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As páginas da minha vida

Autor: Agência Canário

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A Agência Canário dedica esse livro aos alunos Ca-rolina A., Clara B., Janaína K., Mariana S., Mateus P., Paloma C. e Renato V. e ao seu querido cliente, Carlos Polônio e família.

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Sumário

1.Agência Canário

2.Como tudo começou

2.1.A busca pelo personagem principal

2.2.A escolha do personagem principal

3.A Criação da Campanha

3.1.O Briefing

3.2.Brainstorming e Mindmapping

3.3.A Identidade Visual

3.4.O ressurgimento da Fênix

4.O voo da Fênix

5.As páginas da minha vida

6. Cronograma

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1. AGÊNCIA CANÁRIO

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Depois da tempestade, vem sempre o pote de ouro: a agência se formou por meio de um sorteio e, apesar de todo o debate quanto a esse modelo de escolha de grupos, houve uma completa intera-ção e criação de laços profissionais e afetivos entre os membros, o que fez com que o projeto fluísse de uma forma natural e harmoniosa.

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2. COMO TUDO COMEÇOU

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A busca pelo personagem principal

Após o sorteio das profissões refe-rentes a cada grupo, ficou aos nossos cuidados a delicada profissão de res-taurar e encadernar livros. Para isso, era preciso encontrar um profissional da área que aceitasse participar do Projeto. Essa foi uma das partes mais difíceis, levando em consideração se tratar de uma profissão que não é en-contrada de maneira tão fácil. Depois de pesquisas sobre a profissão e pro-fissionais, selecionamos alguns conta-tos: as amigas Márcia e Rosa, o pai de família Carlos e a jovem Luana.

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Depois do primeiro contato por tele-fone e e-mail, fomos conhecê-los pes-soalmente. As primeiras a serem visi-tadas foram Márcia e Rosa, duas amigas que trabalham juntas há muito tempo. Depois, foi a vez de Carlos, um homem de 40 anos que trabalha com suas fi-lhas Jaqueline e Amanda. Por último, conhecemos a Luana, uma jovem de 20 anos, que faz da profissão, um hobby.

Após conhecermos a história de to-dos e suas necessidades, precisávamos escolher apenas um, então concluímos que:

• Márcia e Rosa estavam mais direcio-nadas para o restauro de obras de ar-tes, deixando os livros em segundo plano.

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• Luana não tinha certeza se era essa a carreira que queria seguir, além de ver essa profissão como um passatempo em suas horas livres.

• Carlos tem como principal renda a restauração e encadernação dos livros, além de que as filhas querem seguir os passos do pai.

Baseado nisso, escolhemos Carlos para ser o nosso cliente.

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A escolha da personagem

Carlos é um homem de 42 anos e que está há 25 anos na área. Nascido no Paraná, aprendeu todo o ofício de res-taurador com seu tio, que o abrigou em São Paulo. Seu primeiro ateliê foi construído no porão de sua sogra. Ape-sar da descrença de seus conhecidos em sua profissão, ele persistiu e montou alguns ateliês, chegando a ser convi-dado para lecionar na ABER (Associa-ção Brasileira de Encadernação e Res-tauro). Atualmente, trabalha com suas filhas em um ateliê no bairro da Li-berdade, dentro de um prédio comer-cial.

A sala é fechada, com poucas janelas, apertada e repleta de instrumentos técnicos. Por conta da grande quanti-dade de livros antigos guardados, mui-tas vezes com fungos e poeira, a at-mosfera da sala é levemente insalubre.

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Apesar das dificuldades, Carlos já restaurou e encadernou livros de clientes renomados. A coleção de li-vros do Príncipe Japonês e o acer-vo de livros pessoais dos presidentes da Companhia da Letra foram alguns de seus serviços. Entretanto, obras rela-cionadas a antigos familiares de seus clientes e que apresentam valores sen-timentais são as que mais aprecia.

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3. A CRIAÇÃO DA CAMPANHA

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Briefing

• Empresa: Livro Arte; Encadernação Artística e Restauração de Livros. Possui 20 anos de mercado e 5 clien-tes fiéis. Está localizada no Largo 7 de Setembro – Liberdade, em um prédio comercial. A equipe é constituída por três pessoas: Carlos e suas duas fi-lhas, Jacque e Amanda.

