AS VERDADES SUBJETIVAS - Igreja em Serra · Este livro é composto de mensagens dadas em chinês...

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AS VERDADES SUBJETIVAS NAS ESCRITURAS SAGRADAS Witness Lee Título do original em inglês: The Subjective Truths in the Holy Scriptures SUMÁRIO 1. Os dois aspectos das Verdades as Escrituras Sagradas 2. As verdades subjetivas no evangelho de João 3. As verdades subjetivas acerca da igreja no evangelho de João 4. Deus passou por um processo para se tornar o Espírito que dá vida 5. Viver por Cristo para expressá-Lo 6. Santificação, transformação e conformação 7. Crescimento e edificação 8. O grande mistério da piedade: Deus manifestado na carne PREFÁCIO Este livro é composto de mensagens dadas em chinês pelo irmão Witness Lee na conferência internacional realizada em Taipé, Taiwan, em outubro de 1977. Estas mensagens não foram revisadas pelo palestrante.

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AS VERDADES SUBJETIVAS

NAS ESCRITURAS SAGRADAS

Witness Lee

Título do original em inglês: The Subjective Truths in the Holy Scriptures

SUMÁRIO

1. Os dois aspectos das Verdades as Escrituras Sagradas 2. As verdades subjetivas no evangelho de João

3. As verdades subjetivas acerca da igreja no evangelho de João 4. Deus passou por um processo para se tornar o Espírito que dá vida

5. Viver por Cristo para expressá-Lo

6. Santificação, transformação e conformação

7. Crescimento e edificação

8. O grande mistério da piedade: Deus manifestado na carne

PREFÁCIO

Este livro é composto de mensagens dadas em chinês pelo irmão Witness Lee

na conferência internacional realizada em Taipé, Taiwan, em outubro de 1977. Estas mensagens não foram revisadas pelo palestrante.

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CAPÍTULO UM

OS DOIS ASPECTOS DAS VERDADES NAS ESCRITURAS SAGRADAS

Leitura Bíblica: Jo 1:12-13; 3:6b; Gl 1:16a; 2:20a; 4:19; Ef 3:16-17a, 19b; 5:30

Graças ao Senhor, pois podemos realizar esta conferência. Estamos todos contentes por haver aqui representantes de todas as igrejas nos seis continentes. Devemos louvá-Lo porque temos irmãos vindos da África. Não é insignificante que estejamos todos reunidos aqui. Não apenas nos alegramos no coração, como também nos regozijamos no espírito, porque o Senhor nos reuniu aqui de várias cidades, nações e línguas, vindos de toda a terra. Isso não é somente doutrina para nós; antes, é uma realidade. Políticos, educadores e outros profissionais no mundo fizeram de tudo para unir os povos, contudo jamais foram bem-sucedidos. Hoje em Cristo não precisamos fazer nada, ainda assim pessoas dos seis continentes estão reunidas num só lugar. Aleluia! A primeira coisa que quero fazer diante do Senhor nesta reunião é apresentar os representantes de cada continente.

