LOGÍSTICA REVERSA: ANÁLISE DA GESTÃO DE CUSTOS NA...

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LOGÍSTICA REVERSA: ANÁLISE DA GESTÃO DE CUSTOS NA APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA EM UMA EMPRESA DE BEBIDAS. Leonardo Ayres Cordeiro (PUC-Minas ) [email protected] LUIZ FRANCISCO BARBOSA (PUC-Minas ) [email protected] Naiara Neves Pereira (PUC-Minas ) [email protected] Thamara Pollianna Praxedes Silva (PUC-Minas ) [email protected] A logística é uma área que tem como papel o desenvolvimento de técnicas de armazenamento e gerenciamento da distribuição interna e externa dos insumos e produtos de um processo produtivo. Uma das áreas da logística empresarial é a logísticaa reversa que envolve todas as operações relacionadas à reutilização de produtos e materiais, na busca de uma reintegração destes a processos produtivos sustentáveis. O presente artigo tem como objetivo demonstrar como a logística reversa pode ser utilizada como ferramenta para desenvolver o pilar econômico da sustentabilidade, demonstrando a viabilidade de aplicação deste conceito. São apresentados os resultados com o estudo do processo de retorno de garrafas 635 ml em uma empresa de bebidas. O trabalho se desenvolveu a partir de uma pesquisa exploratória e descritiva, caracterizada como um estudo de caso. Conclui-se que a aplicação da logística reversa traz contribuições e benefícios econômicos e financeiros para a empresa e que sua aplicação é viável nos processos de distribuição utilizados por esta. Palavras-chave: Logística Reversa, Fluxo logístico, Benefícios econômico-financeiros, Gestão de Custos XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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LOGÍSTICA REVERSA: ANÁLISE DA

GESTÃO DE CUSTOS NA APLICAÇÃO

DA LOGÍSTICA REVERSA EM UMA

EMPRESA DE BEBIDAS.

Leonardo Ayres Cordeiro (PUC-Minas )

[email protected]

LUIZ FRANCISCO BARBOSA (PUC-Minas )

[email protected]

Naiara Neves Pereira (PUC-Minas )

[email protected]

Thamara Pollianna Praxedes Silva (PUC-Minas )

[email protected]

A logística é uma área que tem como papel o desenvolvimento de

técnicas de armazenamento e gerenciamento da distribuição interna e

externa dos insumos e produtos de um processo produtivo. Uma das

áreas da logística empresarial é a logísticaa reversa que envolve todas

as operações relacionadas à reutilização de produtos e materiais, na

busca de uma reintegração destes a processos produtivos sustentáveis.

O presente artigo tem como objetivo demonstrar como a logística

reversa pode ser utilizada como ferramenta para desenvolver o pilar

econômico da sustentabilidade, demonstrando a viabilidade de

aplicação deste conceito. São apresentados os resultados com o estudo

do processo de retorno de garrafas 635 ml em uma empresa de

bebidas. O trabalho se desenvolveu a partir de uma pesquisa

exploratória e descritiva, caracterizada como um estudo de caso.

Conclui-se que a aplicação da logística reversa traz contribuições e

benefícios econômicos e financeiros para a empresa e que sua

aplicação é viável nos processos de distribuição utilizados por esta.

Palavras-chave: Logística Reversa, Fluxo logístico, Benefícios

econômico-financeiros, Gestão de Custos

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1. Introdução

A logística pode ser definida como o gerenciamento do fluxo de materiais desde a fabricação

até o seu ponto de consumo. No entanto, existe também um fluxo logístico reverso, do ponto

de consumo até o ponto de origem.

Se tratando de uma atividade que agrega valores, a logística reversa está cada vez mais sendo

estudada. Um sistema eficiente de logística reversa pode vir a transformar um processo de

retorno altamente custoso e complexo em uma vantagem competitiva (DAGA, 2003 apud

CAMPOS T., 2006, p.25).