• Produto: O serviço oferecido é a restauração e encadernação de livros. Cria também convites para festas e caixinhas. Raramente atende clientes no ateliê, sendo o contato feito por te-lefone e entrega através de motoboys. O preço varia de acordo com o tamanho do livro, o estado de degradação e o material escolhido pelo cliente.

• Problema: Falta de divulgação.

• Objetivo: Reposicionamento da marca e maior divulgação.

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• Consumidor: O público é restrito a leitores de livros, tanto homens quan-to mulheres, a partir de 25 anos, de classes A e B que valorizam a estética do livro.

• Mercado: Segundo o site “Guia do Es-tudante”, o investimento em obras de arte e artigos históricos é crescen-te, o que faz com que a profissão te-nha uma maior visibilidade. São Paulo é o estado que contém 60% das coleções culturais móveis, o que oferece boas chances de trabalho.

• Concorrência: A concorrência direta se limita a um estabelecimento locali-zado no mesmo bairro do cliente.

• Objetivo de Comunicação: Transmi-tir a imagem de um trabalho artístico, digno de respeito e admiração.

• Campanha: 1 marca-páginas, 4 peças impressas e o Facebook como mídia vir-tual.

• Recomendações: Recomenda-se o uso da expressão “Encadernação Artística”, a pedido do cliente.

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Brainstorming e Mindmapping do problema

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Brainstorming e Mindmapping do lo-gotipo

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A Identidade Visual

A partir das soluções apresentadas no processo de criação, foi pensado que nada melhor para representar a marca do que o lendário pássaro Fênix, uma ave que vira cinzas ao morrer, mas que renasce dela mesmo, assim como o li-vro que é restaurado. Assim, unimos os conceitos de um livro aberto com o conceito de uma Fênix em chamas com suas asas abertas para a criação do logotipo.

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A partir da escolha e criação do logo, definimos toda a papelaria e vi-sual do Ateliê Livro Arte:

Quanto à identidade Visual da marca, utilizamos traços leves que trazem a ideia de movimento e fluidez, remeten-do ao voo e movimento da Fênix e cores clássicas que representam o refinamen-to - uma palheta de cores com varia-ções do vinho, marrom e dourado.

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Cartão de Visita

Papel timbrado

Envelope de car-ta

Envelope

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Para dar um charme ao cartão de visi-tas, foi criado o marca-páginas da Li-vro Arte. Na frente representa-se um livro velho e embolorado, mas, ao vi-rar, o livro está novo. Assim, a pes-soa poderá destacar o cartão de vi-sitas e ainda desfrutar de um marca página para seus livros:

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O ressurgimento da Fênix

Assim como na lenda, nosso projeto ressurgiu das cinzas da primeira pro-posta. Agora, o objetivo é exaltar a beleza de um livro restaurado e enca-dernado, o que o torna único e espe-cial. Para isso, foi usado a apropria-ção de dizeres e obras populares:

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4.O VOO DA FÊNIX

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Com a Campanha aprovada pelo cliente, começamos as ações:

Facebook 1.1. Alteração do visual da página do Facebook. Como a página estava com uma imagem incompatível com o novo concei-to da marca, aplicamos a nova identi-dade visual na foto de perfil, posts e capa, que tem a proposta de utilizar uma frase diferente escolhida a cada semana pelos seguidores da página.

1.2. Promoção do Vale Presente da Li-vraria Saraiva. Ao curtir a página e compartilhar o post da promoção, a pessoa (já cliente da empresa ou novo possível cliente) tem direito a con-correr a um Vale Presente da Livraria Saraiva no valor de R$ 35,00.

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1.3. Aumento do envolvimento das pes-soas com a empresa. Através de uma co-municação mais frequente com clientes, envolvendo ligações e utilização da mídia social, investindo assim na pós-venda.

2. Panfletagem

Optou-se pela realização da panfle-tagem em sebos no ano seguinte, pois o profissional está com muitos traba- lhos para o final do ano atual, pre-ferindo assim uma estratégia para não faltar serviços no início do ano.

