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Econômica, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 55-78, junho 2008 As intensas e conflituosas relações econômicas e financeiras entre a Grã-Bretanha e a Argentina: do final do século XIX até a Primeira Guerra Mundial * Maria Heloisa Lenz ** Resumo – A economia argentina experimentou um extraordinário crescimento econômico no final dos anos 1870, a chamada Belle Époque, quando a carac- terística mais marcante foi a sua integração externa, mais precisamente com a Grã-Bretanha. O relacionamento entre Grã-Bretanha e Argentina durante a sua história foi complexo, variando da amizade ao conflito. O presente trabalho tem como objetivo examinar a ligação especial que caracterizou as relações anglo- argentinas no período de intenso crescimento argentino, iniciado nos anos 1880. A primeira parte abordará o início destas relações, caracterizadas pelas relações comerciais, tratados e também pela falta de imigração inglesa. A segunda tratará especificamente dessas relações a partir dos anos 1880, quando a ênfase se dará nos investimentos, nas empresas e na presença de cidadãos ingleses em várias esferas da sociedade argentina. Palavras-chaves – Argentina; relações anglo-argentinas; tratados; investimentos externos. JEL – N 16, N 26 1. Introdução A economia argentina experimentou um extraordinário crescimento econômico no final dos anos setenta do século XIX, a chamada Belle Époque, quando a característica mais marcante foi a sua integração externa, * Trabalho apresentado no VI Congresso Brasileiro de História Econômica e Sétima Conferência Internacional de História de Empresas, da ABPHE, realizado em Con- servatória, RJ, setembro de 2005. ** Professora do Curso de Pós-Graduação em Economia e do Departamento de Economia da UFRGS; e-mail: [email protected].

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As intensas e conflituosas relações econômicas e financeiras entre a Grã-Bretanha e a Argentina: do final do século XiX até a Primeira Guerra mundial*

maria heloisa Lenz**

Resumo – A economia argentina experimentou um extraordinário crescimento econômico no final dos anos 1870, a chamada Belle Époque, quando a carac-terística mais marcante foi a sua integração externa, mais precisamente com a Grã-Bretanha. O relacionamento entre Grã-Bretanha e Argentina durante a sua história foi complexo, variando da amizade ao conflito. O presente trabalho tem como objetivo examinar a ligação especial que caracterizou as relações anglo-argentinas no período de intenso crescimento argentino, iniciado nos anos 1880. A primeira parte abordará o início destas relações, caracterizadas pelas relações comerciais, tratados e também pela falta de imigração inglesa. A segunda tratará especificamente dessas relações a partir dos anos 1880, quando a ênfase se dará nos investimentos, nas empresas e na presença de cidadãos ingleses em várias esferas da sociedade argentina.

Palavras-chaves – Argentina; relações anglo-argentinas; tratados; investimentos externos.

JEL – N 16, N 26

1. introdução

A economia argentina experimentou um extraordinário crescimento econômico no final dos anos setenta do século XIX, a chamada Belle Époque, quando a característica mais marcante foi a sua integração externa,

* Trabalho apresentado no VI Congresso Brasileiro de História Econômica e Sétima Conferência Internacional de História de Empresas, da ABPHE, realizado em Con-servatória, RJ, setembro de 2005.

** Professora do Curso de Pós-Graduação em Economia e do Departamento de Economia da UFRGS; e-mail: [email protected].

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mais precisamente com a Grã-Bretanha. Essas relações envolveram desde a celebração de tratados entre os dois países até a abertura externa via exportações e o afluxo de capital com grande preponderância inglesa.

Na verdade, o relacionamento entre a Grã-Bretanha e a Argentina durante toda a história sempre foi complexo e com diversas nuanças, va-riando de vínculos a fases de conflitos. Envolveu desde relações econômicas e políticas, marcadas pela exportação de produtos necessários dentro da divisão internacional do trabalho, pelos investimentos ingleses na Argen-tina, com o pequeno fluxo de imigrantes britânicos para a Argentina, até a visão que ingleses e argentinos tinham um a respeito do outro. Em um importante trabalho sobre as intensas relações entre a Grã-Bretanha e a Argentina, os autores Hennessy e King (1992) deram o significativo título: The Land that England Lost.1 O título é bastante ilustrativo e dá uma idéia da dimensão da relação existente entre os dois países no final do século XIX e início do XX, uma relação que se tornou tão intensa que, no ima-ginário da época, a Argentina realmente fazia parte do Império Britânico ou pelo menos era considerada uma parte perdida ou não-adquirida.

Dividido em duas partes, o presente trabalho tem como objetivo examinar a ligação especial que caracterizou as relações anglo-argentinas no período de intenso crescimento ocorrido entre o final do século XIX e início do século XX. A primeira parte abordará o início do relaciona-mento entre os dois países, caracterizado por fortes relações comerciais, tratados e escassa imigração inglesa. Essas relações foram tão marcantes que delinearam o período seguinte, que será objeto da segunda parte, onde se tratará especificamente dessas relações a partir dos anos oitenta do século XIX, quando se inicia o intenso crescimento da economia ar-gentina, com ênfase nos investimentos e na presença de empresas e de cidadãos ingleses em todas as esferas da sociedade argentina.

2. o início das relações anglo-argentinas: comércio, tratados e a reduzida imigração inglesa.

Estudando a influência britânica na Argentina no período que vai do século XIX até a Grande Depressão, Ferns (1992) afirmou que este país podia ser classificado, da mesma forma que a Austrália, o Canadá e

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os Estados Unidos, como uma fronteira de negócios: uma fonte de ma-téria-prima e alimentos, um mercado para capital e bens de consumo, e uma área de oportunidades de investimento. O autor, todavia, ressalta que um olhar mais atento revelaria diferenças significativas. A mais im-portante foi que a Argentina, contrariamente à Austrália, ao Canadá e aos Estados Unidos, nunca recebeu imigrantes britânicos em uma escala capaz de modificar seriamente a cultura política e as características latinas e mediterrâneas da comunidade. A falta de um considerável volume de imigração para assentamento permanente tornou a Argentina um país diferente dos demais países da Comunidade Britânica, no que diz respeito às suas relações de poder com a política da Inglaterra.

