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UNEB – UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I Márcia Rêgo do Rosário AS IMPLICAÇÕES DO CONTEXTO SOCIAL NA FORMAÇÃO DO LEITOR Salvador 2009

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UNEB – UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

Márcia Rêgo do Rosário

AS IMPLICAÇÕES DO CONTEXTO SOCIAL NA FORMAÇÃO DO LEITOR

Salvador 2009

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MÁRCIA RÊGO DO ROSÁRIO

AS IMPLICAÇÕES DO CONTEXTO SOCIAL NA FORMAÇÃO DO LEITOR

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia, com Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª Drª Maria Antônia Ramos Coutinho.

Salvador 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB Bibliotecária: Maria Ednalva Lima Meyer-CRB-5/544

Rosário, Márcia Rêgo do As implicações do contexto social na formação do leitor. / Márcia Rêgo do Rosário. - Salvador, 2009. 75f. Orientadora: Profª Drª Maria Antonia Ramos Coutinho Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade do Estado da Bahia Departamento de Educação. Campus I. 2009. Inclui referências.

1. Leitura. 2. Leitura - Aspectos sociais. 3. Incentivo à leitura. I. Coutinho, Maria Antonia Ramos. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. CDD: 372.4

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MÁRCIA RÊGO DO ROSÁRIO

AS IMPLICAÇÕES DO CONTEXTO SOCIAL NA FORMAÇÃO DO LEITOR

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia, com Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª Drª Maria Antônia Ramos Coutinho.

Aprovada em: _____ de __________________ de 2009.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Professora Drª. Maria Antônia Ramos Coutinho – UNEB

______________________________________________ Professora Drª. Rilza Cerqueira – UNEB

______________________________________________ Professor Dr. Luciano Sérgio Ventin Bomfim – UNEB

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Para as duas pessoas mais especiais da minha vida:

Minha mãe e minha filha

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AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a Deus, pela minha existência. À memória de minha mãe, responsável por tudo de que bom há em mim e que sempre acreditou que eu conseguiria chegar ao final dessa etapa. Agradeço também à minha filha Camila, pela sua infinita paciência e compreensão pelas minhas ausências forçadas, mesmo quando estava presente. Gostaria de aproveitar para prestar meus agradecimentos, aos meus irmãos e familiares, pelo apoio, incentivo e fé constante, especialmente ao meu irmão Marcos, que contribuiu imensamente, sempre me esperando à noite, para que assim eu pudesse assistir até o final das aulas. Também ao Marcelo e sua esposa Simone, que em muitos finais de semana, bondosamente cuidaram de minha filha, e assim tornaram possível a minha participação em cursos e seminários extras. Participo meus agradecimentos à Profª Drª Maria Antonia Ramos Coutinho, a quem devo todo esse projeto, pelas suas aulas de literatura que me estimularam para essa pesquisa, pela orientação dedicada e também pela possibilidade de compartilhar seus conhecimentos. Agradeço também ao Prof. Dr. Luciano Bonfim, com o qual pude aprender muito, através de suas contribuições e orientações precisas e relevantes. Estendo meus agradecimentos a todos os professores que fizeram parte da minha formação acadêmica, acreditando que, apesar do trabalho muitas vezes solitário que requer uma monografia, são as idéias de muitos que nos acompanham que nos levam a realizá- la. Aos amigos de trabalho da Hydros, família adicional que encontrei em meu percurso, por apoiar o meu desejo de voltar aos estudos, com carinho especial para Andrea que, com exemplos e palavras, ajudou no meu crescimento pessoal e profissional ao longo desses anos. Agradeço também a Suzana, Simone, Cláudia, Larissa e Shayenne, por se disporem a me ouvir, a ler, enfim a colaborar com meu trabalho. Não posso deixar de lembrar também dos colegas nessa jornada acadêmica, que enriqueceram meu conhecimento com discussões, debates e troca de saberes, que desde já deixam saudades, especialmente a equipe VIP (Sandra, Karla, Deilma e Cléo). Especial agradecimento também merece Lílian e suas palavras sempre coerentes, que me acompanharam de perto nesses últimos semestres. Agradeço à vice-direção, coordenação pedagógica, professores, demais funcionários e alunos do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, pela acolhida e colaboração no meu trabalho, sem os quais seria impossível concluir esta monografia. E, finalmente, considerando que esta monografia é o resultado de uma longa caminhada que começou mesmo antes de ingressar na universidade, não é fácil agradecer, pois, devido ao pequeno espaço disponível, corro o risco de não ser justa. Agradeço então a todos que de alguma forma fizeram parte da minha vida e contribuíram para o que sou hoje.

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“A leitura do mundo e a leitura da palavra estão

dinamicamente juntas.”

(PAULO FREIRE)

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RESUMO

No intuito de compreender os fatores que implicam na formação do leitor, principalmente os contextos socioeconômicos, esta pesquisa investiga alguns aspectos considerados relevantes para esse trabalho: as diversas concepções de leitura, o histórico do leitor, as implicações sociais, as lutas de classes e suas conseqüências na sociedade. As questões teóricas são discutidas com a contribuição de autores nacionais e internacionais como Karl Marx, Teodoro Silva, Magda Soares, entre outros, que forneceram base substancial para a realização dessa pesquisa. Assim, na primeira parte é apresentada a revisão teórica acerca da formação de leitores, na seqüência, são discutidos como os contextos socioeconômicos interferem nesse processo e, por fim, é apresentada a análise dos dados coletados junto aos alunos do ensino médio noturno do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães. Por fim, diante dos dados pesquisados, evidencia-se como, diante das interferências de diversos aspectos socioeconômicos, algumas instituições tornam-se fundamentais na formação do leitor: a família e a escola.

Palavras chaves: Formação do leitor. Leitura. Contextos sociais. Educação.

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ABSTRACT

In order to understand the factors that involve the training of the reader, especially the socioeconomic contexts, this research investigates some aspects considered relevant to this work: the various conceptions of reading, the history of the reader, the social implications, the struggles of classes and their consequences in society. The theoretical issues are discussed with the help of national and international authors as Karl Marx, Teodoro Silva, Magda Soares, and others who provided substantial basis for the purposes of this research. Thus, in the first part is presentend the theoretical review about the training of readers, following the discussion of how the socioeconomic contexts interfere in this process and, finally, is presentend the analysis of data collected from the night shift high school of the Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães. Finally, the searched data reveals how some institutions become fundamental in the training of the reader, against the interference of various socioeconomic aspects: the family and school.

Words keys: Formation of the reader. Reading. Social contexts. Education.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 – Evolução da taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de

idade Brasil - 1992/2007 ................................................................................... 24

Gráfico 2.2 – Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, segundo

as Grandes Regiões – 2007 ............................................................................... 25

Gráfico 2.3 – Taxa de analfabetismo funcional das pessoas de 15 anos ou mais de

idade, segundo as Grandes Regiões - 2006-2007 ............................................. 25

Gráfico 3.1 – Pobreza e Níveis de Escolaridade ..................................................................... 38

Gráfico 4.1 – Modalidade do Ensino Fundamental ................................................................ 44

Gráfico 4.2 – Índice de Escolaridade da Família .................................................................... 45

Gráfico 4.3 – Distribuição de Alunos por Idade ..................................................................... 45

Gráfico 4.4 – Distribuição dos Alunos por Idade de Ingresso no Mercado de Trabalho........ 46

Gráfico 4.5 – Índice de Alunos Empregados Atualmente....................................................... 47

Gráfico 4.6 – Renda Atual dos Alunos Empregados .............................................................. 47

Gráfico 4.7 – Distribuição de Alunos por Origem .................................................................. 48

Gráfico 4.8 – Idade em que leu o primeiro texto completo..................................................... 49

Gráfico 4.9 – Distribuição da Seleção de Leitura ................................................................... 50

Gráfico 4.10 – Distribuição da Seleção de Leitura X Origem dos Alunos ............................... 51

Gráfico 4.11 – Distribuição de locais de leitura........................................................................ 53

Gráfico 4.12 – Situação de Empregabilidade X Distribuição de locais de leitura .................... 53

Gráfico 4.13 – Primeira Leitura ................................................................................................ 54

Gráfico 4.14 – Última Leitura ................................................................................................... 54

Gráfico 4.15 – Leitura Atual ..................................................................................................... 55

Gráfico 4.16 – Sensação sentida durante a leitura .................................................................... 55

Gráfico 4.17 – Escolha da leitura X Sensação sentida .............................................................. 56

Gráfico 4.18 – Opções de lazer para horas de folga X Rendimento Mensal ............................ 57

Gráfico 4.19 – Dificuldades de leitura ...................................................................................... 57

Gráfico 4.20 – Escolaridade da Mãe X Dificuldades de leitura................................................ 58

Gráfico 4.21 – Fontes de Acesso............................................................................................... 59

Gráfico 4.22 – Fontes de Acesso X Rendimento Salarial ......................................................... 60

Gráfico 4.23 – Material impresso encontrado nas comunidades .............................................. 60

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância PISA - Programa Internacional de Avaliação de Alunos AC - Atividades da Coordenação Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PCN - Parâmetro Curricular Nacional

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 13

2 FORMAÇÃO DE LEITORES ................................................................................... 19

2.1 Aspectos conceituais da leitura .................................................................................. 19

2.2 Alfabetização e letramento: processos inter-relacionados ......................................... 22

2.3 Diferentes níveis de leitura ......................................................................................... 26

2.4 A história da leitura e a figura do leitor...................................................................... 28

2.5 Leitura e escola ........................................................................................................... 30

3 AS IMPLICAÇÕES DOS CONTEXTOS SOCIAIS ................................................. 33

3.1 A sociedade: uma permanente luta das classes sociais .............................................. 33

3.2 A questão da pobreza e a exclusão educacional ......................................................... 40

4 PESQUISA E ANÁLISE DOS DADOS.................................................................... 43

4.1 Participantes: quem são? ............................................................................................ 43

4.2 Formação leitora: como aconteceu ............................................................................. 49

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 61

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 65

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1 INTRODUÇÃO

Pesquisas sobre hábitos de leitura no Brasil, tais como as realizadas pelo Fundo das Nações

Unidas para a Infância - UNICEF e o Instituto Pró-Livro têm demonstrado o baixo índice de

leitores, fato que influencia diretamente o desempenho escolar da grande maioria dos

estudantes e a formação de jovens e adultos. O hábito da leitura favorece também a aquisição

de melhoria na escrita, contribuindo consideravelmente para a qualidade da educação.

Aumenta a cada dia a evasão escolar decorrente de problemas sociais. São muitos os jovens e

mesmo crianças que abandonam as escolas pela necessidade de um trabalho que lhes forneça

uma renda para sua sobrevivência e de sua família. Indaga-se então: Os professores estão

sendo preparados para lidar com tal situação? O que o professor deve saber para manter por

mais tempo esses alunos na escola? Há uma preocupação por parte das políticas públicas em

fornecer essas orientações nos cursos de formação de professores?

O modelo de educação atual possui um caráter excludente, pois traz em seu bojo o discurso de

tratar todos de forma igual e desconsiderar as diferenças geradas pelo modelo econômico

brasileiro - capitalismo -, que consolida o desequilíbrio existente entre as classes sociais. Esse

modelo de educação favorece ainda mais os incluídos e justifica essa exclusão sob o rótulo de

capacidades individuais, visto que as oportunidades são dadas igualmente para todos.

Outro fato relevante é o crescimento do número de alunos formados, que ainda cometem

falhas de 2ª e 3ª ordens gramaticais na escrita da língua portuguesa, falhas essas que

geralmente ocorrem no início do processo de alfabetização, a exemplo de troca da letra “o” no

final das palavras pela letra “u”, trocas do “x” pelo “ch”, dúvida entre usar “ç, s, ss”, ou seja,

pessoas que já possuem um mínimo de 8 anos de escolarização e ainda utilizam a escrita

fonética em desacordo com a norma culta.

Ainda persistem hoje em muitas escolas métodos e técnicas de ensino tradicional que afastam

os alunos dos livros. Os estudantes lêem pouco e obrigados, quando precisam responder a

provas e avaliações. Faz-se necessário que educadores conheçam novos métodos e

possibilidades metodológicas para fomentar situações em que alunos possam selecionar seus

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próprios livros. Escolher o modo que dê maior prazer ao aluno ao trabalhar na formação do

leitor é uma maneira de o professor estimular no aluno o hábito da leitura.

O baixo índice de leitura no Brasil vem se tornando um grande problema ao longo dos anos,

como pode ser comprovado a seguir pelas colocações obtidas nas ava liações internacionais

que envolvem leitura, como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) que

avalia jovens na faixa de 15 anos, pois essa é a média de idade em que os alunos teriam

concluído, na maioria dos países, a educação básica, ou seja, já teriam passado o mínimo de 8

anos na escola.

• Em dezembro de 2001, o Brasil ficou em último lugar no Programa Internacional de

Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação realizada em 32 países com jovens de 15 anos

com enfoque para compreensão de textos.

• Em 2003, o enfoque do PISA foi para matemática, embora também a leitura tenha sido

avaliada. Nesse item, o Brasil continua com notas baixas, mas especialistas apontam

para uma melhora em relação à avaliação anterior.

• Em 2006, o PISA avalia 56 países em leitura e o Brasil novamente ocupa uma posição

deplorável, ficando em 48° lugar. Em matemática, 53° lugar entre 57 países.

Na avaliação de 2006, em leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele.

Foram capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples.

Em pesquisas sobre hábitos de leitura, a exemplo de “A voz dos adolescentes” realizada pelo

Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, em 2002 e a Pesquisa Retratos da

Leitura do Brasil, do Instituto Pró-Livro, realizada em 2007, o brasileiro também ficou abaixo

da média de outros países. Não gostam, não querem ler e, o mais grave, muitos não sabem ler.

Esses dados podem ser explicados pelos altos custos dos livros, falta de bibliotecas públicas,

de aspectos históricos a exemplo de anos de escravidão e a educação escolar disponibilizada

apenas para a elite por muitos anos, da demora na universalização da escola primária, fato que

só aconteceu na década de 90, podendo-se acrescentar também, a utilização pelas escolas de

métodos tradicionais para prática de leitura, que desconsideram as escolhas dos alunos.

Faltam também exemplos de familiares para que jovens de hoje se interessem pela leitura.

Rádio, televisão, e agora a internet são atividades muito mais presentes no cotidiano de

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crianças e jovens que livros, pois esses tipos de comunicação contêm características muito

mais atraentes para os jovens, apresentam imagens e acesso a informações rápidas, além da

possibilidade de interagir com o outro. Além da própria falta de hábito da leitura, contribui

para essa preferência o próprio funcionamento do nosso cérebro. Segundo a neurocientista do

Hospital Sarah, Lúcia Braga, “para a leitura, o cérebro ainda não teve tempo de desenvolver

uma região específica. “A escrita tem cinco mil anos. Considerando o desenvolvimento da

espécie humana, é muito recente”.

Considerando que desde sempre vivemos em contato com a imagem, pode-se concordar que o

ser humano privilegie a internet e a televisão sobre a leitura de livros, visto que nosso cérebro

já possui regiões específicas desenvolvidas para o processamento no recebimento de

informações áudio-visuais.

O presente estudo origina-se da necessidade de identificar quais particularidades dentro do

contexto socioeconômico e cultural estão presentes no processo de formação do aluno leitor

jovem e adulto oriundo da classe trabalhadora. Acredita-se que diversos fatores têm

implicação direta na formação de leitores jovem e adulto, ent re eles, os contextos sociais,

especificamente as condições socioeconômicas, e que a escola pode e deve criar mecanismos

com o intuito de fornecer suporte teórico e prático para professores que os possibilite

melhorar seu desempenho profissional e conseqüentemente melhorar o desempenho discente.

Diante de tais pressupostos, a pergunta de partida para o desenvolvimento desta pesquisa foi:

De que forma os contextos sociais, especificamente os socioeconômicos, interferem no

processo de formação do aluno leitor jovem e adulto?

Pretende-se então, com este estudo, compreender de que forma a família e a sociedade

contribuem na formação do aluno leitor, conhecer quais e como os fatores socioeconômicos

interferem na formação do aluno leitor e compreender como se dá a aproximação do aluno

com diferentes gêneros discursivos de leitura. Devemos lembrar que o ato de ler não é inato

ao ser humano, mas sim uma habilidade construída pela sociedade. Portanto, cabe à família e

à escola estimular o hábito da leitura em nossas crianças e jovens.

Esta pesquisa se baseou nos pressupostos epistemológicos do marxismo, tendo em vista que o

mesmo se fundamenta em uma visão social de mundo do ponto de vista da classe dos

trabalhadores, como Marx dizia, sobre o proletariado. Marx observa que são as classes sociais

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que criam as ideologias e as visões do mundo, através de seus representantes políticos ou

literários da classe, sistematizando-as, modificando e introduzindo valores, dando- lhes formas

de teorias e doutrinas.

Marx estudou o capitalismo e ressaltou seus efeitos negativos, relativos à exclusão do

proletariado em relação a seu conhecimento a respeito do domínio de seu trabalho. A pesquisa

buscou mostrar como o progresso do capitalismo associado à globalização da economia

produz pobreza, desemprego, desigualdades sociais e como estes aspectos interferem

diretamente na educação e conseqüentemente na formação de leitores.

Para a realização desses trabalhos, a metodologia que se mostrou mais adequada foi a

pesquisa de campo, por tratar-se de um tipo de pesquisa que possibilita obter informações,

como também conhecimentos prévios sobre o objeto de estudo, embora a pesquisa de campo

não deva ser confundida com uma “mera coleta de dados” como enfatiza Trujillo (1982, p.

