AS PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA DE LÂMPADAS: UM ESTUDO DE...
Transcript of AS PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA DE LÂMPADAS: UM ESTUDO DE...
AS PRÁTICAS DA LOGÍSTICA REVERSA DE
LÂMPADAS: UM ESTUDO DE CASO EM UM
HOSPITAL LOCALIZADO NA REGIÃO SUL DO
BRASIL
RAFAEL MOZART DA SILVA (UFRGS )
ELIANA TEREZINHA PEREIRA SENNA (UNICAMP )
Guilherme Bergmann Borges Vieira (UCS )
Luiz Afonso dos Santos Senna (UFRGS )
O objetivo deste artigo foi verificar as práticas de logística reversa de pós-
consumo das lâmpadas utilizadas por hospital de grande porte localizado na
região sul do Brasil. Utilizou-se como estratégia o estudo de caso de caráter
exploratório, onde foram realizadas entrevistas com os participantes do
processo de logística reversa. Como resultado da pesquisa constatou-se que o
hospital está comprometido em aprimorar os seus processos de logística
reversa das lâmpadas e que as práticas realizadas pela organização vai ao
encontro dos princípios e ações pesquisadas na teoria. Entende-se que este
trabalho pode contribuir com novas pesquisas relacionadas à utilização da
logística reversa.
Palavras-chaves: Logística Reversa, Sustentabildiade, Meio Ambiente, Pós-
Consumo
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
2
1. Introdução
Nos ambientes globalizados e de alta competitividade, as empresas modernas reconhecem
cada vez mais que, além da busca pelo lucro em suas transações, se faz necessário atender a
uma variedade de interesses sociais, ambientais e governamentais, garantindo sua
lucratividade e seus negócios, satisfazendo desta forma os diferentes stakeholders que
avaliam a empresa sob diferentes perspectivas (LEITE, 2009).
Neste contexto, percebe-se que a logística empresarial, pelo seu potencial competitivo, vem
evoluindo ao longo das últimas décadas, e mais recentemente, o conceito de logística reversa
está assumindo um importante papel no cotidiano das organizações e também da população de
forma geral (PERONA e MIRAGLIOTTA, 2004; SASSI, 2006; LEITE, 2009).
Para Leite (2009), a logística reversa é a área da logística empresarial a qual planeja, opera e
controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-
venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas.
Através dos programas e práticas de logística reversa, as organizações podem substituir,
reutilizar, reciclar, descartar seus produtos de maneira eficiente e eficaz, atendendo não
somente as exigências dos clientes e parceiros, como também podendo cumprir as leis
(ROGERS, TIEBBEN-LEMBKE, 1999).
Neste contexto, percebe-se que organizações como os hospitais, são consumidores dos mais
diversos insumos, os quais são necessários para o desempenho de suas atividades e operações.
As práticas de relacionadas à logística reversa realizadas nesses ambientes necessitam serem
tratadas de forma adequada e exigem muita atenção dos diversos atores envolvidos. A falta de
um adequado sistema de logística reversa nas organizações hospitalares pode gerar sérios
danos para o meio ambiente.
O objetivo desta pesquisa foi verificar como um hospital localizado na cidade de Porto Alegre
realiza a logística reversa das lâmpadas utilizadas nas suas instalações. No escopo dos
insumos utilizados nas suas atividades, existem mais de 6.000 itens de consumo divididos em
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
3
famílias como, materiais médicos, medicamentos, materiais de expediente, gêneros
alimentícios, uniformes e materiais de manutenção e conservação predial. Na família de
materiais de manutenção e conservação predial, as lâmpadas utilizadas nas suas instalações,
estão entre os itens de maior criticidade em relação ao pós-consumo da organização.
Na Seção 1 deste trabalho é apresentado o tema e uma breve contextualização do problema
investigado. Na Seção 2, apresenta-se o referencial teórico utilizado na pesquisa. A
metodologia de pesquisa é apresentada na Seção 3. Na Seção 4, apresenta-se o estudo de caso.