A ORIGEM DO ENCARGO DESTAS MENSAGENS

Desde quando os irmãos decidiram realizar esta conferência, passei a buscar o Senhor sem cessar quanto ao que Ele queria falar conosco. Nos últimos meses busquei o Senhor em oração e procurei saber o que Ele queria dizer a todas as igrejas na terra hoje. Entretanto, até duas semanas atrás, ainda não tinha clareza. Então há treze dias, num domingo, o dia do Senhor, algo ocorreu. Próximo ao local de reuniões da igreja em Anaheim, Califórnia, reúne-se um grupo pentecostal comparativamente numeroso. Esse grupo, que se opõe ativamente à restauração do Senhor há alguns anos, pode ser considerado o berço, o nascedouro, da oposição à restauração do Senhor em toda a terra. Eles fizeram de tudo para destruir a restauração por meio de seus escritos e ações. Isso ocorre especialmente porque, desde que a igreja do Senhor foi para a cidade de Anaheim, nosso número cresceu muito em apenas dois ou três anos, e também porque construímos um local de reuniões que se tornou notório nos Estados Unidos. Esses dois fatores tornaram-se virtualmente uma ameaça para eles; por isso, opõem-se a nós ativamente. Treze dias atrás, no domingo à noite, eles ficaram duas horas e meia numa conferência com o fim específico de propagandear coisas negativas a nosso respeito. Mais de quinhentos irmãos que se reúnem conosco foram àquela reunião e gravaram as palavras de oposição ditas contra nós naquele período. Na manhã seguinte os cooperadores se reuniram e transcreveram essas palavras e examinaram os itens que eram contra nós. Imediatamente dez irmãos tiveram o encargo de escrever uma refutação para cada um dos dezesseis itens, e essa refutação foi publicada num jornal. Eu não estava entre esses dez irmãos e não precisei falar nada. Louvado seja o Senhor! Entretanto, pelo relato que os irmãos fizeram e pelo que depois escreveram, tive clareza interior sobre o que eu deveria falar nesta conferência. Foi por meio da oposição que o Senhor me disse o que falar. Por quê? Porque cada um dos itens das palavras de oposição ditas naquelas duas horas e meia diz respeito à nossa experiência subjetiva. Nós dizemos: "Deus e o homem estão mesclados", mas eles dizem: "Isso é heresia. Deus é Deus, e o homem é o homem. Como vocês podem dizer que Deus e o homem estão mesclados? O homem é pequeno demais e insignificante. Como pode um homem estar mesclado com Deus? Dizendo isso, vocês advogam que o homem pode evoluir até tornar-se Deus". Eles usam o termo evolução - evoluir até tornar-se Deus. Isso é uma blasfêmia em extremo. Eles dizem: "A igreja local ensina essa heresia dizendo que o homem pode ser elevado, pode progredir e até mesmo evoluir até tornar-se Deus". Irmãos, vocês percebem que essa oposição é tremenda e é uma luta acirrada contra a verdade? De acordo com a verdade, pode o homem estar mesclado com Deus? Acaso a mescla do homem com Deus significa que o homem gradativamente evolve e evolui até tornar-se Deus um dia? Os opositores dizem: "Esse Witness Lee veio da China para nos ensinar que iremos evoluir até nos tornar Deus. Acaso isso não é blasfêmia?". Eles falam de modo aparentemente aceitável.

Não obstante, esse tipo de oposição é simplesmente um "tigre de papel" que pode ser amassado com um só movimento. Temos de dizer que não é que evoluiremos até nos tornar Deus, mas é Deus que Se humilhou e entrou em nosso espírito. João 1:1 e 14 diz: "No princípio era o Verbo, [...] e o Verbo era Deus. [...] E o Verbo tornou-se carne e armou tabernáculo entre nós (e vimos a Sua glória [...]), cheio de

