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AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A
MEDIAÇÃO DO PROFESSOR NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA
INDIVIDUALIDADE DE CRIANÇAS ENTRE 4 E 5 ANOS
OLIVEIRA, Marta Regina Furlan de (UEM)
GASPARIN, João Luiz (Orientador/UEM)
1. INTRODUÇÃO
Esta proposta de pesquisa evidencia a necessidade de um aprofundamento sobre a
infância na atualidade, já iniciado a partir dos estudos realizados durante o mestrado em
educação, e que tem sido motivada pela experiência, enquanto docente no Curso de
Pedagogia. Este projeto busca compreender a infância, a educação e as relações de
consumo constituídas na sociedade contemporânea.
Como organização do pensamento e da apresentação sistemática desse projeto de
pesquisa, a proposta apresenta os objetivos, bem como a justificativa do projeto,
traçando, ao mesmo tempo, a metodologia de trabalho e a fundamentação teórica em
que o mesmo se respalda.
Quanto aos objetivos, tem-se como proposta central analisar as relações de consumo na
contemporaneidade1 e o processo de mediação do professor de educação infantil na
constituição da individualidade de crianças entre 4 e 5 anos.
Esse propósito geral da pesquisa é expressão do questionamento que se faz a partir do
contexto social contemporâneo: Como se configuram as relações de consumo na
sociedade contemporânea e como a mediação do professor em sala de aula expressa
essa lógica no processo de constituição da individualidade de crianças entre 4 e 5 anos?
1 É interessante pontuar que o termo contemporaneidade e modernidade apresentam o mesmo significado, como: “aquilo que é moderno ou ao gosto moderno, dos tempos atuais ou mais próximos de nós”. Diante disso, opta-se por descrever contemporaneidade; embora não despreze totalmente o termo modernidade.
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Parte-se do pressuposto de que na sociedade contemporânea (século XX e XXI) os
sujeitos que dela participam convivem com um conjunto de conhecimentos e
informações a serviço da produção e do consumo. Essa sociedade apela
incansavelmente para o consumo, criando no indivíduo a necessidade de consumir
mercadorias: roupas de marcas, enlatados, imóveis, automóveis; além de veicular a
lógica da padronização, da sedução e do fetiche.
Parafraseando Marcuse (1997), entende-se que essa sociedade contemporânea é a que
mais enaltece o indivíduo; usa de todos os meios para que este usufrua da mercadoria
para seu próprio conforto; entretanto, é a que menos permite que o indivíduo aja como
sujeito singular que tem vontades, sentimentos, sensações e idéias próprias e,
principalmente criatividade, uma vez que a submissão ao consumo gera produtos
prontos e acabados, não possibilitando às pessoas a criação do objeto e a própria
formação da individualidade.
Entretanto, o objetivo desse estudo não se limita a pensar numa individualidade
coordenada pela natureza do indivíduo isolado, mas é a singularização de alguém
primordialmente social, porque produto do trabalho coletivo. Assim sendo, segundo
Palangana (2002 p.7) a “individualidade é, inseparavelmente, social e individual,
objetiva e subjetiva, fundada no modo como a sociedade se organiza, produz, se
relaciona e na espécie de poder instituído. Esta é a chave para se adentrar nas estruturas
individuais”.
Complementa a autora, com visível propriedade teórica:
O indivíduo se forma e se transforma no trabalho e nas relações sociais de trabalho. Somente na história de vida prática dos homens cabe pensar a individualidade, que constitui o indivíduo, que o singulariza que o distingue, mas, ao mesmo tempo, não se encerra nele. Os traços, os caracteres físicos e psíquicos são deste ou daquele indivíduo, porque são sociais, ou seja, porque pertencem aos homens de uma determinada época e lugar (PALANGANA, 2002 p.7) (grifo nosso).
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Destarte, pensando nessas novas formas de organização do trabalho e produção na
sociedade capitalista, verifica-se que estas relações têm provocado maneiras
diferenciadas sobre como os sujeitos são percebidos, categorizados e diferenciados.
Essas mudanças sociais e econômicas aparecem implícitas em atitudes, comportamentos
e nas mais diferentes teorias e práticas educativas.
