As Obrigações Do Tesouro e Os Swaps de Risco de Incumprimento Análise Da Sua Inter-relação...

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  • UNIVERSIDADE DO ALGARVE

    FACULDADE DE ECONOMIA

    AS OBRIGAES DO TESOURO E OS SWAPS DE RISCO DE

    INCUMPRIMENTO: ANLISE DA SUA INTER-RELAO

    APLICADA AO CASO PORTUGUS

    NUNO ALBERTO MARTINS GONALVES

    Mestrado em Finanas Empresariais

    FARO

    2012

  • UNIVERSIDADE DO ALGARVE

    FACULDADE DE ECONOMIA

    AS OBRIGAES DO TESOURO E OS SWAPS DE RISCO DE

    INCUMPRIMENTO: ANLISE DA SUA INTER-RELAO

    APLICADA AO CASO PORTUGUS

    NUNO ALBERTO MARTINS GONALVES

    Mestrado em Finanas Empresariais

    Dissertao orientada por:

    Professora Doutora Cristina Pereira Viegas de Oliveira

    Professor Doutor Jorge Miguel Lopo Gonalves Andraz

    FARO

    2012

  • viii

    NDICE GERAL

    ndice de Tabelas ............................................................................................................... x

    ndice de Figuras ............................................................................................................. xv

    Agradecimentos ............................................................................................................. xix

    Resumo ........................................................................................................................... xx

    Abstract ......................................................................................................................... xxii

    Captulo 1 INTRODUO ........................................................................................... 1

    1.1 Evoluo da Dvida Pblica Portuguesa ............................................................. 1

    1.2 Portugal e a Crise Financeira Internacional ...................................................... 4

    1.3 Contedo e Metodologia de Estudo ..................................................................... 6

    1.4 Estrutura da Dissertao...................................................................................... 9

    Captulo 2 REVISO DE LITERATURA .................................................................. 10

    2.1 Introduo ........................................................................................................... 10

    2.2 Obrigaes do Tesouro (OT) .............................................................................. 10

    2.3 Swaps de Risco de Incumprimento (Credit Default Swaps CDS) ................. 13

    2.4 Relao entre CDS e Obrigaes: O Estado da Arte ....................................... 15

    Captulo 3 - METODOLOGIA ECONOMTRICA ...................................................... 27

    3.1. Introduo .......................................................................................................... 27

    3.2 A Abordagem dos Vetores Autoregressivos (VAR) ........................................... 28

    3.3 A Aplicabilidade da Metodologia VAR; Funes Resposta a Impulso,

    Causalidade de Granger e a Decomposio da Varincia ..................................... 32

    3.4. Anlise Univariada e de Cointegrao ............................................................. 36

    Captulo 4 - ANLISE EMPRICA ............................................................................... 43

    4.2 Dados: Descrio e Fontes .................................................................................. 43

    4.3 Anlise Preliminar: Estacionariedade e Cointegrao .................................... 45

    4.3. Especificao e Estimao dos Modelos Vetoriais Autoregressivos .............. 47

    4.5. Funes de Resposta a Impulso e Decomposio da Varincia ..................... 51

    4.6. A Falncia do Banco Lehman Brothers: O que mudou? ................................ 55

  • ix

    4.6.1. Anlise para a Maturidade a 2 anos .............................................................. 55

    4.6.2. Anlise para a Maturidade a 5 anos .............................................................. 65

    Captulo 5 - CONCLUSO ............................................................................................ 74

    Referncias Bibliogrficas .............................................................................................. 81

    Apndice A Relao Entre Prmio dos CDS e Diferenciais de Rendibilidade de OT

    nas Maturidades a 2 e 5 Anos ......................................................................................... 86

    Apndice B Relao Entre Prmio dos CDS e Diferenciais de Rendibilidade de OT no

    Subperodo Pr e Ps a Falncia do Banco Lehman Brothers na Maturidade a 2 Anos. 99

    Apndice C Relao Entre Prmio dos CDS e Diferenciais de Rendibilidade de OT no

    Subperodo Pr e Ps a Falncia do Banco Lehman Brothers na Maturidade a 5 Anos

    ...................................................................................................................................... 113

  • x

    ndice de Tabelas

    Tabela 4.1 - Testes ADF .............................................................................................................. 46

    Tabela 4.2 Testes de cointegrao das sries CDS e OT nas maturidades de 2 e 5 anos (n de

    relaes de cointegrao) ............................................................................................................ 46

    Tabela 4.3- Critrios de seleo da ordem do modelo VAR para a maturidade a 2 anos ............ 48

    Tabela 4.4- Critrios de seleo da ordem do modelo VAR para a maturidade a 5 anos ............ 48

    Tabela 4.5 - Resultados da estimao do modelo VAR para a maturidade a 2 anos ................... 49

    Tabela 4.6- Resultados da estimao do modelo VAR para a maturidade a 5 anos .................... 50

    Tabela 4.7 - Testes de causalidade de Granger para a maturidade a 2 anos ................................ 51

    Tabela 4.8 - Testes de causalidade de Granger para maturidades de 5 anos ............................... 51

    Tabela 4.9 - Testes ADF para a maturidade a 2 anos e nos perodos pr falncia do banco

    Lehman Brothers ......................................................................................................................... 56

    Tabela 4.10 - Testes ADF para a maturidade a 2 anos e nos subperodos ps falncia do banco

    Lehman Brothers ......................................................................................................................... 56

    Tabela 4.11- Tabela 4.11- Teste de cointegrao de Johansen das sries CDS e OT a 2 anos nos

    subperodos pr e ps falncia do Lehman Brothers ................................................................... 57

    Tabela 4.12 - Critrios de seleo das ordens do modelo VAR na maturidade a 2 anos no

    subperodo pr falncia do banco Lehman Brothers ................................................................... 57

    Tabela 4.13 - Critrios de seleo das ordens do modelo VAR na maturidade a 2 anos no

    subperodo ps falncia do banco Lehman Brothers .................................................................. 58

    Tabela 4.14 - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 2 anos no subperodo

    pr falncia do banco Lehman Brothers ...................................................................................... 58

    Tabela 4.15 - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 2 anos no subperodo

    ps falncia do banco Lehman Brothers ..................................................................................... 59

    Tabela 4.16 - Testes de causalidade de Granger para a maturidade a 2 anos no subperodo pr

    falncia do banco Lehman Brothers ............................................................................................ 60

  • xi

    Tabela 4.17 - Testes de causalidade de Granger para a maturidade a 2 anos no subperodo ps

    falncia do banco Lehman Brothers ............................................................................................ 60

    Tabela 4.18 - Testes ADF para a maturidade a 5 anos e nos perodos pr falncia do banco

    Lehman Brothers ......................................................................................................................... 65

    Tabela 4.19 - Testes ADF para a maturidade a 5 anos e nos perodos ps falncia do banco

    Lehman Brothers ......................................................................................................................... 65

    Tabela 4.20 - Teste de Cointegrao de Johansen das sries CDS e OT a 5 anos nos perodos pr

    e ps falncia do Lehman Brothers ............................................................................................. 66

    Tabela 4. 21 - Critrios de seleo das ordens do modelo VAR na maturidade a 5 anos no

    subperodo pr falncia do banco Lehman Brothers ................................................................... 67

    Tabela 4. 22 - Critrios de seleo das ordens do modelo VAR na maturidade a 5 anos no

    subperodo ps falncia do banco Lehman Brothers .................................................................. 67

    Tabela 4.23- Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 5 anos no subperodo

    pr falncia do banco Lehman Brothers ...................................................................................... 68

    Tabela 4. 24 - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 5 anos no subperodo

    ps falncia do banco Lehman Brothers ..................................................................................... 69

    Tabela 4. 25 - Testes de causalidade de Granger na maturidade a 5 anos no subperodo pr

    falncia do banco Lehman Brothers ............................................................................................ 69

    Tabela 4. 26 - Testes de causalidade de Granger na maturidade a 5 anos no subperodo ps

    falncia do banco Lehman Brothers ............................................................................................ 70

  • xii

    Apndice A

    Tabela A 1 Testes ADF para a varivel CDS na maturidade a 2 anos ...................................... 87

    Tabela A 2 Testes ADF para a varivel OT na maturidade a 2 anos ......................................... 88

    Tabela A 3 Testes ADF para a varivel CDS na maturidade a 5 anos ...................................... 89

    Tabela A 4 Testes ADF para a varivel OT na maturidade a 5 anos .......................................... 90

    Tabela A 5 Testes ADF para a varivel CDS em 1 diferenas na maturidade a 2 anos ............ 91

    Tabela A 6 Testes ADF para a varivel OT em 1 diferenas na maturidade a 2 anos .............. 92

    Tabela A 7- Testes ADF para a varivel CDS em 1 diferenas na maturidade a 5 anos ............ 93

    Tabela A 8 Testes ADF para a varivel OT em 1 diferenas na maturidade a 5 anos .............. 94

    Tabela A 9 Testes de cointegrao das sries CDS e OT na maturidade a 2 anos ..................... 95

    Tabela A 10 Testes de cointegrao das sries CDS e OT na maturidade a 5 anos ................... 96

    Tabela A 11- Resultados da estimao do modelo VAR para a maturidade a 2 anos .................. 97

    Tabela A 12- Resultados da estimao do Modelo VAR para a maturidade a 5 anos ................. 98

    Apndice B

    Tabela B 1 Testes ADF para a varivel CDS no subperodo pr falncia do banco Lehman

    Brothers na maturidade a 2 anos ............................................................................................... 100

    Tabela B 2 Testes ADF para a varivel OT no subperodo pr falncia do banco Lehman

    Brothers na maturidade a 2 anos ............................................................................................... 101

    Tabela B 3 Testes ADF para a varivel CDS em 1 diferenas no subperodo pr falncia do

    banco Lehman Brothers na maturidade a 2 anos....................................................................... 102

    Tabela B 4 Testes ADF para a varivel OT em 1 diferenas no subperodo pr falncia do

    banco Lehman Brothers na maturidade a 2 anos....................................................................... 103

    Tabela B 5 Testes ADF para a varivel CDS no subperodo ps falncia do banco Lehman

    Brothers na maturidade a 2 anos ............................................................................................... 104

    Tabela B 6 Testes ADF para a varivel OT no subperodo ps falncia do banco Lehman

    Brothers na maturidade a 2 anos ............................................................................................... 105