Foi analisado criticamente o cenário atual do funcionamento da logística reversa em uma

empresa de bebidas, identificando os pontos positivos que sua aplicação traz à empresa no

âmbito de custos. A empresa é líder mundial no segmento de bebidas alcoólicas, proprietária

de marcas de alta aceitação no mercado consumidor. O produto analisado foi a garrafa de

cerveja de 635 ml. A fábrica analisada está localizada na região Sudeste, no estado de Minas

Gerais. A empresa de bebidas atende quatro tipos de cliente: revendas particulares,

distribuidores individuais que compram produtos diretamente da empresa e redistribuem em

suas regiões, as VD’s (Vendas Diretas) que são as vendas realizadas diretamente para os

grandes clientes como hipermercados e os CDD’s (Centros de distribuição direta) que

pertencem a empresa e atendem os revendedores da região sem atravessadores intensificando

os lucros da empresa.

A programação de produção é realizada através de um planejamento para o fechamento da

malha de produção, que é realizado entre a fábrica e seus clientes, de modo a criar uma

previsão para a unidade de quanto ela irá produzir.

O objetivo deste artigo foi demonstrar como a logística reversa pode ser utilizada como

ferramenta para desenvolver o pilar econômico da sustentabilidade, demonstrando a

viabilidade de aplicação deste conceito. Os objetivos específicos deste trabalho foram

identificar os componentes da cadeia de suprimentos de vasilhames, identificar os desafios

enfrentados no processo de logística reversa de vasilhames e analisar a gestão de custos

proporcionados pela logística reversa dos vasilhames.

O artigo foi desenvolvido através de uma pesquisa exploratória e descritiva que tem como

função observar, registrar, analisar e correlacionar-se os fatos ou fenômenos sem manipulá-los

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e sem a interferência do pesquisador (VERGARA, 2004). Constituiu-se de um estudo de caso

com pesquisa em campo. Foi feito um levantamento e acompanhamento de dados na empresa

produtora e distribuidora de bebidas em questão. Segundo Vergara (2004), estudo de caso é o

circunscrito a uma ou poucas unidades, entendidas essas como uma pessoa, uma família, um

produto, uma empresa, um órgão público, uma comunidade ou mesmo um país. Tem caráter

de profundidade e detalhamento. Pode ou não ser realizado no campo. Através desta análise

de estudo de caso foi possível desenvolver um conhecimento com uma visão geral de como a

empresa em questão administra a tarefa da logística reversa para obtenção de redução de

custos e integração da logística reversa.

Os dados levantados com base no ano de 2015, foram abordados de forma qualitativa e

quantitativa. No presente trabalho, a pesquisa qualitativa esteve presente na fase inicial do

estudo, uma vez que se pretendia levantar através de entrevistas na empresa informações que

pudessem ser relevantes na compreensão do tema abordado. De acordo com Denzin e Lincoln

(2006), a metodologia qualitativa abrange o estudo do uso e a coleta de diversos materiais

empíricos, que visam descrever momentos e significados do dia a dia na vida dos seres

humanos. A fase posterior do estudo foi de caráter quantitativo onde as informações coletadas

no sistema de gerenciamento de dados da empresa (SAP) serviram como base para o

desenvolvimento da análise de custos através da aplicação da logística reversa. O objetivo da

pesquisa quantitativa é medir relações entre variáveis por associação e obter informações

sobre determinada população. De acordo com Contandriopoulos (1994), as análises

quantitativas são muito divulgadas e, nesse sentido, sua planificação geralmente necessita de

menos explicações que as análises qualitativas.

2. A Importância da Logística Reversa

Muitas empresas ainda não identificam a importância do fluxo reverso e a maioria delas não

tem interesse em implantar o gerenciamento da logística reversa devido a concepção de que o

fluxo reverso representa apenas custos à empresa. Apesar dos programas da logística reversa

ter seus pontos positivos conhecidos, Quinn (2001) comenta que os cenários da implantação

da logística reversa nas empresas brasileiras são de dificuldades para se quantificar de

maneira tangível as vantagens que existe no fluxo reverso e de medir seu empenho, já que

para este ainda existe a concepção dele ser somente custo.

