As Leis de Newton

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Instituto Federal do Maranhão Campus de Imperatriz Seminário de Física II apresentação 30/11/2010 As Leis de Newton Considerações sobre o nascimento da Mecânica Clássica Vinicius Loiola Beserra [email protected] Marcelo dos Santos Roxo [email protected] Resumo. Neste trabalho abordaremos um pouco da biografia e da obra, limitada aqui a Mecânica Clássica, daquele que é considerado uma dos maiores gênios da humanidade, Isaac Newton. Falaremos ainda sobre o processo de como nasceu sua obra prima Principia Mathematica Philosophia Naturalis, que entrou para a história da ciência, como um marco por romper de uma vez por todas com a física aristotélica, unificando assim os Céus e a Terra, estabelecendo o método cientifico experimental como fonte do saber cientifico. Para isso, Newton se apoiou sobre os ombros de gigantes ao usar o método cientifico experimental de Galileu, deduzindo a partir das Leis de Kepler a gravitação universal bem como sua expressão matemática, e ainda tendo como base a filosofia de Descartes e Sir Francis Bacon. Palavras-chave: Isaac Newton, Mecânica clássica, Revolução científica. 1. INTRODUÇÃO Isaac Newton, matemático, astrônomo e físico. É considerado como uma das maiores mentes cientificas que a ciência já teve. Com ele a ciência deu um pulo qualitativo e quantitativo. Newton deixou importantes contribuições para ciência, entre elas o cálculo, o binômio de Newton, a mecânica clássica e a ótica geométrica. É tido como o primeiro grande unificador, uma vez que quebrou os paradigmas da mecânica aristotélica, ao mostra que as leis da física têm um caráter universal, encerrando assim a dicotomia entre o mundo supra lunar e sub lunar. Sua mecânica clássica é ensinada a estudantes de todo o mundo, se constituindo na base do currículo dos cursos da área de exatas que tem a Física como disciplina. É tido como aquele que deu a física o caráter cientifico que temos até hoje em sua essência, tirando a da filosofia e transformando a em um ramo da ciência. Criou uma teoria para a luz, encontrou a expressão matemática da gravidade. Aventurou-se ainda pela alquimia e pela teologia e o conjunto de sua obra nessas outras áreas é ainda maior do que na física. Nas próximas páginas, falaremos sobre a vida e um pouco da obra de Isaac Newton. 2. DE WOOLSTHORPE A CAMBRIDGE Isaac Newton foi um dos cientistas mais importantes da história da ciência, sendo chamado “o gênio preeminente, o intelecto supremo da idade das luzes” (Brennan, 2000, p.24). Nasceu no ano

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As Leis de Newton

Considerações sobre o nascimento da Mecânica Clássica

Vinicius Loiola Beserra [email protected]

Marcelo dos Santos Roxo [email protected]

Resumo. Neste trabalho abordaremos um pouco da biografia e da obra, limitada aqui a Mecânica

Clássica, daquele que é considerado uma dos maiores gênios da humanidade, Isaac Newton.

Falaremos ainda sobre o processo de como nasceu sua obra prima – Principia Mathematica –

Philosophia Naturalis, que entrou para a história da ciência, como um marco por romper de uma

vez por todas com a física aristotélica, unificando assim os Céus e a Terra, estabelecendo o método

cientifico experimental como fonte do saber cientifico. Para isso, Newton se apoiou sobre os

ombros de gigantes ao usar o método cientifico experimental de Galileu, deduzindo a partir das

Leis de Kepler a gravitação universal bem como sua expressão matemática, e ainda tendo como

base a filosofia de Descartes e Sir Francis Bacon.

Palavras-chave: Isaac Newton, Mecânica clássica, Revolução científica.

1. INTRODUÇÃO

Isaac Newton, matemático, astrônomo e físico. É considerado como uma das maiores mentes

cientificas que a ciência já teve. Com ele a ciência deu um pulo qualitativo e quantitativo. Newton

deixou importantes contribuições para ciência, entre elas o cálculo, o binômio de Newton, a

mecânica clássica e a ótica geométrica.