  • xiii

    Tabela B 7 Testes ADF para a varivel CDS em 1 diferenas no subperodo ps falncia do

    banco Lehman Brothers na maturidade a 2 anos....................................................................... 106

    Tabela B 8 Testes ADF para a varivel OT em 1 diferenas no subperodo ps falncia do

    banco Lehman Brothers na maturidade a 2 anos....................................................................... 107

    Tabela B 9 Teste de cointegrao de Johansen das sries CDS e OT a 2 anos no subperodo pr

    falncia do Lehman Brothers .................................................................................................... 108

    Tabela B 10 Teste de cointegrao de Johansen das sries CDS e OT a 2 anos no subperodo

    ps falncia do Lehman Brothers .............................................................................................. 109

    Tabela B 11 - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 2 anos no subperodo

    pr falncia do banco Lehman Brothers .....................................................................................110

    Tabela B 12 - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 2 anos no subperodo

    ps falncia do banco Lehman Brothers .................................................................................... 111

    Tabela B 13 (continuao) - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 2 anos

    no subperodo ps falncia do banco Lehman Brothers ............................................................112

    Apndice C

    Tabela C 1 Testes ADF para a varivel CDS no subperodo pr falncia do banco

    Lehman Brothers na maturidade a 5 anos ..................................................................... 114

    Tabela C 2 Testes ADF para a varivel OT no subperodo pr falncia do banco

    Lehman Brothers na maturidade a 5 anos ..................................................................... 115

    Tabela C 3 Testes ADF para a varivel CDS em 1 diferenas no subperodo pr

    falncia do banco Lehman Brothers na maturidade a 5 anos ....................................... 116

    Tabela C 4 Testes ADF para a varivel OT em 1 diferenas no subperodo pr falncia

    do banco Lehman Brothers na maturidade a 5 anos ..................................................... 117

    Tabela C 5 Testes ADF para a varivel CDS no subperodo ps falncia do banco

    Lehman Brothers na maturidade a 5 anos ..................................................................... 118

  • xiv

    Tabela C 6 Testes ADF para a varivel OT no subperodo ps falncia do banco

    Lehman Brothers na Maturidade a 5 anos .................................................................... 119

    Tabela C 7 Testes ADF para a varivel CDS em 1 diferenas no subperodo ps

    falncia do banco Lehman Brothers na maturidade a 5 anos ....................................... 120

    Tabela C 8 Testes ADF para a varivel OT em 1 diferenas no subperodo ps

    falncia do banco Lehman Brothers na maturidade a 5 anos ....................................... 121

    Tabela C 9 Teste de Cointegrao de Johansen das sries CDS e OT a 5 anos no

    subperodo pr falncia do Lehman Brothers ............................................................... 122

    Tabela C 10 Teste de Cointegrao de Johansen das sries CDS e OT a 5 anos no

    subperodo ps falncia do Lehman Brothers ............................................................... 123

    Tabela C 11 - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 5 anos no

    subperodo pr falncia do banco Lehman Brothers .................................................... 124

    Tabela C 11 (continuao) - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 5

    anos no subperodo ps falncia do banco Lehman Brothers ....................................... 125

    Tabela C 12 - Resultados da estimao do modelo VAR na maturidade a 5 anos no

    subperodo ps falncia do banco Lehman Brothers .................................................... 126

  • xv

    ndice de Figuras

    Figura 2.1 Fluxos simplificados do CDS ..................................................................... 13

    Figura: 3. 1 Relao de interdependncia entre Diferenciais de Rendibilidade de OT e Prmios

    de CDS ........................................................................................................................................ 27

    Figura 4. 1 Prmios do CDS e diferenciais das OT relativos a Portugal a 2 anos ................... 44

    Figura 4. 2 Prmios dos CDS e diferenciais das OT relativos a Portugal a 5 anos .................. 44

    Figura 4. 3 - Funes resposta a impulso para a maturidade a 2 anos ........................................ 52

    Figura 4. 4 - Funes resposta a impulso para a maturidade a 5 anos ........................................ 52

    Figura 4. 5 - Decomposio da varincia para a maturidade a 2 anos ........................................ 54

    Figura 4. 6 - Decomposio da varincia para a maturidade a 5 anos ........................................ 54

    Figura 4.7 - Funes resposta a impulso para a maturidade a 2 anos subperodo pr falncia do

    banco Lehman Brothers .............................................................................................................. 61

    Figura 4.8 - Funes resposta a impulso para a maturidade a 2 anos subperodo ps falncia do

    banco Lehman Brothers .............................................................................................................. 61

    Figura 4. 9 - Decomposio da varincia para a maturidade a 2 anos subperodo pr falncia do

    banco Lehman Brothers .............................................................................................................. 63

    Figura 4. 10 - Decomposio da varincia para a maturidade a 2 anos subperodo ps falncia

    do banco Lehman Brothers ......................................................................................................... 64

    Figura 4. 11 - Funes resposta a impulso para a maturidade a 5 anos subperodo pr falncia do

    banco Lehman Brothers .............................................................................................................. 71

    Figura 4. 12 - Funes resposta a impulso para a maturidade a 5 anos subperodo ps falncia

    do banco Lehman Brothers ......................................................................................................... 71

    Figura 4. 13 - Decomposio da varincia para a maturidade a 5 anos subperodo pr falncia do

    banco Lehman Brothers .............................................................................................................. 73

    Figura 4. 14 - Decomposio da varincia para a maturidade a 5 anos subperodo ps falncia

    do banco Lehman Brothers ......................................................................................................... 73

  • xvi

  • xvii

    Lista de Abreviaturas

    ADF Teste de Dickey-Fuller Aumentado

    AIC (Akaike Information Criterion) Critrio de Informao de Akaike

    ARMA Modelo Auto-regressivo Integrado de Mdia Mvel

    BT Bilhetes do Tesouro

    CDS (Credit Default Swaps) Swaps de risco de incumprimento

    CLIP Crdito em Sistema de Leilo ao Investimento Pblico

    DCDS Prmios de CDS em 1 Diferenas

    DF Testes Dickley-Fuller

    DOT Diferenciais de Taxas de Rendibilidade de Obrigaes do Tesouro

    Portuguesas

    FEFF Fundo Europeu de Estabilizao Financeira

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    IGCP Instituto de Gesto da Tesouraria e do Crdito Pblico

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    LRA (Lieklihood Ratio Test) Teste de Rcio de Verosimilhana

    MAPE Erro de Preos Mdio Absoluto

    MEDIP Mercado Especial da Dvida Pblica

    MPE Erro de Preos Mdio

    OCA Obrigaes de Capitalizao Automtica

    OEVT Operadores Especializados em Valores do Tesouro

    OT Obrigaes do Tesouro

    OTRV Obrigaes de Taxa Varivel

    PEC Plano de Estabilidade e Crescimento

  • xviii

    PIB Produto Interno Bruto

    SC (Bayesian Information Criterion) Critrio de Schwarz

    VAR Vectores Autorregressivos

    VECM Modelo Vetorial de Correo de Erros

    YTM (yield to maturity) Taxa de Rendibilidade de uma Obrigao at

    Maturidade

  • xix

    Agradecimentos

    Gostaria de agradecer Professora Doutora Cristina Pereira Viegas de Oliveira e ao

    Professor Doutor Jorge Miguel Lopo Gonalves Andraz pelo enexcedivel empenho e

    colaborao na elaborao desta dissertao.

    Gostaria tambm de agradecer Dr. Nlia Pereira, pela possibilidade de aceder a dados

    relativos ao mercado dos CDS, com os quais tornou-se possvel elaborar as anlises

    empricas.

    Finalmente, e numa nota mais pessoal, gostaria de agradecer minha famlia, pelo

    apoio, compreenso e confiana que me concederam. Agradeo ainda aos meus avs,

    que foram sempre a minha inspirao.

  • xx

    Resumo

    Com a crise financeira internacional, com incio em 2007, as preocupaes acerca da

    solvabilidade das instituies comearam a estar no centro das atenes. Em Portugal,

    os prmios dos swaps de risco de incumprimento acompanharam a subida das taxas de

    rendibilidade das obrigaes, o que constituiu para os mercados um indcio do aumento

    do risco de incumprimento.

    Neste contexto, a presente dissertao pretende identificar a relao entre o diferencial

    de taxas de rendibilidade das Obrigaes do Tesouro portugus (OT) e os prmios dos

    swaps de risco de incumprimento da dvida soberana portuguesa (CDS), e em que

    medida essa relao se alterou com a falncia do banco Lehman Brothers. So usados

    dados dirios nas maturidades a dois e a cinco anos, abrangendo o perodo

    compreendido entre 1 de Maio de 2007 e 7 de Outubro de 2011.

    O valor acrescentado do presente trabalho traduz-se na dimenso relativamente alargada

    e atual das sries de dados utilizadas e na anlise desenvolvida para os subperodos

    anterior e posterior falncia do banco Lehman Brothers, permitindo obter concluses

    bastante informativas acerca da forma como a instabilidade financeira tem afetado o

    comportamento dos agentes econmicos.

    Com base na estimao de modelos de vetores autoregressivos (VAR) para as duas

    variveis, os resultados obtidos revelam no existncia de uma relao de longo prazo

    entre as variveis, com exceo do perodo posterior falncia do Lehman Brothers e

    apenas quando se consideram as maturidades a dois anos e um reforo da inter-relao

    entre as variveis aps a crise do Lehman Brothers.

  • xxi

    Palavras-chave: swaps de risco de incumprimento; obrigaes do Tesouro; risco de

    crdito; Modelos VAR; Cointegrao, Causalidade de Granger.

  • xxii

    Abstract

    With the international financial crisis, starting in 2007, concerns about the solvency of

    institutions began to be in the spotlight. In Portugal, the premiums on credit default

    swaps tracked the rise in bonds yields, which constituted a clue to the markets of the

    increased risk of default.

    In this context, this paper aims to identify the relationship between the difference in

    yields on Portuguese Treasury bonds (OT) and the premiums on credit default swaps of

    the Portuguese sovereign debt (CDS), and to what extent this relationship has changed

    with Lehman Brothers bankruptcy. Daily data was used in maturities of two and five

    years, covering the period from May 1, 2007 to October 7, 2011.

    The added value of this work is reflected in the relatively broad size and recent data sets

    used and the analysis of the subperiods before and after the crisis of Lehman Brothers,

    allowing enough information to draw conclusions about how financial instability has

    affected the behavior of economic agents.