A Inglaterra optou, assim, por manter uma forte relação econômica com a Argentina, baseada em um grande volume de investimentos, mas não de cidadãos britânicos dispostos a se estabelecer no país sul-ame-ricano. Conforme ressalta Ferns (1979, p. 331), a história das relações econômicas anglo-argentinas do período de desenvolvimento refere-se a inversões de capital, e não à imigração. Por sua vez, Jones (1992, p.63) fez o seguinte questionamento sobre este relacionamento:

Looking back over the whole of Argentine history the British may plausibly be cast either as progressive partners in the development of Argentine or as the creators of insuperable obstacles constraining eco-nomic life and public policy: engine or brake.2

Os ingleses aparecem pela primeira vez na história argentina no século XVIII como rebeldes, atacando o monopólio comercial espanhol, estabelecendo relações com as Américas por meio do contrabando de bens manufaturados. Por um breve período, no início do século XVIII, a British South Sea Company tinha o direito legal de fornecer escravos para a América Espanhola. O contrato também permitia à Companhia comercializar em vários portos, Buenos Aires entre eles, para armazenar outros bens além de escravos e empreender viagens pelo interior com o objetivo de comercializar outros produtos. “Mas o abuso britânico des-tes privilégios foi tão descarado e completo que a imagem nacional de

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malfeitor, estabelecido por Drake e sua geração, foi pouco prejudicada” (BATCHELOR apud JONES, 1992, p. 65).

As relações entre ingleses e argentinos começaram efetivamente em 1806 e 1807 e terminaram com o tratado assinado por lorde Palmerston e Rosas em 1849. O estabelecimento de uma diplomacia de bom enten-dimento e cordialidade recebeu uma expressão simbólica em uma sauda-ção britânica à bandeira argentina, como reconhecimento da soberania argentina sobre o Rio da Prata. A partir de então, o poder político foi eliminado como fator decisivo nas relações anglo-argentinas, e as rela-ções entre a Grã-Bretanha e a Argentina passaram a ser primordialmente econômicas: seus principais protagonistas, ao menos do lado britânico, eram empresários e engenheiros (FERNS, 1960).

Para Hennessy (1992), este início de relações foi, na verdade, humi-lhante para os ingleses, marcado pela derrota militar a eles infligida em 1806 e 1807, primeiro com a expedição de Sir Home Popham, e, nos anos seguintes, pela expedição punitiva do General Whitelocke. As bandeiras britânicas dos regimentos capturados, penduradas nas igrejas, ficaram como memorial da desventura do General Whitelocke (submetido a corte marcial e demitido do serviço) por ter favorecido a vitória crioula.

O chamado “Império Informal” da presença britânica na Argentina era um assunto de negociantes e financistas. As grandes decisões eram ditadas pelo simples funcionamento do mercado. Para Hennessy (1992), a Argen-tina era, na maioria dos casos, um mercado muito competitivo, aonde os negociantes ingleses chegaram sem os benefícios do suporte de um império e tiveram de enfrentar sozinhos os ventos frios da competição. Já em 1810, com o controle dos mares, os britânicos estavam à frente do comércio e mostravam-se capazes de enfrentar as novas oportunidades e atividades.

Através da riqueza proveniente das criações de gado, a Região do Prata emergiu no final do séc. XIX contra a correnteza do Império Es-panhol: “(...) seu couro cru satisfazendo a demanda feroz por couro dos exércitos europeus e suas carcaças providenciando a carne salgada para a comida básica do Brasil e plantação escrava de Cuba. Riqueza e poder embasaram a influência do gado” (HENNESSY, 1992 p.15). A criação do gado foi, portanto, uma resposta inevitável para a demanda de mercado e a escassez do trabalho.3 Em 1844 o inglês Richard Newton começou a

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usar cerca de arame em suas terras, prefigurando a introdução do arame farpado em 1870, que tornou o gado domesticado. Segundo Hennessy (1992), o cercamento dos pampas foi tão revolucionário nas suas conse-qüências sociais quanto as enclosures haviam sido no século XVI na In-glaterra, sinalizando o fim da exploração de área aberta e transformando o campo gaúcho de extensão aberta em um espaço arrendável. O mesmo autor lembra que, quando a Sociedade Rural argentina foi fundada, em 1866, contavam-se, entre seus integrantes, muitos cidadãos britânicos.

Nos anos seguintes, a influência britânica seria exercida sem os be-nefícios da coerção militar, com exceção da falta de sucesso do bloqueio dos anos 1840, mostrando-se como uma sociedade nouveau riche, com os negócios conduzidos sem os refinamentos do protocolo aristocrático (HENNESSY, 1992).

Na Argentina, pois, a inserção nacional no sistema imperial britânico não foi, malgrado as simplificações do passado, o resultado automático do surgi-mento da Inglaterra como potência hegemônica. Pelo contrário, segundo Zapiopla (1975, p. 11), “costó muchos años de sangre y fuego a los intereses imperialistas y a sus aliados locales que a Argentina estuviera en condiciones de convertirse en granero del imperio y a la vez en sua fuerte deudora”.4

Em 1870 novas companhias foram criadas para configurar a par-ceria em desenvolvimento, na verdade uma continuação da parceria de concessões para corporações inglesas. Para os britânicos, o equilíbrio algumas vezes instável de um casamento entre os grandes proprietários e os residentes britânicos indicava uma tranqüila e progressiva integração da elite mercantil inglesa no governo argentino nessa época.

Um interessante exemplo dessas relações é dado por Jones (1992, p. 71):

The original Argentine concessions, out of which grew the Great the Great Southern Railway Company or the London and River Plate Bank, were given to men like George Drabble and Edward Lum: known and trusted by those in power; owners, like themselves, of great estancias.5

Os investimentos ingleses6 chamaram a atenção pelas suas grandes somas e pela escassez das contribuições individuais. Os indivíduos que

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tinham fundos na Inglaterra necessitavam tomar apenas uma decisão: transferi-los ou não, e essa decisão era tomada em função da idéia de uma abstração chamada Argentina, conhecida como aquela parte do mundo onde se obtinham bons rendimentos sobre o capital. Os investidores ingleses não sabiam a diferença entre a Argentina, o México e o Brasil, e a distinção entre a Província de Buenos Aires e a República Argentina também era demasiadamente sutil. Na verdade o nome de uma firma bancária como Baring Brothers ou Murieta & Company significava mais para os investidores do que os nomes Argentina ou Buenos Aires.