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graça e de realidade". Esse foi Seu primeiro passo. Depois o versículo 12 diz: "Mas a todos quantos O receberam, deu-lhes a autoridade para se tornarem filhos de Deus: aos que crêem no Seu nome". Receber aqui não é como ter um coração alargado para acolher irmãos hospitaleiramente em nossa casa. É assim que você recebe o Senhor Jesus? Não. Aqui, receber simplesmente quer dizer ingerir. Que é receber? Vou fazer uma demonstração. Por exemplo, eu posso dar-lhe um copo de água. Você não leva esse copo de água para casa para ser exibido; antes, você bebe a água. Isso é receber. Quando a água do copo entra em mim, eu a recebo. É exatamente assim que recebemos Jesus. Onde O recebemos? Em todo o nosso ser. Os opositores dizem: "Como é que vocês podem receber Jesus em vocês? O Pai, o Filho e o Espírito Santo como o Deus Triúno são três Pessoas claramente separadas. O Pai é o Pai, o Filho é o Filho, e o Espírito Santo é simplesmente uma pomba. Jesus é o Filho assentado nas alturas no trono no terceiro céu. Como vocês podem recebê-Lo em vocês? Não é Cristo que está em vocês; é Seu representante". Cri no Senhor e fui salvo há mais de cinqüenta e dois anos, e também já li muitos livros cristãos. Entretanto ainda estou para ler um livro que diga que o representante de Cristo está em nós e que hoje Ele está nos céus, e não em nós, e que dizer que Ele está em nós é heresia. Sei que alguns dos presentes aqui foram pastores e teólogos. Certamente vocês não ouviram esse tipo de conversa. Isso é de fato um falatório novo por parte dos opositores. A Bíblia nos diz: "Mas a todos quantos O receberam, deu-lhes a autoridade para se tornarem filhos de Deus: aos que crêem no Seu nome" (Jo 1:12). Acaso fala de nos tornar povo de Deus? Não! Diz que nos tornamos filhos de Deus. Há grande diferença entre tornar-se povo de Deus e filhos de Deus. Talvez sejamos o povo governado por um rei, mas podemos não ser seus filhos. Que quer dizer ser filhos de Deus? Filhos nascem do pai; a vida e natureza paterna e o que o pai tem e é estão neles. Somos os filhos de Deus. Não somos apenas o povo de Deus; isso é exterior demais. Somos também Seus filhos e temos a natureza divina em nós. Entretanto os opositores especialistas dizem que a frase "Temos a natureza divina em nós" é herética. Dizem: "Não temos a natureza divina de modo algum". Ao dizer isso, eles negam completamente 2 Pedro 1:4: "Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina". Em outras palavras, eles subvertem todas as verdades subjetivas nas Escrituras sagradas. Pensam que Cristo não vive em nós, que não temos a natureza divina e que é inimaginável falar de mescla de Deus com o homem. Apenas se preocupam com o relacionamento exterior e objetivo com Deus; no que diz respeito ao relacionamento interior e subjetivo, estão totalmente anulados e arruinados. Os opositores expuseram suas raízes malignas naquelas duas horas e meia de oposição. Pense bem: já recebemos em nós o Deus que se encarnou e assim temos a autoridade de nos tornar Seus filhos. Temos em nós a vida e a natureza divina. Então estamos ou não mesclados com Deus? Se disser que não, como podemos ter Sua vida e natureza em nós? Dizemos que somos filhos de Deus, tendo a mesma vida e natureza que Ele tem, mas os opositores dizem: "Dizendo isso, vocês se fazem Deus. Vocês deificam o homem". Portanto, quando os irmãos escreviam aquela refutação, recebi o encargo e senti que essa seria uma grande oportunidade, a melhor, para liberar todas as verdades subjetivas nas Escrituras sagradas. Depois daqueles dias, tivemos uma conferência em Anaheim. Eu não disse muito; apenas fiz uma breve declaração no final dizendo a todos que as palavras de oposição resultavam da cegueira e ignorância humana. Dei uma ilustração no púlpito: Suponha que um homem esteja aqui. Se você olhar para ele de frente, verá sete orifícios: dois ouvidos, dois olhos, duas narinas e uma boca. No entanto, se olhar para ele por trás, não verá orifício nenhum. Os opositores são como os que olham por trás. Por não ter luz, depois de apalpar por muito tempo, não conseguem encontrar nenhum orifício. Portanto, quando digo aos outros que o homem tem sete orifícios, eles dizem que falo heresia. Isso é ser cego e ignorante. Você diria que o homem não tem orifício nenhum ou que tem sete? Você deve afirmar que os dois são corretos. Todas as verdades das Escrituras têm dois lados. No universo há um princípio básico na criação de Deus de que nada pode existir sem dois lados. Uma folha de papel tem dois lados: um escrito e outro em branco. Somente os cegos diriam que há somente um lado. Os que conseguem enxergar dirão que há dois lados. Há o céu e a terra; há as alturas e as profundezas; há o interior e o exterior; há a esquerda e a direita; há a frente e as costas; há dois lados; nada pode existir com um lado Só; tudo que existe tem dois lados. Toda

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verdade tem dois aspectos. Sim, Romanos 8:34 diz: "É Cristo Jesus quem [...] está à direita de Deus". Contudo o versículo 10 do mesmo capítulo diz que Cristo está em nós. Há dois lados. Você deve ver que, por um lado, Cristo está nos céus e, por outro, em nós. Quando respiramos, não precisamos parar para pensar se temos uma abertura atrás da cabeça. Tudo o que precisamos fazer é inalar pelo nariz. Sim, Cristo está nos céus e, quando O desfrutamos e contatamos, Ele está em nós. O motivo de os opositores não terem ousadia para dizer que Cristo está neles é que, segundo o conceito tradicional, o Pai é o Pai, o Filho é o Filho, e o Espírito é o Espírito, e esses Três são completamente separados. Portanto não podem dizer que Cristo está neles. Se o disserem, terão de admitir que Cristo é o Espírito, porque Ele só pode estar em nós se for o Espírito. Não obstante, até agora eles se opõem à afirmação: "O Senhor é o Espírito" (2 Co 3:17). Dizem que esse "Senhor" não se refere a Cristo, e sim a Deus. Visto que relutam em admitir que o Senhor é o Espírito, não ousam admitir que Cristo está em nós. Todavia, quer admitam, quer não, sabemos que hoje o Senhor é o Espírito e está em nós. Como Espírito, Ele é semelhante ao ar. Só precisamos dizer: "ó Senhor! Ó Senhor!", e sentimos que estamos cheios de ar interiormente. Esse é o Espírito, é vida, é nosso desfrute e é nosso Cristo em nós. Hoje Cristo não apenas está nos céus, mas também em nós. Isso é subjetivo, e não objetivo. Nas Escrituras há mais doutrinas subjetivas do que objetivas e mais verdades subjetivas do que objetivas. É por isso que o assunto de nossa conferência desta vez é "AJ:, verdades subjetivas nas Escrituras sagradas" ou "O ponto de vista subjetivo nas Escrituras sagradas". Para ajudá-los a entender esse ponto de vista, ressaltarei alguns itens.