É tido como o primeiro grande unificador, uma vez que quebrou os paradigmas da mecânica

aristotélica, ao mostra que as leis da física têm um caráter universal, encerrando assim a dicotomia

entre o mundo supra lunar e sub lunar.

Sua mecânica clássica é ensinada a estudantes de todo o mundo, se constituindo na base do

currículo dos cursos da área de exatas que tem a Física como disciplina. É tido como aquele que deu

a física o caráter cientifico que temos até hoje em sua essência, tirando a da filosofia e

transformando a em um ramo da ciência. Criou uma teoria para a luz, encontrou a expressão

matemática da gravidade. Aventurou-se ainda pela alquimia e pela teologia e o conjunto de sua obra

nessas outras áreas é ainda maior do que na física. Nas próximas páginas, falaremos sobre a vida e

um pouco da obra de Isaac Newton.

2. DE WOOLSTHORPE A CAMBRIDGE

Isaac Newton foi um dos cientistas mais importantes da história da ciência, sendo chamado “o

gênio preeminente, o intelecto supremo da idade das luzes” (Brennan, 2000, p.24). Nasceu no ano

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de 1642 em Woolsthorpe, em Lincolnshire (cerca de cem quilômetros de Cambridge1). Era um bebê

prematuro, tão frágil e pequeno que sua mãe, Hannah Newton, temeu que ele não vivesse se quer

um dia. Porém Newton viveu, era ele predestinado a ser um dos maiores cientistas que a

humanidade ia conhecer.

Mas Newton não foi uma criança feliz. Sua mãe, viúva (o pai de Newton morrera dois meses

antes de seu nascimento), casou-se com Barnabas Smith, um reverendo de North Witham. Assim,

Newton foi deixado com sua avó materna. “Segundo alguns historiadores, essa separação

traumática pode ter sido a causa de suas tendências psicóticas, sentimentos de insegurança e do seu

não envolvimento com mulheres” (Antônio S. T. Pires, 2008, p.181). Isaac se tornou uma pessoa de

poucas palavras, muito tímido e nervoso; dedicou a maior parte de seu tempo ao estudo.

Newton teve sua educação formal iniciada em pequenas escolas. Com 13 anos foi enviado à

Grantham (cerca de 11 quilômetros de Woolsthorpe), onde passou estudar na King’s School. “Os

especialistas parecem pensar que Newton não havia estudado geometria antes de ingressar em

Cambridge. Newton chegara à faculdade com um conhecimento de matemática notavelmente

reduzido para quem haveria de inventar o cálculo apenas quatro anos depois de deixar a escola

secundária” (Brennan, 2000, p.29).

Newton não era um aluno brilhante, até que se envolveu em uma briga com um colega:

(provavelmente Arthur Storer) o melhor aluno da escola. Newton resolveu vencê-lo

academicamente, tornou-se um leitor de tudo quanto chegava às suas mãos, subindo rapidamente ao

posto de melhor aluno. Quando terminou o ensino secundário, “aos 18 anos, Newton viajou cem

quilômetros ao sul, até a cidade universitária de Cambridge, para um novo mundo e uma nova

vida.” (Brennan, 2000, p.31).

O caminho de um futuro gênio, começou a ser traçado com mais veemência quando Newton

entrou no Trinity College, uma das universidades mais renomadas de Cambridge. Ingressou em

Trinity como “um estudante pobre que ganhava sua subsistência fazendo tarefas servis para

professores e alunos mais abastados” (Brennan, 2000, p.31), isto o tornou ainda mais fechado.

Começou a sua vida acadêmica como os muitos outros bacharelandos da época, estudando

Aristóteles e Platão, mas tinha grande interesse pelas obras que estavam sendo produzidas na época,

obras estas, que estavam revolucionando as ciências, quebrando vários paradigmas.