Um dos principais aspectos das relações entre Argentina e Grã-Bre-tanha foi a assinatura dos Ttratados Anglo-argentinos de 1825 e 1849, cujas negociações refletiam as diferentes visões que cada nação possuía a respeito do papel do Estado na condução da política de investimentos. Os negociadores ingleses tinham uma visão liberal do relacionamento entre governo e empresas: ao primeiro caberia fixar apenas o aparato de leis, e, aos proprietários e trabalhadores, deixar para o mercado a deter-minação do crescimento econômico. Na Argentina, o papel do governo era completamente diferente. Os governos federal e provincial não só recomendavam aos empreendimentos privados a busca de empréstimos nos mercados internacionais de capitais com o objetivo de financiar es-tradas de ferro, portos, como também asseguravam os seus lucros. Assim, havia uma assimetria nas relações financeiras anglo-argentinas na esfera das relações do comércio e dos direitos de propriedade. Conforme Ferns (1992), enquanto o governo argentino teve um papel positivo em indu-zir investimentos, o britânico não atuou com a mesma intensidade em relação aos investimentos dos capitais britânicos na Argentina.

Essa política de não-intervenção do governo inglês estendeu-se por todo o período de sua grande influência sobre a economia argentina. Quando os investidores ingleses se encontraram em dificuldades em função dos empréstimos governamentais argentinos – como no caso do empréstimo Baring para financiar a Guerra do Paraguai7 e novamente durante a moratória que levou à crise do Baring dos anos 1890 –, houve muitos apelos para uma intervenção do governo da Inglaterra. Este, porém, sempre se recusou a fazer mais do que chamar a atenção das

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autoridades argentinas para o problema, mantendo-se fiel a uma políti-ca iniciada em 1848. Naquela ocasião, mais especificamente em janeiro de 1848, Lorde Palmerston endereçou uma circular aos representantes de Sua Majestade em Estados estrangeiros sinalizando a abstenção do governo na questão dos débitos estrangeiros dos investimentos ingleses. Segundo uma parte dessa Circular de 1848:

For the British Government has considered that the losses of imprudent men who have placed mistaken confidence in the good faith of foreign Governments would prove a salutary warning to others, and would prevent any other loan from being raised in Great Britain except by Governments of known good faith and of ascertainned solvency (PLATT apud FERNS, 1992, p. 54).8

Outra faceta importante das relações anglo-argentinas foi o fato de que, mesmo com a extrema interação econômica e política entre os dois países, não tenha ocorrido um fluxo imigratório significativo de ingleses para a Argentina. Embora Juan Alberdi, o criador da frase “Gobernar es poblar”, estivesse ansioso para atrair fazendeiros da Europa, descrevendo o inglês como “o mais perfeito dos homens”, poucos britânicos se inte-ressaram por adotar a exploração agrícola. Foram os espanhóis, suíços, alemães, franceses, italianos que aceitaram o desafio (JEFFERSON, apud HENNESSY, 1992, p. 14).

Assim, do total do contingente de imigrantes ultramarinos que che-garam à Argentina entre 1857 e 1910, a maior parcela era de italianos, seguidos pelos espanhóis. A participação italiana tendeu a diminuir no transcurso dos anos, ao mesmo tempo que a imigração proveniente da Europa oriental teve suas taxas aumentadas, conforme Tabela 1. Vários elementos concorrem para explicar por que o grande contingente de imi-grantes para a Argentina era de maioria italiana. As facilidades de adaptação ao clima e ao idioma podem ser consideradas entre essas causas; além disso, uma vez iniciado o processo migratório, o encontro de um grande número de compatriotas no país atenuava as dificuldades da chegada.

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Tabela 1. Estrutura da imigração bruta ultramarina segundo nacionalidades* (1857-1910) – percentagem

1857-80 1881-1900 1901-10

Italianos 63,1 61,7 45,1

Espanhóis 16,0 19,5 37,0

Franceses 9,6 8,0 1,9

Alemães 1,2 1,5 1,1

Polacos 0,0 0,0 0,0

Russos 0,2 1,5 4,8

Outros 9,9 7,8 10,1

Total em milhares de pessoas 440,5 1 489 0 1 764 7

(*): incluídos somente passageiros de segunda e terceira classe.Fonte: Díaz alejandro (1970).

Segundo Vázquez-Presedo (1971) a Argentina oferecia poucos atrativos ao imigrante inglês, pois ele tinha de competir não só com a população nativa, como também com a imigração italiana e espanhola, cujo aumento tendia a rebaixar os salários. Os principais obstáculos para uma imigração inglesa de larga escala eram o clima, o idioma, os costumes e a religião, o sistema de posse de terra, as invasões dos índios e o confisco injusto da propriedade, tanto por parte de tropas rebeldes como pelas mãos dos próprios governantes.

Então, “quais ingleses foram para a Argentina e por que eles foram, quando havia um Império Britânico clamando pela presença de bons amigos e parentes?”. Eis a indagação feita por Hennessy (1992) com relação à chegada dos ingleses à Argentina.

Nos anos iniciais, era comum encontrar cidadãos britânicos traba-lhando em lojas, hotéis e mesmo exercendo a medicina e a arquitetura em Buenos Aires. Mas esse cenário se tornou diferente quando os espanhóis e italianos passaram a figurar nele em maioria.

Além disso, quando as províncias ribeirinhas e os pampas abriram para assentamento nos anos 1860, também os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia abriram para o assentamento britânico, oferecen-do atrativos adicionais como o preço da terra, a cultura e língua similar e a liberdade religiosa, assim como vários graus de representação política.

Outros fatores, além da inaptidão e falta de interesse pela produção de gado, desestimularam uma forte imigração inglesa. Um deles foi o relatório do cônsul inglês para o Governo Britânico em 1872, advertindo

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fortemente seus compatriotas sobre os riscos da vinda para a Argentina. Por sua leitura, dessa vez não eram os índios, mas sim os gauchos malos, os vilões, que teriam matado quatorze fazendeiros, inclusive ingleses, em uma rebelião dos nativos argentinos. A sua publicação teve novamente o efeito de interromper os fluxos estrangeiros para os pampas (SLATTA apud HENNESSY, 1992). O pensamento inglês da época idealizava que a vida na Argentina era cheia de aventuras e repleta de oportunidades para quem desejava acumular bastante capital e depois gozar a vida na Inglaterra. Ao menos neste aspecto eles dividiram com os espanhóis a mentalidade de hacer la América. Mas tinham mais interesse em investir em estradas de ferro e em outros negócios rentáveis do que engrossar a força de trabalho argentina em formação (HENNESSY, 1992).