229 apud Marconi, 2002). A opção pela pesquisa de campo se justifica principalmente pela

necessidade de conhecer teorias antecedentes, assim como coletar informações no local da

pesquisa em questão, tendo em vista que a produção do conhecimento é efetivada por meio

troca entre o saber do pesquisador e dos pesquisados, propiciando a construção de um saber

novo.

O método e técnicas utilizadas permitiu um estudo dentro de uma realidade dinâmica,

colocando o pesquisador frente aos pesquisados de forma a conduzir à uma melhor análise e

posterior compreensão dos dados estudados.

A pesquisa de campo possui as seguintes características:

• realização de uma pesquisa bibliográfica, posicionando o pesquisador na situação real

do problema em estudo e permitindo um acúmulo de informações sobre o objeto do

trabalho; e

• retratar a realidade sob diferentes fontes de informação, essa característica permite ao

pesquisador dispor de um número maior de opiniões sobre um mesmo problema,

possibilitando uma melhor compreensão dos fatos.

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A escolha do local da pesquisa se deu, considerando alguns critérios necessários definidos

durante o projeto, a saber: escola pública de ensino médio, turno noturno, onde pôde ser

encontrado uma gama de alunos com diferentes locais de origem e variadas idades, portanto

trazendo uma multiciplidade de experiências leitoras; localidade da escola em uma área

urbana e carente da cidade de Salvador, podendo assim suscitar discussões sobre diversos

contextos sociais.

Os dados coletados foram tabulados com o auxílio do programa Excel, versão 2007 e os

resultados encontrados foram apresentados por meio de gráficos que faz parte do capítulo

quatro, onde são analisados criticamente com fundamentação nas teorias estudadas.

Durante o primeiro semestre de 2008, foi realizado um trabalho de observação na escola

selecionada, acompanhada de entrevistas com a coordenação pedagógica, vice-direção e com

professores das áreas de linguagem, exatas e humanas, todos atuantes no turno noturno, por

tratar-se do grupo alvo da pesquisa. Além dessas entrevistas, foi possibilitado também o

acompanhamento das reuniões de Atividades da Coordenação – AC, que nessa instituição

ocorrem quinzenalmente. Nestas reuniões foi possível entender melhor que um dos problemas

que atingem a escola e seus alunos é a deficiência da leitura e da escrita, muitas vezes

atribuídas ao ensino anterior dos educandos na modalidade de aceleração.

No segundo semestre deste mesmo ano foi dada continuidade à pesquisa com um grupo de 10

alunos, participantes de uma oficina de leitura e produção de texto, promovida pelo próprio

colégio no intuito de minimizar os problemas dos alunos, conforme descrito anteriormente.

No período de 6 encontros, foi possível realizar apenas uma observação direta intensiva, na

qual se procurou efetivar uma pesquisa participativa com os educandos e a orientadora

responsável pela oficina.

Após as devidas justificativas sobre a pesquisa e seus objetivos, foi traçado, junto à

orientadora, um programa de trabalho que consistia na leitura e discussão de textos, debates

sobre o tema da pesquisa e posterior produção de um relato individual sobre suas memórias de

vida leitora. Durante esse processo, ocorreu a exoneração da pessoa responsável e a

conseqüente suspensão da oficina de leitura. Como o tempo permitiu apenas trabalhar dois

textos, e devido à impossibilidade de continuarmos com os trabalhos, optamos em seguida

pelo uso de questionários, por tratar-se de uma técnica de pesquisa que permite ser aplicado

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para um grande número de informantes e ainda possibilita o anonimato, embora traga uma

desvantagem que é o pequeno grau de controle na coleta de dados, fugindo ao pesquisador a

interpretação e o entendimento do pesquisado. Para minimizar tais efeitos, buscou-se colocar

o maior número possível de perguntas diretas e evitar ambigüidade nas respostas.

Participaram desta pesquisa 100 (cem) estudantes do turno noturno, das séries 1°, 2° e 3° anos

do ensino médio do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, instituição pública de ensino,

direcionada ao Ensino Médio Regular. A escola está situada em um bairro carente de

Salvador, Av. San Martins, que atende principalmente aos moradores da localidade e

circunvizinhança. O Colégio foi criado pelo Decreto nº 7293/98 Diário Oficial de 5 de maio

de 1998 e inaugurado no dia 21 de abril de 1999 para ser uma escola-referência em todo

território baiano, e marca o início de uma reformulação para o Ensino Médio, no âmbito da

rede estadual de ensino.

A seguir se apresenta a revisão da bibliografia dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo

apresenta os aspectos conceituais e definições de leitura, subdivididos em itens que tratam de

aspectos pertinentes ao objeto em estudo. O terceiro capítulo trata das implicações dos

contextos sociais na formação do leitor, buscando esclarecer como esses contextos têm

evoluído e quais são suas conseqüências para a maioria excluída do direito à educação de

qualidade. A análise da pesquisa de campo propriamente dita é apresentada no capítulo quatro

e, para concluir, no quinto capítulo são tecidas algumas considerações finais, a respeito da

teoria estudada em consonância com os dados obtidos na pesquisa.

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2 FORMAÇÃO DE LEITORES

2.1 Aspectos conceituais da leitura

Para uma adequada compreensão do tema abordado nesse projeto, faz-se necessário

inicialmente compreender o conceito de leitura e ler, termos indissociáveis.

Segundo o dicionário Aurélio (1999), o termo LEITURA, pode ser entendido como

“1. Ato ou efeito de ler; 2. Arte de ler; 3. Hábito de ler; 4. Aquilo que se lê; 5. O que se

lê, considerado em conjunto e 6. Arte ou modo de interpretar e fixar um texto de autor,

segundo determinado critério”. Já para o termo LER, o dicionário consultado traz as

seguintes definições:

1. Percorrer com a vista (o que está escrito) proferindo ou não as palavras, mas conhecendo-as; 2. Pronunciar em voz alta; recitar (o que está escrito). 3. Ver e estudar (coisa escrita); 4. Perceber (sinais, signos, mensagem) com a vista ou com o tato, compreendendo-lhes o significado; 5. Observar (algo, ou certos sinais, características, etc.), percebendo, intuindo ou deduzindo a significação; decifrar ou interpretar o sentido de. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1999)

Percebe-se que as definições oferecidas pelo dicionário não são suficientes para conceituar

um termo tão complexo como a leitura e conseqüentemente o ato de ler. Ainda buscando

definições para leitura, pode-se contestar também Rocha (2001, p.372 apud Lins e Ramalho,

2006), para quem ler se define como “passar a vista pelo escrito ou impresso, para inteirar-se

do seu conteúdo”. Não se deve pensar em ato de ler simplesmente como decodificação da

escrita, mas sim como um aspecto de interação social. Diferentemente de outros lugares que

não fazem uso freqüente da leitura e da escrita, vivemos em uma sociedade letrada, onde as

práticas de leituras estão incluídas nos diversos aspectos da vida do indivíduo, entre eles:

transporte, lazer, saúde, educação e trabalho.

A dimensão social da leitura condiciona-se a alguns fatores importantes: primeiro, o sistema

da escrita, segundo o processo de alfabetização e ainda um conjunto de valores sociais

referente ao ato de ler. Segundo Magda Soares (1985), alfabetização deve ser entendida como

“processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e de escrita”. Portanto,

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alfabetizar é inserir o indivíduo no sistema de leitura e escrita, capacitando-o a desenvolver

suas habilidades leitoras.

Em uma sociedade letrada, a leitura assume vários sentidos ao longo da vida humana, entre

outros: aprender a ler, ler para aprender, integrar, interação com o outro, inserção no mundo

do trabalho. Lins e Ramalho (2006, p2) salientam que o significado de leitura possui uma

abrangência muito maior que o da simples decodificação:

A leitura faz parte do nosso cotidiano e é através do ato de ler que o ser humano busca a sua realização, desvendando mistérios, soltando a imaginação, percorrendo os caminhos do inconsciente e estabelecendo uma relação entre o real e o imaginário.

Entre outros fatores incidentes na realização do ser humano, a leitura desempenha um

importante papel nessa busca, pois estimula a fantasia criando uma ponte entre o real e o irreal

ou o ideal, que faz parte da vida de todo o ser humano. Durante a aquisição do conhecimento

da leitura e da escrita, no processo de alfabetização, a escola e a família devem estimular o

hábito da leitura, revelando para a criança seu lado prazeroso, como bem salienta Jales (1992,

p. 61 apud Lins, 2006) Ler é “mergulhar no imaginário, no simbólico”. Portanto, deve ser

buscando estimular o imaginário de crianças e jovens que se iniciará a formação de leitores.

A escola é a principal instituição capacitada para dar suporte a esse processo, propiciando o

ambiente adequado e a implantação de diversas metodologias e técnicas para aquisição da

leitura e da escrita. Há ainda uma ideologia na sociedade que distingue os indivíduos a partir

da sua competência leitora. Analfabetos e alfabetizados têm um lugar determinado na

sociedade já a partir das escolas que freqüentam, das oportunidades de alfabetização de que

dispõem, oportunidades essas que, durante muito tempo, eram disponibilizadas apenas para as

classes dominantes e ainda hoje são oferecidas de maneira diferenciada.

Se pensarmos em leitura como interpretação e interação com o mundo, podemos afirmar que,

desde os nossos primeiros contatos com o mundo, já estamos lendo. Como afirma Paulo

Freire, “a leitura do mundo, precede a leitura da palavra”. Portanto, pode-se constatar que o

ato de ler é muito mais que decodificar símbolos, ou textos escritos, pode ser entendido

também como a compreensão de diversas linguagens. O sujeito se configura como leitor

durante sua experiência de vida pessoal e também no contato com o universo sociocultural em

que vive. A visão que relaciona o hábito de ler apenas aos livros escritos advém de uma

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ideologia elitista que privilegia apenas a cultura letrada, desmerecendo o aprendizado

produzido pelos demais aspectos da vida em sociedade, como: família, amigos e trabalho.

Ampliando o sentido de leitura, faz-se necessário considerar que a mesma independe do

contexto escolar e está além do texto escrito, conceito que permite valorizar mais cada passo

do aprendizado do sujeito em toda sua evolução como leitor.

Martins (1988) agrupa em duas ordens as diversas concepções existentes para leitura:

1) Como uma decodificação mecânica de signos lingüísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva behaviorista-skinneriana);

2) Como um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve

componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos (perspectiva cognitivo-sociológica).

Embora ambas as concepções sejam imprescindíveis para que haja a leitura, a segunda citada

pelo autor traz uma abordagem mais aprofundada do assunto. Pode-se afirmar que o processo

de leitura descrito anteriormente é dialético, visto que, decodificar sem compreender se torna

inútil e é impossível compreender sem antes decodificar.

Cada indivíduo, ao ler um texto, trará uma visão diferenciada a respeito do que está lendo,

mesmo que essas diferenças sejam mínimas, pois sua interpretação se dará a partir de suas

experiências de vida e de sua relação com o texto, assim como seu estado físico e psicológico

no momento da leitura. Portanto, pode se afirmar que a leitura precede e va i além do texto.

Pode-se dizer que precede porque a leitura de um livro é iniciada antes mesmo deste ser

aberto, a partir do primeiro contato, por meio do toque, da escolha, partindo para a leitura da

capa, suas imagens. Ir além do texto quer dizer que, após a leitura do texto, o indivíduo

adquire um novo conhecimento e, portanto, modifica sua maneira de se relacionar com

leituras posteriores. Assim como ocorre no processo de assimilação e acomodação da

aprendizagem descrita por Piaget, ao receber nova informação, o sujeito inicialmente a

assimila junto a conhecimentos prévios e depois a acomoda gerando uma nova estrutura do

conhecimento. Devemos lembrar que o texto referido aqui diz respeito não somente ao

escrito, mas engloba também diferentes linguagens.

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Nesse contexto, o educador desempenha um importante papel de mediador do texto; ao invés

de o professor apenas ler para o aluno, ele poderá ler com o aluno, enriquecendo então a

leitura do aluno, através das discussões sobre o objeto lido, partilhando suas experiências de

vida e de leitor. O educador então não deve se restringir a ensinar o aluno a ler, ou a gostar de

ler, mas criar para o aluno possibilidades para que ele possa realizar sua própria

aprendizagem, conforme suas necessidades e interesses. Não basta criar condições de leitura,

mas também dialogar com o aluno sobre a mesma e sobre o sentido que ele atribui às suas

diversas leituras no mundo e do mundo.

2.2 Alfabetização e letramento: processos inter-relacionados

Como dito anteriormente, para fazer parte do mundo de leitores, o indivíduo necessita adquirir

habilidades específicas e a primeira se obtém por meio da alfabetização. Cabe ressaltar que o

processo de alfabetização não acontece da mesma forma em qualquer sociedade. Em algumas

é tido como essencial no desenvolvimento socioeconômico e em outras como desnecessário

para a maioria das pessoas. Mesmo para as sociedades que privilegiam a leitura e a escrita, o

processo de alfabetização se dá de maneiras diferentes dependendo de suas funções sociais.

Em nossa sociedade atual, apesar de se reconhecer a importância da leitura e escrita, se

verifica a falta de qualidade dispensada à alfabetização das crianças e seu conseqüente

fracasso, principalmente quando o grupo a ser alfabetizado é oriundo das classes menos

favorecidas economicamente, e que, devido aos contextos sociais que permeiam suas vidas,

têm pouco ou nenhum contato com a cultura letrada.

Muitas delas se afastam da escola após inúmeras tentativas e fracassos e outras continuam.

Mas sem conseguir alcançar todos os benefícios produzidos pela alfabetização, os

pertencentes a esse grupo estão, em sua maioria, fadados a se tornarem analfabetos funcionais

e aumentar o grande número de brasileiros que compreende o código escrito, mas não é capaz

de interpretar um texto simples, nem tampouco, fazer uso social e funcional da leitura e da

escrita.

São vários os métodos e técnicas já utilizados para alfabetizar crianças e adultos, mas como

Magda Soares (1985) enfatiza, o processo de alfabetização possui natureza complexa e é

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constituída por múltiplas facetas: psicológica, psicolingüística, sociolingüística e lingüística,

necessitando ainda serem acrescentados a elas outros fatores tais como: sociais, econômicos e

políticos, sem os quais nenhum método de alfabetização poderá realizar seu intento.

Faz-se necessário chamar atenção também para o persistente problema que há muitos anos

assola as escolas particulares de bairros periféricos: pessoas despreparadas, com pouco ou

nenhum conhecimento sobre o processo de alfabetização, nem mesmo conhecimentos básicos

de educação, ocupam cargos de educadores / alfabetizadores, comprometendo o

desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.

Outro processo também necessário para formação do leitor, principalmente se tratando da

formação de um leitor crítico é o “letramento”. Esse termo nasceu na década de 80 no Brasil e

em outros diferentes países, devido à preocupação de que apenas o processo de alfabetização

não estava dando conta da formação de leitores, era preciso inserir o aluno nas práticas sociais

de leitura. Magda Soares (2003), em seu artigo Letramento e Alfabetização: as muitas facetas,

revela essa preocupação também em países desenvolvidos:

Nos países desenvolvidos, ou do Primeiro Mundo, as práticas sociais de leitura e de escrita assumem a natureza de problema relevante no contexto da constatação de que a população, embora alfabetizada, não dominava as habilidades de leitura e de escrita necessárias para uma participação efetiva e competente nas práticas sociais e profissionais que envolvem a língua escrita. Assim, na França e nos Estados Unidos, para limitar a análise a esses dois países, os problemas de illettrisme, de literacy/illiteracy surgem de forma independente da questão da aprendizagem básica da escrita.

Isto quer dizer que, assim como o Brasil, um país em desenvolvimento, outros países de

primeiro mundo também estavam preocupados com o fenômeno do analfabetismo funcional

que se alastrava, impedindo a inclusão de grande parte da população na cultura letrada, assim

como no novo mercado de trabalho gerado pela evolução das tecnologias.

Com isto, não se quer afirmar que nessa década os problemas com a aprendizagem inicial da

leitura e escrita estavam resolvidos, pelo contrário, apenas para nos limitar ao Brasil, este é

um problema ainda recorrente. Na edição de 18 de setembro de 2008, o Jornal A TARDE, de

grande circulação em Salvador/BA, publica informações sobre a queda do analfabetismo no

Brasil, constantes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A taxa de analfabetismo no Brasil (10%) caiu em 2007 e atingiu o menor índice em 15 anos. Em termos absolutos, no entanto, representa 14,1 milhões de pessoas ou um em cada dez brasileiros com 15 anos ou mais. Em 1992, 32,7% da população não sabiam ler e escrever um bilhete.

Embora a taxa de analfabetismo venha caindo desde 1991, com exceção do ano de 1997,

quando se observa um pequeno crescimento em relação a 1996, conforme gráfico abaixo,

pensar em um número de mais de 14 milhões de analfabetos em nosso país é algo no mínimo

preocupante, para não dizer aterrador, o que demanda esforços no sentido de consolidar o

desenvolvimento da educação e reavaliar os processos de alfabetização que estão sendo

aplicados nas escolas brasileiras. Para melhor visualizar a situação descrita, a seguir é

apresentado um gráfico, divulgado pelo IBGE (2008) sobre a evolução da taxa de

analfabetismo no Brasil de pessoas com idade a partir de 15 anos.

Gráfico 2.1 - Evolução da taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade Brasil - 1992/2007

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1992/2007. Nota: Exclusive a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

Em 2006, o índice de analfabetos no Brasil era de 10,4%, conforme dados também constantes

da Pnad, portanto apesar de constatada uma queda do analfabetismo no país, o que a

sociedade espera é que essa pequena diferença seja apenas o início do desenvolvimento da

educação no Brasil, pois, além de grave o problema do analfabetismo no Brasil, crescem

também as dificuldades quanto ao letramento das pessoas aptas para ler e escrever.