Por fim, na Seção 5, demonstram-se as conclusões e contribuições do trabalho, as quais
poderão ser utilizadas como hipóteses para novas pesquisas.
2. Referencial teórico
Nesta seção apresenta-se uma síntese dos principais conceitos e características relevantes
sobre a logística reversa e meio ambiente, visando dar sustentação teórica ao objetivo do
estudo proposto pela pesquisa.
2.1 Logística Reversa e Meio ambiente
Atingir a sustentabilidade ambiental exige mudanças de paradigmas sociais e também no
âmbito da gestão de negócios. Entender essas dificuldades como sendo um problema de toda a
sociedade significa ter consciência da magnitude desses conceitos e do impacto dessa
conscientização no alcance da gestão das empresas que estão empenhadas com o crescimento
sustentável (SHEU, 1996; STOCK et al., 1998)
O objetivo do desenvolvimento sustentável prima um crescimento econômico de forma a
minimizar respectivos impactos no meio ambiente. Dessa forma, é preciso aumentar o uso da
disponibilidade de recursos projetando produtos que, ao mesmo tempo, satisfaçam as
necessidades humanas não somente de modo imediato, mas também para as futuras gerações.
Projetar e produzir produtos que estão de acordo com as limitações ecológicas do planeta
também significam expandir o ciclo de vida dos produtos, de forma que, o reuso e o
reaproveitamento seja incorporado como praticas necessárias, tanto por exigências legais e
competitividade econômica como por conscientização para a sustentabilidade
(ARRIVABENE, SASSI, e ROMERO, 2011).
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
4
De acordo com Rogers e Tibben-Lembke (1999), a logística reversa é o processo de
planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e de baixo custo de matérias-
primas, materiais em processo, produtos acabados e informações relacionadas desde o ponto
de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recuperar valor ou obter o descarte
apropriado.
Ao longo dos anos a logística restringiu parte de suas atividades a entrega dos produtos ao
cliente e os fabricantes não se sentiam responsáveis por seus produtos após a venda, porém
com a velocidade e aumento de descarte dos produtos em razão do consumo, disponibilidade
maior de mix, diminuição dos estoques, dentre outros fatores, percebe-se uma mudança e
preocupação ecológica dos consumidores, novas legislações ambientais, novos padrões de
competitividade de serviços ao cliente e as preocupações com a imagem corporativa tem
impulsionado cada vez mais a criação de canais reversos de distribuição que reduzam a
quantidade de produtos descartados no meio ambiente.
De acordo com Leite (2009), os canais de distribuição reversos (CDR´s) podem
compreendidos como canais reversos de Pós-Venda e Pós-Consumo. Apresenta-se abaixo de
forma sucinta uma breve explanação conceitual sobre os canais reversos:
Os canais reversos de Pós-Venda: são constituídos pelas diferentes formas e
possibilidades de retorno de uma parcela dos produtos, com pouco ou nenhum uso,
que fluem no sentido inverso, do consumidor ao varejista ou ao fabricante, do varejista
ao fabricante, entre as empresas motivadas por problemas relacionadas à qualidade em
geral ou a processos comerciais entre empresas, retornando ao ciclo de negócios de
alguma maneira;
Os canais reversos de Pós-Consumo: são constituídos pelo fluxo reverso de uma
parcela de produtos e de materiais constituintes originados no descarte dos produtos,
após finalizada sua utilidade original, retornam ao ciclo produtivo de alguma maneira,
sendo este canal desmembrado em três subsistemas: os canais reversos de reuso, de
remanufatura e de reciclagem.
Para Nascimento (2008), as questões ambientais podem ser ajustadas de forma simultânea
com com os processos operacionais do gerenciamento da cadeia de suprimentos, incluindo
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
5
soluções de logística reversa. A logística reversa abrange os retornos e também as atividades
relacionadas aos itens de movimentação “para trás” (backwards) na cadeia de suprimentos ,
sendo que estes retornos tradicionalmente podem resultar de problemas, dificuldades ou erros
de venda e também decorrer dos níveis de estoque mínimos para atender os consumidores.