COM RELAÇÃO A DEUS O primeiro item revelado nas escrituras é Deus. Com relação a Deus, há dois aspectos na revelação das escrituras; o objetivo e o subjetivo. Objetivamente falando, primeiro, Deus é Deus. Ele é o Deus que está acima nos céus com glória e majestade. Como tal, Ele é exterior a nós e completamente objetivo. Segundo, Ele é nosso Criador. Todas as coisas no céu e na terra foram criadas por Ele, e nós também o fomos. Ele é nosso Criador, e nós, Suas criaturas. Terceiro, Ele é o Senhor soberano. Há de fato um Senhor soberano no universo. Quarto, Ele se tomou nosso Redentor. Nós pecamos e caímos, e Ele veio redimir-nos; isso também é objetivo. Quinto, Ele é nosso bom Pastor, e nós, Seu rebanho. O pastor está fora do rebanho. Ele ama as ovelhas, e elas também o amam, contudo para elas ele é objetivo. Sexto, Ele é nosso Amo. Ele é nosso Dono, e nós O servimos. Nosso relacionamento com Ele é semelhante ao de um servo e seu senhor. Todos esses itens dizem respeito ao aspecto objetivo do que Deus é. Entretanto há também o aspecto subjetivo com relação a Deus nas Escrituras. Primeiro, Deus é nosso Pai. Isso é subjetivo, porque Ele nos deu Sua vida e natureza. Segundo, Ele é o Espírito que dá vida. Como o Espírito, Ele entra em nós assim como o ar. Isso também é subjetivo. Terceiro, Ele é nossa vida. Se estivesse fora de nós e fosse apenas objetivo para nós, não haveria como ser nossa vida. Somente entrando em nós para viver em nós subjetivamente e Se mesclar conosco é que Ele pode ser nossa vida. Quarto, Ele é luz. Nas Escrituras, essa luz é chamada de a luz da vida. "A vida era a luz dos homens" (Jo l:4b). Essa não é uma luz objetiva fora de nós, mas subjetiva e interior. Quinto, Ele é nosso fôlego. Sexto, é nossa água viva e alimento que ingerimos. Todos esses aspectos são subjetivos.

O cristianismo caiu em profunda tradição religiosa. O conceito dos cristãos é que Deus é extremamente grandioso, majestoso, glorioso e transcendente. Dizem que, por um lado, devemos honrá-Lo e, por outro, humilhar-nos e nos prostrar perante Ele quando O adoramos. Quando dizemos que Ele é nossa água viva e nosso alimento para ser ingerido, eles consideram isso uma blasfêmia contra Deus e um insulto a Ele no sentido de que rebaixamos Deus e nos exaltamos. Portanto os opositores nos Estados Unidos dizem que eu saí da China a fim de ensinar heresia. Dizem: "Temos um hino de louvor que diz 'Grandioso és Tu!'. Entretanto esse Sr. Lee vem e muda nosso hino para 'Pequeno és Tu!'l". Sim, Deus é tão pequeno que podemos comê-Lo. Você não consegue comer uma grande vaca a não ser que seja morta e cortada em pedaços. Depois de passar por um processo, a vaca pode ser devidamente comida. A vaca é grande ou pequena? Era grande, mas foi partida em pedaços. O Senhor Jesus disse: "Eu sou o pão da vida ... que desce do céu ... assim, quem Me come, também viverá por causa de Mim" (Jo 6:48, 50, 57). Acaso isso é heresia ou é a verdade? É a verdade. Entretanto os opositores apalpam cegamente apenas por trás e não estão dispostos a olhar a frente. Se estivessem dispostos a vir à frente, veriam sete orifícios com um só golpe de vista.