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5. AS PÁGINAS DA MINHA VIDA

Para finalizar, deixamos aqui, na íntegra, o conto “As páginas da minha vida”, conto feito pela Agência Caná-rio.

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As páginas da minha vida

Nasci por volta de 300 anos atrás, meu pai mal podia se segurar de an-siedade para me ver formado e, fi-nalmente, quando respirei o mundo, percebi que meu destino era o amor, espalhar esse sentimento para as pes-soas. Fui me estruturando em palavras simples, doces e açucaradas ao longo de toda minha vida, como se a maldade que existia no mundo não me atingis-se. Acho que meu pai era mágico e fez algum tipo de bruxaria para que isso ocorresse. E felizmente ou infelizmen-te para mim, meu pai não era egoísta e assim sendo resolveu me dividir com o mundo. Confesso que fiquei triste em ter que abandoná-lo mas, por algum mo-tivo, ele enxergava em mim uma gran-deza que jamais conseguirei enxergar. Então fui, a despedida foi com total certeza mais difícil para mim do que para ele, mas fui e não olhei para trás. Quando cheguei nessa casa nova fui recebido com grande entusiasmo por uma garota jovem, linda e que não largava de mim, era o tempo todo, em todo lu-gar, quase que uma necessidade de es-tar perto. Passei noites a fora enxu-gando suas lágrimas que, segundo ela, eram causadas pelas minhas palavras.

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Achava eu que essa amizade, irman-dade, duraria por toda a minha vida útil, infelizmente estava redondamente enganado... Um dia aquela mocinha que me recebeu com entusiasmo cresceu, arrumaram-lhe um casório e uma coroa e de repen-te não havia mais espaço para que ela desenvolvesse seus sonhos, então fui largado de lado em um canto qualquer daquele enorme castelo. Hei, espera, calma...tá sacudindo tudo. Como correm essas perninhas que me carregam e como são sujas também, é parece que ganhei outra família. O en-graçado dessa minha nova amiga é que ela não se comunica como aquela outra mocinha se comunicava comigo. Minhas palavras fazem um efeito diferente nela, não procura em mim amor. Apenas me tem como uma vitrine de seu sonho, um sonho que irá buscar da maneira que for preciso. Gosto dela. Tem um jeito engraçado, perde seu tempo tentando me desvendar, conta-me histórias e acha que tais histórias são minhas. Pobre garota, mal sabe o quão melhor as suas são.

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As dificuldades daquela casa eram enormes e em determinado dia os grave-tos que tinham como lenha acabaram e a solução encontrada pela família foi me queimar para aquecê-los. Arrancaram de mim a identidade que dizia quem era meu pai e o por quê da minha existên-cia e lançaram ao fogo, confesso que uma parte minha se desfez ali. Quan-do “a senhorita pernas sujas” perce- beu que sua vitrine dos sonhos estava prestes a desaparecer, lutou ferozmen-te, arrancou-me das mãos de seu pai.

Correu, correu e correu pela floresta congelada, como se, ao me salvar sal-vasse a humanidade. Suas fracas per-nas a enganaram e a projetaram para o chão, com a queda a nossa separação foi inevitável, nunca mais a vi.

Aquele ambiente extremamente frio me conservou e deixou-me inativo, sem ne-nhuma conversa por anos. Até que um caçador em uma de suas passadas na floresta em busca de um servo, trope-çou em mim, bateu com a cabeça em um toco e depois de xingar Deus e o mundo me percebeu. Tinha um certo medo de se aproximar e conversar comigo. Passa-da a timidez inicial nossas conversas eram longas, um pouco dificultosas no começo mas bem produtivas. Funciona-va eu como sua companhia, sua família, seus amigos.