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O relatório divulgado pelo IBGE evidencia que os elevados números do analfabetismo, bem

como do analfabetismo funcional estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste do país,

conforme pode ser percebido nos gráficos apresentados a seguir.

Gráfico 2.2 - Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, segundo as Grandes Regiões – 2007

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007.

A região Nordeste apresenta um índice de 19,9%, perfazendo 9,1% a mais que o índice de

analfabetos pertencentes aos da região da Norte e uma diferença de mais de 14% para as

regiões sul e sudeste.

Gráfico 2.3 - Taxa de analfabetismo funcional das pessoas de 15 anos ou mais de idade, segundo as Grandes

Regiões - 2006-2007 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007.

Novamente as Regiões Norte e Nordeste lideram negativamente as taxas de analfabetismo

funcional das pessoas de 15 anos ou mais encontradas no Brasil. Isto nos faz pensar, como são

necessários os investimentos maciços na alfabetização, assim como no desenvolvimento de

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práticas sociais de leituras em nossas escolas, entendidos como processos fundamentais e

específicos para inserção do indivíduo no mundo letrado.

É importante não confundir letramento com o processo de alfabetização - embora se

complementem, não podem ser elementos substitutivos nem tampouco dever-se dar maior

prevalência de um sobre o outro. Ambos os processos são necessários, mas devem ser

realizados com cuidado pelos educadores para que, privilegiando um aspecto, não diminuam a

importância e aplicação do outro.

2.3 Diferentes níveis de leitura

Na formação do leitor, vários fatores devem ser considerados. Este tópico procura apresentar,

sob a visão de Martins (1982), os diferentes níveis de leitura, pelos quais passam os leitores

ainda que ocasionais.

Segundo Martins (1982), a leitura, por tratar-se de um processo dinâmico, poderá ser

desenvolvida em três níveis: sensorial, emocional e racional, níveis que se inter-relacionam e

em muitos casos acontecem simultaneamente, dependendo do interesse, das necessidades do

leitor e do contexto em que está inserida.

A leitura sensorial se dá através do contato com o objeto a ser lido e compreende o toque,

cheiro, peso, maneira de folhear, quando tentamos entender em qual contexto foi criado, que

sentido faz para a vida do leitor. Para crianças e adultos que ainda não lêem, a primeira

“leitura” que fazem de um livro é justamente o ato de folhear, observar suas páginas, gravuras

e fazer suas primeiras interpretações do que está impresso nele. Esse ato de tentar descobrir o

que está escrito estimula principalmente as crianças a quererem aprender a ler: inicialmente

ela fantasia, cria suas histórias a partir das figuras, mas logo sente a necessidade de ler como

os adultos, o que realmente ali foi escrito e pensado.

Um segundo nível é a leitura emocional: ler porque se gosta do que está lendo, sem precisar

conhecer autores, contexto, ler só pelo prazer de ler, pela emoção que a leitura traz. A criança

e o jovem lêem o que lhes interessa: contos de fadas, revistas em quadrinhos e, mesmo

quando adultos ainda é possível lembrar com saudades desses momentos ou ao entrar em

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contato com esses velhos livros vem a vontade de relê- los, embora as emoções e o prazer

sentidos com essas leituras nem sempre sejam os mesmos quando da primeira vez, pois o

leitor já mudou, assim como seus interesses e suas exigências para com os livros.

Leituras prazerosas levam o leitor a lugares e situações imaginárias, que só são despertadas

com o livro. É comum vermos pessoas concentradas em seus livros, revistas e romances,

mesmos em locais públicos e barulhentos como coletivos, praças e praias.

Na leitura emocional, o importante não é sobre o que o texto trata, mas sim o que o texto

provoca no leitor; mesmo tendo consciência de que o texto é simples e até medíocre, não

consegue parar de ler, fica preso ao texto e muitas vezes dosa sua leitura para demorar mais

um pouco de acabar e se separar do livro. Com isso, não se quer dizer que esses leitores sejam

mais desatentos ou despreparados para pensar um texto, mas sim que eles se envolvem mais

emocionalmente com o texto lido.

Embora alguns estudiosos considerem que esse nível representa uma leitura inferior, é a partir

dessa atividade que o aluno desenvolve o hábito da leitura, daí evoluindo para o nível da

racionalidade, a ler livros didáticos / científicos necessários para a aprendizagem intelectual.

A leitura racional, tida como intelectual, salienta aspectos reflexivos e dinâmicos, pois

acrescenta à leitura sensorial e à emocional a possibilidade de o leitor criar uma ponte entre o

texto lido e o conhecimento e a reflexão, dando sentido ao texto, questionando a própria

individualidade assim como o universo das relações sociais. Esse tipo de leitura é mais

exigente com o leitor do que as duas descritas anteriormente, visto que pede um

desprendimento e uma vontade de apreender, um processo de intelecção.

Não existe hierarquia entre esses três níveis de leitura, tampouco a existência isolada de cada

um, eles se dão de acordo com a história, a experiência, a necessidade e a circunstância em

que cada leitor se encontra no ato de ler. Separar esses três níveis é muito difícil, pois o

sujeito social é sensorial, emocional e racional ao mesmo tempo. E ainda pode-se dizer que há

tantos tipos e níveis de leituras quanto de leitores e que a cada vez que um texto é lido pelo

mesmo leitor, níveis diferentes são estabelecidos.

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2.4 A história da leitura e a figura do leitor

Pode-se afirmar que a história da leitura remonta há tempos longínquos e que esta se encontra

obrigatoriamente relacionada com a do leitor, pois não existe uma sem levar em consideração

a existência da outra.

Segundo Lajolo e Zilberman (1996, p.14), não se pode traçar a biografia do leitor, mas sua

história pode ser narrada se contextualizada com os acontecimentos no mundo durante o

século XVIII. Nesse período alguns fatos que aconteciam sem relação intencional ajudaram a

popularizar a leitura e criar a figura do leitor, enquanto função social que lhe é atribuída.

Na Europa os livros deixam de ser feitos de forma artesanal para se transformarem em

produtos de atividades empresariais, aumentando significativamente o número de exemplares

impressos e barateando seu preço. Mas, para que essa atividade se tornasse lucrativa, fazia-se

necessário que a sociedade gerasse clientes capacitados, o que foi criado com a difusão da

escola e com a alfabetização em massa das populações urbanas.

A expansão da leitura não aconteceu apenas pelas mudanças econômicas e tecnológicas. Os

aspectos sociais também tiveram importância nesse contexto, como a valorização da família e

da privacidade doméstica. Para a solidificação do estado burguês era imprescindível que a

família, enquanto instituição, estivesse fortalecida, pois esta representava unidade e

fragmento. Unidade dentro do círculo familiar, sendo que a união entre os membros atuava

apenas na defesa de interesses próprios da família, sem interferir na economia e política. E era

vista como um fragmento, no sentido que determinava o fim de grupos corporativos

profissionais anteriormente formados pelas classes populares na intenção de se proteger dos

senhores feudais.

Outro fator que interferiu nas práticas sociais vigentes, se deu por meio de interesses

religiosos que buscavam a formação moral da população através da difusão dos

conhecimentos bíblicos, para o qual se fazia necessária a alfabetização em massa da

população.

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Dentro desses contextos, a leitura passa a ser uma opção de lazer propícia ao convívio

familiar, em suas diversas modalidades, desde leituras em voz alta durante as reuniões até as

leituras silenciosas.

A história do leitor também é muito rica, pois, passa da condição de leitor profissional, como

acontecia para alguns escravos ou libertos, em que seu trabalho se constituía em leitura oral, e

vem a ser um leitor livre, que, como enfatiza Tertuliana Corrêa Machado (2001), “é um leitor

‘livre’, que lê pelo prazer, pelo hábito ou pelo prestígio da leitura. Trata-se de um novo

público formado por pessoas que cultivam o gosto da leitura”. Esse fato se deu devido à

expansão das modalidades de literatura, e ao crescente comércio e valorização das obras

literárias.

A preocupação com a leitura e a escrita passou por freqüentes modificações durante a

evolução da humanidade. Há tempos atrás o hábito da leitura era reservado para poucos

iniciados. Na Idade Média, somente ao clérigo e aos nobres eram permitidos tais

conhecimentos. Retrocedendo um pouco mais, viu-se que Platão foi contra a leitura e a

escrita, pois segundo ele, esse hábito traria o “esquecimento das mentes”; depois dele, muitos

outros pensadores também se insurgiram contra o ler e escrever.

Para cada sociedade essa representação se constitui de forma diferente: em algumas são

entendidas como atividade essencial, em outras, ainda hoje, são relegadas a segundo plano.

Na sociedade brasileira, há um discurso recorrente, principalmente em épocas eleitoreiras

sobre a importância da educação e da leitura no desenvolvimento do país, mas os baixos

índices apontados em resultados de avaliações nacionais e internacionais de leitura nos

mostram dados contrários a esses discursos.

Nos últimos anos, vários programas de estímulo para a formação de leitores foram criados

pelas políticas públicas no intuito de amenizar as deficiências reveladas nos resultados das

avaliações a que o Brasil foi submetido, referentes ao processo de leitura e compreensão de

textos.

Paulo Freire (2000), em seu livro “A importância do ato de ler”, evidencia o quanto pode

fazer diferença quando o professor mostra aos alunos a relevância da leitura em suas vidas,

principalmente quando as leituras selecionadas fazem parte do contexto de vida dos alunos,

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leitura que, para ele, inicia-se com a leitura do mundo para depois passar para a leitura da

palavra, transformando-se em leitura da “palavramundo”.

Ao privilegiar leituras que se aproximem do que já é conhecido pelos educandos, que lhes

tragam algum significado, seu interesse aumenta e ele participa mais ativamente no processo

ensino-aprendizagem, pois a nova informação trazida na leitura estará ancorada em seus

conhecimentos prévios e já estruturados. Quando se seleciona uma leitura para o aluno é

importante pensar o contexto vivido, as características similares e quando no momento da

conversa sobre o texto deixar que o leitor estabeleça relações entre o lido e o vivido.

2.5 Leitura e escola

O objetivo maior da escola é formar o indivíduo para atuar na sociedade e um dos fatores

imprescindíveis para tal é o uso adequado da leitura e da escrita com a norma culta vigente.

Durante o processo de aquisição da aprendizagem de ler e escrever, a escola utiliza-se de

diferentes impressos para o estímulo à leitura, que aos poucos vão se restringindo ao livro

didático. Nota-se nos primeiros anos em que o aluno está aprendendo a ler, o seu entusiasmo

para a leitura. Ele procura ler tudo que está a sua volta, chamando a atenção do adulto. Nesse

período há, geralmente por parte da família, grande incentivo para sua melhoria.

Após sua alfabetização, a leitura dentro da escola torna-se cada vez mais monótona, o aluno lê

para responder exercícios e provas; as escolas, em sua maioria, limitam seu trabalho ao uso do

livro didático, com o foco maior para aprendizagem da gramática, e quando usam os livros de

literatura como paradidáticos, utilizam-se das mesmas metodologias para a leitura de sala de

aula. As perguntas são feitas visando a uma resposta única de todos os alunos, a que parecer

ao professor a mais coerente com o texto, ou em conformidade com as respostas do livro

didático do professor. É podada no aluno a oportunidade de expressar sua própria

interpretação do texto lido, o aluno não se coloca enquanto um leitor que deveria estar sendo

formado, pois na leitura de qualquer texto literário, muitas são as formas de interpretação e

todas dependem de quem está lendo, de suas experiências de vida, de suas leituras de mundo.

A leitura é feita de forma obrigatória, sem pensar na fruição do texto, são evitadas perguntas

do tipo “conte-me se está gostando do texto e em qual contexto essa leitura faz parte de sua

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vida” para ater-se a perguntas do tipo: “o que o autor quer dizer ao ....” ou ainda de forma

pior: “preencha as lacunas, conforme o texto acima”. Esse tipo de atividade, realizada logo

após o aluno ler um texto ou um livro, empobrece o ato da leitura realizada, ele não precisa

pensar para responder tais questões, apenas localizar no texto a resposta e transcrever para o

exercício. Silva (1988), ao escrever sobre as metodologias utilizadas pela escola, enfatiza que

os questionários se tornam uma “camisa de força” para o aluno leitor “... os leitores são

obrigados a reproduzir os significados já constatados e cristalizados pelo professor e/ou pelo

livro didático”. Ele é ainda mais contundente no seu livro “Leitura e Realidade Brasileira”,

(p.27 e 28), ao afirmar que:

Uma outra conseqüência drástica que merece ser aqui ressaltada diz respeito à ‘interpretação única’ do texto indicado para leitura. (...) Elimina-se a etapa reflexiva da leitura, fazendo com que o leitor se enquadre na interpretação fornecida, pronta e ‘certa’. (...) O processo de imbecilização dos leitores, executado através da apresentação de textos socialmente inócuos e de uma abordagem metodológica opressiva e retrógrada, cumpre uma função meticulosamente calculada pelo poder dominante, ou seja, a permanência da consciência ingênua, do irracionalismo entre as massas populares.

São esses tipos de avaliações referentes às leituras que os alunos da maioria das escolas

públicas e particulares são acostumados a responder, explicando os baixos resultados obtidos

pelo Brasil nos testes do PISA - Programa Internacional de Avaliação de Alunos.

Para acertar na leitura, o aluno precisa reproduzir o que está escrito no livro, ao invés de

trabalhar com um processo aberto e partilhado pelos alunos, através das discussões, opiniões

diversas sobre o que existe nas entrelinhas do texto, verificar seus diversos sentidos, gerar

sentido através de suas próprias idéias e conhecimentos e experiências prévias.

A leitura, apesar de ser freqüente nas escolas, é logo esquecida quando o aluno sai. Não

somente a escola é responsável pelo afastamento dos alunos com os livros, cabe também à

família estimular para que o encantamento inicial pelas histórias e livros continue com o

desenvolvimento da prática de ler. É necessário mostrar para os jovens que a leitura remove

muitas barreiras educacionais e lhes facilitará a inserção na vida social e no trabalho,

intelectual ou não.

O professor pode e deve tornar a leitura em sala de aula um momento prazeroso, deve dar

liberdade para o aluno escolher o que deseja ler, trazer materiais variados para sala, revistas

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jornais, notícias do momento, permitir a leitura de livros e outras publicações da moda, pois

será aprendendo a ler o que se gosta, reconhecendo na literatura um novo caminho para a

produção do conhecimento, que o aluno perceberá então a importância da leitura na sua vida

cotidiana.

Segundo Lins e Ramalho (2006):

O professor deve mostrar o que é realmente a leitura e fazer com que os alunos leiam de verdade e saibam entender a importância da leitura na vida deles, dando a oportunidade para que eles possam compreender o que é leitura e se ela tem lugar na vida dele.

Ao fazer essa afirmativa, os autores deixam claro a necessidade de o professor apresentar a

seus alunos as diferentes modalidades de leitura, exemplificar qual o lugar e relevância da

leitura em seu cotidiano, para que então, de maneira reflexiva o educando possa decidir sobre

quantidade e qualidade da leitura que deseja fazer.

A leitura, compreendida desta forma, possibilitará ao aluno leitor um contato maior com as

diversas formas de compreender o mundo, dotando-os de uma consciência crítica, tornando-os

capazes de pensar e resolver seus problemas cotidianos, enquanto sujeitos sociais que são.

Cabe à escola estimular também a escrita própria do aluno. Como já dizia Paulo Freire (2000)

em seu livro “A importância do ato de ler”, o aluno precisa se sentir autor, saber que também

pode ser lido e que suas opiniões são importantes. A escola deve inclusive criar um acervo

com os textos escritos pelos próprios alunos, valorizar seu processo de leitura e escrita e,

conseqüentemente, melhorar sua auto-estima, algo tão necessário nos dias de hoje para que o

aluno valorize a educação. Como a internet já vem sendo largamente usada pela maioria dos

jovens e adultos, a escola poderá ainda se utilizar de blogs, fóruns, grupos de discussão, para

compartilhar opiniões acerca dos textos lidos e produzidos pelos alunos.

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3 AS IMPLICAÇÕES DOS CONTEXTOS SOCIAIS

3.1 A sociedade: uma permanente luta das classes sociais

A formação de leitores tem sido um desafio para os educadores brasileiros ao longo dos anos,

no sentido de que remover o aluno da condição de analfabeto para assumir o lugar de leitor

crítico é uma tarefa árdua frente às desigualdades sociais em que vivemos.

Devemos pensar, entretanto, que assim como o ato de ler não é inato ao ser humano, as

igualdades e desigualdades existentes também não o são: ao contrário, são condições criadas e

mantidas pelo interesse de poucos para fins de reprodução do seu poder na sociedade.

Portanto, é de interesse das classes dominantes perpetuarem um nível de desigualdades

sociais, sob controle, para que sua posição não seja ameaçada, e uma forma de ter êxito no seu

intento é manter as classes menos favorecidas sem acesso ao domínio de uma cultura letrada.

A história da sociedade sempre se relacionou com as lutas entre classes sociais existentes.

Desde os tempos mais remotos pode ser constatado o antagonismo que permeia essa relação.

Entre algumas, como o senhor e o escravo, se apresentam de forma mais explícita e, outras de

maneira mais sutil, como é o caso da relação entre proletariado e o patronato moderno.

Marx e Engels (1848, p.5) iniciam o Manifesto do Partido Comunista discorrendo sobre as

lutas de classes existentes desde os tempos remotos.