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No mundo globalizado, o sucesso das empresas está diretamente ligado ao nível de satisfação

e atendimento das necessidades e expectativas dos clientes, o que implica na necessidade de

inovações constantes de produtos enviados ao mercado. O impacto que é gerado devido ao

aumento da taxa de produtos inseridos no mercado é representado pelo consequente aumento

do índice de descarte. Também se considera, neste caso, a redução do ciclo de utilidade e vida

útil dos produtos.

A seguir, na Figura1, está demonstrado de forma simplificada o esquema da logística reversa.

Figura 1: Esquema Simplificado Logística Reversa

Fonte: Diagnóstico dos Resíduos Sólidos de Logística Reversa Obrigatória – IPEA)

O fato de o governo estar regulamentando os segmentos que geram impactos, está levando as

empresas a desenvolverem uma maior preocupação e conscientização em relação a

preservação do meio ambiente. A logística reversa vem sendo usada como ferramenta para

gerenciamento de produtos que são inseridos no mercado e necessitam ser destinados ou

descartados de forma correta. Outros pontos também têm contribuído para que as empresas

invistam em práticas de logística reversa, tais como o aumento no custo para descarte em

aterros, as considerações sócio-econômicas que estão impulsionando as empresas a utilizarem

embalagens retornáveis, matéria-prima escassa, aumentando os custos de aquisição de

insumos e o reaproveitamento de materiais para uma produção secundária.

2.1. Análise de custos da logística reversa

Devido as novas necessidades e exigências, as empresas atuais buscam enfrentar a realidade

fortalecendo e aperfeiçoando suas vantagens competitivas. Percebe-se que, além do custo ser

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uma das estratégias para a obtenção de vantagem competitiva, este também é um elemento

que contribui para a abordagem do ciclo de vida do produto.

No que se diz ao custeamento por ciclo de vida do produto, os custos já são identificados nas

etapas pré-operacionais, possibilitando recuperar todos os custos e o lucro desejado, gerando

assim, um retorno mais adequado dos investimentos efetuados durante as fases pré-

operacionais (BERLINER, 1992).

De acordo com Robles Júnior (1994; p.53), os custos referem-se a todos os gastos incorridos

com os produtos desde o surgimento da ideia de lançamento, passando pelos gastos de

pesquisa, concepção, projeto, desenvolvimento até o lançamento, distribuição, serviços ao

cliente, garantias, aperfeiçoamento, campanhas de marketing, dentre outros.

Na Logística Reversa, as organizações adquirem a responsabilidade pelo retorno do produto à

empresa, seja para descarte adequado, seja para reciclagem. Neste estudo de caso apresentado,

o custo do ciclo de vida total do produto foi composto por um sistema de custeio de

abordagem extensa, visando exemplificar o processo de ganho ao aplicar a logística reversa

através do retorno dos vasilhames para serem reinseridos no processo produtivo.

Horngreen (2000), cita que o ciclo de vida do produto abrange o tempo desde o início do

desenvolvimento do produto até o fim do suporte ao cliente. Na logística reversa, este período

se alarga do retorno do produto a origem do produto.

A relação direta da logística reversa e o gerenciamento de custos do ciclo de vida do produto

se interagem na fase inicial do desenvolvimento deste, onde deve ser considerada a

necessidade futura de reciclagem ou reaproveitamento do produto após a sua utilização. O

custo relacionado a um produto está diretamente ligado ao seu ciclo completo de vida. São

necessárias ações práticas de gestão para estes produtos, que podem, por exemplo, ser

realizadas através do retorno dos produtos aos pontos de recolhimento da empresa para

destinação adequada.

2.2. Pilares de Sustentabilidade e a Logística Reversa

A logística reversa abrange três campos: o econômico, ambiental e social. No que tange ao

campo econômico, entre outras possíveis abordagens, este trata da área de custos da empresa

relacionando os resultados financeiros e aos ganhos potenciais do processo de logística

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reversa. O campo ambiental possui foco em minimizar os impactos da indústria ao meio

ambiente, de forma que a empresa contribua para a estabilização ambiental do planeta. O

campo social visa relacionar o desenvolvimento de uma sociedade sustentável com uma

sociedade bem cuidada e saudável STOCK (1992); ROGERS; TIBBEN-LEMBKE (1998);

CALDWELL (1999); LEITE (2003).