    Based on the estimation of autoregressive vector models (VAR) for the two variables,

    the results show a lack of long-term relationship between the variables, except for the

    period following Lehman Brothers bankruptcy and only when we consider the two year

    maturity and a strengthening of the interrelation between variables after the Lehman

    Brothers crisis.

    Keywords: credit default swaps, government bonds, credit risk, VAR models,

    cointegration, Granger Causality.

  • 1

    Captulo 1 INTRODUO

    1.1 Evoluo da Dvida Pblica Portuguesa

    A economia portuguesa em finais do sculo XIX, comparativamente com a economia

    dos pases da periferia europeia como a Espanha, a Irlanda ou a Itlia, era uma das mais

    atrasadas da Europa. Esta opinio partilhada por autores como Rosas (1987),

    Gonalves (1998), Mateus (1998), Lains (2003) e Mata e Valrio (2003). Em

    comparao direta com a mdia dos pases da futura Comunidade Europeia a 151, o PIB

    per capita portugus era bastante inferior.

    No campo das finanas pblicas, o nvel de endividamento que se verificava era

    insustentvel, agravados pelo abandono do sistema padro-ouro em 1891 e a declarao

    de uma moratria em relao dvida externa. Tal como abordado por Rosas (1987),

    em 1892, Portugal declara bancarrota (parcial), com uma dvida a representar 90% do

    PIB.

    Santos (2001) refere que a crise financeira foi acompanhada por uma crise econmica

    com uma estagnao do crescimento e da riqueza. J Rosas (1987) relaciona as crises

    econmica e financeira com o Ultimatum britnico de 1890, para explicar a queda da

    monarquia e a Revoluo Republicana de 5 de Outubro de 1910.

    Decorridos apenas quatro anos aps esta revoluo, tem incio a Primeira Guerra

    Mundial, o que teria consequncias econmicas e financeiras imediatas. Mateus (1998)

    1 Frana, Alemanha, Itlia, Holanda, Blgica, Luxemburgo, Gr-Bretanha, Irlanda, Dinamarca, Grcia,

    Portugal, Espanha, ustria, Finlndia e Sucia.

  • 2

    refere a quebra de 13% do PIB durante o perodo da grande guerra (1913-1918). O

    esforo de guerra seria financiado atravs do aumento da dvida pblica que viria a

    culminar na obteno de sucessivos emprstimos do Banco de Portugal e com enormes

    volumes de emisso monetria. Mata e Valrio (2003) referem ainda a subida dos nveis

    da inflao com o ndice de preos no consumidor a subir de 100 para 420 pontos base,

    entre 1914 e 1920, facto esse, em parte, explicado pelo aumento da oferta de moeda (de

    195 para 840 mil contos).

    Portugal entra na dcada de 1920 com uma situao econmica e financeira muito

    negativa, e apesar de alguma vitalidade econmica e de uma poltica visando a

    sustentabilidade das contas pblicas, os problemas surgiam tambm na prpria

    sociedade. A grande guerra viria a provocar a disrupo do abastecimento de matrias-

    primas fundamentais, como cereais e carvo. Acrescia ainda a grave instabilidade

    poltica que ditava constantes manifestaes e violncia.

    A revoluo de 1926, na qual se inaugurou o perodo designado por Ditadura Militar, e

    que viria a ter termo em 1933, deu prioridade sustentabilidade financeira. Assim, foi

    possvel manter um saldo oramental equilibrado e proceder de forma sustentada a uma

    diminuio da dvida pblica nacional.

    Em 1928, a entrada de Antnio de O. Salazar como ministro das Finanas (at 1932

    onde passar a Primeiro-ministro) e a institucionalizao da nova constituio que viria

    a legitimar a introduo do Estado Novo, dita o maior recuo da dvida pblica.

    Com a Revoluo de 25 de Abril de 1974 deu-se um aumento sucessivo da dvida

  • 3

    pblica. De acordo com Pereira (2011), entre 1974 e 1984, a dvida pblica cresce de

    13,9% para 50,3%, facto que se deve em grande parte a um aumento dos vencimentos

    dos funcionrios pblicos e a uma maior cobertura social.

    Como consequncia da revoluo de 1974, d-se o encerramento da Bolsa de Valores

    de Lisboa e a disrupo do mercado de obrigaes durante dois anos. A emisso de

    divida retomada em 1976.

    Entre 1977 e 1978, as autoridades vm-se forados a adotar programas de ajustamento

    definidos pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI), o que se viria a repetir no perodo

    1983 a 1985.

    At meados da dcada de 80, os instrumentos de financiamento do Estado eram de

    natureza no transacionvel. No meio dessa dcada, foram criados os Bilhetes do

    Tesouro (BT), os Crdito em Sistema de Leilo ao Investimento Pblico (CLIP),

    Obrigaes de Capitalizao Automtica (OCA) e Obrigaes do Tesouro (OT).

    Em 1994, d-se a introduo das obrigaes de taxa varivel (OTRV), justificadas pela

    instabilidade dos mercados europeus e a volatilidade das taxas de juro domsticas.

    Ainda de acordo com o IGCP2, em 2000 criado Mercado Especial da Dvida Pblica

    (MEDIP), que mercado especializado para a negociao por grosso dos instrumentos

    da dvida pblica.

    2 http://www.igcp.pt/gca/?id=71 Acedido em 12 de Dezembro de 2011

  • 4

    Foi tambm durante a dcada de 2000 que Portugal foi extremamente beneficiado com a

    entrada para a zona Euro, pois passou a usufruir de condies de acesso ao crdito sem

    precedentes nos mercados financeiros internacionais. No entanto, essa situao positiva

    era acompanhada por um crescimento econmico anmico e o acumular de dfices e de

    dvida.

    O regime de taxas de juro baixas, aps a introduo do Euro, fomentou na opinio de

    (2010) uma maior tendncia para o endividamento. Essa tendncia foi acompanhada

    pelos vrios bancos centrais, com a subida do endividamento na generalidade dos

    pases.

    1.2 Portugal e a Crise Financeira Internacional

    Tal como evidenciado pela Comisso Europeia (2009), a crise financeira internacional

    com incio em 2007 foi uma das principais causas para o que foi apelidado de crise das

    dvidas soberanas europeias.

    Com a crise financeira internacional de 2007, designada pela comunicao social de

    Crise do Subprime (visto incidir nas hipotecas de alto risco), as preocupaes acerca da

    solvabilidade das instituies, voltaram a centrar atenes, incidindo com especial

    relevo nas instituies financeiras. Episdios como o resgate do Fannie Mae e Freddy

    Mac, assim como a falncia do banco Lehman Brothers, constituem exemplos de uma

    srie de acontecimentos ocorridos por todo o mundo.

    A maior perceo dos investidores em relao ao risco soberano foi desencadeada em

  • 5

    2009 por 2 eventos distintos3. Em primeiro lugar, o anncio de que a Dubai World

    (empresa responsvel pela gesto de investimentos do Governo do Dubai) fora forada

    a adiar e reestruturar o pagamento das suas dvidas, sobretudo em resultado do forte

    abrandamento da liquidez nos mercados internacionais e da recesso vivida no sector

    imobilirio. Em segundo lugar, e mais determinante, foi o anncio da duplicao do

    dfice pblico da Grcia face s estimativas iniciais. De acordo com Kouretas e Vlamis

    (2010), o dfice oramental grego de 2009, que fora estimado em cerca de 6,5% do PIB,

    foi revisto para 13% e a dvida pblica calculada para um valor superior a 112% do PIB.

    Este anncio levou a ateno coletiva dos mercados a fixar-se num eventual risco de

    incumprimento do Tesouro da Grcia um receio ampliado pela desconfiana em

    relao credibilidade das contas pblicas gregas e pela perspetiva de baixo

    crescimento desta economia nos prximos anos.

    Os receios dos mercados tornaram-se ainda mais visveis aps a forte presso exercida

    sobre os ativos financeiros gregos nos primeiros meses de 2010. Simultaneamente, os

    investidores tornaram-se extremamente sensveis a notcias vindas da Unio Europeia,

    em especial das economias mais fragilizadas em termos de contas pblicas. Formaram-

    se ento fortes presses especulativas em torno da possibilidade de um evento de crdito

    na zona Euro, num claro movimento de contgio a partir do caso grego.

    Ao nvel da atividade econmica, e no obstante a tendncia crescente de instabilidade

    financeira, Portugal prosseguiu uma trajetria de recuperao na primeira metade de

    2010. No entanto, os impactos, quer da crise financeira internacional quer da crise das

    dvidas soberanas europeias, tiveram uma repercusso muito expressiva nos juros da

    3Fonte: http://www.ritholtz.com/blog/2012/01/timeline-of-the-greek-debt-crisis/ Acedido em 12 de

    Dezembro de 2011

  • 6

    dvida soberana portuguesa, com as rendibilidades destes ttulos a subirem

    progressivamente at um valor bastante superior a 7% (que a taxa comumente

    considerada como limite para a obteno de crdito soberano). Os prmios dos swaps de

    risco de incumprimento4 (credit default swaps CDS) acompanharam a subida das

    taxas de rendibilidade das obrigaes, o que constituiu para os mercados um indcio do

    aumento do risco de incumprimento. Assim, no obstante a aplicao dos Planos de

    Estabilidade e Crescimento (PEC), Portugal foi forado a recorrer em Maio de 2011 ao

    Fundo Europeu de Estabilizao Financeira (FEFF) garantido pelo Fundo Monetrio

    Internacional, Comisso Europeia e Banco Central Europeu. O valor do emprstimo foi

    de 78 000 000 000 de euros.

    Em 2011, o dfice pblico5 foi de 4,2% (em linha com o acordado no memorando de

    entendimento estabelecido no mbito do recurso ao FEEF) e uma dvida pblica de

    107,8% em relao ao PIB.

    1.3 Contedo e Metodologia de Estudo

    Este estudo pretende identificar a relao entre o diferencial das taxas de rendibilidade

    das Obrigaes do Tesouro portugus (OT) e os prmios dos CDS da dvida soberana

    portuguesa. As perguntas que esta dissertao pretende responder so:

    Os ttulos esto interrelacionados?

    Qual a direo dessa relao?