“Newton encontrou seu próprio caminho2, um caminho que o levou a René Descartes, Sir

Francis Bacon, Galileu Galilei e johannes Kepler. Há claros sinais de que eles, e não os cursos

oficiais, influenciaram profundamente o futuro cientista.” (Brennan, 2000, p.33). Newton começou

mergulhar profundamente em seus estudos indiviuais, lia sobre tudo, e seu pensamento ficou claro

com uma afirmação que ele fez escrevendo em seu caderno de anotações: “Amicus Plato amicus

Aristóteles magis amica veritas (Platão é meu amigo, Aristóteles é meu amigo, mas meu melhor

amigo é a verdade)” (Brennan, 2000, p.33).

1 Cambridge foi fundada pelo rei Henry III em 1231, já que as casas do vilarejo já não mais podiam acomodar a

grande quantidade de estudantes que para lá iam. 2 Em Cambridge os alunos tinha tutores e podiam escolher o que ler, Newton fez o seu próprio curriculum de

disciplinas. O tutor de Newton era Benjamin Pulleyn

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Newton anotava em seu caderno várias questões, questões essas que abrangiam todas as áreas

das ciências naturais e da teologia (Newton era muito religioso), procurava ele com isso estudar e

procurar resolver tais questões, ainda não comprovadas cientificamente na época. Estudou a

geometria de Descartes que o inspirou a realizar vários trabalhos em matemática. Para Newton, os

métodos usados por Descartes juntamente com os outros filósofos da época explicavam melhor a

natureza do que a filosofia de Aristóteles e Platão.

Newton recebeu seu diploma de bacharel em 1665, “encerrou-se, sem reconhecimento, a que

pode ter sido a mais notável carreira de graduação na história da universidade.” (Brennan, 2000,

p.35).

3. UM PROBLEMA DE ASTRODINÂMICA E O NASCIMENTO DO PRINCIPIA.

Principia Matemática – Philosophia Naturalis3, obra de Isaac Newton (1642-1727) é apontada

com um marco na história da Ciência e da Física, em particular. Com ela, Newton demoliu de uma

vez por todas qualquer resquício do pensamento Aristotélico, de que existiam leis físicas diferentes

para a Terra (mundo sublunar) e o Universo (mundo supra lunar4) embora Galileu já tivesse dado

importantes passos na implosão da mecânica de Aristóteles, este não conseguiu chega as três leis

unificadoras da mecânica.

Com o seu trabalho, Newton demonstrava que as leis que regem os astros5 são válidas também

para os fenômenos físicos que ocorrem na Terra. (Cherman, 2004, p. 52). Ocorrendo assim a

chamada primeira grande unificação.

Nessa época Halley, Hooke e Wren (1632-1723), discutiam qual seria a força que mantinha os

planetas em órbita. Eles deduziram a partir das leis de Kepler, que essa força (força da gravidade) é

proporcional ao inverso do quadrado da distância, embora nenhum deles tivesse a prova matemática

para isso.

Também nesse mesmo período Robert Hooke escreveu a Newton uma carta na qual o convida a

comentar sobre um método criado por aquele, para descrever movimentos curvilíneos. Sua ideia

básica era dividir o movimento de um corpo que é atraído para centro em duas componentes de

força: uma inercial e outra radial.

Em 1679, Hooke teria proposto em outra carta a Newton um problema no qual ele pergunta que

tipo de órbita teria um corpo que sofresse atração para o centro, e se a força de atração variasse

inversamente com o quadrado da distância. Newton, responde a Hooke que desconhece seu método

de análise de um objeto em movimento circular, propondo a Hooke outro problema6, não

respondendo ao cientista holandês sobre a questão da força de atração, chamada hoje de força da

gravidade.

Como nos afirma (Cherman, 2004, p.51), o Principia foi fruto do aprimoramento de um

trabalho anterior de Newton, chamado de Do movimento dos corpos em órbita, em latim De Motu.