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Não estou apenas contando relatos sobre a batalha pela verdade nos Estados Unidos. Quero, antes, mostrar que, mesmo depois de você ter sido salvo, edificado e nutrido na igreja numa cidade, sei que sem dúvida até esta noite, em seu conceito religioso, você ainda considera Jesus Cristo como Senhor de tudo, o grandioso Senhor que está nas alturas. Você não tem muito desfrute do Senhor Jesus. Por isso, quero perguntar: "Quanto de Jesus você comeu hoje?". Não estou perguntando quantas vezes você orou e quantas meditou. Sei que alguns de vocês gostam de meditar e também creio que alguns gostem de ouvir mensagens e não gostem da forma como a igreja se reúne hoje. Entretanto sabemos que, a fim de desfrutar nosso alimento diário e seu sabor, não podemos ficar preocupados demais com os bons modos. Suponha que você seja convidado a um banquete, mas não ouse fazer nenhum movimento ou barulho; você apenas come bem devagar. Comer assim só produz meio desfrute, e não o desfrute pleno. Contudo, se comer em grandes porções, dizendo: "Hum! que delícia! que gostoso!", sua refeição será plena de desfrute. Talvez você pense: "Irmão Lee, isso é conversa para criança caipira de três anos". De fato espero que vocês todos se tornem caipiras de três anos de idade. Sejam simples e venham desfrutar Cristo. Livrem-se de seus conceitos religiosos. Hoje o Senhor Jesus dirá: "Filho tolo, Eu já Me humilhei por meio da encarnação, morri por você na cruz, até fui sepultado e ressuscitei dos mortos para me tornar o Espírito que dá vida. Hoje sou simplesmente como o ar para você. Não Me torne tão grandioso. Sou grandioso desde a eternidade; já estive em minha grandiosidade por tempo demais. Não quero ser tão grandioso mais. Hoje quero ser pequeno o bastante para entrar em você". Em Isaías 66:1-2, o Senhor parecia dizer: "O céu é o Meu trono, e a terra, o estrado dos Meus pés. Que mais desejo? Procuro por aqueles que sejam pobres e contritos de espírito. Quero entrar neles. Eles são Meu descanso. Já fiquei no céu por tempo demais. Desejo entrar no homem". Leia a Bíblia novamente para ver se nosso Deus quer fi9'ar no trono no céu ou deseja entrar em nós. Se você se prostrar perante Ele de novo, Ele dirá: "Pare com isso! Você já se prostrou o suficiente. Levante-se, levante-se! Que tal comer duas porções de Mim e beber dois goles de Mim?". Se você disser: "Senhor, não ouso comer-Te nem Te beber", Ele talvez diga: "Você foi infectado pela religião. Satanás infectou você com o veneno da religião, na qual você aparentemente Me adora, contudo de fato está distante de mim e não ousa contatar-Me. Não quero sua adoração. Quero que você Me coma. Desejo entrar em você e Viver em você . Estou aqui para provar que hoje você e eu precisamos afastar-nos dos conceitos de adorar um Deus grandioso e sublime a fim de desfrutar o Jesus humilde e pequeno. Aleluia! Sim, Ele é o Senhor de tudo, o Deus altíssimo, contudo hoje se tornou o Espírito que dá vida. A palavra grega para espírito é pneuma, que também quer dizer fôlego. Se o pneu de seu carro não tem ar, quer dizer que não tem pneuma. Nosso Senhor, o Deus dignificado e elevado, é nosso fôlego, nosso ar. Não tente reverenciá-Lo pondo-O nas alturas. Ele já é elevado o suficiente; dezenas de milhares de anjos a se prostrar diante Dele já é o suficiente para Ele. Ele precisa que O comamos dia a dia e até mesmo a cada momento. Essa é a experiência subjetiva, o ponto de vista subjetivo, das Escrituras. Pelos versículos bíblicos citados no início deste capítulo podemos ver que Cristo não somente nos deu autoridade de nos tornar filhos de Deus, mas também vive em nós. "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:20a). Quando nos ouvem dizer que Cristo vive em nós, os opositores dizem: "Vocês não sabem quão grandioso é Cristo e quão insignificante vocês são? Acaso pessoas ínfimas como vocês podem conter Cristo?". Entretanto Gálatas 2:20 diz: "Cristo vive em mim". E não apenas isso, mas no capítulo quatro lemos: "De novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós" (v. 19). Temos de agradecer ao Senhor e dizer: "Senhor, sou um homem pequeno, contudo Tu vives plenamente em mim e serás formado em mim". Além do mais, Efésios 3:17a diz: "Habite Cristo no vosso coração, pela fé". O Cristo pleno faz hoje morada em nosso coração. Ele não apenas é nossa vida e alimento; também é nosso morador. Nosso coração é Seu lar; Ele vive e se move em nós. Ele se tornou nossa pessoa, e nós nos tornamos Sua habitação. Quão subjetivo é isso! Essas são as verdades subjetivas e o ponto de vista subjetivo das Escrituras. O cristianismo tradicional não vê isso, e alguns até se opõem a isso. Nós não; antes, O desfrutamos. "ó Senhor, obrigado! Tu não apenas estás em mim como minha vida, mas, como uma entidade completa, vives em mim. Tu serás formado em mim e farás morada em meu coração. Todo o meu ser é Tua habitação". Qual será o resultado de o Senhor viver em nós desse modo? Será que seremos "tomados de toda a plenitude de Deus" (v. 19b). Isso é Deus e nós, nós e Deus, completamente unidos e mesclados. Somos tomados de toda a plenitude de Deus e somos Sua expressão.