    4 Um CDS um tipo de seguro contra o risco de incumprimento da entidade emitente das obrigaes. O

    segundo captulo incluir uma seco dedicada a explicar as principais caractersticas deste ttulo

    financeiro. 5Fonte:http://www.pordata.pt/Europa/Administracoes+Publicas+defice+publico+em+percentagem+do+PI

    B-834 Acedido em 5 de Abril de 2012

  • 7

    Existem diferenas no relacionamento dos ttulos nas maturidades de 2 e 5 anos?

    Houve uma alterao no relacionamento dos ttulos em cada maturidade antes e

    depois da falncia do banco Lehman Brothers?

    Existindo alguma literatura sobre esta temtica, verifica-se que as concluses a que os

    diversos autores chegaram so muito variadas e por vezes contraditrias. Assim, de

    forma a responder ao desafio provocado pelos estudos anteriores e suas concluses, e

    para melhor compreender a interligao entre o diferencial das taxas de rendibilidade

    das OT e os CDS da dvida soberana portuguesa, a presente dissertao utiliza a

    abordagem economtrica baseada na estimao de modelos vetoriais autorregressivos

    (VAR), na qual so consideradas as inter-relaes dinmicas entre as variveis. A

    estimao dos modelos VAR complementada pela anlise de causalidade a curto e a

    longo prazo.

    A metodologia utilizada na presente dissertao tem sido igualmente adotada por outros

    autores como Zhu (2006), Blanco et al. (2005), Aktug et al (2011), Delis e Mylonidis

    (2011) e Calice et al. (2010), com dados de outros pases. Contudo, o valor acrescentado

    do presente trabalho traduz-se na dimenso relativamente alargada e atual das sries de

    dados utilizadas e na anlise das implicaes decorrentes da instabilidade financeira que

    tem caracterizado os mercados nos ltimos anos. Tal situao permite obter concluses

    mais atualizadas da relao entre as variveis, quer ao nvel agregado, para todo o

    perodo amostral, quer ao nvel desagregado, para diferentes subperodos, os quais tm

    por base de referncia aquele que considerado o fator determinante da crise financeira

    internacional, a falncia do banco de investimento Lehman Brothers.

  • 8

    Assim, o estudo da relao entre o diferencial das taxas de rendibilidade das OT e os

    CDS da dvida soberana portuguesa efetuado nas maturidades de 2 e 5 anos para uma

    amostra diria do perodo compreendido entre 1 de Maio de 2007 e 7 de Outubro de

    2011, e ainda nos perodos anterior e posterior falncia do banco Lehman Brothers.

  • 9

    1.4 Estrutura da Dissertao

    A presente dissertao est organizada em 5 captulos. Para alm do captulo

    introdutrio, no Capitulo 2 feita uma anlise, de forma genrica, sobre as OT e os

    CDS, incidindo-se na definio, enquadramento e respetiva rendibilidade. Em seguida

    efetuada a anlise da literatura sobre a relao entre obrigaes e CDS. No Captulo 3

    apresentada a abordagem metodolgica utilizada. A metodologia consiste na estimao

    de modelos de vetores autoregressivos (VAR) para as variveis diferencial das taxas de

    rendibilidade das OT e os prmios dos CDS da dvida soberana portuguesa. So ainda

    descritos os testes preliminares de anlise dos dados, como forma de fundamentar a

    metodologia utilizada. O Capitulo 4 apresenta a anlise emprica e os respetivos

    resultados. O Captulo 5 rene as concluses deste estudo face aos resultados obtidos e

    apresenta ainda sugestes para investigao futura.

  • 10

    Captulo 2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Introduo

    Neste captulo so analisadas as principais caractersticas das OT e dos CDS. Tambm

    so revistos alguns dos principais trabalhos de referncia que tm estudado a inter-

    relao entre obrigaes e CDS. Assim, aps a introduo, na seco 2 procede-se

    anlise das OT, atravs da sua definio, enquadramento, e rendibilidade. Na seco 3,

    para alm da definio de um CDS, ainda feita aluso aos principais termos inerentes

    a este tipo de contrato. Por ltimo, na seco 4, analisada a literatura que tem estudado

    a relao entre obrigaes e CDS.

    2.2 Obrigaes do Tesouro (OT)

    Uma OT um ttulo de dvida pblica, negocivel, pelo qual a entidade emitente o

    Estado se compromete a pagar ao seu detentor o obrigacionista - um certo

    rendimento peridico o juro e a reembolsar o capital, nos termos estipulados data

    da emisso. Estes valores mobilirios de mdio e longo prazo constituem o principal

    instrumento de financiamento do Estado.

    Uma das variveis utilizadas neste trabalho a taxa de rendibilidade das obrigaes

    (yield to maturity YTM). Trata-se da taxa de atualizao para a qual o valor atual dos

    fluxos financeiros futuros (juros e valor de reembolso) vem igual ao preo de mercado.

    Formalmente, a YTM obtida atravs da resoluo da seguinte equao:

  • 11

    (2.1)

    onde, , representa o preo de mercado da obrigao no presente, , o juro a vencer

    no perodo de tempo t, VR, o valor de reembolso e, n, o nmero de perodos de tempo

    em que ocorre vencimento de juros.

    Da anlise da equao (2.1) verifica-se que uma diminuio no preo de mercado da

    obrigao provoca um aumento na respetiva taxa de rendibilidade. Esta situao tender

    a ocorrer em situaes de aumento do risco de incumprimento por parte da entidade

    emitente.

    A YTM pretende traduzir a taxa de rendibilidade associada ao investimento na

    obrigao pressupondo que duas condies so verificadas: i) a manuteno da

    obrigao em carteira at maturidade; ii) o reinvestimento de todos os fluxos

    financeiros futuros com base numa taxa de juro igual YTM. Por um lado, se a

    obrigao for vendida antes da maturidade, muito provvel que o preo de venda seja

    diferente do preo de equilbrio, o que ir determinar uma taxa de rendibilidade

    diferente daquela expressa pela YTM. Por outro lado, se a taxa de reinvestimento dos

    juros for diferente da YTM, tambm a taxa de rendibilidade da obrigao no coincidir

    com a YTM.

    Apesar de existirem grandes limitaes na utilizao da YTM como medida de

    rendibilidade de uma obrigao, esta permite a comparao direta entre obrigaes

    emitidas por entidades com diferentes nveis de risco, assim como possibilita a anlise

  • 12

    da evoluo da rendibilidade de uma determinada obrigao ao longo do respetivo

    perodo de vida.

    Com base nas taxas de rendibilidade das obrigaes, para diferentes prazos,

    representada a curva de rendimentos (yield curve). Esta curva corresponde

    representao grfica da relao que se estabelece entre as taxas de juro implcitas nos

    preos a que so transacionadas as obrigaes e os respetivos prazos para o vencimento.

    As curvas de rendimento das taxas de rendibilidade das OT tm, normalmente, uma

    configurao ascendente, isto , quanto maior a maturidade, mais elevada a taxa. Com

    efeito, um investimento a longo prazo representa um risco maior do que a curto prazo,

    pelo que, como forma de compensao o investidor exige uma remunerao mais

    elevada para prazos mais longos.

    No entanto, em circunstncias anormais, o mercado de obrigaes pode apresentar uma

    curva de rendimentos descendente ou invertida, o que significa que as taxas de

    rendibilidade de longo prazo so mais baixas que as de curto prazo. Harvey (1989)

    mostrou que uma curva de rendimentos descendente permitiu prever, com grande

    fiabilidade, recesses na economia americana (6 em 7 situaes desde 1970).

    Em Maio de 20116, Portugal, Irlanda e Grcia apresentavam uma curva de rendimentos

    das taxas de rendibilidade das obrigaes de dvida pblica descendente, em resultado

    da crise da dvida soberana europeia.

    6 Fonte: http://www.everestforex.com/sixty-seconds/bonds/the-debt-crisis-in-europe/ Acedido em 12 de

    Dezembro de 2011

  • 13

    2.3 Swaps de Risco de Incumprimento (Credit Default Swaps CDS)

    Hull e White (2000) definem um CDS, como um tipo de seguro contra o risco de

    incumprimento do emitente de um ttulo de crdito. O emitente conhecido como a

    entidade de referncia e o incumprimento do emitente designado como um evento de

    crdito. De acordo com a International Swaps and Derivatives Association, Inc

    (ISDA)7, um evento de crdito corresponde ocorrncia de um ou mais dos seguintes

    eventos, por parte da entidade de referncia: insolvncia, incumprimento ou mora em

    relao s respetivas obrigaes e reestruturao.

    Os fluxos simplificados, correspondentes a uma proteo de CDS, so descritos na

    Figura 2.1. Trata-se de um contrato entre duas partes, pelo qual o comprador acorda

    pagar ao vendedor um valor peridico (prmio), expresso como uma percentagem do

    valor nocional do ttulo de crdito que objeto de proteo. Em contrapartida, o

    vendedor do CDS concorda em compensar (por norma usando como valor de referncia

    o valor facial do ttulo de crdito) o comprador, no caso de incumprimento do emitente

    do ttulo de crdito subjacente ao CDS.

    Figura 2.1 Fluxos simplificados do CDS

    7 Trata-se de uma organizao internacional que tem como objetivos: promover prticas corretas de gesto

    de risco, fomentar normas de conduta, aumentar o conhecimento pblico dos mercados de derivados,

    formar e educar as entidades envolvidas nos mercados financeiros.

    Prmio (nocional pontos base)

    0,sem evento de crdito

    Vendedor

    do CDS

    Comprador

    do CDS

    Payoff, com evento de crdito Exposio

    ao risco de

    crdito

    Entidade de

    referncia

  • 14

    De acordo com Maxwell e Shankman (2010), desde 2002, a grande maioria dos CDS

    estabelecem pagamentos trimestrais (prmio) a ocorrerem no dia 20 dos meses de

    Maro, Junho, Setembro e Dezembro, de cada ano.

    Outra das variveis utilizadas neste trabalho o prmio de um CDS. Este reflete o custo

    estimado para a concesso de uma proteo. Para o seu clculo, ser necessrio estimar

    a probabilidade de incumprimento da entidade de referncia e as perdas expectveis

    resultantes desse mesmo incumprimento. O valor justo (fair value) de um prmio de

    CDS ser aquele que iguala o valor atualizado do prmio ao valor atualizado das perdas

    esperadas. De salientar que no objetivo deste estudo analisar os mtodos de avaliao

    dos CDS, pelo que no relevante para este trabalho descrever em pormenor como

    determinado o valor do prmio destes contratos. Pretende-se sim, perceber se existe

    relao entre a evoluo do diferencial de taxas de rendibilidade das OT e os prmios

    dos respetivos CDS.