Ao que tudo indica esse trabalho foi a resposta de Newton ao problema proposto por Hooke, sobre a

“força de atração” na carta escrita em 1679. Esse trabalho foi apresentado a Edmund Halley (1656-

1742), por Newton, depois que esse foi visitado por aquele em Cambridge, que o colocou a par da

3 O que chamamos hoje de Física, na época era chamado de Filosofia natural, pois a Física era tida como um ramo

da filosofia. Newton foi o responsável por essa separação da física da filosofia. 4 No mundo sublunar estava a Terra e no supra lunar o Sol, a Lua e as estrelas, este último era considerado

perfeito, em oposição a Terra, lugar da imperfeição. 5 A área dedicada ao estudo dos movimentos dos astros se chama astronomia dinâmica

6 Para maiores detalhes favor consultar o artigo de Penha Cardoso Dias, RBEF, v.28, n. 2, p. 229 O problema

proposto por Newton

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discussão sobre a força que move os planetas, que existia entre Halley, Wren e Hooke. Newton não

somente apresentou a Halley a solução do problema (veja na equação 1, a solução matemática), de

que a:

órbita elíptica pressupunha uma força proporcional ao inverso do quadrado da distância,

como também invertia e generalizava o problema, demonstrando que tal força implicava

um movimento segundo uma cônica (elipse, parábola, hipérbole), de acordo com a

velocidade do corpo em órbita. (Cherman, 2004, p.51)

Mediante esse fato, Halley incentivou Newton a expandir seu trabalho, o que levou três anos.

Do fruto do aprimoramento desse trabalho, nasceu o que chamamos de Princípios Matemáticos da

Filosofia Natural, também conhecida como Philosophia Naturalis – Principia Matematica.

4. UMA VISÃO DA GERAL DA PRINCIPIA

A Mecânica Clássica ou Newtoniana é uma teoria do movimento baseada nas ideias de massa7

e força e nas leis que relacionam estes conceitos físicos a quantidades cinemáticas. Os fenômenos

da mecânica clássica podem ser descritos usando-se as três leis, que chamamos de Leis de Newton.

Mas antes de falamos das três leis da dinâmica8 se faz mister fala que a revolução efetuada por

Newton também seu deu no campo da semântica. Newton abre o Principia com uma série de

definições. A primeira delas é a de massa: “A quantidade de matéria é a medida da mesma, obtida

conjuntamente a partir de sua densidade e volume” (Newton, 1667, p.39). É Importante que

percebamos aqui que Newton usou o termo “quantidade de matéria” e não massa, como utilizarmos

hoje.

O livro Principia de Newton pode ser dividido em seis partes. Oito definições entre as quais

temos: massa, quantidade de movimento, força de inércia, força centrípeta, que ao final de cada

uma são seguidas um breve escólio9.

A estrutura do Principia de Newton segue um padrão clássico: definições e axiomas, seguidos

de proposições e de suas demonstrações. Essa estrutura é típica das obras de geometria grega, mas

difere da exposição clássica em dois aspectos. O primeiro é que existe um apelo ao uso do método

dos limites também chamado de “o método da primeira e última razões de quantidade” (Newton,

1667, p.71). O segundo é que ele vinculava a validade das preposições à evidência da

experimentação e da observação crítica. (Cohen & Smith, 2004, P.60)

Em sua obra, Newton não define tempo, espaço, lugar e movimento por serem, segundo ele

bem conhecidos de todos, mas no escólio da definição III, ele faz seus comentários sobre o tempo, o

espaço, movimento absoluto e o lugar. (Newton, 1667, p.44).

5. VIS INSITA E A VIS INERTIAE

A razão pela qual Newton criou ele um novo conceito de massa, foi porque, segundo os

experimentos feitos por Richer10

e Halley mostraram que o peso de um corpo varia com a latitude

7 O termo massa hoje em dia reúne em um só termo a massa gravitacional e a massa inercial

8 O termo dinâmica como conhecemos hoje foi cunhado por Leibniz. Newton preferia o termo mecânica racional

9 Escólio, palavra de origem latina que quer dizer comentário, seria o equivalente a nota de rodapé

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terrestre. Até então os conceitos de massa utilizados na época, era o de extensão, termo cunhado por

Leibniz, e peso, termo usado por Galileu Galilei.