O Cônsul não via grandes perspectivas de crescimento para a comuni-dade britânica. Ele expressava uma opinião ambígua sobre os argentinos:

Los habitantes de la ciudad han cedido en alguna medida, y especialmente en la capital, a la civilización en progreso introducida por el elemente extranjero de la población, y son educados, refinados e inteli-gentes, pero por lo general perezosos, corruptibles y muy envidiosos de lo extranjero, especialmente de las innovaciones y las empresas inglesas. (Parliamentary Papers, 1872 apud FERNS, 1979, p. 369-370).9

A Argentina tinha de competir com fluxos migratórios e isso explica a liberalidade de suas leis imigratórias. Um exemplo desta política de atração dos emigrantes fica evidente na notável mensagem dirigida ao Congresso do presidente Avellaneda, de 1876:

La migración de hombres y los movimentos de capital obedecen ciertas leys, frecuentemente con similares re-sultados. El inmigrante pide protección a su país de ado-ción y huye de exacciones, violencia y anarquia. Países rebeldes y desordenados no son tierras de inmigración. El inmigrante pretende adquirir su tierra y nosotros, proprietarios de inmensos territorios, no hemos sido lo suficientemente sabios como para ofrecérselos; debe-

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mos abolir todo obstáculo que impida la inmigración (VÁZQUES-PRESEDO, 1971, p. 110).

Na verdade, os imigrantes ingleses foram suplantados pelos contin-gentes do sul da Europa quando o crescimento imigratório se tornou uma questão de capital e não de pessoas, com um subseqüente estreitamento e especialização de funções. Em 1870, os ingleses vinham, em sua maioria, para trabalhar em empresas de proprietários britânicos, como bancos, casas de exportação e importação, companhias de navegação ou de terra, ou, ainda, para trabalhar em uma das sete empresas inglesas de estradas de ferro ou em alguma das muitas empresas britânicas de utilidades. O capital tendia a ser investido na compra de terras – muitos ingleses vie-ram como mercadores e se tornaram grandes proprietários de terra10–, em empresas de utilidades públicas, quando não era repatriado. Assim, “the open spaces of the pampas also offered possibilities of acting out the fantasies of English country gentlement, hunting ostriches instead of foxes, the drink-sodden types who so disgusted the hero in Hudson’s The Purple Land”11 (HENNESSY, 1992, p.21).

3. as relações da inglaterra com a argentina a partir dos anos 1880: investimentos, a presença de empresas e de cidadãos britânicos na sociedade argentina

No início dos anos 1880, quando realmente começou a importante onda de investimentos na Argentina, também teve início uma era mais intensa nas relações deste país com a Inglaterra.

Como foi visto, a conexão anglo-argentina havia sido criada como parte do império de livre-comércio britânico do século XIX. Essa de-pendência, de acordo com MacDonald (1992), estava alicerçada num mundo dividido em especializações de trabalho, no qual a Argentina providenciava carne e grãos para a metrópole industrial britânica, en-quanto os britânicos proviam os argentinos com bens industriais e capital necessários para desenvolver os pampas.12

A nova etapa inaugurada em 188013 refere-se, principalmente, ao investimento estrangeiro, em especial ao britânico, com características

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diferentes do período anterior. Esse investimento já não dependia mais do desenvolvimento do comércio, ainda que o tenha influenciado no médio prazo. Tratava-se agora de financiar a formação de um capital social fixo para o país, especialmente em serviços de transportes.

Pela falta de instituições financeiras capazes de captar os fundos necessários, novamente coube ao Estado argentino criar o ambiente pro-pício para a chegada dos novos investimentos. Os fundos eram buscados na Europa, sobretudo na Inglaterra, e foram utilizados primeiramente para a compra direta de bens de produção junto às nações estrangeiras, como o equipamento de estradas de ferro. O restante era transferido para a Argentina com o objetivo de financiar o aumento dos gastos na formação de capital, como os que se acumulavam com as atividades de construção do sistema ferroviário.

Para Ford (1975), existem razões tanto de ordem interna como externa para o fato de a Argentina ter-se tornado um pólo atraente e seguro para os investidores estrangeiros, o que explica a grande onda de investimentos ocorrida no início dos anos 1880. Entre as razões internas, o autor destaca o fato de o campo ter-se tornado um lugar seguro para cultivos permanentes depois das Campanhas de Roca; além disso, vigorava então um poderoso governo federal que havia empreendido reformas monetárias internas e adotado o padrão-ouro. Entre as razões externas, Ford salienta as inovações no sistema de transporte marítimo, que re-duziram abruptamente os fretes nos fins dos anos 1870, favorecendo as exportações argentinas além da queda da taxa de juros na Europa.

Segundo Ferns (1965), do total de inversões do capital britânico na Argentina em 1880, que chegava a 23,06 milhões de libras, 56,2% corres-pondiam a empréstimos do governo e 28,6% a empreendimentos ligados à construção das estradas de ferro.14 Isso explicaria por que os fundos originados nesse período foram destinados para a extensão de ferrovias com fins promocionais da atividade estatal, em proporções semelhantes aos investimentos estrangeiros diretos.

A importância do capital britânico na Argentina também pode ser vizua-lizada na Tabela 2, que apresenta as novas emissões de capital realizadas por Londres no exterior, cotejadas com as específicas promovidas na Argentina.

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Seu exame mostra uma concentração de investimentos ingleses na Argentina no período 1886-1889, com um pico de participação de 23,4% em 1888.

Tabela 2 – Novas emissões de capital em Londres, para inversões no exterior e na Argentina -1885-1891 (milhões de libras esterlinas)

(1)Para inversões no exterior (2) Para a Argentina

1885 48,4 1,81886 47,7 11,21887 60,9 11,31888 95,5 23,41889 99,2 12,81890 91,1 4,91891 46,6 –

Fonte: Ford (1975 p.124).

O elevado montante dos investimentos argentinos dessa fase deu-se primeiramente na forma de investimentos privados, em segundo lugar como aplicações de recursos nas obras do Ferrocarril Oeste, e finalmente como empréstimos públicos. Até 1885 houve inclusive, um certo equilíbrio entre os investimentos privados nas estradas de ferro e nos empréstimos públicos, mas, após esse ano, os investimentos privados tomaram a dianteira, alcançando o seu valor máximo em 1888 com 156. 000 milhões de pesos ouro (RAPOPORT, 1988).