    Outro termo utilizado no mercado de CDS a base. Esta corresponde diferena entre

    o prmio dos CDS e o diferencial da rendibilidade das obrigaes. O clculo da base

    tem como pressuposto que CDS e Obrigao tm a mesma entidade de referncia e

    maturidades similares. Quando o prmio dos CDS mais elevado que o diferencial de

    rendibilidade das obrigaes, ento existe uma base positiva, sendo que, verificando-se

    o inverso a base negativa.

  • 15

    2.4 Relao entre CDS e Obrigaes: O Estado da Arte

    Tendo por base o objetivo principal da presente dissertao, importa rever alguns dos

    principais trabalhos que tm estudado a inter-relao entre obrigaes e CDS. Os

    primeiros estudos sobre esta temtica analisaram esta relao tendo por base obrigaes

    emitidas por empresas. Representam exemplos deste tipo de anlise os estudos que so

    referenciados de seguida.

    Houweling e Vorst (2002) do um contributo importante investigao na relao entre

    CDS e obrigaes. Para a comparao entre os diferenciais das taxas de rendibilidade

    das obrigaes e os prmios dos CDS, os autores assumem no estudo um investidor que

    possui uma obrigao com risco e que compra uma proteo atravs de um CDS, e

    determinam que o seu prmio dever ser igual ao diferencial entre as taxas de duas

    obrigaes, uma com risco e outra sem risco. Dada a dificuldade em obter obrigaes

    com a mesma maturidade que os CDS, sugerem 2 mtodos diferentes: a) mtodo da

    correspondncia - encontrar uma obrigao cuja maturidade difira apenas at 10% da

    maturidade do CDS; b) mtodo da interpolao - encontrar duas obrigaes, em que na

    primeira a maturidade seja mais reduzida (pelo menos metade) que a maturidade do

    CDS e outra que tenha uma maturidade superior (pelo menos o dobro) maturidade de

    um CDS. Para cada par, formado por um CDS e pelo correspondente diferencial da

    rendibilidade de uma obrigao (correspondente ou interpolada), so calculados 2 erros

    de preos. O primeiro obtido atravs da subtrao dos diferenciais das taxas de

    rendibilidade das obrigaes (bid) e das cotaes (ask) dos CDS obtendo-se o erro de

    preos mdio (MPE). O segundo erro de preos calculado atravs da diferena entre

    os diferenciais das taxas de rendibilidade das obrigaes (ask) e das cotaes (bid) dos

  • 16

    CDS obtendo-se o erro de preos mdio absoluto (MAPE). Desta forma, os resultados

    do estudo demonstram que atravs do mtodo da interpolao, os diferenciais das taxas

    de rendibilidade das obrigaes face curva swap representam boas estimativas dos

    prmios dos CDS, especialmente para notaes AAA, AA e A. Estes resultados foram

    ainda confirmados pelos valores do MPE que se aproximam de zero. Para notaes

    BBB, o clculo de erros de preo, atravs do clculo MPE, indicou que os diferenciais

    das taxas de rendibilidade das obrigaes so, em mdia, mais reduzidos que os prmios

    dos CDS, o que se verificou quase sempre em notaes BB e B. Os autores verificaram

    ainda que, utilizando o clculo MAPE juntamente com os prmios mdios dos CDS,

    existia um diferencial entre os prmios dos CDS calculados e os do mercado que varia

    entre 19% para notaes BBB e 68% para notaes AAA. Por outro lado, na definio

    de qual a taxa que melhor estabelece a aproximao ausncia de risco, os clculos

    efetuados demonstraram que, para as notaes de AAA a BBB, a curva das taxas dos

    swaps e repo deveria ser usada como referencial, em detrimento das taxas de

    rendibilidade das obrigaes soberanas. No entanto, para notaes inferiores a BBB, a

    curva de rendibilidade das obrigaes soberanas ser a que determina de forma mais

    correta a taxa sem risco.

    Com base nas anteriores investigaes, Hull et al. (2004) elaboraram um estudo que

    apresenta dois objetivos fundamentais: a) Examinar a relao entre CDS e taxas de

    rendibilidade das obrigaes; b) Examinar o impacto das alteraes na notao de risco

    de crdito, nos prmios dos CDS. Desta forma, os autores conseguem provar a teoria

    econmica que defende a relao entre obrigaes e CDS, determinando que esta

    relao poder estimar a taxa de juro sem risco a 5 anos. Dos clculos efetuados, foi

    possvel verificar que essa taxa utilizada pelo mercado era, em 83%, superior em 10

  • 17

    pontos base face taxa de juro das obrigaes da dvida pblica americana. De forma a

    explorar a relao entre os prmios dos CDS e alteraes na notao do risco de crdito,

    os autores utilizaram 2 tipos de anlise. Em primeiro lugar, foram verificadas as

    alteraes nos prmios dos CDS condicionadas pelos anncios de alterao na notao

    do risco de crdito, concluindo-se que o mercado de derivados de crdito antecipa a

    informao. Em segundo lugar, os autores invertem a anlise e examinam de que forma

    o mercado dos CDS influencia as notaes de risco de crdito. Da anlise conclui-se

    que flutuaes nos prmios dos CDS ajudam a estimar 42,6% das redues na notao e

    50,9% dos estados de perspetiva negativa (designado por Outlook negativo). De referir

    que os resultados obtidos so significativos em caso de reduo na notao mas o

    mesmo no ocorre com aumentos no nvel de notao.

    Chan-Lau e Kim (2004) analisaram a relao de equilbrio dos preos dos CDS,

    obrigaes e aes e o processo de determinao de preos nos mercados, para oito

    mercados emergentes, no perodo entre Maro de 2001 e Maio de 2003. Os resultados

    sugerem que, nos casos do Brasil, Bulgria, Colmbia, Rssia e Venezuela, existe uma

    convergncia dos prmios dos CDS e dos diferenciais das taxas de rendibilidade das

    obrigaes. Os investigadores justificam esta situao com movimentos de arbitragem

    que levam convergncia dos preos de ambos os produtos. No entanto, na maioria dos

    pases, no foi encontrado qualquer equilbrio de preos, entre o mercado obrigacionista

    e o mercado acionista. Uma explicao para esse facto baseada na teoria de Merton

    (1974), a qual alega que para pases com baixos nveis de dvida torna-se difcil estimar

    a relao de equilbrio de preos, dada a baixa correlao entre obrigaes e aes. Por

    outro lado, quando a relao entre dvida e ativos muito voltil, a relao de equilbrio

    de preos torna-se no linear e a anlise de cointegrao torna-se inadequada. No que

  • 18

    respeita formao de preos, os resultados do estudo no so conclusivos na

    determinao da causalidade entre o mercado obrigacionista e de CDS. Os autores

    aludem ao exemplo da Colmbia e Rssia, onde se verificou que o mercado dos CDS

    o mais importante na definio de preos. No entanto, nos casos do Brasil e da Bulgria

    verificou-se que ambos os mercados so importantes na definio dos preos. Essa

    situao poderia ser explicada pela migrao de liquidez entre os 2 mercados. A liquidez

    canalisada para o mercado dos CDS em perodos de agitao financeira,

    especialmente por investidores em busca de fundos de cobertura (hedge funds). Os

    autores alegam ainda que, no caso especfico de pases emergentes, o mercado

    obrigacionista pode liderar a definio de preos, dado que os bancos concederam

    avultados emprstimos aos setores pblico e privado e compraram CDS de forma a

    segurar os seus retornos. Consequentemente, o mercado obrigacionista apresenta maior

    volume de transaes e liquidez liderando assim a definio de preos. Os autores

    concluram que os mercados acionistas, embora mais lquidos, tm um papel

    negligencivel na formao de preos no Brasil, Bulgria, Colmbia, Mxico, Filipinas,

    Turquia e Venezuela, ao contrrio do que acontece com a Rssia. Foi ainda verificado

    que o mercado dos CDS lidera a definio de preos em mercados maduros dada a

    maior liquidez destes. No entanto, em pases emergentes os mercados obrigacionistas

    so mais lquidos, logo a formao de preos efetuada predominantemente neste

    mercado. No entanto, verificam que em alturas de maior instabilidade, o mercado dos

    CDS consegue valorizar com maior exatido o risco de incumprimento.

    O estudo de Longstaff et al. (2005) pretendeu determinar se os seguros de crdito,

    expressos nos CDS, eram consistentes com as taxas de rendibilidade das obrigaes de

    empresas. Para tal, os autores em primeiro lugar estabeleceram um modelo para a

  • 19

    determinao dos prmios dos CDS utilizando para isso uma variante do estudo de

    Duffie e Singleton (1997). Para cada empresa do estudo, foram estimados os parmetros

    do modelo e a intensidade implcita do processo atravs da introduo de preos de

    obrigaes com uma maturidade a rondar os 5 anos de forma a corresponder

    maturidade dos CDS. Desta forma, so obtidos os prmios dos CDS decorrentes do

    mercado obrigacionista, os quais so confrontados com os valores de mercado. Da

    anlise surgiram um importante conjunto de resultados: a) Os custos da proteo de

    crdito do mercado obrigacionista so significativamente mais reduzidos do que os

    custos implcitos das respetivas obrigaes; b) No estabelecimento de preos para CDS,

    apenas a componente crdito relevante para o diferencial das taxas das obrigaes;

    c) A diferena entre os valores do prmio de um CDS, calculados pelo modelo e os do

    mercado, deve-se incorporao dos impostos e liquidez nos diferenciais das

    obrigaes. Os autores concluem ainda que os diferencias das taxas de rendibilidade das

    obrigaes das empresas so afetados pelas diferenas de tributao e pela falta de

    liquidez das obrigaes das empresas.

    Blanco et al. (2005) abordam a validade e implicaes de relaes tericas entre CDS e

    diferenciais das taxas de rendibilidade das obrigaes8, utilizando para isso um conjunto

    de empresas norte americanas e europeias com uma notao de risco de crdito alta.