A partir da inquietação acima, o presente projeto traz o seguinte questionamento: Como
se configuram as relações de consumo na sociedade contemporânea e como a prática de
mediação do professor de educação infantil tem expressado essa lógica no processo de
constituição da individualidade de crianças entre 4 e 5 anos?
Justifica-se, então, a escolha do tema pela necessidade de um aprofundamento a respeito
da lógica do consumo na sociedade contemporânea e como a escola, especificamente a
prática do professor de educação infantil, lida com essa discussão no processo de
aprendizagem e desenvolvimento infantil em favor da constituição da individualidade
de sujeitos crianças.
Sabe-se que na contemporaneidade tem se construído uma imagem de infância que se
aproxima da imagem do adulto e vice-versa, seja nos seus estilos, preferências,
comportamentos, e o que mais tem sido preocupante, as reações infantis que se
manifestam frente ao conceito de ter, comprar, tomar posse, tão focado no mercado.
Nesse olhar, as características mais presentes são: fetichização da tecnologia e da
produção, a incapacidade de amar e de estabelecer relações sociais, a busca incansável
pelo consumo, a valorização do ter em detrimento do ser, a padronização de
comportamentos, pensamentos, preferências, o individualismo, a ausência de relações
sociais humanas, entre outros.
Caminhando por essa perspectiva, é visível, muitas vezes, essa leitura do mundo social
contemporâneo que reflete no processo educativo, especificamente na prática mediadora
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do professor que trabalha com crianças, no caso entre 4 e 5 anos. A escolha por essa
faixa etária é no sentido de centralizar as atenções já que se constituiu uma fase
cronológica e social significativa que inicia e marca a passagem da educação infantil
para os anos iniciais do ensino fundamental, sendo esse período influenciador de
conceitos e valores sociais.
Pensando no cotidiano da escola da infância, verifica-se que nesse propósito de
preparação para os anos iniciais (1º ao 5º ano do ensino fundamental), há um acúmulo
de trabalhos, tanto para as crianças quanto para os educadores, que se vêem em
desespero e aflição, frente à chamada produção, ou seja, “têm que mostrar serviço”. E,
nessa produção sem fim, ousar refletir, ser criativo, ser imaginativo não dá, até porque
“tempo é dinheiro”. Precisa-se de objetividade, permeando assim, a padronização de
atividades; a adoção do sistema de apostilamento; a unificação das produções discentes
(todos devem pintar a flor de vermelho e a folha verde) com o mesmo estilo de
apresentação; o trabalho que reflete o individualismo e não a individuação, a
competição, a exclusão (o aluno que não acompanha); o enquadramento intelectual,
entre outros. Além disso, a imagem deve ser preservada sempre, buscando o trabalho
criativo terceirizado, em substituição às criações infantis (leva-se tempo e não tem a
perfeição da imagem, do belo, do bem apresentado). Pode-se ousar em exemplificar, os
presentes terceirizados para os dias: da Mãe, do Pai, das Crianças, do Professor.
Nessas relações de consumo, pode-se verificar a presença do lúdico pelo brinquedo que,
nesse cenário do consumo, é caracterizado como algo a ser investido financeiramente,
ou seja, tem que comprar para brincar. E o cavalo de pau, tão enfatizado por Vygotsky
em sua obra A formação social da mente? O que fizeram com ele? Ainda continua nas
prateleiras das pequenas e grandes lojas, mas com um toque especial da modernidade,
com imagem, com fetiche, em que a criança pode escolher o cavalo de diferentes
estilos, marcas e cores. Além disso, a criança pode escolher bichinhos, bonecas, heróis,
casinhas, videogames, e outros. O próprio mercado trabalha para a criança (alvo de seu
lucro), e assim revitaliza a especificidade da mesma, resgatando e trabalhando o mundo
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infantil, através do marketing ‘criança-brinquedo’, ‘criança-lúdico’, ‘criança-moda’,
‘criança-consumidora’.
Percebe-se, então, que esses questionamentos são desafios para o encaminhamento da
investigação sobre a constituição da individualidade da criança, no intuito de esclarecer
o significado social da infância na atualidade frente ao consumo, buscando uma
proposta diferenciada sobre o pensar infantil a partir dos fundamentos do materialismo
histórico. Nessa perspectiva, a criança não é meramente um consumidor necessário, mas
um sujeito histórico que constrói e reconstrói a história e que participa ativamente dessa
conjuntura social e econômica.