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Os opositores dizem que isso é criar deuses e ensinar que o homem evolui até se tornar Deus. Dizem isso por cegueira e ignorância. Não obstante, hoje sabemos que de fato o Senhor vive em nós. Espero que todos os santos na restauração do Senhor testifiquem e digam: "Sei que de fato nosso Senhor grandioso e sublime, o Senhor de tudo, é minha vida, meu fôlego, minha água viva e meu alimento. Ele vive em mim a fim de ser tudo para mim". Há dois lados nas verdades das Escrituras. Sim, objetivamente falando, Ele é o Senhor no céu, que está acima de todos e é dignificado e grandioso em majestade e glória. Entretanto, por outro lado, esse Senhor está na verdade em mim, a falar a mim, ter comunhão comigo, caminhar comigo e me suprir, sustentar, consolar o tempo todo. Quando estou vazio por dentro, Ele me preenche. Ele é realmente minha vida interior e meu suprimento subjetivo. Cada um de nós tem certos conceitos religiosos. Sem ter sido ensinado, cada um sabe que Deus é grandioso e excelso. Hoje o mais difícil é livrar-se dos conceitos religiosos. Vocês precisam de revelação para ver que o Senhor hoje é também o Espírito que dá vida. Como fôlego de vida, Ele está em nós para ser nossa vida, nossa provisão, nossa forca e até mesmo nossa pessoa. Paulo disse: "Para mim, o viver é Cristo" (Fp 1:21); e também: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:20a). Isso não é evoluir até se tornar Deus; antes, é uma transformação gloriosa. Cristo vive em mim; logo, para mim o viver é Cristo. Graças ao Senhor! Isso é subjetivo.

COM RELAÇÃO À IGREJA Agora darei a vocês outro exemplo, e diz respeito tanto ao aspecto objetivo como subjetivo da igreja. Objetivamente falando, que é a igreja? Eu nasci, cresci e fui educado no cristianismo. Na escola dominical ouvi muitas lições que diziam que a igreja é um lugar de adoração, com uma torre e uma cruz no alto. Creio que mesmo hoje alguns de vocês ainda tenham o conceito de que o local de reuniões é a igreja e, quando é hora de ir para a reunião, vocês digam: "Vamos à igreja". Quando as pessoas perguntam onde é sua igreja, você diz: "É na rua Tal". Mais tarde em minha vida cristã, conheci os Irmãos Unidos. Eles eram bem avançados; diziam às pessoas que a igreja não é uma capela com torre, que a palavra grega para igreja é ekklesía, que significa assembléia convocada para fora, e que a igreja se refere ao ajuntamento dos chamados para fora. Portanto o ajuntamento dos chamados é a igreja. Naquela época eu apreciava demais esse tipo de palavra e pensava que era a mais correta. Contudo gradualmente percebi que esses chamados para fora discutiam uns com os outros quando se reuniam. Acaso pode-se dizer que isso é a igreja? Esse tipo de ajuntamento dos chamados para fora é a carne, e não a igreja. Esse entendimento é objetivo demais. Então, que é a igreja subjetivamente? É o templo de Deus e Sua casa; além disso, é a família de Deus. Em grego, a palavra para casa refere-se mais à família. Somos a família, a casa, de Deus. Uma casa é amável por causa dos membros da família. A igreja não é uma casa de Deus vazia, e sim Sua família. E não apenas isso, ela é a manifestação de Deus na carne. O Senhor está em nós como nossa pessoa, e cada um de nós é cheio por Ele. Sempre que nos reunimos, alguns podem louvar ao Senhor, outros podem dizer "amém" e ainda outros podem invocá-Lo.Isso é Deus sendo expresso de nosso interior. Isso é subjetivo, e não objetivo.

