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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Artes e Letras As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional Marlyne Eva Pais Espinho Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Jornalismo (2º ciclo de estudos) Orientador: Prof. Doutor José Ricardo Carvalheiro Covilhã, Outubro de 2015

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Artes e Letras

As redes sociais como fontes de informação no

jornalismo regional

Marlyne Eva Pais Espinho

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Jornalismo (2º ciclo de estudos)

Orientador: Prof. Doutor José Ricardo Carvalheiro

Covilhã, Outubro de 2015

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Dedicatória

Quero dedicar o presente trabalho, principalmente, aos meus pais.

Ao meu irmão.

Ao meu namorado.

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Agradecimentos

Não posso deixar de agradecer ao Prof. Doutor José Ricardo Carvalheiro pela orientação,

disponibilidade e compreensão no decorrer deste processo.

Aos meus pais por todo o incentivo, carinho e apoio.

Ao meu irmão pela transmissão de boa energia e palavras de apoio.

Ao meu namorado pelo apoio permanente e compreensão.

Às minhas avós Laura e Maria José por toda a ajuda, atenção e carinho que me deram ao longo

de todo este tempo.

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Resumo

A evolução tecnológica envolveu uma revolução na comunicação ao longo das últimas décadas.

Atualmente, vivemos numa sociedade dependente das novas tecnologias, e em termos de

comunicação, a sociedade está agora organizada em rede. A internet foi a primeira e a principal

ferramenta que fez mudar a maneira como comunicamos hoje em dia, e o jornalismo, como

não podia deixar de ser, foi também afetado positivamente por esta mudança. Esta plataforma

permitiu que todos pudessem comunicar entre si mais rápida e intuitivamente, e que deixasse

de existir uma intermediação rígida entre produtores e consumidores de informação. A evolução

da internet que a transformou na web 2.0. trouxe, há cerca de uma década, o aparecimento

das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e

acessível a todos. Esta realidade trouxe novos desafios ao jornalismo, que precisou de se

adaptar e renovar. O presente trabalho foca-se essencialmente no jornalismo regional, na sua

adaptação à web 2.0 e às redes sociais, e na forma como estas podem ou não ser fontes de

informação para os jornalistas, ou se, por outro lado, serão apenas um meio para chegar às

fontes.

Palavras-chave

Jornalismo, jornalistas, jornalismo regional, fontes de informação, web 2.0, redes sociais

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Abstract

Technological developments involved a revolution in communications over the last decades.

Currently, we live in a society that depends on new technologies, and in terms of

communication, the society is now an organized network. The internet was the first and the

main tool that did change the way we communicate today, and journalism, as might be

expected, was positively affected by this change. This platform allowed everyone to

communicate with each other more quickly and intuitively, and that ceased to exist a rigid

intermediary between producers and consumers of information. The evolution of the Internet

, which turned it into Web 2.0 brought, for about a decade, the emergence of social networks

aimed at making the process of creating, collaborating and sharing easier and accessible to

everyone. This reality has brought new challenges to journalism that needs to adapt and renew.

This paper focuses mainly on regional journalism, in adapting to the web 2.0 and social

networks, and how these may or may not be sources of information for journalists, or if, on the

other hand, will be just a way to get the sources.

Keywords

Journalism, journalists, regional journalism, information sources, web 2.0, social networks

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Índice

Introdução

1. Os jornalistas e as fontes de informação

1.1 Os jornalistas

1.2 As fontes de informação

1.3 A relação entre jornalistas e fontes de informação

1.4 A imprensa regional

1.5 A relação entre jornalistas e fontes de informação na imprensa

regional

2. As fontes de informação na web 2.0

2.1 Reconversão tecnológica

2.1.1 Mudanças proporcionadas pela web e comunicações móveis

2.1.2 Repercussão da web na forma de fazer jornalismo

2.1.3 Consequências trazidas pela web na recolha de informação

pelos jornalistas

2.2 Redes sociais e informação partilhada

2.3 Gatekeeping e Gatewatching

2.4 Jornalismo Público, Colaborativo e do Cidadão

3. Aspetos Deontológicos

4. Metodologia e procedimentos

4.1 Problema de investigação

4.2. Metodologia

4.3 Amostra e Procedimentos

5. Resultados

5.1 Utilização e credibilidade das fontes de informação

5.2 Introdução das redes sociais na rotina jornalística

5.3 Alterações provenientes da introdução das redes sociais nas redações

5.4 Utilização das redes sociais nas redações

5.5 Exemplos de notícias veiculadas com base nas redes sociais

Conclusões

Bibliografia

Anexos

Anexo I - Normas propostas pelo jornalista José Alberto Carvalho enquanto

diretor de informação da RTP

Anexo II – Respostas às entrevistas por cada órgão de comunicação

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Lista de Figuras

Figura 1. – Imagem veiculada pelo Público

Figura 2. – Imagem veiculada pelo Diário de Notícias

Figura 3. – Imagem veiculada pelo Correio da Manhã

Figura 4. – Utilização das redes sociais pelos jornalistas da Beira Interior

Figura 5. – Utilização das redes sociais pelos jornalistas da Zona Oeste

Figura 6. – Notícia do Notícias da Covilhã veiculada com base no Facebook

Figura 7. – Notícia do Jornal do Fundão veiculada com base no Facebook

Figura 8. – Notícia do Jornal de Belmonte veiculada com base no Facebook

Figura 9. – Excerto de notícia do Reconquista veiculada com base no Facebook

Figura 10. – Notícia da Gazeta das Caldas veiculada com base no Facebook

Figura 11. – Notícia do Jornal das Caldas veiculada com base no Facebook

Figura 12. – Excerto da notícia do Região de Cister veiculada com base no Facebook

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Introdução

Ao longo dos últimos tempos são vários os estudos que têm sido realizados no sentido de

investigar mais aprofundadamente o impacto da utilização das novas tecnologias na imprensa

em geral, e na imprensa regional em particular. Pois sendo ambientes diferentes, muito devido

à maior proximidade existente num ambiente local e regional, também são diferentes as

maneiras como cada um lida com esta nova ferramenta de trabalho. A atividade jornalística

tem vindo a manter os seus traços gerais, contudo, os jornalistas estão cada vez mais adaptados

ao âmbito geográfico onde atuam e também à inserção das novas tecnologias no seu dia-a-dia,

contudo devemos sempre ter em conta a proximidade mais acentuada que os jornalistas deste

campo de ação têm com as suas fontes de informação, o que pode complicar o processo de

recolha e divulgação de informação.

O jornalismo tem vindo sempre a acompanhar o desenvolvimento da tecnologia, e por isso

mesmo, com o aparecimento da web 2.0 é importante realçar quais as diferenças que são mais

notórias quando estas novas plataformas surgem num ambiente de redação. As redes sociais

são uma dessas plataformas, e deste modo, é necessário perceber de que modo é que se

procede à introdução destas novas ferramentas no dia-a-dia do jornalista. Será que ele as pode

encarar como fontes de informação ou apenas meios para conseguir alcançar a informação que

pretende?

A utilização das redes sociais como fontes de informação são o ponto de partida para encetar

a presente investigação, que pretende perceber de que maneira é que os jornalistas que estão

acostumados a trabalhar num âmbito mais local e regional, lidam com a utilização das redes

sociais como fontes de informação para o seu trabalho jornalístico. De que maneira ocorre,

com que frequência, ou se por outro lado, estes jornalistas continuam a optar por utilizar a sua

agenda de contactos, que é mais restrita e frequente no âmbito local e regional, ou se

continuam a privilegiar as fontes de informação institucionais, relacionadas com o poder local,

como por exemplo a própria autarquia, instituições locais ou empresas.

Este estudo pretende perceber, essencialmente, se existe uma transformação significativa na

utilização das fontes de informação com a entrada das redes sociais no quotidiano jornalístico.

Para além da utilização, resta também entender qual o nível de credibilidade conferido a estas

plataformas como fontes de informação, comparando-as com as fontes de informação que

costumam utilizar.

No essencial, a presente investigação pretende compreender se esta nova ferramenta de

trabalho traz uma maior variedade de hipóteses para o universo jornalístico, ou se continua

com a mesma realidade ao optar pela segurança que tem nas relações mais aprofundadas com

as fontes de informação do seu círculo mais próximo de confiança.

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I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

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1. Os jornalistas e as fontes de informação

1.1. Os jornalistas

Como surgiram as notícias e a necessidade de as fazer? E quem são as pessoas que estão

envolvidas neste processo? Estas são algumas das perguntas que surgem quando abordamos o

jornalismo no seu todo.

A maneira de fazer jornalismo já sofreu bastantes mudanças durante a sua história. Durante o

século XIX começaram a surgir as primeiras atividades jornalísticas profissionais e, numa altura

em que a imprensa ainda estava muito ligada à área da propaganda política, foi-se construindo

gradualmente um novo paradigma jornalístico que conduziria às ideias de neutralidade e

objetividade, dentro de uma imprensa que ia adquirindo características comerciais e

industrializadas. Era a denominada penny press, que ficou conhecida pelo seu baixo preço e

por uma maior acessibilidade de todos os cidadãos, e não apenas dos das classes altas. Era um

tipo de jornal que passava a depender muito da publicidade, que era a sua principal fonte de

receita. E cujo principal objetivo seria a obtenção de lucro.

Antes disso, como refere Michael Schudson (2003, p. 76): “the newspaper was distinguishable,

by then, from the post office and the print shop, at least in some cases, but was not so easily

separable from the party, faction, church or other organization it served”. Quer isto dizer que,

o jornalismo até meados do século XIX estava ainda muito ligado às instituições e o trabalho

desenvolvido era ainda muito manobrado pelo poder das mesmas.

Foi esta realidade que acabou por ir sofrendo alterações ao longo do século XIX, e a crescente

industrialização da época “permitiu a criação de novos empregos nos jornais, um número

crescente de pessoas passou a dedicar-se a tempo inteiro a uma actividade que, durante

décadas do século XIX, ganhou um novo objectivo – fornecer informação e não propaganda”,

tal como referiu Nelson Traquina (2004, p. 25).

É aqui que surge a viragem para o jornalismo como o conhecemos hoje, em que passamos da

propaganda para a transmissão de informação, para as notícias baseadas em factos, escritas

por jornalistas e partilhadas entre todos os membros que fazem parte da sociedade, como

indicou Traquina (2004, p. 25):

“Este novo paradigma será a luz que viu nascer os valores que ainda hoje são identificados com o jornalismo: as notícias, a procura da verdade, a independência dos jornalistas, a exactidão e a noção do jornalismo como um serviço ao público – uma constelação de ideias que dão forma ao emergente «pólo ideológico» do campo jornalístico.”

A organização interna da profissão, com princípios próprios e distinguíveis de outros ofícios,

acompanhou nessa época o desenvolvimento da indústria jornalística, que se tornou uma

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atividade reconhecida, uma vez que o jornalismo foi capaz de definir, de certa forma, as suas

regras de atuação ao construir notícias de interesse público e divulgá-las para o maior número

possível de membros da sociedade. Podia já considerar-se a existência desta profissão, pois já

teria definido qual a sua ética de atuação, quais os seus conhecimentos e quais as técnicas a

utilizar para potenciar o valor destes:

“O «campo jornalístico» começou a ganhar forma nas sociedades ocidentais durante o século XIX com o desenvolvimento do capitalismo e, concomitantemente, de outros processos que incluem a industrialização, a urbanização, a educação em massa, o progresso tecnológico e a emergência da imprensa como «mass media».”

(Traquina, 2004, p. 16)

Convém então referir a importância do papel dos jornalistas neste processo, que são o grupo

de pessoas caracterizado por saber identificar os acontecimentos que se devem tornar notícias

e como as construir de modo a terem interesse para um maior número de pessoas. O

desenvolvimento tecnológico – que faz parte do processo de industrialização do jornalismo,

juntamente com o aumento das tiragens e a especialização profissional dentro das empresas

cujo negócio passou a ser produzir e vender notícias – também permitiu a estes profissionais

um maior desenvolvimento de possibilidades na interação com os seus leitores e uma relação

teoricamente mais independente face às fontes de informação, o que se devia também ao facto

de o jornalismo já não se encontrar obrigatoriamente ligado a diversas instituições. Ou seja,

no geral:

“As notícias tornaram-se simultaneamente um género e um serviço; o jornalismo tornou-se um negócio e um elo vital na teoria democrática; e os jornalistas ficaram empenhados num processo de profissionalização que procurava maior autonomia e estatuto social”.

(Traquina, 2004, p. 16)

Para o autor os jornalistas são, essencialmente, uma comunidade interpretativa, ou seja,

interpretam aquilo que os rodeia através de princípios e critérios partilhados entre si e é nessa

base que vão discernir o que deve ou não ser transmitido à sociedade, o que tem interesse para

a mesma, através da interação que tem com os mais diversos membros que dela fazem parte e

depois pela aplicação de técnicas necessárias à construção daquilo que são as notícias, tal como

está expresso na definição que hoje se faz em Portugal através do Estatuto do Jornalista:

“(…) aqueles que, como ocupação principal, permanente e remunerada, exercem funções de

pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto,

imagem ou som, destinados a divulgação informativa pela imprensa, por agência noticiosa, pela

rádio, pela televisão ou por outra forma de difusão electrónica.”

O jornalismo tem o intuito de dar a conhecer informação que é do interesse público, mas para

isso acontecer a informação de que dispõe tem de ser analisada, confirmada e tratada, uma

vez que, se procura dar uma informação credível, e para isso rege-se pela sua ética profissional,

a ética jornalística.

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Ou seja, é através da ética que o jornalista vai assumir o seu comportamento perante os factos

e atingir a conduta que se espera desta profissão. Assim, no exercício da profissão, o jornalista

deve procurar transmitir a informação com objetividade, e deve evitar introduzir a sua opinião

no trabalho noticioso (a menos que isso lhe tenha sido pedido em espaços próprios para o efeito,

separados das peças noticiosas).

Mas a objetividade é um dos princípios que pode gerar alguma confusão, uma vez que, se fala

numa impossibilidade de a cumprir na sua plenitude, pois sempre que o jornalista formula uma

notícia está, mesmo que não tenha consciência ou intenção disso, a utilizar palavras,

expressões, informações que correspondem a uma escolha – entre outras possíveis – acerca de

como representar a realidade e que podem levar, inclusivamente, a um diferente entendimento

daquele que se pretende, pois cada pessoa tem uma maneira própria e diferente de ver o mundo

e é com base nas suas vivências que pode observar e trabalhar a informação de maneira

diferente.

Vários autores estudaram e analisaram este valor do jornalismo. Entre eles, Michael Schudson

(2003), Mário Mesquita (2003) e Nelson Traquina (2004).

O conceito de objetividade jornalística surgiu com maior força aquando da industrialização que

levou ao forte desenvolvimento dos mass media. E, ao mesmo tempo que também a propaganda

evoluía, o jornalismo sentiu a necessidade de se demarcar dessa posição, e para isso teve de

agir de maneira diferente dos relações públicas procurando ser mais objetivo, como refere

Mário Mesquita (2003, p. 208):

“O surgimento nos anos 20-30 da profissão de «relações públicas» ajuda, igualmente, a explicar a «sacralização» da noção de objectividade no jornalismo norte-americano, com o objectivo de distinguir a actividade (jornalística) da recolha e difusão das informações das acções (de relações públicas) desenvolvidas pelos novos promotores de notícias.”

Assim, os jornalistas sentiram a necessidade de agrupar elementos que conseguissem contribuir

para a regulação do sistema e, ao mesmo tempo, para a distinção entre a profissão de jornalista

e a de relações públicas.

Historicamente, este valor de objetividade ligado à indústria jornalística surgiu no início do

século XX, época em que os jornalistas enfatizavam a primazia pelos factos distanciando-se

assim, das opiniões, sujeitas a um forte valor de subjetividade.

E, como defende também o autor Michael Schudson (2003, p. 83): “At this point in the 1920’s,

objectivity became a fully formulated occupational ideal, part of a professional project or

mission”, ou seja, “(…) objectivity was finally a moral code.”

Com a evolução industrial que marcou esta época, o mundo foi-se tornando cada vez mais vasto

e complexo, e desta maneira, já não precisava só de ser descrito de uma maneira básica e

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simples, mas precisava antes de ser compreendido por toda a sociedade. Assim, podemos

perceber que segundo Nelson Traquina (2002, p. 145):“(…) a objectividade é útil aos jornalistas,

pois traça os métodos que o jornalista deve seguir (…)”, pois a exigência que a rapidez das

notícias traz aos jornalistas faz com que estes necessitem de arranjar métodos de agir que

possam empregar de uma maneira simples e clara.

Todavia, e apesar de ser reconhecido o valor de objetividade, esta também tem as suas

limitações e os jornalistas sabem disso, pois é muito complicado para o profissional do

jornalismo conseguir ser estritamente objetivo quando apresente e interpreta os mais variados

factos nas suas notícias, e por isso mesmo, acaba sempre por surgir alguma subjetividade. Como

explica Nelson Traquina (2004, p. 73):

“(…) a objectividade no jornalismo não é a negação da subjectividade mas uma série de procedimentos que os membros da comunidade interpretativa utilizam para assegurar uma credibilidade como parte não-interessada e se protegerem contra eventuais críticas do seu trabalho”.

De uma certa maneira, o jornalista tem de ser imparcial na sua maneira de trabalhar a

informação, assim como respeitar sempre a veracidade das informações que detém; refiro

veracidade e não verdade absoluta, pois são coisas distintas, mas que para o jornalismo fazem

sentido. Isto é, a verdade é a realidade dos factos exatamente como eles o são, enquanto a

veracidade tem claramente um valor de verdade, mas é a realidade dos factos vista ou contada

por alguém, portanto poderá nunca representar a verdade absoluta, mas sim um valor de

verdade aproximado.

Para que o trabalho se aproxime o mais possível da verdade, existe um intenso trabalho de

verificação da informação, um processo complexo que permite alcançar a notícia que mais

tarde será veiculada.

O trabalho fundamental do jornalista centra-se na busca de informações que tenham interesse

público, nas mais diversas áreas da sociedade, para depois as trabalhar e mais tarde as difundir

para o público. Essa informação vai ser divulgada através dos vários meios de comunicação

existentes, sejam eles a imprensa (através dos jornais impressos), a rádio, a televisão, e mais

recentemente, a internet, meio este que tem vindo a revolucionar o trabalho jornalístico como

poderemos analisar posteriormente.

Contudo, hoje o trabalho do jornalista é bem diferente do que foi no início da história do

jornalismo moderno, em que o jornalista assumia maioritariamente o papel de repórter. Tinha

de procurar informação, procurar o acontecimento, falar com as pessoas, procurar várias

versões da mesma narrativa, confrontar os fatos para depois conseguir chegar a um trabalho

final, a sua notícia:

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“A figura do repórter, por exemplo, surge por volta de 1870, por se caracterizar no tipo de jornalista que buscava a notícia (newsgathering), tomava notas sobre os eventos e considerava os fatos. Até então os jornalistas não perguntavam às fontes, apenas relatavam o ocorrido e emitiam suas opiniões pessoais.”

(Schmitz, 2011, p. 8)

Foi neste contexto histórico que, além da figura do repórter, se deu também o aparecimento

da entrevista como um método de trabalho jornalístico, Para além do autor Aldo Schmitz,

também Michael Schudson, no seu livro The Power of News (2003, p. 91), abordou o

aparecimento da entrevista como um ponto de viragem na maneira de fazer jornalismo ao longo

do século XX: “The rise of na interview coincides with the rise of newspaper reporters as

relatively autonomous workers who self-consciously achieve an occupational identity.”

Através das entrevistas o jornalista teria assim a capacidade de interpretar de uma forma mais

completa o acontecimento, pois ao longo da conversa, das questões e das consequentes

respostas o jornalista terá uma maior capacidade de compreender e decifrar o acontecimento.

E assim, conseguir realizar um trabalho mais completo. Já não precisa de se basear apenas

naquilo que alguém ouviu ou descreveu, como pode aprofundar a informação com que poderá

trabalhar para fazer a notícia. Como defende Michael Schudson (2003, p. 91-92):

“News stories increasingly conveyed the meaning of the act reported in a time frame larger than that of the act itself. In these ways, journalists proved themselves not relavers of documents and messages but legitimate interpreters of news, able to write not just about what they, like any observer, can see and hear but also about what is unheard, unseen, or intentionally ommited.”

Ou seja, numa época inicial do jornalismo moderno, o jornalista tinha de coletar a informação,

por si próprio, junto das fontes para depois poder formular a notícia que mais tarde seria

veiculada. Isto não quer dizer que o jornalista de hoje em dia já não faça de todo esse trabalho,

pois é bastante importante que o jornalista consiga recolher ativamente dados sobre o que

noticia para uma melhor apuração dos factos, mas com a conjuntura atual e a velocidade de

informação cada vez maior, o jornalista também tem agora de lidar com um maior número de

fontes profissionalizadas, a chamada assessoria de imprensa. Isto é, por um lado, o jornalista

continua a fazer o seu trabalho desde a recolha de informação, a sua verificação e a sua

divulgação através das notícias; por outro lado, isso não impede que o jornalista possa aceder

a fontes de informação profissionalizadas para poder completar o seu trabalho jornalístico.

Torna-se, então, claro que as fontes de informação são uma parte essencial do jornalismo, que

auxiliam o trabalho jornalístico, na medida em que, essa fontes podem ser pessoas ou

documentos que ajudam o jornalista a tomar conhecimento dos mais variados factos que precisa

de relatar. Nem sempre o jornalista está capacitado de assistir a todos os acontecimentos que

resultarão em notícia, e por isso mesmo, existe a ajuda das fontes de informação que será onde

o jornalista poderá ir buscar a informação necessária para redigir o seu trabalho.

Na medida em que se alarga o campo jornalístico e este entra em relação com uma variedade

de outros campos, mais vastas são as fontes e mais diversos são também os seus interesses.

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“O campo jornalístico passa a articular com os campos políticos, econômicos e sociais, sujeito às relações comerciais, às pressões do público, às ações dos jornalistas, aos interesses sociais, políticos e culturais. Então, as fontes entram nesse campo para fazer o seu jogo.”

(Schmitz, 2001, p. 8)

1.2. As fontes de informação

O campo de ação jornalístico está cada vez mais abrangente e os jornalistas por si só, e por

motivos óbvios, não conseguem estar presentes fisicamente em todos os lugares e ao mesmo

tempo. Nesse sentido, as fontes de informação tornam-se um indispensável apoio profissional

para os jornalistas, porque de outra maneira a sua atividade plena seria, de certa forma,

impraticável.

Para além deste apoio imprescindível, as fontes de informação transmitem um certo acréscimo

de segurança, pois muitas vezes estão presentes nos acontecimentos ou detêm um

conhecimento detalhado sobre os assuntos, e deste modo, conseguem transmitir a informação

de maneira bastante pormenorizada aos jornalistas.

Vários foram os autores que estudaram ao longo do tempo o papel marcante das fontes de

informação no jornalismo. No contexto lusófono, Manuel Pinto (2000), Nelson Traquina (2001),

Rogério Santos (2006) e Aldo Antonio Schimtz (2011) foram alguns deles, e o último começou

por defini-las como:

“(…) pessoas, organizações, grupos sociais ou referências; envolvidas direta ou indiretamente a fatos e eventos; que agem de forma proactiva ou reativa; sendo confiáveis, fidedignas ou duvidosas; de quem os jornalistas obtêm informações de modo explícito ou confidencial para transmitir ao público, por meio de uma mídia.”

(Schmitz, 2011, p. 9)

Rogério Santos (2006, p. 75) foi outro autor que também definiu as fontes de informação como

uma:

“entidade (instituição, organização, grupo ou indivíduo, seu porta-voz ou representante) que presta informações ou fornece dados ao jornalista, planeia acções ou descreve factos, ao avisar o jornalista da ocorrência de realizações ou relatar pormenores de um acontecimento.”

As fontes de informação podem então ser consideradas como sendo todos aqueles, que de

alguma forma, e aproveitando o seu estatuto, podem fornecer aos jornalistas (por iniciativa

própria ou a pedido) as informações que estes necessitam para fazer o seu trabalho. E que se

podem dividir em vários grupos, cada um com as suas especificações.

Rogério Santos fez uma tipificação das fontes de informação, dividindo-as em quatro grupos

essenciais: as fontes oficiais, as não-oficiais, as especialistas e as anónimas. Começa por definir

as fontes oficiais como sendo aquelas que fornecem informação de acordo com os seus próprios

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objetivos, pois interessa-lhes que a ligação feita com o jornalista corra bem, e para que isso

aconteça, fazem um maior e mais detalhado acompanhamento da ação e por isso mesmo têm

a preocupação e cuidados na hora de escolher qual o jornalista e qual o meio de informação

que poderá veicular a informação. E nesta relação, quanto maior for a confiança entre

jornalista e fonte de informação, maior será a informação fornecida. São exemplo destas

fontes, entidades oficiais, muitas das vezes ligadas à política.

As fontes não-oficiais são explicadas pelo autor como sendo “agências não-governamentais;

movimentos sociais e grupos de pressão”, que têm o poder de conseguir mobilizar a opinião

pública, e procuram obter visibilidade e trazer ao público temas e assuntos particulares, e

assim, acabam por facultar ângulos diferentes de um mesmo assunto, como por exemplo, uma

ação de uma organização não governamental. Ou seja, como refere Rogério Santos (2006, p.

80): “A visibilidade e a especialização de organizações não-governamentais resultam de

estratégias de luta e definição por temas e assuntos particulares.”

As fontes especialistas são as que “possuem um conhecimento específico de uma área de saber

e uma relação com os jornalistas que assenta em base científica.” O autor dá como exemplos

deste tipo de fonte de informação, médicos, especialistas de ambiente, sociólogos e

politólogos.

Por fim, a última categoria definida por Rogério Santos prende-se com as fontes anónimas, ou

seja “pessoas a quem o jornalista atribui opiniões, tomadas de posição e informações diversas,

sem revelar o nome daquelas”. Normalmente este tipo de fontes tem uma ligação próxima ao

poder, à autoridade, e assim sendo pode não estar interessado em divulgar a sua identidade

por motivos óbvios. São exemplos deste tipo de fonte de informação, um organismo

governamental ou um membro de algum comunidade, uma agência de informação ou uma

instituição mediática. Ou então, meras pessoas anónimas, que presenciaram algum

acontecimento e desse modo podem “servir de testemunha, sem estatuto de reconhecimento

público (vozes populares), ou para confrontar posições de outras fontes.”

Manuel Pinto (2000, p. 279), por sua vez, também defende uma tipificação das fontes das fontes

numa maior escala do que o autor anterior, tendo em conta a sua natureza, que se pode

bifurcá-las em pessoais ou documentais; a sua origem, ou seja, perceber se elas são

consideradas oficiais ou privadas; a duração da relação com os jornalistas, na medida em que

umas relações são mais extensas do que outras, isto é, podem ser episódicas ou permanentes;

a sua localização geográfica, conforme se trate de fontes locais, nacionais ou até

internacionais; o seu grau de envolvimento nos factos, se são primárias ou secundárias, ou

seja se são testemunhas oculares por exemplo ou se, pelo contrário, são complementares; a

sua atitude face ao jornalista, critério segundo o qual as fontes são ativas e espontâneas,

quando procuram dar a informação que possuem por sua iniciativa, ou são passivas; a sua

identificação, se demonstram ser fontes assumidas ou se por outro lado são confidenciais; e

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por fim, consoante o seu estratagema de atuação, podendo ser pró-ativas ou reativas, ou seja,

preventivas ou defensivas.

Nelson Traquina (2001, p. 104) foi outro dos autores que também refletiram sobre as fontes de

informação e definiu-as como podendo ser “a pessoa que o jornalista observa ou entrevista e

que fornece informações”, e que pode estar “envolvida, ser conhecedoras ou ter testemunhado

um acontecimento”, e desta forma, ao ter um papel privilegiado num acontecimento tem o

poder de transmitir informação importante ao trabalho dos jornalistas, no seu quotidiano

profissional.

As fontes de informação são vistas como uma importantíssima ajuda ao trabalho jornalístico

por transmitirem informação que o jornalista necessita, uma vez que não pode estar presente

em toda a parte ao mesmo tempo. A crescente profissionalização das fontes de informação faz

com que as fontes profissionalizadas se mostrem agora mais proeminentes do que eram

anteriormente, levando a que consigam ter uma influência bastante significativa sobre aquilo

que é considerada a agenda noticiosa.

1.3. A relação entre jornalistas e fontes de informação

“A nova fonte de poder não é o dinheiro nas mãos de poucos, mas informação nas mãos de

muitos.” John Naisbitt

Não se pode falar de jornalistas sem mencionar fontes de informação, e estas não existiriam

sem a sua estreita ligação com os jornalistas.

As mais variadas informações que o jornalista obtém, ao longo do seu trabalho, podem ser

procuradas das mais variadas formas, mas, no geral, recorrerá sempre a uma fonte de

informação, que lhe fornecerá, também consoante os seus interesses, como abordaremos mais

adiante, o seu material de trabalho, a informação. Contudo, o contrário também pode suceder,

quando a fonte de informação é proactiva e procura o jornalista para lhe fornecer a informação

que lhe parece ser a mais indicada.

É inevitável a relação entre os que procuram alguma coisa e aqueles que a detêm, e neste

sentido, jornalistas e fontes de informação cooperam numa relação baseada no valor esperado

da confiança, conforma refere Sandra Marinho (2000, p. 351): “(…) a negociação entre

jornalistas e fontes de informação resolve-se em última análise, a um nível informal e privado

e é uma relação mediada por uma condição essencial: a confiança”.

Com a conjuntura atual, vale a pena referir que existe um crescimento no número de fontes de

informação profissionalizadas, e tal acontecimento pode dever-se à importância gradual que

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estas fontes têm vindo a ter no universo jornalístico. Rogério Santos (2006, p. 87) foi um dos

autores que estudaram esta relação profissional, e nos diz que: “A fonte – seja presidente da

organização, porta-voz ou especialista de comunicação – tem um treino que a obriga a seguir

as regras de contacto com os jornalistas e a facultar a informação que estes procuram”. Isto é,

principalmente as fontes ligadas a entidades oficias têm mais facilidade em facultar informação

pronta a utilizar aos jornalistas. Há uma mudança na maneira como se encaram estas fontes de

informação, pois passaram de apenas transmitir a informação, dita em bruto, aos jornalistas,

para uma informação mais trabalhada. Pois como referiu Rogério Santos, as fontes de

informação oficiais costumam fornecer as informações que têm de acordo com os seus objetivos

e interesses.