É nesta perspectiva que entendemos deva ser orientado o trabalho pedagógico da
educação infantil, superando a lógica do mercado, da padronização, propondo
estratégias lúdicas e diferenciadas em favor da individualidade infantil, da criatividade,
da experiência, da descoberta, da ampliação do conhecimento (do empírico para o
conhecimento científico).
2. OBJETIVOS
Em se tratando dos objetivos gerais, tem-se como propósito analisar as relações de
consumo na contemporaneidade e o processo de mediação do professor de educação
infantil na constituição da individualidade de crianças entre 4 e 5 anos.
Quanto aos objetivos específicos, a intenção é caracterizar a sociedade capitalista
contemporânea a partir da segunda metade do século XX (3ª Revolução Industrial),
analisando os conceitos de: relação, consumo, formação, processo, individualidade,
contemporaneidade, infância.
Pensa-se, ainda, em analisar a atual sociedade, tendo como referência a lógica do
mercado e do consumo, com algumas categorias: fetichização, sedução, padronização,
enquadramento social e individual, indústria cultural, novas experiências do tempo e
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espaço, relação entre necessário e supérfluo, avanço da tecnologia. O exercício teórico-
epistemológico se faz na compreensão de como se configuram as relações entre o
consumo e o trabalho pedagógico do professor mediador da aprendizagem de crianças
entre 4 e 5 anos.
O intuito também é visível na observação da prática pedagógica, através do estudo de
caso, tendo como categoria de análise o discurso do professor, a prática de mediação, o
uso de materiais didáticos e atividades planejadas; bem como a relação entre o discurso
e a prática docente. Ainda, observar o contexto da sala de aula e a relação professor-
aluno e, ainda, analisar o comportamento da criança durante essa relação em sala de
aula.
3. BREVE REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Escravo e não rei de tudo o que me rodeia, comprimido em um ponto envolvido pela imensidão, começo procurando a mim mesmo.
Fraçois M. A. de Voltaire.
Este estudo tem como foco principal investigar o conceito de infância, as relações de
consumo e a constituição da individualidade, a partir da mediação do professor que
trabalha com crianças entre 4 e 5 anos na escola da infância. Para tanto, busca-se
analisar como as práticas pedagógicas têm expressado seus conceitos sobre sociedade,
educação e indivíduo na sociedade contemporânea. Se considerarmos que a educação
infantil é expressão e reprodução da sociedade de consumo, fica distante a concepção de
educação e sujeito ressaltada por Adorno (apud PUCCI, 1995 p.61-62), quando escreve:
[...] concebo como sendo educação [...] não a assim chamada moldagem dos seres humanos, porque não temos o direito algum de moldar pessoas a partir do exterior; mas também não a mera transmissão do saber, cuja característica de coisa morta, reificada já explicitada, e sim a produção de uma consciência verdadeira [...].
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Nesse propósito, é relevante pensar como vem sendo construída a concepção de infância
na contemporaneidade, a partir da lógica do consumo e padronização humana. Por sua
condição de fraqueza e de promessas, a criança configura forças no seio da sociedade,
seja atraindo as atenções de empresas como público consumidor ou como forma de
trabalho, seja prefigurando uma imagem de gestação. Frases como estas são ouvidas
diariamente: “as crianças precisam ser educadas para competir no mercado global do
futuro”.
Os sujeitos, sejam adultos ou crianças, sentem cada vez mais a necessidade de consumir
mercadorias que dão satisfação e conforto. Entretanto, muitas vezes, essas necessidades
não são as fundamentais, ou seja, as vitais (roupa, alimento, moradia), mas as supérfluas
que se tornam fundamentais na lógica do consumo.
O desejo pelo consumo encerra na obediência a uma ordem anunciada pelos meios de
comunicação. Cada um quer ser igual aos outros no ato de consumir, de ser feliz, ser
livre, pois essa é a ordem a que inconscientemente todos obedecem; correndo o perigo
de se sentirem infelizes se forem diferentes, se não consumirem. Perde-se, com isso a
subjetividade humana em favor de uma padronização, seja nos gostos, hábitos ou
valores e sensações (MARCUSE, 1973). Nesse sentido, o diferente é considerado um
delito.