A segunda face destas novas relações, iniciadas nos ano 1880, foi marcada pela importância que assumiram as empresas inglesas e pela participação dos cidadãos britânicos em várias esferas de grande influ-ência da vida argentina. Segundo Vásquez-Presedo (1971, p. 116), o número de residentes britânicos era em torno de 20.000 habitantes e de menos de 30.000 em 1914, incluindo, entre esses totais, profissionais, comerciantes e trabalhadores.

O boom da economia agrícola enriqueceu os proprietários argentinos que abraçaram a conexão anglo-argentina como a chave do progresso econômico. A oligarquia estancieira que controlava os níveis da política e poder econômico, com interesses no comércio de carne, não tinha por que questionar a influência inglesa e a conseqüente divisão de trabalho mundial da época. Os britânicos aceitaram a sua posição, segundo Rock (apud MacDONALD, 1992, p. 81), “com um sistema altamente extensivo de ligações diretas semi-institucionalizadas com a elite. Eles tinham importan-tes aliados no Gabinete e no nível do Congresso e uma voz influente (.....)

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em muitos dos órgãos líderes da imprensa. O lobby britânico disputava com a associação dos pecuaristas a posição de ser o mais poderoso no país”.

Os britânicos estavam confortáveis com essa culta aristocracia dedica-da ao livre-comércio, cujos clubes e interesses em terra constituíam uma cópia da elite eduardiana que dirigia o Império Britânico. Não surpreende que, nessas circunstâncias, eles acreditassem que haviam criado a Argen-tina e esperassem que os argentinos lhes fossem devidamente agradeci-dos. De fato, a conexão era uma aliança de conveniência que funcionou sem problemas enquanto os britânicos detinham o poder industrial e a Argentina não questionava a divisão internacional do trabalho. E isso requeria, para MacDonald (1992), a dominância da classe dos pecuaristas e a identificação do interesse nacional com a exportação de carne.

A influência dos ingleses podia ser sentida em todos os aspectos da vida argentina: na economia e na política, na língua, na atividade social, nos hábitos e na arquitetura. A predominância britânica na vida econômica do país foi tão intensa que se tornou comum descrever a Argentina como parte britânica do “império informal“, na verdade como “sexto domínio”.

Contudo, além do capital, as sociedades anônimas britânicas que inves-tiram na Argentina também necessitavam de homens que as administrassem e as construíssem. O país necessitava de duas classes de conhecimento e capacidade: primeiro, o conhecimento técnico e comercial indispensá-vel para construir e fazer funcionar, por exemplo, as estradas de ferro; e segundo, o conhecimento da comunidade argentina, de sua política, de suas necessidades, de seus recursos e de seu povo. Durante a fase do desen-volvimento do fim do século XIX, os membros da comunidade britânica, especialmente os que viviam na Argentina, eram, segundo Ferns (1969), os únicos capacitados no que se refere a este conhecimento requerido.

Exemplos de cidadãos ingleses como grandes empreendedores na Argentina são inúmeros: Edward Lumb, que obteve a concessão original para construir o Ferrocarril Gran Sur de Buenos Aires, era uma figura proeminente, com cerca de trinta anos de experiência nos círculos co-merciais de Buenos Aires; Thomas Amstrong, um dos principais diretores do Ferrocarril Central Argentino, tinha uma larga experiência em bancos comerciais argentinos; Frank Parish, durante muitos anos presidente do Gran Sur de Buenos Aires, era filho de Sir Woodbine Parish, e seus filhos

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se tornaram membros da diretoria de uma grande variedade de empre-sas argentinas; Thomas Fair, diretor das estradas de ferro, companhia de terras, bancos e serviços públicos, era um comerciante do Rio da Prata cujo pai se havia estabelecido em Buenos Aires em 1810, ano da revolução argentina; G.W. Drabble, o presidente do Banco de Londres y Río de la Plata, foi membro da direção de várias companhias ferroviárias e um pio-neiro no negócio da carne congelada. Como lembra Ferns (1979, p. 335), Drabble havia chegado a Buenos Aires em 1848, para trabalhar na filial da empresa de sua família em Manchester, que era exportadora de artigos de algodão. Na década de 1850 já havia agregado uma estância ao seu negócio de algodão e investido uma pequena soma no Ferrocarril Central Argentino. Ele também chegou a ser presidente do Banco de Londres e dessa posição estendeu sua influência a algumas das principais empresas do país. Nessas empresas, teve participação em decisões administrativas, na reconversão de companhias de estradas de ferro de baixo rendimento em empresas produtivas e na promoção de fusões de companhias.

No entanto, passada a euforia do início da década de 1880, as relações entre argentinos e ingleses começaram a sofrer fricções. Já em meados da década, os acionistas britânicos das estradas de ferro começaram a exigir maiores dividendos. A resposta a essas exigências teve por conseqüência o aumento da pressão das autoridades públicas argentinas, tanto federais como das províncias, para que os pagamentos efetuados garantissem os lucros. Segundo Ferns (1980), ainda que o governo britânico não tenha intervindo nesses acontecimentos, seu representante em Buenos Aires, George Jenner, advertiu claramente que os proprietários britânicos das estradas de ferro teriam problemas sérios caso isso não acontecesse.

Quando a afluência de capital começou a diminuir em 1885, a admi-nistração do general Roca decidiu tomar algumas medidas para restaurar a confiança necessária para induzir os investidores a comprar títulos argentinos, ações ferroviárias e documentos similares. Carlos Pellegrini, ministro argentino, foi enviado à Europa para negociar diretamente com um Comitê de banqueiros que representava o Banco de Paris e dos Países Baixos, com o Comptoir d’Escompte de Paris, o A. y B. Cahen d’Anvers, a Sociedade Geral do Comércio e Indústria e com os banqueiros Baring Brothers e Morgan. Nem o governo britânico nem o Banco da Inglaterra tiveram ingerência no acordo firmado por Pellegrini para hipotecar as

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rendas aduaneiras argentinas, comprometendo-se assim a não pedir mais empréstimos sem o consentimento desses bancos.

Em 1888, contudo, todo o processo de inversão e desenvolvimento estava fora do controle, e particularmente fora do controle do governo argentino. Nos 18 meses que seguiram ao informe de Jenner, uma série de acontecimentos fiscais e econômicos, denominada na literatura de Crise Baring,15 produziu importantes mudanças nesse cenário.