Perante a rapidez dos acontecimentos não haverá jornalista que consiga, apenas por ele

próprio, adquirir toda a informação que necessita para construir as suas notícias, e é neste

enquadramento de maior velocidade informativa que o papel das fontes de informação é

relevante. São essas pessoas que representam uma marca, que estão presentes nalgum

acontecimento, que conhecem quem esteve presente, que representam alguma instituição, ou

até um mero popular que assistiu ao acidente que aconteceu na sua rua, que se tornam fontes

de informação de que o jornalista precisa para enriquecer o seu trabalho jornalístico e para

conseguir produzir um maior número de notícias num menor espaço de tempo, que é isso que

se pretende na atualidade jornalística.

Em matéria de relação entre fontes de informação e jornalistas, vários são os autores que

encaram esta ligação de maneiras distintas. Por um lado, autores como Nelson Traquina (1993)

e Sandra Marinho (2000) defendem a confiança como a base fundamental das relações entre

jornalistas e fontes de informação, ou seja, ambas as partes tendem a cultivar entre si uma

relação com base na confiança que depositam de parte a parte.

Por outro lado, existem outros autores que estudaram este tipo de relações fundamentais para

o jornalismo e que apontam uma alteração de cenário ligada ao aumento do número de fontes

de informação profissionalizadas. Manuel Pinto (2000) e Aldo Schmitz (2011) referem que as

fontes foram ganhando uma enorme importância no panorama jornalístico e conseguiram

defender, à sua maneira, os seus interesses, deixando de seguir rigorosamente os interesses

dos jornalistas, como era feito numa fase anterior.

Desta forma, Nelson Traquina (1993) tem uma visão bastante pragmática quanto ao

comportamento das fontes de informação, pois para o autor as fontes que mais cativam os

jornalistas e as que são consideradas melhores são as “que já demonstraram a sua credibilidade

e nas quais o jornalista pode ter confiança”. Assim, e apesar de Traquina defender igualmente

que as fontes não são, de todo, desinteressadas, estas podem ser confiáveis para os jornalistas

e o seu trabalho se já tiverem mostrado provas da sua credibilidade, por exemplo quanto à

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função que desempenham na sociedade ou com o cultivar da relação entre ambos. E para essa

relação ser baseada na certeza da existência de uma relação credível, é preciso que a fonte de

informação prove, ao longo do tempo, a sua credibilidade. É a partir daí, que o autor defende

então a confiança como a base de uma relação duradoura entre fontes de informação e

jornalistas.

A defender os mesmo propósitos temos a autora Sandra Marinho (2000), que também baseia a

relação entre jornalistas e fontes de informação com base na confiança, que normalmente é

conseguida informalmente no seio de uma relação privada entre as duas partes.

Ou seja, a confiança, como é sabido, não é um valor obtido repentinamente numa relação, é

algo que se constrói ao longo do tempo, consoante as vivências de ambas as partes quando

lidam uma com a outra, e é exatamente isso que acontece com os profissionais do jornalismo

e as fontes de informação, é algo que “evolui ao longo do relacionamento”. E a autora ainda

refere outro aspeto: a especialização, na medida em que, quanto maior for a especialização do

jornalista mais constantes e estreitas serão as relações com as suas fontes, caso contrário, se

a especialização for menor por parte do jornalista, mais remotas serão as relações que manterá

com as fontes de informação, pois como tratará de assuntos sempre tão diversos, manterá

relações igualmente com as mais díspares fontes e, assim sendo, as ligações serão mais

distantes, logo haverá também um menor nível de confiança entre ambos.

Noutra conceção, a confiança pode derivar, não das relações pessoais entre jornalistas e fontes,

mas dos seus papéis institucionais no seio dos sistemas em que cada um se insere:

“Apesar de jornalistas e fontes não se conhecerem, reconhecem-se como representantes legítimos de

sistemas em cuja fiabilidade acreditam, e precisam de acreditar, para desempenharem as suas funções e

se orientarem e integrarem socialmente.”

(Marinho, 2000, p. 354)

Também Rogério Santos (2006, p. 84) referiu a confiança como fundamental no relacionamento

entre jornalistas e fontes de informação, caracterizando-o como um “processo lento”. Mas

depois de algum tempo de interação e confiança, jornalistas e fontes de informação

“estabelecem uma rotina regular de contactos, cooperam e tornam-se interdependentes”.

Sandra Marinho e Nelson Traquina são ambos defensores de que as fontes de informação têm

obviamente os seus interesses, ou seja, fazem parte de sistemas independentes com interesses

próprios e inevitáveis. Mas a autora ainda acrescenta outro tom à confiança, acreditando que

esta não pode ser total, por mais que os jornalistas e as suas fontes se relacionem

frequentemente, e apesar de existirem mecanismos reguladores que sustentam estas relações.

A segurança e a confiança entre ambos dificilmente será total. Contudo, para estes dois autores

é preciso que se cultive constantemente este valor entre jornalistas e fontes, porque a

competitividade de interesses é cada vez maior e os jornalistas têm de ter bastante cuidado

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para não caírem no “erro” de confiar numa qualquer fonte de informação. Esta terá de mostrar

provas da sua credibilidade para dar valor às suas informações, porque no fundo trata-se: “(…)

de confiar naquilo que não se vê: os jornalistas não conhecem totalmente a vida das fontes nos

seus espaços e organizações; as fontes não têm acesso ao processo de produção da notícia”

(Marinho, 2000 p. 353).

Por outro lado, a relação entre jornalistas e fontes de informação foi encarada de maneira

diferente pelos autores Manuel Pinto (2000) e Aldo Antonio Schmitz (2011), que defendem a

existência de uma crescente profissionalização das fontes. Para Manuel Pinto, este é um tipo

de relação ainda pouco estudada em Portugal, mesmo apesar da fundamental importância que

têm no processo jornalístico. E, nesse sentido, o autor menciona que as fontes estão num estado

de crescente profissionalização, uma vez que estão cada vez mais especializadas em divulgar a

informação que têm em mãos.

Um dos pontos em comum com os autores anteriormente referidos é o ressalvar das

conveniências que as próprias fontes demonstram ter. Manuel Pinto (2000, p. 280) enumera os

objectivos que as fontes visam atingir na sua relação com os jornalistas:

“1. a visibilidade e atenção dos media; 2. a marcação da agenda pública e a imposição de certos temas como foco de atenção colectiva; 3. a angariação de apoio ou adesão a ideias ou a produtos e serviços; 4. a prevenção ou reparação de prejuízos e malefícios; 5. a neutralização de interesses de concorrentes ou adversários 6. a criação de uma imagem pública positiva.”

Isto quer dizer que, apesar da confiança que se possa estabelecer com as fontes de informação,

é importante ter em conta que estas não são estáticas e que têm os seus próprios interesses,

que muitas das vezes podem estar acima dos interesses jornalísticos. E assim, vai de encontro

à opinião de Sandra Marinho, quando diz que apesar de poder existir um seguro nível de

confiança entre ambos, a confiança nunca poderá ser total, muito devido aos interesses que

cada um possui no seu campo profissional.

Por outro lado, Manuel Pinto (2000, p. 280) elenca, também, os objetivos que os jornalistas

têm para a prossecução dos seus interesses, quando se relacionam com as fontes:

“1. a obtenção de informação inédita; 2. a confirmação ou desmentido para informações obtidas noutras fontes; 3. a dissipação de dúvidas e desenvolvimento de matérias; 4. o lançamento de ideias e debates; 5. o fornecimento de avaliações e recomendações de peritos 6. a atribuição de credibilidade e de legitimidade a informações directamente recolhidas pelo repórter.”

Ora, assim sendo, pode concluir-se que ambas as partes desta relação têm os seus próprios

interesses, mas numa análise superficial pode perceber-se que se o fluxo informacional é,

maioritariamente, de fontes de informação para jornalistas, isso fará com que os interesses

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destas possam ser mais bem protegidos do que os dos jornalistas. Contudo, essa informação só

se transforma em poder nas mãos dos jornalistas, pois eles é que têm a capacidade de decidir

e selecionar qual a informação que passa e qual é fica bloqueada. As necessidades que ambas

demonstram ter faz com que a sua relação se baseie numa favorável e constante negociação,

como refere Manuel Pinto. Porque, no fundo:

“(…) as fontes, embora precisando dos jornalistas e de se submeter aos seus critérios e às suas lógicas de actuação, têm o poder de gerir, facultar, redirecionar a informação e, mesmo de encenar, como via de chamar a atenção e adquirir visibilidade (…)”.

(Pinto, 2000, p. 285)

Ou seja, as fontes procuram atrair os jornalistas, como defende Rogério Santos (2006, p. 92):

“Para atrair o jornalista, a fonte explora todos os acontecimentos com interesse e toma medidas especiais em acontecimentos marcantes ou graves. Em função da importância do acontecimento, difunde comunicados, convida as organizações noticiosas a participarem nele, prepara acções específicas para os jornalistas, mostra-se eticamente irrepreensível”.

Outro dos autores que refere a crescente profissionalização das fontes durante o seu trabalho

é Aldo Antonio Schmitz (2011) e a sua ideia de que muitos profissionais do jornalismo migraram

para este novo cenário, ou seja, para a assessoria de imprensa, tomando os seus conhecimentos

como uma ajuda para antecipar rotinas jornalísticas, dando aos media aquilo que eles

necessitam, para que se possa poupar tempo e dinheiro durante o processo informativo. Hoje

em dia, “as notícias resultam de processos complexos da interação, mas há limites na sua

produção, por isso, cada vez mais as fontes fornecem conteúdos prontos para uso” (ano:

página). Este autor até se adensa mais nesta questão da profissionalização, pois sabe que as

fontes já trabalham a informação antes de a fornecer ao jornalista, não a distribuem em

“bruto”. Mas este trabalho pode significar um maior zelo pelos seus interesses antes de tudo.

No ponto de vista de Aldo Schmitz (2011, p. 52), as fontes agem ardilosamente segundo uma

estratégia, pois “desenvolvem uma acção contínua, estruturada e planejada, visando o

fornecimento unilateral da informação, na crença de que a mídia contribui para a formação de

opinião dos públicos da organização”. Ao encontro da opinião de Manuel Pinto (2000), pode

observar-se que ambos acreditam que as fontes são, antes de mais, as partes do processo que

mais desenvolvem uma estratégia de ação perante a informação que têm em seu poder. Ao

distribuírem a informação consoante as suas conveniências, podem fazer com que o processo

de gatekeeping seja transformado, pois acabam por definir a agenda pública. Distribuem aquilo

que melhor lhes parece, para que no geral consigam, antes de tudo, defender sempre a sua

imagem ou aquela de quem representam.

Esta profissionalização das fontes é, pois, parte integrante da relação com os jornalistas,

através da assessoria de imprensa, que tem vindo a crescer e a ganhar importância no cenário

jornalísticos, como defende Brian McNair (1998, p. 143):

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“Such is the importance of the source activities that they have became the province of a professional group separate from, but dependent on journalism, and known(?) variously as the public relations practicioner; the spin doctor; the parliamentary or congressional lobbyist; the political consultant; the communication advisor; the ‘media guru’. These are just some of the labels applied to the source professional, who has emerged in the twentieth century in the wake of the media’s rapid expansion, feeding the later’s insatiable desire for raw material to package news and entertainment”.

Esta atividade tem vindo a ganhar importância, pois foi um fator cuja presença no trabalho

jornalístico durante o século XX cresceu exponencialmente. Podemos também concluir que a

relação entre jornalistas e fontes profissionalizadas não é de todo uma relação perfeita, como

seria de esperar, porque no fundo:

“A assessoria de imprensa contemporânea evolui para um processo estratégico de gerar e gerir um vínculo durável com a mídia, através de ações contínuas, estruturadas e planejadas, não somente pelo simples fornecimento de informações ou atendimento à demanda dos jornalistas, mas na construção de um mosaico que leva a entabular diálogos e à formação de opinião favorável dos diversos públicos.”

(Schmitz, 2011, p. 36)

Por outro lado, hoje em dia, os cidadãos têm cada vez mais oportunidade para conseguir

difundir informação, muito por culpa da evolução tecnológica que lhes permite fornecer

informação a qualquer momento, e isso faz com que se possam tornar fontes para os jornalistas.

Todavia, convém referir que, habitualmente, os jornalistas tendem a relacionar-se mais com

fontes de informação em que já têm um elevado nível de confiança, devido à posição e

estatuto que possuem, como explicam Franklin & Carlson (2010, p. 139): “Research indicates

that journalists show a professional preference for sources with a certain level of authority” e

que são este tipo de fontes de informação que são capazes, segundo os autores, de transmitir

informação pronta a utilizar, ou seja, “ready-made information”.

O autor Rogério Santos (2006) também refere que o aumento do número de jornalistas ao longo

do tempo fez com que também as fontes de informação evoluíssem, e isso demonstra o porquê

do aumento do número de fontes de informação profissionalizadas.

O autor refere que “nas duas últimas décadas, o processo de interacção de fontes noticiosas e

jornalistas sofreu alterações sociais, culturais e profissionais, modificando a percepção que uns

têm do trabalho dos outros”, o que faz com que a melhoria da profissão jornalística seja

associada também à “existência de organizações noticiosas reguladas por critérios de

mercado”. E, por outro lado, “as instituições e as empresas dotaram-se de estruturas de

relações públicas e de assessorias de imprensa, muitas vezes com recurso a antigos jornalistas,

possuidores de graus académicos universitários e preparados para protagonizar o

relacionamento com os jornalistas” (Santos, 2006, p. 94).

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1.4. A imprensa regional

É no final dos anos 80 que em Portugal se dá a grande afirmação da imprensa regional com a

definição do seu estatuto. A importância que este tipo de imprensa, mais circunscrita, mostrou

ter nas relações de proximidade entre pessoas de uma mesma localidade foi um dos motivos

para que o seu estatuto fosse autenticado. E é neste mesmo certificado que se começa por

definir o que é a imprensa regional e para que serve.

Segundo o Artigo 1º do Estatuto da Imprensa Regional, podemos considerar que esta abrange

todas as “publicações periódicas de informação geral” que tenham como destino as

“comunidades regionais e locais” e que “dediquem, de forma regular, mais de metade da sua

superfície redactorial a factos ou assuntos de ordem cultural, social, religiosa, económica e

política”, e que possam não estar dependentes de qualquer poder político.

Ou seja, podemos afirmar que a imprensa regional é de uma importância fundamental na

criação e fortalecimento de laços nas comunidades locais, e que lhes dá a conhecer e a

compreender os acontecimentos de determinada localidade ou região, estejam eles

relacionados com as mais diversas áreas da sociedade, como a política, a religião e a cultura.

E os jornalistas que dela fazem parte têm também características específicas, que os podem

distanciar daqueles que trabalham a nível nacional, aspeto estudado por Christian Sauvage

citado por Carlos Camponez (2012, p. 40), onde indica quais as principais especificidades dos

jornalistas de carácter regional:

O jornalista local é uma pessoa preocupada com as consequências do seu comentário;

É pouco dado à revelação de escândalos com o intuito de preservar as suas fontes de

informação com as quais contacta todos os dias;

É uma pessoa bem enraizada na sua região, mantendo um contacto fácil com as

pessoas;

É um narrador do quotidiano repetitivo;

Faz um jornalismo de “notáveis”, podendo ele próprio tornar-se num notável a prazo;

É um profissional mais sério e solidário com os seus colegas do que os seus congéneres

da imprensa nacional.

De uma maneira geral, pode dizer-se que os jornalistas de âmbito local e regional são

profissionais muito ligados e próximos às suas fontes de informação, que por trabalhar num

ambiente mais restrito sentem uma maior obrigação em dar resposta às situações que

acontecem à sua volta.

Outra das definições que vai de encontro à do Estatuto da Imprensa Regional é a de Ramiréz

(2002, p. 484), que nos diz que “La información local es el área periodística que recoge los

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acontecimentos producidos en una determinada zona y afectan a su política, urbanismo,

ecología, costumbre y realidade sociocultural”.

Por outro lado, este tipo de imprensa também se caracteriza por um cara-a-cara com o público,

com os leitores. A proximidade é, também, o elo mais importante entre jornalista e leitor. No

geral, porém, há quem defenda que os intuitos são os mesmos da imprensa nacional, como diz

Carlos Camponez (2002, p. 113): “(…) a questão da proximidade está longe de ser apanágio da

imprensa regional”, uma vez que se trata de “uma questão transversal no jornalismo, no esforço

de comunicar conteúdos considerados pertinentes aos seus leitores e, particularmente, na

definição de estratégias empresariais com o objectivo de conseguirem a fidelização dos

públicos”.

Em todo o caso, o tipo de proximidade característico da imprensa regional faz com que as

pessoas consigam estar mais informadas culturalmente e politicamente, por exemplo, quanto

à sua localidade, tornando-os cidadãos mais conscientes da realidade que os rodeia. Como

refere a alínea d) do Artigo 2º do Estatuto da Imprensa Regional, é um tipo de imprensa que

contribui “para o enriquecimento cultural e informativo das comunidades regionais e locais,

bem como a ocupação dos seus tempos livres”.

Através da análise ao estudo intitulado “Imprensa Local e Regional em Portugal”, publicado

pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social, pode realizar-se uma breve descrição e

caracterização da imprensa local e regional portuguesa. Dados sugeridos por esse publicação

indicavam que, no ano 2009, existiam 728 publicações periódicas de âmbito local e regional

tenho em conta os 18 distritos, assim como as duas Regiões Autónomas.

Sabe-se também que o distrito do Porto é o que apresenta na altura um maior número de

publicações (85), seguidamente de Aveiro com 67 títulos e consequentemente pelos distritos

de Braga e Leiria com 11 publicações cada um. Bragança e a Região Autónoma da Madeira são

os distritos que menos publicações têm, com 11 títulos cada.

Em termos de periodicidade da imprensa regional em Portugal, o mesmo estudo indica que a

maioria (37,5%) dos títulos regionais do país tem uma periodicidade mensal, seguido dos

semanários (29,4%) e dos quinzenários/bimensais (23,9%).

O número de jornalistas por cada publicação regional do país foi também outro dos aspetos

observados neste estudo, e sabemos assim que 49,1% das publicações contam com menos de

três jornalistas, seguido das publicações que possuem de três a cinco jornalistas, que são 22,9%,

e por fim 18,5% que não contam com qualquer jornalista. Poucas são, portanto, as publicações

que conseguem contar com mais de cinco jornalistas.

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Este aspeto está também relacionado com os tipos de empresas que detêm estes periódicos, e

através do estudo, consegue verificar-se que os jornais com maior número de jornalistas são os

que pertencem a sociedades limitadas/por quotas. Por outro lado, as entidades sem fins

lucrativos são os que possuem um menor número de jornalistas, muito devido ao facto do

volume de investimento.

Outro dos aspetos relevantes da imprensa regional é a proximidade que consegue criar entre

emigrantes e os seus locais ou regiões de origem. Pois através da leitura destes jornais, os

emigrantes conseguem estar próximos desta realidade, que outrora era tão distante. Agora é

mais fácil aceder a este tipo de informação mais localizada e segmentada, que antes

praticamente não existia.

Correia (1998, p. 161) considera quais são as características mais evidentes da imprensa de

âmbito local e regional, e começa por referir a “forte relação que mantêm com as elites

políticas, culturais e associativas”, pois é através destas fontes de informação que o jornalista

local terá o maior acesso a informação de relevo para o órgão de comunicação para o qual

trabalha; “a contiguidade e a continuidade dos temas através de uma forte presença da opinião,

da abertura de polémicas e debates em torno de causas mobilizadoras”, o que quer dizer que

neste tipo de jornalismo há uma maior proximidade às causas, e por isso mesmo, as opiniões

surgem mais facilmente, e por isso mesmo há a necessidade de dar sempre continuidade aos

temas; “a importância no contacto com os leitores e ouvintes” é outra das características

essenciais do jornalismo local e regional e que vai ao encontro do que foi referido

anteriormente, a proximidade. A “colaboração com o espaço público designadamente através

da promoção de iniciativas com as associações, colectividades, universidades” faz com que os

jornalistas locais estejam sempre atentos a tudo o que esteja relacionado com as instituições

da região onde trabalham, e para uma harmonia e confiança entre ambos, é natural que exista

esta colaboração entre jornalistas e fontes institucionais.

O estudo “Imprensa Local e Regional em Portugal” (2010, p. 106) indica também esta possível

globalização destes periódicos, pois “muitas das publicações locais e regionais possuem hoje

sítios electrónicos, alcançando através da internet o seu principal público-alvo: os emigrantes”,

e neste sentido essa função é agora desempenhada por estes “novos suportes vocacionados para

temáticas relacionadas com as regiões”.

Aliás, um dos aspetos relevantes da imprensa regional é a proximidade que consegue criar entre

emigrantes e os seus locais ou regiões de origem. Pois, através da leitura deste jornais, os

emigrantes conseguem estar próximos desta realidade. Na segunda metade do século XX isso já

acontecia com muitos órgãos regionais portugueses, que eram enviados por correio para as

comunidades de emigrantes no estrangeiro. Mas agora é mais fácil aceder a este tipo de

informação localizada e segmentada, que antes só circulava por via postal.

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Esta também foi uma transformação que a globalização trouxe à imprensa regional, que numa

época inicial poderia não ter os meios suficientes para se poder mover para um contexto

geográfico que não o da sua localidade, da sua região.

Por outro lado, alguns autores consideram que a imprensa regional tem vindo a ganhar cada

vez mais importância face à nacional e até internacional, isto é, hoje em dia “ as pessoas

contentam-se com um verniz de conhecimento sobre o que se passa de importante no mundo,

mas querem estar ao corrente dos mais pequenos pormenores do que se passou na rua e na

aldeia ao lado”. (Nobre-Correia, 2000, p. 34 citado por Sofia Santos, 2007, p.26). As pessoas

estão claramente mais interessadas nos acontecimentos com que têm maior proximidade,

apesar da tendência de uniformização existente, a imprensa regional consegue ganhar destaque

na vida das pessoas. Os leitores procuram, cada vez mais, encontrar uma identidade só sua,

tentando fugir à ideia de um mundo globalizado e uniforme, pois o seu mundo local e regional

é que os poderá diferenciar de todos os outros.

Apesar da importância que tem vindo a ter, a imprensa regional em Portugal passou por algumas

dificuldades, pois a industrialização trouxe benefícios mas também algumas complicações, na

medida em que, as despesas agregadas a este tipo de atividade aumentaram e isso levou a que

muitos proprietários não conseguissem acompanhar esta evolução. Pois a estes problemas

podemos acrescentar “a entrada no mercado da publicidade um número elevado de publicações

gratuitas de âmbito local e regional e ainda de publicações electrónicas, disputando com a

imprensa tradicional de âmbito local e regional o mercado da publicidade comercial e

«institucional»” (ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, 2010, p. 108), assim

como os boletins criados pelos municípios acabam por ser encarados como concorrência, como

indica o estudo da Imprensa Local e Regional em Portugal publicado pela Entidade Reguladora

para a Comunicação Social.

Mas o aparecimento das novas tecnologias pode ser encarado como o momento certo para que

a imprensa regional se consiga desenvolver e chegar a cada vez mais pessoas.

A imprensa regional tem o grande benefício de conseguir, por um lado, reforçar a identidade

regional, ao enaltecer a região e o local onde atua, e por outro lado, consegue, de certa forma,

estabelecer contacto com o mundo, uma maior abertura quanto ao que se passa à sua volta.

1.5. A relação entre jornalistas e fontes de informação na

imprensa regional

Como já foi referido anteriormente, as fontes de informação desempenham um importante

papel nos meios de comunicação, pois de certa maneira, conseguem reforçar a credibilidade

das notícias através dos seus testemunhos. Podemos assim designar a fonte de informação como

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parte essencial do processo de comunicação jornalístico, e essa realidade é igual seja a nível

internacional, nacional ou local e regional.

A diferença que se sente na imprensa local e regional é a sua “vocação natural para a prática

de um «jornalismo de proximidade», incluindo neste conceito a proximidade com os leitores e

com as fontes, quer as oficiais (…), quer as não oficiais”, como indica o estudo da Imprensa

Local e Regional em Portugal (2010, p. 109)

Normalmente as fontes são de grande ajuda para o jornalista, e um profissional que tenha uma

boa carteira/agenda de contactos conseguirá um melhor trabalho do que um jornalista que não

a tenha, principalmente a nível local e regional, em que existindo uma maior proximidade com

as fontes de informação, há consequentemente uma maior facilidade em construir uma relação

de confiança com elas. A relação que ambas as partes têm é de reciprocidade, pois os

jornalistas procuram as fontes para complementar o seu trabalho, e as fontes procuram os

jornalistas quando têm informação que consideram importante divulgar, podendo promovê-la

de maneira interessada ou não.

No momento de captar a informação, a atuação da imprensa regional não é muito diferente da

nacional, pois procura a informação de que necessita em instituições oficiais, nas conferências

de imprensa, através de comunicados e declarações, um pouco como acontece com a imprensa

nacional em geral. Algo que defende Luiz Izquierdo Labella (2010, p.24):

“Las vías de captación de la información en el periodismo local y en el nacional tienen muchas más similitudes que diferencias. Éstas son, básicamente, las siguientes: desde las instituciones oficiales: los comunicados, las ruedas de prensa y las declaraciones de los políticos. Desde los sindicatos, loas organizaciones empresariales, las asociaciones de otro tipo, las ONG’s, etc… más de lo mismo”.

Apesar desta semelhança, pode insistir-se que a proximidade com as fontes é maior num cenário

local e regional, e a acessibilidade às mesmas é também mais facilitada neste cenário, em que

quase todas as pessoas se conhecem, e por norma, o jornalista é sempre reconhecido nesse

ambiente de cidade ou região. Os jornalistas dos órgãos locais não abundam em número e por

isso mesmo têm de cobrir uma área maior, e ao trabalharem sempre na mesma área, com as

mesmas instituições e pessoas acabam por ficar conhecidos, e ganharem confiança com as

fontes de informação que lhe fornecem material de trabalho. E isso é notório, como defende

Labella (2010, p. 108): “las relaciones se producen en un clima de confianza que facilita el

flujo de la información y hacen innecesarios los aspectos superfluos de las comunicaciones”,

ou seja, os aspetos mais formais e habituais das relações entre jornalistas e fontes de

informação acabam por ficar um pouco de parte, uma vez que a confiança com que se regem

estas ligações tenderá a transformá-las em algo mais informal, o que também permite uma

troca de informação mais descontraída.

Com a estreita ligação que vai mantendo com as suas fontes de informação, a nível local, o

jornalista consegue assim contar com informação credível e fiável, facilitada através da firmeza

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que a proximidade traz a estas ligações e trocas de informação. Pode dizer-se até que quanto

maior for a proximidade em relação à fonte de informação, maior será a veracidade dos factos

cedidos pelas mesmas.

Como defende Rogério Santos (2006, p. 84): “A partir de um certo tempo de relacionamento

com uma fonte de informação, o jornalista adquire confiança e atribui-lhe credibilidade. Fontes

e jornalistas estabelecem uma rotina regular de contactos, cooperam e tornam-se

interdependentes”.

Mas, a proximidade não traz só benefícios para a prática do jornalismo local, pois convém

também referir que estar perto das fontes de informação e criar relações de confiança sempre

com as mesmas pessoas faz com que o jornalista se possa acomodar a essa situação e não

procure novas fontes de informação. E deste modo, a prática jornalística pode tornar-se menos

ativa o que será prejudicial, uma vez que o rigor com que se deveriam reger estas ligações

acaba por ficar de parte, dando lugar à informalidade e à possível comodidade do jornalista,

ou seja, pode resultar em algo desfavorável para o jornalista que acaba por ficar descontraído

demais em frente à sua fonte de informação e poderá perder seriedade e rigor, que são

essenciais quando se abordam determinadas informações, conforme defende Luiz Izquierdo

Labella (2010, p. 109).

Camponez (2012, p. 37) foi outro dos autores que abordaram a proximidade como um aspeto

complexo no jornalismo regional, pois para o próprio deve ter-se em conta que “no plano

normativo do jornalismo, a proximidade levanta problemas impossíveis de ignorar”. Isto é, esta

questão pode estar relacionada com o facto de existirem pressões “por parte das fontes e das

elites locais, o risco das sanções económicas e políticas” e todos os desafios que implicam que

o jornalista esteja atento quanto à equidade no tratamento da informação, assim como o

“envolvimento dos jornalistas em causas locais e regionais capazes de porem em causa a sua

integridade e independência profissional”. Desta maneira, é preciso ter em conta que o valor

de proximidade pode não se revelar apenas como um ponto positivo no que toca às fontes de

informação e aos seus leitores, pois a questão do distanciamento é igualmente importante, na

medida em que, o jornalista deve sempre manter um certo afastamento de quaisquer situações

que possam pôr em causa a sua integridade, credibilidade e imparcialidade jornalística também

no âmbito local e regional.

Para Camponez (2012, p. 42) é evidente que na dualidade entre “proximidade e

distanciamento” há um limite muito ténue “entre o que pode ser especificidade de um

jornalismo próximo das pessoas e formas alternativas de comunicação comunitária” que podem

comprometer a independência. Ou seja, uma das virtudes mais específicas de que necessita o

jornalista regional, é saber optar pelos benefícios éticos e jornalísticos da proximidade, assim

como pelos do distanciamento, consoante as situações.

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O estudo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social: “Imprensa Local e Regional em

Portugal” também refere esta problemática, na medida em que numa conjuntura como a que

o jornalismo regional apresenta, é difícil aceder às fontes de informação “devido à publicação

de notícias incómodas” (2010, p. 109), ou seja, há sempre constrangimentos presentes quando

existe maior proximidade às fontes de informação, devido ao “receio de perder as fontes e

pelas eventuais repercussões a nível financeiro.” (2010, p. 45). Este é um dos aspetos

fundamentais do jornalismo regional, pois é a diferença entre um discurso oprimido pelas

pressões existentes ou um discurso imparcial como deve sempre ser.

Num meio mais pequeno, como o regional e o local é normal que a comunidade se envolva mais

no processo jornalístico, e quando isso acontece a imprensa regional procura sempre ter um

papel importante na fomentação do debate público, neste caso no seio de uma comunidade

mais circunscrita. E é desta forma que o jornalismo regional pode suscitar a ideia de uma

“agenda dos cidadãos”.1 Como clarifica Borges (2009, p.97) citado por Correia (2014, p. 10), a

propósito da investigação desenvolvida no Labcom e dirigida por João Correia, esta é uma

agenda que origina uma maior integração dos cidadãos nos assuntos identificados por eles como

prioritários, implicando que haja um aprofundamento no que toca à abordagem desses temas

ou até que se consiga a “criação de grupos de foco e de painéis de cidadãos para acompanhar

e criticar o trabalho dos media”. Há neste meio um maior envolvimento da comunidade.

