AS RESERVAS TÉCNICAS DOS MUSEUS E OS OBJETOS...

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1796 AS RESERVAS TÉCNICAS DOS MUSEUS E OS OBJETOS Andréa Lacerda Bachettini / Universidade Federal de Pelotas Juliane Conceição Primon Serres / Universidade Federal de Pelotas Carla Rodrigues Gastaud / Universidade Federal de Pelotas Comitê Patrimônio, Conservação e Restauro AS RESERVAS TÉCNICAS DOS MUSEUS E OS OBJETOS Andréa Lacerda Bachettini / Universidade Federal de Pelotas Juliane Conceição Primon Serres / Universidade Federal de Pelotas Carla Rodrigues Gastaud / Universidade Federal de Pelotas RESUMO O presente artigo apresenta uma reflexão sobre os objetos e as reservas técnicas dos museus, fazendo parte do projeto de tese de doutorado desenvolvido na linha de pesquisa “Instituições de Memória e Gestão de Acervos” , do Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. PALAVRAS-CHAVE objetos; reserva técnica; conservação preventiva; museu. ABSTRACT This article presents a reflection on the objects and storages of museums as part of the doctoral thesis project developed in the research line "Memory Institutions and Archives Management", at the Post-graduation Program in Social Memory and Cultural Heritage, Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas. KEYWORDS objects; storage; preventive conservation; museum.

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1796 AS RESERVAS TÉCNICAS DOS MUSEUS E OS OBJETOS Andréa Lacerda Bachettini / Universidade Federal de Pelotas Juliane Conceição Primon Serres / Universidade Federal de Pelotas

Carla Rodrigues Gastaud / Universidade Federal de Pelotas Comitê Patrimônio, Conservação e Restauro

AS RESERVAS TÉCNICAS DOS MUSEUS E OS OBJETOS Andréa Lacerda Bachettini / Universidade Federal de Pelotas Juliane Conceição Primon Serres / Universidade Federal de Pelotas Carla Rodrigues Gastaud / Universidade Federal de Pelotas RESUMO O presente artigo apresenta uma reflexão sobre os objetos e as reservas técnicas dos museus, fazendo parte do projeto de tese de doutorado desenvolvido na linha de pesquisa “Instituições de Memória e Gestão de Acervos”, do Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. PALAVRAS-CHAVE objetos; reserva técnica; conservação preventiva; museu. ABSTRACT

This article presents a reflection on the objects and storages of museums as part of the doctoral thesis project developed in the research line "Memory Institutions and Archives Management", at the Post-graduation Program in Social Memory and Cultural Heritage, Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas. KEYWORDS objects; storage; preventive conservation; museum.

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É preciso, inicialmente, apresentar alguns conceitos importantes acerca dos objetos

e das reservas técnicas dos museus, os quais serão tratados neste artigo com a

intenção de fazer uma reflexão sobre estes espaços de guarda dentro das

instituições museais.

O primeiro conceito apresentado é o de objeto que tem sua origem no latim objectu

e significa: por, lançar, diante, expor. Ainda pode significar:

“1. Tudo que é aprendido pelo conhecimento, que não é sujeito do conhecimento. 2. Tudo que é manipulável e/ou manufaturável. 3. Tudo que é perceptível por qualquer dos sentidos...”. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p.1208)

Já na filosofia o significado é generalíssimo e corresponde ao significado de coisa.

“O objeto é o fim a que se tende a coisa que se deseja, a qualidade ou a realidade

percebida, a imagem da fantasia, o significado expresso ou o conceito pensado”.

(ABBAGNANO, 2000, p. 732)

Outro significado que “os objetos apresentam é o seu caráter artificial já que é um

produto manufaturado e especifico do homem” (SOARES, 1998, p.34).

Este caráter é assinalado por Moles (apud SOARES, 1998, p.34) quando diz:

O objeto tem ao mesmo tempo um caráter passivo e fabricado. Ele é fruto do Homo Faber e mais ainda, produto de uma civilização

industrial: uma caneta, uma lâmpada de escritório, um ferro de passar, são objetos no mais completo sentido da palavra.