A logística reversa tende a ser cada vez mais pesquisada e apurada pelo fato de essas

atividades conterem aspectos que acrescentam valor aos custos das operações. Campos (2006)

relata que um sistema eficiente de logística reversa pode vir a transformar um processo de

retorno altamente custoso e complexo em uma vantagem competitiva.

Por outro lado, Braga Junior, Merlo e Nagano (2008) demonstram como a logística reversa

pode ser fonte alternativa de renda, contribuindo para a sustentabilidade do negócio,

reduzindo os desperdícios e os impactos sociais e ambientais.

Tendo em vista a possibilidade de redução do consumo de recursos naturais, atualmente tem

sido realizado esforços para reintegrar os resíduos nos processos produtivos originais. Soma-

se ao fato os problemas de poluição ambiental causados por incineração de lixo e aterros com

capacidade de receber resíduos cada vez mais reduzida, especialmente por força das leis

ambientais.

A logística reversa é uma ferramenta valiosa para produção e consumo sustentáveis,

possibilitando a ampliação da capacidade de suporte do planeta sendo, portanto, um

instrumento de gestão ambiental, segundo Barbieri e Dias (2002).

O desenvolvimento do campo social de forma sustentável é a base para o desenvolvimento

dos campos econômico e ambiental. Fukuyama (1996) afirma que o capital social é uma

capacidade que surge da prevalência da confiança em uma sociedade ou em partes dela. A

relação entre a empresa e a sociedade é capaz de gerar bons resultados para organizações que

visam auxiliar no atendimento das necessidades da sociedade, possibilitando ainda com isso,

minimizar os impactos da desigualdade social e criar uma imagem positiva da empresa.

2.3. Caracterizações da logística reversa na empresa de bebidas

A fábrica em questão opera com um sistema de puxada, ou seja, os clientes realizam as

marcações de puxada (produtos que pretendem comprar) em um sistema D+2 (a puxada se

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realiza dois dias após a marcação). A fábrica analisa o atendimento da solicitação dentro da

malha prevista e aprova ou recusa os pedidos. Em caso de aprovação a fábrica efetua a

marcação da puxada, agendando com os clientes a data e a hora da mesma. Ao realizar este

agendamento, cada puxada de carregamento é acompanhado por um número de pedido que é

gerado para o controle de carregamento. As embalagens (ativos) utilizadas para atender essas

vendas são retornáveis. As mesmas são chamadas de ativos de giro, pois saem da unidade

preenchidas com os produtos e retornam somente as embalagens para serem reutilizados.

Esses ativos de giro são os seguintes: garrafas, garrafeiras, palets, chapatex e barris. No

presente trabalho realizamos o estudo de um ativo em particular: as garrafas. O controle do

fluxo dos ativos de giro é realizado através de um módulo de conta corrente entre as filiais e

seus clientes no sistema SAP onde eles efetuam os depósitos (quando se apresentam para

realizar a puxada com vasilhame vazio) e as retiradas de ativo (quando carregam o vasilhame

cheio). A Figura 2 dá a dimensão visual para este fluxo.

Figura 2: Fluxograma da Logística Reversa do Vasilhame

Fonte: Desenvolvido pelos autores

2.4. Gestão de custos através da cobrança de refugo

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A empresa de bebidas trabalha com um sistema de cobrança de refugo, o qual gera retorno

financeiro. Estas cobranças são realizadas com a finalidade de instigar os clientes a efetuarem

um controle de qualidade do vasilhame retornado do mercado.

As cobranças acontecem da seguinte maneira: a cada hora o sistema SAP sorteia um

caminhão de um cliente qualquer para ser inspecionado e apurado o índice de refugo das

garrafas contidas no mesmo. Após a apuração, esse índice é utilizado para todas as descargas

desse cliente até que outro caminhão deste mesmo cliente seja sorteado e novamente

inspecionado. O índice encontrado é utilizado para calcular o valor que o cliente terá de pagar

pelo refugo enviado a fábrica no processo de retorno de vasilhames. A cobrança desses

índices é uma das ações de gestão de custos dos ativos de giro e os valores recebidos são

usados para a reposição dos ativos danificados nos processos. Mesmo considerando que os

índices de garrafas danificadas sejam aleatórios e variáveis, eles geram o retorno necessário

para cobrir as perdas das mesmas.