A imprensa regional traz uma maior facilidade de comunicação com os cidadãos e, como um

dos seus intuitos é inclui-los no processo jornalístico, pode dizer-se que é normal que estes

meios regionais e locais tentem promover o envolvimento do público numa cidadania mais ativa

e proactiva.

A introdução de uma função social no jornalismo, transformando-o num “jornalismo público”

faz com que os cidadãos tenham uma maior participação neste processo e que vejam ser

debatidas as suas preocupações, deixando de lado a ideia de que o jornalista procura apenas

desenfreadamente a notícia só com vista à obtenção de lucro, mas, antes pelo contrário, a

existência de uma preocupação em dar ao público, aos seus leitores, aquilo que procuram ver

esclarecido. Como refere Traquina (2003, p.16) citado por João Carlos Correia (Coord.) et al

(2014, p. 13), deixa de existir uma “busca frenética de notícias, na postura cínica para com a

vida política, na dependência excessiva de fontes oficiais, e na desatenção flagrante para com

os cidadãos enquanto participantes activos na vida pública”.

Assim, pode dizer-se que este é um cenário mais previsível num ambiente de imprensa regional,

uma vez que os leitores conseguem, mais facilmente, chegar à fala, ou contactar com os

1 Designação de um projecto de investigação desenvolvido pelo Labcom em que se testou as capacidades

da imprensa regional em Portugal para adoptar modelos próximos do conceito de “jornalismo público” e

da participação cívica dos próprios cidadãos leitores.

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jornalistas e demonstrar-lhes quais as suas preocupações e assuntos que gostavam de ver

debatidos. Os aspetos que acabamos de apontar indicam que, na imprensa regional, os cidadãos

comuns possam ter um papel acrescido como fontes de informação para os jornalistas.

Além disso, a componente comercial não pode ser esquecida, pois é parte fundamental da

sustentabilidade de um meio de comunicação. E esta realidade também incentiva a que o

jornalista não se mantenha sempre preso à consulta de fontes oficiais e consiga procurar outras

que podem aproxima-lo do público.

O presente e o futuro do jornalismo de imprensa regional passam pela introdução das novas

tecnologias, o que vai alterar também a situação da procura de fontes de informação e vice-

versa. Isto é, há uma mudança no paradigma da relação entre jornalistas e fontes de

informação, pois a introdução da internet no quotidiano jornalístico faz com que o jornalista

consiga ir “beber informação” a sítios que antes poderiam ser inacessíveis para ele, e ao mesmo

tempo conseguir afastar-se da rotina de fontes de informação. Como refere Labella (2010, p.

125): “Digamos que frente a la fórmula inicial en que sólo unos pocos producían información,

el asentamiento de Internet ha multiplicado las fuentes de información. Además, los periodistas

han dejado de ser mediadores absolutamente imprescindibles para informarse”. Passamos de

uma realidade em que poucos eram aqueles que conseguiam produzir informação para uma

realidade em que todos aqueles que tenham meios para isso o consigam fazer e até depois

difundir, através da internet. Logo, isto faz com que os jornalistas tenham de pensar numa

reinterpretação do seu papel, uma vez que, precisam de marcar a diferença, pois como diz

Labella (2010, p. 125): “los cambios son tan profundos que quienes ejercen la profésion

periodística se ven obligados a reexaminar su verdadero papel en el proceso informativo”.

Assim, pode dizer-se que parte da sustentabilidade da imprensa regional passa por conseguir

adaptar-se a esta nova realidade, através de uma maior profissionalização dos jornalistas,

melhorar a qualidade dos produtos informativos, aproveitar a proximidade e torna-la uma

aliada, tentar chegar sempre a mais leitores, continuar a investir em publicidade e lutar sempre

por um lugar no espaço público da localidade ou região. Estas foram algumas das estratégias

apontadas por vários diretores de jornais regionais, que procuraram fazer uma análise sobre o

que fazer para o futuro da imprensa regional ter mais rentabilidade. (Sofia Santos, 2007, p.

83).

Jerónimo (2010, p. 107) refere no seu artigo que a adaptação da imprensa local e regional à

introdução das novas tecnologias é algo gradual, pois perante os dados recolhidos, apenas

38,92% dos jornais inquiridos têm presença na internet, através de uma página web e que cerca

de 36,5% possuem correio eletrónico. Quer isto dizer, que recentemente (o estudo é de 2010)

ainda existiam muitos títulos regionais portugueses afastados desta nova realidade.

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2. As fontes de informação na web 2.0

2.1. Reconversão tecnológica

2.1.1. Mudanças proporcionadas pela web e comunicações móveis

O termo web 2.0 é agora utilizado por todos e em toda a parte. Este foi um conceito que surgiu

no ano de 2004, numa conferência entre a O’Reilly Media2 e a MediaLive International3, onde

se discutia o futuro da Internet. Pois notou-se que a Internet se estava a tornar fundamental

para as pessoas a cada dia que passava, uma vez que:

“Com milhões de utilizadores em todo o mundo, interagindo e trocando informações através deste tipo de meio de comunicação, a nova tecnologia não pode ser mais considerada uma moda passageira ou uma rede apenas para especialistas em computadores.”

(Fidler, 1997, citado por Bastos, 2000, p. 22)

E, por isso mesmo era necessário inovar e trazer novos conceitos ao mundo da Internet, porque

é muito difícil conceber uma definição exclusiva de Internet. E, conforme refere Hélder Bastos

(2000 p. 22): “A Internet não constitui, de facto, uma rede única, mas um conjunto de milhares

de redes de computadores globalmente distribuídas e cooperativamente organizadas.”

Mas ainda assim, num momento inicial fez-se uma distinção entre a web e, mais tarde, a web

2.0. Pode dizer-se que a “primeira geração de Internet” primava pela sociedade de informação,

isto é, a Internet servia para as pessoas procurarem, essencialmente, informação; a produção

da mesma era centralizada, e nem todos podiam contribuir para a criação de conteúdo; sites e

webpages eram alguns dos únicos sítios a que o utilizador podia aceder; a interação entre

produtor e consumidor era quase inexistente criando um fluxo com apenas uma direção, algo

como “eu produzo, tu consomes”.

Por outro lado, a web 2.0 trouxe uma realidade completamente diferente, pois passamos a ser

reconhecidos como uma sociedade do conhecimento, ou seja, os utilizadores procuravam nesta

“nova” configuração de Internet adquirir saberes e também participar na produção e a partilhá-

la. Neste caso, a produção de conteúdos tornou-se muito mais descentralizada, em que

qualquer um já tem o poder de, facilmente, produzir algum conteúdo nesta plataforma. E como

refere Gabriela da Silva Zago (2009, p. 2) é a partir do ano 2000 que os “sites passaram a ser

2 Editora americana fundada em 1978 por Tim O’Reilly em Newton, Massachusetts nos Estados Unidos

da América. Esta editora publica livros e websites, assim como também organiza conferências sobre

informática. 3 Empresa fundada em 1995 com sede em San Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos da América.

Produz, gerencia e promove conferências e outros eventos acerca da indústria da tecnologia da

informação.

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construídos com conteúdo dinâmico e constantemente actualizado”, e desta forma os blogues

são exemplo disso, e é nesta altura que começam por ganhar mais importância.

Os blogues, como páginas dinâmicas que são, encaixam-se perfeitamente neste novo ambiente

de colaboração e participação, uma vez que, são páginas que podem ser facilmente renovadas

a qualquer momento. Gabriela Zago (2009 p. 2) também concebe uma definição para estas

novas páginas, como sendo “veículos de publicação digital, comumente associados à ideia de

diários virtuais, nos quais um ou mais autores publicam textos, geralmente sobre uma temática

específica, em ordem cronológica inversa e de forma frequente”.

E, hoje em dia, cada vez mais o blogues são utilizados como ferramentas de comunicação por

diversas empresas ou até instituições, que procuram consolidar as relações que têm com os

seus clientes. Contudo, para além dessa inovação, é possível perceber que os blogues de pessoas

comuns também se tornaram casos de sucesso através do seu conteúdo sobre as mais diversas

temáticas, como é o caso do blogue de Ana Garcia Martins, o conhecido blogue “A Pipoca Mais

Doce”, que segundo o blogómetro português já tem um total de 73 649 964 de visitas.

Assim sendo, este novo formato de Internet permite que todos possam publicar e consumir a

informação fornecida, e assim se nota uma enorme diferença na interação, pois todos podem

partilhar. A partilha é agora a base das redes sociais, que também surgiram com esta nova

tendência da Internet.

De uma maneira geral, para Tim O’Reilly (2006), a Web 2.0:

“(…) não tem fronteiras rígidas mas, pelo contrário, um centro gravitacional. Pode-se visualizar a Web 2.0 como um conjunto de princípios e práticas que interligam um verdadeiro sistema solar de sites que demonstram alguns ou todos esses princípios e que estão a distâncias variadas dos centro.”

Publicar, partilhar e opinar são agora as palavras que ganham mais força nesta plataforma que

ganhou novos contornos, que prima pela partilha de conteúdos, e é neste cenário que muitos

setores da sociedade se tiveram de adaptar.

Esta nova perspetiva da Web trouxe um novo panorama quanto à informação, que antes era

mais escassa e agora abundante. Isto é, a escassez de informação marcava o início da Internet,

na década de 1990, até porque poucos eram aqueles que podiam e tinham as ferramentas

necessárias para criar e partilhar conteúdos ou até aceder a eles, e dessa maneira, a informação

era escassa. Com o desenvolvimento da Web 2.0 e as suas características, a informação já não

é moderada, antes pelo contrário, com a crescente participação dos utilizadores na produção

de conteúdos, a informação disponível na Web passou a ser cada vez mais profusa. A evolução

da Internet trouxe um maior número de utilizadores que acabaram por se confundir com os

produtores, pois a Internet agora é de todos para todos e é aqui que surge o “prosumidor”, que

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não é mais do que a junção de um produtor com um consumidor, aquilo que acontece

atualmente na web 2.0.

A par da evolução da sociedade, muitas outras coisas também foram evoluindo, e os meios de

comunicação não são exceção. Os telemóveis entraram de rompante e começaram logo a ter

um papel fulcral na vida quotidiana da sociedade, e esta foi uma das tecnologias que mais

rapidamente se difundiram e tiveram tanto impacto no modo de viver das pessoas. Como

referem Fidalgo & Canavilhas (2009, p. 2):

“A telefonia móvel que começou por ser uma tecnologia exclusiva de uma elite empresarial na década de 90, facultando a gestores uma comunicação constante e ubíqua, tornou-se uma tecnologia popular, mesma nas camadas sociais de baixo rendimento. As pessoas podem habitar em condições precárias, sem saneamento básico, mas fazem questão muitas vezes de ter um celular de última geração. O celular deixou de ser um acessório de luxo, para se tornar um elemento identitário indispensável ao indivíduo contemporâneo.”

No início do uso deste novo meio de comunicação, as principais funções que lhe eram atribuídas

era o facto de se poder fazer e receber chamadas. Os telemóveis tinham apenas o visor e as

teclas. Mais tarde, aparece uma outra função que vem alterar a comunicação por completo, o

SMS, o facto de se poder receber ou enviar mensagens curtas por escrito. Portanto, a voz deixou

de ser a única ferramenta. No início foram os jovens que deram mais importância aos SMS,

desde “logo por serem muito mais baratos que as chamadas de voz.” (Fidalgo & Canavilhas

(2009, p. 3). Os telemóveis passam a ser um bastante reconhecido meio de comunicação que

integra a voz e o texto, e é aqui que a convergência continua a fazer sentido. Pois a Internet é

que pode ser vista como o início da perceção da convergência de vários meios e várias funções

numa só plataforma.

Mais recentemente, os telemóveis passaram a ser o tudo em um, na medida em que, são por si

só um dispositivo de comunicação, mas também têm a função de lista de contactos, agenda,

calculadora, bloco de notas, despertador, relógio, gravador de voz, máquina fotográfica, jogos,

música e rádio. Ao agregar estas mais variadas funções, que antes exigiam a existência de vários

objetos, o telemóvel passou a ser essencial na vida da sociedade contemporânea.

“Porventura, o aspeto mais relevante para as ciências da comunicação é o casamento do celular

com a Internet” (Fidalgo & Canavilhas, 2009, p. 5), uma vez que, o fácil acesso ao mundo virtual

faz com que se possa consultar o email ou visitar uma página web rapidamente, e desta forma,

o telefone móvel passa de um dispositivo de comunicação individual para um dispositivo mais

associado às massas, “na medida em que com ele passamos a ter acesso à imprensa, à rádio e

à televisão” (Fidalgo & Canavilhas, 2009, p. 5).

Desta maneira, quando a Internet se alia aos dispositivos móveis, estão criadas as condições

para que possa haver um acesso à rede a qualquer altura. Esta noção de imediato permite que

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os cidadãos possam ser atualizados a todo o instante, por exemplo, em termos noticiosos. Este

tipo de situação acrescenta liberdade ao ato de comunicar, em qualquer lugar, a qualquer hora.

2.1.2. Repercussões da web na forma de fazer jornalismo

Uma das grandes alterações que o jornalismo sofreu nas últimas duas décadas foi através do

surgimento da Internet, e principalmente, da World Wide Web, que permitiu um gradual acesso

a conteúdos abertos à generalidade dos seus utilizadores e que se transformou numa ferramenta

profissional para os jornalistas. Pois, a Internet mudou por completo o método tradicional de

tratar e difundir a informação.

A convergência foi um dos efeitos que mais se fizeram notar com o aparecimento da Internet,

e pode dizer-se que é algo transversal. Como defende Jenkins (2009, p. 44):

“A convergência está ocorrendo dentro dos mesmos aparelhos, dentro das mesmas franquias, dentro das mesmas empresas, dentro do cérebro do consumidor e dentro dos mesmos grupos de fãs. A convergência envolve uma transformação tanto na forma de produzir quanto na forma de consumir os meios de comunicação.”

Para o autor, de uma maneira geral, existem três conceitos importantes a reter na conceção

da convergência existente nos meios de comunicação: a convergência dos próprios meios, a

cultura participativa e a inteligência coletiva.

A convergência dos meios de comunicação é evidente, na medida em que, hoje em dia, vários

são os grupos de comunicação que englobam variados órgãos, como são exemplo em Portugal o

grupo empresarial Cofina, o grupo Impresa ou Media Capital.

O grupo Cofina faz convergir alguns meios de comunicação diferentes entre si: jornais impressos

(Correio da Manhã, Destak, Metro, Record e Jornal de Negócios); revistas (Sábado, TV Guia,

Flash!, Máxima, Vogue e Semana Informática); assim como a CMTV.

O grupo Impresa detém o jornal Expresso, as revistas Courrier Internacional, a Visão, o JL

(Jornal de letras, artes e ideias), a Caras, a Exame Informática, a Activa e a Blitz. Em termos

televisivos, este grupo detêm todo o espólio de canais da SIC (sejam, a SIC, SIC Notícias, SIC

Caras, SIC K, SIC Internacional, SIC Mulher e SIC Radical).

Por outro lado, o grupo Media Capital contém também vários meios de comunicação. Todos os

canais da TVI, várias estações de rádio (M80, Smooth FM, Rádio Comercial e Cidade FM), e o

portal Mais Futebol também pertence a este grupo.

Outro dos exemplos de convergência é o mesmo título conseguir estar em várias plataformas e

partilhar o seu conteúdos em todos. Por exemplo, o Jornal Expresso conseguir ser impresso e

ter também a sua versão online, que hoje em dia, é quase uma condição obrigatória para todos

os títulos, a sua versão eletrónica, seja online ou não.

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Como defende Jenkins (2009, p. 29) isto é um exemplo da existência de um “fluxo de conteúdos

através de múltiplos suportes mediáticos” e também a “cooperação entre múltiplos mercados

mediáticos”. Acaba por se desvanecer a fronteira entre informação e entretenimento, uma vez

que os grupos incluem as duas componentes, e por vezes até as misturam. Pois os “velhos meios

de comunicação não estão sendo substituídos”, mas estão a ver as suas funções alteradas e a

ser “transformados pela introdução de novas tecnologias” (Jenkins, 2009, p. 41).

Conteúdos utilizados numa plataforma acabam por ser reutilizados noutra, e as conexões entre

as diversas plataformas também vão sendo cada vez mais evidentes.

Para o autor, esta convergência não aconteceu apenas em termos tecnológicos. Esta

transformação também sucedeu em termos sociais, uma vez que o consumo começou a ser mais

coletivo. Perante esta conjuntura, os utilizadores estão a aprender “a utilizar as diferentes

tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo da mídia e para interagir com

outros consumidores” (Jenkins, 2009, p. 46).

A convergência veio trazer alterações tanto para os jornalistas e produtores de informação

como para os consumidores/utilizadores. Os jornalistas tiveram de aprender a utilizar as novas

tecnologias para acelerarem o fluxo de informação. E por outro lado, os consumidores estão

também a aprender a usufruir e a utilizar estas novas tecnologias que lhes trouxeram um novo

poder, o de participar e criar conteúdos.

Todos os meios conseguem agora concentrar-se num só, na Internet, uma grande revolução no

jornalismo como o conhecíamos até então.

Assim, pode dizer-se que existe um contraste com o início do jornalismo, que era marcado pela

escassez de informação, quando o jornalista era “obrigado” a procurá-la, e por vezes, essa

procura não era uma tarefa fácil, uma vez que muitos eram os fatores que se atravessavam

neste processo. Consequentemente, o público também tinha acesso a pouca informação. E o

aparecimento das relações públicas vieram também transtornar o trabalho jornalístico, de

certa forma, ao serem também profissionais que trabalhavam a informação. Daí que, há cerca

de um século atrás, como descreve Schudson no caso norte-americano:

“os jornalistas procuravam não só ligar-se ao prestígio da ciência, à eficiência e à reforma progressista, mas procuravam também desligar-se dos especialistas de relações públicas e dos propagandistas que, de repente, os tinham rodeado”

Schudson (2007, p. 122)

Apesar da carência de informação da época, os jornalistas procuravam sempre prestigiar o seu

papel perante a informação, e “sentiram a necessidade de se unirem e reivindicarem a sua

integridade colectiva” (Schudson, 2003, p. 123), pois os agentes de publicidade e as relações

públicas estavam, cada vez mais, a apoderar-se e a condicionar a informação.

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O grande desenvolvimento do jornalismo moderno começou no século XIX, devido à

industrialização. E o jornalismo português dessa época, passou de uma base política para uma

outra mais social, mas era ainda nesta época um jornalismo algo arcaico, uma vez que as

técnicas jornalísticas ainda não estavam muito desenvolvidas, ou seja, o jornalismo noticioso

estava então no seu início. Era, maioritariamente, um jornalismo político, isto é, demonstrava

ser um “jornalismo de elites, feito pelas elites para consumo das elites, ou, por outras palavras,

feito para a burguesia” (Sousa, 2011, p. 12).

No século seguinte, o jornalismo cresceu exponencialmente. As guerras foram os principais

factos noticiados nesta época, e em Portugal o jornalismo deixou-se entregar nas mãos do

fascismo e da censura. Neste sentido, o jornalismo português, durante metade do século XX

ficou amarrado ao lápis azul, que condicionou bastante a atividade jornalística. Voltou a estar

em causa a escassez de informação, até porque nesta altura os jornalistas eram proibidos de

noticiar muitos factos, sem que eles passassem na censura.

Desde o seu nascimento, o jornalismo tem sofrido as mais variadas transformações, e uma das

mais significativas veio com a Internet, em primeiro lugar, e depois com a sua nova

configuração, a Web 2.0, que passou a funcionar como uma valiosa fonte de informação, assim

como uma capacitada ferramenta de investigação, que permite acima de tudo uma maior

conexão e interatividade com os cidadãos. Contudo, estas mudanças também trouxeram

algumas dúvidas quanto à forma de fazer jornalismo.

Este cenário não dispensa que os jornalistas tenham de continuar a procurar a informação de

que necessitam para fazer o seu trabalho. Todavia, uma grande quantidade de informação pode

ser descoberta de uma maneira mais fácil, pois são muito mais os meios pelos quais o jornalistas

lhe consegue aceder . Por exemplo, através da Web 2.0 o jornalista consegue encontrar muito

mais facilmente as pessoas, pois uma grande parte dos indivíduos já tem hoje em dia um

contacto ou um perfil público numa webpage, que permitirá ao jornalista pesquisar acerca

delas, encontrar a informação que pretende ou entrar em interação com fontes pessoais através

desse meio.

Passamos de um panorama de escassez de informação para um panorama de abundância de

conteúdos e estímulos informativos, e podemos explicar esta conjuntura em duas perspetivas:

a dos jornalistas e a do público.

A transição do jornalismo tradicional para o jornalismo online é um processo altamente

modificador, não só o jornalista tem de mudar as suas tarefas e o modo como lida com a

informação, assim como o leitor tem de se habituar a lidar com diferentes maneiras de receber

a informação. Cada meio de comunicação tem uma linguagem adjacente e, como sustenta João

Canavilhas, a Internet não é exceção: “por força de poder utilizar texto, som e imagem em

movimento, terá também uma linguagem própria, baseada nas potencialidades do hipertexto

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e construída em torno de alguns dos conteúdos produzidos pelos meios existentes” (Canavilhas,

2001, p. 2).

É através destas mudanças visíveis que o autor introduz o conceito de webjornalismo, pois as

diferenças são sentidas de parte a parte, nos jornalistas e nos leitores. E o grande desafio é

conseguir trabalhar a informação de maneira a conseguir oferecer um conteúdo noticioso que

marque a diferença, mas que, principalmente, se adapte a este novo meio e aos seus

utilizadores.

Conforme refere Canavilhas (2001, p. 2): “O grande desafio feito ao webjornalismo é a procura

de uma ‘linguagem amiga’ que imponha a webnotícia, uma notícia mais adaptada às exigências

de um público que exige maior rigor e objectividade”.

Assim, pode dizer-se que “a passagem para o ecrã necessita de uma escrita menos literária,

mais próxima da oralidade”, e desta forma, “as frases devem ser curtas e importa procurar um

vocabulário simples” (Guérin, 1996, p. 130, citado por Bastos, 2000, p. 146).

Sabemos que neste meio é possível não só trabalhar com a palavra como também com a imagem

e o vídeo, o que torna toda a experiência muito mais enriquecida, e é nesse aspeto que se nota

a grande e estrutural diferença em comparação aos meios tradicionais. A aceitação da

reconversão tecnológica no meio jornalístico trouxe todas estas mudanças na forma de agir

perante a abundância de informação. Tudo sofre uma mudança, não é apenas o jornalista que

lida com mais informação disponível, é também o leitor que tem ao seu dispor uma maior

variedade de produtos noticiosos a uma velocidade incessante.

Esta realidade trouxe diferenças na maneira de se fazer jornalismo e notícias, todavia “a notícia

de Internet pode apresentar uma estrutura comum à dos outros media, mas introduz

complexidade e, sobretudo, aleatoriedade com o hipertexto aplicado à narrativa” (Bastos,

2000, p. 57), que geralmente também é uma forma de explorar e oferecer uma maior

abundância informativa.

O comportamento do jornalista e as suas competências são também modificadas com a

introdução da Internet na sua produção jornalística. Eric Meyer (2001, citado por Aroso, 2003,

p. 2) é um dos autores que se referem a esta mudança, defendendo que o jornalista tem de

mudar em relação a dois tipos de competências, a tecnológica e a profissional, isto é, não deixa

de dar importância aos aspetos técnicos de mudança, acha que é ainda mais importante que o

jornalista tenha “uma compreensão sólida de como procurar informação significativa, organizá-

la de modo eficiente e apresentá-la de forma a que a audiência aprecie”.

Uma outra mudança é referida por Lizy Zamora (2001, citado por Aroso, 2003, p. 2), referindo

que o jornalista deve ser um profissional competente para os vários meios de comunicação

existentes, e antes de mais “deve adiantar-se às necessidades da audiência, explorando os

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fóruns de discussão, o chat e a possibilidade de correio electrónico para satisfazer esta

procura”. Para além disso, o jornalista deverá interagir o mais que puder com os

utilizadores/público, contudo “deverá ter uma grande habilidade, inteligência e capacidade de

selecção” de informação e terá, sem dúvida, de “fortalecer os princípios éticos e

deontológicos”.

De certa forma, a descentralização que caracteriza a produção de informação do jornalismo

digital leva a que o jornalista possa ser mais um moderador e estruturador de informação, que

agora tem a possibilidade de ser produzida pelos utilizadores.

Assim, “o jornalista passa a partilhar com o leitor o controlo sobre a notícia, dando assim origem

a uma espécie de ‘jornalismo de comunidade’” (Bastos, 2000, p. 55).

Por outro lado, para o público, as mudanças também são significativas. Como refere Bastos

(2000, p. 146): em termos de leitura, surge uma certa dificuldade de o fazer num computador.

Pois “o leitor de um jornal pode folhear o papel conforme o seu agrado sem perder a noção da

totalidade do suporte”, contudo em termos digitais as coisas são diferentes e “graças às

hiperligações, a progressão na leitura faz-se etapa a etapa, aleatoriamente, e o retorno nem

sempre é fácil”. Ou seja, se a informação não for fornecida de uma maneira esquemática e

bem organizada, o leitor/utilizador pode facilmente perder-se no conteúdo noticioso, não só

devido à abundância informativa, mas também por causa de uma estrutura ramificada em

hiperligações.

Agora estamos perante uma comunicação bidirecional, o consumidor pode também ser

produtor. Mas antes disso, o utilizador online “tende a ser impaciente, menos enraizado na

comunidade e mais interessado em noticiário personalizado em certas categorias específica”

(Bastos, 2000, p. 53).

Este tipo de público é cada vez mais exigente e não se contenta “com notícias do dia anterior,

pressionando os media presentes na Internet a actualizarem permanentemente a informação

ao longo do dia”.

O público passa assim a ter a oportunidade de produzir informação, como já foi referido, e

também consegue contactar com o jornalista muito mais facilmente do que anteriormente, pois

os contactos são agora, quase sempre disponibilizados juntamente com a notícia. Assim como

a caixa de comentários permite uma maior interatividade não só com os jornalistas mas com os

outros utilizadores. De uma maneira geral, a palavra-chave é a interatividade.

Toda a reconversão tecnológica que marcou o jornalismo, como o aparecimento dos telemóveis,

computadores, smartphones e tablets, e a sua ligação em rede, conseguiram mudar a maneira

de se fazer jornalismo nos dias de hoje. Isto é, as transformações mais visíveis foram ao nível

das rotinas jornalísticas no que concerne à produção de informação, nos diversos formatos,

formas de difusão da informação, e ao nível do comportamento do público.

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32

Então, perante esta situação, é de facto importante realçar que a informação tem migrado

para os dispositivos móveis, que são cada vez mais utilizados pelo público, e que por isso mesmo

levou a que os meios de comunicação existentes até então tivessem migrado para plataformas

online, que mais tarde vieram a estar disponíveis nos dispositivos móveis, como podemos

perceber.

A informação é agora tratada e difundida já com a intenção de estar nestes dispositivos móveis.

A fácil leitura e intuição são dois dos fatores mais importantes para que este tipo de

comunicação tenha sucesso. Agora é a notícia que procura o seu consumidor e não o contrário,

quando os consumidores tinham de comprar jornais, ou ligar a televisão para ficarem a par dos

serviços noticiosos. Agora, a realidade é completamente diferente, tanto para o jornalista como

para o cidadão consumidor de notícias. E é por isso mesmo que se toma como facto garantido

que não há “jornal, rádio ou televisão que não disponha um sítio Web e nele ofereça conteúdos

noticiosos entre outros”. (Fidalgo & Canavilhas, 2009, p. 8).

Passamos da existência de um sistema pull, em que o consumidor procura os conteúdos, para

um sistema push, em que os conteúdos é que procuram o consumidor. Conforme refere

Canavilhas (2012, p. 7):

“Após décadas em que os meios ocuparam um lugar central aproveitando o consumo grupal de informação, o ecossistema mediático entrou numa nova era caracterizada pelo consumo individual e móvel onde o consumidor e a plataforma de receção tomam esse lugar de destaque.”

É com esta realidade que o jornalismo vai trabalhar na atualidade, um consumo

designadamente mais individual e personalizado, de forma a aumentar a proximidade entre o

meio de comunicação e o consumidor que o prefere. No caso específico dos telemóveis, o

consumidor pode receber um SMS com o serviço noticioso ao qual submeteu subscrição, por

exemplo. Ainda dentro da área dos telemóveis, surgem também os smartphones, que à

semelhança do telemóvel têm como alguns dos seus pontos positivos, a mobilidade e a

ubiquidade, como foi anteriormente referido. Mas é também preciso ter em atenção as

características próprias destes aparelhos como “a multimedialidade, a hipertextualidade e a

interatividade facilitada por altos níveis de usabilidade” (Canavilhas, 2012, p. 9).

A partir deste ponto, o jornalismo deve adaptar-se a construir produtos noticiosos para este

contexto, no qual há uma maior segmentação do mercado, e uma vez que, o smartphone é um

objeto bastante pessoal, a comunicação que se vai estabelecer será extremamente

personalizada, completamente diferente da realidade que se vive com os meios de comunicação

de massas.

Com o aparecimento da informação personalizada nos mais diversos órgãos de comunicação

digitais o leitor/utilizador poderá consumir notícias à sua medida e isso pode acontecer quando

subscrever a newsletter de um desses órgãos que, através dos seus interesses, lhe transmitirá

apenas a informação que quer consumir. Pois, atualmente, a procura por uma informação

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personalizada é cada vez maior, e assim, torna-se necessário que se desenvolvam técnicas que

permitam essa personalização. Esta situação faz com que muitos websites pertencentes a

jornais, por exemplo, já permitam que os utilizadores possam “montar os seus pacotes

informativos inteiramente de acordo com as suas necessidades e sem constrangimentos

temporais ou espaciais” (Bastos, 2000, p. 118).

A personalização é então efetuada um pouco por todas as partes do processo, ou seja, pelos

produtores de informação quando esquematizam a informação por grupos, interesses ou gostos;

pelos consumidores que podem guiar o seu percurso de leitura através dos seus interesses,

marcando apenas as notícias que querem ler. E também pelas plataformas de distribuição, na

medida em que, por vezes permitem que se faça uma seleção de temas e reúnem todos os

produtos feitos nesse âmbito, facilitando assim a tarefa do leitor/utilizador. Pode dizer-se que

a personalização será cada vez mais necessária num contexto de abundância de informação, e

“um dos maiores desafios dos jornais e dos jornalistas será tornar o oceano de informações

armazenadas digitalmente em algo interessante e pertinente para os leitores” (Bastos, 2000,

p. 119).