Palangana (1998 p.153) complementa essa afirmação, ao considerar que tanto os
adultos, quanto as crianças vivem e convivem diariamente com a possibilidade da
obtenção do prazer, que para a autora é um “[...] prazer pervertido, cujo fundamento é
deslocado para o consumo [...]”. Afirma, ainda que a “[...] identidade particular se perde
na universal. Sob o domínio dos monopólios todas as culturas são massificadas,
identificando-se”. Contudo, é necessário pensar que há o padrão da moda, do momento
histórico, mesmo que a moda modifique. Isso não significa despadronização, mas uma
nova padronização.
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Nesse sentido, verifica-se que, segundo Marcuse (1997 p.29) “as criaturas se
reconhecem em suas mercadorias, encontram sua alma em seu automóvel, casa em
patamares, utensílio de cozinha”.
Em meio a tanta mudança na esfera econômica e social e a tanta novidade, questiona-se:
Em que lugar as crianças estão? O que fazem? Quem são elas? Como estão? De que
formas reagem a tantas mudanças? Como constituem sua individuação nesse mundo
social? Que certezas e incertezas vêm trazendo para o mundo atual? Que experiências
têm vivenciado frente ao consumo exacerbado? Que tipo de experiências constroem nos
espaços educativos em que participam diariamente?
É partindo desses questionamentos que se fundamenta essa pesquisa a fim de entender,
na história das transformações da sociedade capitalista e nas relações de consumo – em
suas rupturas e continuidades – a constituição da individualidade infantil a partir da
mediação do professor que atua diretamente com crianças entre 4 e 5 anos na escola da
infância.
Em relação a esses questionamentos, verifica-se que na educação voltada à infância,
muitas vezes, têm-se reforçado e alimentado à lógica do consumo, da padronização e
enquadramento intelectual. Nesse sentido, é freqüente o uso de apostilas, que tem
anulado a própria prática da descoberta, da pesquisa, da inovação e construção do
conhecimento pelo educando que pode ser experienciado pela didática do trabalho com
projetos, temas de interesse ou tema gerador.
Assim, a partir das concepções filosóficas que fundamentam a teoria histórico-cultural,
percebe-se a possibilidade de uma nova escola que se estrutura pela construção ativa e
coletiva entre os profissionais envolvidos; com ações em prol da pedagogia da escuta,
ou seja, a capacidade do educador intelectual ouvir e interpretar as necessidades e
motivos das crianças, capaz ele próprio de formular intencionalmente caminhos e
práticas que venham contribuir para a superação dos “métodos pré-fabricados, de
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soluções organizativas e didáticas pré-confeccionadas, a superação de preconceitos que
já fazem parte do senso comum pedagógico”. (MELLO, 2007 p.05).
Nesse sentido, vale destacar a necessidade de se atribuir um novo significado às
atividades propostas às crianças na educação infantil. Mello (2007 p.7) reforça com a
seguinte contribuição:
O brincar, o jogo de faz-de-conta e a experimentação infantil passam a ser vistos como elementos essenciais para o conhecimento do mundo, para a apropriação de valores, para o desenvolvimento de funções tipicamente humanas, como o pensamento, a percepção, a memória, a atenção. Respeitada em seu direito à infância, a criança passa a ter tempo livre na escola para experimentar, conhecer e conhecer-se [...]. Reestruturam-se os conteúdos que passam a valorizar os desejos de conhecimento das crianças – que são muitos – como estratégias na ampliação do conhecimento do mundo e de criação de novos desejos de conhecimento [...].
Por tudo isso, entende-se que a apropriação de uma teoria que permita uma leitura para
além da utilidade e padronização humana, devolve efetivamente aos espaços de
educação infantil e, especificamente, ao educador o exercício de sua atividade
intelectual ao viabilizar uma nova atitude como educador, pautada nos pressupostos de
valorização do ser infantil, oportunizando para cada criança o desenvolvimento de suas
possibilidades humanas e sociais, principalmente a formação da subjetividade infantil.
4. DESCRIÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA
A opção pela pesquisa de natureza qualitativa descritiva consiste numa expansão do
estudo teórico sobre o tema que trata das Relações de Consumo na Sociedade
Capitalista e a Mediação do Professor na Constituição da Individualidade de crianças
entre 4 e 5 anos.