É importante esclarecemos a diferença entre massa e peso. Por exemplo, imaginemos uma

pessoa. O peso dela vai depende da intensidade do campo gravitacional. E a intensidade desse

campo depende da massa de onde vai estar a pessoa. Assim uma pessoa, na Lua pesar menos do que

se estivesse na Terra, pois a Lua em contraste com a Terra tem menos massa e no espaço essa

mesma pessoa não terá peso, embora em todas as três situações ela continue a ter a mesma massa.

A segunda dessas definições feita por Newton é de quantidade de movimento: “A quantidade

de movimento é medida do mesmo, obtida conjuntamente a partir da velocidade e da quantidade de

matéria.” (Newton, 1667, p.39). Essa expressão é escrita na forma matemática na equação 2.

(2)

A terceira definição é sobre o conceito de inércia de Newton na qual ele afirma: “A vis ínsita,

ou força inata da matéria, é um poder de resistir, através do qual todo o corpo, no que depende dele,

mantém seu estado presente, seja ele de repouso ou de movimento uniforme em linha reta”.

(Newton, 1667, p.40).

Segundo (Cohen & Smith, 2004, P.60) o termo usado por Newton, vis ínsita, não foi criado por

ele. Essa terminologia lhe era familiar devido as suas leituras. Entre elas podemos citar um

dicionário filosófico da época11

Lexicon Philosophicum de Rudolph Glocenius. Segundo esse autor

“vis ínsita é “poder natural”, uma força que tanto pode ser ínsita (inerente ou natural) ou violenta”

(COHEN & SMITH, 2004, p.60)

Embora Newton, der a sua definição de força de inércia, foi Galileu Galilei (1564-1642) em seu

livro Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, publicado em 1632, que a concebeu

enquanto ideia.

No livro, que foi escrito em forma de diálogo (uma influência de Platão12

), três personagens,

Filippo Salviati, que representa o próprio Galileu, Simplício representando as idéias aristotélico-

ptolomaicas e Giovanni Sagredo, uma espécie de mediador, trocam diálogos sobre as idéias da

física vigentes na época.

O livro pode ser dividido em quatro partes ou jornadas. A primeira jornada fala sobre a

concepção geral do universo. Nessa primeira parte Galileu refutar as ideias de que haveria

diferentes leis para os fenômenos ocorridos na Terra (mundo sublunar) e no universo (mundo supra

lunar).

A segunda parte descreve as idéias que mostram que a Terra é imóvel. Galileu tentar derrubá-

las. A terceira faz um exame dos fenômenos celestes confirmam o movimento da Terra em torno do

Sol. O quarto mostra o problema das marés, que segundo ele seriam impossíveis sem o movimento

de rotação da Terra.

10

Para maiores detalhes consulta o artigo de Wilson Lopes, Revista Brasileira de Ensino de Física, v.25, n.3:

p.561-568, dez. 2008. 11

No Brasil temos a obra de Abbagnano Dicionário de Filosofia 12

Uma das maiores obras de Platão, A República Livro VII foi escrita em forma de diálogo, para maiores detalhes

consultar a obra de Marilena Chauí, Filosofando.

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É na segunda jornada que Galileu13

demonstrar a existência da inércia. O argumento

aristotélico existente na época era de que se uma moeda fosse deixada do alto do mastro de um

navio ela cairia fora do mesmo.

Galileu demonstrou através da experimentação cientifica que a moeda cairá ao pé do mastro.

Podemos fazer a seguinte experiência, pegue uma bola ou moeda e comece a andar em linha reta.