Nas épocas anteriores da história, encontramos, quase por toda parte, uma complexa estruturação da sociedade em estado ou ordens sociais, uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma Antiga, temos os patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres das corporações, aprendizes, servos e, além disso, gradações particulares no interior dessas classes.

É através das divisões das classes que a sociedade exibe suas desigualdades sociais e

econômicas, sendo que, em cada sociedade, essas desigualdades ocorrem de maneiras

diferentes, assim como a relação entre opressor e oprimido, dando origem às lutas de classes.

Nessa luta constante, o proletariado acumulou ao longo dos anos muitos prejuízos, mas

também já contabilizou ganhos importantes, como a consolidação das leis trabalhistas, que

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lhes garantem alguns benefícios essenciais: um piso mínimo salarial, férias remuneradas (em

alguns países, a exemplo do Brasil, para os profissionais que possuem contratos de trabalho

registrados em carteira profissional), assistência à saúde, seguro desemprego e previdência

social, o que lhes assegura uma renda mínima após a aposentadoria. Sabemos que o piso

salarial oferecido não cobre as necessidades essenciais para o trabalhador viver com

dignidade, mas a lei impede que patrões gananciosos paguem ainda menos, como acontece em

locais sem fiscalização do Estado.

A divisão de classes se tornou mais explícita em nossa sociedade com o advento da revolução

industrial e as grandes reformas no âmbito das propriedades rurais, pois este movimento

empurrou a população do campo para as cidades, obrigando-a a vender sua força de trabalho

de forma a garantir o mínimo necessário para sua sobrevivência.

A revolução industrial estabeleceu novos modos de vida e de trabalho. Hábitos são

modificados, direitos são subtraídos, o indivíduo perdeu a condição de dono de seu tempo e

de responsável pelo desenvolvimento integral de seu produto, passando a ser apenas uma peça

da grande engrenagem colocada à disposição da produção. Perdeu, ainda, o conhecimento

total do processo de produção. Seu conhecimento agora é fragmentado, específico,

dificultando seu acesso a outros campos de trabalho. O sujeito é treinado para exercer apenas

uma função, realizar uma tarefa determinada, portanto, o trabalhador é “formado” para

exercer um tipo específico de serviço, geralmente restrito a áreas especializadas da produção,

ou seja, sua mão-de-obra somente poderá ser aproveitada em um ramo de indústria. Esse fato

é denunciado por Marx desde 1948 - o produtor tornou-se um apêndice da máquina, e só

requer dele a operação mais simples, mais monótona e mais fácil de aprender -, e hoje, 160

anos depois, se vê que, apesar de tudo que já foi dito e objeto de reflexão de diferentes

pensadores, ainda é uma constante na nossa sociedade.

Com o avanço das tecnologias ficou impossível para os pequenos proprietários competir em

comercialmente em termos de produção com as grandes corporações que se formavam nesta

época. O capitalismo vem se reforçando desde então e, na era da globalização, assume seu

trono, ele agora se faz presente em escala mundial, trazendo perdas irreparáveis à classe

trabalhadora. Empresas situadas em países desenvolvidos, onde que o preço pela mão-de-obra

é caro, pode contratar funcionários e produzir suas mercadorias em locais subdesenvolvidos,

onde a taxa de desemprego é alta e, portanto, os salários possuem valores reduzidos, se

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utilizam do trabalho vivo, ou seja, da força do trabalho humano, mais barato, aumentando

largamente suas taxas de mais-valia.

Todo o capital excedente necessário à produção vem a ser lucro, mais-valia para o capitalista

e, além dos novos meios de comunicação ajudarem nesse processo, o proprietário sempre se

valeu do exército de reservas, número de desempregados à disposição das pequenas e grandes

empresas, para reduzir salários e impor aos empregados, condições subumanas na realização

das atividades. Os que permanecem empregados acumulam funções, sem nenhum ganho

extra.

Isso nos permite afirmar que, dentro do processo de produção, o homem também se torna

mercadoria, com valor de uso e troca definido pelo mercado. Constata-se que cada vez mais

ele é um item imprescindível na obtenção da mais valia e, portanto, na perpetuação do

capitalismo.

No Manifesto Comunista, Marx (1848, p.12) enfatiza bem essa realidade quando fala sobre o

desenvolvimento da burguesia:

Na mesma medida em que a burguesia, isto é, o capital, se desenvolve, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver enquanto têm trabalho, e só têm trabalho enquanto o seu trabalho aumenta o capital. Estes operários, que têm de vender-se no varejo, são uma mercadoria, um artigo de comércio, e estão, por isso mesmo, igualmente expostos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado.

A classe do proletariado se desenvolveu, portanto, junto com o capital, e sua valorização está

submetida às disposições deste, podendo se tornar mais cara ou mais barata de acordo com as

suas necessidades e variações.

Dentro desse contexto de exploração do trabalho vivo, remunerado por meio de baixos

salários, surgem outros problemas de ordem social que atingem diretamente a classe

trabalhadora: educação de baixa qualidade; alimentação inadequada; saúde precária; falta de

acesso ao lazer e as atividades culturais, a exemplo de: cinema, teatro, leituras de livros. Estes

problemas funcionam como um aparelho reprodutor da situação vigente, e configura-se como

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um círculo vicioso, pressupondo que alguns elementos geram uma situação que os reproduz e

isso se perpetua num processo contínuo.

Ezequiel T. Silva (1983, p.16) nos chama a atenção para a relação entre a pobreza e carência

de leitura ao falar sobre os contextos sociais presentes na realidade brasileira.

Numa sociedade onde estão presentes a injustiça, a desigualdade a miséria, a fome e falta de liberdade e democracia..., torna-se muito fácil encontrar pessoas que não têm acesso à informação, aos diversos referenciais inscritos em diferentes tipos de livros.

Nesse texto, extraído de um discurso feito em Campinas no ano de 1979 e reelaborado em

1983 para a publicação de um livro, Silva quer dizer que, diante de tais contextos, o número

de pessoas excluídas pelo conhecimento e falta de uma educação formal é muito maior do que

em sociedades que contemplem uma distribuição de renda mais uniforme. Hoje, após 25 anos,

com o avanço das tecnologias, principalmente nas áreas da comunicação e informática, essa

situação permanece e, devido à evolução da sociedade e conseqüentemente das novas

exigências que se faz ao indivíduo para sua inserção social e profissional, a condição de não-

leitor se torna ainda mais grave.

As condições sociais desse mundo globalizado em que vivemos hoje são determinadas pelas

novas necessidades emanadas pela sociedade. O contexto atual é visivelmente marcado pela

preocupação com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, visando a uma

convivência mais harmoniosa do ser humano com o meio em que vive. Esta e outras

preocupações e exigências sociais demandam um novo tipo de indivíduo: reflexivo e crítico.

Para viver em mundo globalizado, a sociedade exige diversas competências do sujeito: saber

trabalhar em equipe, ser crítico, ser capaz de tomar decisões, capaz de lidar e pensar com

rapidez frente a diferentes situações. Muda-se o enfoque do sujeito qualificado para exercer

uma função específica, para um homem multiqualificado, autônomo, capaz de sair-se bem nas

diversas funções que o mercado de trabalho lhe impõe.

Na década de 1970, escolas tecnicistas foram criadas no intuito de suprir as necessidades do

mercado de trabalho com profissionais capacitados para as funções que as indústrias, em

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crescente expansão, exigiam. Hoje a escola precisa mudar para acompanhar a evolução do

mercado de trabalho: não basta mais o sujeito sair treinado para exercer uma função, pois os

procedimentos e técnicas de trabalho se renovam diariamente, tornando rapidamente

obsoletos os conhecimentos adquiridos durante sua formação. É necessário, então, que a

escola ofereça ao aluno uma orientação para a auto-aprendizagem: o sujeito precisa aprender a

aprender.

A educação atual deve incentivar a reflexão crítica, estimular o pensamento autônomo do

sujeito, promover projetos onde o aluno, desde criança, possa internalizar diversas habilidades

imprescindíveis à nova era em que vivemos: empreendedorismo, planejamento. Essas, entre

outras são as diversas competências que as escolas contemporâneas (as das classes

dominantes) procuram incutir em seus alunos através da educação para o “sucesso”.

Diante do exposto, cabe mais uma vez ressaltar que a leitura deve ser vista como prioridade

nas propostas curriculares das escolas públicas, pois além de contribuir com o

desenvolvimento de um sujeito crítico e autônomo, tem a função de munir a população dos

elementos necessários para uma luta justa na sua inserção social.

A carência de leitura não atinge apenas ao sujeito/educando, mas também as instituições

responsáveis por sua educação: família e escola. Está vinculada a um processo reprodutivo de

pobreza e, portanto, das condições sociais a que estão relacionadas a família e a escola. O

corpo de professores que poderia minimizar tal situação, em sua maioria, é constituído de

não- leitores, devido às suas condições de vida e de trabalho, como salários baixos que não lhe

dão acesso à compra de livros e outras atividades de cunho cultural, além da falta de tempo

para ler, já que geralmente sua jornada de trabalho abrange os três turnos, como bem enfatiza

Silva (1983, p.18).

O professor brasileiro, dada a sua condição de oprimido, também é um carente de leitura. O salário não é suficiente para comprar livros e enriquecer o acervo de sua biblioteca profissional; o número excessivo de aulas bloqueia os momentos para a leitura; não existe biblioteca especializada nas escolas; os cursos de licenciatura tocam por alto a pedagogia da leitura.

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Os baixos salários, assim como as perversas condições de trabalho dos profissionais da

educação, devem-se ao fato de que, na sociedade capitalista, a função de educador não é vista

como atividade produtiva, pois não gera diretamente o capital produtivo a partir da realização

de suas atividades. É preciso pensar mais além, pois é por meio da melhoria da escolaridade e,

por conseguinte, por meio do aumento do nível de conhecimento de seus membros que a

sociedade irá possibilitar o desenvolvimento econômico de um país. O relatório elaborado

pelo Banco Mundial em 2001, acerca da pobreza no Brasil revela, por meio de gráfico, a

relação direta entre pobreza e níveis de escolaridade.

Gráfico 3.1 – Pobreza e Níveis de Escolaridade

Fonte: Relatório No. 20475 –BR. O Combate à Pobreza no Brasil: Relatório sobre Pobreza, com Ênfase nas Políticas Voltadas para a Redução da Pobreza Urbana - Volume I: Resumo do Relatório. 31 de março de 2001

Pode-se observar que a taxa de pobreza diminui, conforme aumenta o nível de escolaridade da

população. O índice de pobreza entre as pessoas que possuem menos de um ano de

escolaridade aproxima-se a 45%, enquanto que entre a população com escolarização de 8 a 12

anos são constituída por menos de 5% de pessoas pobres e para pessoas com mais de 12 anos

de estudo esse número cai para menos de 1%. Em publicação recente (26 de agosto de 2008)

do Jornal o Estadão, o Banco Mundial notificou que o cálculo utilizado para medição do

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número de pobres existentes apresentava inadequações, e, após terem sido revistos, verificou-

se a existência de mais de 400 milhões de pobres no mundo, ou seja, os índices apresentados

pelo Banco Mundial estão muito abaixo do real.

Trata-se de uma somatização de problemas sociais que atinge quase que exclusivamente a

classe trabalhadora, principalmente os alunos do noturno. São pessoas sem direito a acesso a

outras fontes de informação e conhecimento, que não seja a escola, sendo orientadas por

professores cansados de sua longa jornada de trabalho e também sem tempo disponível para a

atualização, bem como acesso aos livros, excluindo os didáticos, como acontece também com

a grande maioria de nossos educandos.

Como o professor pode incentivar a leitura se ele também não lê? Como os educandos se

tornarão leitores críticos sem dispor de tempo e recursos financeiros para praticarem a leitura?

O resultado são os milhões de analfabetos funcionais no Brasil que, pela qualidade da

educação que é oferecida ainda hoje, tendem a aumentar.

Diante desses fatos, não se pode pesquisar ou mesmo discutir sobre a situação dos leitores no

Brasil dissociado dos problemas gerados do modo pelo qual a sociedade está organizada e

direciona o papel da educação. Ezequiel T. Silva (1983) vai mais além nesse julgamento e diz

que toda essa crise de leitura é causada de forma intencional pela estrutura social vigente para

com isso poder perpetuar os privilégios dos membros da elite.

Para isso também é necessário que a divisão de trabalho permaneça, fazendo com que as

idéias dos dominantes prevaleçam sobre as classes dominadas. Criam-se dois tipos de escolas,

uma para os dominadores, formados pelos ricos proprietários, a fim de preparar os filhos

dessa elite, estimulando a reflexão, empreendedorismo e tomada de decisões e outra destinada

aos dominados, trabalhadores; esta prepara as crianças e jovens para a submissão, obediência

às regras, trabalhos físicos e repetitivos. Marx (p.39) em seu livro “A ideologia alemã” retrata

muito bem essa situação ao afirmar “...que a atividade intelectual e material, o gozo e o

trabalho, a produção e o consumo caibam a indivíduos distintos”.

Diante do exposto, percebe-se que não é intenção dos governantes mudar o contexto atual,

nem tampouco fornecer armas para que o povo possa promover uma revolução na ordem

estabelecida e pelos regentes dessa organização, pois dominar o que é restrito à classe

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dominante é estar munido com as mesmas armas usadas para sua dominação, como bem

afirma Saviani (1981 apud Silva 1983, p. 35).

O domínio da cultura constitui instrumento indispensável para a participação política das massas. Se os membros das camadas populares não dominam os conteúdos culturais, eles não podem fazer valer os seus interesses, porque ficam desarmados contra os dominadores, que se utilizam exatamente desses conteúdos culturais para legitimar e consolidar sua dominação. (...) o dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os dominantes dominam. Então, dominar o que os dominantes dominam é condição de libertação.

Hoje, o mercado de trabalho e, portanto, o desenvolvimento do capital, necessita de uma

classe diferente de trabalhadores, pois o tipo de comércio mudou, assim como se modificaram

os modos de produção. Atualmente o mercado de trabalho exige novas habilidades dos seus

servidores, é preciso que a pessoa pense de forma rápida e crítica, seja capaz de tomar

decisões e assumir novas funções em poucos intervalos de tempo. Portanto, se faz necessário

que seja ofertada uma educação diferenciada e qualificada para a formação desse novo

contingente de reserva.

3.2 A questão da pobreza e a exclusão educacional

As crianças oriundas de classes mais pobres são as que mais sofrem com os problemas do

fracasso escolar. Por se tratarem de pessoas socialmente com menor poder dentro da escola,

suas reivindicações e necessidades tendem a não serem ouvidas e tampouco satisfeitas, sendo,

portanto as que mais necessitam das escolas para obter educação.

Este fato é mais agravante ainda quando se verifica que o que está por trás desse quadro é a

perpetuação desse ciclo, pessoas em estado de pobreza que jamais poderão sair dela, pois lhes

falta o básico que é a educação, como é bem ressaltado por Connell (1995, p.15), em seu

ensaio “Pobreza e Educação”, quando diz:

A educação foi trazida para o contexto da assistência social através da correlação entre níveis mais baixos de educação, de um lado, e índices de desempregos mais altos e salários mais baixos, de outro. Surgiu a idéia de um “ciclo de pobreza” auto-alimentado, no qual baixas aspirações e carências no cuidado com a criança levavam ao fracasso no mercado de trabalho e à pobreza na próxima geração.

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A criança e o jovem pobres são atingidos por efeitos perversos dentro de uma conjuntura

social muito mais ampla que somente a da exclusão escolar. Com isso não se quer afirmar que

a educação seja a panacéia que irá salvar o mundo das desigualdades sociais, mas sim que,

juntamente a outros programas sociais, será possível minimizar os efeitos causados pela

pobreza. Aos pobres não é dado o direito de opinar sobre as visões da elite, responsável pela

elaboração das políticas públicas e conseqüentemente pelos programas de educação

compensatórios que lhes são oferecidos, mostrando a essa elite suas reais necessidades.

O que se pode fazer frente a essa situação? Como os professores estão sendo formados para

agir? Ensinar bem em escolas que operam com crianças em desvantagens sociais é muito mais

difícil, pois elas trazem situações muito diferentes das crianças de classes altas. Geralmente

provêm de famílias desestruturadas, que sofrem com a fome e uma conseqüentemente

desnutrição, o que acarreta falta de atenção e prejuízo na aprendizagem. Aliados a todos os

problemas citados anteriormente ainda estão o uso de metodologias tradicionais e uma forma

de tratamento superficial na aplicação dos conteúdos, de forma a perpetuar a pedagogia da

pobreza, justificando essa seleção de metodologia pelos poucos recursos financeiros recebidos

na escola.

A Constituição Federal, promulgada em 1988, em seu Capítulo I, artigo 5°, diz que :

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Ao garantir direitos iguais para todos, acredita-se estar promovendo a redução das

desigualdades e a equiparação das oportunidades entre as pessoas, mas apesar de a lei

significar um avanço como um direito constituído, ainda falta criar mecanismos para que

esses direitos sejam usufruídos por todos.

Podemos verificar como a pobreza e a fome contribuem para o aumento da exclusão de

crianças e jovens no Brasil. Uma das definições que o dicionário Aurélio Eletrônico (1999):

dá para fome é “falta do necessário; penúria, miséria; situação de míngua ou escassez de

víveres”. Esse é o quadro enfrentado por milhares de professores diariamente nas escolas

públicas, que lidam com crianças pobres. Embora nem sempre a pobreza seja acompanhada

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da fome, a “fome”, na maioria das ocorrências, é proveniente da extrema pobreza em que se

vive, exceto quando esta se origina de dietas alimentares.