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Pensei ter reencontrado meu pai na-quele humilde homem, passamos anos na companhia um do outro e em uma noi-te estranha, não me procurou para mais uma de nossas conversas repetidas. Se seguiram dias, mais dias, semanas e meses sem nenhum tipo de conversa. Descobri mais tarde que em uma de suas caçadas diárias seu coração resolveu não bater mais e assim aquele humilde e gentil homem foi para a terra do in-finito. Creio que nunca conhecerei tal terra, será que meu pai me fez eterno? E depois de saquearem toda a cabana do caçador, fui uma dos poucas coi-sas deixadas naquele espaço que ago-ra se encontra abandonado. Anos e mais anos e mais anos se passaram sem que eu conversasse com ninguém. Ficava pa-rado, jogado na cabana e então, em uma tarde fria, escutei passos, passos cautelosos e em grande número. Entra-ram na cabana umas três famílias, to-dos muito assustados, examinavam cada milímetro do espaço como se um monstro estivesse atrás deles. Ninguém deu im-portância para mim, preferi pensar que era por me encontrar jogado em um can-to qualquer.

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A conversa entre eles era tensa e re-pleta de medo, falavam sobre um homem ruim que os perseguia, um tal de Adolf Hitler que comandava uma tal Alemanha nazista e que aguardariam ali por al-guns dias apenas e logo depois fugi-riam para outro lugar, temiam o futuro dos seus filhos. Eu já estava pensan-do que ali continuaria sem ser notado, quando agacha perto de mim uma menina linda, que com sua curiosidade me pega e começa a ter uma conversa. Depois de anos estou novamente conversando com alguém. Gostou tanto de nossas conver-sas e de adentrar no meu mundo, que ao fugir com seus parentes me carre-gou junto e dali em diante as conver-sas eram diárias, não existia um dia se quer sem que nós não conversássemos pelo menos duas vezes. Um ajudava o outro, ela saciava minha sede por con-versas e eu a ajudava a amenizar aque-le clima tão pesado em que vivia.

Aquele grupo de três famílias foi cada vez mais ficando menor, até que res-taram a minha amiga e seu irmão, que continuavam fugindo exaustivamente. Um dia, para minha tristeza, os dois fo-ram pegos e levados para um enorme es-paço cheio de outras pessoas.

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Ao chegar lá a garota procurou logo me esconder, porque de certa forma nossas conversas a tranquilizavam. Ho-mens e mulheres eram separados e em um último abraço os irmãos se despediram para nunca mais se verem. Eu fui ar-rancado dos braços da garota, também nunca mais a vi... Uma mulher estranha me guardou em um buraco feito no chão e ali permaneci por muito tempo, foi a primeira vez na minha existência que senti ir visitar a tal terra do infi-nito, senti-me desfazendo, esfarelan-do, meu fim estava chegando. Por uma ação do destino os perten-ces daquela mulher que me guardou por anos em um buraco, junto a objetos de outras crianças, foram descobertos e lançados ao mundo. Não tinha mui-tas pessoas atrás daqueles objetos ou atrás de mim, já que boa parte de seus donos haviam morrido de forma brutal naquele lugar. Fiquei dias exposto, esperando totalmente sem esperanças que alguém me buscasse. Foi quando, em uma monótona tarde, um senhor com ca-belos brancos como a neve se aproximou de mim e parecendo não acreditar no que seus olhos viam, se pôs a chorar, um choro que vinha da alma, um cho-ro de quem não vê alguém de que gosta muito há anos, um choro de reencontro.

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Aquele senhor que usou uma luva e me guardou em um recipiente adequado para levar-me embora era o irmão da minha amiga que, infelizmente, não saiu viva daquele campo de concentração.

Já não podia oferecer a ele longas conversas tendo em vista boa parte de mim ter ido embora. A lembrança que esse agora senhor tinha da irmã esta-vam guardadas em mim, por isso se es-pecializou em resgatar outros como eu, e levou quase uma vida para que me en-contrasse, e como um mago me fez das cinzas em que me encontrava surgir a fênix que um dia fui. E com a restau-ração que realizou das minhas pági-nas, fez restaurar com elas as lem-branças de tudo e todos que aqui vos conto. Fui escrito para o amor e salvo por ele também fui. E nas minhas agora lindas e brilhantes páginas de um li-vro de mais de 300 anos, procuro guar-dar a essência de uma princesa, de uma leiga sonhadora, de um humilde e gen-til caçador e da forte e inspiradora menina que mesmo em dias negros procu-rava seguir na luz.

Consideração final: Conto baseado no mito da Fênix e na História de Anne Frank.

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6. CRONOGRAMA

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6. CRONOGRAMA

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