Ao mesmo estilo dos computadores portáteis, o dispositivo móvel smartphone traz a

possibilidade de ligar informação através de links, o que permite que o consumidor consiga, de

certa forma, optar por um consumo noticioso mais personalizado.

Perante esta conjuntura o jornalista terá de saber lidar com esta nova forma de tratar e difundir

informação, tendendo a optar por textos mais pequenos (também devido aos ecrãs) e a

privilegiar a rapidez na forma como agora gere estes conteúdos. E a inserção de várias

informações adicionais ao texto noticioso principal também é outra das opções, na medida em

que, através do ecrã do seu computador pessoal, o consumidor pode “saltar” de janela em

janela, procurando sempre mais informações, o que torna a experiência mais rica e

diversificada. É a convergência de todos os meios num só que o permite.

Por sua vez, os tablets também trouxeram algumas alterações a este ambiente, e a grande

diferença está no tamanho dos ecrãs, que volta a aumentar. Com este dispositivo móvel,

consegue-se uma maior portabilidade com funções mais semelhantes às de um computador.

Segundo Canavilhas (2012 p. 12) “nalguns casos aproximam-se da imprensa em papel. Esta

semelhança é uma estratégia dos jornais que procuram revitalizar os jornais vespertinos”.

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Segundo um estudo4 realizado em 2014 nos Estados Unidos da América disponível no Pew

Research Center5 a maioria dos norte-americanos já consome as notícias a partir das redes

sociais. E o Facebook é a rede social mais utilizada para ler notícias, quando 60% dos cidadãos

utilizam a rede social e 30% leem notícias através desta plataforma.

Em relação às partilhas nas redes sociais, cerca de 50% dos utilizadores das mesmas têm o

hábito de partilhar notícias, imagens e vídeos; 46% costumam “discutir” as notícias que leem

nas redes sociais; 14% está habituado a partilhar fotografias que tiram em eventos públicos e

12% publicam também os vídeos que captam neste tipo de eventos. Quer isto dizer que a maioria

destes utilizadores têm uma prática habitual de partilhar informação no Facebook, e ao mesmo

tempo o hábito de leitura das notícias através desta mesma plataforma.

Por fim, o estudo também indica quais são as notícias mais consumidas nesta rede social. As

notícias relacionadas com entretenimento são as mais lidas apresentando valores que rondam

os 73%; em seguida, as notícias de desporto com 57%; política com 55%; e também as notícias

relacionadas com crimes com 51%. As notícias menos lidas são as internacionais com 39%

(reforçando a ideia de que a maioria dos leitores se interessa mais pelos acontecimentos

próximos do que pelos longínquos), seguidas das relacionadas com ciência e tecnologia com 37%

e por fim as relacionadas com negócios a apresentar uma taxa de 31%.

2.1.3. Consequências trazidas pela web na recolha de informação pelos

jornalistas

É perante esta realidade que as empresas jornalísticas têm de abrir horizontes a novas

estratégias na forma de fazer jornalismo, isto é, ter em conta estas evoluções tecnológicas e

procurar fazer produtos noticiosos que se adaptem. Com estes novos meios os cidadãos têm

uma relação ainda mais próxima com os órgãos de informação, isto é, com a viabilidade de

comunicação entre jornalista e público ou utilizador é óbvio que a interatividade entre ambos

tenderá a ser muito maior. E como foi referido anteriormente, as caixas de comentários nas

webpages dos jornais e os emails, normalmente, disponibilizados junto de cada peça

jornalística, permitem que os utilizadores possam contactar mais facilmente o jornalista, logo

existe uma maior proximidade entre ambos, característica esta que já estava bem presente ao

longo do tempo no jornalismo regional, por exemplo, em que a proximidade já era, de certa

forma, física antes de ser virtual. Mas ambas são exemplo de proximidade entre jornalista e

4 O estudo em particular está focado na forma como os utilizadores de redes sociais lidam com as

notícias, neste caso, nos EUA. Disponível em: http://www.pewresearch.org/fact-tank/2014/09/24/how-

social-media-is-reshaping-news/ 5 Pew Research Center é um instituto de pesquisa independente localizado em Washington (EUA) que se

foca em questões como a política, os média, a religião e até a tecnologia. É um instituto sem fins

lucrativos, funcionando através de donativos.

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público. Proximidade, essa, que agora também passa a superar barreiras geográficas, como

defende Pavlik (2001, p. 130):

“Newspapers and most other news media have traditionally communities bounded by geographic (i.e., local, with some national), political, or cultural borders. The Internet is transforming this traditional bounded media model. More than five thousand news sites created by traditional news providers are available to anyone anywhere in the world with a computer and Internet access.”

Assim, Hélder Bastos (2000, p. 74) também refere que “a realidade diária do modelo muitos-

para-muitos significa que o jornalista tem agora uma chance de realmente conhecer e interagir

com a sua audiência que vão muito para além das cartas ao editor”. O autor também defende

que “esta interacção mais próxima deverá idealmente conduzir a um melhor conhecimento da

audiência, e a uma escrita e reportagem que reflicta mais de perto os valores e interesses dos

leitores”.

Também Canavilhas (2004, p. 4) defende que a “avalanche informativa, o aumento da

velocidade noticiosa e as novas formas de contactar os agentes da notícia são apenas algumas

das alterações sofridas pelo jornalismo em consequência do aparecimento da Internet”. Assim,

os consumidores passam a ter um papel muito mais ativo na prática do jornalismo. Exemplo

prático disso são os emails criados por algumas das estações televisivas portuguesas que

recebem informações vinda dos cidadãos, de acontecimentos passíveis de serem notícia.

É de facto extremamente necessário entender que não basta copiar os conteúdos jornalísticos

entre plataformas, mas sim transformá-lo num produto específico destinado ao ciberespaço,

como defende Jorge Pedro Sousa (2002)6: “(…) os jornais constataram que não bastava estar na

Rede para terem vantagens competitivas – era preciso fabricarem um produto específico para

a Internet”.

Assim, o jornalismo está perante muitos desafios, e um deles está centrado na busca,

processamento de informação e a sua consequente difusão. Cada vez mais a Internet é utilizada

como fonte de informação, pois é através desta ferramenta que o jornalista estabelece

contacto com algumas das suas fontes.

“Muitos jornais recorrem agora à pesquisa no ciberespaço para simplesmente se inteirarem do que mais foi escrito sobre o assunto a tratar, além de utilizarem rotineiramente a pesquisa online para verificação de factos e detecção de especialistas para as estórias em progressão”.

Hélder Bastos (2000, p. 74)

Também os emails são ferramentas importantes na procura de informação para os jornalistas

poderem trabalhar, pois é uma das ferramentas mais utilizadas para se poderem identificar

6 A falta de indicação de página deve-se ao facto de o artigo em questão estar numa página web sem

qualquer numeração.

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“potenciais fontes para notícias, recolher informação dessas fontes e verificar a exactidão da

informação obtida” (Bastos, 2000, p. 77).

Para além disso, o ciberespaço também permite que jornalistas de um mesmo órgão de

comunicação que estejam separados por distância física, possam comunicar entre si, tornando

a redação num sítio que já não é apenas físico, mas também virtual.

Assim, os jornalistas utilizam o ciberespaço também para procurarem fontes de informação que

lhes possam enriquecer o trabalho. Todavia, o problema pode surgir quando se percebe que a

Internet traz aos jornalistas um número indeterminado de fontes e informações, que muitas

vezes podem não ter o valor de verdade procurado no jornalismo. Neste sentido, o jornalista

tem de trabalhar arduamente para conseguir provar a veracidade dos fatos transmitidos através

desta rede. Isto é:

“A abundância de informação, incluindo a informação disponibilizada por meios concorrentes, e de fontes na Internet coloca ainda ao jornalista o problema da avaliação da fonte, no que respeita ao interesse, veracidade e importância da informação e credibilidade da própria fonte, num quadro de grande concorrência.”

Jorge Pedro Sousa (2002)

É este cenário que proporciona aos jornalistas a preocupação em criar diferentes técnicas de

pesquisa e de apuração de informação adequadas a esta nova realidade. Pois a “estrutura

descentralizada do ciberespaço complica o trabalho de apuração dos jornalistas nas redes

devido à multiplicação das fontes sem tradição especializada no tratamento de notícias,

espalhadas agora em escala mundial” (Elias Machado, 2003, p. 4).

A abundância informativa coloca ao jornalista a difícil tarefa de conseguir avaliar corretamente

e em pouco tempo (devido à velocidade da informação de hoje em dia) as suas fontes. Ou seja:

“abundância de fontes de informação é um dos factores que incentivará o processo de especialização jornalística. Só um jornalista crescentemente especializado e capaz de fazer análise e associar ideias e informações poderá mover-se num cenário de super-abundância de recursos informativos”.

Jorge Pedro Sousa (2002)

Assim, o jornalista deve conseguir aplicar ao jornalismo online as mesmas técnicas de

verificação da informação utilizadas no jornalismo tradicional, dos meios de comunicação como

a imprensa, rádio e televisão. Todavia não se pode descurar que neste ambiente informativo

de imensa rapidez é, claramente, difícil para o jornalista conseguir fazer esse trabalho num

reduzido espaço de tempo, e por isso a especialização pode ser a solução, como foi referido

anteriormente. Um jornalista especializado lidará, ao longo do seu percurso, quase sempre com

as mesmas fontes, que ao terem uma relação duradoura com o jornalista lhe poderão transmitir

confiança.

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Ward e Hansen (1993, citados por Bastos, 2000, p. 84) foram dois autores que estudaram o

aparecimento deste novo tipo de fontes de informação associadas ao mundo digital, e

defenderam que estas novas fontes potenciais “exigem novas aptidões de pesquisa” e desta

forma propuseram um modelo que determina o trabalho jornalístico em cinco níveis: a análise

da questão (delimitar qual a informação que se pretende); os possíveis contribuintes (dividindo

as fontes de informação em três tipos, como as fontes formais, institucionais e fontes de bases

de dados, onde incluem as fontes online); as entrevistas (debater a informação encontrada); a

seleção e síntese (depois da seleção de informação, transformá-la num produto final já com

informação adicional) e o desenvolvimento da mensagem (a produção de um produto pronto

ser publicado).

Todavia, e apesar de todas as transformações a que se tem assistido na tentativa de dar maior

crédito às fontes de informação online, o estigma da pouca credibilidade poderá manter-se,

conforme defende Pavlik (2001, p. 127) porque: “online journalism and the Internet are in their

relative infancy, however, many news consumers are still unsure of the credibility of online

source”. Portanto, pode dizer-se que cabe ao jornalista proceder sempre à verificação da

informação, para não transmitir insegurança ao público quanto às fontes de informação.

2.2. Redes sociais e informação partilhada

São cada vez mais as pessoas com computadores e acesso à Internet, e isso faz com que a

conexão entre todos seja maior e mais facilitada através do desenvolvimento desta nova

tecnologia da informação. E é através desta evolução no interesse das pessoas em estarem

ligadas à rede que surgem as redes sociais online, mais uma das mudanças provenientes do

aparecimento do conceito de Web 2.0.

Até chegarmos às redes sociais como as conhecemos hoje, foi preciso percorrer um longo

caminho de tentativas. Mas, para conseguirmos palmilhar parte da sua história, devemos

primeiramente definir o que são redes sociais online. As redes sociais primam pelo conjunto de

relações que se estabelecem entre pessoas e organizações, que passa pela partilha de

interesses, valores, ideais e conhecimento numa página web, como por exemplo o Facebook ou

o Twitter. Claro está, que cada página web é diferente e as suas definições também o poderão

ser, mas, essencialmente, as redes sociais, e conforme a própria designação indica, são uma

rede de pessoas que se podem conectar a qualquer momento. Apesar do ênfase dado às pessoas,

as empresas também podem ser utilizadoras das mesmas, criar os seus perfis e relacionarem-

se no mundo da web 2.0. No fundo, trata-se de uma ligação, fundamentalmente, social.

As redes sociais foram explicadas por Boyd & Ellison (2007) citado por Recuero (2009, p. 118)

como sendo “sistemas que permitem i) a construção de uma persona através de um perfil ou

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página pessoal; ii) a interação através de comentários; e iii) a exposição pública da rede social

de cada ator.”

A ideia de rede como novo paradigma social foi antes disso descrita por Manuel Castells (2002)

como uma procura de um significado social, pois as pessoas procuram conectar-se consoante os

seus gostos, as suas ambições e as suas maneiras de ser. Estamos hoje em dia, num “mundo de

fluxos globais de riqueza, poder e imagens”, que faz com que as pessoas procurem uma

“identidade, colectiva ou individual, atribuída ou construída”, que vai resultar numa ligação

com um forte significado social (Castells, 2002, p. 3).

Assim surge o conceito de rede associado às inovações tecnológicas trazidas pela Internet. Neste

novo paradigma da tecnologia da informação, todas as estruturas sociais conseguem conectar-

se num só espaço, as redes sociais. Segundo um artigo publicado no Journal of Computer –

Mediated Communication: “Social Network Sites: Definition, History and Shcolarship”7, é em

1997 que surge a primeira rede social, a “SixDegrees”, que permitia aos seus utilizadores a

criação de um perfil e também a sua lista de amigos. Esta rede promoveu-se como sendo uma

ferramenta que auxiliava as pessoas a conectarem-se entre si. Mas, o seu sucesso não foi

duradouro, uma vez que, nessa altura não havia muitas pessoas com ligação à Internet.

Mas, a partir do ano de 2001 o cenário foi-se modificando, e a Internet foi-se tornando cada

vez mais acessível às pessoas, e um maior desenvolvimento desta tecnologia também permitiu

uma maior utilização da mesma. É então em 2001 que surge uma outra rede social, a Ryze, que

procurava ajudar as pessoas a conectarem-se com as suas redes de trabalho, ou seja, era uma

rede social como uma perspetiva mais laboral.

Em 2002 surge a Friendster, onde surge o conceito de comunidade dando força à conexão entre

amigos num mundo virtual; já em 2003 surge o conhecido MySpace, rede social que permitia a

interação entre os seus utilizadores a partir da partilha de fotos entre os mais variados perfis,

assim como um sistema de email interno, fóruns e grupos de discussão.

E como esta surgiram outras igualmente interessadas e direcionadas para o mesmo objetivo,

até que a partir desse ano que se dá o boom das redes sociais, quase ao mesmo tempo que o

aparecimento da Web 2.0. Aparecem como redes sociais nessa época, o LinkedIn, o

Couchsurfing, o Youtube, o Orkut e os hoje mais conhecidos, o Facebook e o Twitter. O

Facebook foi criado em Fevereiro de 2004 por três alunos da Universidade de Harvard, Mark

Zuckerberg, Chris Hughes e Dustin Moskovitz, e atualmente é uma rede social que tem como

principal objetivo criar um espaço virtual onde as pessoas consigam encontrar-se e ao mesmo

tempo poderem partilhar entre elas fotografia, vídeos, opiniões e notícias, ou seja, é uma rede

7 Estudo realizado por Boyd, D. M., pertencente à School of Information University of California-

Berkeley & Ellison, N. B., pertencente ao Department of Telecommunication, Information Studies, and

Media Michigan State University publicado online em Dezembro de 2007, acerca da definição e história

das redes sociais. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1083-

6101.2007.00393.x/full#ss3

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social que se baseia, essencialmente, na partilha entre os seus utilizadores. Esta é uma rede

que já conta com cerca de 1,3 biliões de utilizadores, que por si só é um número bastante

significativo. E pode também referir-se que a empresa Facebook adquiriu recentemente os

domínios do Instagram, uma outra rede social que incide mais na partilha de fotografias e vídeos

entre os sus utilizadores, e que também já conta, segundo a Business Insider, com cerca de 200

milhões de utilizadores.

Por sua vez, o Twitter foi criado no ano de 2006 por Jack Dorsey, Biz Stone, Evan Williams e

Noah Glass. É uma rede social que se associa aos microblogues, pois permite que os seus

utilizadores consigam enviar e receber mensagens que os seus contactos tornam públicas

através do seu perfil, mensagens estas conhecidas por tweets que podem apenas conter 140

caracteres. Estas duas redes sociais são exemplo de que esta realidade se tratou de um

fenómeno à escala global, no qual a sociedade passou a interagir em rede.

O aparecimento e desenvolvimento das redes sociais tornou-se num grande desafio para as mais

variadas áreas de conhecimento e o jornalismo não é exceção e é neste ambiente que são

estabelecidas infinitas conexões entre os indivíduos que dela fazem parte. E isso também pode

acontecer em termos noticiosos, na medida em que, na atualidade as pessoas estão sempre

ligadas à rede, e, por consequência, interligadas umas entre as outras, permitindo que a

informação que circula seja cada vez mais.

Ora, sendo vasta a informação que se encontra disponível na rede, é normal que existam

diferenças no comportamento do jornalista no seu quotidiano profissional, e por isso mesmo, a

internet vai ser um apoio essencial na hora de recolher informação. Assim, uma das funções

possíveis que as redes sociais podem desempenhar no jornalismo é o de serem prováveis fontes

de informação para trabalhos noticiosos. Para além desse aspeto, as redes sociais também têm

a competência de gerar debate sobre determinado tipo de informação, isto é:

“(…) as redes sociais, enquanto circuladoras de informações, são capazes de gerar mobilizações e conversações que podem ser de interesse jornalístico na medida em que essas discussões refletem anseios dos próprios grupos sociais”

(Recuero, 2009, p. 8)

As redes sociais são assim grandes impulsionadoras de debate e discussão que pode ser trazida

de maneira mais desenvolvida ao jornalismo, uma vez que essa participação era menor nos

anteriores meios de comunicação (imprensa, rádio e televisão). Na imprensa imperavam as

cartas dos leitores, na rádio, as pessoas telefonavam e participavam nas emissões, assim como

acontece na televisão até aos dias de hoje, mas todos esses casos de participação eram

extremamente minoritários no seio das audiências. Passamos de uma realidade em que o

modelo comunicacional funcionava de “um para muitos”, em que poucos tinham a competência

para fazer e disseminar informação, para passarmos para um modelo comunicacional que

funciona de “muitos para muitos”, o que permite ao público participar neste processo de forma

mais ativa. Isto é, o jornalista mantem-se como um mediador de informação, mas ao mesmo

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tempo existe a possibilidade de uma participação mais intensificada por parte dos cidadãos

utilizadores destas redes sociais.

Assim, um dos papéis fundamentais das redes sociais no ambiente jornalístico é o facto de neste

tipo de rede se poder agregar e publicar as informações, que normalmente eram obtidas

exclusivamente em serviços de informação, ditos originais, como a imprensa. Ou seja, como

expõe Alves (2011) é preciso entender que “a Internet como um meio de comunicação

convergente” tem a “capacidade de absorver características de outros meios, ao permitir a

utilização de textos, bases de dados, fotos, áudio, vídeo, etc.” Aliás, já muitos jornais

impressos procuram ter páginas de Facebook para conseguir dar as notícias “minuto a minuto”.

Atualizar constantemente os seus consumidores é, agora, um dos mais fundamentais objetivos

das empresas jornalísticas, sendo que a instantaneidade é uma das características mais

proeminentes do jornalismo atual. “A actualização do Facebook pelos media é um dado

adquirido, nomeadamente como agregador de notícias, como plataforma de difusão de

informação e até como uma forma de captar leitores” (Rodrigues, 2010, p. 10). A autora ainda

refere que a internet acaba por permitir que a comunicação se faça de muitos para muitos e

de poucos para poucos, o que vai alterar, de certa forma, a tradicional audiência e produção

noticiosa. No fundo, esta é uma ferramenta que vai contribuir em grande parte para a maior e

mais alargada difusão de informação, seja ela política, social ou económica.

Para Recuero (2009) citada por Bessa (2012)8 são três os tipos de relações que a produção

jornalística por manter com o aparecimento da Internet e, consequentemente, das redes

sociais. Por um lado podem encarar-se as redes sociais como fontes produtoras de informação,

por outro como filtros de informação e por fim como espaços de reverberação dessas

informações, referindo-se à parte da divulgação da informação. Neste ponto de vista, as redes

sociais podem ser de grande importância para a produção jornalística nas mais diversas fases,

mas principalmente na pesquisa e recolha de informação e mais tarde na divulgação da mesma.

Então pode dizer-se que o jornalismo está, ao longo dos últimos anos, a passar por determinadas

transformações e transições. Passou-se do analógico ao digital o consumo de informação passou

de passivo a ativo, na medida em que o consumidor procura a informação e por vezes participa

na sua realização; as plataformas tornaram-se globais, em grande parte, devido à internet. As

distâncias reduzem-se e os dados ficam disponíveis para toda e qualquer pessoa que tenha

acesso às mais variadas páginas, e a conexão é a principal característica destas redes.

A utilização das redes sociais vem também alterar a maneira de se fazer jornalismo, pois são

hoje instrumentos possíveis para a prática dos jornalistas, na medida em que facilitam a difusão

da informação. No Twitter, por exemplo, o facto de só se poderem publicar mensagens com

140 caracteres, projeta automaticamente para uma leitura rápida. Mas antes disso, o jornalista

8 Não há indicação de página porque é um artigo publicado online. Disponível em:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed690_as_redes_sociais_e_os_jornalistas

Page 55: As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional · das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e acessível a todos.

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já vai ter de saber condensar a informação ao máximo, e é desta forma que o seu trabalho vai

sofrendo alterações.

Estas redes começam a ser vistas como uma “teia” de ligações, mas também como uma rede

qualificada a filtrar, recomendar e a promover o debate sobre a informação que nela é

colocada, e desta forma, atua como gatekeeper. A leitura torna-se cada vez mais

personalizada. Se antes o leitor ao comprar o seu jornal diário tinha de consumir apenas o que

lá vinha escrito, agora com as redes sociais o caso muda de figura, pois o leitor/consumidor é

que faz a seleção da informação que pretende. E, para além disso, é desta forma que os

jornalistas deixam de ser os únicos capazes de difundir informação e o público deixou de ser

passivo para passar a ter um papel ativo no processo de elaboração e difusão noticiosa.

O fator mais positivo na utilização das redes sociais para o jornalismo é a infinidade de matéria

que está à disposição de um clique. Com a utilização destas redes o jornalista tem uma

economia.

A informação partilhada através das redes sociais também é um dos paradigmas de que se fala

hoje em dia, pois para além da Internet, as redes sociais vieram permitir uma difusão de

informação ainda maior e contribuíram também para uma maior participação do cidadão no

processo jornalístico, o que levou a vários conceitos novos como o de jornalismo do cidadão e

o de jornalismo colaborativo.

Contudo, é preciso ter em conta que a informação que vem do público precisa, certamente, de

tratamento jornalístico. Nestas situações, o público acaba por funcionar como uma fonte de

informação com a qual o jornalista pode trabalhar. Todavia, e como é habitual, o jornalista

tem de comprovar a veracidade dessas informações, de modo a poder tratá-la e difundi-la.

2.3. Gatekeeping e Gatewatching

A teoria do gatekeeping surgiu originalmente associada ao jornalismo através de David Manning

White, caracterizada por ser o processo que determina a fase em que o jornalista tem a função

de selecionar o que é importante em termos jornalísticos, saber aquilo que tem valor de notícia,

como por exemplo, a proximidade, a relevância ou a atualidade, para conseguir transformar

essa informação em notícias prontas a serem publicadas, e que tenham o que é preciso para

serem divulgadas seja através da imprensa, rádio, televisão, e mais atualmente através da

Internet.

Mas também é preciso ter em atenção que este processo está sempre condicionado pelo espaço

disponível em cada um dos meios de comunicação, principalmente, na imprensa, que teria os

caracteres contados para que as notícias tivessem todas o seu espaço. Na rádio, espaço em

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termos temporais, saber quanto tempo de antena se terá para distribuir as notícias, e consoante

isso fazer uma escolha; e também na televisão, em termos temporais, saber quantas notícias

podem ser transmitidas, e quais as mais e menos importantes, sendo que as mais poderão ser

transmitidas na abertura de um telejornal e este continuar a decorrer até à notícia dita menos

importante.

Inicialmente, o gatekeeping surgiu num ambiente de escassez de canais de informação e de

espaço dentro dos mesmos. Todavia, a massificação da Internet permitiu que o jornalista

tivesse um espaço maior e mais diversificado para colocar as suas notícias, mas também trouxe

um novo modelo de comunicação como foi referido anteriormente, em que passamos da

comunicação de um para muitos para a comunicação de muitos para muitos. Isto é, a

participação da audiência foi crescendo neste ambiente e também as formas de esta poder

participar na rotina jornalística.

O fácil acesso a informação para os utilizadores pode ser complexo, uma vez que, terá de lidar

com informação abundante, pois a informação na Internet circula a uma velocidade ininterrupta

e milhares de notícias são disponibilizadas num curto espaço de tempo, algo impossível com a

utilização dos anteriores meios de comunicação. Esta conjuntura fez com que tivessem de ser

criados, por necessidade, alguns mecanismos de seleção da informação, para se conseguir

restringir a torrente informativa com que temos de lidar diariamente.

Esta nova tecnologia permitiu, nalguns casos como o de sites do dito jornalismo cidadão, que o

público pudesse evitar a mediação jornalística, o seu trabalho, para comunicar entre si acerca

de assuntos colectivos; assim como, noutro âmbito, passou a poder conectar-se diretamente

com as organizações. Como exemplo, já são muitas as câmaras municipais, instituições e

empresas que têm as suas próprias páginas nas redes sociais e é através das mesmas que

disseminam as informações que acham de interesse público. E é através das redes sociais que

os utilizadores das mesmas conseguem aceder diretamente à informação, sem ter que passar

pelo trabalho jornalístico, sendo agora capazes de estar em contacto direto com as fontes de

informação.

O jornalismo colaborativo é também um modelo que continua a privilegiar o trabalho do

jornalista, fazendo com que a colaboração entre estes e os cidadãos seja feita de uma maneira

mais dinâmica, isto é, continua a existir uma colaboração contínua das mais variadas fontes de

informação, incluindo aqui, os cidadãos-leitores, que ajudam o jornalista na construção das

suas peças, sendo que se considera se, nestes exemplos, se o jornalista continuará a ser o autor

exclusivo das notícias, uma vez que, o seu trabalho deve-se também aos inputs colaborativos

que chegam através dos cidadãos.

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Bowman and Willis (2003, p.7) citados por Rosenberry & St. John III (2010, p. 32) defenderam

que agora:

“profession of journalism finds itself at a rare moment in history when, for the first time, its hegemony as a gatekeeper of news threatened by not just news technologies and competitors but, potentially, the audience it serves”

Agora fala-se num outro tipo de gatekeeping, o denominado gatewatching, que se trata de uma

observação de estímulos informativos por parte dos utilizadores, mas que também envolve uma

forte participação na atenção, produção e circulação de informações por parte de

pessoas/utilizadores que não são profissionais do jornalismo. E neste sentido, com um atual e

constante fluxo de informação, a informação que surge pode ser organizada através dos

interesses pessoais de cada utilizador, isto é, formam-se comunidades em torno de interesses,

que estão direcionados para certo tipo de informações.

De uma maneira genérica, se por exemplo um grupo de utilizadores preferir apenas informações

sobre desporto, então poderá ser formada uma comunidade em torno desse tema. Atualmente

são as pessoas que escolhem a informação que querem consumir, já não é o jornalista que dita

isso. Agora as pessoas consomem informação consoante os seus gostos, os seus interesses.

Como defende Canavilhas (2010, p.1): “Trata-se de um novo tipo de gatekeeping desenvolvido

pelos media nos seus canais sociais, mas também por cidadãos com prestígio (gatewatchers)

em torno dos quais se constroem comunidades virtuais.”

O produto final, ou seja a notícia passa de ser um produto imóvel para um produto com uma

maior e mais significativa dinâmica, pois cada vez mais temos disponíveis diversos recursos que

são agora utilizados pelo público, por exemplo, nos sítios da Internet de cada órgão de

comunicação social, em que o público pode comentar, partilhar, ou entrar em contacto direto

com o jornalistas através do seu email. São essas particularidades que acabam por desenvolver

aquilo a que podemos designar de jornalismo colaborativo.

Alvin Toffler9 foi o autor que trouxe o conceito de prosumer10, como sendo alguém que é

produtor e consumidor ao mesmo tempo, que é o que mais acontece com o aparecimento da

Web 2.0. Estas pessoas são, antes de mais, utilizadores bastante frequentes da Web 2.0 e de

todos os serviços que esta oferece, como por exemplo as redes sociais, que permitem que o

cidadão comum pode muito bem ser produtor de conteúdos e difundi-los.

9 Alvin Toffler é um escritor norte-americano, nascido em 1928, que desenvolveu ideias sobre a

revolução das comunicações e da revolução digital. De todas as suas obras destacam-se a “Future

Schock” e a “Third Wave”. 10 O conceito de prosumer surgiu na década de 80 através de Alvin Toffler, no seio de uma teoria futurista

da sociedade pós-industrial, em que o autor defendeu que os consumidores e produtores começavam

agora a ser difíceis de distinguir, ou seja, o consumidor da época acabou por forçar a indústria a produzir

aquilo que queriam, já não existia a produção em massa, mas uma produção mais customizada.

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É por ter surgido esta nova tendência de numa só pessoa podermos encontrar um produtor e

também um consumidor, que surge o gatewatching, um conceito criado por Axel Bruns (2005)

para explicar a participação do público no processo de produção de informação, dando destaque

à ideia de um consumidor de informação que se transformaria também num produtor. Contudo

convém também referir que o gatewatching também acontece pelo facto de os utilizadores

prestarem maior atenção à corrente de informação que circula continuamente nos mais

variados meios, e o trabalho que antes era só realizado pelos jornalistas, é-o agora também

realizado pelos utilizadores, pelas pessoas sem qualquer formação jornalística, que acaba por

contribuir para a transformação dessa informação em notícias. Esta possibilidade eminente de

um cidadão comum poder participar do processo jornalístico fez o autor desenhar este

conceito.

