Falava-me com uma voz repleta de piedade, e sempre faz assim quando

me aparece [a entrevista de 9 de setembro de 1991]. Fala-me como se fosse um mendigo. - A que horas Ele lhe apareceu? - Por volta das duas, trs da madrugada. - Ele ainda lhe aparece? A que horas? - Entre duas e trs e meia. Na quarta-feira por volta da meia-noite, na quinta, nas primeiras horas da manh. - Nunca apareceu de dia? - No. - Com quem vem? - Sempre me aparece sozinho. - Quando aparece, Jesus tem o aspecto de um ser humano normal? - um ser humano. Mas diferente. Diante de Sua santidade a gente se sente miservel... um homem de estatura mediana. No possvel descrev-lo. Em Sua presena emudecemos, nos sentimos perdidos. - Quando lhe aparece est triste, gentil, srio, feliz? - Quando passa as mensagens tem uma voz repleta de piedade, portanto triste, mas uma tristeza de amor. s vezes chora lgrimas de sangue. - Por que chora? - Est muito magoado pelo modo como tratado por aqueles a quem Ele confiou as almas. Alguns O insultam durante a eucaristia e O querem destruir exatamente naquela s... Est triste tambm por causa da vida espiritual dos seus consagrados... - Como voc se sentiu na primeira vez em que viu Jesus? - difcil explicar. Senti-me num estado de torpor. - E quando Jesus se foi? Teve medo ou se sentiu feliz? - Continuei a pensar Nele. Nem triste nem contente. Pensava. Jesus ainda lhe aparece? Em quais dias? - Ainda aparece. s quintas-feiras noite. - O que lhe diz a cada vez? - Ele me pede com freqncia para rezar por aqueles aos quais confiou as almas: os padres. - Quanto tempo dura a conversa? - No saberia dizer. Quando est aqui me vejo envolvida por Sua santidade, e quando se vai demoro um pouco a voltar a mim. No estou em condies

de explicar melhor.

A hora de SatansA profecia apocalptica de Porta Anglica centra-se sobre a hiptese de uma catstrofe anloga prenunciada pela Madona nas aparies de Ftima e La Salette. Por ser muito rigorosa, porm, Jesus pretende evit-la e para isso pede a colaborao daqueles que, de outro modo, seriam implicados: "Preparai-vos todos, bons e maus, adultos e crianas, padres e freiras, toda a humanidade. Eu amo a todos, e concedo-vos tempo. (...) No quero que ningum perea. (...) Amo a humanidade e desejo derramar minha piedade no corao dos homens. (...) Eu espero, a minha piedade imensa. (...)" (mensagens de 29 de outubro de 1987 e de 31 de maro de 1988). Sua inteno salvadora esbarra, entretanto, com uma situao to degradada que Ele prprio encontra dificuldade para govern-la. "Sou crucificado e insultado, blasfemado e renegado, e ainda assim continuo a amar. (...) Derramo lgrimas de sangue sobre a humanidade. Como um mendigo, peo meditao e consolao do mal. (...)" Mas o apelo at hoje no surte efeito, lamenta o Cristo: "A humanidade me trai como Judas e leva as almas a seguir amores culpados como o dinheiro, at perdio. Satans enegreceu os espritos que j se haviam revoltado contra si mesmos. O mal se contorce como uma serpente monstruosa que inconscientemente envolve as almas. (...) E a hora de Satans. (...) O demnio aprisionou as almas" (8 de setembro de 1987). O domnio infernal no se limita nem mesmo humanidade profana. O diabo infiltrou-se, como de resto haviam antecipado as mais congelantes profecias marianas, no prprio seio da Igreja. Misturando-se aos padres, "est fazendo de tudo at que seja abolido o sacrifcio da missa". A profecia reproduz com certa fidelidade o escrito apcrifo do "terceiro segredo", que com estes confrontos recupera uma parcial plausibilidade. "Ocorrero grandes porfias", diz Jesus a sror Anna. "Cardeais contra cardeais, bispos contra bispos. Satans caminhar entre as suas fileiras como em um bando de lobos esfomeados. Mudanas ocorrero. (...) O que estiver corrompido perecer e no mais retornar luz" (24 de setembro de