    Com base na relao terica de arbitragem, os resultados demostram que os diferenciais

    das taxas de rendibilidade das obrigaes de empresas face a uma taxa de juro sem risco

    apresentam uma ligao direta com o preo dos CDS, em especial nas empresas norte

    americanas. A relao no estabelecida quando existem fatores como a imperfeio do

    mercado dos CDS ou erros no clculo dos diferencias das taxas das obrigaes. Para o

    8 Para a determinao dos diferencias das taxas de rendibilidade das Obrigaes recorreram taxa swap.

  • 20

    clculo no foi considerada a opo de recompra das obrigaes devido falta de

    informao credvel. Os autores atingiram os seguintes resultados: a) O diferencial

    medido das taxas de rendibilidade das obrigaes subestima o diferencial real e, desta

    forma, os prmios dos CDS; b) Para a maioria das entidades estudadas, os mercados

    obrigacionistas e de derivados pareciam incorporar igualmente o risco de crdito; c)

    demonstrado que a formao do preo dos ativos ocorre em primeiro lugar no mercado

    dos CDS. Com base neste facto, os autores especulam que tal deveria dever-se a fatores

    estruturais que tornam mais conveniente o estabelecimento de preos no mercado de

    derivados de crdito e porque em cada um dos mercados existem investidores que os

    utilizam por diferentes razes. Os autores abordaram ainda os determinantes para as

    alteraes no diferencial de rendibilidade das obrigaes e prmios dos CDS. As

    variveis sugeridas pela literatura sobre risco de crdito, permitiam explicar apenas 25%

    das alteraes semanais dos preos no mercado dos CDS. No entanto, essas variveis

    eram menos capazes de explicar alteraes no mercado obrigacionista. assim

    determinado que a discrepncia entre prmios dos CDS e diferenciais de rendibilidade

    das obrigaes derivado do facto de a formao de preos ocorrer em primeiro lugar

    no mercado de derivados de crdito.

    Zhu (2006) confirma a teoria econmica de que os prmios dos CDS e os diferenciais

    das taxas de rendibilidade das obrigaes devero ser, em mdia, iguais. No entanto, no

    curto prazo, existem discrepncias significativas entre os 2 mercados, derivadas em

    parte, por diferentes respostas a alteraes nas condies de crdito. O estudo verifica

    ainda a existncia de segmentao dos mercados, com as prticas nos Estados Unidos a

    serem diferentes daquelas aplicadas na Europa, nomeadamente na escolha da taxa de

  • 21

    juro sem risco. Por outro lado, enquanto o mercado de derivados de crdito norte-

    americano antecipa a formao de preos, o mesmo no se verifica em outras regies.

    Alexopoulou et al. (2009) analisaram a relao entre os mercados de CDS e

    obrigacionista (empresarial) na Europa. Os autores verificaram que os prmios dos CDS

    so mais sensveis a mudanas no risco sistemtico que as obrigaes de empresas, j

    que estas esto mais sujeitas ao risco especfico e a fatores ligados liquidez. Foi ainda

    verificada a existncia de cointegrao entre CDS e obrigaes. Outro importante

    contributo deste estudo foi a anlise dos mercados em perodos de instabilidade.

    Aproveitando o impacto da crise das dvidas soberanas, os autores analisaram a forma

    como os investidores valorizam o risco de crdito. Assim: a) O mercado dos CDS

    assume uma posio mais relevante na definio de preos em perodos de crise; b) A

    instabilidade financeira trouxe maior correlao entre CDS e obrigaes de empresas;

    c) Na medida em que a frequncia da expectativa de incumprimento no subestime a

    verdadeira expectativa de perda, o volume de subida no risco de crdito, em perodos de

    instabilidade, deriva de maiores prmios de risco exigidos pelos investidores. Essa

    situao decorre essencialmente do aumento do risco sistmico e no do risco especfico

    da empresa.

    Os ltimos anos tm vindo a ser marcados pela publicao de estudos que analisam a

    relao entre obrigaes soberanas e CDS. Alguns dos estudos que merecem referncia

    nesta rea so descritos de seguida.

  • 22

    Assim, Levy (2009) abordou as irregularidades de preos entre CDS e obrigaes

    soberanas em mercados emergentes, salientando a liquidez e o risco de contraparte

    como fatores essenciais para explicar desvios de preos entre CDS e obrigaes. A

    teoria econmica evidencia que em condies ideais de mercado, e devido a

    movimentos de arbitragem, o prmio dos CDS igual ao diferencial entre a taxa de

    rendibilidade de uma obrigao com risco face a uma obrigao sem risco, no entanto,

    os autores documentam situaes de no equilbrio em 16 pases. Como forma de

    demonstrar a relevncia da liquidez e risco de contraparte na formao de preos, Levy

    (2009) chegou s seguintes concluses: a) Diferenas de liquidez entre o mercado

    obrigacionista e de CDS criam prmios de liquidez que so incorporados nos preos dos

    CDS e das obrigaes; b) A existncia de risco de incumprimento do vendedor de um

    CDS provoca a diminuio do respetivo prmio.

    Fontana e Scheicher (2010) abordaram a relao entre CDS e dvida soberana (tambm

    para a maturidade a 10 anos), numa anlise que teve como foco a ustria, Blgica,

    Frana, Alemanha, Grcia, Irlanda, Itlia, Holanda, Portugal e Espanha. A relao entre

    CDS e OT efetuada com base em fatores explicativos como o caso da liquidez dos

    mercados e o grau de averso ao risco dos investidores. Os autores concluem que a

    reviso de preos dos CDS ocorrida entre 2008 e 2010 deve-se ao eclodir da crise

    financeira internacional. Por outro lado, verificou-se que o prmio dos CDS superava o

    diferencial da taxa de rendibilidade das OT, exceto em Portugal, Irlanda e Grcia.

    Verificou-se ainda que, antes da crise financeira internacional, as transaes do mercado

    dos CDS tinham um efeito muito limitado na anlise do risco, demonstrando alguma

    separao entre o mercado de obrigacionista e o mercado de derivados.

  • 23

    Andenmatten e Brill (2011), motivados pelos impactos da Crise da Dvida Soberana

    Europeia na opinio pblica e poltica na Europa e pondo em causa a utilidade e

    legitimidade do mercado dos CDS, analisaram se este mercado era manipulvel pelos

    investidores e se era fator determinante para o mercado obrigacionista. A amostra era

    composta pelos prmios dos CDS de Portugal, Itlia, Irlanda, Grcia e Espanha. As

    concluses evidenciaram que o mercado dos CDS no facilmente manipulvel. No

    obstante o aumento do volume de transaes neste mercado, desde o incio da crise

    grega em Outubro de 2009, o valor lquido do mercado no se alterou

    significativamente. Por outro lado, ao analisar a relao entre os prmios dos CDS e os

    diferenciais das taxas de rendibilidade das obrigaes, foram verificadas relaes de

    longo prazo, verificando-se que o mercado dos CDS lidera a formao de preos em

    71% dos casos. Concluram ainda que o mercado dos CDS significa um enriquecimento

    para os investidores, dado que no manipulvel e tende a incorporar informao na

    formao de preos de forma mais clere que o mercado obrigacionista, aumentando

    assim a sua eficincia.

    Delis e Mylonidis (2011) estudaram a relao de causalidade entre as taxas de

    rendibilidade da dvida soberana e os respetivos CDS. A inovao deste estudo prendeu-

    se com a utilizao de maturidades de 10 anos e com o foco do estudo a incidir nos

    pases da chamada periferia europeia: Grcia, Itlia, Portugal e Espanha. A amostra

    estudada compreende o perodo de 2004 a 2010. Para o clculo do diferencial das taxas

    de rendibilidade das obrigaes, foi utilizada a taxa das obrigaes soberanas alems,

    como taxa de juro sem risco. Os resultados do estudo apontam para a no existncia de

    causalidade entre as variveis no perodo anterior a 2007 e a existncia de causalidade a

    seguir crise financeira internacional de 2007. Esta situao reflete a avaliao das

  • 24

    dvidas soberanas dos pases, estudadas como providas de risco, e a subsequente

    incorporao da ansiedade dos investidores no mercado obrigacionista, tendo como veio

    transmissor o mercado dos CDS. Foi ainda verificada a causalidade bidirecional durante

    as crises financeira internacional e da dvida soberana europeia.

    Aktug et al. (2011) demonstraram que as ligaes entre obrigaes soberanas e

    correspondentes CDS reforaram-se no perodo 2001-2007. Por outro lado, alegaram

    que a sua investigao trouxe trs grandes contributos para a literatura sobre esta

    matria. Em primeiro lugar, prende-se com o facto de a amostra envolver uma grande

    quantidade de pases9. Em segundo lugar, foi questionada a relao de equilbrio entre

    os dois mercados, demonstrando que a inter-relao destes crescente e que em 90%

    dos pases assistia-se a um equilbrio de longo prazo na relao entre obrigaes e CDS.

    Demonstraram que os mercados obrigacionistas eram responsveis pela liderana na

    formao de preos em 48% das observaes. Finalmente, do ponto de vista

    metodolgico, os autores alegaram ter melhorado a anlise economtrica de autores

    como Chan-Lau e Kim (2004) e Blanco et al. (2005), ao estender o mecanismo de

    ajustamento para mais do que dois cenrios e ao criar um mecanismo simples para

    verificar a correo de erros.

    Calice et al. (2011), investigaram os potenciais efeitos de contgio entre os mercados

    obrigacionistas e dos CDS para os pases da Zona Euro. Por outro lado, verificaram qual

    a diferena entre os prmios dos CDS sobre cada dvida soberana e o prmio dos CDS

    da dvida soberana alem, partindo do pressuposto que ambos flutuam de igual forma.

    Analisaram ainda os diferenciais dados por bid/ask de ambos os mercados de forma a

    9 Brasil. Bulgria, Chile, China, Colmbia, Crocia, Rep. Dominicana, Equador, Egipto, El Salvador,

    Hungria, Coreia, Lbano, Malsia, Mxico, Marrocos, Paquisto, Panam, Peru, Filipinas, Polnia,

    Rssia, Africa do Sul, Tailndia, Tunsia, Ucrnia, Uruguai, Venezuela e Vietnam.

  • 25

    estabelecer os custos de transao e liquidez. Assim, os autores concluram que existe

    uma reduo da liquidez do mercado obrigacionista em perodos de instabilidade

    financeira, com a liquidez do mercado dos CDS a aumentar exponencialmente.