O gatekeeping começa a deixar de fazer sentido quando o anterior limite temporal e espacial

existentes nos órgãos de comunicação anteriores (imprensa, rádio e televisão) deixa de existir

com o aparecimento da Internet. Pois, agora quase tudo pode ser publicado com as devidas

precauções e critérios de noticiabilidade. A mediação antes existente entre jornalistas e

cidadãos ou entre editores e jornalistas começa agora a desvanecer, conforme refere Catarina

Rodrigues (2010, p. 4), pois o “tradicional guardião de portões ou o porteiro passam assim

também a ser vigiado.”

Assim o ciberespaço permite que haja a introdução de uma nova perspetiva do gatekeeping,

uma vez que no mundo da web 2.0 já não é só o produtor, neste caso, o jornalista que tem o

poder de decidir qual a informação que será transmitida ou difundida, pois esse poder também

já passou para as mãos dos consumidores. E assim, as pessoas vistas como comuns utilizadores

da Web 2.0 podem agora selecionar a informação que pretendem, serem os seus próprios

gatekeepers, sem necessitar do auxílio do jornalista ou do produtor de informação em questão.

Agora o jornalista passa a ter uma função mais ténue no que toca à produção e distribuição de

informação, fazendo com que passe a tomar mais preponderância o termo de gatewatcher,

conforme refere Axel Bruns (2005, p.18, citado por Weber, 2010, p. 10):

“Eles observam o material que está disponível e é interessante, e identificam as novas informações que possam ser úteis com objetivo de canalizar este material para atualizar e estruturar notícias que possam apontar direções para conteúdos de relevância e outras partes do material selecionado.”

2.4. Jornalismo Público, Colaborativo e do Cidadão

Quando referimos a participação dos cidadãos no processo jornalístico, podemos distinguir três

maneiras diferentes de o fazer, através do jornalismo público, colaborativo, ou por fim,

jornalismo do cidadão.

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A designação do jornalismo público, que começou por surgir nos Estados Unidos da América nos

finais do séuclo XX e era conhecido por “Public Journalism”, que em princípio foi uma reação

à perda de leitores para o aparecimento e difusão de um novo meio de comunicação, a

televisão. E também uma resposta ao, cada vez maior, poder dos partidos políticos na

construção do debate político nos meios de comunicação.

Como referem Aroso e Correia (2007): “Esse novo jornalismo pretendia impor uma nova agenda

de opinião e se tornar o intérprete dos cidadãos quanto à hierarquia dos problemas e à escolha

das soluções pela comunidade”.

No fundo tornou-se numa maneira de voltar a dar credibilidade aos jornais da época, pois

durante as eleições, as informações veiculadas pelos meios de comunicação de massa geravam

desconfiança na sociedade, e foi desta forma, que se juntaram os profissionais da comunicação

com o intuito de promover uma nova atitude do jornalismo perante estes acontecimentos. Desta

forma, os jornalistas pretendiam indicar o caminho aos cidadãos, isto é, a criação de um sistema

de comunicação muito ligado à vida pública e voltado para os interesses dos cidadãos, em vez

de cobrir estritamente a atividade politico-partidária.

Começa a notar-se uma maior exigência por parte dos cidadãos quanto ao processo jornalístico

e ao apuramento das questões mais essenciais à sociedade e à criação de um espaço de

reflexão. É como se fosse uma maneira mais responsável de fazer jornalismo, e dedicada ao

bem público, algo indispensável à democracia. Este trabalho dos jornalistas, tendo sempre em

conta os cidadãos e os seus interesses comuns, acaba por pôr de parte, de certa forma, a

necessidade de apenas conceber o jornalismo para a obtenção de lucro.

O jornalismo colaborativo, por sua vez, é todo aquele no qual existe um contacto entre a

redação e os seus leitores, e em que os cidadãos mostram sempre ter a necessidade de se

exprimir em relação àquilo que acham que pode ser noticiável, podendo contribuir como fontes

para o próprio processo de apuramento de factos e de construção de notícias. E, se antes, isso

acontecia através das cartas do leitor, que não eram mais do que participações por parte dos

cidadãos, alertando para alguma coisa que achavam importante ser realçado por alguma razão,

agora pode também acontecer através do envio de um email ou envio de imagens e vídeos para

a redação com o intuito de serem editadas e utilizadas pelos jornalistas nas suas peças, ou

ainda participando ativamente no aprofundamento noticioso de certos casos através de envio

de novas informações com que os jornalistas podem ir atualizando e robustecendo as peças,

nomeadamente no ambiente web.

Esta é uma ação que potencia a participação dos cidadãos no processo jornalístico, mas na qual

o jornalista tem sempre a última palavra, ele é que decide se deve ou não publicar aquilo que

lhe chegou à redação através dos leitores, por exemplo.

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Hoje em dia é impossível pensar em jornalismo sem a participação dos cidadãos, principalmente

com a mudança que a introdução da Internet na vida das pessoas trouxe à prática do jornalismo.

Pois a Internet fez com que o cidadão deixasse de ser um elemento praticamente passivo do

processo de comunicação para passar a ser um elemento muito mais ativo no processo

jornalístico. E convém realçar que a sua atividade neste processo é agora mais imediata e

direta, como defende Canavilhas (2001, p. 2):“No webjornal a relação pode ser imediata”,

assim como a “própria natureza do meio permite que o webleitor interaja de imediato”.

Assim sendo, é visível que o webjornalismo permite que exista uma constante atualização da

informação, nas mais variadas áreas, e que assim considera uma maior participação do público

no processo noticioso. Pois:

“O Webjornalismo é uma realidade que assume alguma relevância. No Webjornalismo a notícia funciona como um ponto de partida para uma interactvidade com o leitor. A introdução de diferentes pontos de vista sobre um determinado assunto vão enriquecer a notícia (…)”

(Cheila Marques, 2008, p. 7)

Assim, podemos verificar que a Internet foi o fator fundamental na mudança de comportamento

dos recetores dos produtos noticiosos. Isto é:

“Actualmente, um «qualquer cidadão» arrisca-se, munido de todo o material necessário, a ser o primeiro

a recolher informação, uma fotografia, declaração ou até mesmo um vídeo de determinado local, hora e

data” (Aroso & Correia, 2007).

E assim pode voltar a referir-se o smartphone como a ferramenta preferida dos cidadãos e hoje

em dia qualquer pessoa com um smartphone consegue fazer o trabalho técnico de um

jornalista, principalmente o de recolha e transmissão de informação, sendo esta ultima função

possível através da Internet e das mais variadas plataformas nela existentes que permitem a

participação do cidadão. Exemplo disso são os contatos disponibilizados, por exemplo, por

vários meios de comunicação social, para o efeito. O email do canal de televisão TVI

([email protected]) é um exemplo, ou o magazine “A voz do cidadão” disponibilizada pelo canal de

televisão RTP, que dá espaço às cartas e emails dos cidadãos.

Assim, entende-se que o jornalismo colaborativo ou participativo designa uma das formas de

participação do público no processo jornalístico, como referiu Mark Deuze (2009, p.255):

“participatory media culture, civic emancipation, and an emerging new humanism in media

professions, where we can focus on the efforts of professional news organizations to genuinely

collaborate with (and thus invest in) their constituencies”, em que consumidores e produtores

conseguem colaborar entre si na produção de conteúdos, por exemplo.

Por outro lado, temos uma outra maneira de participação dos cidadãos no processo jornalístico,

o denominado jornalismo do cidadão, que se distingue do anterior na medida em que neste

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método, o próprio cidadão tem ao seu dispor espaços para a publicação de notícias, e respetivas

fotografias e vídeos, que existem em espaços noticiosos, por exemplo. Ou então são criados

por eles mesmos, como por exemplo, na criação de uma página web onde colocam notícias

sobre o bairro onde vivem.

E, cada vez mais assistimos à realidade onde existem cidadãos capazes de produzir textos

noticiosos, isto é, num papel que antes estava apenas direcionado aos jornalistas passou agora

a estar ao dispor de qualquer cidadão. Hoje em dia, qualquer cidadão consegue partilhar

informação, colocar conteúdos na rede, seja em que plataforma for.

Assim, Catarina Dias (2011, p. 16) defende que:

“(…) o jornalismo do cidadão será a forma de cada cidadão poder ter ‘voz’ num espaço público que se quer cada vez mais alargado e de poder divulgar assuntos relacionados com o próprio cidadão, estando aqui implícito o conceito de proximidade”.

Volta-se ao facto de que antes desta conjuntura não se conseguia escrever de forma alargada,

pois grande parte daquilo que o cidadão poderia escrever estava destinado a um pequeno

espaço, como por exemplo, as cartas do leitor.

Agora, a realidade é outra e a Internet permitiu que a informação atingisse uma audiência mais

vasta, o que impulsionou o aparecimento e desenvolvimento do jornalismo praticado pelo

cidadão.

“Virtually everyone is within reach of information and a way to publish to the world and can re-package the information within the bounds of their personal predilections, motives, biases and level of intelectual honesty.”

(Davis Merritt, 2010, p. 27)

Um dos exemplos da maior participação dos cidadãos na rotina jornalística pode ser vista

através das tragédias. Quer isto dizer que cada vez que o mundo passa por alguma catástrofe,

as pessoas da zona envolvente, ou que tenham estado presentes, ou que tenham vivido o

desastre, que são obviamente sempre motivo de notícia, têm agora os meios e as ferramentas

necessárias para recolher informação sobre o acontecimento e partilhar, por exemplo, através

das redes sociais, fotografias, vídeos ou até textos descritivos.

Stuart Allan (2009, p. 23) foi um dos autores que associaram o acontecimento de alguma

tragédia à maior participação do público como produtores de conteúdo, encarando o atentado

terrorista do dia 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos da América como um exemplo

disto:

“This sense of connection afforded by citizen during a crisis proved to be one of the bright spots on September 11, 2001. Less than 10 minutes after the first passenger jet struck the World Trade Center, eyewitness accounts began to appear on the web. People were desperate to put into words what they had seen, to share their experiences, even when they defied comprehension.”

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Todavia, é importante realçar que o jornalismo do cidadão também tem trazido muitas dúvidas

pelo facto de se questionar se podemos denominar aquilo que o cidadão faz como sendo

jornalismo. Sendo que na sua maioria, os cidadãos não teêm formação profissional jornalística,

e podemos questionar-nos como é que pessoas sem esta formação poderão ter capacidade de

redigir e estruturar uma peça noticiosa. A ética ou a falta dela é outra das questões que se

coloca aquando do debate sobre o que realmente é o jornalismo do cidadão, uma vez que o

cidadão comum não está ciente do código deontológico do jornalista e da ética subjacente à

atividade jornalística.

As redes sociais e os blogues são uma importante ferramenta nestes novos tipos de jornalismo,

que concedem uma maior importância ao cidadão comum, como refere Zizi Papacharissi (2009,

p. 29):

“Specifically, blogs, vlogs (vídeo blogs), and similar content portals provide ordinary citizens

with the oportunity to directly engage the public sphere in a manner previously absent in

representative democracies”, isto é, há cada vez mais oportunidades disponíveis para que os

cidadão possa participar na construção da realidade, que era antes uma tarefa,

maioritariamente atribuída ao jornalista.

Em termos gerais, o papel do jornalista tem vindo a ser alterado ao longo dos tempos, conforme

referido anteriormente. E o aparecimento e desenvolvimento da Internet foi o fulcral

impulsionamento para esta realidade, em que o a sociedade de informação e a globalização

foram privilegiadas. O jornalista dispõe agora de um espaço infinito para difundir a informação.

Assim, a web 2.0 foi a grande impulsionadora da crescente participação dos cidadãos, que

podem agora ter uma variedade de atitudes possíveis face ao processo informativo, como

referem Aroso & Correia (2007):

“-ter postura passiva e ficar apenas com o papel de receptor no processo de comunicação; - ser emissor, bastando, para tal, ter informação para transmitir; - ser comentador; - ser ruído no processo de comunicação bastando, para tal, falar sem ter nada para dizer – exemplo deste modo de comunicação é o denominado spam”.

A partir destas dúvidas o jornalista formado tem de saber utilizar a informação que é

disponibilizada pelos cidadãos, que funcionam, muitas das vezes, como fontes de informação.

No geral, o conceito de jornalismo do cidadão é ainda um pouco abstrato, ou talvez ainda seja

gerador de alguma controvérsia, uma vez que se esquece que o jornalismo só pode ser feito

por jornalistas e não por cidadãos comuns, em vez de designar aquilo que os cidadãos fazem

como uma participação nos jornais e não propriamente jornalismo. Os críticos da ideia de

jornalismo do cidadão, referem que apenas os jornalistas são capazes de cumprir o rigor e a

exatidão necessárias à sua profissão, assim como a ética inerente.

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Este tipo de jornalismo tem funcionado como um suplemento do jornalismo tradicional, e o

papel desempenhado pelos cidadãos é importante, porque numa altura em que se prima pela

rapidez e instantaneidade da informação, o facto dela estar à distância de um clique é uma

grande ajuda para o trabalho do jornalista, todavia ainda o podemos encarar como um conceito

um pouco abstrato. Tal como defende Frederico Correia (2008, p. 31): “Teremos de deixar a

definição de jornalismo de cidadão como algo não incógnito, mas de definição muito

abrangente, tal como todos os restantes conceitos (…), que surgiram com esta nova tecnologia

– Internet.”

É agora possível ver que estão criadas as condições para que o sistema jornalístico na Web 2.0

esteja preparado com um base bastante interativa e a ter em conta a colaboração do cidadão

comum no processo noticioso, como conjeturava Mark Deuze (2009, p. 262):

“There is no doubt that a future news system will be based, at least in part, on na interactive and connective mode of production where media makers and users will co-exist, collborate, and thus effectively compete to play a part in the mutual construction of reality”.

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3. Aspetos Deontológicos

A deontologia ligada ao jornalismo é o seu instrumento de autorregulação profissional, encarado

como um conjunto de regras e normas fixadas a uma profissão, e neste caso em particular, aos

jornalistas. O Código Deontológico dos jornalistas é, normalmente, expresso através da criação

das respetivas regras normativas e regulamentares aplicadas à profissão.

O processo de instituição dos códigos deontológicos (de cada país) à profissão do jornalista não

foi simples, uma vez que, os jornalistas não eram vistos como tendo uma profissão, isto é, no

século XIX, o jornalismo era visto como algo ligado à propaganda e aos apoios políticos como

foi referido anteriormente, e por isso mesmo, dificilmente se conseguia distinguir como sendo

uma profissão independente, para o qual se poderia criar um código deontológico.

O que fez mudar esta realidade foi a independência de que o jornalismo beneficiou ao tirar

partido do mercado da publicidade, que assim o afastou do apoio político e permitiu que se

reunissem as condições para a criação do código deontológico adequado à profissão, conforme

Carlos Camponez (2009, p. 113) defende:

“Para este processo contribuíram, de forma decisiva, a emergência do mercado da publicidade, que permite retirar as empresas jornalísticas da dependência dos financiamentos do mundo político e dos seus membros, bem como o desenvolvimento tecnológico.”

O século XX traz à sociedade um jornalismo mais autónomo e independente, e a profissão de

jornalista era agora encarada de uma forma evidente. Como também defende Nelson Traquina

(citado por Camponez, 2009, p. 115) ao referir que a crescente globalização e inerente

desenvolvimento tecnológico, assim como a maior diferenciação nos produtos jornalísticos, a

“sua crescente comercialização” e o “aumento do número de jornalistas que tiram da profissão

a sua primeira fonte de rendimentos” fizeram com que se tornasse possível olhar para o

jornalismo como uma profissão, que ao envolver a vida de tantas pessoas necessita,

certamente, de uma orientação deontológica.

O início do aparecimento dos códigos deontológicos do jornalismo acontece, essencialmente,

no século XX. E conforme os dados fornecidos por Carlos Camponez (2009, p.130) na sua Tese

de Doutoramento, a primeira diligência para a criação de um código deste género proveio de

jornalistas da região polaca da Galícia (na época sob o domínio do Império Austro-Húngaro) no

ano de 1896. Outra das organizações que também foi considerada precursora da criação de um

documento do género foi o Clube de Publicistas da Suécia, tendo o mesmo sido adotado no ano

de 1923. Também o Sindicato dos Jornalistas franceses foi inovador, em 1918, quando aprovou

o seu primeiro Código Deontológico dos jornalistas do país.

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Em Portugal o cenário foi diferente, pois os portugueses, a par do pouco desenvolvimento

tecnológico do início do século XX, estavam a partir da sua terceira década, a viver num

ambiente de autoritarismo, através da governação do Estado Novo. E, por isso mesmo, a espera

por uma sociedade mais aberta ao crescimento e desenvolvimento da profissão do jornalista

teria de ser longa, pelo menos até ao ano de 1974. A censura foi um dos pontos que mais afetou

o trabalho dos jornalistas no nosso país, os jornais não conseguiam ser totalmente

independentes, tinham sempre de passar por um género de vistoria, que impedia que muita das

matérias fossem, sequer, publicadas. E, por isso mesmo, não haviam razões nem possibilidades

de se criar um código deontológico para a profissão, contrariamente ao que ia acontecendo

noutros países da Europa.

Mas, já nos últimos anos da ditadura portuguesa existiam jornalistas consciencializados para a

necessidade da criação de um documento de autorregulação da profissão, como refere Suzana

Cavaco (2013, p. 15): “a partir de meados da década de 60, entrou nas redações gente nova,

mais escolarizada mais politizada e com uma postura de maior resistência e de menor

subserviência em relação ao poder político e económico estabelecido”, estávamos perante uma

“juventude sensível a questões deontológicas”.

Foi então no ano de 1976 que em Portugal, a questão deontológica aplicada ao jornalismo foi

tida em conta de uma maneira mais definitiva. Já com uma democracia pluralista em vigor no

país foi aprovado aquele que viria a ser o primeiro código deontológico dos jornalistas

portugueses.

Foi na segunda metade do século XX, mais propriamente, a seguir à 2ª Guerra Mundial que o

mundo em geral assistiu a uma propagação dos códigos deontológicos associados à profissão de

jornalista.

A liberdade de expressão e comunicação ganhou cada vez mais valor nas sociedades

democráticas da época e essa conjuntura criou as condições necessárias à maior intervenção

dos meios de comunicação na vida pública e à sua reorganização em empresas especializadas

em media, isto é, formaram-se grupos de comunicação que envolvem vários meios como foi já

referido anteriormente. Esta realidade também trouxe a necessidade indispensável de usar o

código deontológico dos jornalistas.

Desta forma, pode dizer-se que o código vem regular as relações que os jornalistas têm de

manter com a maio parte das instituições de uma sociedade, como defende Camponez (2009,

p. 141):

“A deontologia regula também as relações de todos quantos contactam com os jornalistas, de forma directa. Aqui assumem particular importância as relações entre os jornalistas e as fontes de informação, as instituições sociais, o Estado e as próprias empresas empregadoras.”

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Joaquim Fidalgo (2000, p. 321) foi outro dos autores que também se debruçou sobre os códigos

deontológicos dos jornalistas, ao defini-los como sendo “muito diversos no fundo e na forma”,

e que a diferença entre os vários existentes dos diferentes países começa pela sua

denominação. E o autor refere ainda, por curiosidade que:

“«Código Deontológico» é mesmo uma designação minoritária no contexto europeu, preferindo a maioria designações como «Código de Ética» ou «Princípios de Ética», «Código de Conduta», ou «Código de Princípios Jornalísticos»”

Mas, de uma forma geral todos eles tratam de regular o trabalho jornalístico no que toca às

relações que os jornalistas vão estabelecendo ao longo do seu quotidiano de trabalho, são

muitas das vezes encarados como “deveres” a que o jornalista deve obedecer. Estas normas

podem dividir-se em cinco áreas principais, como refere Camponez (2009, p. 146). Isto é, os

jornalistas ao longo da sua profissão têm “deveres para com a informação”, na medida em

que o jornalista deve escrever de maneira clara e objetiva, ser exato nas suas declarações,

tentar afastar-se da prática do sensacionalismo e distinguir a publicidade do conteúdo

jornalístico, assim como os artigos de opinião, uma vez que o jornalista deve ser imparcial, a

menos que lhe tenha sido pedida a sua opinião; “deveres para com as fontes de informação”,

pois o jornalista deve defender e proteger as suas fontes de informação e honrar os

compromissos que constrói com as mesmas; “deveres para com os outros da profissão”, neste

sentido o jornalista deve respeitar a privacidade das pessoas, a dor das mesmas, não revelar

nomes de pessoas em julgamento, assim como não identificar menores, seja através da

divulgação do nome ou de alguma fotografia e não deve igualmente identificar vítimas de

crimes; “deveres para com a própria profissão” não cedendo a pressões e defendendo sempre

a liberdade de expressão, ao mesmo tempo deve também colaborar com os colegas de profissão

sempre que possível e assumir sempre a responsabilidade pela autoria dos trabalhos realizados

por si; e “deveres para com o próprio sujeito profissional” tendo sempre em causa a sua

cláusula de consciência caso não esteja de acordo com a linha editoria ou com qualquer outra

decisão que não seja de acordo com a sua moral, honra ou consciência.

Atualmente, e com a maior utilização da web 2.0, a maneira como se faz jornalismo alterou-

se em relação àquilo que era anteriormente. É aqui que começamos a lidar com um novo

conjuntura de produção e divulgação de informação, e Cátia Mateus (2015, p. 41) foi uma das

autoras que explicou este facto:

“O novo contexto da informação aporta, no imediato, dois desafios basilares no que à deontologia concerne: a crescente complexidade de uma atividade que é cada vez mais multiplataforma e imediata e a perda de exclusividade no processo de produção da informação por parte do jornalista.”

A crescente utilização do novo meio de comunicação que é a internet veio modificar bastante

as tarefas dos jornalistas, fazendo com que apareçam, no seu dia-a-dia de trabalho novos

desafios éticos. Desafios esses ligados às normas morais normalmente associadas ao jornalismo

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como o rigor, a objetividade, a resguarda da privacidade, a possível existência de plágio, entre

outros.

O rigor e a objetividade são dois aspetos a ter em conta, na medida em que, os computadores

e a internet trouxeram a facilidade de o jornalista aceder às mais variadas fontes de

informação, como por exemplo, através do Facebook ou Twitter, e assim o contato direto com

a fonte, cara-a-cara começa a ser menor. Assim, o trabalho do jornalista continua a ser o de

verificar a informação. Algo que poderia ser mais fácil e estar à distância de um clique, pode

tornar-se num problema de rigor se a informação não for confirmada, pois atrás de um ecrã

qualquer pessoa pode passar uma informação falsa ou fazer-se passar por alguém que não é e

o jornalista tem de estar atento a todas essas possibilidades de maneria a não pôr em risco uma

das normas primordiais da deontologia jornalística11.

A resguarda da privacidade é igualmente importante com esta nova conjuntura, pois a

informação que hoje em dia está disponível é de facto desmedida e o jornalista pode sentir-se

tentado a ultrapassar a norma que diz respeito à privacidade das pessoas, principalmente às

envolvidas em algum processo judicial, menores, ou até utilizar vídeos ou fotografias de pessoas

que estão a ser humilhadas. Podemos recordar o caso em que um jovem foi filmado enquanto

estava a ser agredido por um grupo na Figueira da Foz e que o vídeo foi carregado para a

internet e mais tarde partilhado em todas as redes sociais. No entanto, os jornalistas de alguns

dos órgãos de comunicação portugueses decidiram ocultar a cara dos indivíduos em questão no

vídeo, pois é importante que acima de tudo se ressalve a privacidade dessas pessoas, conforme

refere o ponto 7 do Código Deontológico do Jornalista12, e se pode verificar através das

seguintes imagens:

11 Ponto 1 do Código Deontológico do Jornalista: O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão

e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses

atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público. 12 Ponto 7 do Código Deontológico do Jornalista: O jornalista deve salvaguardar a presunção de inocência

dos arguidos até a sentença transitar em julgado. O jornalista não deve identificar, directa ou

indirectamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve

proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.

Figura 1. Imagem veiculada pelo jornal Público

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Pode verificar-se que com a Internet o jornalista tem à sua disposição mais material para

trabalhar, mas isso não quer dizer que não tenha de manter em mente as normas que regem e

orientam a sua profissão, assim como surgem outras complexidades que não surgiriam apenas

na imprensa.

Hélder Bastos (2000, p. 96) foi outros dos autores que referiu que a introdução da internet no

quotidiano jornalístico trouxe outros desafios: “A longo prazo, jornalistas que utilizam os novos

media baseados no computador poderão vir a enfrentar mais restrições do que os seus pares da

imprensa”.

Figura 2. Imagem veiculada pelo Diário de Notícias

Figura 3. Imagem veiculada pelo Correio da Manhã

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O plágio é assim outro dos problemas que podem surgir com a utilização da internet no

ambiente jornalístico, pois neste ambiente aumentam os números de produtores de

informação, sejam eles formados ou não, e nesse sentido, o jornalista tem muito mais

informação disponível num curto espaço de tempo, mas convém salientar que esse facto não

pode permitir que exista cópia desses conteúdos. Claro que os jornalistas podem utilizar

informação que encontrem no ciberespaço, mas sempre tendo em atenção quem são os autores

e fazendo-lhes sempre referência. Que é outro dos aspetos também referidos por Hélder Bastos

(2000, p. 99):

“Citando indirectamente informação encontrada online utilizando apenas factos, o jornalista não incorre na violação dos direitos autorais, mas pode ser acusado de apropriação indevida, que é a expressão jurídica da noção segundo o qual não deve ser permitida a competição desleal pela utilização de trabalhos de terceiros.”

Todas estas situações fazem levantar uma questão importante, pelo menos no cenário

português. Será que se deveria proceder a uma alteração do Código Deontológico do Jornalista

português, atualizado a ultima vez a 4 de Maio de 1993?

Todas estas novas situações previstas com o aparecimento e crescente utilização da internet

nas redações, com o surgimento de novos media que apenas se encontram em plataformas

online, é necessário que se encontre um meio termo e que se consiga dentro de um mesmo

código estabelecer normas que se apliquem tanto à rádio, imprensa e televisão como a Internet,

agora considerada um novo meio de comunicação e completamente banalizado na comunicação

social. Com a maioria dos grupos de comunicação já a deterem canais de televisão, imprensa,

rádio e sítios na internet, assim como a expansão das redes sociais torna-se necessário construir

um Código Deontológico que abranja esta nova vertente, algo que ainda não acontece em

Portugal, como defende Cátia Mateus (2015, p. 42):

“Ao contrário do que sucede noutros países que, face às renovadas exigência e desafios que os novos media e as redes sociais online estão a impactar na profissão, definiram já Códigos de Conduta ou Recomendações para a atuação dos seus profissionais, em Portugal, não se conhecem orientações específicas para o posicionamento dos jornalistas nestas plataformas, com exceção da proposta apresentada por José Alberto Carvalho (…)”

Foi no ano de 2009 que o jornalista, então pertencente à RTP, decidiu estruturar um conjunto

de normas13 que tinham como objetivo orientar os jornalistas da estação a orientar-se perante

esta nova conjuntura, mais virada para a massificação da utilização das redes sociais como o

Twitter ou o Facebook.

Contudo, e apesar da existência destas normas, da parte do Conselho Deontológico do Sindicato

do Jornalistas Portugueses não existe indicação de alguma alteração (para já) ao Código

Deontológico do Jornalista. Desta maneira, proponho algumas adendas às normas já existentes,

atualizadas pela última vez em Maio de 1993. E, são vários os países Europeus e não só que já

13 Anexo I: conjunto de normas criadas pelo jornalista José Alberto Carvalho para os jornalistas da RTP

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procederam a atualizações das suas normas, após a introdução da utilização da Internet no

mundo do jornalismo. Canadá, Holanda e Noruega foram alguns dos países que já viram os seus

códigos alterados perante este novo meio que é a internet.

Dos mais de dezanove códigos de ética14 analisados por toda a Europa, Holanda e Noruega foram

os que mostraram estar mais atualizados em relação à utilização das novas tecnologias no

jornalismo. Por outro lado, dos vinte e quatro códigos analisados pelos restantes quatro

continentes: em África (seis códigos) ; na América (seis códigos); na Ásia (doze códigos) e

apenas um na Oceânia, apenas o do Canadá demonstra estar melhor capacitado e orientado

para enfrentar os desafios que surgem com a internet. E é com base nas orientações destas

normas que fundamento as alterações necessárias ao Código Deontológico do Jornalista

português.

De uma maneira geral, e em termos de construção, os primeiros e únicos dez pontos existentes

no nosso Código Deontológico deixaria de igual maneira e a adenda seria acrescentada logo a

seguir com a denominação: A informação nos meios de comunicação digitais.

1. A necessidade de velocidade informativa não pode comprometer a credibilidade e a

precisão da informação difundida. E os conteúdos em plataformas online devem ser

preparados cuidadosamente, escritos e editados exatamente como acontece com os

conteúdos da imprensa e, sempre que possível, submetidos a edição completa.

Este ponto refere algo que já foi aprofundado aqui, a velocidade informativa que é

inevitável com a introdução das novas tecnologias; e para além desse facto, o rigor,

exatidão e objetividade devem sempre ser tidas em conta, seja em que circunstância for.

2. Sempre que o jornalista publicar links externos, deve antes certificar-se que os mesmos

são confiáveis e fidedignos. O jornalista deve estar sempre ciente de que a utilização

de links podem levá-lo a outros veículos eletrónicos que podem não estar em

conformidade com o Código Deontológico. Desta forma, deve certificar-se de que os

links ou publicações de outros veículos estejam claramente assinalados.

Este é um dos problemas que pode surgir com o jornais/revistas online que têm essa

possibilidade de incluir links (ligações entre documentos na internet), contudo essa

possibilidade pode trazer dúvidas, pois nem todos os links são confiáveis e por isso mesmo é

necessário que o jornalista verifique convenientemente os mesmos.

3. Sempre que o jornalista corrigir erros na versão online, deve indicar em nota de rodapé

a alteração ou atualização do conteúdo em causa, bem como o erro original.´

14 Objethos – Observatório da Ética Jornalística. Disponível em: https://objethos.wordpress.com/codigos/

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É importante que nesta situação, o jornalista que vir a sua notícia retificada o mencione, pois

era o que acontecia antes de existir a internet ou os jornais/revistas online, o jornalista de

imprensa teria de retificar e fazer menção dessa correção na próxima publicação. Mas com a

instantaneidade adjacente a este novo meio, o jornalista deve apenas corrigir o seu erro o mais

rápido possível e mencionar essa edição numa nota de rodapé, por exemplo.

4. O jornalista deve tentar obter sempre permissão para usar fotos e/ou vídeos e respeitar

os direitos de autor, nomeando o autor e indicando onde a foto ou vídeo utilizado foi

publicado anteriormente.