Esses contextos socioeconômicos desencadeiam um dos maiores problemas da educação que

é a evasão escolar nas séries iniciais. E isso se dá principalmente pelo fato de que crianças

desde a mais tenra idade são obrigadas a abandonar a escola para ajudar no sustento da

família, sendo exploradas física e psicologicamente, visto que as mesmas são destituídas da

infância e das oportunidades de desenvolvimento que ela oferece.

Na década de 90, o número de pessoas no Brasil que vivia abaixo da linha de pobreza chegava

a 32,9 milhões, ou seja, quase ¼ da população, sendo que 60% desse número estavam

concentrados nas áreas rurais da região Nordeste. Estudos ligados a esse tema foram

desenvolvidos por Hoffman apud Monteiro (1994) e dão conta que “o quadro encontrado em

1990 persistiu, com pequenas variações, ao longo de toda a década de 80”. Isso mostra que

essa situação problemática vem se perpetuando ao longo do tempo em nossa sociedade.

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4 PESQUISA E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Participantes: quem são?

Esse item se propõe a expor os dados encontrados na pesquisa e confrontá-los com base nos

conhecimentos teóricos apresentados anteriormente, na busca de melhor entender quais

particularidades dos contextos sociais são relevantes na formação do leitor.

Foi traçado o perfil dos alunos do Colégio Modelo Luiz Eduardo Magalhães, instituição

pública situada na periferia de Salvador que dá atendimento à classe trabalhadora, mediante a

utilização de observação, entrevistas e aplicação de questionários, através dos quais se

procurou identificar as principais características do objeto de estudo e sua relação com a

sociedade.

A pesquisa ocorreu dentro da escola, inicialmente através de entrevistas orientadas com

alunos participantes da oficina de leitura existente na escola. A pesquisa na oficina de leitura

foi iniciado com observação do trabalho desenvolvido pela orientadora com o grupo, em

seguida me foram concedidas 3 noites para que pudesse trabalhar com os alunos, textos com

o tema leitura e propiciar uma discussão entre eles. A primeira dificuldade encontrada foi a

resistência da professora para com um dos textos selecionados, o de Clarice Lispector,

“Felicidade clandestina”, que o achou denso e me desaconselhou o uso, dizendo que os alunos

não captariam a idéia central do conto. Contrariando a baixa expectativa da professora, os

alunos apesar de reclamarem do tamanho do texto, se identificaram com a história relatada

por Lispector, e a mediação da discussão ocorreu de forma tranqüila e produtiva.

No segundo encontro, lemos juntos e discutimos um texto de Rubem Alves que fala sobre

suas reminiscências de como iniciou seu amor pelos livros. Após a discussão dos textos, foi

solicitado aos alunos que produzissem um texto sobre suas memórias de leitura; quando

começou; quais eram suas dificuldades; quem foram seus facilitadores, enfim, contar um

pouco de sua história com os livros. Infelizmente, nesse intervalo a oficina de leitura foi

oficialmente suspensa e os alunos dispersaram. Desse trabalho resultaram dois relatos, que

embora ricos, não foram suficientes para satisfazer a pesquisa.

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Após o encerramento oficial da referida oficina, optou-se pela aplicação de questionários, por

possibilitar uma maior participação dos alunos. Todos os participantes foram voluntários e

receberam esclarecimentos sobre a finalidade da pesquisa.

Dentre os educandos que participaram da pesquisa, 84% fizeram o ensino fundamental em

escolas públicas e 16% em escolas particulares, sendo que 84% estudaram na modalidade

regular, 9% por aceleração e 7% não informaram. Em entrevistas e conversas informais com

professores dessa unidade de ensino, foi relatado que alunos possuíam dificuldades de leitura

e escrita, decorrentes de um ensino fundamental realizado na modalidade de aceleração. Os

dados da pesquisa mostram um número muito pequeno de alunos oriundos desse tipo de

ensino, conforme gráfico apresentado a seguir.

Gráfico 4.1 – Modalidade do Ensino Fundamental

Apesar de essa pesquisa ser por amostragem, os resultados encontrados nos fazem refletir

sobre outras possibilidades de a deficiência na leitura e escrita ser também proveniente do

ensino fundamental regular, uma vez que a coleta de dados revelou que 84% dos alunos

entrevistados são oriundos dessa modalidade de ensino.

Quanto ao nível de escolaridade dos pais, os dados apresentados nos mostram que mais de

50% dos alunos pesquisados são oriundos de famílias com pais que pararam de estudar antes

da conclusão do ensino fundamental. Apenas 4% não informaram a escolaridade dos pais e

1% das mães, isso se dá pelo fato do desconhecimento da paternidade e pouco ou mesmo

nenhum contato durante a infância e juventude, sendo que alguns alunos cresceram apenas

com a família materna. Os dados revelam que homens têm menos chance para concluir o

ensino fundamental do que as mulheres, mas os que prosseguem nos estudos permanecem por

mais tempo na escola. No ensino médio e superior, o número de pais que continuaram e

concluíram sua graduação, embora se trate de um número muito pequeno, é superior ao

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número de mães. O gráfico apresentado a seguir permite uma melhor visualização dessa

realidade.

Gráfico 4.2 - Índice de Escolaridade da Família

Quanto à idade dos educandos participantes da pesquisa, esta varia entre 17 e 58 anos e todos

moram atualmente na cidade de Salvador, nos bairros circunvizinhos ao colégio em que

estudam.

Gráfico 4.3 – Distribuição de Alunos por Idade

A grande maioria se encontra entre 19 e 30 anos, revelando que, apesar de a defasagem

idade/série ser grande, a luta pela permanência nos estudos, que segundo relatos de alguns

alunos, são impostas pelo mercado de trabalho, que exigem, cada vez mais, sujeitos com

maior nível de escolaridade, os fez retornar para as salas de aula. Silva (1988, p.38), em seu

livro “Leitura e realidade brasileira”, fala sobre as dificuldades encontradas pelos alunos

mais carentes em sua luta para permanecer na escola.

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...aqueles alunos mais carentes, por não possuírem um repertório experiencial para atribuir significado aos textos propostos, parecem ficar marginalizados do processo ensino-aprendizagem e são levados a abandonar a escola.

Após anos de abandono, impulsionados pelo mercado de trabalho, esses mesmos alunos

voltam aos bancos da escola em mais uma tentativa de alcançar sucesso, trazendo, em sua

bagagem, além de experiências de fracasso escolar, também um repertório experiencial que

lhes possibilita um melhor desenvolvimento cognitivo. A educação antes suprimida aos

pobres é agora exigida como a única forma de o indivíduo se manter no mercado de trabalho,

punindo com o desemprego os que não conseguem alcançar o nível de escolaridade mínima.

Diante de tal situação, devemos lembrar o que afirma Pablo Gentili (1998, p.234), sobre os

discursos da meritocracia, onde as responsabilidades do sucesso e insucesso são atribuídas tão

somente ao indivíduo, gerando com isto mais desigualdades e estimulando a competitividade

entre sujeitos dentro de uma mesma conjuntura perversa em que vive e das diferenças de

oportunidades que são oferecidas para as diferentes classes.

Na questão referente à inserção no mercado de trabalho, 13,41% dos pesquisados começaram

a trabalhar antes dos 10 anos de idade; com 45,12% esse fato ocorreu entre 11 e 15 anos;

34,15% entraram na luta pela sobrevivência entre 16 a 18 anos. Dentre os 100 alunos

entrevistados, apenas 7,32% ingressaram no mercado de trabalho com mais de 18 anos,

conforme pode ser visto no gráfico a seguir.

Gráfico 4.4 – Distribuição dos Alunos por Idade de Ingresso no Mercado de Trabalho

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O gráfico anterior mostra a realidade brasileira ainda presente nos dias atuais. Crianças e

adolescentes que precisam enfrentar o mercado de trabalho, antes mesmo de ter concluído a

educação básica, dificultando dessa forma sua trajetória escolar.

Ainda nessa pesquisa foi revelado que 58% estão trabalhando atualmente e 38% estão fora do

mercado de trabalho, sendo que 4% dos educandos pesquisados não informaram sua condição

atual. Dentre os que estão empregados atualmente, 50% recebem apenas o valor de 1 salário

mínimo como remuneração pelo seu trabalho; 39,66% recebem 1 a 2 salários mínimos contra

5,17% que ganham entre 3 a 4 salários e 1,72% acima de 4; 3,4% dos pesquisados não

informaram o valor recebido pela realização de seus trabalhos, conforme gráficos

apresentados a seguir.

Gráfico 4.5 – Índice de Alunos Empregados Atualmente Gráfico 4.6 – Renda Atual dos Alunos Empregados

Apesar de tão cedo ingressarem no mercado de trabalho, e essa pode vir a ser uma das causas,

os alunos entrevistados, em sua maioria, recebem apenas um salário mínimo, ou no caso dos

39,7% entre um e dois salários mínimos. Este fato cria um círculo reprodutivo perverso.

Devido ao estado de pobreza dos pais, começaram a trabalhar cedo, sem um nível de

escolaridade adequada que lhes possibilitasse melhores condições de empregabilidade o que

os mantém ganhando por muitos anos, o mínimo para sua sobrevivência e isto se reproduz em

suas vidas futuras.

Quanto ao local de nascimento dos alunos entrevistados, 74% informaram que nasceram na

Capital do Estado, Salvador, e 21% são oriundos de municípios rurais e outros estados.

Durante as pesquisas os alunos relataram que abandonaram seu lugar de origem em busca de

melhores condições de vida, estudo e trabalho, conforme gráfico apresentado a seguir.

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Gráfico 4.7 – Distribuição de Alunos por Origem

No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels (1948) já chamavam a atenção para a

dispersão da população rural provocada pelo crescimento da burguesia.

A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou cidades enormes, aumentou tremendamente a população urbana em relação à rural, arrancando assim contingentes consideráveis da população do embrutecimento da vida rural. Assim como subordinou o campo à cidade, os países bárbaros e semibárbaros aos civilizados, subordinou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente. A burguesia suprime cada vez mais a dispersão da população, dos meios da produção e da propriedade. Aglomerou a população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos.

Considerando o longo período após esse manifesto, a evolução das tecnologias, o

melhoramento e encarecimento das máquinas e equipamentos necessários para a realização da

produção agrícola, essa dispersão tende a aumentar, eliminando do mercado, os pequenos

proprietários. Só permanecem nas cidades rurais, os trabalhadores subordinados aos ricos

proprietários de terras que possuem poder de capital para manter toda a maquinaria precisa. O

Banco Mundial (2001) em estudo sobre o Combate à pobreza no Brasil: relatório sobre

pobreza, com ênfase nas políticas voltadas para a redução da pobreza urbana, revela que a

maioria dos pobres brasileiros vive nas regiões Norte e Nordeste, especialmente nas zonas

rurais.

A taxa de pobreza extrema é mais alta no Norte, no Nordeste e em áreas rurais. A taxa de pobreza extrema também é muito alta em centros urbanos pequenos e médios. É provável, contudo, que os dados da PNAD superestimem a pobreza rural.

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É na tentativa de melhorar suas existências, fugindo da pobreza extrema que lhes destinam as

condições de vida nesses lugares, que famílias continuam a migrar para as capitais, mesmo

que muitas vezes saiam de suas propriedades para enfrentar uma realidade ainda mais

desumana nas grandes metrópoles, a exemplo de trabalhos informais e sem remuneração

mínima garantida.

De acordo com os itens respondidos na pesquisa se buscou traçar um perfil socioeconômico

dos entrevistados de forma a permitir um melhor entendimento, no que se refere às

implicações dos contextos sociais na sua formação leitora.

4.2 Formação leitora: como aconteceu

A idade em que os alunos tiveram o primeiro contato com a leitura de um material impresso

varia muito, conforme gráfico abaixo, sendo que 31% foram acima dos 10 anos de idade.

Sabemos que o período aqui no Brasil geralmente disponibilizado para a alfabetização dos

alunos é de até os 7 anos, quando são apresentados a livros e outros impressos, isto quando

alunos estão em idade adequada à série escolar, portanto, acima dos 10 anos já iniciam com

um período de defasagem.

No questionário aplicado foram listados alguns suportes textuais, como livros, revistas, gibis,

jornais e ainda dada a opção “outros” para que o aluno escrevesse, caso sua primeira leitura

fosse diferente dos indicados.

Gráfico 4.8 – Idade em que leu o primeiro texto completo

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Dentre os 49% que afirmam ter lido um texto escrito antes dos 10 anos, a escolha da leitura

em 54% foram feitas pelos próprios alunos e 41% tiveram a leitura selecionadas pela família e

escola.

Gráfico 4.9 – Distribuição da Seleção de Leitura

Diante do exposto, a influência que a família tem na formação do leitor é de fundamental

importância, visto que dentre as escolhas de leituras que os alunos fazem pela primeira vez

em suas vidas, outros fatores incidem em apenas 3% na seleção. A família dentro de suas

possibilidades geralmente inicia suas crianças no mundo letrado por diversas formas:

facilitando o contato com os signos, contando histórias antes de dormir. Dentre as histórias

relatadas por alguns alunos entrevistados se destacam os casos de assombrações que ouviam

de seus pais e avós à noite reunidos na porta de casa. Esses contos permeiam a fantasia das

crianças e as fazem querer mais, conhecer mais e criar suas próprias histórias.

Vale lembrar que para Martins (1982), a leitura pode ser desenvolvida em três níveis:

sensorial, emocional e racional, níveis que se inter-relacionam e em muitos casos acontecem

simultaneamente. Ao ouvir histórias de seus familiares, as leituras se processam

simultaneamente nos níveis sensoriais e emociona is, criando vínculos para o aprendizado

posterior da leitura e escrita.

A escola também influencia bastante na formação do leitor, principalmente no caso de

crianças e jovens oriundos de famílias que não sabem ler e/ou não cultivam o hábito da

leitura. Como visto anteriormente, para 26% dos alunos entrevistados, a escola foi a

responsável pelo seu primeiro contato com a leitura. Silva (1988, p.37) afirma que a escola

ainda é o local possível de concretizar o aprendizado da leitura e escrita.

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A rede escolar, bem ou mal acabada, reprodutora ou não, com ou sem condições ideais, etc., ainda permanece sendo o local onde o ensino do ler e escrever é possível de ser concretizado.

Diante desse contexto, cabe a escola reavaliar os métodos e técnicas utilizadas para o trabalho

de leitura com os alunos, de forma que as leituras selecionadas por ela, tragam ao leitor as

mesmas sensações de prazer descritas quando as leituras são selecionadas pela família e por

eles mesmos.

Ainda com referência à escolha das leituras, apresenta-se a seguir um gráfico que expõe a

relação da origem dos alunos e a seleção da 1ª leitura.

Gráfico 4.10 – Distribuição da Seleção de Leitura X Origem dos Alunos

É possível notar que, para os alunos com origem nos municípios rurais, a família e os amigos

não representam interferência na seleção das primeiras leituras, diferente do que acontece na

capital, que em diferentes graus todos esses fatores possuem influência quanto à escolha.

Devemos lembrar que em municípios afastados da capital o nível de pobreza é maior,

principalmente nas regiões Norte e Nordeste, como é o caso dos alunos pesquisados, como já

foi dito no capítulo anterior sobre o relatório “Combate à pobreza no Brasil” publicado pelo

Banco Mundial.

Além da pobreza, o nível de escolaridade dos familiares também interfere na escolha da

leitura. O que vimos no tópico anterior sobre o nível de escolaridade dos pais e mães dos

alunos, é que a maioria ainda não possui o ensino fundamental completo. Durante os relatos,

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foi constatado ainda que histórias contadas (oralidade) foram mais presentes em sua infância

do que as leituras diárias pela família (leitura e escrita). Trata-se de pessoas que tiveram o

gosto pela leitura despertado a partir da cultura oral, e que, por ouvir e contar histórias, causos

e lendas a vontade de conhecer o novo se construiu. Nesses casos, a família influencia no

despertar da curiosidade, mesmo que, por não saber ler ou não ter possibilidades de ler, não

pudesse ter aconselhado em suas escolhas. Ezequiel T. Silva (1983, p.56) enfatiza a

importância dos exemplos obtidos no ambiente familiar em relação às leituras.

...num primeiro momento de sua existência a criança aprende e se situa no mundo através da atribuição de significados a pessoas, objetos e situações presentes no seu ambiente familiar, então podemos inferir que esse mesmo ambiente deve ser potencialmente significativo em termos de livros, leitores e leitura.

Com isso, Silva quer dizer que, quanto maior a convivência do sujeito com o mundo letrado,

maiores possibilidades de se formar em um indivíduo leitor e, por convivência se quer dizer,

exemplos de leitura, disponibilidade de variados tipos de suportes textuais, assim como, a

possibilidade de socialização das leituras.

Quando falamos em socialização da leitura, muitos dos alunos pesquisados disseram sentir

vergonha de conversar sobre suas leituras fora do âmbito escolar e familiar, fechando um

círculo de conversas sobre esses temas apenas em casa e na escola. Embora, quando

perguntados sobre se recomendariam sua última leitura para seus amigos, entre os 92% que

responderam a essa questão, apenas 1% tenha afirmado não recomendar, pois se tratava de

uma leitura feita há 32 anos atrás, e, portanto, julgada por ele como “passada”.

Entre os locais em que costumam realizar suas leituras, apontados pelos alunos, a própria casa

aparece em primeiro lugar, a escola em segundo e outros como transportes e bibliotecas em

seguida. Lugares associados ao lazer, como praias e praças são as últimas opções dos

educandos.