A estrada de ferro – que desempenhou um papel pequeno na maioria dos países da América Latina –, foi, na Argentina, um símbolo notável, diretamente ligado à influência inglesa. Mas também, como nos Estados Unidos, na Argentina a construção de ferrovias foi uma realidade ambi-valente. Em ambos os países as estradas de ferro foram a mais importante força de modernização, facilitando o transporte rápido de gado e de grãos para os portos do Atlântico, integrando zonas de colonização recente à eco-nomia recente e promovendo esquemas de assentamentos. Na Argentina, o monopólio das estradas de ferro fixava o preço dos fretes, controlava a elevação do preço dos grãos, representava o poder dos bancos e das corpo-rações e, por aumentar o valor das terras, levou a uma febre especulativa e à corrupção política. A fragmentação da sociedade rural removeu a base social sobre a qual se construiria um movimento de protesto, mesmo sem sucesso. Dessa forma, as questões referentes às estradas de ferro não po-diam ser resolvidas com políticas domésticas, mas somente com exceções menores, pois eram os proprietários estrangeiros que tomavam decisões políticas nos escritórios europeus. Assim, a dominação britânica das estradas de ferro tornou-se um símbolo visível da dominação estrangeira e teve de suportar o nacionalismo radical nos anos 1930 e 1940.

Os não-britânicos, principalmente os alemães, invejavam a forma como os britânicos cuidavam de seu próprio, mas pequeno grupo. De todas as comunidades estrangeiras, a alemã foi a mais próxima em relação aos bri-tânicos, pois, além de ser maior em tamanho, somando 140.000 habitantes no período entre guerras, tal como a britânica, exerceu influência em todas as esferas da sociedade argentina (NEWTON apud HENNESSY, 1992). Em-bora a influência econômica alemã nunca desafiasse a inglesa – como no Brasil, onde a presença alemã foi muito mais forte – sua ação no país foi sem dúvida considerável: em 1910, os alemães eram os terceiros em tamanho de investimento, conforme Tabela 3. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial

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o número de alemães proprietários já tinha superado o dos britânicos, as exportações de ferro e aço para a Argentina excediam as da Grã-Bretanha e os alemães controlavam 60% de grãos exportados. Enquanto os britânicos controlavam as companhias de gás, os alemães dominavam a oferta de ele-tricidade sobre a Companía Alemana Transatlántica de Eletrecidad (CATE), o maior sistema unificado do mundo. (HENNESSY, 1992, p. 22).

Tabela 3. Inversão Externa por Atividade Econômica e por Países de Origem – 1910 e 1917 (em milhões de dólares)

1910 1917

$US % $US %Distribuição por Atividade EconômicaEmpréstimos e títulos externos 664,1 30,5 631,0 20,4Estradas de ferro 772,2 35,5 1 140,1 36,9

Bancos 36,0 1,7 49,8 1,6

Portos 21,2 1,0 21,3 0,7

Rodovias 87,9 4,0 105,1 3,4

Frigoríficos 8,1 0,4 39,3 1,3

Companhia de gás, eletricidade, água etc, obras de salubridade 55,7 2,6 75,2 2,4

Companhia de terras e hipotecas 154,4 7,1 76,5 2,5

Hipotecas e Propriedades 144,0 6,6 480,0 15,5

Companhias diversas 40,4 1,8 23,1 0,8

Comércio e créditos 192,0 8,8 446,6 14,5

TOTAL 2 175,6 100,0 3 088,0 100,0DISTRIBUIÇÃO POR PAÍSGrã-Bretanha 1 424,0 65,4 1 882,0 58,2França 396,0 18,2 448,0 13,9

Alemanha 193,0 8,9 265,0 8,2

Estados Unidos 19,0 0,9 82,0 2,5

Outros Países 144,0 6,6 556,0 17,2

TOTAL 2 176,0 100,0 3 233,0 100,0

Fonte: Rapoport (1988, p.180).

Apesar disso, a Grã-Bretanha continuou a ser a maior fornecedora de bens para a Argentina. Sua participação no mercado argentino manteve-se por volta de 30% entre 1880 e 1913. A Primeira Guerra Mundial foi um ponto de inflexão da influência britânica, não tanto pela ameaça da substituição das importações, mas principalmente pelo desafio comercial e financeiro posto pelos Estados Unidos.

Outro autor que considera a Primeira Guerra Mundial como ponto de inflexão é Taylor (1992). Ao discutir o fim da Belle Époque argentina,

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ele afirma que este declínio começou em 1914, em virtude da ruptura dos créditos internacionais, seguindo o colapso do mercado internacional de capital e a retração britânica.

Além disso, depois da Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha foi suplantada pelos Estados Unidos e, no final de 1920, a sua participação no mercado argentino já estava abaixo de 20%, ao passo que a dos Estados Unidos chegava as 25%. Assim, não foi só a mudança social e política do milênio ou o desafio de concorrentes de outros países europeus que sinalizaram o declínio da influência britânica na Argentina, mas também o crescente poder e eficiência dos norte-americanos. Os Estados Unidos demoraram bastante tempo para avançar em direção àquele país, mas pelos anos 1920 o desafio não podia ser ignorado.

Poucos argentinos, de qualquer nível que fossem, questionavam a dominância dos britânicos até a grande quebra financeira de 1890, a Crise Baring. Mas foi só em 1930 que a crítica à hegemonia inglesa ganhou suporte de massa entre um público crescentemente insatisfeito ante a ineficiência dos monopólios representados por um sistema de transporte deteriorado. A Primeira Guerra Mundial já tinha enfraquecido em grande parte a penetração britânica, mas foi finalmente com as nacionalizações peronistas das estradas de ferro – “a espinha dorsal de toda a nossa po-sição... se elas forem, nós todos iremos”, nas proféticas palavras de um embaixador inglês –, que o declínio britânico, implícito mesmo antes 1914, não pôde ser mais escondido (HENNESSY, 1992).