No que se refere à obra de Pomian (1984, p. 66) os objetos “participam no

intercâmbio que une o mundo visível e o invisível”. Para o autor situar os objetos que

“representam o invisível”, “sua recolha e, sobretudo, a produção de objetos que

representam o invisível testemunham a emergência da cultura no sentido próprio do

termo”. Seria a separação da natureza. Antes de produzir instrumentos a vida do

homem era totalmente atrelada ao visível. Divisão do mundo visível: de um lado os

objetos, coisas úteis “tais como podem ser consumidos ou servir para obter bens de

subsistência”, objetos que sofrem “modificações físicas, consomem-se”. De outro

lado, “os semióforos, objetos que não tem utilidade, são dotados de um significado,

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não sendo manipulados, mas expostos ao olhar, não sofrem usura” (POMIAN, 1984,

p. 71).

No que diz respeito à relação da utilidade e significado no caso dos objetos, Pomian

apresenta três situações possíveis: 1) uma coisa tem apenas utilidade sem ter

significado; 2) um semióforo tem apenas significado sem ter utilidade; 3) objetos que

podem parecer ao mesmo tempo coisas e semióforos. Mas todos necessitam um

observador que os atribui sentido. Portanto, “um semióforo ascende à plenitude do

seu ser semióforo quando se torna uma peça de celebração e, o mais importante, é

que a utilidade e o significado são reciprocamente exclusivos: quanto mais carga de

significado tem um objeto, menos utilidade tem, e vice-versa” (POMIAN, 1984, p.72).

Deve-se acrescentar neste momento o termo “objeto de museu” ou musealia (pouco

utilizado), “é uma coisa musealizada, sendo “coisa” definida como qualquer tipo de

realidade em geral” (DESVALLÉES e MAIRESSE, 2013, p. 68).

Segundo Desvallées e Mairesse (2013, p. 68): “a expressão ‘objeto de museu’

poderia passar por pleonasmo, na medida em que o museu é o local destinado a

abrigar objetos, mas também um local cuja função principal é a de transformar as

coisas em objetos.”

Para os autores “é possível apresentar o museu como uma das grandes instâncias

de ‘produção’ de objetos” pelo seu trabalho de aquisição, de pesquisa, de

preservação e de comunicação (DESVALLÉES e MAIRESSE, 2013, p. 69).

Desvallées e Mairesse (2013, p. 70) afirmam que:

Os objetos no museu são desfuncionalizados e “descontextualizados”, que significa que eles não servem mais ao que eram destinados antes, mas que entraram na ordem do simbólico que lhes confere uma nova significação (o que conduziu krysztof Pomiam a chamar esses “portadores de significado” de semiófaros) e a lhes atribuir um novo valor – que é primeiramente

museal, mas que pode vir a possuir valor econômico Tornando-se, assim, testemunhos (con) sagrados da cultura.

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Certamente que todos os conceitos e definições sobre o “objeto” exposto acima

estão relacionados com vida do homem em seu habitat, que faz sua utilização e dá

sua significação a estes objetos.

Portando, pergunta-se “por que se guardam objetos?” Guardam-se coisas que nos

são caras, para recordar e para não esquecer.

Conforme abordado por Mendonza guardar objetos para usá-los no futuro é uma

constante da espécie humana. Todo objeto guardado, “conservado” neste sentido

simples, fica subtraído à temporalidade presencial e se transforma numa

temporalidade indefinida, que pode depender tanto do objeto em si ou do sujeito que

decidirá quando voltará a usá-lo (2005, p. 218).

De acordo com Mendonza (2005, p. 219) é claro que não se guarda todos os objetos

com esta intenção, pois, já que desde que se decide conservá-los sabe-se que não

poderão prestar o mesmo uso. Portanto, se guarda objetos porque são testemunhos

de um presente que se quer recordar. E ainda, porque representam a possibilidade

de evocar um passado cuja memória se quer conservar, mediante a um suporte

físico. Em suma, os objetos se tornam apoios da memória.

A autora ainda afirma que quem guarda algo na realidade não guarda só para si e

para sua própria memória e, sim, o guarda para qualquer outro sujeito capaz de

compreender, no futuro, o sentido desse objeto (MENDONZA, 2005, p. 219).