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Gráfico 4.11 – Distribuição de locais de leitura

O gráfico apresentado anteriormente ressalta dentre os diversos espaços sociais, a importância

da família e da escola na formação do leitor, é em casa e na escola que os alunos se sentem

seguros e confortáveis para ler e falar sobre a leitura. É no ambiente familiar que os sujeitos

são apresentados aos diversos tipos de leitura, seja a Bíblia ou mesmo um livro de receitas,

ambos possuindo o mesmo grau de importância quando o que se quer é atribuir significado e

revelar uma das funções sociais da leitura.

Visando a um melhor entendimento sobre as implicações dos contextos sociais para a leitura,

buscou-se cruzar os dados da situação de empregabilidade dos alunos e os locais apontados

para realização de leituras.

Gráfico 4.12 – Situação de empregabilidade X distribuição de locais de leitura

Todos os alunos, independente de sua condição de empregados ou desempregados em

percentuais diferentes, utilizam os mesmos espaços para realização de leitura, sendo que para

os alunos que estão desempregados atualmente o espaço da biblioteca se oferece como um

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recurso a mais. A biblioteca da escola funciona nos horários da manhã e tarde, fechando às

19h. Os alunos do noturno que estão trabalhando atualmente não dispõem de tempo para se

beneficiar com o acervo disposto na biblioteca. Os alunos empregados. além dos já

comentados locais (escola e casa), também procuram aproveitar os períodos em que estão no

transporte coletivo para realizar suas leituras. Isso nos mostra que a partir do momento em

que os alunos adquirem o hábito da leitura, criam espaços e organizam horários para que

possam desfrutar de seus benefícios.

Dentre os primeiros textos lidos, a preferência é para livros literários e/ou revistas em

quadrinhos. Os gráficos a seguir mostram os tipos de leituras escolhidas pelos alunos em suas

diversas fases.

Gráfico 4.13 – Primeira Leitura Gráfico 4.14 – Última Leitura

Os tipos de leituras se diversificam, mas permanece o gosto pela literatura. Os gráficos acima

mostram que os textos literários (romance, aventura, ficção) são os que mais se apresentam na

seleção dos alunos, sejam por livre escolha ou indicação de terceiros. Vimos anteriormente

que as leituras realizadas nos níveis sensoriais e emocionais são as que mais proporcionam

prazer aos sujeitos. O que vemos no gráfico que mostra suas útimas leituras é que a busca

pelo prazer sentido na sua primeira leitura permanece, embora se ampliem os gêneros

literários.

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Gráfico 4.15 – Leitura Atual

Ao observarmos o último gráfico de leituras atuais apresentado, é possível notar que mais da

metade (55%) dos entrevistados estão lendo atualmente. A literatura agora se apresenta em

segundo lugar na preferência dos alunos, logo após jornais e revistas, julgados pelos alunos

em suas respostas aos questionários, que são fontes de conhecimento e informação.

A necessidade de se manter informado, aliada com a falta de tempo para dedicar-se à leitura

faz com que os educandos troquem o livro por jornais e revistas, por se tratar de leitura rápida

e trazer notícias sobre fatos cotidianos que os ajudam em suas vidas. Isso não quer dizer que

estão realizando leituras de menor valor, apenas experimentando e se utilizando de gêneros

diferentes e o mais importante é que os textos impressos ainda signifiquem “fonte de

conhecimento” em uma era que se pode dispor de informações rápidas através dos meios

eletrônicos.

Quando perguntados sobre as sensações sentidas durante a primeira leitura, 76% dos alunos

disseram sentir “prazer”, contra 3% que sentiram “tédio” e 31% “cansaço”.

Gráfico 4.16 – Sensação sentida durante a leitura

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Esse sentimento de prazer está associado a dois, entre os níveis de leitura descritos por

Martins (1982), “sensorial e emocional”. Por se tratar da primeira leitura realizada em sua

maioria na fase infantil e juvenil - 78%, conforme gráfico apresentado anteriormente -, é bem

mais comum que as leituras os conduzam para o imaginário e que os tornem mais envolvidos

emocionalmente. A prática leitora possibilita o aluno criar hábitos de leitura, como também

intercalar os diferentes níveis em uma única leitura.

Gráfico 4.17 – Escolha da leitura X Sensação sentida

Quando fazemos o cruzamento da escolha da leitura com a sensação sentida, podemos

verificar que sensações positivas de prazer estavam presente independente da escolha, mas

quando a escolha foi feita pelo próprio leitor (número de 54 leitores), a sensação de prazer foi

relatada por 46 leitores, representando 85% desse público. Enquanto os números de leitores

que afirmaram sentir prazer quando a escolha da leitura foi opção da família ficou em 80%,

quando selecionadas pela escola a sensação positiva representa um número de 61% dos

entrevistados.

Na questão de indicar o que costumam e gostam de fazer nas horas de folga, 30% dos alunos

afirmam preferir entre as opções sugeridas, estar com amigos; 25% dos pesquisados optaram

por aplicar suas horas de folga em frente à televisão. A leitura de um livro aparece em terceiro

lugar com 18% dos alunos, contra 15% que gostam mais de passeios ao ar livre e 8% que

optaram por cinema e teatro. O lazer imediato gerado pela televisão também é um fator que

deve ser pensado; os alunos optam pela TV, pois os programas são direcionados para agradar

com fácil entendimento, limitando a criação e imaginação do aluno, bastando assistir.

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Na busca de compreender como os rendimentos dos alunos podem interferir na opção do

lazer, é apresentado a seguir um gráfico onde esses dois dados estão relacionados.

Gráfico 4.18 – Opções de lazer para horas de folga X Rendimento Mensal

Para os alunos que declararam receber um rendimento entre 1 e dois salários mínimos. a

preferência do que fazer nas horas de folga está concentrada em sair com amigos, ler um

livro, passeios ao ar livre e assistir à televisão empatam em 3%. Para quem recebe até 1

salário mínimo, a opção pela leitura está no mesmo patamar que sair com amigos, 9%. É

possível verificar aqui, que a opção pela leitura independe do nível salarial recebido, embora

possamos ver adiante que um trabalho extensivo e desgastante inibe a vontade de ler.

Em relação às dificuldades de leituras apontadas pelos educandos, 51% recaem sobre o tempo

disponível, conforme pode ser visto no gráfico a seguir. Devemos lembrar que os alunos

pesquisados são compostos em sua maioria por pais e mães de família, trabalhadores em

tempo integral e ainda estudantes do turno da noite, o que justifica a falta de tempo alegada

acima. Em seguida, a falta de motivação com 22%. Em meio às conversas com os alunos,

muitos alegaram a falta de motivação, ao cansaço que sentem ao final da longa jornada diária.

Gráfico 4.19 – Dificuldades de leitura

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Além dos itens citados acima, o gráfico mostra também que 14% dos alunos encontram

dificuldades para compra de material de leitura e 9% indicaram que o que torna difícil a

leitura é a dificuldade de entender o que dizem os livros. O gráfico apresentado a seguir, faz

um cruzamento com o nível de escolaridade das mães e as dificuldades encontradas pelos

alunos em suas leituras.

Gráfico 4.20 – Escolaridade da Mãe X Dificuldades de leitura

Neste gráfico é possível notar que as dificuldades de entendimento foram citadas apenas pelos

alunos que possuem pais analfabetos ou que não concluíram o ensino fundamental, nível um,

o que corresponde ao antigo ensino primário (1ª a 4ª série), uma interpretação possível para

essa situação é a de falta de experiências com leituras durante a infância. Conversas e

discussões sobre os textos lidos/ouvidos durante o desenvolvimento cognitivo auxiliam ao

sujeito na interpretação em compreensão de diversos textos, sejam eles: literários, técnicos,

publicitários entre outros. Nesse ponto é bom lembrar o que diz Silva (1983, p.61) sobre a

crise do livro e a classe trabalhadora.

Quando falamos em crise do livro e da leitura no Brasil, devemos deixar bem claro que se trata de uma crise no seio da classe trabalhadora, que indiscutivelmente representa a maioria da nossa população.

As dificuldades enfrentadas pelos alunos para a efetivação de leituras se referem às condições

socioeconômicas em que se encontram: tempo, compra e entendimento. Carga horária de

trabalho excessiva, baixos rendimentos, falta de convivência na infância com o mundo

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letrado, todos esses fatores aliados ao estudo noturno afastam os alunos da condição de

leitores assíduos.

Quanto às fontes de acesso, o gráfico a seguir mostra quais são as mais utilizadas pelos alunos

pesquisados. Cabe informar que a questão permitiu múltipla escolha, devido às várias formas

indicadas levarem à leitura e poderem ser utilizadas por uma mesma pessoa em ocasiões

diferentes. Embora 9% dos alunos tenham assinalado outras, estas não foram informadas,

mesmo sendo bom conhecer que outras maneiras são usadas, é importante saber que os

amantes da leitura são criativos para buscar formas de se chegar até ela.

Gráfico 4.21 – Fontes de Acesso

Dentre os alunos pesquisados, 42% afirmaram ser o empréstimo sua maior fonte de acesso,

em seguida o uso de bibliotecas. No colégio onde ocorreu a pesquisa, funciona uma biblioteca

bem estruturada, que conta com um acervo moderado de livros e publicações, aberta ao

público escolar e comunidade durante o dia para leitura e manuseio dos livros, mas que

devido a problemas ocorridos no passado com alguns alunos (perda e falta de devolução), não

mais possibilita o empréstimo. Quando pensamos que a maior dificuldade relatada é o tempo

e, em contraponto, as principais fontes de acesso são o empréstimo e a biblioteca, vemos

porque tão poucos alunos (13%) estão em contato com textos literários atualmente.

Ao cruzar os dados com as fontes de acesso e o rendimento dos alunos, vemos que dentre os

alunos que informaram o valor de seus ganhos salariais, os que percebem acima de 2 salários

mínimos indicaram como forma de aquisição de livro a compra e o empréstimo, embora esse

número de alunos seja pequeno por se tratar de uma escola pública na área periférica de

Salvador.

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Gráfico 4.22 – Fontes de Acesso X Rendimento Salarial

Já os alunos que recebem entre 1 a 2 salários mínimos, a compra foi indicada por apenas 14%

de alunos que estão empregados atualmente (58%), já a leitura em biblioteca e por meio de

empréstimo foram as mais indicadas.

Quando perguntados sobre quais materiais circulam em suas comunidades, questão também

de múltipla escolha, apenas 9% dos alunos indicaram que “outros” tipos de impressos como

livro estão presentes e disponíveis. Em 68% das respostas estão jornais, 34% indicaram a

venda de revistas e 50% indicaram folhetos. Acredita-se que o alto índice de número de

folhetos se deu por conta da pesquisa ocorrer em período de campanha eleitoral.

Gráfico 4.23 – Material impresso encontrado nas comunidades

A falta de uma cultura nacional de livrarias concentra as poucas existentes nos centros das

cidades, shoppings, e bairros que concentram moradores com maior poder aquisitivo. Nas

áreas de periferia, as livrarias são um artefato raro, as poucas encontradas dedicam-se à venda

de material didático, contribuindo para o alto valor cobrado nos livros e dificultando o acesso

a eles pela classe trabalhadora. Nesta comunidade em questão, no que se refere à leitura, não

consta a presença de livrarias, apenas banca de jornais e a biblioteca da escola propiciam o

acesso da comunidade aos livros.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estudo “As implicações do contexto social na formação do leitor” abordamos um

problema enfrentado pela grande maioria das escolas públicas, o alto índice de jovens e

adultos matriculados nas escolas e que trazem, em seu trajeto de formação, falhas de

aprendizagem quanto à aquisição da leitura enquanto prática social. Procuramos relacionar a

visão marxista ao tema da pesquisa, a qual buscou compreender como os contextos sociais

interferem na formação do aluno leitor, explicitamente dos alunos portadores de deficiências

sociais, determinadas pela sua condição de classe trabalhadora.

É importante salientar que embora o senso comum, assim como os discursos na mídia

divulguem que o aluno menos favorecido não lê, foi constatado que a maioria dos

pesquisados lêem e gostam de ler e que ainda sentem a falta de promoção de leitura na escola.

Alguns dos alunos disseram sentir falta de que os professores leiam com eles na sala de aula,

pois essa atitude facilita seu entendimento dos textos, como se pode perceber no depoimento:

“quando o professor está lendo com a gente, fica mais fácil entender”.

Os estudos desenvolvidos revelaram que a livre escolha dos alunos quanto à leitura é um dos

fatores que possibilitam mais sensações positivas para o leitor, do que a seleção feita por

terceiros, seja a escola, a família ou amigos; 54% dos alunos entrevistados disseram ter sido

eles próprios que escolheram seu primeiro livro, sendo que a maioria desses alunos nasceu

aqui na capital (Salvador). Já com os alunos de origem rural, somente a escola interferiu em

suas escolhas, visto que a família destes é, em sua maioria, carente e desprovida da habilidade

de ler e escrever. Esse fato contraria os discursos da elite ao dizer que o aluno carente não se

interessa por livros e lê pouco por falta de hábito. Devemos considerar que, inicialmente, há

sim um interesse dos filhos de trabalhadores pelos livros, mas que devido ao pouco estímulo

que recebem na escola e na família, acabam por optar por outras formas de lazer mais barato e

disponível à sua condição de jovem trabalhador. Os alunos carentes que cultivam o hábito da

leitura lêem o que lhes é acessível, seja por empréstimo, doação ou, em raras ocasiões,

compra, portanto seu critério de escolha nem sempre é levado em consideração. Muitos

permanecem em leituras de revistas, sem acesso aos autores clássicos e, portanto, não são

considerados como leitores.

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Devemos reafirmar que uma visão que relaciona o hábito de ler apenas aos livros clássicos

advém de uma ideologia elitista que privilegia apenas a cultura das classes dominantes. Esta

visão desprestigia outros gêneros discursivos, que, em seus variados aspectos, formam o leitor

e o aproximam de diferentes contextos de leitura.

Durante a realização da pesquisa foi possível compreender que a família e a sociedade

contribuem na formação do aluno leitor na medida em que propiciam auxílio em suas

escolhas, facilitam a aproximação das crianças e jovens com os livros e outros tipos de leitura,

e também possibilitam a convivência na infância com o mundo letrado. Contar histórias e

promover discussões sobre leitura durante o desenvolvimento dos filhos é uma forma que a

família tem de estimular o hábito da leitura. O contexto social também se mostrou um grande

fator na formação do leitor, de forma que a origem dos alunos determina os fatores de escolha

da leitura; em se tratando de alunos oriundos de cidades rurais, apenas a escola e a família

interferiram na escolha, enquanto que, para alunos que nasceram e cresceram na capital,

outros fatores além da escola e família ajudam na seleção das leituras.

Ao pensar em pesquisar os problemas de leitura, inicialmente acreditei que o fator econômico

seria o maior limitador para a realização de leituras, no que concerne à aquisição de textos,

mas outros elementos sociais se mostraram mais presentes nas pesquisas. Os alunos relatam

que as principais dificuldades enfrentadas para a efetivação de leituras, ainda que relacionadas

às condições socioeconômicas em que se encontram, são o tempo, a compra e o entendimento.

Os alunos oriundos de famílias com baixa escolaridade afirmam possuir dificuldade de

compreensão dos textos lidos, sendo que uma das explicações possíveis para essa realidade

pode ser a falta de convívio com o mundo letrado.

A falta de tempo e de motivação para a leitura se dá pela excessiva carga horária de trabalho,

visto que o indivíduo perdeu a condição de dono de seu tempo. Todo o seu dia é regido por

obrigações no cumprimento de horários extenuantes que, aliados ao estudo noturno, afastam

os alunos da condição de leitores assíduos. Além do tempo, outro elemento excludente é o

alto custo dos livros, revistas e jornais, assim como a falta de pontos de venda em sua

comunidade.

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Foi possível notar durante a pesquisa de campo que os alunos em questão conhecem a

importância e a função social do hábito da leitura e, embora enfrentando diversas

dificuldades, buscam organizar seu tempo e priorizar a leitura sempre que possível, se valendo

de espaços e horários variados, tais como aproveitar o período em que passam no transporte

coletivo nas idas e vindas do trabalho.

Os resultados encontrados na pesquisa revelaram que a maioria dos alunos pesquisada (49%)

teve seu primeiro contato com a leitura antes dos 10 anos de idade. Embora esse seja um dado

positivo, há o agravante de 31%, que só leram após os 11 anos, isso sem considerar os que

ainda revelaram jamais ter lido uma obra completa. O contato tardio com os livros dificulta a

criação do hábito da leitura, visto que, quanto maior a idade, maior o número de

responsabilidades que esse jovem assumirá em seu cotidiano e menor o tempo disponível para

dedicar-se ao lazer e ao conhecimento.

Foi importante verificar, conforme já foi abordado, que, entre os contextos sociais diversos,

duas instituições se sobressaem como facilitadores da leitura: a escola e a família, embora

saibamos que as famílias desses alunos muitas vezes são desestruturadas no âmbito

financeiro, psicológico e social, de acordo com alguns relatos espontâneos acontecidos

durante os trabalhos. Por sua vez, a escola pública oferece um ensino com qualidade cada vez

mais duvidosa, que desprestigia a leitura, dentro e fora dela. Devemos pensar, então, que tipo

de escola está sendo oferecida “para todos” os alunos principalmente para os filhos das

classes trabalhadoras, como é pensado o currículo e que ênfase é dada para a leitura.