De acordo com Nascimento (2008), a redução dos impactos ambientais de uma empresa não
depende apenas de esforços organizacionais internos, pois produtos e os resíduos poluentes
também decorrem das características dos insumos adquiridos. Portanto, incrementar o
desempenho ambiental também significa unir esforços entre empresas compradoras e
fornecedoras.
3. Metodologia de Pesquisa
Conforme Marconi e Lakatos (2010), a pesquisa pode ser entendida como um procedimento
formal, com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se
constitui no caminho para que se conheça a realidade ou se descubra verdades parciais. Na
Figura 1 apresenta-se a estrutura metodológica utilizada para o desenvolvimento e aplicação
desta pesquisa:
Figura 1: Estrutura da metodologia de pesquisa
Fonte: elaborada pelos autores
Com base no exposto por Silva e Menezes (2005), afirma-se que, quanto à natureza, este
trabalho se classifica como uma pesquisa aplicada, pois objetiva gerar conhecimentos para
aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e
interesses locais.
No que se refere à forma de abordagem, esta pesquisa classifica-se como qualitativa. De
Metodologia de Pesquisa
Quanto a
Natureza
Pesquisa
Aplicada
Quanto a
Abordagem
Quanto ao
Objetivo
Exploratória
Procedimento
Técnico
Estudo de
Caso Qualitativa
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
6
acordo com Creswell (2007), pesquisas com abordagem qualitativa têm como enfoque os
estudos em que as variáveis ainda são desconhecidas, pois é um método em que a quantidade
é substituída pela intensidade, mediante a análise de diferentes fontes que possam ser
cruzadas.
De acordo com as classificações de Gil (2010), quanto ao objetivo, classificou-se esta
pesquisa como exploratória, uma vez que busca-se uma maior familiaridade com o problema
e torná-lo mais explícito. Para Collins e Hussey (2005), a pesquisa exploratória objetiva
encontrar padrões, ideias ou hipóteses, pois utiliza-se um método mais aberto, onde o foco
está em reunir dados e impressões amplas sobre o fenômeno estudado.
O procedimento técnico utilizado neste trabalho foi o estudo de caso. Segundo Yin (2005), o
estudo de caso é uma forma de pesquisa que busca investigar um fenômeno contemporâneo
dentro de seu contexto e de uma realidade, especialmente quando os limites entre o fenômeno
e o contexto não estão claramente definidos.
A coleta de dados desta pesquisa ocorreu por meio de entrevistas em profundidade
semiestruturadas. As entrevistas foram realizadas na sede da empresa objeto desse estudo, em
um local apropriado para que os participantes ficassem a vontade para responder todas as
questões. As perguntas realizadas durante a entrevista foram estruturadas no formato de bloco
de perguntas, conforme a estrutura apresentada na Tabela 1:
Tabela 1: Bloco de perguntas Bloco Perguntas Respondentes
1
Processo de
LR de Pós-
consumo
1.1 É realizada a logística reversa de algum tipo de material no hospital?
1.2 Como ocorre o processo de logística reversa na organização?
1.3 Quem são os atores envolvidos no processo de logística reversa de
pós-consumo?
1.4 Qual o papel de cada ator envolvido neste processo?
R1
2
Processo de
compras de
materiais
2.1 Com relação aos critérios ou variáveis envolvidas no processo de
compras, é observado algum aspecto relacionado a logística reversa dos
produtos ou materiais adquiridos?
2.2 Os fornecedores realizam a logística reversa de algum tipo de
material?
2.3 O descarte de materiais é observado no momento da compra, ou
mesmo a decisão por algum tipo de insumo em especial?
2.4 É exigido algum tipo de certificação dos fornecedores?
2.5 Na compra de lâmpadas é observado algum tipo de restrição ou
tratamento diferenciado para a sua aquisição?