Sem dúvida, conservar diversos objetos do passado para o futuro é um feito decisivo

para a cultura humana (MENDONZA, 2005, p. 220).

Nas palavras de Vera Tostes (2005, p. 75) a instituição museal no mundo

contemporâneo não pode ser ignorada pela sua “trajetória multicentenária”, pois são

nos museus que estão armazenadas as coleções que “podem estabelecer estreito

laço afetivo com os usuários”.

Logo nesse local museal de memória é possível estabelecer relações entre a cultura

material e imaterial, já que é uma característica humana de guardar quase tudo que

se produz.

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Para Tostes (2005, p. 75) este comportamento gera um apego ao que é material,

tanto pessoal como coletivo, justificado razão de salvaguardar a memória. Mas

justifica-se dizendo que “o apego à vida é inerente à natureza humana e acaba se

manifestando de diversas formas”, dentre elas o “ato de colecionar” e de “preservar

o que é colecionado”.

De acordo com Carreño (2004, p.11) o museu teve sua origem no recolhimento e na

conservação de objetos valiosos, que para o autor são chamados de bens culturais,

que, em princípio, se reuniram para ostentação de poder, admiração das qualidades

e também com fins científicos, para finalmente fins educativos, colocando-os ao

alcance da sociedade.

Desvallées e Mairesse (2013, p. 22) dizem que: “concretamente, o museu trabalha

com objetos que formam as coleções”.

Retomando Tostes (2005, p. 76), a maioria dos museus tem como missão central

coletar e preservar, os museus ditos nacionais “onde as coleções estão em

permanente atualização”, o que torna o apego mais acentuado. Uma vez que este

apego faz com que se colete e preserve quase tudo, cria-se, portanto, um desafio

para as instituições, mas principalmente, para os “museus contemporâneos que é o

de saber o que coletar, o que preservar e o que fazer com o grande número de

objetos, sobretudo os que estão em suas reservas técnicas”.

Vale lembrar que as reservas técnicas são justamente o lugar de guarda dos objetos

e coleções que não estão em exposição, são elas o nosso principal interesse de

estudo.

Não se pode negar a importância desse espaço dentro das instituições, mas ao

mesmo tempo porque as reservas técnicas, que são o local de guarda dos acervos

das instituições museológicas, muitas vezes são esquecidas ou até negligenciadas

por essas mesmas instituições, uma vez que as reservas técnicas armazenam as

coleções e os objetos que possibilitam a preservação da memória e do patrimônio

de uma sociedade.

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As áreas de reserva técnica surgiram “da necessidade se reduzir as coleções

permanentes”, com isso, os museus no início do século XX tomam consciência da

necessidade de adequar os espaços do museu para salvaguarda dos objetos

(DESVALLÉES e MAIRESSE, 2013, p. 30).

Quanto ao episódio pós Segunda Guerra Tostes (2005, p.78–79) diz: a respeito à

reorganização das galerias após o término da guerra, com os graves problemas

socioeconômicos que os países enfrentavam, os museus tiveram que passar a exibir

novas práticas como também definir novos critérios para as condições ideais de

conservação. Os museus tiveram que deixar suas bases tradicionais e adaptaram

estratégias mais didáticas e sociais para mostrar a realidade pretendida. Isto trouxe

a necessidade da criação de espaços de guarda, as reservas técnicas, que

passaram a receber grande número de itens, quando foram estabelecidas normas

para a existência e conservação das coleções.

Portanto, só na segunda metade do século XX, novas funções aparecem e

conduzem a modificações arquiteturais:

multiplicação das exposições temporárias, permitindo uma distribuição diferente das coleções entre exposições de longa duração e os das reservas técnicas; desenvolvimento de estruturas de acolhimento, espaços de criação (ateliês pedagógicos) e áreas de descanso, o que se deu com a criação de espaços multiusos; e desenvolvimento de livrarias e restaurantes, além da criação de lojas para venda de produtos derivados. Contudo, paralelamente, a descentralização por agrupamento e por subcontratação de algumas funções dos museus demandou a construção ou a instalação de espaços especializados autônomos: primeiramente os ateliês de restauração e laboratórios, que podiam se especializar, colocando-se a serviço de vários museus, depois as reservas técnicas implantadas fora dos espações de exposição. (DESVALLÉES e MAIRESSE, 2013, p. 30)

No que se refere às reservas técnicas Antônio Mirabile (2010) considera a reserva

técnica particularmente importante para a preservação dos bens culturais, pois é o

local, onde com muita frequência, cerca de 95% do patrimônio do museu é

conservado. Para o autor, a reserva é o museu.