As relações anglo-argentina no século XX, segundo MacDonald (1992), tiveram dois momentos distintos: em 1925 quando foi comemo-rado o centenário do tratado de amizade, comércio e navegação com a Inglaterra, realçado pela visita do Príncipe de Gales, e em março de 1948, numa festa diferente, quando 21 salvas de canhão marcaram a nacionali-zação das estradas de ferro de propriedade inglesa pelo Presidente Perón como uma afirmação da independência nacional. As desapropriações indicavam que essa conexão já estava quase morta, e que a Grã-Bretanha havia-se tornado símbolo da dominação de economia estrangeira de que a Argentina estava determinada a escapar.

As relações entre a Argentina e a Grã-Bretanha, assim, foram com-plexas desde o seu início, passando da oposição à parceria mais próxi-

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ma, principalmente na esfera financeira. Apesar de a Argentina não ter recebido contingentes significativos de imigrantes ingleses, importantes homens de negócios britânicos tiveram grande influência na vida econô-mica do país, através da transferência de conhecimento e de tecnologia para muitas áreas, principalmente na construção das estradas de ferro. No final do século XIX, a influência inglesa na Argentina alcançou o seu ponto máximo, atingindo os mais diversos setores do país. A quebra financeira de 1890, a chamada Crise Baring, e as mudanças ocasionadas pela Primeira Guerra, principalmente pelo surgimento dos Estados Uni-dos no cenário mundial, já sinalizaram o início do enfraquecimento das relações anglo-argentinas, embora estas ainda tivessem um fôlego para seguir até a Segunda Guerra Mundial, marcando sua persistência com a assinatura do Tratado Roca-Runciman16 em maio de 1933. Mas o protesto do governo norte-americano já mostrava claramente que o processo de troca de papéis entre a Grã-bretanha e os Estados Unidos na parceria com a Argentina estava em pleno andamento.

4. conclusões

As relações entre a Argentina e a Grã-Bretanha sempre foram inten-sas, passando de conflituosas no tempo colonial, quando ingleses atuavam como piratas e opositores à ordem constituída, para amistosas no período posterior à independência, quando os britânicos se tornaram parceiros mais próximos dos argentinos em investimentos de capital, sobretudo a partir da década de 1870. Essa parceria todavia ficou circunscrita à esfera financeira, pois a Argentina não foi considerada uma opção para a emigração. Mas, ao mesmo tempo, importantes homens de negócios ingleses, trazendo não só tecnologia como também conhecimentos técni-cos e comerciais, tiveram grande influência na vida econômica argentina, principalmente nos investimentos em estradas de ferro.

No final do século XIX, a Argentina vivenciou o período de grande crescimento econômico, a Belle Époque, caracterizada por uma forte ligação externa de produtos, de mão-de-obra e, principalmente, de capi-tais. Estes investimentos eram preponderantemente de origem britânica e destinados à construção de estradas de ferro, razão pela qual a ferrovia

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foi o símbolo mais importante e mais visível da influência inglesa nesse país. Na década de 1880, essa influência alcançou seu nível máximo, a ponto de a Argentina ter sido muitas vezes considerada uma sexta parte do império britânico. A penetração inglesa na vida argentina foi tão pro-funda que atingiu setores como a língua, os hábitos e a arquitetura. Mas essa conexão começou a enfraquecer-se durante a quebra financeira de 1890, a Crise Baring, e ganhou impulso no início do século XX.

Os efeitos da Primeira Guerra Mundial, assim como a crise que aba-lou o sistema capitalista em 1929, afetaram profundamente os países da América Latina, influenciando suas opções de crescimento. No contexto da política internacional, o fim da Primeira Guerra, em 1918, assinalou o declínio da Grã-Bretanha como principal potência hegemônica no sistema ocidental e marcou, concomitantemente, a ascensão dos Estados Unidos para esta posição. Os Estados Unidos saíram fortalecidos da Pri-meira Guerra, passando da posição de potência regional para potência mundial. Uma decorrência natural dessa nova posição foi o aumento de sua influência nos países da América Latina e, conseqüentemente, na Ar-gentina, começando um movimento que se denominou de “expansão da influência do dólar na área tradicional da libra”. Esse momento marcou o início do enfraquecimento das relações anglo-argentinas.

Na década de 1920, quando as condições externas se modificaram pondo fim à entrada de imigrantes e capitais estrangeiros no país, a eco-nomia argentina já estava mostrando sinais de saturação com relação à sua capacidade de absorver recursos externos e vinha tendo muita dificul-dade de encontrar novos caminhos para substituir a economia primária exportadora. Ainda assim, ao contrário da maioria dos demais países da América Latina, a Argentina, naquela ocasião, começou a formular um modelo alternativo com o objetivo de atender ao mercado interno. Esse novo modelo teve de conciliar uma série de obstáculos e inconvenientes, entre eles a rigidez de infra-estrutura criada anteriormente, a deformação operada em relação à localização espacial e, muito especialmente, os in-teresses nem sempre favoráveis de uma poderosa oligarquia proprietária de terra. O florescimento do peronismo e a nacionalização das estradas de ferro de propriedade de investidores ingleses são faces da nova con-figuração que as relações anglo-argentinas passaram a assumir.

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Notas

1 Tradução do original: “A terra que a Inglaterra perdeu”. Segundo Hennessy (1992), o título foi retirado da obra de W. H. Hudson’s The Purple Land That England Lost de 1885. Embora o mesmo se referisse ao Uruguai, era mais aplicável para a Argentina, que, em 1806, uma manchete do Times anunciava como uma parte do Império Britânico.

2 Tradução do original: “Revendo toda a história argentina”: “A Grã-Bretanha pode plau-sivelmente ser apresentada, tanto como um parceiro progressista no desenvolvimento argentino quanto como o criador de insuperáveis obstáculos de constrangimento da vida econômica e da política pública: motor ou freio”.

3 Com a invenção do frigorífico em 1876, a carne argentina poderia ser produzida para o paladar inglês; logo, a carne de procedência argentina passou a consistir em 2/3 da carne importada pela Inglaterra e se tornou um dos principais produtos exportáveis dentro da política de comida barata desenvolvida pelo governo inglês até 1960. Ver Hennessy (1992 p.15).

4 Tradução do original: [...] custou muitos anos de sangue e fogo aos interesses imperia-listas e aos de seus aliados locais que a Argentina estivesse em condições de converter-se no granero do império e, por sua vez, na sua forte devedora.

5 Tradução do original: As primeiras concessões argentinas, das quais surgiram a Great Southern Railway Company ou o London and River Plate Bank, foram dadas para homens como George Drabble e Edward Lumb, ambos de confiança e conhecidos pelos poderosos, e, como eles mesmos, proprietários de grandes estâncias.