Deste modo, a pesquisa orienta-se para um estudo teórico e prático, com o propósito de
refletir, analisar e buscar encaminhamentos que permitam compreender o significado
social da infância e individualidade para além da lógica de padronização e de consumo,
tão destacado pelo mercado produtivo.
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Para tanto, o estudo teórico consiste em uma pesquisa bibliográfica com leituras de
obras de autores que discutem essa temática a partir de uma análise crítica da realidade,
tendo como referência básica, as obras de Karl Marx, Leontiev, Vygotsky. Ainda, para
uma análise mais crítica e precisa da sociedade do consumo, são válidas as indicações
para o estudo do século XX, as notáveis referências sobre o assunto que são: Marcuse,
Adorno e Horkheimer da Escola de Frankfurt.
Para esse estudo têm-se como categoria de análise a compreensão das relações de
consumo e a constituição da individualidade na criança a partir das referências teóricas
afirmadas anteriormente. Para tanto, o entendimento sobre o conceito de indivíduo,
individual, individualidade, individualizar se faz urgente e necessário.
Buscando um primeiro olhar conceitual a partir do dicionário da Língua Portuguesa,
encontram-se as seguintes definições:
Indivíduo. 1. Exemplar de um ser em relação à sua espécie. 2. A pessoa humana. 3. Uma pessoa qualquer, sujeito [...]. Individual. 1. Próprio do indivíduo. 2. Que pertence a uma só pessoa. 3. Singular pessoal [...]; Individualidade. 1. O todo do indivíduo ou do ser. 2. Conjunto das qualidades que caracterizam o indivíduo. 3. Personalidade. 4. Originalidade; Individualizar. 1. Tornar individual. Caracterizar, distinguir, especializa-se. 2. Distinguir-se (KURY, 2001 p. 424)
A pesquisa será realizada a partir do referencial teórico-metodológico do materialismo
histórico-dialético. Destarte, a investigação funda-se na concepção de que o pensamento, as
idéias são “reflexos” 2, que se constituem:
[...] no plano da organização nervosa superior, das realidades e leis dos processos que se passam no mundo exterior, os quais não dependem do pensamento, têm suas leis específicas, as únicas reais, de modo que só compete à reflexão racional apoderar-se das determinações existentes entre as próprias coisas e dar-lhes expressão
2 Segundo Schaff, (1964 apud FAZENDA, 1994 p.75) o reflexo designa a “relação cognitiva específica que se estabelece entre os conteúdos de certos atos psíquicos e os seus correlativos sobre a forma de elementos definidos no mundo material”.
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abstrata, universalizada, que corresponde ao que se chamará então de “idéias” e “proposições” (PINTO, 1979 apud FAZENDA, 1994 p.75).
Ainda, em continuidade, toma-se o conceito de reflexo sob sua dimensão “genética,
sociológica ou gnosiológica” (FAZENDA, 1994 p.75), sendo que em qualquer destas
acepções está implícita a admissão da existência da realidade objetiva, isto é, uma
realidade que existe “independentemente das idéias e do pensamento”. Diante disso, é
necessário compreender que o reflexo não consiste em expressar toda a realidade, mas
constitui-se na apreensão subjetiva da realidade objetiva, ou seja, implica a
subjetividade. (FAZENDA, 1994).
Nesse sentido, a dialética situa-se, então, no plano da realidade, no plano histórico, sob
a forma de trama das relações contraditórias, conflitantes, de leis de construção,
desenvolvimento e transformação dos fatos. Portanto, o desafio do pensamento – cujo
campo próprio de mover-se é o plano abstrato, teórico – é trazer para o plano do
conhecimento essa dialética do real.