É importante ressaltar que as cobranças em valores monetários são realizadas somente para

revendas, vendas diretas e distribuidores privados, pois os CDD’s são parte da companhia.

Porém os índices de refugo nos CDD’s também são apurados e os CDD’s são notificados. A

intenção é de criar uma parceria para que os CDD’s também desenvolvam práticas de

melhoria no tratamento dos vasilhames. O processo de inspeção nos CDD’s funciona da

seguinte forma: a cada sorteio realizado pelo sistema 20% da carga é escolhida para ser

inspecionada e o próprio sistema indica os paletes aleatórios para serem inspecionados. Estes

são segregados na área de inspeção de vasilhame e esta é realizada por dois funcionários

treinados para a operação. A inspeção é realizada com o objetivo de inspecionar 100% do

vasilhame segregado em busca de irregularidades para o cálculo do índice, que é dado pela

porcentagem da divisão total de garrafas com defeitos pelo total de garrafas inspecionadas.

Para o ano de 2015 foram observados os valores monetários obtidos com o processo de

aferição de vasilhame separados por quadrimestres. Pode-se observar na Figura 3 a seguir o

resultado que o processo de aferição de vasilhame trouxe para a fábrica.

Figura 3: Valores em reais por quadrimestre

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Fonte: Desenvolvido pelos autores

A fábrica teve um retorno monetário de R$ 7.199.712,53 reais com a cobrança do refugo,

apurado na mesa de aferição de retorno de vasilhames, no ano de 2015. As garrafas que

apresentam defeitos e são segregadas no processo de aferição citado são incluídas no índice

de quebras, para os cálculos e gestão de custos.

2.5. Gestão de Custos através do Controle de índice de Quebras

Como já descrito acima, o fluxo de logística reversa na empresa em questão não permite a

recuperação de 100% dos ativos de giro para serem reutilizados no processo. No caso da

garrafa retornável de 635 ml o processo de retorno ocasiona perdas por meio de quebras no

processo. Durante o processo podem ocorrer três tipos de quebra: proposital, que ocorre

quando o vasilhame apresenta irregularidades e não pode ser reutilizado no processo

novamente, maquinário, que ocorre quando o vasilhame se quebra durante o processo em

alguma máquina e movimentação, que ocorre quando o vasilhame está sendo movimentado

no descarregamento do caminhão ou transporte no armazém antes de ser colocado na linha.

Os altos índices de quebra representam aumentos de custos no processo, pois cada garrafa

retirada representa a necessidade de substituição por uma nova. O acompanhamento dos

índices de quebra é mensurável. A Figura 4 a seguir apresenta os índices de quebra mensais

contrastados com a meta mensal para o ano de 2015.

Figura 4: Porcentagem de Quebras 2015

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Fonte: Desenvolvido pelos autores

Estes percentuais representam a meta e a perda real de vasilhames, calculados sobre o total de

vasilhames que retornaram para a fábrica. A quantidade de vasilhames da quebra tem de ser

reposta ao processo mediante a compra de um novo ativo de giro. O vasilhame em boas

condições para retorno ao processo, ou seja, aquele que não possui irregularidades na garrafa

que comprometam a qualidade e finalidade do produto, necessita passar por um processo de

reintegração ao sistema de produção, que demanda gastos. Estes gastos são relacionados ao

transporte, lavagem do vasilhame, energia, mão de obra, dentre outros.

O presente trabalho visou estimar estes gastos para efetuar a viabilidade e ganho monetário

que é resultado da logística reversa. É importante ressaltar que a análise é creditada a

avaliação de gestão de custos, e não para ganho monetário, mas sim para minimização destes.