Em algum momento da caminha deixe o objeto que está segurando cair. Você verá que ele cairá na

base de seus pés.

Isaac Newton transformou a ideia de Galileu na Lei da Inércia, também conhecida como a 1a

Lei de Newton. Essa Lei vai de encontro à ideia da física aristotélica de que um corpo tende a

permanecer em movimento devido ao fato de que sempre existirá uma força, atuando sobre este

corpo, dando assim continuidade ao movimento.

Na verdade o que acontece é que uma vez que uma força14

seja exercida sobre objeto material

(uma bola, um carro, uma pessoa sobre patins), ela continuará em movimento devido a essa

qualidade inerente a matéria: a inércia.

O próprio Newton em seu livro nos afirma que o termo mais apropriado para essa propriedade

seria vis inertiae (Newton, 1667, p.40).

6. AS TRÊS LEIS UNIFICADORAS DA MECÂNICA CLÁSSICA

A primeira lei de Newton também conhecida como Lei da Inércia afirma que: “Todo corpo

continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em Linha reta, a menos que ele seja

forçado a mudar aquele estado por forças imprimidas sobre ele15

.”

A primeira Lei de Newton pode ser observada na vida diária, embora passe despercebida.

Podemos exemplificar isso no carro parado (repouso) na rua. Quando o motorista entra e dar a

partida ele o coloca em movimento que se dar segundo uma reta.

A segunda lei, (ver equação 2) nos afirma que: “A mudança de movimento é proporcional à

força motora imprimida, e é produzida na direção da linha reta na qual aquela força é imprimida.”

(2)

Essa lei é expressa hoje da seguinte maneira: “A resultante das forças aplicadas a um ponto

material é igual ao produto de sua massa pela aceleração adquirida”

No caso da segunda Lei de Newton, imaginemos três astronautas. Eles resolvem fazer uma

experiência empurrando um deles em direção ao outro astronauta, conforme pode ser visto na figura

1. Quando o astronauta empurra seu companheiro ele também sofrerá uma ação contrária a que ele

exerceu sobre seu colega. Mas ai teremos um problema. À medida que eles se empurram uns aos

outros, tenderam a se afastar e chegará um momento em que a distância entre eles será tal que não

haverá mais a possibilidade de continuar a experiência, além de ser perigoso, pois se correr o risco

de se ficar perdido no espaço.

13

Galileu desfez várias das afirmações feitas por Aristóteles, entre elas a de que corpos pesados cairiam mais

rápido do que corpos leves 14 Uma importante constatação da Lei da Inércia é o Teorema do impulso 15

Se não existisse atrito entre a borracha do pneu de um carro e a superficie tocada, o veiculo poderia se manter

em movimento para sempre

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A terceira lei de Newton nos afirma que: “A toda ação há sempre oposta uma reação igual ou,

as ações mutuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas a partes opostas.”

(Newton, 1667, p.41).

De todas as três leis enunciadas por Newton a única para a qual ele apresentou evidências

experimentais foi à última. Essas evidências foram tiradas de experimentos quantitativos

envolvendo a colisão entre corpos rígidos de diferentes tipos de massas.

7. UMA CRÍTICA A MECÂNICA CLÁSSICA

A Mecânica clássica de Newton ainda traz outras implicações. As leis de Newton são válidas

em um sistema de coordenadas inerciais. Esse sistema tem as estrelas fixas como parâmetro, isso

serve para fenômenos cuja velocidade estamos habituados no cotidiano, fenômenos esses cujas as

velocidades sejam bem inferiores a da luz (v<<c), nesse caso a massa é constante. Já de acordo com

a teoria da relatividade de Einstein (1879-1955) a massa é função da velocidade, ou seja quanto

maior a velocidade maior a massa16

. A teoria de Einstein nos diz que nada pode viajar com uma

velocidade superior a da luz no vácuo. Nesse caso o principio da ação da e reação de Newton

(terceira lei) falha a quando o aplicarmos a forças de campo que estão a grandes distâncias. Nesse

caso os movimentos de ação e reação não são simultâneos, levando-se um determinado tempo para

propagação da interação.