Hoje as reservas técnicas, em algumas instituições, lembram depósitos

desorganizados, são muitas vezes esquecidos e até negligenciadas. Claro que

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existem instituições em que as reservas técnicas apresentam as condições ideais

estabelecidas pelos organismos internacionais, mas não são muitas e, geralmente,

estão localizadas em museus nas grandes cidades.

Imagem apresenta uma reserva técnica desorganizada Fonte: http://www.re-org.info/en/register/why-storage-reorganization

Conforme lemos em Carvalho (2007, p. 36) “objetos em museus são afetados pelas

condições de guarda e exposição”. É fato que as condições ambientais inadequadas

podem causar vários danos às coleções. Por isso, os estudos sobre as coleções que

compõe o acervo são importantes, pois podem dar sobrevida a uma coleção através

da manutenção das áreas de guarda e exposição em condições estáveis.

Para Tostes (2005, p. 79) a influência da nova tendência museológica só foi refletir

no Brasil somente no inicio da década de 1960. Os grandes museus nacionais

passam por uma reorganização do circuito expositivo se adequando aos recentes

conceitos, retirando das galerias o que era considerado excesso. No entanto, sem

um projeto de local definido para proteção do excedente, grande parte dos acervos

foi, em algumas instituições, depositada em salas fechadas com avançados níveis

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de insalubridade, provocando com o passar dos anos, a deterioração de alguns

objetos e a falta de controle sobre eles.

Só por volta de 1970 surge a ideia de reserva técnica em oposição aos depósitos

desorganizados.

Imagem apresenta uma reserva técnica organizada

Fonte: http://www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc46/index2.asp?page=capa

Mesmo que a conservação preventiva tenha surgido na década de 70 do século XX,

sabe-se que no Brasil ainda temos muito a avançar, principalmente nos aspectos

relativos à guarda e manutenção de acervos, ainda existe pouco investimento,

apesar de serem abertos editais para qualificação da área museológica como um

todo.

Para Güths (2007, p. 27 apud Thomson) “Um mau restaurador pode destruir uma

obra e um mau conservador pode destruir uma coleção inteira.” Esta frase é muito

impactante, mostra a responsabilidade do profissional da área diante da preservação

do patrimônio. As questões que esta afirmação coloca confirmam a importância da

conservação preventiva.

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No que diz respeito à história da conservação, Casanovas reitera o pensamento de

Thomson dizendo que a “conservação não pode ser escrita a partir das bem

intencionadas resoluções adaptadas em conferências, embora possam ser úteis”

(CASANOVAS, 2008, p. 25 apud THOMSON).

Thomson é um dos percussores dos estudos da área da conservação preventiva

juntamente com Gael de Guichen. Através do ICCROM os dois especialistas

formaram um grande número de profissionais que hoje ainda atuam em museus

espalhados pelo mundo.

Para muitos teóricos e profissionais, Gael de Guichen definiu da melhor maneira a

visão gerencial que assumiu a conservação preventiva no século XX e

consequentemente ainda hoje. Gael nos diz:

Onde ontem se viam objetos, hoje devem ser vistas coleções. Onde se viam depósitos, devem ser vistos edifícios. Onde se pensava em dias, agora se deve pensar em anos. Onde se via uma pessoa, devem ser vistas equipes. Onde se via uma despesa de curto prazo, deve-se ver um investimento de longo prazo. Onde se mostram ações cotidianas, devem ser vistos programas e prioridades. A conservação preventiva significa assegurar a sobrevida das coleções (GUICHEN, 2012).