No caso do presente estudo a logística reversa é aplicada com o intuito de diminuir os custos

através da reintegração do ativo de giro representado pela garrafa de 635 ml, pois esta ação

exclui a necessidade de substituição do ativo por um novo. Para averiguar os pontos positivos

da logística reversa precisou-se avaliar todos os custos atrelados a reiteração do vasilhame ao

processo produtivo. No presente estudo foi observado a quantidade de garrafas em unidades

retornadas a fábrica no ano de 2015. Os dados observados foram retirados do sistema SAP da

empresa.

Os levantamentos a seguir, apresentados na Figura 5, são referentes a todo o vasilhame

retornado no período avaliado, caracterizados mensalmente. A quantidade se torna menor

após o desconto dos índices de quebra. O período avaliado apresentou um índice médio de

quebra total (proposital + maquinário+ movimentação) igual a 1,27%, sendo este percentual

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retirado neste estudo, em vista que apenas o vasilhame bom ser considerado nos cálculos dos

custos para reutilização no processo.

Figura 5: Quantidade de vasilhame retornado a fábrica em 2015

Fonte: Desenvolvido pelos autores

Foi realizado uma estimativa de custos para o retorno da garrafa ao processo. A fábrica

teria custos mais significativos relacionados a lavadora (água, aditivos, energia, etc.),

transporte, mão de obra, e energia, dentre outros. O valor estimado destes custos, segundo

dados da empresa, foi de R$0,56 por garrafa. Já o custo para aquisição de uma nova

garrafa foi apurado em R$ 1,04, também conforme informações levantadas na empresa.

Expandindo esta análise de custos, foi feita uma planilha de custos das operações,

conforme apresentado na Figura 6, a seguir.

Figura 6– Análise Global de custos

Fonte: Desenvolvido pelos autores

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O valor de ganho indicado em reais (R$) na Figura 6 é representado pela diferença entre o

custo total que seria gasto para repor 100% do vasilhame enviado ao mercado e devolvido

para carregamento e o valor gasto para reintegrar o vasilhame ao processo em adição somado

ao custo de reposição das garrafas novas devido as perdidas pelas quebras. Através da análise

da figura 6 pode-se propor duas hipóteses para a análise de custos: uma sem a aplicação da

logística reversa e outra com a aplicação desta.

Na hipótese da não aplicação da logística reversa, a fábrica deveria fazer um investimento de

reposição para todas as garrafas danificadas no processo. De acordo com os dados levantados

para o ano de 2015 este cálculo seria no total de 511.661.765 garrafas, multiplicado por

R$1,04 que é o valor unitário da garrafa de 635 ml, perfazendo um investimento em

vasilhame para o ano de 2015 de R$ 532.128.235,60.

Na hipótese da aplicação da logística reversa, os custos totais foram de R$ 289.649.678,52.

Comparando as duas hipóteses verificou-se que a aplicação da logística reversa trouxe

resultados financeiros positivos e significativos, pois o ganho total observado através da

comparação dos custos das duas hipóteses foi de 46% positivo, perfazendo uma economia

total de R$242.478.557,08 para a fábrica.

3. Conclusão

A logística reversa baseada nos três pilares de sustentabilidade pode trazer benefícios para a

empresa que a aplica em seu processo. As empresas que investem de forma estratégica em

logística reversa ganham competição de mercado.

É possível perceber que a pressão pelo desenvolvimento de práticas sustentáveis não vem

sendo feita apenas pelo governo, mas também pela sociedade, que cada vez se posiciona e

cobra medidas das empresas para melhorar a gestão dos resíduos sólidos gerados pelos

processos produtivos. Portanto para contribuir para diminuição dos riscos para gerações

futuras é importante que as empresas tenham responsabilidade social e desenvolvam

programas sustentáveis que busquem reutilizar ativos e insumos nos processos produtivos.

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Como reflexo, a sociedade valoriza estas ações feitas pelas empresas que fortificam sua

imagem frente à população através de práticas e campanhas de inserção e conscientização

social.

Do ponto de vista econômico, o investimento em logística reversa pode trazer benefícios

mensuráveis e positivos para empresa, com um pay-back positivo.

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