Amparada por uma leitura em Marx, como fundador do materialismo histórico,
explicita-se nessa pesquisa a preocupação em desenvolver uma postura dialética
materialista de investigação, com o movimento de superação e de transformação da
realidade e do pensamento. Assim, Fazenda (1994 p.79) anuncia um pequeno fragmento
escrito por Marx no posfácio à 2ª edição de O Capital em que fala de seu método de
forma sucinta, através de um de seus críticos:
Para Marx, só importa uma coisa: descobrir a lei do fenômeno de cuja investigação ele se ocupa. E para ele é importante não só a lei que se rege, a medida que eles têm forma definida e estão numa relação que pode ser observada em determinado período de tempo. Para ele o mais importante é a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, isto é, transição de uma forma para outra, de uma ordem de relações para outra. Uma vez descoberta essa lei, ele examina detalhadamente as conseqüências por meio das quais ela se manifesta na vida social (...). Por isso Marx só se preocupa com uma coisa: provar mediante escrupulosa pesquisa científica a necessidade de determinados ordenamentos de relações sociais e, tanto quanto possível, constatar de modo irrepreensível os fatos que lhe servem de ponto de partida e de apoio. (FAZENDA, 1994 p.79).
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Assim, a intenção é desenvolver a pesquisa a partir de um estudo teórico bibliográfico
e um estudo de caso, com a finalidade de desenvolver reflexões e, ainda, analisar como
vem sendo constituída a individualidade de crianças (4 e 5 anos) a partir da leitura que o
professor mediador faz da sociedade contemporânea e, principalmente, das relações de
consumo.
Na situação específica vivida nos dias atuais pela educação infantil, a contribuição dos
fundamentos teórico-metodológicos do materialismo histórico permite um repensar dos
papéis vividos por educadores e crianças nos processos de ensino, orientando “o agir de
adultos e crianças na escola infantil e para a instalação de práticas que possibilitem o
máximo desenvolvimento humano a todas as crianças”. (MELLO, 2007 p. 3).
A opção pelo estudo de caso se faz por acreditar para este momento de investigação,
que é o mais relevante para esse tipo de análise, uma vez que os resultados são válidos
só para o caso que se estuda, sem intenção de generalizar tais informações. Ainda, o
estudo de caso fornece o conhecimento aprofundado de uma realidade delimitada.
Esse estudo de caso será desenvolvido sob a forma de pesquisa de natureza qualitativa
descritiva que intenta captar não só a aparência do fenômeno (fato) como também sua
essência (subjetivo). Contudo, a pesquisa preocupa-se com a causa desse fenômeno,
procurando explicar sua origem, suas relações, suas mudanças e se esforça por intuir as
conseqüências que haverá para a vida em sociedade.
Para tanto, como melhor compreensão desse estudo, descreve-se na seqüência das idéias
desse texto, o processo de seleção e caracterização dos elementos para a pesquisa
qualitativa. Por isso, opta-se pelo estudo com sujeitos, sendo um (a) professor (a) com
pelo menos cinco anos de experiência no magistério com docência em dois Centros de
Educação Infantil no Município em Londrina e, aproximadamente vinte e cinco
crianças entre a idade de 4 e 5 anos de cada espaço de educação infantil. Além disso,
conta-se com análise do material didático utilizado pelo professor mediador em sala de
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aula e, ainda, com as atividades planejadas e aplicadas com as crianças. Os dois Centros
de Educação Infantil terão como critério de seleção, o contexto social e econômico dos
mesmos, sendo, portanto um espaço público e ou filantrópico e outro particular.
O tempo de levantamento de dados se projeta em no máximo 03 meses, sendo que a
participação da pesquisadora far-se-á duas vezes por semana em horário pré-
estabelecido juntamente o professor e coordenação geral da escola, a fim de delimitar o
estudo com o tempo planejado pelo professor para a atividade realizada em sala
(conteúdo e áreas do conhecimento). 3
Para o estudo de caso opta-se pela observação não-participante, também conhecida
como observação passiva, a fim de apenas levantar elementos necessários para a análise
da realidade. A observação deter-se-á na análise do discurso do professor mediador em
sala de aula antes, durante e depois das atividades previamente elaboradas por ele (a).
Assim, a observação far-se-á com a finalidade de compreender: a mediação do professor
no processo de ensino e aprendizagem a partir do trabalho articulado com as áreas do
conhecimento4; a relação professor-aluno; material didático (confeccionados e
adquiridos via consumo); discurso narrativo e prática do professor; atividades
planejadas.