Corroborando, o conceito de conservação preventiva estabelecido pelo ICOM-CC

diz:

“são todas aquelas ações que tenham como objetivo evitar ou minimizar futuras deteriorações ou perdas. Geralmente são realizadas no contexto ou na área circundante ao bem, ou mais frequentemente em um grupo de bens, seja qual for sua época ou condições, são medidas e ações indiretas que não interferem nos materiais e estruturas dos bens e não modificam a aparência do bem”. (ABRACOR, 2010)

A conservação preventiva é o gerenciamento do ambiente da coleção, o que afastou

a posição dos conservadores como os únicos responsáveis pela preservação,

ampliando as suas possiblidades de ação e comprometimento num universo

multidisciplinar, envolvendo as esferas gerenciais e administrativas das instituições

culturais (CARVALHO, 2007).

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A Lei nº 11.904, do Estatuto dos Museus, no que se refere à Preservação,

Conservação, Restauração e Segurança:

Art. 21. Os museus garantirão a conservação e a segurança de seus acervos. Parágrafo único. Os programas, as normas e os procedimentos de preservação, conservação e restauração serão elaborados por cada museu em conformidade com a legislação vigente.

Art. 22. Aplicar-se-á o regime de responsabilidade solidária às ações de preservação, conservação ou restauração que impliquem dano irreparável ou destruição de bens culturais dos museus, sendo punível a negligência.

Art. 23. Os museus devem dispor das condições de segurança indispensáveis para garantir a proteção e a integridade dos bens culturais sob sua guarda, bem como dos usuários, dos respectivos funcionários e das instalações.

Parágrafo único. Cada museu deve dispor de um Programa de Segurança periodicamente testado para prevenir e neutralizar perigos.

É necessário frisar que o Estatuto dos Museus veio para qualificar a área

museológica, mas muitos museus ainda não conseguiram se adaptar às diretrizes

do estatuto. Espera-se que o Governo Federal continue investindo em programas

para qualificação dos museus.

Conforme Tostes (2005, p. 81) a realidade é hoje constituída de ações

independentes. Muitos museus apresentam pontos semelhantes como a carência de

pessoal e a falta de estratégias de segurança e conservação. Em âmbito

internacional o problema das áreas de guarda foi bem caracterizado pelo programa

RE-ORG, uma inciativa recente do ICCROM e da UNESCO, criado a partir de uma

pesquisa, em 2011, que apontou o abandono progressivo das áreas de

armazenamento dos museus, e apresentou resultados surpreendentes, mostrando

que este não é apenas um problema que afeta os países em desenvolvimento, mas

todos os países. A pesquisa apontou que 60% dos museus de todo o mundo estão

enfrentando este problema em particular, e as ferramentas e literatura sobre estas

questões são praticamente inexistentes.

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O historiador francês Dominique Poulot traz à discussão abertura das reservas

técnicas dos museus serem um direito democrático, não deixando a necessidade de

armazenagem dos objetos e que isso seria a materialização de um confisco

intolerável. (2013, p. 29) O autor afirma que a preocupação com as obras não

expostas é legítima. Sua argumentação diz:

Houve mesmo quem se divertisse, em determinado momento, em imaginar que a abertura de reservas dos museus parisienses, situados na periferia da cidade, poderia contribuir utilmente para sua democratização. Com toda a evidência, tal postura remete a uma inspiração de índole antropológica; as campanhas publicitárias destinadas a incentivar as visitas aos museus, no decorrer dos últimos dez anos, servem-se da promessa de revelar o segredo das reservas – por ocasiões de jornadas específicas – como se tratasse do último argumento. (2013, p.29)

A visitação das reservas técnicas conforme colocado por Poulot deixa a área da

conservação em alerta, muitos conservadores-restauradores ficam apreensivos, pois

a exposição dos objetos sempre é um risco, as questões de segurança, os fatores

de degradação, fatores ambientais e a própria ação humana sobre os objetos

merecem cuidados e estudos especializados.

O autor diz que a utopia de reservas suscetíveis de serem visitadas em nome da

comunicação parece renascer nos dias de hoje: tendo sido construído entre 2000 e

2002, o Schaulager – neologismo que significa ‘armazenar com a finalidade de

mostrar’ – é uma reserva acessível aos pesquisadores e coloca à sua disposição as

obras de uma Fundação na Basileia (2013, p.33).