Tal como deveria acontecer em todos os meios de comunicação, o jornalista deve sempre

identificar os autores de fotos, vídeos ou texto que encontre na internet e pretenda utilizar nas

suas peças, de maneira a evitar que exista plágio. Mas isto acaba por ser uma norma mais

indicada para as imagens, sejam e movimento ou não, que podem ser mais facilmente

encontradas e utilizadas na web.

5. A utilização das redes sociais deve ser ponderada, pois serve para fazer ligações com

muitas fontes de informação, contudo toda a informação recolhida através desta nova

ferramenta deve, igualmente, ser confirmada e verificada tal como se fosse recolhida

através de outro meio. A utilização do email e das redes sociais deve ser encarada com

uma atividade pública, por parte do jornalista, uma vez que a atividade nessas

plataformas pode afetar a credibilidade do jornalista.

Este é um dos pontos que pode indicar alguma confusão, pois o jornalista tem o dever de

informar imparcialmente, e ao utilizar uma rede social, por exemplo, vai sempre demonstrar-

se como figura pública, mesmo que assim não queira. É difícil dissociar o papel de jornalista da

pessoa em si, e por isso mesmo o jornalista deve manter.se cordial nessas plataformas e tentar

encarar essa utilização como algo público.

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II PARTE – ESTUDO EMPÍRICO

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4. Metodologia e Procedimentos

4.1. Problema de investigação

O ponto de partida desta investigação prende-se com a, cada vez maior, utilização por parte

dos jornalistas da internet em geral, e das redes sociais em particular. Desta maneira é

necessário perceber se existem alterações, por exemplo, na utilização das suas fontes de

informação. E para chegar a uma conclusão, o estudo tomou como ponto de partida quatro

questões gerais sobre o assunto. Será que o aparecimento das redes sociais e a utilização destas

como possíveis fontes de informação, fará com que os jornalistas continuem a privilegiar as

fontes com quem sentem maior proximidade (as suas fontes de rotina), ou se por outro lado,

existe uma transformação na utilização de fontes? Por outro lado, mudará o comportamento e

a opinião dos jornalistas quanto ao aparecimento de possíveis novas fontes de informação? De

que maneira é que encaram a utilização destas novas ferramentas no seu quotidiano

jornalístico? Outras das questões prende-se com a credibilidade, ou seja, qual será a

credibilidade que os jornalistas conferem às redes sociais como fontes de informação? E, por

fim, resta perceber se a utilização destas novas plataformas farão com que haja uma maior

diversidade no universo do jornalismo, ou se, por outro lado, continuarão a utilizar as fontes

de informação de rotina e optar pela segurança da proximidade.

A reconversão tecnológica trouxe alterações ao panorama jornalístico, e parte-se para a fase

do estudo empírico em que a investigação vai centrar-se na comparação entre duas regiões do

país - a Beira Interior e a Zona Oeste – cujos jornalistas vão responder a uma entrevista

relacionada com as mudanças trazidas pela introdução da internet, e mais especificamente, a

utilização das redes sociais nas redações como possíveis fontes de informação e a sua

credibilidade.

De uma modo geral, o comportamento do jornalista perante a utilização destas novas

ferramentas é, essencialmente, o tema desenvolvido ao longo desta investigação. É necessário

esclarecer que tipos de fontes de informação são mais utilizadas pelos jornalistas de cada região

e perceber qual a rotina jornalística de cada um no que toca à utilização da internet, e mais

detalhadamente, das redes sociais.

Ao longo da investigação, quando se refere redes sociais fala-se essencialmente do Facebook,

do Twitter e dos mais variados blogues. Faz parte também do objeto da presente pesquisa

indagar quais as vantagens e desvantagens adjacentes à utilização destas plataformas e

também perceber de que forma e para quê são utilizadas durante o processo jornalístico em

jornais locais: seja para procurar apenas informação, para confirmar informações, para apenas

estabelecer contactos com fontes ou, por fim, explorar possíveis temas para peças noticiosas.

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De um modo geral, está em causa, apurar qual a credibilidade associadas à utilização deste

novo meio de comunicação, a internet, e se traz uma maior diversidade ao jornalismo.

Para findar a investigação foram determinadas as seguintes hipóteses de trabalho:

H1: Com o aparecimento das redes sociais e a utilização destas como possíveis fontes de

informação, os jornalistas continuam a privilegiar as fontes com que sentem uma maior

proximidade (as fontes de rotina) e não existe uma transformação na utilização de fontes.

H2: O aparecimento deste novo tipo de fontes de informação altera o comportamento dos

jornalistas no seu quotidiano jornalístico.

H3: O nível de credibilidade conferido pelos jornalistas às redes sociais como fontes de

informação é menor do que o nível de credibilidade conferido às suas fontes de rotina.

H4: As possíveis novas fontes de informação trazem uma maior diversidade ao universo

jornalístico.

4.2. Metodologia

Para efetuar a execução da investigação foi necessário delinear a metodologia de investigação,

que se debruçou, essencialmente, na distinção entre duas regiões do país, Beira Interior e Zona

Oeste para conseguir, através de entrevistas, obter informações sobre como os jornalistas de

cada região lidaram com a introdução das novas tecnologias, ou, para ser mais exata, de que

forma as redes sociais são por eles encaradas como possíveis fontes de informação.

Com um conjunto de onze questões de resposta aberta e uma questão de resposta fechada, as

entrevistas foram realizadas a alguns membros dos jornais de cada região. Na Beira Interior, as

entrevistas foram realizadas a jornalistas do Jornal do Fundão, do Notícias da Covilhã, Fórum

Covilhã, Jornal de Belmonte, e o Reconquista da cidade de Castelo Branco. Por outro lado, na

zona oeste as entrevistas foram realizadas a jornalistas da Gazeta das Caldas, do Jornal das

Caldas e o Região de Cister da cidade de Alcobaça. Ao todo, entrevistámos 11 jornalistas: 6 na

Beira Interior e 5 na zona Oeste. As entrevistas foram realizadas entre a data 24 de Junho e 6

de Agosto de 2015. Em dois casos a entrevista foi feita presencialmente e as respostas foram

gravadas; em nove casos a entrevista foi feita por escrito através do correio eletrónico.

No seu conjunto, as questões propostas tencionam averiguar qual a ligação dos jornalistas com

as suas fontes de informação, que numa região se tornam fontes de informação de rotina e

proximidade. Nesse sentido, pretende-se entender, através deste estudo, se na hora de

escolher as fontes de informação, e perante a existência das redes sociais, o jornalista continua

a agir da mesma maneira, ou se pelo contrário, tenta diversificar as fontes de informação que

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tem disponíveis para as suas peças jornalísticas. Foi também solicitado que, no caso de maior

utilização das redes sociais na sua rotina jornalística, os jornalistas conseguissem dar um

exemplo de uma notícia que tenham feito recorrendo às redes sociais, seja para procurar

informação, confirmar informação, fazer contatos ou até explorar temas.

As entrevistas aos jornalistas incidiram essencialmente nestas questões concretas:

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade? E porquê?

(Em comparação a outras)

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção jornalística?

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para chegar

às fontes? Porquê?

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-lhe

permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas peças? Se sim, pode dar um exemplo

de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Usa as redes sociais para: (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c) fazer

contactos, (d) explorar temas. (Ordenar por grau de importância, de 1/ mais

importante a 4/ menos importante).

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às fontes

de informação? Como e porquê? (Se não, porque privilegia as fontes de rotina?)

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

Das seguintes redes sociais (facebook, twitter, blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às redes

sociais como fontes de informação?

A análise às respostas pertencem a uma análise qualitativa da informação, processo descritivo

que pretende perceber a relação entre o sujeito e o mundo, e estas questões foram efetuadas

período convencionado e já referido, para entrar em contacto com os diversos jornalistas de

cada jornal regional, através de email e também pessoalmente. Todavia, após a tentativa de

contato houve pouca adesão dos jornalistas da região Oeste, mesmo tendo sido enviado novos

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emails a solicitar a colaboração em diversas ocasiões e, desta maneira, foram analisados apenas

três meios de comunicação desta região.

Para analisar as fontes de informação descritas pelos jornalistas nas respostas às entrevistas,

teremos como base a tipologia realizada por Manuel Pinto (2000, p. 279):

Segundo a natureza

o Fontes pessoais

o Fontes documentais

Segundo a origem

o Fontes públicas (oficiais)

o Fontes privadas

Segundo a duração

o Fontes episódicas

o Fontes permanentes

Segundo o âmbito geográfico

o Fontes locais

o Fontes nacionais

o Fontes internacionais

Segundo o grau de envolvimento nos factos

o Fontes oculares/primárias

o Fontes indiretas/secundárias

Segundo a atitude face ao jornalista

o Fontes ativas

o Fontes passivas

Segundo a identificação

o Fontes assumidas/explicitadas

o Fontes anónimas/confidenciais

Segundo a estratégia de atuação

o Fontes proativas

o Fontes defensivas

4.3. Amostra e Procedimentos

Na Beira Interior procedeu-se a entrevistas a jornalistas de vários títulos impressos15:

Jornal do Fundão: Fundado no ano de 1946 por António Paulouro, pertence atualmente

à Global Media Group, um dos maiores grupos de media portugueses, que inclui outros

15 Respostas às entrevistas disponíveis no CD.

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títulos como o jornal Diário de Notícias, Jornal de Notícias, o Jogo e a TSF. Com uma

periodicidade semanal e uma tiragem média de 12.000 exemplares. Tem também uma

edição online, disponível em http://www.jornaldofundao.pt e também através da sua

página de Facebook em https://www.facebook.com/pages/Jornal-Do-

Fund%C3%A3o/122193041237955?fref=ts

Notícias da Covilhã: Fundado no ano de 1913, intitulado o mais antigo semanário do

distrito de Castelo Branco. É da propriedade da Diocese da Guarda e é um jornal de

“inspiração cristã”. Tem uma periodicidade semanal e uma tiragem média de 5.000

exemplares. Tem igualmente uma edição online, disponível em

http://www.noticiasdacovilha.pt e também através da sua página de Facebook em

https://www.facebook.com/pages/Not%C3%ADcias-da-

Covilh%C3%A3/107534245992881?fref=ts

Fórum Covilhã: Fundado em 2013 por ex-alunos da Universidade da Beira Interior é um

título recente comparativamente aos anteriores. Tem uma periodicidade semanal e

tem também disponível uma versão online em http://forumcovilha.pt/ e através da

sua página de Facebook em https://www.facebook.com/JornalForumCovilha?fref=ts

Jornal de Belmonte: Fundado no ano de 2015 em conjunto pela Associação Desportiva

de Belmonte e estudantes da Universidade da Beira Interior. Tem uma periodicidade

mensal e está disponível online em http://jornaldebelmonte.pt e também na página

do Facebook em https://www.facebook.com/jornaldebelmonte.pt?fref=ts

Reconquista: Fundado a 13 de Maio de 1945 é um título propriedade da Paróquia de S.

Miguel da Sé de Castelo Branco. Tem uma periodicidade semanal e uma tiragem média

de 13.000 exemplares. Tem uma edição online e está disponível em

http://www.reconquista.pt/ e também através da sua página no Facebook em

https://www.facebook.com/reconquistajornal?fref=ts

Na região Oeste do país procedeu-se a entrevistas a jornalistas de vários títulos impressos:

Gazeta das Caldas: Fundado no ano de 1925 é um título que pertence à Cooperativa

Editorial Caldense. Tem uma periodicidade semanal e uma tiragem média de 10.000

exemplares. Tem uma edição online e está disponível em

http://www.gazetacaldas.com/ e também através da sua página do Facebook em

https://www.facebook.com/gazetacaldas?fref=ts

Jornal das Caldas: É um título com periodicidade semanal e propriedade da SOCAPITAL,

Lda. A sua tiragem média semanal é de 5.500 exemplares. Está igualmente disponível

online em https://www.facebook.com/jornaldascaldas?fref=ts e também disponível

através de página do Facebook em https://www.facebook.com/jornaldascaldas?fref=ts

Região de Cister: Fundado no ano de 1993 e cujo proprietário atual é a Banda de

Alcobaça, este é um título com periodicidade semanal com uma tiragem média de 3.000

exemplares. Está disponível numa plataforma online em

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http://www.regiaodecister.pt/pt e também página de Facebook disponível em

https://www.facebook.com/regiaodecister.pt?fref=ts

5. Resultados

5.1. Utilização e credibilidade das fontes de informação

As entrevistas realizadas têm o objetivo de tentar perceber e comparar dados entre o

comportamento dos jornalistas em relação às fontes de informação na Beira Interior e na Zona

Oeste. Atualmente, existe a ideia geral de que os jornalistas estão cada vez mais familiarizados

com as novas tecnologias e, nomeadamente com as redes sociais, pretendendo o estudo das

entrevistas analisar se esse facto é apenas teórico ou se o seu uso na recolha de informação

é uma prática real nas redações destas duas regiões, tendo a investigação apontado para a

primeira possibilidade.

De acordo com a tipologia de fontes apresentada anteriormente e após a análise às entrevistas

pode perceber-se que atualmente, e de uma maneira geral, continua a verificar-se uma grande

tendência para o uso, por parte dos jornalistas, das fontes de informação, que segundo a sua

origem são fontes públicas (oficiais), quer seja na zona da Beira Interior quer no Oeste. Este

tipo de fontes são maioritariamente representadas por autarquias, empresas, associações

comerciais ou industriais. São estas as fontes que continuam a ser mais privilegiadas pelos

jornalistas, que afirmam igualmente que os contactos pessoais, a sua agenda, ou seja as fontes

de informação pessoais e privadas, que costumam ser contactadas através do telefone ou do

correio eletrónico, também continuam a ser uma das fontes de informação mais utilizadas na

sua rotina jornalística.

Na Beira Interior são focados estes tipos de fontes de informação, assim como as fontes

documentais. Em relação às fontes de informação pessoais e privadas também foram

mencionadas por estes jornalistas como sendo aquelas que normalmente contactam através do

correio eletrónico ou telefone, podendo também existir um encontro presencial, cara-a-cara.

Mais uma vez, entra em jogo a agenda dos jornalistas, que estão habituados a utilizar as fontes

de informação com quem já mantêm um contacto e estabeleceram uma relação mais próxima.

Isto é, estas são as fontes de informação, que segundo o seu âmbito geográfico costumam ser

locais. Em termos regionais, compreende-se, de facto, que estas continuem a ser as fontes

privilegiadas, pois são aquelas que trazem maior segurança ao jornalista, muito por causa da

relação de confiança que se mantém com estas fontes, assim como a reputação das fontes

públicas que através de conferências de imprensa e da utilização do press release conseguem

captar facilmente a atenção dos jornalistas.

Na zona Oeste, os jornalistas continuam igualmente focados neste tipo de fontes de informação,

fontes que sejam, ao mesmo tempo, pessoais, privadas, locais com que se mantenha um

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contacto cara-a-cara e também oculares, ou seja, fontes de informação que, por vezes,

conseguem estar mais perto da origem da informação do que o próprio jornalista.

Contudo, e apesar da preferência demonstrada, nas duas zonas é já visível a abertura em

relação à internet, e mais propriamente, às redes sociais, pois referem que as páginas oficiais

das instituições ou as páginas das mesmas nas redes sociais servem também já como um meio

para chegar à informação pretendida, mas sempre ressalvando que nesse caso as informações

recolhidas devem na mesma ser confirmadas.

A credibilidade é outra das questões que se põe quando se refere a maior utilização da internet

e das redes sociais. E é neste sentido que se continua a dar maior credibilidade às fontes

públicas (oficiais) do que a outras como, por exemplo, às redes sociais. Mas apesar disso, alguns

jornalistas ressalvam que essa é uma ideia que parece estar instituída pelo senso comum,

todavia há sempre que ter em atenção a confirmação da informação. Pois como refere um dos

jornalistas entrevistados na Beira Interior, existem fontes oficiais que podem passar a

informação incompleta ou manipulada, para seu benefício próprio, algo que também foi

referido ao longo do enquadramento teórico.

De uma maneira geral, a credibilidade das redes sociais ainda é vista pelos jornalistas de ambas

as regiões como sendo o seu ponto mais fraco. Apesar de as encararem como sendo “mais um

campo aberto para a exploração do trabalho jornalístico”, como refere um jornalista do Jornal

do Fundão (Beira Interior), as informações veiculadas por estes meios não têm um grande nível

de credibilidade. Contudo, como defende um jornalista do Notícias da Covilhã (Beira Interior):

“a credibilidade não é maior ou menor, a informação está sempre sujeita a confirmação como

qualquer outra”. Um jornalista do Reconquista (Beira Interior) afirmou que a credibilidade é

maior quando “associada a páginas oficiais de instituições, entidades ou personalidades, cuja

atualização é frequente ou está diretamente ligada à página oficial da internet”, que vai de

encontro aquilo que um dos jornalistas da Região de Cister (Zona Oeste) defende que a

“credibilidade depende sempre do utilizador, pois se for uma página oficial, a credibilidade

aumenta, mas se for um utilizador que não tenha qualquer ligação à notícia que partilha, a

credibilidade tende a diminuir e aí a informação partilhada pode ser um meio de chegar às

fontes, averiguando a informação”.

Assim sendo, as fontes de informação institucionais são as mais utilizadas em ambas as zonas

do país como também continuam a ser consideradas as mais confiáveis, pois havendo um

contacto direto com as mesmas é mais fácil confirmar a veracidade das informações

transmitidas.

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5.2. Introdução e utilização das redes sociais na rotina

jornalística

A introdução das redes sociais na rotina jornalística fez-se de uma maneira natural, mas

essencialmente progressiva segundo os entrevistados tanto da Beira Interior como da Zona

Oeste.

De uma maneira geral, a introdução das redes sociais na rotina jornalística fez-se de duas

maneiras: de um lado para promover o próprio órgão de comunicação social, através da criação

e consequente divulgação de páginas no Facebook, que todos os órgãos incluídos no estudo

apresentam. E a existência dessa página é muito associada à promoção, como refere um

jornalista do Jornal do Fundão (Beira Interior) esta ferramenta permite que exista mais uma

forma do jornal chegar mais longe, apesar de ser um jornal regional consegue chegar até aos

emigrantes portugueses por exemplo. E mais facilmente consegue também chegar ao resto do

país, algo que antes da introdução das redes sociais era mais complicado de acontecer.

Por outro lado, o aparecimento das redes sociais no meio jornalístico também fez com que os

jornalistas de cada órgão pudessem receber um maior e mais imediato feedback em relação ao

seu trabalho, muito pelo facto do Facebook permitir uma instantaneidade de comentários,

partilhas e gostos. Dessa maneira, é mais fácil para os jornalistas do órgão perceber qual o

desempenho do jornal e o que mais interessa ler ou saber mais sobre.

Enquanto que na Beira Interior há uma maior preocupação em não ceder completamente às

redes sociais, na Zona Oeste a situação é encarada com normalidade e sem preocupações de

maior, isto é, os jornalistas da zona Oeste mencionam que é completamente normal que os

jornalistas tenham de se adaptar a esta nova realidade e que uma análise diária de várias

páginas de Facebook se torne uma rotina nas redações regionais. Como foi referido

anteriormente, as redes sociais são encaradas pelos jornalistas regionais como mais uma

ferramenta de trabalho, mas não a mais essencial, pois o que continua a ser imprescindível é o

trabalho jornalístico de confirmação da informação. “As redes sociais são mais uma janela para

olhar para o que nos rodeia, não mais importante do que as outras”, frase proferida por um

jornalista do Notícias da Covilhã (Beira Interior) que demonstra bem como é que estes

jornalistas estão a encarar a introdução das redes sociais no seu dia-a-dia de trabalho.

Por outro lado, na Zona Oeste, um jornalista da Região de Cister relatou que “com o reforço

da aposta do site do jornal há uma rotina muito mais rigorosa e trabalhosa nas redes sociais, e

sabemos que 80% do nosso tráfego provém das redes sociais.” Assim sendo, pode entender-se

que a migração dos jornais para o online, algo que também aconteceu com os jornais regionais,

fez com que, automaticamente, estes tivessem de também entrar no mundo das redes sociais,

como se fossem um complemento para o site. As notícias escritas no online são partilhadas na

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página de Facebook do próprio jornal através de uma hiperligação e é a partir daí que as pessoas

acedem mais às notícias. Portanto, as redes sociais são um importante utensílio para que as

pessoas cheguem aos sites dos jornais que querem ler.

De uma maneira geral esta introdução decorre de “forma natural e progressiva, à medida que

as pessoas fora e dentro do jornal começaram a relacionar-se através do Facebook, abrindo

páginas pessoais ou de organização”, como foi declarado pela redação do Reconquista (Beira

Interior).

Quanto à utilização destas redes sociais esta acontece diariamente pelos jornalistas tanto da

Beira Interior como da Zona Oeste, apesar de nesta zona ainda haver um jornalista que refere

que utiliza muito pouco. Mas na análise geral a utilização das redes sociais é diária, seja para

procurar informação, estabelecer contatos ou para divulgar conteúdos noticiosos.

O Facebook, por exemplo, é tido pelos jornalistas entrevistados como uma ferramenta mais

rápida para chegar ao contacto dos possíveis entrevistados. “Agiliza a marcação de trabalhos”

refere um jornalista do Notícias da Covilhã (Beira Interior). Mas, também são utilizadas para

verificar que informação é transmitida nas mais variadas páginas e se alguma dela é passível

de ser analisada e também confirmada e trabalhada pelo jornalista, como refere um jornalista

do Fórum Covilhã (Beira Interior): “utilizamos as redes sociais diariamente para verificarmos a

informação que nela é veiculada, para que depois possamos comprovar a sua veracidade para

depois ser transmitida na edição impressa do periódico”.

Tal como um dos jornalistas da Zona Oeste refere, por parte do Região de Cister: “Utilizo para

recolha de informação, contactos diretos com fontes e divulgação do nosso trabalho”.

Na Beira Interior há um jornal que utiliza as redes sociais de outra forma mais veemente, é o

caso do Jornal de Belmonte, por ainda não ter um espaço físico que sirva de redação, os

jornalistas deste órgão de comunicação utilizam as redes sociais como uma forma de

comunicarem entre si e conseguirem fazer o seu trabalho à distância. Para este jornal, a

utilização das redes sociais como uma ferramenta de trabalho é essencial, como refere um dos

seus jornalistas: “as redes sociais servem para uma gestão da redação, distribuição de notícias,

orientação na redação das mesmas, relatórios de entrega de notícias são alguns pontos com os

quais usamos as redes sociais”. Por se tratar de um jornal recente, criado no ano de 2015, é

compreensível que este seja um órgão de comunicação social com maior tendência para a

utilização das noas tecnologias e, neste caso em concreto, das redes sociais, uma vez que é

algo que está bastante globalizado e intrínseco na sociedade.

Em todos os jornais, sem exceção, as fontes de informação provenientes das redes sociais foram

encaradas com sendo, principalmente, um meio para chegar à informação, e não uma fonte em

si. Apesar de não retirarem essa hipóteses por completo, admitem que as encaram mais como

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um meio para chegar ao contacto com alguém, mas que, posteriormente, esse contacto é

efetuado, a maioria das vezes e preferencialmente, cara-a-cara. Um jornalista do Jornal de

Belmonte (Beira Interior) resume aquilo que os jornalistas das duas regiões sentem quanto a

esta situação: “É um misto das duas. São fontes de informação porque podem chegar primeiro

a um acontecimento do que nós e anunciaram algo em primeira mão que poderemos ter que

noticiar, ou não. Mas são também meios para se chegar às fontes, na medida em que, com o

que é apresentado nas redes sociais, pode ser feito um trabalho de pesquisa mais abrangente

para se chegar a mais resultados”.

5.3. Alterações provenientes da introdução das redes sociais nas

redações

A introdução das redes sociais nas redações trouxe aos jornalistas um maior número de

vantagens do que de desvantagens como podemos verificar com a análise das entrevistas. As

vantagens mais referidas quanto a este cenário são a promoção e divulgação do próprio órgão

de comunicação social, como foi mencionado pelos jornalistas de ambas as regiões do país. A

maior facilidade de entrar em contacto com possíveis fontes de informação é tida pelos

jornalistas como uma das vantagens mais proeminentes, uma vez que, a rapidez com que se

estabelece uma ligação com alguém é essencial para os jornalistas, e as redes sociais têm esse

benefício, principalmente o Facebook. Para além disso, as próprias redes sociais e o seu

desempenho, com páginas repletas de informação dada pelas mais variadas fontes podem

também tornar-se numa possível fonte de informação, mas sempre tendo em conta a pouca

credibilidade que pode ter, e que por isso mesmo, a informação encontrada nestas plataformas

deve mesmo ser verificada e confirmada pelo jornalista. E esta situação de pouca credibilidade

é encarada pelos jornalistas, tanto da Beira Interior como da Zona Oeste, como uma possível

desvantagem. Outra possível desvantagem mencionado por dois jornalistas, um do Notícias da

Covilhã e outro do Reconquista é o comodismo que a utilização das redes sociais nas redações

pode trazer ao jornalismo, isto é, a utilização desta plataforma pode levar a que o jornalista

se acomode ao facto de poder receber um grande número de informação com apenas um

simples trabalho de pesquisa, ou mesmo sem qualquer trabalho.

Todavia, estas podem sempre ser uma base, um começo para a realização ou construção de

uma peça jornalística, tendo sempre em conta a confirmação essencial da informação. Um dos

jornalistas do Reconquista (Beira Interior) indicou que o facto de as redes sociais serem

gratuitas é outra das suas vantagens, e para além disso, os jornalistas conseguem agora uma

maior rapidez no acesso a documentos e fotografias, por exemplo. Por outro lado, um jornalista

do Região de Cister (Zona Oeste) refere também os baixos custos associados a estas plataformas

e também a maior interação com os leitores, com a possibilidade de numa página de Facebook

de um órgão de comunicação se poder ter acesso a dados estatísticos referentes a todos este

processo, algo que anteriormente levaria muito mais tempo a concluir. Portanto, a

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desvantagem mais referida pelos jornalistas de ambas as regiões é a pouca credibilidade e rigor

da informação disponível nas redes sociais, mas para isso é o jornalista que tem de trabalhar,

como refere um jornalista do Notícias da Covilhã (Beira Interior): “As redes sociais devem ser

utilizadas com a consciência de que os caminhos tradicionais têm de continuar a ser

percorridos, a informação tem de ser confirmada, não podemos ficar apenas por uma única

fonte”.

Em relação à utilização mais diversificada de fontes de informação, através das entrevistas,

conseguiu apurar-se que as redes sociais foram, sem dúvida, uma ajuda para a diferente forma

como se contactam as fontes, e um pouco menos em relação à diversificação das mesmas, como

já foi referido. Há alguma diversificação, mas ainda não é significativa.

De todos os jornais, sejam de uma zona ou outra, apenas um, o Fórum Covilhã, referiu não

sentir que tivesse havido uma grande alteração quanto à utilização de fontes de informação ao

longo deste processo, muito devido ao facto de ter iniciado a sua atividade já em plena era das

redes sociais.

De certa forma, pode dizer-se que não ocorreu uma significativa diversificação de fontes de

informação, mas sim uma mudança considerável na maneira como os jornalistas contactam as

suas fontes. Isto é, se antes era utilizado, principalmente o telefone, e depois o correio

eletrónico, agora, as redes sociais trouxeram uma realidade completamente diferente, e

permitem aos jornalistas contactar com as suas fontes através destas plataformas, e até

recolher informação através das mesmas. Alguns jornalistas da Zona Oeste referiram exemplos

concretos da diversificação existente no contacto com as fontes de informação através da

utilização das redes sociais.

No Jornal das Caldas, um dos jornalistas indicou que já existem, por exemplo, corporações de

bombeiros que colocam na sua página de Facebook, o rol diário das suas atividades, e o que os

jornalistas fazem é “efetuar um rastreio, escolher as que interessam noticiar e depois contactar

com a corporação caso sejam necessários mais pormenores”. Neste caso em particular, não

existe diversidade de fonte de informação, pois a página oficial das corporações de bombeiros

são encardas como fontes de informação públicas (oficiais), só muda o facto de serem

contactadas de outra maneira, o que pode trazer diversidade ao meio jornalístico, na medida

em que, esta nova plataforma pode trazer maior rapidez no contacto entre jornalista e fonte.

Por outro lado, um jornalista do Região de Cister mencionou que neste órgão de comunicação,

todas as semanas são publicadas listas com os melhores marcadores das equipas de futebol,

hóquei e futsal dos concelhos de Alcobaça e Nazaré, e que antes da introdução das redes sociais

nas redações, o contacto era realizado telefonicamente, contudo, agora fazem todo este

processo de recolher esta informação através das redes sociais, mais propriamente do

Facebook.

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Essencialmente, a mudança está relacionada com a forma como se contactam as fontes, pois a

informação recolhida e analisada acaba por ser a mesma, que seria transmitida através do

telefone, do correio eletrónico ou até pessoalmente.

Na Beira Interior, o caso do Jornal de Belmonte mostra-se diferente dos anteriores, e apresenta

uma diversidade de fontes de informação que surge com a utilização das redes sociais. Pois,

um dos seus jornalistas indicou que existem agora no Facebook vários grupos de partilha de

acidentes e incêndios florestais, que podem ser considerados como novas fontes de informação,

sendo que as podemos denominar de, por exemplo, fontes colectivas, isto é, é através das redes

sociais que um conjunto de pessoas compõe um grupo destinado a produzir e partilhar

informação a que o jornalista pode ter acesso

O jornalista revelou já ter acontecido que nesses mesmos grupos costumam surgir as mais

variadas informações sobre um incêndio, por exemplo e são partilhadas fotografias, vídeos ou

apenas relatos do acontecimento. Este é um dos exemplos de que o Facebook pode começar a

levar à diversificação de fontes de informação.

Por outro lado, na mesma notícia, o jornalista acaba por recorrer a uma fonte de rotina, uma

fonte de informação pública (oficial), ao entrar na página do Facebook da Autoridade Nacional

da Proteção Civil, isto é, mais uma vez é o caso da diversidade de contacto, o jornalista está a

utilizar a mesma fonte de informação mas contacta-a e obtém a informação de maneira

diferente (sem ser pelo telefone ou pelo correio eletrónico ou até pessoalmente).

Na página do Facebook desta fonte de informação oficial, o jornalista revela que pôde recolher

informações (localização, número de meios utilizados, hora do início, etc.) para poder fazer

uma peça jornalística, que ao ter sido noticiada em primeira mão por eles, fez com que o

movimento na sua página web e na página do Facebook tivesse disparado.