Além das observações tem-se como proposta analisar o discurso do professor via
entrevista semi-estruturada com apresentação de um roteiro básico de questões
abertas e fechadas, uma vez que esse roteiro não tem a intenção de ser aplicado
rigidamente, mas enquanto encaminhamento necessário para atingir os objetivos e
propósitos da pesquisa, permitindo assim, que se façam as adaptações que julgarem
necessárias. Conta-se com recursos técnicos que complementam as leituras e
3 Considera-se relevante informar que esse projeto de pesquisa com seres humanos, foi apresentado ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá, e aprovado por esse comitê. 4 É sabido que o trabalho na educação infantil envolve ações interdisciplinares que se articulam e se completam a partir das áreas do conhecimento: linguagem oral e escrita; pensamento matemático; ciências naturais e sociais; ética, estética e sensibilidade artística; música, corpo e movimento; educação física, entre outras. Mais informações encontra-se no Referencial Curricular para a Educação Infantil (BRASIL. 1998).
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observações no campo de pesquisa, sendo tais instrumentos: gravador, diário de campo,
roteiro de questões abertas e fechadas, máquina fotográfica.
O uso dos recursos possibilita ao pesquisador adicionar uma quantidade crescente de
dados à pesquisa, cabendo ao pesquisador elencar seus propósitos da forma mais clara e
evidente, a fim de que os recursos sejam complementados às leituras e observações do
estudo de caso.
5. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
A N O : 2 0 0 8
Etapas Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Leituras orientadas
Disciplinas Obrigatórias e Eletivas
Estágios de Docência
Reformulação do Projeto
Escolha do campo de pesquisa
Levantamento Bibliográfico
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A N O : 2 0 0 9
Etapas Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Leituras orientadas
Projeto - Comitê de Ética
Pesquisa de Campo
Redação Inicial – Diário de Campo
Levantamento Bibliográfico
Redação Inicial – Análise e Discussão dos Dados
A N O : 2 0 1 0
Etapas Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Leituras orientadas
Redação da Tese
Qualificação
Eventuais alterações
A N O : 2 0 1 1
Etapas Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Defesa Pública
Entrega Final da Tese
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As leituras e reflexões que aqui se propõe fazem na tentativa de caracterizar esse novo
tempo social, marcado por diversas alterações, seja na relação com o tempo, espaço,
produção, bem como a constituição da individualidade a partir da condição social.
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Em se tratando do que se propõe estudar nessa pesquisa, verifica-se, nesse cenário
contemporâneo uma ênfase sem medida nas relações de consumo e produção e, com
isso, é tranquilamente visível perceber sua interferência no mundo social e econômico,
principalmente no mundo das relações humanas; alterando, contudo, propósitos, idéias,
comportamentos, grupos de relações, preferências, narrativas, imagens, entre outras
características.
Inquietada por essa leitura contemporânea, é que se faz este estudo. Para tanto, os
pontos de discussão enveredam-se para a temática sobre experiência do tempo-espaço
contemporâneo; as relações de consumo e a estética da mercadoria; indústria cultural e a
teoria crítica; tecnologia, sistema de controle e cultura midiática; a crise dos sentidos e
os sentidos de nossa crise.
Em acordo com as contribuições teóricas de Duarte (2003) verifica-se que a Idade
Contemporânea surge sob a égide de uma potencial igualdade completa entre os
homens: não há mais nada que, substancialmente, determine o fato de que alguns devam
apenas trabalhar e outros possam também (ou somente) se deleitar.
Entretanto, de início, a intenção é deixar clara a idéia de que não há interesse em criticar
sob uma representação particular, embora acredite que não seria difícil mostrar uma
percepção subjetiva enquanto pesquisadora a partir das leituras desse contexto atual. Em
contrapartida a pretensão está em concentrar-se no propósito de analisar como essa
interpretação do novo tempo-espaço social contemporâneo pode ser afirmado e
reafirmado com tanta confiança além de ser tão bem recebido pelo ser humano a partir
do social e do individual.
Diante de tal afirmativa acima, vale considerar a necessidade de uma provocação teórica
que possibilite o repensar da temática em que se propõe nessa pesquisa. A idéia não se
restringe ao fechamento em respostas; mas ao contrário uma abertura de pensamento e
leituras que venham subsidiar a compreensão dessa totalidade social e econômica
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contemporânea que tem seduzido diariamente pessoas de todas as idades, de relações
econômicas divergentes, ou seja, grupos diferentes para a lógica do consumo e da
mercadoria.
REFERÊNCIAS
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