1987). Sobrevm, portanto, "a hora do perigo". A mensagem adverte com apreenso explcita que "o primeiro golpe est prximo e que "o tnue fio que separa o mundo do abismo est por despedaar-se. Em torno, "tudo est silencioso, imvel como se o Onipotente no existisse". Do seu canto, "a justia divina est pronta para agir". Quando? o prprio Cristo quem pergunta: "Ser dentro de alguns meses? Ou um ano?" A tarefa de "tal forma difcil" que tenta dar uma resposta a si mesmo. Deve admitir que "somente o Pai Eterno o sabe. Mas, se desconhece quando se dar, o filho sabe muito bem qual ser o castigo, se ele no puder ser evitado: "Um fogo imprevisto descer sobre toda a terra. Grande parte da humanidade ser destruda. [18 de setembro de 1987] (...) Ser um tempo de desespero para os mpios. Iro me implorar com gritos e blasfmias satnicas para recobri-los com as montanhas, fugiro para buscar refgio nas cavernas, mas em vo. (...) No cu aparecero nuvens flamejantes e sobre o mundo cair uma tempestade de fogo. [7 de outubro de 1987] (...) Muito sangue ser derramado e as estradas ficaro repletas de cadveres. [8 de outubro de 1987] (...) As igrejas sero saqueadas; ocorrero terremotos, doenas incurveis, revolues e tumultos: O mundo ser transformado por completo. O grande cataclismo que se abater repentinamente sobre a terra ser apavorante, como se fosse o fim, mas a hora final no chegada ainda, embora no esteja distante. [13 de outubro de 1987] (...) Haver dilvios, terremotos, destruies, erupes, homicdios, epidemias, escassez. [14 de outubro de 1987] (...) Todas as naes sero submersas em lgrimas; haver luto, castigo, terremotos, inundaes e doenas de todo tipo. [20 de outubro de 1987] (...) O mundo inteiro estar em guerra, invadido pela runa e pela morte. As armas mortais no s exterminaro os exrcitos, mas destruiro tambm as coisas mais sagradas e santas, as crianas, os ancios e os enfermos. [12 de novembro de 1987] ()"

O Anticristo domina a "pirmide papista" neste desenho luterano (holands) de inspirao apocalptica, do sculo XVI.

Viro "tempos piores que o grande dilvio", prossegue a predio. "O cu ser coberto por uma densa nvoa e a terra ser sacudida por terremotos terrveis que abriro profundos abismos, engolindo cidades c provncias. [21 de novembro de 1987] (...) Abismos, montanhas e lava incandescente engoliro aldeias inteiras. Ocorrero eletrocues, mares turbulentos, suicdios, drogas, doenas. [22 de novembro de 1987] (...) O mundo atual est pior do que Nnive. (...) uma corrente de escndalos, um pntano de fogo, de estrume, de lama. (...)"

A Itlia dos traidores e dos espiesA profecia reserva tons particularmente aflitivos ao destino da Itlia, "pas preferido de Deus". O seu povo "sofrer enormes transtornos e ser purificado por uma grande revoluo; apenas parte dele ser salvo". O Cristo de sror Anna recorda tambm as Brigadas Vermelhas e fala de sua infiltrao no governo, entendido evidentemente no sentido lato de classe dirigente, mas faz aluses manifestas tambm s intrigas institucionais: "Muitos espies e traidores renegam a sua me-ptria." Destaca, alm disso, que "a corrupo chegou ao limite [a mensagem de 25 de outubro de 1987, bem anterior ao inqurito Di Pietro] e que na Itlia haver uma revoluo poltica", talvez esta j tenha ocorrido, talvez a profecia se refira s conseqncias de propinas e clientelismo. So, de qualquer forma, esses os cenrios sobre cujo pano de fundo "a Itlia ser estropiada por assassinos" e "a Igreja esmagada com o orgulho da violncia" (18 de outubro de 1987). A espera do que possa acontecer, "Roma est se preparando para ser destruda pelo crescimento de uma conscincia atia". Entre intrigas e ambigidade, "os prprios romanos trairo Roma e toda a Itlia". Pode-se intuir do vocabulrio proftico que, os romanos" no se refere populao de Roma, mas classe poltica que, a propsito, est concentrada na capital; e tambm ao clero infiel, cuja traio figura entre as notas mais dolorosas da mensagem. constante a referncia infiltrao de Satans no Vaticano embora atenuada por omissis e obra de sacerdotes infiis, que desviam as hstias dos tabernculos para as missas negras, que participam de