R2
3
Processo de
descarte das
lâmpadas
3.1 Como é realizado o processo de recolhimento das lâmpadas para
descarte?
3.2 Como é realizado o descarte das lâmpadas?
R3
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
7
3.3 Quais os riscos envolvidos no descarte das lâmpadas?
3.4 Quais os cuidados ou requisitos envolvidos no descarte das
lâmpadas?
4
Processo de
coleta e
destinação
das
lâmpadas
4.1 Quais as exigências legais para prestar o serviço de recolhimento de
lâmpadas usadas?
4.2 Como funciona o processo de recolhimento deste tipo de material?
4.3 Qual a destinação dada para as lâmpadas recolhidas?
4.4 Quais os impactos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, na
prestação desse serviço?
R4
Fonte: Elaborada pelos autores
Os entrevistados foram selecionados por estarem diretamente envolvidos com o processo
analisado nesta pesquisa. Na Tabela 2, são apresentados os respondentes das entrevistas de
acordo com os blocos de perguntas.
Tabela 2: Tabela de respondentes
Respondentes Função/Papel
R1 Gerente de Suprimentos e Logística
R2 Analista de Compras
R3 Responsável pela Área de Coleta das lâmpadas
R4 Fornecedor responsável pela coleta lâmpadas
Fonte: Elaborado pelo autor
A transcrição das entrevistas foi organizada conforme os blocos de perguntas. A transcrição
em formato de blocos possibilitou abranger detalhes abordados pelos entrevistados em maior
profundidade, bem como captar os aspectos mais significativos com maior facilidade e
clareza.
4. Estudo de Caso
O hospital objetivo desta pesquisa foi fundado em outubro de 1927. Em 1979, foi inaugurado
o Centro Clínico, consolidando a atuação da instituição no segmento hospitalar. Na década de
1990, foram adotados modelos de gestão com base nos conceitos de qualidade total. Em 2004,
praticamente foi dobrada sua área construída, chegando a 80 mil metros quadrados.
Em agosto de 2007, foram ampliados os serviços no hospital, a partir dos novos núcleos de
geriatria e gerontologia, otorrinolaringologia e cirurgia plástica. Os núcleos atendem os
clientes de forma integral e reforçam o conceito de conveniência, isto é, em um único local
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
8
pode-se realizar consultas, diagnósticos, tratamentos e pequenas cirurgias.
Em 2011, o hospital recebeu, pela quarta vez consecutiva, a Acreditação Hospitalar
Internacional conferida pela Joint Commission International (JCI), que consiste em um selo
de qualidade de classe mundial em saúde.
No âmbito nacional, o hospital integra um seleto grupo de seis instituições privadas com as
quais o Sistema Único de Saúde (SUS) estabeleceu vínculo formal, por seu notório
reconhecimento nacional e internacional, com o objetivo de prestar aos cidadãos um
atendimento mais humano, ágil e eficiente. Atualmente a Instituição está em processo de
expansão de suas atividades visando atender às necessidades de saúde em todos os ciclos de
vida e em todas as especialidades.
4.1 Aplicação das entrevistas
A utilização dos blocos de perguntas teve como objetivo facilitar o entendimento do processo
de logística reversa das lâmpadas, respeitando a ordem de ocorrência das atividades dentro da
organização estudada. As entrevistas foram transcritas de forma parcial, através da análise do
pesquisador diante das respostas dos entrevistados.
4.1.1 Entendimento do Processo
De acordo com o R1, o hospital realiza a logística reversa dos materiais ainda de forma
parcial. No caso de alguns itens, tais como os campos cirúrgicos descartáveis (produto
descartável utilizado para proteção e isolamento durante procedimentos cirúrgicos) o próprio
fabricante Kimberly Clark recolhe os resíduos ou propõe que se negocie o custo do descarte
correto, no momento da negociação da primeira compra, com um fornecedor devidamente
cadastrado e validado pela própria instituição.