Quando falamos em ensino médio, foco do presente trabalho, o enfoque dado à leitura é

mínimo: escola e professores, mesmo sabendo das dificuldades enfrentadas pelos alunos no

que se refere à leitura e à escrita, seguem literalmente o programa recomendado pelo

Parâmetro Curricular Nacional - PCN, sem se preocuparem com as deficiências trazidas por

seus alunos e contribuindo para aumentar significativamente os efeitos desse problema, no

momento em que permitem que alunos avancem sem domínio dos conteúdos estudados, visto

que, para muitos dos alunos carentes que concluem o ensino médio, esse será o ponto final

nos estudos; vão para um mercado de trabalho despreparados, sem conhecimento suficiente

para concorrer por um melhor, sustentando um círculo de pobreza.

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Os alunos se aproximam de diferentes gêneros de textos, desde sua infância e vão ampliando

sua relação e diversificam suas leituras, na medida em que novas oportunidades e

necessidades aparecem, sendo que a família e a escola possuem grande responsabilidade nessa

relação. É preciso pensar, então, como devemos formar nossos leitores, se decodificadores de

símbolos apenas, ou leitores críticos, capazes de ler as entrelinhas de cada texto, escrito ou

não.

Como lidar com a situação atual de alunos trabalhadores que acumulam ao longo dos anos de

estudos dificuldades de leitura e de escrita? Como fazer com que os filhos das classes

populares que pensam ter conquistado o direito de estudar, realmente possam exercer esse

direito em escolas de qualidade, tirando proveito de todos os seus benefícios?

Devemos pensar na problemática da leitura em conjunto com os fatores socioeconômicos,

tendo em vista que esses estão intrinsecamente ligados. Pensar a propalada crise de leitura

sem incluí- los, é continuar pensando em paliativos, que não promovem a formação de um

leitor crítico.

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RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 5. Ed. – São Paulo: Atlas, 2002. SILVA, Ezequiel Theodoro da Silva. A leitura no contexto escolar. Disponível no site www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_05_p063-070_c.pdf. Acesso em 10/03/2008. SILVA, Ezequiel Theodoro da Silva. Leitura e realidade brasileira. Porto Alegre, Mercado aberto, 1983. SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Disponível no site www.anped.org.br/reunioes/26/outrostextos/semagdasoares.doc Acesso em 17/08/2008. SOARES, Magda. As múltiplas facetas da alfabetização. 1985. Disponível no site www.anped.org.br/reunioes/26/outrostextos/semagdasoares.doc Acesso em 17/08/2008. ZILBERMAN, Regina. Leitura: história e sociedade . Disponível no site http://www.crmariocovas.sp.gov.br/lei_a.php?t=003. Acesso em 10/03/2008.

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS DO NOTURNO DO

COLÉGIO MODELO LUÍS EDUARDO MAGALHÃES

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69 QUESTIONÁRIO – FORMAÇÃO DE LEITORES

PERFIL DO ALUNO: Idade: Série: Com que idade começou a trabalhar? Bairro em que mora?

Onde Nasceu? Onde Passou a infância? Onde estudou o Ensino Fundamental? ( ) Escola pública ( ) Escola Particular Qual modalidade? ( ) Regular ( ) Aceleração

O que motivou sua vinda para salvador?

Escolaridade da família: Trabalha atualmente? Sim ( ) Não ( )

Pai: ( ) Analfabeto ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) 3° grau incompleto ( ) 3° grau completo

Mãe: ( ) Analfabeto ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) 3° grau incompleto ( ) 3° grau completo

Renda mensal atual: ( ) Até 1 salário mínimo ( ) De 1 a 2 salários mínimos ( ) De 3 a 4 salários mínimos ( ) Acima de 4 salários mínimos

VIDA DE LEITOR Com que idade leu o primeiro livro?

Quem escolheu a leitura? ( ) Eu mesmo ( ) Família __________ ( ) Amigos ( ) Escola ( ) Outros___________

Qual foi o tipo? ( ) Revistas ( ) Gibis / quadrinhos ( ) Livros ( ) Jornais ( ) Outros_________

Qual a sensação sentiu? ( ) Prazer ( ) Tédio ( ) Cansaço ( ) Outra_____________

Como se dava seu acesso aos livros na infância? Horas de folga, o que fazer? Numere de 1 a 5, conforme sua preferência: ( ) Ler um livro ( ) Passear ao ar livre ( ) Sair com amigos ( ) Televisão ( ) Cinema/Teatro

Marque os locais em que você costuma ler: ( ) Escola ( ) Casa ( ) Transporte ( ) Praça/ Praia ( ) Biblioteca ( ) Outros__________________________

Qual o último livro que leu? Quando? O que lhe levou a escolher esse livro? Você recomendaria esse livro para um amigo? ( ) sim ( ) não Por quê? O que está lendo atualmente? Qual dificuldade encontra ao realizar leituras? ( ) Tempo ( ) Acesso / compra ( ) Motivação ( ) Entendimento

Quais suas fontes de acesso ao livro: ( ) Empréstimos com amigos ( ) Bibliotecas ( ) Compra ( ) Família ( ) Outras. _____________________

O que a leitura lhe proporciona? Você conversa sobre suas leituras? Com quem? Quando? Escritos que circulam na comunidade em que mora: ( ) Jornais ( ) Revistas ( ) Folhetos ( ) Outros ________________________________________

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APÊNDICE B – TABELAS COM TABULAÇÃO DOS DADOS ENCONTRADOS

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TABULAÇÃO DE DADOSTOTAL DE ALUNOS PESQUISADOS: 100

Moradia Nascimento Infância Pública Particular Analf 1° Inc. 1° comp 2° Inc. 2° comp 3° Inc. 3° comp Analf 1° Inc. 1° comp 2° Inc. 2° comp 3° Inc. 3°Comp sim não Até 1 1 a 2 3 a 4 < 4

17 3 13 A.CLARAS UBAÍRA UBAÍRA/SSA TRABALHO X NI X X X X20 2 15 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X NI X X X

2 14 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X18 2 16 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X19 2 15 F.G RETIRO PARAÍBA PARAÍBA FAMÍLIA X X X X X18 2 14 F.G RETIRO ITANAGRA CAMAÇARI TRABALHO X X X X X20 2 18 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X22 2 17 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X58 2 7 F.G RETIRO LARANJEIRA-SE LARANJEIRA-SE SAÚDE FAMÍLIA X X X X X19 2 14 SAN MARTINS NI NI X X X X X18 2 17 CAPELINHA VALENTE-BA SALVADOR FAMÍLIA X X X X X X19 2 17 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X17 2 17 PERNAMBUÉS SALVADOR SALVADOR X X X X X X26 2 11 PLATAFORMA JACÚ INTERIOR X X X X X X18 2 16 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 2 SALVADOR SALVADOR X X X X X

F.G RETIRO NI NI X X X X X X19 2 19 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X36 2 15 LIBERDADE SALVADOR SALVADOR X X X X X X19 2 18 F.G RETIRO SALVADOR NI X NI X X X X29 2 13 IAPI ITAPARICA ITAPARICA TRABALHO X X X X X X19 2 7 F.G RETIRO SALVADOR S.FELIPE/BA PESSOAL X X X X X X22 2 12 IAPI SALVADOR SALVADOR X X X X X

2 14 NI NI X X X X X20 2 13 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X30 2 13 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X19 2 17 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X NI X X20 2 20 F.G RETIRO L.DE FREITAS SALVADOR X X X X X24 2 10 F.G RETIRO SALVADOR INTERIOR TRABALHO X NI X X X X29 3 17 STA.MÔNICA ITABERABA ITABERABA TRABALHO X X X X X X17 3 10 SAN MARTINS SALVADOR INTERIOR TRABALHO X X X X X X23 3 14 SAN MARTINS SALVADOR NI X X X X X39 3 12 STA.MÔNICA C.ALMEIDA NI MELHORIA DE VIDA X X X X X X26 3 14 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 3 19 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X22 3 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X18 3 17 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X20 3 18 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X31 3 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X19 3 14 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X X21 3 15 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X22 3 16 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X NI20 3 15 RETIRO SALVADOR NI X X X X X X23 3 18 IAPI SALVADOR SALVADOR X X X X X X35 3 14 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 3 18 LIBERDADE SALVADOR SALVADOR X X X X X X19 3 13 F.G RETIRO SALVADOR S.PAULO ESTUDOS X X X X X X27 3 12 M.RONDOM PARANÁ SALVADOR FAMÍLIA X X X X NI21 3 J.CARNEIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X21 3 18 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X28 3 15 FAZ.COUTOS SALVADOR SALVADOR X X X X X X19 3 15 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 3 18 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X NI X X X X31 3 18 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X19 1 18 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X NI30 3 15 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X

2 18 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X21 3 - CURUZÚ SALVADOR SALVADOR X X X X X18 3 15 BROTAS SALVADOR SALVADOR X X X X X X18 2 15 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X X32 2 18 RETIRO IRARÁ IRARÁ TRABALHO X X X X X X21 2 F.G RETIRO VALENÇA VALENÇA TRABALHO X X X X X29 2 7 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X38 2 18 IAPI SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 2 16 SAN MARTINS NI NI X X X X X X18 2 15 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X21 3 17 F.G RETIRO SALVADOR F.SANTANTA/SALVADOR X X X X X18 3 15 IAPI JACOBINA JACOBINA MELHORIA FINANCEIRA X X X X X X46 3 29 BOM JUÁ SALVADOR SALVADOR X X X X X23 3 18 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X30 3 13 BOM JUÁ JAGUAQUARA JAGUAQUARA TRABALHO X X X X X X20 2 12 F.G RETIRO R.JANEIRO R.JANEIRO X X X X X21 2 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X46 1 12 PIRAJÁ S.SEBASTIÃO DO PASSÉS.SEBASTIÃO DO PASSÉPERDA PAI X X X X X X23 2 SAN MARTINS NI NI X X NI NI X24 2 20 F.G RETIRO CAMAÇARI PAU BRASIL X X NI X X X28 2 23 SAN MARTINS SALVADOR SERRINHA X X X X X X39 2 16 ALTO DO PERÚ SALVADOR SALVADOR X X X X X X21 2 18 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X20 2 10 F.G RETIRO TUCANO INTERIOR X X X X X X38 2 8 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X X28 2 16 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X NI21 2 17 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X NI X X X35 3 18 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X NI X X X23 2 17 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X X45 3 15 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X NI54 3 8 CALAFATE MARUIM MARUIM TRABALHO X X X X X X18 3 14 CURUZÚ R.POMBAL R.POMBAL TRABALHO X X X X X X20 3 13 N.BRASÍLIA SALVADOR SALVADOR X X X X X22 3 10 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X20 3 18 CABULA SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 3 16 RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 3 SAN MARTINS TEOFILANDIA TEOFILANDIA ESTUDOS X X X X X X19 3 15 SAN MARTINS SALVADOR SALVADOR X X X X X34 3 8 SAN MARTINS V.CONQUISTA V.CONQUISTA TRABALHO X X X X X X25 3 16 F.G RETIRO SALVADOR SALVADOR X X X X X X17 3 17 PERNAMBUÉS SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 3 14 SAN MARTINS MARAGOGIPE MARAGOGIPE TRABALHO X X X X X X22 3 10 LOBATO SALVADOR SALVADOR X X X X X X20 3 18 RETIRO SALVADOR SALVADOR X NI X X X X

Qual modalidade? Escolaridade da família:Trabalha?

RENDA

Regular AceleraçãoPai: Mãe: MENSAL (Salário)

Onde estudou o Ensino Fundamental?Idade: Série:

Idade começou a trabalhar?

LocalizaçãoO que motivou sua vinda

para salvador?

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TABULAÇÃO DE DADOSTOTAL DE ALUNOS PESQUISADOS: 100

VC MESMO FAMÍLIA AMIGOS ESCOLA OUTROS REVISTA GIBIS LIVROS JORNAIS OUTROS PRAZER TÉDIO CANSAÇO OUTROSLER UM LIVRO

AR LIVRESAIR C/

AMIGOSTV

NÃO OPINOU

CINEMA/TEATRO

ESCOLA CASA TRANSP.PRAÇA/PRAIA

BIBLIOTECA OUTROS O QUE?

1=DIDÁTICO2=ROMANCE/LIT

3=RELIGIOSO4=AUTOAJUDA

5=GIBIS6=SAÚDE

7=JORNAIS /REVISTAS 8=TÉCNICO

QUANDO? SIM NÃO

1=DIDÁTICO2=ROMANCE/LIT

3=RELIGIOSO4=AUTOAJUDA

5=GIBIS6=SAÚDE

7=JORNAIS /REVISTAS 8=TÉCNICO

TEMPO COMPRAMOTIVAÇ

ÃOENTENDIM

ENTONENHUMA

EMPRÉSTIMO

BIBLIOTECA COMPRA FAMÍLIA OUTROS COM QUEM QUANDO? JORNAIS REVISTAS FOLHETOS OUTROS

15 X X X raro X X X X X o cortiço-lit.nacional 2 1 ano trabalho X CONHECIMENTO jornais, livros, revistas 7 X X namorado/amigos sempre informação X9 X X X Biblioteca X X X Bíblia 3 hoje conforto X ALIVIAR A MENTE - X X NÃO TRANQUILIDADE, PAZ X

NL X X X SEMPRE X X Um homem atras do espelho 2 1 sem romance X QUALIDADE - X X NÃO X7 X X X ESCOLA X X X X X DIDÁTICO 1 ESTUDO X CONHECIMENTO Jornais, revistas 7 X X X X FAMÍLIA EVENTUAIS PRAZER, CONHECIMENTO X8 X X X SEMPRE X X X Quanto + velho melhor(ROMANCE) 2 VIVÊNCIA X QUALIDADEQUANDO O HOMEM AMA (ROMANCE) 2 X X X namorado/amigos sempre SABEDORIA X

12 X X X DIFÍCIL X X EXPERIMENTE JESUS (Evangélico) 3 atual religião x religião livros Evangélicos 3 x x amigos/família EVENTUAIS ATUALIZAÇÃO x x x12 X X X SEMPRE X X O MENIO NO ESPELHO (ROMANCE) 2 RECOMENDAÇÃO X QUALIDADE JORNAIS 7 X X AMIGOS/COLEGAS TRABALHO sempre PRAZER, CONHECIMENTO XNL X X X X SEMPRE X X X A ENTIDADE 2 1 sem RECOMENDAÇÃO X QUALIDADE - X X FAMÍLIA PRAZER - ALTO ASTRAL X X X10 X X X DIFÍCIL X X 1 sem CONHECIMENTO X QUALIDADE DIDÁTICO 1 X X AMIGA PRAZER X10 X X X REGULAR X X O SEGREDO (AUTO-AJUDA) 4 9 MESES RECOMENDAÇÃO X PESSOAL LIVROS SOBRE BEBÊS X X X FAMÍLIA sempre informação X X6 X X X Biblioteca X X X SR. DO ANEL (ROMANCE) 2 RECOMENDAÇÃO X INFORMAÇÃO - X X AMIGOS EVENTUAIS CONHECIMENTO, INFORMAÇÃO X X7 X X X Biblioteca X X O CAÇADOR DE PIPAS(ROMANCE) 2 RECOMENDAÇÃO X QUALIDADE - X X FAMÍLIA EVENTUAIS PRAZER X6 X X X NÃO GOSTA X X NÃO LEMBRA - - DIDÁTICO 1 X X NÃO CONHECIMENTO, APRIMORAÇÃO X X X

NL X X X - X X PAULO COELHO 2 -IDENTIFICAÇÃO COM IDEIAS DO AUTORX - X X NÃO MOTIVAÇÃO X13 X X X - X X X X GIBI 5 DIVERSÃO X ALEGRIA - X X NÃO BOM ENTENDIMENTO DAS PALAVRAS X X11 X X X - X X IRACEMA 2 CONHECIMENTO X IDENTIFICAÇÃO C/PERSONAGEMQUEM MECHEU NO MEU QUEIJO 4 X X namorada sempre DESENVOLVIMENTO X7 X X X - X X X Bíblia 3 1 MÊS APRENDER X religião - X X AMIGOS APRENDIZADO X

10 X X X SEMPRE X X ROMANCE 2 INDICAÇÃO X QUALIDADE - X X NÃO BEM ESTAR X5 X X X LIVRE X Bíblia 3 CURIOSIDADE X CONHECIMENTO Jornais, revistas 7 X X TODOS sempre PRAZER X

NL X X X X X NÃO LEMBRA X INTERESSANTE - X X16 X X X BEM X X O GRANDE VENENO DE UM ESCORPIÃO 2 MOTIVAÇÃO X ENSINAMENTO HOMEOPATIA 6 X X NÃO MUITAS COISAS XNL X X X X X HISTÓRIAS 2 ESCOLA X QUALIDADE ROMANCE 2 X X ESCOLA MELHORIA X8 X X X INTERESSANTE X X PORTUGUES 1 LETRAS X IMPORTANTE LER LIVRO X X AMIGOS MELHORIA ESCRITA X

NL X X X - X X HIPHOP 2 CONHECIMENTO X IMPORTANTE LER CASTRO ALVES 1 X X AMIGOS LIBERDADE DE EXPRESSÃO NOS MUROS X10 X X X FAMILIARES DOAVAM X X X SENHORA 2 ESCOLA X INTERESSANTE MINHA BIOGRAFIA 4 X X X AMIGOS/FAMILIARES/OUTROS PRAZER/APRENDIZADO X X XNL X X X DIFÍCIL X X Bíblia 3 religião X QUALIDADE BIBLIA 3 X X NÃO TUDO X12 X X X X X OS ANJOS 3 2 SEMANAS A HISTÓRIA X REFLEXÃO SOBRE A VIDA E DEUS X X FAMÍLIA MELHORIA LEITURA E FALA X12 X X X FAMÍLIA X X Bíblia 3 3 SEMANAS religião X ACREDITA QUE DEUS É A SALVAÇÃO BIBLIA 3 X X AMIGOS/FAMÍLIA SEMPRECALMA, COMPREENSÃO MELHORIA LEITURA, ESCRITA E FALA X4 X X X X X EDIR MACEDO 3 1 MÊS BIOGRAFIA X CONHECIMENTO PAULO COELHO 2 X X AMIGOS PRAZER X