A problemática da visitação das reservas técnicas merece atenção especial, levando

em consideração em primeiro lugar à segurança dos acervos, retomando o que diz

artigo 23 do Estatuto dos Museus: “Os museus devem dispor das condições de

segurança indispensáveis para garantir a proteção e a integridade dos bens culturais

sob sua guarda, bem como dos usuários, dos respectivos funcionários e das

instalações”.

Concluindo, o objeto quando musealizado passa a ter outra função, é

“descontextualizado” e “desfuncionalizado”, se torna um “objeto de museu” ou

“musealia”, nas exposições estes objetos são usados como símbolos de uma

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determinada época ou narrativa histórica, desta forma, apenas uma pequena parte

do acervo dos museus é exposta.

Parafraseando Loreiro, os objetos passam por processos que os convertem em

coisas de outra natureza. Ao perderem suas funções originais e adquirirem função

representacional, todas essas coisas são investidas de papéis essencialmente

diferentes daquelas para os quais foram criados: passam a significar e a conferir

significado a diferentes experiências, desprendendo-se de uma realidade imediata

para remeter e evocar realidades ausentes. Longe de refletir ou espelhar tais

realidades, entretanto, os objetos as recriam através de uma operação de

ressignificação.

Esse processo de musealização envolve estratégias voltadas à preservação desses

objetos que foram retirados de seu contexto original e transferidos para o museu

com a intenção de salvaguardar a realidade da qual foram retirados, no entanto,

acabam recebendo outras ressignificações.

Nas reservas técnicas estão a maior parte das coleções dos museus, nelas os

“objetos” são catalogados, classificados e armazenados de acordo com as normas

internacionais estabelecidas para conservação dos acervos. Geralmente, nesse

processo de catalogação os objetos são reunidos por tipologias de materiais

deixando de lado a relação com seus antigos proprietários, o que pode ocasionar a

dissociação dos objetos com relação aos seus proprietários anteriores, acarretando

em perda de informação e consequentemente no empobrecendo de possíveis

leituras.

Em suma, é necessária a realização de uma qualificada documentação museológica

e principalmente que os espaços de guarda garantam as condições para a

preservação desses objetos.

Do que foi exposto e que se tem observado durante o desenvolvimento do projeto de

pesquisa de doutorado é que muitas áreas de reserva não têm as condições ideais

na maioria dos museus, por isso a necessidade de estudos que instrumentem as

instituições e suas reservas técnicas.

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Referências

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Andréa Lacerda Bachettini

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do ICH/UFPel. Mestre em História pela PUCRS (2003). Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais pelo CECOR/EBA/UFMG. Especialista em Patrimônio Cultural: Conservação de Artefatos pelo ILA/UFPel. Bacharel em Pintura e Gravura pelo ILA/UFPEL. Professora do Departamento de Museologia e Conservação e Restauro do Instituto de Ciências Humanas da UFPEL. E-mail: [email protected] Juliane Conceição Primon Serres

Doutora em História pela UNISINOS (2009). Mestre em Museologia pela Universidad de Granada, Espanha (2010). Mestre em História pela UNISINOS (2004). Licenciada em História pela UFSM (2001). Professora do Departamento de Museologia e Conservação e Restauro do Instituto de Ciências Humanas da UFPEL, atua nos Curso de Museologia e Conservação e Restauro e no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. E-mail: [email protected]

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1810 AS RESERVAS TÉCNICAS DOS MUSEUS E OS OBJETOS Andréa Lacerda Bachettini, Juliane Conceição Primon, Carla Rodrigues Gastaud / Universidade Federal de Pelotas Comitê Patrimônio, Conservação e Restauro

Carla Rodrigues Gastaud

Doutora em Educação pela UFRGS (2009). Mestre em História pela UFRGS (1998). Graduada em História pela UFPEL (1994). Graduada em Direito pela UFPEL (1987). Professora e Chefe do Departamento de Museologia e Conservação e Restauro do Instituto de Ciências Humanas da UFPEL, atua nos Curso de Museologia e no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. E-mail: [email protected]