Para outros itens como lâmpadas, pilhas, baterias e assemelhados, o R1 afirma que as compras
ainda não estão atreladas à logística reversa, mas o hospital já está com a sua política de
compras ajustada, bem como as minutas de contratos e o manual do fornecedor, para que as
questões de logística reversa tenham um peso importante na decisão de uma compra e seja
tratada com responsabilidade em qualquer nova aquisição.
Ainda segundo o R1, no recebimento de móveis, máquinas e equipamentos, já tornou-se uma
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
9
rotina no hospital, o próprio fornecedor recolher o papelão, plástico e demais materiais de
embalagens no momento da entrega e instalação desses bens. Na visão do R1 a organização
ainda precisa avançar muito na questão da logística reversa no que tange a aquisição de
equipamentos eletrônicos e de informática.
Para descrever como ocorre o processo de logística reversa na organização, o R1 relata que no
momento da negociação, os compradores estão treinados para cumprir as orientações da
política de compras interna e as regras do manual do fornecedor, bem como a posterior
elaboração de contratos com cláusulas específicas que tratem a questão da logística reversa e
destinação dos resíduos.
Segundo o R1, após a efetivação da compra, as questões práticas são providenciadas
conforme as negociações. Nas compras em que ainda não é possível negociar as questões de
logística reversa, o hospital utiliza a sua grade de fornecedores previamente qualificados para
realizar o recolhimento dos resíduos, conforme a sua classe e regras do Conselho Nacional do
Meio Ambiente - CONAMA.
Com relação aos atores envolvidos no processo de logística reversa de pós-consumo da
organização, o R1 afirma que as áreas usuárias estão orientadas para descartar corretamente
os resíduos gerados, bem como as lideranças de cada área. Como suporte ao processo,
destacam-se as áreas de recebimento, almoxarifado central, engenharia e obras (área
responsável pela manutenção e conservação predial do hospital).
Dentro do processo de logística reversa de pós-consumo da organização, o R1 destaca que o
papel dos atores envolvidos “é realmente garantir que seja cumprido o que está no mapa
estratégico da Instituição, que é contribuir através da atuação na área da saúde para a
transformação da sociedade e a preservação do meio ambiente e assegurar a sustentabilidade
econômica, social e ambiental da Instituição”.
4.1.2 Processo de Compras
Com relação aos critérios e variáveis envolvidas no processo de compras, o R2 afirma que no
momento ainda não estão sendo observados os aspectos relacionados à logística reversa dos
materiais adquiridos. Com a publicação da última versão do manual do fornecedor, porém,
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
10
esses aspectos serão abordados nas novas negociações.
De acordo com o R2, grande parte dos fornecedores disponibiliza o serviço de logística
reversa dos produtos e materiais fornecidos por eles, porém com um custo muito elevado, fato
que inviabiliza a utilização do serviço dos próprios fornecedores dos itens.
Segundo o R2, no momento também não está sendo observada a questão do descarte dos
materiais como critério de decisão de compra, bem como não está sendo exigido nenhum tipo
de certificado ambiental dos materiais e produtos. Essa situação, porém, mudará a partir da
utilização dos novos requisitos de fornecimento exigidos no novo manual do fornecedor, para
as novas negociações com fornecedores.
Segundo o R2, as compras de lâmpadas seguem os critérios de melhores condições comerciais
como, preço, prazos de entrega e pagamento, aliados a qualidade mínima exigida para o
produto. Na Figura 1, ilustra-se o consumo médio anual por tipo de lâmpada no hospital:
Figura 1: Consumo médio anual de lâmpadas
Tipo de lâmpada Consumo médio anual % ∆
Lâmpadas fluorescentes 6.264 65%
Lâmpadas incandescentes 2.739 28,45%
Lâmpadas halógenas 357 3,70%
Lâmpadas diversas 269 2,79%
Consumo total 9.629 100%
Fonte: Elaborada pelos autores com base nas entrevistas (2013)
Atualmente a organização utiliza uma média anual de 9.629 lâmpadas em suas instalações,
sendo que aproximadamente 65% desse total reflete o consumo de lâmpadas fluorescentes, as
quais apresentam a melhor eficiência energética, porém possuem as substâncias mais
prejudiciais ao meio ambiente e á saúde humana. O restante do consumo está divido em
lâmpadas incandescentes, que representam em torno de 29% do total, lâmpadas halógenas,
cerca de 3,7% do consumo total. O restante está dividido entre outros tipos de lâmpadas,
algumas específicas para utilização em equipamentos.