    Verificaram ainda que, no perodo posterior a 2009, para Irlanda, Espanha, Grcia e

    Portugal, houve um efeito elevado e significativo, de transmisso do mercado dos CDS

    para o mercado obrigacionista, sendo esta situao uma inverso do padro observado

    antes da crise financeira internacional. Por fim, provam que a liquidez do mercado dos

    CDS tem um impacto nos diferenciais de rendibilidade das obrigaes e que este

    impacto maior em perodos de instabilidade financeira. Como exemplo, os autores

    identificam o resgate do banco Bear Sterns e a falncia do Lehman Brothers.

    Delatte et al. (2012) analisaram a dinmica entre os CDS e as taxas de rendibilidade das

    obrigaes soberanas da ustria, Blgica, Dinamarca, Frana, Grcia, Irlanda, Itlia,

    Holanda, Portugal, Espanha, com inicio aps a falncia do Lehman Brothers. Estes

    autores concluram que a relao entre ambas as variveis no linear j que, nos

    perodos de estabilidade, o mercado obrigacionista responsvel pela formao dos

    preos dos CDS, enquanto em perodos de maior instabilidade, o mercado dos CDS

    determina as taxas de rendibilidade do mercado obrigacionista. Este facto foi provado

    na anlise especfica efetuada para a Blgica e Grcia.

    Outro estudo que analisou a relao entre obrigaes e CDS soberanos no contexto da

    Unio Europeia (ustria, Blgica, Finlndia, Frana, Alemanha, Grcia, Irlanda, Itlia,

    Pases Baixos, Portugal e Espanha) foi o de Arce et al. (2012). Este trabalho testou a

    relao terica de no arbitragem que deveria existir entre os diferenciais das taxas de

    rendibilidade das obrigaes e os prmios dos CDS. Verifica-se que, depois da crise

  • 26

    financeira internacional de 2007, existem desvios significativos entre a paridade de

    ambos, com os prmios dos CDS a serem mais altos que os diferencias das taxas das

    obrigaes, ou seja, uma base positiva. Analisando a base entre CDS e obrigaes, os

    autores incorporam na anlise os seus possveis determinantes. Assim, verificou-se que

    o risco de contraparte tem um efeito negativo na base (valor do diferencial de

    rendibilidade da obrigao, mais alto do que o do prmio dos CDS). Tambm os custos

    de financiamento e baixa liquidez do mercado obrigacionista, em relao ao mercado

    dos CDS, tm um efeito negativo na base. Por fim, verificaram que o processo de

    formao de preos entre o mercado obrigacionista e de CDS varia de pas para pas.

    de referir, ainda, que, do ponto de vista metodolgico, e em especial nos trabalhos

    mais recentes sobre a relao entre obrigaes e CDS, os estudos efetuados recorrem

    aos modelos Vetoriais de Autoregresso (VAR).

    Outro mbito de anlise, que no objeto de estudo nesta dissertao, compreende a

    valorizao dos CDS. Nesta rea de salientar os estudos de Duffie (1999) e Hull e

    White (2000), os quais constituem trabalhos de referncia sobre esta temtica.

  • 27

    Captulo 3 - METODOLOGIA ECONOMTRICA

    3.1. Introduo

    Neste trabalho argumenta-se que a medio dos efeitos nos diferenciais de rendibilidade

    das OT portuguesas a 2 e a 5 anos resultantes de choques nos prmios dos CDS, bem

    como a medio dos efeitos nestes, resultantes de choques nos diferenciais de

    rendibilidade das OT, devem ser obtidas atravs de uma abordagem bi-equacional,

    dinmica ao considerar a possibilidade de ocorrerem efeitos de retroalimentao entre

    as variveis. Estes efeitos, ao existirem, so essenciais para se compreender os efeitos

    totais de um choque numa das variveis sobre a outra varivel.

    Assim, um choque nos prmios dos CDS pode afetar, de uma forma direta, os

    diferenciais das taxas de rendibilidade das OT. Contudo, esse efeito nos diferenciais de

    rendibilidade desencadear, potencialmente, efeitos de feedback nos prmios dos

    CDS, que por sua vez tero impacto nos diferenciais de rendibilidade, numa sequncia

    que, tendencialmente, se esgotar no tempo. A dinmica desta interdependncia

    encontra-se representada na figura 3.1.

    Figura 3.1 Relao de interdependncia entre Diferenciais de Rendibilidade das OT e Prmios dos CDS

    Diferenciais de

    Rendibilidade de OTPrmios de CDS

  • 28

    Os efeitos finais de um choque numa varivel so o resultado de um efeito inicial direto

    sobre a outra varivel, e de efeitos indiretos atravs dos canais de retroalimentao.

    Neste contexto, uma abordagem dinmica e multivariada necessria para se analisar a

    causalidade entre os diferenciais de rendibilidade das OT e os prmios dos CDS.

    3.2 A Abordagem dos Vetores Autoregressivos (VAR)

    A base da metodologia dos vetores autoregressivos (VAR) foi inicialmente formulada

    em Sims (1980), como reao contra a abordagem economtrica tradicional, que

    impunha uma diviso entre variveis endgenas e variveis exgenas. Tal classificao

    permite uma estimao dos parmetros do modelo no enviesada e consistente, atravs

    do mtodo dos Mnimos Quadrados Ordinrios, desde que no existam problemas de

    identificao.

    Num sistema de equaes uma forma de evitar os problemas de identificao por via

    da omisso de uma das variveis do modelo, o que corresponde, na prtica, a impor que

    o respetivo parmetro seja nulo. A imposio desta restrio de nulidade tem o

    inconveniente de implicar a excluso de variveis potencialmente importantes, enquanto

    outras variveis, eventualmente menos relevantes, continuam a ser consideradas na

    anlise.

    Sims (1980) tambm encarou com grande ceticismo a distino entre variveis

    endgenas e variveis exgenas e enunciou um conjunto de caractersticas da

    metodologia VAR que a distinguem de outras metodologias. Essas so as seguintes:

  • 29

    1. No h distino, a priori entre variveis endgenas e variveis exgenas, isto ,

    todas so tratadas como variveis endgenas;

    2. No h imposio de quaisquer restries de nulidade aos parmetros;

    3. O modelo no se encontra restringido por qualquer teoria econmica; apenas so

    considerados princpios tericos muito gerais.

    Neste sentido, o uso de vetores autogressivos surge como uma via para estimar relaes

    dinmicas entre variveis conjuntamente endgenas, sem que se torne necessrio impor

    qualquer restrio. Uma grande vantagem desta abordagem que todos os problemas

    associados aos modelos de equaes simultneas so evitados, porque os modelos

    autoregressivos no envolvem, na sua estrutura, variveis contemporneas entre os

    regressores. Por outro lado, no existe a distino entre variveis endgenas e variveis

    exgenas, tudo causa tudo o resto. O facto de no existir nenhuma teoria econmica

    especifica subjacente especificao do modelo, levou a que esta abordagem fosse

    apelidada de aterica. Contudo, para Sims, tudo era sujeito a ser testado.

    A abordagem dos modelos vetoriais autoregressivos consiste em regredir cada varivel

    nos seus prprios valores desfasados e nos valores desfasados da outra varivel. O

    presente trabalho cinge-se ao caso particular bivariado. Designando as primeiras

    diferenas das variveis diferenciais de rendibilidade das OT e prmios dos CDS por

    DOT e DCDS respetivamente, o modelo VAR de ordem P, designado por VAR (P),

    representado por:

    , (3.1)

  • 30

    onde um vetor coluna (2x1) de observaes dos valores correntes das duas

    variveis; um vetor coluna (2x1) de componentes deterministas, so matrizes

    (2x2) de parmetros; um vetor coluna (2x1) de erros aleatrios de valor esperado

    nulo, varincia constante, no autocorrelacionados, mas com correlao contempornea

    entre si.

    Mais concretamente o modelo (3.1) pode ser expresso em termos matriciais, usando

    operadores de desfasamento, da seguinte forma:

    (3.2)

    Em termos de um sistema de equaes, o modelo (3.2) pode ser representado por:

    (3.3)

    (3.4)

    onde (para e =1,2), so vetores (1x2) contendo componentes determinsticas (uma

    constante ou uma constante e uma tendncia) e ( ) so polinmios de ordem no

    operador de desfasamento .

    O modelo VAR pode ser visto como um modelo de equaes simultneas na forma

    reduzida, j que no existem variveis endgenas no lado direito das equaes.

    Contudo, o aspeto mais importante que os distingue reside na filosofia subjacente sua

    construo. Enquanto a teoria econmica desempenha um papel importante, quase

  • 31

    exclusivo, na especificao da forma estrutural de um modelo de equaes simultneas

    (do qual se obtm a forma reduzida), a filosofia subjacente formulao do modelo

    VAR diferente. Na sua formulao, a teoria econmica usada apenas para sugerir as

    variveis relevantes, mas a ordem do modelo decidida pelos dados.

    Todas as variveis surgem com o mesmo nmero de desfasamentos. Ou seja, no so

    impostas quaisquer restries de nulidade aos parmetros do modelo. Isto significa que,

    pelo menos inicialmente, todos os parmetros so diferentes de zero.

    A escolha do nmero de desfasamentos, ou seja, a ordem do mdulo, crucial. Por um

    lado, conveniente estabelecer um nmero elevado de desfasamentos, de forma a evitar

    a autocorrelao dos termos de erro, com o consequente enviesamento das estimativas

    dos parmetros, obtidas pelo mtodo dos mnimos quadrados ordinrios. Por outro lado,

    dado que um nmero elevado de desfasamentos consome graus de liberdade, a escolha

    da ordem do modelo feita com recurso aos testes estatsticos disponveis como, os que

    se indica seguidamente, entre outros:

    Teste de Rcio de Verosimilhana (Lieklihood Ratio Test - LRA);

    Critrio de Informao de Akaike (Akaike Information Criterion - AIC);

    Critrio de Schwarz (Bayesian Information Criterion - SC).

    Enquanto o primeiro utilizado para grandes amostras, os restantes so sugeridos para

    pequenas amostras, sendo o critrio SC o ideal, pois consistente do ponto de vista

    assinttico, enquanto o critrio AIC tende a sugerir a utilizao de modelos

    hiperparametrizados, tal como defendido por Enders (1995).