6 A primeira corrente importante de investimentos estrangeiros – que começou com a subida de Bartolomé Mitre à presidência, em 1862, e durou até a crise de 1874/75 – foi constituída por capital quase que exclusivamente britânico. O Estado desempenhou um papel relevante na atração desses investimentos, já que a maioria desses (56,2% em 1875) representava empréstimos governamentais. Esse dado responsabiliza o governo argentino pela entrada de capital e pelos juros dos empréstimos contraídos (FERNS, 1965). De modo geral, as inversões não visavam lucros expressivos, mas sim a expansão das exportações britânicas e a venda de seus serviços.

7 O empréstimo do Baring, contratado em 1865 para financiar a guerra contra o Para-guai, teve suas negociações prolongadas, o que fez com que os fundos só entrassem no país em 1868. A Tesouraria argentina registrou a entrada de 2.9M$F nesse ano e 1.7M$F no seguinte. O financiamento inicial da guerra se fez por meio de crédito do Banco de la Provincia, sendo que em 1865 ele recebeu a entrada de 3.5M$F. Na verdade, o primeiro empréstimo externo conhecido foi o negociado em 1824 entre a província de Buenos Aires e a Casa Baring, no valor de um milhão de libras esterlinas. De acordo com Ferns (1979), esse foi o maior empréstimo feito na época, com os clientes da firma Baring representando os maiores interesses estrangeiros no país.

8 Tradução do original: “O governo britânico considera que as perdas de homens impruden-tes que atribuíram uma confiança exagerada à boa-fé de um governo estrangeiro dariam um aviso salutar para outros, e preveniria qualquer outro empréstimo de ser levantado na Grã-Bretanha, exceto por governos de conhecida boa-fé e de solvência averiguada”.

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9 Tradução do original: “Os habitantes da cidade têm cedido em alguma medida, e especialmente na capital, à civilização em progresso introduzida pelo elemento estran-geiro da população, e são educados, refinados e inteligentes, mas em geral indolentes, corruptíveis e muito invejosos dos estrangeiros, especialmente das inovações e das empresas inglesas”.

10 De acordo com Miguez (1985, p. 30), segundo dados de 1869, nomes de famílias in-glesas como Drabble, Bell, Fair, Gibson e Fox surgem entre os proprietários mais ricos da Província de Buenos Aires; a estes devem-se somar ainda os nomes dos imigrantes irlandeses mais prósperos, como Casey, Duggan, Amstrong, Lynch e Coghland.

11 Tradução do original: “Os espaços abertos do pampa também ofereceram a possibili-dade de atuar sobre as fantasias dos English country gentlemen, caçando avestruzes ao invés de raposas, o tipo drink-sodden que tanto desgostou o herói em The Purple Land, de Hudson”.

12 Segundo Abreu (2000), a França era o mercado mais importante para a Argentina nos anos 1880, absorvendo mais de 30% das exportações. Somente na virada do século, particularmente depois de 1907, é que este status foi assumido pela Grã-Bretanha, a ponto de, no final da década de 1920, 35% e 40% das exportações argentinas serem direcionadas para a Inglaterra.

13 Di Tella e Zylmelman (1976) também afirmam que o início da formação do capital na Argentina ocorreu efetivamente por volta em 1880, a partir do governo de Juárez Celman, que contraiu empréstimos e promoveu investimentos em estradas de ferro sem ter em conta nenhum plano orgânico nem mesmo um plano de capacidade de pagamento por parte da Nação.

14 De acordo com Laclau (1975, p. 35), o aumento espetacular das estradas de ferro fez com que o período fosse chamado de infierno ferroviário, sendo que 3/4 de sua rede se ligam à região pampeira. Ao difundir-se a produção agrícola no litoral pampiano, nas últimas décadas do século XIX, e ao produzir-se, por conseguinte, o ingresso dos imigrantes na vida rural, as relações salariais generalizaram-se, apagando os resíduos pré-capitalistas que ainda podiam resistir. Se a isto se somar a Conquista do Deserto, que eliminou a possibilidade de continuação da existência de uma população não-integrada ao sistema, deve-se admitir que no início do século XX imperava no campo argentino um modo de produção claramente capitalista.

15 A crise Baring ou a “bubble de 1890” foi uma crise de caráter especulativo que trouxe profundas conseqüências para a economia argentina. Ela começou em novembro da-quele ano, quando Londres não permitiu o adiamento do pagamento da dívida nem a continuidade da transferência trimestral de fundos para a Argentina. O banco Baring detinha títulos do governo argentino por um valor nominal de aproximadamente 25 milhões de dólares. Houve uma crise de confiança na capacidade de pagamento do governo argentino, que só foi solucionada, posteriormente, via acordos externos. Em razão dos principais títulos serem de companhias de estradas de ferro, uma das prin-cipais conseqüências da crise para as companhias foi que muitas das novas concessões foram canceladas. Para maiores detalhes, ver Lenz (2006).

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16 Como se sabe, este Tratado dava preferência das exportações de carne para a Inglaterra. É interessante trazer à tona as palavras ditas por Roca em Londres na ocasião: La geo-grafia política no siempre logra em nuestros tiempos imponer sus limites territoriales a la actividad de la economia de las naciones. Así ha podido decir um publicista de celosa personalidad que la Argentina, por su interdependencia recíproca, es desde el punto de vista económico una parte integrante del Imperio Británico (Cúneo, 1965, p. 25).

The intensive and conflictive economic and financial relationships between Great Britain and argentina: from the end of nineteenth century until The First World War

Abstract – In the late 19th century Argentina went through a phase of high economic growth, the so- called Belle Époque, in which its most striking feature was integration with England. Throughout history the relationship between Argentina and Britain has been very complex going from one of friendship to conflict. This paper aims to analyses the relationship that characterized the An-glo-Argentinean connection at the eighties in the XIXth century, the high rate of economic growth period in Argentina. The first one describes the features of the initial relationship between the two countries: commercial relationship, treaties and the shortage of British people to migrate to Argentina. The second one shall deal with specific relationships from the 1880s and it will focus on the presence of British enterprises and citizens in the Argentinean.

Key-words – Argentina; anglo-argentinian relations; treaties; foreign investment.

JEL – N 16, N 26

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Recebido para publicação em agosto de 2007 Aprovado para publicação em março de 2008