14 X X X X X ELE VEIO PARA LIBERTAR OS CATIVOS 3 CONHECIMENTO X CONHECIMENTO ESPIRITUALA FACE OCULTA DO AMOR 2 X X AMIGOS/FAMÍLIA EVENTUAISPRAZER / CONHECIMENTO / DESENVOLVIMENTOX6 X X X ESCOLA X X SENHORA 2 2007 ESCOLA X QUALIDADE X X NÃO MELHORIA INTERPRETAÇÃO TEXTO X

13 X X X X X ENIGMA DE TELEVISÃO 2 X PRENDE O LEITOR MARTINE SECO 2 X X AMIGOS CONHECIMENTO/DEENVOLVIMENTO DAS PALAVRASX X10 X X X RUIM X X SOBRE ESPIRITISMO 3 2 ANOS religião X CONHECIMENTO Jornais, revistas 7 X ESCOLA LAZER, CONHECIMENTO X X X X14 X X X FAMÍLIA X X X XCOMO COMPRAR E VENDER DIAMANTES 8 2 SEMANASCONHECIMENTO X VASTO CONHECIMENTO 10 LIÇÕES DE VENDA 8 X X X TRABALHO CONHECIMENTO X14 X X X FAMÍLIA X X X O DEMÔNIO E A SRA. PRIM 2 8 MESES VIDA DO AUTOR X REFLEXÃO Jornais, revistas 7 X X X X FAMÍLIA/AMIGOS CONHECIMENTO X X XNL X X X COMPRA X X X SENHORA 2 ESCOLA X QUALIDADE REVISTAS 7 X X AMIGOS PRAZER X X X X6 X X X X X X X ROMANCE 2 2007 ESCOLA X INTERESSANTE DIDÁTICO 1 X X NÃO BOM DESEMPENHO PORTUGUES X

12 X X X RESTRITO X X X X CAPITÃES DE AREIA 2 CULTURA/CONHECIMENTOX CONHECIMENTO BIBLIA 3 X X X AMIGOS DIVERSÃO, PRAZER, INFORMAÇÃO X X X6 X X X X X X X X X X

19 X X X X X X X X SENHORA 2 ESCOLA X HISTÓRIA AMAZÔNIA AZUL X X X NAMORADA APRENDIZADO E PRAZER X X15 X X X X EMPRÉSTIMO X X EVANGÉLICOS 3 3 ANOS CURIOSIDADE X RELIGIÃO BIBLIA 3 X X AMIGOS/FAMÍLIA EVENTUAIS CONHECIMENTO X X10 X X X- LIVRE X X O GRANDE CONFLITO 2 1 MÊS INTERESSE X INTERESSE X X AMIGOS sempre CONHECIMENTO X13 X X X X X X A MINHA 1ª LEITURA 2 INDICAÇÃO X QUALIDADE X X FAMÍLIA sempre SABEDORIA X X9 X X X- X X PARÁBOLAS ETERNAS 4 INDICAÇÃO X FALA DO SER X X NÃO MUDANÇA X X X6 X X X FÁCIL, POSSUIA X X X SENHORA 2 2 MESES INCENTIVO X INTERESSANTE, ÉPOCA X X AMIGOS sempre PRAZER, ENTENDIMENTO X X X

16 X X X FÁCIL X X X VÍTIMAS ALGOZES 2 2008 GOSTA X QUALIDADE X X X X X X NAMORADA ENTENDIMENTO, CONHECIMENTO X X XNL X X X FÁCIL X X O SEGREDO DO SUCESSO 4 1 MÊS PRESENTE X PREMIAÇÃO FASES DA VIDA 8 X X COLEGAS MELHORA NAS PALAVRAS X14 X X X FAMÍLIA X X SENHORA 2 2007 ESCOLA X CONHECER A HISTÓRIA JORNAIS 7 X X NÃO FANTASIA X21 X X X X X X VIDA DE DROGA 2 2007 ASSUNTO X ASSUNTO X X AMIGOS EVENTUAIS BOA ESCRITA, PRAZER X X X15 X X X X X X X O TRISTE FIM DE POLICARMO QUARESMA 2 X JORNAIS 7 X X COLEGAS CONHECIMENTO, SABEDORIA X8 X X X BIBLIOTECA X X BÍBLIA 3 4 ANOS NECESSIDADE X JORNAIS 7 X X NÃO QUANDO ALGO BOM, PRAZER X9 X X X BIBLIOTECA X X X O CÓDIGO DA VINCE 2 CURIOSIDADE XINTERESSANTE, RELATO DIFERENTE DA IGREJA X X X AMIGOS BOM DIÁLOGO X X X

14 X X X X X X X A PROCURA DA FELICIDADE 2 AUTO-ESTIMA X ASSUNTO X X AMIGOS, TRABALHO SABEDORIA X XNL X X X BIBLIOTECA X X X X X NÃO PRAZER X X16 X X X MAL X X X X FALAR MELHOR XNL X X X DIFÍCIL X X BIOLOGIA 1 SEMPRE GOSTO X SE ELE GOSTAR DA MATÉRIA X X AMIGOS EVENTUAIS CONHECIMENTO X7 X X X X X X SENHORA 2 2007 ESCOLA X BÍBLIA 37 X X X X X VIDAS SECAS 2 2 ANOS INDICAÇÃO X QUALIDADE X X NÃO APRENDIZAGEM X8 X X X FREQUENTE X X X X X VIDAS SECAS 2 ago/08 ESCOLA X ASSUNTO BÍBLIA 3 X X X X AMIGOS FREQUENTEMENTECONHECIMENTO, PRAZER, CRESCIMENTOX X X9 X X X FREQUENTE X X X X SONETOS 2 1 SEM GOSTO X REFLEXÃO X X X TODOS ENCARAR REALIDADE X X7 X X X DIFÍCIL X X X REVISTAS CARAS 7 GOSTO X DIVERSÃO REVISTAS 7 X X X FAMÍLIA DIVERSÃO X X7 X X X X X VINÍCIUS DE MORAIS 2 3 DIAS ASSUNTO X FUNÇÃO DO LIVRO (ANIMAR) REVISTAS/JORNAIS X X AMIGOS SABEDORIA X X

11 X X X DIFÍCIL X X BIOLOGIA 1 20 DIAS ASSUNTO X ASSUNTO X X NÃO (DIFICULDADE PARA LER) DESENVOLVIMENTO XNL X X X X X X X X IRACEMA 2 GOSTO X ASSUNTO ROMEU E JULIETA 2 X X AMGOS/TRABALHO SEMPRE BEM ESTAR X X- POUCO X X X COMO SER FELIZ 4 INDICAÇÃO X FUNÇÃO (REFLEXÃO) ROMANCE 2 X X APRENDIZAGEM X X6 X X X X X X O PEQUENO PRÍNCIPE 2 7 MESES PRESENTE X FUNÇÃO (EDUCATIVO) JORNAIS 7 X X FAMÍLIA/AMIGOS SABEDORIA X6 X X X X X X X X X LIBERDADE P/AMAR 2 INDICAÇÃO X ASSUNTO SOCIEDADES SECRETAS 2 X X X X AMIGOS PRAZER, ENTRETENIMENTO, CONHECIMENTOX X X4 X X X BIBLIOTECAS X X X X 100 MANEIRAS DE ENRIQUECER 4 ASSUNTO X ASSUNTO CONSTRUINDO UMA VIDA X X X FAMÍLIA/AMIGOS FREQUENTEMENTECONHECIMENTO, DESENVOLVIMENTO COGNITIVOX X X7 X X X X X A ILHA PERDIDA 2 32 ANOS ESCOLA X PASSADO BÍBLIA 3 X X IGREJA CONHECIMENTO X

12 X X X BIBLIOTECAS X X X X VIDAS SECAS 2 INDICAÇÃO X INTERESSANTE, SAUDÁVEL X X X AMIGOS EVENTUAIS MELHORAR INTERPRETAÇÃO X15 X X X S/ACESSO X X VIDAS SECAS 2 2008 ASSUNTO X MOTIVAÇÃO X X AMIGOS CONHECIMENTO X8 X X X BEM X X O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA2 11 ANOS X ASSUNTO ESPORTES 7 X X AMIGOS SABEDORIA X8 X X X X X Bíblia 3 DIÁRIO GOSTO X QUALIDADE BÍBLIA 3 X X NÃO SABEDORIA X

10 X X X EMPRÉSTIMO X X X EM BUSCA DA LIBERDADE 3 CURIOSIDADE X BELA HISTÓRIA DOM CASMURRO 2 X X X AMIGOS/FILHA SEMPRE PRAZER, CONHECIMENTO, SATISFAÇÃO X XNL X X X FAMÍLIA X X SABRINA 2 TEMA X X FANTASIA X18 X X X X ROMANCE 2 5 ANOS INTERESSE X QUALIDADE REVISTAS/GIBIS 7 X X COLEGAS MELHORAR A LEITURA X X X8 X X X NORMAL X X X ESPIRITISMO 3 1 MÊS INDICAÇÃO X ASSUNTO X X COLEGAS APRENDIZAGEM X X7 X X X REVISTAS COMPRADAS EM BANCASX X X SENHORA 2 6 MESES INTERESSE X AMPLIAR VOCABULÁRIO SENTINELA/DESPERTAI 3 X X FAMÍLIA/AMIGOS FANTASIA X X X7 X X X FÁCIL (POSSUI EM CASA) X X X X X ROMANCE 2 3 ANOS TEMA X ASSUNTO VISÃO X X PROFESSORES/AMIGOS SEMPRE REFLEXÃO/RELAXAMENTO X

10 X X X X X O MONGE E O EXECUTIVO 4 TEMAS X FUNÇÃO REDAÇÃO 1 X X NÃO EXERCÍCIO MENTAL X7 X X X DIFÍCIL X X MENTE MILIONÁRIA 4 atual CURIOSIDADE X ESTIMULAR VALORES MENTE MILIONÁRIA 4 X X FAMÍLIA CONHECIMENTO X- X X ROMANCE 2 HISTÓRIA PICANTE X INTERESSANTE X X AMIGAS VALORIZAÇÃO X

NL X X X CASA X X X X X Bíblia 3 DIÁRIO VONTADE X ENSINAMENTO BÍBLIA 3 X X AMIGOS EVENTUAIS PRAZER, ENTENDIMENTO X XNL X X X X X X HISTÓRIA 1 ESTUDO X X X X12 X X X EMPRÉSTIMO X X NUNCA DESISTA DE SEUS SONHOS 4 INDICAÇÃO X REFLEXÃO X X COLEGAS PRAZER, DISTRAÇÃO, INFORMAÇÃO NENHUM16 X X X X X VENCENDO AS LUTAS 4 MOTIVAÇÃO X APRENDIZADO X X NÃO APRENDIZAGEM X10 X X X BIBLIOTECA X X X X O SEGREDO DE UMA FAMÍLIA FELIZ 3 2 MESES CURIOSIDADE X APRENDIZADO DIDÁTICOS 1 X X COLEGAS APRENDIZAGEM X X XNL X X X FREQUENTE X X X X INOCÊNCIA 2 1 MÊS CURIOSIDADE X INTERESSANTE JORNAL/DICIONÁRIO 7 X X X X PROFESSORES CONHECIMENTO X X10 X X X X X X X GARÇOM: MANUAL DO BAR 8 ESTUDO X QUALIDADE X X CONHECIMENTO, SABEDORIA7 X X X X X TURMA DA MÔNICA 5 3 ANOS ASSUNTO XQUALIDADE; INCENTIVA A GOSTAR DE LERQUADRINHOS 5 X X FAMÍLIA SEMPRE ESTUDO E FACILIDADE P/EMPREGO X5 X X X X ESCOLA/CASA X X X X MENINOS DO TRÁFICO 2 ESTUDO X QUALIDADE; REFLEXÃO FICÇÃO 2 X X X AMIGOS BOA VISÃO DO MUNDO X

14 X X X X DIFÍCIL X X ODISSEIA 2 ESCOLA X INTERESSANTE X X NÃO. TEM VERGONHA FACILIDADE DO DIÁLOGO XNL X X X X X TROIA 2 X QUALIDADE LITERATURA 2 X X NÃO PRAZER X7 X X X DIFÍCIL X X X X DIDÁTICO 1 atual ESCOLA X PESQUISA ESCOLAR JORNAIS 7 X X X NÃO ENTENDIMENTO X X8 X X X MUITOS EM CASA X X SENHORA 2 ESCOLA X QUALIDADE LITERATURA 2 X X AMIGOS SEMPRE INTERPRETAÇÃO, LEITURA X- X X REVISTAS/JORNAIS 7 X X FAMÍLIA SEMPRE VOCABULÁRIO X

13 X X X DIÁRIO X X X X O ALQUIMISTA 2 ago/08ASSUNTO/LINGUAGEMX LIÇÃO DE VIDA DEPOIS DAQUELA VIAGEM 2 X X X X FAMÍLIA/COLEGAS SEMPRE FANTASIA X X8 X X X X X X NENHUM X X COISAS BOAS X X7 X X X ESCOLA/BIBLIOTECA X X X X CAPITÃES DE AREIA 2 2 MESES CURIOSIDADE X VESTIBULAR REVISTA VEJA 7 X X X AMIGOS, ESCOLA, TRABALHOENTENDIMENTO, INFORMAÇÃO, PRAZERX X

13 X X X POUCO X X X SENHORA 2 1 ano ESCOLA X ASSUNTO X X AMIGOS EVENTUAIS MELHORAR ESCRITA E DIVERSÃO X

DIFICULDADES ACESSO SOCIALIZAÇÃO

O QUE A LEITURA LHE PROPORCIONA?

COMUNIDADE: QUE MATERIAL ESCRITO CIRCULA?

LEITURA ATUALIDADE EM QUE LEU O

1º LIVRO

ESCOLHIDA POR: TIPO DE LEITURA SENSAÇÃO

ACESSO LIVROS INFÂNCIA

O QUE FAZER NAS HORAS DE FOLGA LOCAIS DE LEITURA ÚLTIMA LEITURA

MOTIVAÇÃO

VC RECOMENDA A UM AMIGO?

PQ?

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ANEXO – TEXTO 1 UTILIZADO NA OFICINA DE LEITURA.

Felicidade clandestina

Clarice Lispector O Primeiro Beijo

São Paulo, Ed. Ática, 1996 Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade". Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar- lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá- lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

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Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá- lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

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ANEXO – TEXTO 2 UTILIZADO NA OFICINA DE LEITURA

Jardins Comecei a gostar dos livros mesmo antes de saber ler. Descobri que os livros eram um tapete mágico que me levava instantaneamente a viajar pelo mundo… Lendo, eu deixava de ser o menino pobre que era e tornava-me um outro. Vejo-me sentado no chão, num dos quartos do sótão do meu avô. Via figuras. Era um livro, folhas de tecido vermelho. Nas suas páginas alguém colara gravuras, recortadas de revistas. Não sei quem o fez. Só sei que quem o fez amava as crianças. Eu passava horas a ver as figuras e nunca me cansava de as ver.

Um outro livro que me encantava era o Jeca Tatu , do Monteiro Lobato. Começava assim: “Jeca Tatu era um pobre caboclo…”. De tanto ouvir a estória lida para mim, acabei por sabê-lo de cor. “De cor”: no coração. Aquilo que o coração ama não é jamais esquecido. E eu “lia -o” para a minha tia Mema, que estava doente, presa numa cadeira de balanço. Ela ria com o seu sorriso suave, ouvindo a minha leitura.

Um outro livro que eu amava pertencera à minha mãe quando era criança. Era um livro muito velho. Façam as contas: a minha mãe nasceu em 1896… Na capa havia um menino e uma menina que brincavam com o globo terrestre. Era um livro que me fazia viajar por países e povos distantes e estranhos. Gravuras apenas. Esquimós, com as suas roupas de couro, dando tiros para o ar, saudando o fim do seu longo inverno. Em baixo, a explicação: “Onde os esquimós vivem, a noite é muito longa; dura seis meses”. Um crocodilo, boca enorme aberta, com os seus dentes pontiagudos, e um negro a arrastar-se na sua direcção, tendo na mão direita um pau com duas pontas afiadas. O que ele queria era introduzir o pau na boca do crocodilo, sem que ele se desse conta. Quando o crocodilo fechasse a boca estaria fisgado e haveria festa e comedoria!

Na gravura dedicada aos Estados Unidos havia um edifício, com a explicação assombrosa: “Nos Estados Unidos há casas com dez andares…”. Mas a gravura que mais mexia comigo representava um menino e uma menina a brincar, querendo fazer um jardim. Na verdade, era mais que um jardim. Era um minicenário. Haviam feito montanhas de terra e pedra. Entre as montanhas, um lago cuja água, transbordando, transformava-se num riachinho.

E, nas suas margens, o menino e a menina haviam plantado uma floresta de pequenas plantas e musgos. A menina enchia o lago com um regador. Eu não me contentava em ver o jardim: largava o livro e ia para a horta, com a ideia de plantar um jardim parecido. E assim passava toda uma tarde, fazendo o meu jardim e usando galhos de hortelã como as árvores da floresta…

Onde foi parar o livro da minha mãe? Não sei. Também não importa. Ele continua aberto dentro de mim.

Rubem Alves

Mansamente pastam as ovelhas… São Paulo, Papirus Editora, 2002