Mais ainda, a igreja é o Corpo de Cristo. Ele é a Cabeça, e nós, o Corpo. Posso dizer que minha cabeça é Witness Lee e meu corpo também é Witness Lee. Não apenas a Cabeça é Cristo mas o Corpo, a igreja, também é Cristo. Isso não quer dizer que evoluímos até nos tornar Deus. O que quer dizer é que nós, antes caídos, tornamo-nos filhos de Deus e membros de Cristo por meio da regeneração e da transformação. Não somos apenas o ajuntamento dos chamados para fora, mas também o Corpo de Cristo. Ele é a vide, e nós, os ramos. Cada ramo é o mesmo que a vide em substância, vida e natureza. A vida da videira é a vida dos ramos, a substância da videira é a substância dos ramos, e a natureza da videira é a natureza dos ramos. Quando dizemos que os ramos e a videira são um, isso não quer dizer que fazemos dos ramos a videira. Unidade é algo subjetivo. Além do mais, a Bíblia também diz que a igreja é a noiva de Cristo. A primeira noiva foi Eva, que procedeu de uma costela tirada de Adão. Portanto Eva era osso dos ossos de Adão e carne da carne de Adão. Isso simboliza que a igreja foi produzida por meio do sangue e água que fluíram do lado ferido de Cristo. Somos uma parte procedente de Cristo; somos osso de Seus ossos e carne de Sua carne. Somos membros de Seu Corpo. Por fim, o Novo Testamento diz que a igreja é um único novo homem. Quão subjetivas são essas verdades!

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Nas Escrituras essas verdades são todas subjetivas e incluem a regeneração, a transformação e a mescla de Deus com o homem. Primeira Coríntios 6: 17 diz: "Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele". Não apenas estamos mesclados com o Senhor, mas somos também um só espírito com Ele. Deus é Espírito, e hoje somos um só espírito com Ele. Acaso isso é evolução? Absolutamente não! Essa é a salvação gloriosa de Deus. Fomos salvos para atingir essa elevada posição: fomos introduzidos em Deus a fim de nos tornar um só espírito com Ele. Todos temos de saltar e dizer: ''Aleluia! Oh! que glorioso! Sou um só espírito com Deus!”.

COM RELAÇÃO À EXPERIÊNCIA CRISTÃ O que abordamos até aqui diz respeito a Deus e à igreja. Agora chegamos à nossa experiência cristã, que também possui dois aspectos: o exterior e o interior, o objetivo e o subjetivo. O aspecto exterior e objetivo inclui ser redimido e perdoado. Éramos pecadores e imundos, mas Deus nos perdoou, e o sangue precioso do Senhor nos purificou. Assim fomos justificados, reconciliados com Deus e aceitos por Ele. Além disso, fomos santificados posicionalmente e agora aprendemos ensinamentos. Desde nossa redenção até nosso ensino, tudo é objetivo. Tudo isso é correto, e reconhecemos que há esse aspecto nas Escrituras. Os opositores dizem que deixamos a Bíblia de lado e negligenciamos esse aspecto, mas podemos testificar que aprendemos o aspecto objetivo todos os dias. Sim, estou aqui liberando as verdades subjetivas, mas admito categoricamente, e você também concordaria, que também estou ensinando aqui. Se não houvesse ensinamento nenhum aqui, você não saberia que há as verdades subjetivas e as doutrinas objetivas nas Escrituras. Dia a dia aprendemos nas reuniões. Somente depois de vinte anos de salvação é que ouvi acerca de transformação. Você também não conhecia a questão da transformação até vir para as reuniões na restauração do Senhor. Além disso, só depois que você veio para a restauração é que descobriu como nós, os regenerados, devemos exercitar o espírito e expressá-lo. Como é que os outros dizem que não temos ensinamento entre nós? Temos muito ensinamento. Entretanto qual é a utilidade do mero ensinamento? Talvez você entenda o que é transformação e também saiba que tem espírito, contudo depois volta para casa para se entreter e dormir como sempre. Você tem a doutrina, mas não a realidade. Portanto ainda há outro aspecto que deve ser considerado: o subjetivo. Primeiro, fomos regenerados. Segundo, temos o Senhor a viver em nós. Terceiro, não apenas fomos santificados posicionalmente, mas também somos santificados disposicionalmente dia a dia. Quarto, estamos sendo transformados. Quinto, estamos sendo conformados à Sua imagem. Sexto, estamos sendo edificados juntos. Então um dia nosso corpo de humilhação será transfigurado e conformado ao corpo da Sua glória. Isso tudo não é conhecimento objetivo ou palavras; antes, são experiências subjetivas. Graças ao Senhor que hoje não estamos aqui apenas sendo ensinados mas também transformados e conformados. Desta vez quando voltei, vi que vocês todos cresceram um pouco. Também fico contente que não apenas os irmãos de Taipé crescem, mas os do sudeste asiático também. Graças ao senhor que todos estamos crescendo. Entre nós, não apenas temos doutrinas, mas também vida; não apenas temos conhecimento, mas também crescimento. Somos transformados dia a dia. Isso é segundo a verdade subjetiva.