8. SOBRE OS OMBROS DE GIGANTES

A célebre frase dita por Newton, nos mostra como o conhecimento cientifico é construído. Esse

conhecimento se dar de forma dinâmica e ao mesmo estruturado. É como um edifício no qual

primeiro se lançam os alicerces, depois as pilastras e vigas e por último vem às paredes. Podemos

dizer que o que Newton fez foi absorver as ideias de Galileu Galilei, Johannes Kepler René

Descartes, Sir Francis Bacon.

De Galileu, Newton legou o método experimental, método esse que Galileu descreveu em seu

livro “O Ensaidor”. Nesse livro Galileu lança os fundamentos do método cientifico moderno, que

tem a seguinte estrutura, segundo nos afirma (Rocha, 2002, p.85):

16

Recomendamos a leitura do livro “Física Conceitual” de Paul G. Hewitt, John Suchocki, Leslie A. Hewitt.

Figura 1. Experiências feitas por astronautas demonstrando a Terceira Lei de Newton, também

conhecido como princípio da ação e reação Crédito: Física Conceitual - Paul G. Hewitt, John

Suchocki, Leslie A. Hewitt

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As causas de um fenômeno, postas pelo pensamento na forma de hipóteses (...),

devem sempre ser verificadas pela observação.(...)17

O método galileano é, no entanto,

racional, pois é a inteligência que descobre as conexões necessárias à formulação de leis

matemáticas, além de corrigir e ampliar o alcance da observação sensível

Joahnnes Kepler (1571–1630) viveu em uma época em que os dogmas aristotélicos fixavam a

Terra como o centro do Universo18

. Ele trabalhou como assistente de Tycho Brahe, um astrônomo

dinamarquês, que tinha grandes possessões e levava uma vida nababesca19

. Kepler teve que espera

até a morte de seu mestre para ter acesso completo a suas observações. Segundo (SAGAN, 1980

,p45) “Tycho foi o maior observador de seu tempo, e Kepler o maior teórico.

Brahé tinha um gênio difícil e deu uma tarefa árdua para Kepler. Analisar a órbita de Marte.

Kepler prometeu que em oito dias o faria, mas levou oito anos, até que um dia ele teve uma intuição

de que a órbita de Marte é uma elipse e não um círculo20

. Assim ele pode deduzir as três leis de

Kepler que regem os movimentos dos astros.

Kepler ainda chegou a deduzir que haveria uma força que emanava do Sol, mas atribuiu a essa

força um caráter religioso. Segundo (Sagan, 1980 ,p56) foi a partir daí que Newton deduziu a

gravidade e a compreensão da Astronomia dinâmica.

René Descartes, matemático, deu como contribuição a matemática, a geometria analítica.

Descartes foi uma das leituras de Newton em Cambridge, com ele nasceu o pensamento moderno

(Giles, 1979, p. 62). Em seu livro Discurso, Descartes afirma o princípio da duvida metódica, como

uma forma de se chegar ao conhecimento. De Sir Francis Bacon, Newton legou o raciocínio

indutivo21

, e ao que nos parece a aversão pelo dogma estabelecido, pois quem buscava o

conhecimento deveria, “...começar com dados concretos, preferivelmente encontrados por meio de

experimento, e raciocinar indutivamente e a partir desses dados para chegar a conclusões reais,

gerais e empiricamente apoiadas.” (Brennan, 2000, p.24)

9. CONCLUSÃO

Diante dos fatos expostos acima, podemos concluir que, a obra de Newton representa o ápice

de uma revolução cientifica e filosófica na maneira de ver e conceber o mundo. Isaac Newton soube

aproveita o que havia de melhor em sua época, trazendo com isso grandes contribuições para a

física, a matemática e a filosofia, ainda que nessa de uma forma indireta.