  • 32

    3.3 A Aplicabilidade da Metodologia VAR; Funes Resposta a Impulso,

    Causalidade de Granger e a Decomposio da Varincia

    A grande aplicabilidade da metodologia VAR a realizao de previses, j que o

    modelo especifica correlaes entre as variveis em estudo. Neste sentido, esta

    metodologia de grande aptido na rea financeira onde importante saber como um

    choque numa varivel, por exemplo, no diferencial de rendibilidade das OT, no

    momento t, se vai refletir no valor dos CDS nos momentos , ( ), ( ) e nos

    momentos posteriores.

    No sentido de analisar esta dinmica, vamos considerar o modelo (3.1), a partir do qual,

    por substituio sucessiva, obtemos a seguinte equao:

    (3.5)

    Onde representa um vetor de termos determinsticos, que pode ser expresso por:

    (3.6)

    A expresso (3.5) representa um processo que gera as variveis em , que so as

    variveis em estudo DCDS e DOT, como uma soma infinita de erros aleatrios,

    ponderados por componentes decrescentes e corresponde representao vetorial de

    mdias mveis.

  • 33

    Em termos de um sistema de equaes, essa representao dada por:

    (3.7)

    Contudo, a anlise da 2 equao do sistema, que determina DOT torna claro que se

    houver um choque na varivel DOT, isto , um choque em , a varivel DCDS ser

    afetada no s por esse choque, mas tambm pelo choque ocorrido em , dado que os

    termos de erro esto contemporaneamente correlacionados. No sentido de evitar esta

    situao, e de se obter em cada varivel o efeito decorrente de um choque inicial na

    varivel em particular, torna-se prtica corrente obter um modelo com termos de erro

    ortogonais, isto , no correlacionados contemporaneamente.

    Em termos matriciais, a ortogonalizao dos termos de erro pode ser obtida a partir do

    modelo (3.1) ao multiplicar a matriz por uma matriz triangular com diagonal

    principal unitria. O modelo resultante pode ser representado por:

    (3.8)

    Com este conjunto de equaes possvel determinar os efeitos dinmicos em cada

    varivel de um choque exgeno e as matrizes i so chamadas funes resposta a

    impulso. A interpretao dos conjuntos destas matrizes a seguinte:

    12 (0) o impacto instantneo em DCDS de uma alterao unitria em DOT

  • 34

    12 (1) o impacto no perodo seguinte em DCDS de uma alterao unitria em

    DOT

    O efeito total acumulado em DCDS de uma alterao unitria em DOT dado pela

    soma dos efeitos em cada momento:

    (3.9)

    So vrias as fatorizaes possveis para a matriz . Uma delas baseada na

    decomposio de Choleski onde a matriz multiplicada por uma matriz triangular

    inferior. Este procedimento implica uma decomposio triangular dos resduos, levando

    a uma ordenao das variveis, desde a mais influente (quando um choque numa

    varivel tem efeitos contemporneos na outra varivel) at varivel menos influente

    (um choque na varivel s tem efeitos contemporneos na outra varivel). A

    importncia desta condio depende da magnitude do coeficiente de correlao entre os

    termos de erro . No caso em que este coeficiente estatisticamente no significativo,

    a ordenao das variveis no importante. A hiptese de base assumida neste trabalho

    consiste em considerar que so os diferenciais de taxas de rendibilidade das OT que

    determinam contemporaneamente os prmios dos CDS, de acordo com o defendido em

    vrios estudos, como por exemplo Delatte et al. (2012), entre outros. Geralmente a

    validade da assimetria imposta pela decomposio de Choleski pode ser testada no

    contexto da anlise de causalidade.

  • 35

    Em econometria, a definio de causalidade mais usada a definio de Wiener

    Granger ou, simplesmente, a definio de Granger, desenvolvida por Granger (1969) e

    que pode ser enunciada da seguinte forma:

    X causa Y, no sentido de Granger, se os valores atuais de Y podem ser previstos com

    rigor a partir dos valores passados de X .

    Assim, o problema de testar se X causa Y, no sentido de Granger, corresponde a saber se

    X pode ser eliminado da equao, do modelo VAR, que descreve Y.

    O teste de Granger pode ser formulado, no contexto do presente trabalho, considerando

    a seguinte equao de ordem 3:

    (3.10)

    Dada a definio, se , ento DOT no causa DCDS, no sentido de

    Granger. Por outro lado, se qualquer dos for estatisticamente significativo, ento DOT

    causa DCDS.

    As decomposies de varincia proporcionam outra via para analisar a dinmica de um

    VAR. Assim, este mtodo permite verificar a proporo dos movimentos nas variveis

    dependentes que so devidos a choques nas prprias variveis, relativamente aos

    movimentos que so devidos a choques em outras variveis. Um choque na varivel

  • 36

    DCDS ir afeta-la diretamente, mas tambm ir afetar DOT dada a estrutura dinmica

    do VAR, efeito esse que se propagar novamente varivel DCDS.

    3.4. Anlise Univariada e de Cointegrao

    Durante muito tempo, a anlise economtrica sobre a relao entre variveis

    econmicas foi baseada no pressuposto da estacionariedade das mesmas. Do ponto de

    vista formal, uma srie temporal assumida como estacionria se:

    , t (3.11)

    y0, t (3.12)

    = ys, t e s (3.13)

    Onde representa a mdia, y0> 0 representa a varincia e ys representa a covarincia de

    ordem s. Assim, a estacionariedade em sentido fraco implica independncia e mdia e

    varincia constantes.

    Dado que neste contexto no necessrio fazer a distino entre diferentes tipos de

    estacionariedade, sero assumidas as equaes (3.11) (3.13) como definio de

    estacionariedade, sendo que, uma srie no estacionria (com raiz unitria) no satisfar

    os pressupostos anteriormente assumidos.

    Existe um conjunto de importantes diferenas entre sries estacionrias e no

    estacionrias. Em primeiro lugar, os choques impostos a uma varivel estacionria so

    temporrios, pois estes dissipam-se ao longo do tempo, e a srie tender para a sua

  • 37

    mdia. Por outro lado, se a srie for no estacionria, esta apresentar uma tendncia

    estocstica e os choques iro perdurar ao longo do tempo [Stewart e Gill (1998)].

    O exemplo mais simples de um processo estocstico acontece quando as ocorrncias

    numa varivel so identificveis e apresentam uma distribuio independente, com uma

    mediana igual a 0 e varincia constante. Este processo designado por rudo branco,

    e estacionrio. Outros processos no estacionrios simples so apelidados de passeio

    aleatrio e passeio aleatrio com deriva. Em ambos os casos, as varincias e

    covarincias so iguais mas no satisfazem as equaes (3.12) e (3.13). No entanto, se

    as variveis so no estacionrias, Park e Phillips (1989) e Sims et al. (1990)

    demonstraram que a teoria assimpttica no , em geral, aplicvel aos testes de

    hipteses no VAR10

    . Por outro lado, as estatsticas e F que so obtidas pelas regresses

    usando as variveis podero distribuies no estandardizadas11

    .

    comumente aceite que as sries econmicas so no estacionrias12

    . O procedimento

    usual diferenciar as variveis at estas tornarem-se estacionrias. Estas variveis so

    consideradas integradas em ordem d, ou seja I(d), onde d representa o nmero de vezes

    que as variveis devero ser diferenciadas at se obter a estacionariedade e de forma a

    garantir a invertibilidade do modelo ARMA. Assim, as sries estacionrias so

    designadas por I(d).

    Se as variveis econmicas so I(1), mas se existe a evidncia da existncia de uma

    relao de longo-prazo entre elas, o procedimento correto ser especificar um Modelo

    10

    A mesma ideia foi apresentada por Baltagi (1998) e por Davidson Mackinnon (1993). 11

    Ver Durlauf e Phillips (1988). 12

    Ver Mankiw e Shapiro (1985), Campbell e Mankiw (1987), Perron e Phillips (1988), Perron (1989), De

    Jong e Whiteman (1991).

  • 38

    Vetorial de Correo de Erros (VECM). No entanto, na maioria das aplicaes no

    conhecida antecipadamente a ordem de integrao das variveis nem se existe

    cointegrao entre elas. Desta forma, testes para determinao de razes unitrias e de

    cointegrao so obrigatrios para a estimao do modelo de vetores autoregressivos

    (VAR) e a anlise de hipteses fica condicionada por estes testes preliminares.

    Um problema associado ao uso de variveis no-estacionrias a existncia de

    regresses esprias. No caso de duas variveis apresentarem uma tendncia crescente, a

    regresso de uma das variveis na outra poder revelar uma relao significativa entre

    elas, muito embora as variveis possam ser independentes entre si. Sero assim obtidos

    altos coeficientes de significncia dos parmetros e elevados coeficientes de

    determinao. Estes resultados so considerados esprios e decorrentes de mero acaso.

    O debate acadmico em volta de correlaes esprias remonta a Yule (1926) mas, mais

    recentemente, a primeira contribuio significativa foi dada por Granger e Newbold

    (1974), que examinaram as relaes esprias entre duas variveis independentes e no

    estacionrias. As implicaes das razes unitrias na informao macroeconmica so

    profundas e tm impactos importantes na estimao de resultados. Desta forma,

    importante testar a ordem de integrao cada varivel do modelo de forma a testar a sua

    estacionariedade, o que efetuado atravs da anlise univariada das sries.

    Existem vrias formas de testar a presena de razes unitrias, mas a mais simples e

    mais usual foi desenvolvida por Fuller (1976) e por Dickley e Fuller (1979), sendo estes

    ltimos conhecidos por testes Dickley-Fuller ou DF. Existem ainda outros testes como o

    SRDW desenvolvido por Sargan e Bhargava (1983) e baseado no teste Z de Phillips

  • 39

    (1987). Dadas as consequncias que acarretam a utilizao de variveis no

    estacionrias, ser tomada a no estacionariedade como a hiptese nula, recorrendo aos

    testes DF.

    A forma mais simples do teste DF tem como base a estimao das seguintes equaes:

    (3.14)

    (3.15)

    (3.16)

    A diferena entre as equaes tem como base a existncia de componentes

    determinsticas e a escolha dever tender para a utilizao de equaes de regresso que

    simulam o processo de gerao de dados13

    . Em todas as equaes, o parmetro de

    interesse para o teste estatstico representado por ( -1), sendo a hiptese alternativa e

    nula definida por:

    (3.17)

    Se rejeitada, a sequncia estacionria, ou por outras palavras, no contm

    raiz unitria.

    Para este teste, Dickey e Fuller (1979) propuseram um teste estatstico equivalente ao

    teste de student para a estimativa ( -1) em cada regresso. Fuller (1976)