Outro dos aspetos a focar é o da possível alteração que as redes sociais tenham trazido aos

jornalistas regionais no que toca às suas fontes de informação e a rotina com as mesmas, isto

é, será que o aparecimento destas plataformas fez com que os jornalistas mudassem por

completo o tipo de fontes que costumavam utilizar?

Para os jornalistas da região da Beira Interior, a rotina quanto às fontes de informação manteve-

se, pois as redes sociais são vistas como apenas mais uma ferramenta de trabalho, mais uma

janela para a informação, mas o facto de apresentarem pouca credibilidade faz com que os

jornalistas continuem a optar pelas fontes de informação com quem mantém uma maior ligação

de confiança, principalmente a nível regional, em que esse processo é mais facilitado seja

através do contacto pessoal, cara-a-cara, através do telefone, ou agora mais em voga, através

das redes sociais. Como referiu um jornalista do Reconquista: “A rotina manteve-se, mas

passamos a ter mais um meio para fazer o nosso trabalho jornalístico”.

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Para os jornalistas da região Oeste a rotina de trabalho é um pouco alterada, pois as redes

sociais são incluídas na pesquisa de informação e no estabelecimento de contactos, mas a rotina

na escolha de fontes de informação manteve-se, pois estes jornalistas encaram as redes sociais,

como os seus colegas da Beira Interior, como mais uma ferramenta de trabalho, como refere

um jornalista da Gazeta das Caldas: “Somos um jornal regional com grande proximidade à

comunidade, pelo que as alterações não foram muito grandes, mas verificam-se algumas.

Sobretudo, conseguimos, através de algumas redes sociais ter sempre acesso ao que se está a

passar com mais facilidade e imediatismo”.

5.4. Utilização das redes sociais nas redações

Uma das questões propostas aos jornalistas de ambas as regiões teve o intuito de perceber de

que maneira é que são utilizadas as redes sociais e para que tarefas (procurar informação,

confirmar informação, fazer contactos e explorar temas) numa escala de muito importante a

irrelevante.

Figura 4. Utilização das redes sociais pelos jornalistas da Beira Interior

Os resultados referentes aos jornalistas da Beira Interior indicam que, por grau de importância,

fazer contactos é a primeira opção quando se utilizam as redes sociais em ambiente de redação,

conforme foi sendo referido ao longo das entrevistas. Estas são mais uma ferramenta de

trabalho que ajuda no processo de contactar possíveis fontes de informação de uma maneira

mais rápida e intuitiva. Em seguida, consideraram que o mais importante a fazer é procurar

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%

Irrelevante

Pouco Importante

Importante

Mais Importante

BEIRA INTERIOR

Explorar temas Fazer contatos Confirmar Informação Procurar Informação

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informação, isto é, utilizam as redes sociais para procurarem informação passíveis de serem

trabalhadas de modo a resultar numa peça jornalística, uma vez que, as redes sociais são um

grande chafariz de informação proveniente dos mais diversos sítios e pessoas, e isso é

importante para os jornalistas, que após uma análise às redes sociais podem encontrar

informações que devam ser aprofundadas e transformadas em notícias. Para os jornalistas da

Beira Interior é pouco importante utilizar as redes sociais para explorar temas, pois apesar de

poderem ser uma base de notícia, a exploração deve ser feita por outros meios, contactar

diretamente os envolvidos ou falar com pessoas especializadas para o efeito. E por fim, é

irrelevante utilizar as redes sociais para confirmar informação, assim sendo, este gráfico vai

totalmente ao encontro daquilo que foi sendo referido, isto é, pela pouca credibilidade que é

conferida à informação veiculadas nas redes sociais, é insignificante para os jornalistas a

possível utilização desta plataformas para confirmar qualquer tipo de informação. Esse é já um

trabalho que pertence ao jornalista fazer por outros meios.

Os resultados referentes aos jornalistas da Zona Oeste indicam por sua vez, que por grau de

importância, procurar informação é o que se deve fazer nas redes sociais, fazendo sentido que

estas sejam consideradas também como uma nova ferramenta de trabalho. Seguidamente em

grau de importância, os jornalistas desta região do país defendem que também é importante

para o seu trabalho utilizar estas plataformas para estabelecer contactos com possíveis fontes

de informação, por exemplo, algo que também foi referido pelos mesmos ao longo das

entrevistas. Por outro lado essa não foi uma opção consensual, uma vez que, parte dos

jornalistas também defenderam que essa é uma tarefa pouco importante. Que as redes sociais

serviam, não para alterar a rotina em relação às fontes, mas também como uma nova forma de

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00%

Irrelevante

Pouco Importante

Importante

Mais Importante

ZONA OESTE

Explorar temas Fazer contatos Confirmar Informação Procurar Informação

Figura 5. Utilização das redes sociais pelos jornalistas da Zona Oeste

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estabelecer contactos com fontes de informação. Em seguida, os jornalistas defendem que

também que as redes sociais são pouco importantes para explorar temas. Por fim, a

confirmação da informação foi considerada como a tarefa mais irrelevante a realizar nas redes

sociais.

Assim, e numa breve análise comparativa, pode concluir-se que em termos daquilo que é

considerado mais importante a realizar nas redes sociais num ambiente de redação, os

jornalistas de ambas as regiões do país não mantiveram unanimidade, ou seja, os jornalistas da

Beira Interior consideraram mais importante estabelecer contactos nestas plataformas,

enquanto que os jornalistas da Zona Oeste consideraram que as redes sociais são de facto muito

importantes para procurar informação.

Em relação aquilo que é considerado irrelevante a realizar nas redes sociais, os jornalistas de

ambas as regiões mantiveram o consenso e defenderam que estas plataformas não servem de

todo para confirmar qualquer tipo de informação.

5.5. Exemplos de notícias veiculadas com base nas redes sociais

Foi também pedido aos jornalistas de ambas as regiões que pudessem indicar uma notícia que

tenham realizado com base nas redes sociais.

Exemplo da notícia veiculada pelo Notícias da Covilhã (Beira Interior). Notícia realizada com

base num alerta dado pela população através da rede social Facebook, em que as pessoas

publicavam fotografias do sucedido e procuravam saber o porquê e também o desenvolvimento

do acontecimento. E todas este material (fotografias e relatos) foram vistos pelo jornalista na

redação, através do Facebook. Assim, permitiu-lhe saber na hora exata aquilo que estava a

acontecer, pois a situação tinha sido partilhada por um cidadão.

E foi a partir desse alerta que o jornalista começou por construir a sua peça jornalística,

contudo através da notícia, consegue perceber-se que o jornalista optou por utilizar fontes de

informação como a Agência Lusa, e deste modo, este acaba por não ser o melhor exemplo de

uma notícia que foi realizada apenas com base na informação que encontrou na rede social

Facebook.

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Figura 6. Notícia do Notícias da Covilhã veiculada com base no Facebook

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Em relação ao Jornal do Fundão (Beira Interior), a notícia veiculada esteve relacionada com o

aparecimento de gaivotas na cidade da Covilhã em Março do ano 2014. A população ao estranhar

o facto, começou a reportar a situação e a publicar fotografias do sucedido através da rede

social Facebook, o que chamou a atenção da redação do Jornal do Fundão, que imediatamente

entrou em contacto com a entidade competente, a Quercus, e realizou a peça jornalística.

Conforme referiu o jornalista esta é uma situação que “acontece quase diariamente, e a partir

daí dá-se início ao processo de tratamento da informação, ou seja, falar com as fontes em

busca do porquê”.

Neste caso, foi através da diversificação de fontes possível pela existência do Facebook, que se

conseguiu, a partir de informação veiculada pelos cidadãos, dar o alerta do acontecimento e

tentar saber o porquê de ter acontecido, e depois disso conseguir construir a peça jornalística.

Figura 7. Notícia do Jornal do Fundão veiculada com base no Facebook

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Da parte do jornal Fórum Covilhã (Beira Interior), são mais dois exemplos de que as redes

sociais, mais propriamente, o Facebook é muitas vezes a base inicial de muitas peças

jornalísticas, e no caso deste órgão de comunicação temos dois exemplos opostos daquilo que

pode acontecer com a informação encontrada nas redes sociais. O primeiro exemplo é o de

uma informação que circulou no Facebook acerca da vinda de um jogador que iria reforçar um

clube da região. A partir desse momento, o jornalista diz que contactou, de imediato, a direção

do clube em questão, o atleta e todas as partes interessadas e, conforme mencionou “depois

de alguma insistência a notícia confirmou-se”. Por outro lado, também já aconteceu o jornalista

ter visto num blogue que um membro do governo se iria deslocar à cidade para anunciar um

investimento de uma empresa multinacional, mas quando se procedeu à confirmação da

informação o jornalista referiu que “a fonte não era credível e tal acontecimento não se

confirmou”.

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Na experiência do Jornal de Belmonte (Beira Interior) a rede social Facebook é a mais utilizada

neste tipo de situações. E o exemplo mais flagrante da utilização desta plataforma como início

de uma peça jornalística é o dos incêndios, isto é, as pessoas têm o hábito de partilhar nestas

plataformas muita informação, e até já estão criadas páginas para o efeito, como por exemplo

a página “Incêndios e acidentes no distrito de Castelo Branco”. E é neste tipo de páginas que

os jornalistas podem ir buscar informação possível para começar o seu trabalho de confirmação

e aprofundamento da informação. E através desta notícia pode perceber-se que, foi através de

alertas dados pela população através do Facebook, que o jornalista fez esta peça, que por ser

feita no imediato do acontecimento, não tem ainda as informações que descrevem,

detalhadamente, o acontecimento.

Figura 8. Notícia do Jornal de Belmonte veiculada com base no Facebook

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Para finalizar a região da Beira Interior, o jornal Reconquista, o jornalista referiu o caso de um

sismo que aconteceu na região e que, mais uma vez, a informação começou por ser partilhada

nas redes sociais, que assim deu o alerta para o jornalista começar a fazer o seu trabalho.

Sismo sentido no distrito de Castelo Branco

A rede social Facebook começou a receber os primeiros comentários dos

habitantes do distrito de Castelo Branco minutos depois do sismo que teve o

epicentro no concelho de Mação, distrito de Santarém.

O Instituto de Meteorologia (IM) registou esta segunda-feira às 12:07 um sismo

de magnitude 3.5 da escala de Richter, com epicentro localizado a cerca de 8

quilómetros a nordeste de Mação, no distrito de Santarém.

O sismo foi sentido em Castelo Branco e em outras localidades do distrito,

nomeadamente a sul, na zona do Pinhal.

De acordo com o IM o sismo foi sentido com intensidade máxima IV (escala de

Mercalli modificada) nos distritos de Santarém, Castelo Branco, Portalegre e

Leiria. (…) Os primeiros comentários sobre o sismo começaram a chegar à

página do Reconquista no Facebook nos minutos seguintes.

"Aqui na Sertã também se sentiu! Foi um grande estrondo e tudo tremeu",

contou Andrea Colôa.

Figura 9. Excerto da notícia do Reconquista veiculada com base no Facebook

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Já em relação à Zona Oeste, os jornalistas da Gazeta das Caldas deram como exemplo deste

tipo de notícias aquelas que estão relacionadas, por exemplo, com a agenda cultural da região,

a informação dada sobre espetáculos que vão acontecer em teatros ou no centro cultural da

cidade, contudo podemos perceber que, neste caso não é a rede social que está em causa, nem

uma nova fonte de informação que tenha permitido realizar a notícia, mas sim, a utilização de

informação disponibilizada por uma fonte de informação oficial, através da sua página de

Facebook. Neste caso em concreto não existe diversificação de fontes, mas uma mudança na

forma como se acede à informação proveniente de uma fonte de rotina, a oficial.

Figura 10. Notícia da Gazeta das Caldas veiculada com base no Facebook

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No Jornal das Caldas (Zona Oeste) o exemplo dado é o de uma banda de música da região ter

colocado informação na sua página oficial de Facebook, que deu azo à construção de uma

notícia. E neste exemplo, mais uma vez, estamos perante a utilização de uma fonte oficial,

apenas o meio de a contactar é diferente, através de uma rede social. Desta forma, as duas

últimas notícias, não podem ser consideradas quanto à existência de diversificação de fontes.

Figura 11. Notícia do Jornal das Caldas veiculada com base no Facebook

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E por fim, o jornal Região de Cister vai ao encontro daquilo que alguns dos outros jornalistas

fizeram (como por exemplo o Jornal do Fundão), ou seja, a informação inicial foi encontrada

nas redes sociais, maioritariamente no Facebook, e a partir dessa chamada de atenção o

trabalho do jornalista é sempre o mesmo, o de confirmar e aprofundar a informação com as

fontes de informação.

Figura 12. Excerto da notícia do Região de Cister veiculada com base no Facebook

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Conclusões

As fontes de informação são, de facto, imprescindíveis ao exercício do jornalismo e neste

sentido, a introdução da internet e consequentemente das redes sociais nas redações só fez

com que os jornalistas pudessem ter mais uma janela aberta para a informação que circula

nestas plataformas. O aumento gradual do número de pessoas que utilizam as redes sociais é

sinal de que a conjuntura está a mudar e, por isso mesmo, o jornalismo tem a necessidade de

acompanhar esta evolução do fluxo de informação, que lhe traz para o seu trabalho um maior

número de possibilidade de contactar com novas fontes de informação. As redes sociais, assim

como a internet, rapidamente se tornaram ferramentas fundamentais ao trabalho jornalístico,

como se conseguiu perceber ao longo da investigação.

Uma das hipóteses de investigação prendia-se com o aparecimento das redes sociais e se a

utilização destas como possíveis fontes de informação faria com que os jornalistas mudassem

ou não o seu comportamento face às fontes com quem sentem uma maior proximidade, as suas

fontes de rotina. A constatação a que se chega é a de que, de uma maneira geral, os jornalistas

continuam a preferir a utilização de fontes de informação com que já estão mais habituados a

lidar, com as suas fontes de rotina, principalmente pelo facto de terem uma relação com as

mesmas com um forte valor de confiança. A confiança é um valor fundamental na relação entre

o jornalista e a sua fonte de informação.

Todavia, a investigação também demonstra que os jornalistas estão a abrir o seu leque de

opções e não põem totalmente de parte a utilização de informação veiculada pelos cidadãos

nas redes sociais como pontos de partida para a construção de uma notícia ou reportagem, mas

sempre tendo em conta a confirmação da informação, mas isso é algo que também acontece

com muitos outros tipos de fontes de informação, pois esse é o trabalho do jornalista, conseguir

confirmar e aprofundar a informação que recebe das suas fontes de informação. Apesar da

preferência dos jornalistas pelas suas fontes de rotina, há alguma transformação na hora de

procurar ou receber informação, e as redes sociais foram sem dúvida uma nova ferramenta que

surgiu para o jornalismo e, muitas vezes, a notícia começa com informação partilhada nas redes

sociais. No essencial, a confiança já existente com as fontes de rotina faz com que os jornalistas

tenham uma preferência por elas, mas isso não impede que o jornalista também consiga criar

uma relação de confiança com uma fonte de informação vinda das redes sociais. É um processo

complexo e que leva o seu tempo, mas é possível.

A segunda hipótese de investigação pretendia perceber se o comportamento dos jornalistas era

alterado com o aparecimento deste novo tipo de fontes de informação e, de certa forma,

perceber como é que os jornalistas usam estas novas ferramentas de trabalho, e após a

investigação, a conclusão é a de que as redes sociais são agora consideradas uma ferramenta

muito importante para o atual trabalho jornalístico, pois dão ao jornalista a oportunidade de

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contactar mais direta e rapidamente com os cidadãos, por exemplo. Em relação à procura de

informação e o acto de contactar uma fonte está a mudar o comportamento do jornalista. Uma

rede social como o Facebook permite, por exemplo, a criação de páginas onde se partilham as

mais diversas informações, que posteriormente analisadas pelos jornalistas podem resultar no

começo da criação de uma notícia ou reportagem. A partir daqui posso propor que seja criada

um novo tipo de fonte de informação proveniente das redes sociais, ou seja, este grupos onde

os cidadãos se reúnem num esforço conjunto de angariação de informação, podem ser

considerados, dentro das redes sociais, como fontes coletivas. Isto é, estas pessoas através

deste novo meio são agora uma fonte de informação a ter em conta pelos jornalistas pois, para

além de fornecerem o mais variado tipo de informação proveniente das mais variadas pessoas,

estas também demonstram ser um meio para chegar às fontes de informação Ou seja, para

além do contacto telefónico ou do correio eletrónico, as redes sociais também permitem que

os jornalistas entrem em contacto mais rapidamente com as suas fontes de informação, e

muitos referiram que as utilizam muitas vezes nesse sentido do contacto. Mas a análise diária

das mesmas também é outra das funções que os jornalistas desempenham com as mesmas. Foi

questionado aos jornalistas qual a utilização que fazem das redes sociais na redação, e de entre

procurar informação, confirmá-la, fazer contactos ou explorar temas, foi procurar informação

a opção mais vezes escolhida em ambas as regiões analisadas (Beira Interior e Zona Oeste). Esta

opção vai ao encontro daquilo que foi exposto, que as redes sociais são uma nova ferramenta

de trabalho à qual os jornalistas já não conseguem ser indiferentes.

Por outro lado, os jornalistas responderam que raramente ou nunca usariam as redes sociais

para confirmar informação e isso leva-nos à questão do nível de credibilidade associado ou não

a este novo tipo de fontes de informação, que foi outras das hipóteses propostas para a

investigação.

Para os jornalistas, as fontes de informação que continuam a ter um nível maior de

credibilidade são as oficiais, sejam as autarquias, empresas, instituições ou associações. A

justificação para esta opção é a de que o contacto com estas fontes se faz de uma forma mais

direta e formal, como por exemplo, através dos press releases. Esta escolha também se deve

ao facto de se ter a ideia de que estas fontes de informação têm a “obrigação” de comunicar

de forma clara e verdadeira, sob pena de facilmente as suas afirmações serem desmentidas,

contrariadas ou negadas ao serem tornadas públicas. Assim, e apesar da credibilidade associada

a este tipo de fontes de informação, os jornalistas também referem que é possível aumentar a

credibilidade de outras fontes de informação, pois basta que o jornalista consiga criar uma

relação de confiança com as mesmas, e a partir daí já se tornará uma fonte de informação mais

credível. O que os jornalistas salientam é o facto de apesar de qualquer nível de credibilidade

que se associe a uma fonte de informação, o jornalista não se deve acomodar, deve antes

procurar aprofundar e confirmar essa informação de modo a apresentar um trabalho jornalístico

mais completo e com diversos pontos de vista.

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Esta credibilidade é estabelecida ao ser comparada com a, normalmente, associada à

informação proveniente das redes sociais, ou seja, para os jornalistas é difícil associar um

grande nível de credibilidade a estas novas fontes de informação, uma vez que, a produção de

informação passa a estar na mão de muitos, e isso significa que a maioria das pessoas não tem

as ferramentas necessárias à produção de informação fidedigna. E, neste sentido, podem surgir

nas redes sociais rumores, boatos e informações que não correspondem à verdade, o que leva

os jornalistas a associar pouca credibilidade a estas plataformas. O que não impede que as

utilizem, mas com maior precaução.

A última hipótese de investigação proposta teve como objetivo perceber se a introdução das

redes sociais como fontes de informação permite uma maior diversidade ao universo

jornalístico, ou se irão continuar a optar pela segurança das fontes de informação que lhes são

mais próximas. E perante os dados recolhidos entende-se que os jornalistas da Beira Interior

estão mais familiarizados com o novo tipo de fonte que surge com as redes sociais,

principalmente o Facebook, através dos grupos de partilha de informação. Por outro lado, os

jornalistas da Zona Oeste continuam a optar pelas fontes oficiais, a mudança mais significativa

desta região não é a diversidade de fontes de informação, mas sim a maneira como se

contactam as fontes, agora mais através das redes sociais.

Assim, a realidade demonstra que os jornalistas estão a diversificar os meios como chegam às

fontes de informação mais do que a diversidade das próprias fontes de informação, visto que

encaram as redes sociais como um meio rápido e eficaz de chegar ao contacto com as fontes

de informação, mas por outro lado, encaram-nas também como um meio sobre a qual têm de

estar atentos, na medida em que, podem aparecer nestas plataformas focos importantes de

informação que permitam realizar uma peça jornalística.

Em todos os aspetos estudados pode comprovar-se que os resultados confirmam aquilo que tem

sido apurado por outros estudos, na medida em que, é notório que os jornalistas de âmbito

regional estão completamente consciencializados da utilização da internet e das redes sociais

nas redações, e que apesar de conferirem mais confiabilidade às suas fontes de rotina, à sua

agenda e àquelas que se encontram mais próximas de si, não se coíbe de analisar plataformas

que lhes podem trazer focos de informação importantes para a realização de uma notícia ou

reportagem, com base naquilo que observa nas redes sociais. Mas, adequando a sua utilização,

principalmente, para a mediação entre os próprios e as possíveis fontes de informação.

Conclui-se então que os órgãos de comunicação regionais têm consciência da existência das

fontes de informação relacionadas com a web 2.0 e que utilizam as redes sociais com

precaução, pois estas são agora encaradas como uma imprescindível ferramenta de trabalho

jornalístico, e vistas principalmente como um meio para chegar às fontes de informação.

Page 99: As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional · das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e acessível a todos.

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Page 104: As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional · das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e acessível a todos.

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Anexos

Anexo I - Normas propostas pelo jornalista José Alberto Carvalho enquanto director de

informação da RTP:

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Anexo II – Respostas às entrevistas por cada órgão de comunicação

Jornal do Fundão

Entrevistado: Nuno Francisco

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

As fontes que o jornal usa são as fontes tradicionais, ou seja, são os contactos pessoais, as

fontes institucionais e também as redes sociais, mas não de maneira tão vincada. Podem ser

consideradas uma fonte indireta de acesso à informação.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade?

Em princípio, as chamadas fontes institucionais (autarquias, empresas, associações) serão

confiáveis à partida. Mas como sabe as relações entre jornalistas e fontes estabelecem-se com

base na confiança. A partir do momento que essa confiança está cimentada, obviamente que a

fonte é utilizável para fornecer informação. Mas, num plano teórico obviamente que as fontes

institucionais, à partida, são as mais confiáveis, pelo menos enquanto não se estabelecer uma

relação de confiança com outro tipo de fontes, que também são fundamentais para o exercício

do jornalismo.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Este é um processo em curso ainda, isto acaba por ser uma readaptação ao processo

jornalístico. As redes sociais entraram neste processo de duas maneiras: como forma de o jornal

chegar mais longe (através do Facebook e do Twitter, por exemplo) e para se promover e

colocar as suas notícias num espaço público a que antes não tinha acesso. E por outro lado estas

redes servem para também recebermos um feedback ou procurar informação, estímulos

informativos. Não será informação retirada diretamente das redes sociais, mas pode ser um

“isco”, que depois terá o tratamento jornalístico adequado. Mas já aconteceu termos alguns

inputs das redes sociais acabarem em notícia.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

O jornal tem conta nas duas redes sociais (Facebook e Twitter). À quarta-feira é sempre

colocada a primeira página do jornal no Facebook, e pessoalmente gosto muito de acompanhar

o feedback dos leitores quando a página é colocada. É mais uma ferramenta de trabalho, tanto

para ir acompanhando algumas informações ou na promoção do jornal.

Page 106: As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional · das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e acessível a todos.

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Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

Pode ser uma desvantagem ou não, o facto de existir muita informação nas redes sociais, pode

tornar difícil a tarefa de distinguir entre aquilo que é real e o que é boato, e aí os jornalistas

têm de estar habituados a confrontar a fonte, ter um maior cuidado na análise da informação.

As vantagens são enormes e óbvias, promoção e divulgação do órgão de comunicação social,

como base para a realização e construção de reportagens, notícias ou entrevistas. Há sempre

muita coisa a fluir nas redes sociais que pode ser utilizado para ser tratado jornalisticamente.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

As duas coisas. São fontes de informação, porque numa mera atitude de observador consegue

recolher eventualmente alguma informação. São também um meio de contacto muito rápido e

imediato. Mas é mais decisiva a primeira parte, de uma maneira ou outra, os contactos

estabelecem-se sempre.

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

É óbvio que alargou o leque dos chamados estímulos informativos, ou seja, o número de fontes

alargou-se imensamente com a utilização das redes sociais. É a questão de estabelecer

contactos e estabelecer os elos de confiança essenciais para ser uma fonte credível. Uma coisa

não implica a outra forçosamente. Mas é essencial para alargar o leque de possíveis fontes do

jornalista.

Usa as redes sociais para. (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas. (Ordenar por grau de importância, de 1/ mais

importante a 4/ menos importante.

(c),(a),(d),(b)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? (Como e porquê? Porque privilegia as fontes de rotina?)

Quem dá preferência às fontes de rotina é por uma questão de segurança e confiabilidade. Nas

redes sociais há de tudo, o bom, o mau, o duvidoso, e para quem está a trabalhar a informação

para o público tem de ter um cuidado extremo na seleção. Enquanto estas fontes que vêm das

redes sociais não forem solidificadas enquanto fontes de confiança, obviamente que é uma

defesa do jornalista e da instituição escudar-se naquelas que têm como certas e confiáveis.

Page 107: As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional · das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e acessível a todos.

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Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

É a questão da confiança. Podem conquistar-se novas fontes nas redes sociais, mas enquanto o

jornalista não as tiver como absolutamente credíveis, não são utilizáveis. É um processo que

vai decorrendo. Mas é possível ganhar-se confiança com estas fontes. É mais um campo aberto

para a exploração do trabalho jornalístico. É preciso alimentarmos a fonte, fomentar alguma

cumplicidade e amizade para criar o elo de confiança que nos permite transpor aquilo que nos

é informado pela fonte. É como se mudasse o espaço onde isso decorre, porque de resto, é a

questão da confiança.

Das seguintes redes sociais (Facebook, Twitter e blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Twitter e Facebook como já expliquei.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

A notícia das gaivotas na Covilhã, que surgiu com base num alerta dado através do Facebook.

Notícias da Covilhã

Entrevistado: Ana Rodrigues

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

Inevitavelmente as fontes institucionais têm grande peso, mas qualquer pessoa pode ser a fonte

que dá origem a um assunto interessante.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade?

Devia partir do princípio que as fontes institucionais são sempre credíveis, mas a experiência

tem-me mostrado que não é necessariamente assim. Há fontes institucionais, como por

exemplo câmaras municipais, que procuram manipular, dar informação parcial, manietada,

incompleta, para que a mensagem passe de determinada maneira. Por isso é fundamental, para

além da indispensável verificação, desconfiar tanto do presidente de câmara ou do vereador

como do anónimo que me contacta para relatar qualquer situação.

Page 108: As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional · das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e acessível a todos.

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Por outro lado, a escala na hierarquia também não é sinónimo de maior credibilidade. Por

exemplo, numa ocorrência que envolva as forças de segurança, será mais fidedigna a

informação que os agentes ou militares chamados ao local possam transmitir que a que o

comando depois venha a emitir.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Com naturalidade. Com a consciência de que poderá ter apenas um peso muito relativo (embora

não despiciendo), para não cair numa situação de preguiça ou evitar que contribua para essa

chaga que afecta alguns “jornalistas” praticantes acérrimos do jornalismo sentado. As redes

sociais são mais uma janela para olhar para o que nos rodeia, não mais importante que as

outras.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Quase diariamente. Pode servir, por vezes, para chamar a atenção para determinada situação,

para determinado acontecimento que não me tinha chegado pelos meios tradicionais ou a que

não tinha prestado atenção. Sobretudo, são usadas para entrar em contacto com fontes. Para

contactar mais rapidamente pessoas com quem me interessa falar. Serve, em grande parte,

para agilizar a marcação de trabalhos.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

Se as redes sociais forem utilizadas com a consciência de que os caminhos tradicionais têm

obrigatoriamente de continuar a ser percorridos, de que a informação tem de ser confirmada,

de que não nos podemos ficar por uma fonte única, de que as informações aí recolhidas podem

ser um ponto de partida e nunca sinónimo de um produto final, então não vejo desvantagens.

A grande vantagem, no meu caso, é a facilidade de entrar em contacto com pessoas de quem

não tenho, no imediato, o número de telefone. Passou a ser uma forma mais imediata de chegar

a algumas pessoas para a marcação de trabalhos. Também já aconteceu fazer uma notícia a

partir de algo de que tenha tido conhecimento através do Facebook, ou ter decidido fazer uma

reportagem porque determinada situação me chamou a atenção no Facebook, embora esse não

seja o método habitual de trabalho. Ocorreu-me agora uma alteração. Com as redes sociais, as

organizações passaram a ter um local onde difundir as suas actividades e onde colocar, por

exemplo, fotos das suas iniciativas. Numa altura em que a comunicação em geral e a imprensa

regional, sem excepção, atravessa dificuldades de vária ordem, nomeadamente a escassez de

recursos humanos, já aconteceu não poder estar presente em algum acontecimento de agenda,

Page 109: As redes sociais como fontes de informação no jornalismo regional · das redes sociais que visam tornar o processo de criar, colaborar e partilhar mais fácil e acessível a todos.

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ligar antes ou depois para os responsáveis, fazer o texto e depois pedir autorização para utilizar

as imagens disponibilizadas nas redes sociais para ilustrar a peça.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

Eu olho mais para elas como um meio mais fácil de chegar às fontes, embora possam ser,

eventualmente, fontes de informação, numa lógica de espoletar o interesse para algo, numa

lógica de ser o ponto de partida para mais recolha de informação e não como a informação final

em si.

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Sempre procurei diversificar as minhas fontes. Sempre procurei não me acomodar com o que a

fonte institucional nos faz chegar. De momento, não me ocorre nenhuma fonte em concreto

que antes não utilizasse e de que me tivesse passado a socorrer. Antes chegava-se na mesma a

elas. Em alguns casos, demorava-se mais até chegar à fala com a pessoa.

Usa as redes sociais para. (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas. (Ordenar por grau de importância, de 1/ mais

importante a 4/ menos importante.

(c),(a),(d),(b)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? (Como e porquê? Porque privilegia as fontes de rotina?)

Não muito, é mais um mecanismo, mais uma janela, não alterou a minha rotina.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

Depende de quais estamos a falar, porque há muitas fontes com variados níveis de

credibilidade, por exemplo em função da proximidade. A questão é exatamente a credibilidade.

Nem mais, nem menos. Essa informação estará sempre sujeita a confirmação como qualquer

outra.