convescotes diablicos e profanam o sacramento da eucaristia. Com toda clareza, o Cristo de Porta Anglica vaticina: "O diabo destruir a melhor parte do meu rebanho. (...) Os meus consagrados, que perderam todo o amor, no fazem mais que me insultar e cuspir sobre mim." Depois fala de um leo que ruge", que avana contra a Igreja, e de um "Lcifer vermelho" que, testa das suas legies, se prepara para lanar desordem sobre o povo de Deus (1. de novembro de 1987). Igualmente severa a opinio acerca de um tecido social deteriorado pela indignidade dos lderes, sobre os quais recair a responsabilidade por permitir que as leis das naes despedacem a lei divina (12 de novembro de 1987). A profecia adverte igualmente os ministros e magistrados. A advertncia a estes ltimos categrica: "Se no fizerem penitncia e no cumprirem sua responsabilidade, iro perecer um aps outro" (8 de outubro de 1987). Deduz-se que em relao a eles o orculo se reservara o dever de dar andamento a uma convocao mais especfica, alm do que foi previsto pela advertncia geral a toda a humanidade.

"Como um menino assustado..."Na sua "sede de almas", alimentada pela angstia de uma pena que no quer infligir, mas que no tem certeza de poder impedir, o Cristo fotografado em Porta Anglica "como um menino assustado que vem pedir consolao". ele prprio quem d de si esta sofrida imagem. Agoniza diante de cada alma que lhe escapa "como um caador que se deixaria ferir de morte para atrair a sua cobiada presa". Implora a sror Anna a piedade que os outros lhe negam. Pede-lhe, certas noites, para no dormir: "Fica de viglia comigo, preciso da tua companhia. Mergulha na suma contemplao. (...) Esta a minha difcil hora tenebrosa. (...) Dedica tempo ao meu amor no meu sacramento. (...) Deixa que eu te use, abandona-te a mim sem pensar no que te acontecer (...)" (8 de setembro de 1987). Ao dizer isto, abre-se s mais ntimas confisses, como se fosse ele o humano e ela a divindade: Eu amo e espero dia e noite no meu tabernculo para poder abraar todos. (...) Por entre os vus do meu tabernculo continuo a olhar, mas ningum vem me visitar" (16 de dezembro de

1987). Em tanta solido amadurece, junto com a inevitabilidade do castigo, uma soluo salvadora que ultrapassa as vias de escape at agora apresentadas. Pela primeira vez na tradio das profecias apocalpticas, de fato, o Cristo de sror Anna tem a dizer que a sua advertncia "no uma ordem de condenao para o inundo inteiro" (5 de dezembro de 1987). Esclarece, em outras palavras, que o cataclismo no comportar extermnio indiscriminado, como foi dado a entender outras vezes. Pelo contrrio, tambm na calamidade mais ruinosa "as almas justas nada tero a temer, porque sero separadas dos mpios e dos obstinados, sero salvas" (18 de setembro de 1987). Sela esta promessa com uma afirmao que em linguagem leiga garantiria: "Ningum vai para o inferno sem a prpria concordncia" (9 de outubro de 1987).

5 O Apocalipse de JooA fonte de todas as profecias catastrficas de fim de milnio e fim do mundo, segundo uma tradio consolidada o Apocalipse do evangelista Joo, escrito na ilha de Patmos por volta do ano 97 d.C. Pertence ao Novo Testamento, como os quatro Evangelhos, mas assinala o eplogo coerente com uma histria iniciada no Antigo Testamento, com o Gnesis. Como este ltimo narrava a criao do mundo, o Apocalipse descreve-lhe o fim num crescendo mstico e visionrio que fecha o ciclo

das Escrituras. Em grego, apocalipse significa "revelao". Para colher seus significados e interpret-los, necessrio decodificar uma vasta gama de smbolos, correspondentes a um conjunto hermtico que parece representar a quintessncia de tudo o que o esoterismo proftico cristo produziu nos seus primrdios. Contudo, alem dos seus cenrios amedrontadores e do espanto que certas imagens suscitam na sua monstruosidade enigmtica, a profecia de Joo pa