4.1.3 Processo de Descarte de Lâmpadas
De acordo com a descrição do processo realizada pela R3, cada área do hospital abre um
chamado para área de manutenção a fim de que seja realizada a troca de lâmpadas conforme a
necessidade. O colaborador da área de manutenção que realizou a troca leva as lâmpadas
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
11
substituídas até um depósito, onde estas são dispostas amarradas e deitadas, até que seja atinja
a quantidade mínima necessária para solicitação de coleta por parte do fornecedor prestador
de serviços.
Atualmente o hospital mantém contrato de prestação de serviços com uma empresa
especializada em descontaminação e trituração de lâmpadas, a qual realiza a coleta das
lâmpadas no hospital e as encaminha para destinação conforme o tipo do produto. Essa
empresa faz o tratamento das lâmpadas, armazenando todos os seus componentes, separando-
os e possibilitando a reutilização dos seus resíduos.
Segundo a R3, o principal risco associado ao processo de descarte das lâmpadas é a
intoxicação pela inalação do gás Hg (Mercúrio) existente na composição das lâmpadas
fluorescentes e que é liberado quando estas se quebram. Outro risco, conforme a R3, é a
possibilidade das pessoas se cortarem ao manusearem as lâmpadas.
Para evitar acidentes, a R3 afirma que os colaboradores são orientados a armazenarem as
lâmpadas substituídas nas próprias embalagens onde foram adquiridas, ou nas embalagens das
lâmpadas novas utilizadas na substituição. Após as caixas são disponibilizadas deitadas para
evitar que caiam e se rompam.
4.2.4 Processo de Coleta das Lâmpadas Utilizadas
Segundo o R4, as exigências legais para prestar o serviço de recolhimento de lâmpadas usadas
são basicamente, a apresentação das seguintes licenças: i) Licença de Operação expedida pelo
município em que a empresa está instalada, ii) Autorização para remessa de resíduos sólidos
para fora do estado, iii) Licença de Operação emitida pela FEPAM, iv) Certificado de
Regularidade emitido pelo IBAMA, v) Autorização Manifesto Transporte de Resíduos –
MTR, e vi) Licença de Operação de Fontes Móveis de Poluição emitida pela FEPAM.
De acordo com o R4, o processo de coleta e destinação das lâmpadas inicia com a solicitação
de recolhimento por parte da empresa contratante. Após o devido recolhimento, ao chegarem
nas instalações da empresa, as lâmpadas são descarregadas do caminhão e inspecionadas para
a verificação de variações e origem, então são desembaladas, contadas e estocadas em pallets,
de acordo com o tipo e tamanho.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
12
O R4 explica que as lâmpadas fluorescentes são processadas em máquinas que capturam o
vapor de mercúrio retido no filtro de carvão ativado que fica em compartimento lacrado e a
cada 200.000 lâmpadas é descartado em aterro de Classe I. Outros dois filtros retêm todas as
impurezas resultantes do processo e também são descartadas em aterros licenciados.
Dos resíduos resultantes do processo, o vidro é separado e após a moagem é utilizado na
fabricação de garrafas. O alumínio é derretido e reintegrado ao processo produtivo. As
lâmpadas incandescentes não possuem mercúrio, por isso o processo consiste apenas na
trituração e separação dos componentes (vidro e metais). Na Figura 2, demonstra-se os
resíduos resultantes do processo de trituração e moagem das lâmpadas, os quais retornarão ao
ciclo produtivo.