Das seguintes redes sociais (Facebook, Twitter e blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

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Facebook e alguns blogues, no que toca a explorar temas.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

Notícia sobre um temporal que houve na cidade da Covilhã, em que o alerta começou por ser

dado pela população através do Facebook, ao colocar relatos, imagens e vídeos sobre o sucedido

que fez com que fosse um ponto de partida para uma notícia.

Entrevistado: João Alves

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

Institucionais, amigos e outros órgãos de informação.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade?

As que se conseguem junto de amigos, porque são isentas de carga de influência.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Foi um processo que se foi implementando, mas não é o tipo de fonte a que recorra mais, pois

muitas vezes carece de credibilidade.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Diariamente. Sobretudo para contactar algumas fontes.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

Vantagem, o encontrar de fontes das quais não temos contacto. Desvantagem, a falta de

credibilidade das mesmas.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

Meios para chegar às fontes. Porque muitas vezes podem fazer incorrer em erros graves.

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O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Não respondeu.

Usa as redes sociais para. (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas. (Ordenar por grau de importância, de 1/ mais

importante a 4/ menos importante.

(c),(d),(a),(b)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? (Como e porquê? Porque privilegia as fontes de rotina?)

Não

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

Muito menor, sem dúvida.

Das seguintes redes sociais (Facebook, Twitter e blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Facebook

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

Não. Serviram com fonte para alimentar, mas nunca como única fonte de informação.

Fórum Covilhã

Entrevistado: Vítor Aleixo

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

Antes de mais é importante salientar que o jornalismo regional, nomeadamente no interior do

país trabalha de uma forma um pouco diferentes as fontes de informação. Primeiro uma das

fontes mais utilizadas é a institucional, ou seja, estas fontes relacionam-se com autarquias

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(principalmente) e serviços públicos. Ou seja, são aquelas que se enquadram nas fontes oficiais,

como por exemplo políticos, empresários, ou porta-vozes de empresas ou organizações. No

nosso meio (jornalístico) estas fontes são mais utilizadas que por exemplo as redes sociais, os

blogues, no entanto, embora como menos frequência também são utilizadas. Não tai

importante, mas também é de salientar que outra das fontes de informação para a criação de

notícias e a formação de uma opinião pública é o material recolhido “in loco”, ou seja, no

terreno.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade?

Sem dúvida as oficiais, primeiro porque na grande maioria das situações existe um contacto

direto, sendo mais fácil apurar a sua veracidade, enquanto que nos blogues e redes sociais, por

vezes as fontes são “encapotadas”, sendo mais complicado apurar a sua credibilidade. Outras

fontes que também têm um nível de credibilidade elevado são as fontes documentais, que pelo

seu conteúdo e relevância são uma mais-valia para o jornalista, e muitas vezes conferem

elevada credibilidade à informação veiculada.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística? Foi um processo que se foi implementando, mas não é o tipo de fonte

a que recorra mais, pois muitas vezes carece de credibilidade.

Decorreu normalmente, até porque como já referi não são uma fonte que utilizemos com

elevada frequência. Mas como é óbvio todos temos de nos adaptar às novas tecnologias e os

jornais regionais não podem fugir a essa situação, é normal que isso aconteça. Por isso

diariamente fazemos uma análise às redes sociais, e também aos sítios online de empresas e

instituições para que possamos apurar alguma “boa-nova” recente.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Como já referi, utilizamos as redes sociais diariamente para verificarmos a informação que nela

é veiculada, e verificar alguma informação, para que posteriormente possamos analisar a sua

veracidade e se pode ser veiculada na edição impressa do periódico.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

No nosso caso não alterou muito a nossa rotina diária, continuamos a desenvolver o nosso

trabalho como antes, no entanto com uma novidade, nos últimos dois/três anos passamos a ter

outra fonte de informação para consultar e aferir: as redes sociais. A principal vantagem é que

quando menos se espera a rede social ou o blogue traz-nos uma informação que pode ser

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tornada em notícia, caso se confirme. É uma fonte de informação a que não podemos ficar

alheios, e neste caso, existem até muitas instituições e políticos que usam as redes sociais para

tornar públicas as suas opiniões, e até para divulgar acontecimentos. Quanto às desvantagens,

julgo que não são relevantes, até porque, na minha opinião a principal desvantagem que as

redes sociais têm é a veracidade de algumas informações, mas aí entra em campo o papel o

papel do jornalista que é confirmar ou não a notícia que foi veiculada.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

Podemos encará-las das duas formas. Podem ser fontes de informação ou meios para chegar às

fontes. E para perceber melhor esta diferença dou dois exemplos: Uma instituição publica uma

notícia na sua rede social sobre um determinado evento, um encontro realizado, com factos

verídicos e até material fotográfico, neste caso falamos de uma fonte de informação. O outro

exemplo é o seguinte: Uma determinada rede social veicula uma reunião entre o presidente da

Câmara Municipal e o primeiro-ministro, é um meio para chegar às fontes, pois não sabíamos

da notícia e ficamos a saber, mas temos de confrontar pelo menos um dos intervenientes para

apurar a veracidade do que foi publicado na rede social, ou seja, o conteúdo publicado leva-

nos até à fonte de informação.

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Todos os jornais utilizam as rede sociais para recolher informação, no entanto no nosso caso

em concreto na permitiu que houvesse uma diversificação de fontes que seja necessário

assinalar, pois no meio regional as fontes de informação vão quase todas “bater” ao mesmo

sítio, pois a diversidade e o meio são pequenos.

Usa as redes sociais para. (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas. (Ordenar por grau de importância, de 1/ mais

importante a 4/ menos importante.

(d),(a),(b),(c)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? (Como e porquê? Porque privilegia as fontes de rotina?)

Não muito, pois conforme o jornalista vai construindo a sua carreira vai tendo e salvaguardando

as suas fontes de informação. E ao longo do tempo essas mesmas fontes ganham, um grau de

credibilidade elevado, por isso é que são fontes de rotina, caso contrário não o eram, por esse

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facto, o da credibilidade, é que essas, no meu caso, são privilegiadas. As redes sociais servem

como um complemento das outras fontes de informação.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

Neste momento tenho vindo a confirmar que as redes sociais estão a tornar-se numa

banalidade, pois quase tudo se lá publica, enquanto as outras fontes são diferentes, são mais

recatadas, por vezes conferem ao jornalista o tal “exclusivo” que tanto procura, não são tao

banais, e enriquecem a notícia de outra forma. No nosso caso são mais credíveis que as redes

sociais e dão outro âmbito à notícia, outra perspetiva, permitindo uma investigação mais

aprofundada e não ta superficial.

Das seguintes redes sociais (Facebook, Twitter e blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

As três, pois ambas veiculam infirmação, embora o facebook seja, ainda assim, mais utilizado

devido ao seu mediatismo.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

Dou o seguinte exemplo: Numa rede social (facebook) foi publicado que um determinado

jogador vinha reforçar um clube da região. Li a notícia e durante algumas horas contactei a

direção do clube, o atleta e outras partes interessadas, depois de alguma insistência a notícia

confirmou-se. Outro exemplo: Foi veiculado numa rede social (blogue) que um membro do

governo se deslocaria à Covilhã para anunciar um investimento de uma multinacional, depois

de se tentar confirmar a notícia, verificamos que a fonte não era credível, e que tal

acontecimento não se confirmou. Estes são dois exemplos daquilo que nos podem trazer as

redes sociais como fontes de informação.

Jornal de Belmonte

Entrevistado: Pedro Afflalo

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

Há dois planos distintos em matéria de fontes de informação no jornalismo regional. Em

primeiro lugar, as fontes de que os meios dispõem junto das entidades oficiais, como por

exemplo as press release ou os comunicados de imprensa. Depois há as fontes de informação

que se apoiam nos outros órgãos de comunicação e que recorrem às redes sociais mais

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abrangentes. São exemplos para estes casos as páginas dos meios de comunicação regionais no

Facebook e no Twitter e, imediatamente a seguir, as próprias páginas online dos referidos

meios. Falando do caso concreto da região da Cova da Beira, há uma deslocalização muito

grande da redação de notícias dos websites para as redes sociais. Depois há também os

noticiários radiofónicos e os grupos privados de partilha de informações como acidentes

rodoviários ou incêndios florestais. Para terminar, as páginas nas redes sociais das autarquias,

associações culturais e desportivas e outras são também importantes para se recolher

informação para possíveis notícias.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade?

Na realidade da região, de um modo geral, as informações que são fornecidas por outros órgãos

de comunicação são credíveis, mas o tratamento que é feito das mesmas varia de órgão para

órgão e é natural que se tenha em atenção mais uns em detrimento do que outros. A nível de

redes sociais e páginas online, os casos da Rádio Cova da Beira e do Jornal do Fundão são

paradigmáticos por funcionarem muito bem nestes meios. Na rádio, novamente a Rádio Cova

da Beira e a Rádio Caria são as mais completas e fidedignas. Os grupos de partilha de acidentes

e incêndios depende muito da confirmação feita por mais pessoas para além dos autores das

publicações mas para já têm sido uma ajuda importante na busca do que pode ser notícia.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Foi a primeira forma de chegar à informação que interessa às pessoas da região. Basicamente

houve uma altura em que tudo o que fosse órgão de comunicação regional, associação cultural

ou desportiva, autarquia, etc. teve de merecer a minha atenção porque não tinha forma de

chegar às entidades oficiais. A construção da rede de contactos física teve de começar

invariavelmente, e em parte, com o que se sabia que iria acontecer através de, por exemplo,

outros órgãos de comunicação nas redes sociais e nos websites.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Gestão da redação seria a função principal a destacar. No caso do nosso jornal a redação não

tem para já um sítio fixo para trabalhar, pelo que muito do trabalho desenvolvido é realizado

à distância e com muita regularidade. Distribuição de notícias, orientação na redação das

mesmas, relatórios de entrega de notícias são alguns pontos com os quais usamos as redes

sociais. Dito isto, as redes sociais desempenham um papel que, no nosso caso, vai muito para

além das fontes de informação. Trata-se de uma ferramenta de trabalho.

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Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

A vantagem primordial foi justamente a possibilidade de se criar uma redação com capacidade

para trabalhar à distância. Nesta fase inicial do jornal seria muito difícil realizar o trabalho que

tem sido feito sem a ajuda das redes sociais. Depois a regularidade com que se está atento ao

que é dito nos outros órgãos de comunicação e nos grupos de partilhas de informação é muito

importante e que sem as redes sociais não era possível ter acesso tão rápido a algumas

informações. No extremo oposto, as redes sociais dão também azo a uma dispersão muito maior

do que se houvesse uma redação física. Por funcionarem em timeline, as coisas que hoje são

importantes amanhã deixam de ser (mesmo que precisem de continuar importantes) porque já

foram escritos mais posts por cima e entretanto perde-se igualmente muita organização.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

É um misto das duas. São fontes de informação porque podem chegar primeiro a um

acontecimento do que nós e anunciaram algo em primeira mão que poderemos ter de noticiar

também ou não. Mas são também meios para se chegar às fontes na medida em que com o que

é apresentado nas redes sociais, pode ser feito um trabalho de pesquisa mais abrangente para

se chegar a mais resultados. Por exemplo, se um órgão de comunicação noticiar através de uma

nota de imprensa algo que ocorra na área de ação do nosso meio, podemos (e temos de) ir mais

além ao entrevistar habitantes, entidades oficiais, e procurar endereços exatos e pessoas

exatas.

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

O exemplo dos grupos de partilha de acidentes e incêndios florestais é excelente para este

caso. Há uns dias, ao início da noite, houve um incêndio entre a Covilhã e Belmonte que soube

através de um desses grupos. Os relatos foram-se multiplicando e às tantas começaram a surgir

fotos. Rapidamente dei uma vista de olhos pelas páginas do 112 e da PROCIV e comecei a

recolher informações para fazer uma notícia, localização, número de meios, hora do início,

etc. O resultado foi que noticiamos primeiro o incêndio e o movimento no site e na página do

Facebook disparou.

Usa as redes sociais para. (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas. (Ordenar por grau de importância, de 1/ mais

importante a 4/ menos importante.

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(b),(a),(c),(d)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? (Como e porquê? Porque privilegia as fontes de rotina?)

Sem dúvida. Até há uns anos, para ler notícias e procurar informações, tinha necessariamente

de recorrer aos sites dos órgãos de comunicação. Atualmente com as redes sociais é como se

estivesse tudo mais à mão. Por vezes chegam a acontecer situações em que sei de informações

através de pessoas que partilham notícias dos sites nas redes sociais. Fez alterar bastante, sem

dúvida.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

No caso dos grupos de partilha de informações, as pessoas muitas vezes estão onde os jornalistas

não estão. É como se elas próprias fossem jornalistas. Houve um acidente que presenciei na

N18, vou partilhá-lo e dar algumas informações. Depois o jornalista, o verdadeiro, pega nessa

informação e verifica a veracidade e a gravidade da mesma. Se for verdade, segue notícia, caso

contrário quem partilhou fica mal visto mas mesmo assim não denigre a imagem desses grupos.

Nos meios de comunicação presentes nas redes sociais, como as pessoas que as fazem são, à

partida, as mesmas que fazem os jornais e as rádios da região, e muitas vezes há já vários anos,

a credibilidade é a mesma que no jornal ou na rádio.

Das seguintes redes sociais (Facebook, Twitter e blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Facebook acima de tudo. A maior parte das coisas passam-se no Facebook. As pessoas estão lá.

Quase que se sabe tudo no Facebook. Às vezes nem é tanto nas páginas dos órgãos de

comunicação, mas mesmo nas páginas pessoais de pessoas importantes da região, ou

inclusivamente de outros jornalistas.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

O exemplo dado mais acima do incêndio entre a Covilhã e Belmonte é excelente para esta

questão. Sem as redes sociais dificilmente seria possível, com os meios que temos atualmente

à disposição, chegar primeiro e com a qualidade que deve ser exigida a um órgão de

comunicação.

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Reconquista

Entrevistado: José Furtado

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

O Reconquista continua a privilegiar o contacto direto com as fontes, o telefone ou o correio

eletrónico, por onde recebemos a grande parte dos comunicados ou agendamentos. As redes

sociais como o Facebook são mais utilizadas para marcar encontro do que para fazer a recolha

de informação, embora às vezes isso suceda.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade?

O contacto pessoal, por telefone ou por escrito continuam a ser mais credíveis. No caso das

redes sociais a credibilidade muitas das vezes depende sempre da confirmação através dos

meios tradicionais.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

A entrada das redes sociais na produção informativa aconteceu de forma natural e progressiva,

à medida que as pessoas dentro e fora do jornal começaram a relacionar-se através do

Facebook, abrindo páginas pessoais ou de organização.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

As redes sociais, nomeadamente o Facebook, são utilizadas diariamente, quer para divulgar

conteúdos noticiosos publicado no site como para obter informações junto de algumas fontes.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

A grande vantagem foi a facilidade de contacto, de e para o jornal. No caso das fontes permite-

nos encontrar uma boa alternativa à falta de um endereço de correio eletrónico ou contacto

telefónico. Em relação ao telefone tem ainda a vantagem de ser gratuito. Como a conta está

interligada com o endereço de correio eletrónico podemos ter acesso às respostas fora da

redação, através do tablet ou smartphone. Outra mudança significativa foi no acesso a

fotografias ou documentos, cuja obtenção passou a ser muito mais fácil graças às páginas

pessoais. É também cada vez mais um meio de comunicação de iniciativas, substituindo-se aos

meios tradicionais como o fax, o correio postal (cujo impacto é hoje residual) ou até mesmo o

correio eletrónico.

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Do ponto de vista administrativo é também cada vez mais utilizado para pedidos de

esclarecimento ou relações comerciais, como pedidos de orçamento, gestão de assinaturas,

etc.

A desvantagem é poder criar algum comodismo, se o jornalista não tiver a preocupação de

consultar mais fontes para diferenciar a sua informação da dos outros órgãos que bebem da

mesma fonte.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

Ambos os casos. Basta ver o exemplo do Presidente da República, que em certas ocasiões se

pronuncia sobre determinados assuntos através da sua página institucional. Mas na nossa

realidade é sobretudo um meio para chegar às fontes.

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Tem sido importante, mas na nossa opinião a grande ferramenta dos últimos anos não são as

redes sociais, mas sim os motores de busca, como o Google. Mas sobre as redes sociais a

primeira experiência do seu impacto aconteceu em 2010 quando se registou um sismo que foi

sentido aqui na região. Depois de confirmada a informação junto do Instituto de Meteorologia

e de partilhada no Facebook do jornal o espaço de comentários começou a ser inundado de

mensagens de pessoas que se encontravam espalhadas pelo distrito, dando o seu testemunho.

Algumas destas mensagens foram utilizadas como complemento à notícia para a edição em

papel, identificando as pessoas e a sua localização. Em grande parte dos casos o Reconquista

comunica em privado com as pessoas ou pede um contacto telefónico para confirmar a

veracidade do perfil. O mesmo é também verificado através das publicações no mural, tempo

de vigência das páginas, número de amigos ou amigos em comum, para evitar perfis falsos.

Usa as redes sociais para. (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas. (Ordenar por grau de importância, de 1/ mais

importante a 4/ menos importante.

(c),(b),(d),(a)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? (Como e porquê? Porque privilegia as fontes de rotina?)

A rotina manteve-se mas passamos a ter mais um meio para o fazer.

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Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

A credibilidade depende dos fatores já enumerados na pergunta anterior. Uma página oficial

de uma associação, entidade ou personalidade, cuja atualização é frequente ou está ligada à

página oficial na internet, tem credibilidade. Mas a abordagem pessoal, por telefone ou correio

eletrónico continuam a ser o ideal.

Das seguintes redes sociais (Facebook, Twitter e blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Facebook, por ser mais popular.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

Ver resposta anterior sobre o caso do sismo.

Gazeta das Caldas

Entrevistado: Natacha Narciso

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

Utilizo vários tipos de fontes. Documentais e preferencialmente directas (falando directamente

com as pessoas).

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade? E

porquê? (Em comparação a outras)

As directas e também aquelas que vêm das próprias instituições (press releases devidamente

identificados e sempre sujeitos a confirmação posterior).

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Correu bem. Foi pacífica a introdução das redes sociais.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Utilizo com frequência o Facebook sobretudo para estabelecer contacto com pessoas.

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Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

Mais rapidez na difusão da informação. É mais uma ferramenta de trabalho.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

Apenas um meio para chegar à fonte. Carece sempre da necessária confirmação.

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Tal como já referi, só uso as redes sociais para um contacto inicial com as fontes.

Usa as redes sociais para: (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas (Ordenar por grau de importância, de 1/mais

importante a 4/ menos importante)

(c),(a),(d),(b)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? Como e porquê? (Se não, porque privilegia as fontes de

rotina?)

As redes sociais não fizeram alterar a rotina. São apenas mais uma ferramenta.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

É preciso confirmar os factos reportados nas redes sociais, entrando em contacto directo com

as fontes. Confiro a credibilidade de ser um meio para chegar a fontes.

Das seguintes redes sociais (facebook, twitter, blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Facebook e consulto alguns blogues.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

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Apenas algumas pequenas notícias de agenda (eventos) veiculados no Facebook das entidades

promotoras como, por exemplo, do Centro Cultural das Caldas da Rainha ou o Teatro da Rainha.

Entrevistado: Fátima Ferreira

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

Damos sempre preferência às fontes primárias por estarem mais próximas da origem da

informação e ser mais fiável. Falamos directamente com as pessoas envolvidas nos

acontecimentos. Quando tal não é possível recorremos a fontes secundárias, mas aí temos

sempre que ter mais cuidado para confirmar os dados.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade? E

porquê? (Em comparação a outras)

As fontes primárias por serem mais directas, confiáveis e por terem mais conhecimento de

causa.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Decorreu com normalidade. Utilizo muito pouco.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Utilizo muito pouco e apenas para recolha de informação ou para obtenção de algum contacto.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

A principal vantagem é a proximidade que temos à informação. Como desvantagem está o facto

da informação existente nem sempre ser verdadeira ou confiável.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

São meios para chegar às fontes, porque tem que haver sempre a confirmação dos

acontecimentos.

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O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Sim. Por exemplo, na edição desta semana irei publicar uma entrevista feita com o cabeça de

lista do Partido Livre por Leiria cujo primeiro contacto foi feito através do facebook. Deixei-

lhes os meus contactos e depois falámos directamente para marcar a entrevista.

Usa as redes sociais para: (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas (Ordenar por grau de importância, de 1/mais

importante a 4/ menos importante)

(a),(d),(c),(b)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? Como e porquê? (Se não, porque privilegia as fontes de

rotina?)

Não muito. Somos um jornal regional e com grande proximidade à comunidade, pelo que as

alterações não foram muito grandes, mas verificam-se algumas. Sobretudo, conseguimos,

através de alguma das redes, ter sempre acesso ao que se está a passar com mais facilidade e

imediatismo.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

Como já disse anteriormente, damos sempre mais credibilidade às fontes directas, mas estas

também têm a sua importância. Também há que saber escolher quais as redes sociais, ou dentro

destas, o que ter em conta.

Das seguintes redes sociais (facebook, twitter, blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

O facebook, por uma questão de facilidade e imediatismo, que me permite ter uma noção da

agenda. Também sigo alguns blogues, neste caso já numa vertente mais de aquisição de

conhecimento ou de informação mais especializada.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

São várias. A sua maioria são pequenas notícias para a agenda do jornal. No caso de notícias

mais elaboradas sirvo-me das redes sociais para ter uma base ou uma opinião, mas terei que

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confrontar sempre outras fontes. Por exemplo, esta semana fiz uma notícia tendo por base a

posição de um vereador da oposição esplanada no seu blog, mas depois confrontei o vereador

com o pelouro do assunto em questão para ter o contraditório.

Jornal das Caldas

Entrevistado: Francisco Gomes

Atualmente, quais os principais tipos de fontes de informação utiliza mais?

As institucionais, as que me contatam e redes sociais.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade? E

porquê? (Em comparação a outras)

As institucionais, porque apesar de tudo são as que mais “dão a cara” e que, regra geral, não

precisam de ficar sob a capa do anonimato.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Foi uma transição normal e em ritmo crescente.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Todos os dias. Para pesquisar informações e possíveis notícias.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

A informação/notícia chega mais rápido com as redes sociais. A desvantagem é que há uma

massificação de informação e pouco tempo para tratá-la.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

São. Facilitam nos casos em que a fonte com menos dificuldade identifica quem tenta contatá-

la. Em algumas ocasiões, podem até “abrir-se portas” mais facilmente, dada alguma

afetuosidade intrínseca às redes sociais.

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O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Sem dúvida. Os temas acabam por ser os mais diversos, porque as fontes são também mais

diversificadas. Por exemplo, há corporações de bombeiros que colocam o rol diário de

atividades nas redes sociais. O trabalho a fazer é efetuar um rastreio, escolher as que

interessam e depois contatar a corporação caso seja necessário mais pormenores.

Usa as redes sociais para: (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas (Ordenar por grau de importância, de 1/mais

importante a 4/ menos importante)

(a),(c),(d),(b)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? Como e porquê? (Se não, porque privilegia as fontes de

rotina?)

Sim. Todos os dias há que olhar para o movimento das redes sociais e o que nelas aparece.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

Nem tudo o que aparece nas redes sociais é verdade. Aliás, talvez só metade, porque toda a

gente escreve o que lhe apetece e em muitos casos a “informação” é passada sem tratamento

jornalístico ou confirmação.

Das seguintes redes sociais (facebook, twitter, blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Facebook. Porque é a mais popular.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

Discoteca conhecida fechada foi utilizada para gravação de videoclipe. Pode ver em:

http://jornaldascaldas.com/74_grava_videoclipe_na_Green_Hill

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Região de Cister

Entrevistado: Sara Vieira

Atualmente, qual o principal tipo de fontes de informação utiliza mais?

Institucionais, empresariais, especializadas, gerais e documentais.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade? E

porquê? (Em comparação a outras)

Todas as fontes que são oficiais têm um nível de credibilidade elevado.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Quando comecei a exercer funções enquanto jornalista as redes sociais já eram uma rotina.

Contudo, com o reforço da aposta do site do jornal há uma rotina muito mais rigorosa e

trabalhosa nas redes sociais. Sabemos que 80% do tráfego do nosso site provém das redes

sociais.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Diariamente. Procurar informação, contactar fontes e 'alimentar' redes sociais do Região de

Cister com links de notícias e/ou vídeos publicados no site.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens)

Mais rapidez, menos custos, menos rigor na confirmação de informação, mais interação com os

leitores e os dados estatísticos do facebook permitem traçar um perfil exato dos

leitores/consumidores de notícias.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

São meios para chegar as fontes. Hoje em dia as redes sociais são o 'última hora' dos noticiários.

A informação é partilhada e chega a redação em tempo real. Se houver um acidente, por

exemplo, é imediatamente nas redes sociais, quer por contactos pessoais, mensagens privadas

para o fb do jornal ou até mesmo em grupos criados para o efeito. A partir daí o jornalista já

pode fazer o seu trabalho, contactando as fontes oficiais. Diria que as redes sociais são o

principal meio de chegar às fontes.

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O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

Sim. Na abertura de novos negócios, por exemplo, é muito comum entrar em contacto com os

responsáveis pelo facebook. Depois de ter conhecimento pelo facebook que o hotel y vai abrir

no dia x, contacto por mensagem privada os responsáveis para agendamento de entrevista.

Usa as redes sociais para: (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas (Ordenar por grau de importância, de 1/mais

importante a 4/ menos importante)

(a),(c),(b),(d)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? Como e porquê? (Se não, porque privilegia as fontes de

rotina?)

Alterou na medida em que muitas vezes em vez de ligar via telefónica à minha fonte, entro em

contacto pelo facebook. Mas, por outro lado, há fontes que continuam a não utilizar as redes

sociais e a rotina mantém-se. Pode acontecer é confirmar e/ou procurar informação que vi nas

redes sociais com as minhas fontes de rotina, que nem sequer são utilizadores de redes sociais.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

A credibilidade depende sempre do utilizador. Se for uma página oficial a credibilidade

aumenta. Se for um utilizador que não tenha qualquer ligação a notícia que partilha a

credibilidade tende a diminuir e aí a informação poderá ser um meio de chegar às fontes,

averiguando a informação.

Das seguintes redes sociais (facebook, twitter, blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Facebook. É a rede social com mais utilizadores registados e aquela que mais frequentemente

as pessoas partilham todo o tipo de informação.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

Desde concelhias de partidos que partilham os resultados de reuniões, a comunicados de

organizações/autarquias e associações, resultados desportivos, até histórias que depois dão em

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reportagens. A última que me lembro em concreto foi uma partilha de uma senhora, que

relatava que os banhos na praia de paredes de vitória estavam interditos, e a partir desse

testemunho, falamos com as entidades públicas que devíamos ouvir e avançámos com a notícia.

Entrevistado: Joaquim Paulo

Atualmente, qual o principal tipo de fontes de informação utiliza mais?

Utilizo os sites oficiais de instituições, as redes sociais, nomeadamente o facebook, e as notas

de imprensa.

Quais são para si as fontes de informação com maior nível de credibilidade? E

porquê? (Em comparação a outras)

Obviamente as fontes oficiais, nomeadamente autarcas, dirigentes e empresários. Sobretudo

porque estão “obrigados” a comunicar de forma clara e verdadeira, sob pena de facilmente as

suas afirmações, que se tornam públicas, virem a ser contrariadas ou negadas.

Como decorreu a introdução das redes sociais na sua rotina de produção

jornalística?

Decorreu de forma normal, porque, enquanto jornalista, desde muito cedo estava habituado a

ligar com as ferramentas digitais.

No seu local de trabalho com que frequência utiliza as redes sociais? E para que tipo

de funções?

Utilizo para recolha de informação, contactos diretos com fontes e divulgação do nosso

trabalho.

Em que aspetos considera que houve mais alterações com a introdução da utilização

das redes sociais nas redações? (vantagens e desvantagens).

Como em tudo, há aspetos positivos e negativos. Com as redes sociais a informação (e a

possibilidade de validação das fontes) tornou-se muito mais fácil para o jornalista; por outro

lado, perde-se alguma proximidade no contacto direto com as fontes que, tantas vezes,

originava o surgimento de outras notícias e reportagens.

Considera que as redes sociais são fontes de informação ou que são meios para

chegar às fontes? Porquê?

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Ambas, porque para um jornalista não é fácil ter o contacto telefónico de algumas fontes com

quem necessita falar e as redes sociais facilitam esse contacto.

O facto de usar as redes sociais para recolher informação (se for o seu caso) tem-

lhe permitido diversificar o tipo de fontes que usa nas suas peças? Se sim, pode dar

um exemplo de um tipo de fonte que seja usado devido às redes sociais?

No seguimento da resposta anterior, passo a dar um exemplo: no Região de Cister publicamos,

todas as semanas, as listas com os melhores marcadores das equipas de futebol, hóquei e futsal

dos concelhos de Alcobaça e Nazaré. Antes das redes sociais, o contacto era telefónico, o que

nem sempre era fácil de fazer (fosse porque as pessoas trabalham e não podem atender o

telefone, etc). Agora, mesmo que a pessoa não responda imediatamente, pode sempre

responder mais tarde, quando vir a mensagem no chat.

Usa as redes sociais para: (a) procurar informação, (b) confirmar informação, (c)

fazer contactos, (d) explorar temas (Ordenar por grau de importância, de 1/mais

importante a 4/ menos importante)

(a),(b),(c),(d)

O aparecimento das redes sociais fez com que alterasse a sua rotina quanto às

fontes de informação? Como e porquê? (Se não, porque privilegia as fontes de

rotina?)

A rotina foi alterada de forma substancial. A resposta que dei ao ponto 7 clarifica como.

Qual a credibilidade que confere às redes sociais como fontes de informação em

comparação às fontes de informação utilizadas antes da internet?

O mais importante no nosso trabalho é verificar e validar a informação, seja qual a origem da

mesma. Por isso, usar a rede social ou outro meio é indiferente.

Das seguintes redes sociais (facebook, twitter, blogues) quais utiliza com maior

frequência e porquê?

Hoje em dia apenas utilizo o facebook.

Pode dar um exemplo de notícia que tenha redigido em que tenha recorrido às

redes sociais como fontes de informação?

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São tantos exemplos. Não fazemos o nosso jornal, nem a edição digital, apenas com recurso ao

Facebook. Isso não faria qualquer sentido. Todos os dias escrevemos notícias porque alguém

nos deu a informação a título pessoal ou telefónico;

Este é apenas um dos exemplos:

http://www.regiaodecister.pt/pt/noticias/quando-o-andebol-e-mesmo-para-todos