Sua obra é a base teórica dos cursos de Física no ensino médio ao redor do mundo, bem como

de cursos superiores na área das ciências exatas. Seu grande trunfo foi mostra que a natureza tem

leis e que essas leis podem ser generalizadas, e colocadas em notação matemática.

17

Para maiores detalhes o leitor poderá consulta a obra: “Origens e Evolução das ideias da Física, EDUFBA, p.

84-85 18

Quem ousasse desafiar os preceitos da mecânica aristotélica corria o risco de ser queimando pela igreja católica. 19

A vida nababesca de Tycho durou até a morte do Rei sueco Frederico II. Rodolfo II lhe cedeu o castelo de

Benatek, na Eslováquia. 20

Um dos grandes paradigmas da ciência aristotélica era a de que o circulo era uma figura perfeita e por isso os

astros em seu movimento descreviam círculos. 21

O raciocínio indutivo vai do particular para geral, enquanto que o dedutivo do geral para o particular. Sobre a

indução e a dedução o leitor poderá consulta a obra “Introdução a Filosofia, de Thomas Ramson Giles, E.P.U., 1979.

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10. AGRADECIMENTOS

Agradecemos em primeiro lugar a Deus, Criador do Universo, das ciências e da Física em

particular, ao professor Bosco pela oportunidade em poder escrever este artigo, aos nossos

familiares e amigos pelo incentivo e apoio.

REFERÊNCIAS

BRENNAN, Richard P. Gigantes da física: uma História da física moderna através de oito

biografias. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2000.

CHERMAN, Alexandre. Sobre os ombros de gigantes: Uma História da Física. Rio de

Janeiro: J.Zahar, 2004.

COHEN, I. Bernard SMITH, George E, The Cambridge Companion to Newton. Cambridge

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GILES, Thomas Ramson. Introdução à Filosofia: Terceira edição revista e ampliada. E.P.U.,

São Paulo, 1979.

GUARDELLI, Daniel. Caderno Brasileiro de Ensino de Física. Florianópolis, v. 16, n. 1,

1999. Disponível em < www.periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/viewFile/6875/6335>

acesso em: 10/10/2010.

MILTON, Simon. The Cambridge Encyclopædia of Astronomy. Crown Publishers, New

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NEWTON, I. Principia - Princípios Matemáticos de Filosofia Natural. EDUSP, São Paulo,

2000, livro 1. Tradução de T. Ricci; L. G. Brunet; S. T. Gehring e M. H. C. Célia.

PIRES, Antônio S.T. Evolução da ideias da Física. Livraria da Física Editora, 2008, 2a

edição.

ROCHA, José Fernando. Origens e Evolução da Ideias da Física. EDUFBA, 2002.

SAGAN, Carl. Cosmos. Balatine Books, 1985

TIPLER, Paul. A. Physics for Scientists and Engineers. New York: Worth Publishers, 1999,

Volume 1.

HEWITT, Paul G; SUCHOCKI, John, HEWITT, Leslie A. Conceptual Phyisical Science,

Addison Wesley Longman, 1999,

Page 10: As Leis de Newton

Instituto Federal do Maranhão – Campus de Imperatriz

Seminário de Física II – apresentação 30/11/2010

Abstract. In this paper we will talk a little about the life and masterpiece of Isaac Newton, limited

here to classical mechanics, who is considered one of the greatest minds of mankind, Isaac Newton.

We will talk about the process of how Principia Mathematica – Philosophia Naturalis, his

masterpiece was designed, and that came to science history like a hallmark for breaking once at all

with the aristotelics physics, unifying in this way Earth and Heaven, establishing the experimental

scientific method as a source of scientific knowledge. To this, Newton had the support of giants like

Galileu from who he used the experimental scientific method, Johann Kepler from who he deducted

the Law of Universal Gravitation as well its mathematical expression, and till having as basis for

his thinking the philosophy of Sir Francis Bacon and Descartes

Keywords: Isaac Newton, classic mechanics, Scientific Revolution