Figura 2: Resíduos sólidos gerados após processo de trituração
Fonte: Recilux (2012)
Na visão do R4, o principal impacto da implementação da Política Nacional dos Resíduos
Sólidos fica por conta da preservação do meio ambiente. Ainda de acordo com o R4, existe
também o impacto econômico que torna o produto mais caro pela obrigatoriedade de passar
por todo esse processo, sendo que esse custo maior será repassado ao consumidor final.
5. Conclusões
A partir dos dados coletados na realização do estudo de caso, foi possível perceber que o
hospital está comprometido em aprimorar os seus processos de logística reversa dos itens de
pós-consumo.
Com relação às práticas de logística reversa adotadas pelo hospital em relação as lâmpadas,
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
13
percebe-se uma aderência aos princípios propostos pelos autores pesquisados no referencial
teórico. O fluxo reverso dos materiais, do ponto de consumo até o ponto de origem precisa ser
gerenciado e neste sentido, a organização contratou um fornecedor especializado para a coleta
e correta destinação das lâmpadas utilizadas.
A logística reversa de pós-consumo se concentra principalmente na gestão dos fluxos
reversos, a partir dos produtos descartados, visando agregar-lhes valor através da reintegração
dos seus materiais ao ciclo produtivo. Verificou-se que o vidro e o alumínio das lâmpadas
utilizadas no hospital retornam ao ciclo produtivo da fabricação de garrafas e produtos
metalúrgicos.
Também é importante observar a importância da correta destinação das lâmpadas descartadas
com relação ao seu impacto no meio ambiente. Por serem produtos que contêm uma
substância altamente tóxica, como é o caso do mercúrio nas lâmpadas fluorescentes, o
processo realizado pelo hospital esta adequado inclusive à legislação ambiental atual.
De forma geral entende-se que são consideráveis os esforços do hospital na busca de
melhorias para a realização do processo de logística reversa de pós-consumo. Sendo uma
organização hospitalar, a quantidade e a criticidade dos resíduos gerados na sua operação,
torna-se fundamental um adequado programa de logística reversa de pós-consumo para a
sustentabilidade da organização e da comunidade ao seu entorno.
Por fim, cabe salientar que atualmente o tema abordado neste trabalho é importante no
contexto das organizações e recomenda-se a realização de novos estudos e pesquisas com a
finalidade de colaborar com a evolução e aplicação da logística reversa.
Referências bibliográficas
ARRIVABENE, A.; SASSI, R. J.; ROMERO, M. Corporate sustainability with security to investors: Analyses of
Business Intelligence Governance following the requirements of Sarbanes- Oxley law. 3rd IEEE International
Conference on Communication Software and Networks (ICCSN), Xi’an, China, 2011
COLLINS, J. e HUSSEY, R. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-
graduação. Porto Alegre: Bookman, 2º edição, 2005.
CRESWELL, J. W. Projetos de pesquisa: Métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,
2007.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
14
GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
LEITE, P. R. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo, Prentice Hall, 2009.
MARCONI, M. A. e LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 7º ed., 2010.
NASCIMENTO, L. O Insustentável Sustentável. In: EnANPAD, Rio de Janeiro. Anais do EnANPAD, 2008.
p.1-10.
PERONA, M., MIRAGLIOTTA, G. "Complexity management and supply chain performance
assessment: a field study and a conceptual framework", International Journal of Production
Economics, Vol. 90 No.1, pp.103-115, 2004.
ROGERS, D. S.; Tibben-Lembke, R. S. Going Backwards: Reverse Logistics Practice; IL: Reverse Logistics
Exectuve Council, 1999.
SHEU J, H. C. Cytotoxic oxigenated desmosterols of the red alga Galaxaura marginata. J Nat Prod 59: 23-26.,
1996.
SILVA, E. L. e MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4.ed. Florianópolis:
UFSC, 2005. 138 pg.
STOCK, J. R. Development and Implementation of Reverse Logistics Programs. United States of America:
Council of Logistics Manegement, 1998.