O ponto de vista subjetivo de fato existe nas escrituras e nos fala repetidas vezes que Deus não apenas é o Deus sublime e elevado, mas também está em nós hoje como nosso fôlego de vida, nossa água viva e nosso alimento nutritivo. Ele não apenas quer ser sublime e grandioso, mas deseja entrar em nós para ser nosso desfrute. Quanto mais O desfrutamos, mas alegre Ele fica. Ele está em nós; é um espírito conosco; temos Sua vida, natureza e essência. Nossa vida, natureza e essência são exatamente o mesmo que as Dele. Isso não é evoluir até tornar-nos Deus. Essa é Sua salvação: trabalhar-Se em nós e introduzir-nos Nele para sejamos um só espírito com Ele. Essas são as verdades e experiências subjetivas nas Escrituras sagradas.

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CAPITULO DOIS

AS VERDADES SUBJETIVAS NO EVANGELHO DE JOÃO

Leitura Bíblica: Jo 1:1, 14, 29, 32, 34; 3:8; 4:24, 16; 6:35, 57b, 63; 7:37-39; 14:16-18,20; 16:13-15; 20:22;

1 Jo 2:20,27; Êx 30:22-26,30-31

A VIDA DA IGREJA RESULTA DA EXPERIÊNCIA DAS VERDADES SUBJETIVAS Nas verdades nas Escrituras sagradas sempre há dois aspectos: o objetivo e o subjetivo. Temos de ter clareza de que todas as doutrinas objetivas visam à nossa experiência subjetiva. Se prestarmos atenção somente às doutrinas objetivas e negligenciarmos o aspecto subjetivo, não seremos capazes de cumprir o propósito eterno de Deus, que é a igreja. As doutrinas objetivas visam às verdades subjetivas, que por usa vez visam produzir a igreja. Visto que o cristianismo hoje negligenciou as verdades subjetivas, não há ali a vida prática da igreja. A vida prática da igreja resulta de nossa experiência das verdades subjetivas. Quando as experimentamos, a igreja é espontaneamente produzida. Além disso, todas as verdades subjetivas estão ligadas com o Espírito e a vida. O Espírito e a vida são a substância delas. Se você tirar o Espírito e vida, não haverá verdades subjetivas. As doutrinas objetivas compõem-se de letras, ao passo que as verdades subjetivas constituem-se de Espírito e vida, e não de letras. Sem o Espírito e a vida, você não tem verdades subjetivas. Portanto é pelo Espírito e pela vida que a igreja é produzida. Uma vez que vivemos pelo Espírito e na vida, temos a experiência das verdades subjetivas e assim temos a vida da igreja.

AS VERDADES SUBJETIVAS NO EVANGELHO DE JOÃO

Veremos agora as verdades subjetivas no Evangelho de João. Na verdade esse Evangelho é totalmente acerca dessas verdades. Já falei um pouco sobre isso na mensagem anterior; nesta gostaria de falar mais um pouco a fim de mostrar a subjetividade das questões contidas no Evangelho de João.

Recebê-Lo comendo-O e bebendo-O Primeiramente João 1:12 diz: "Mas a todos quantos O receberam”. Como O recebemos? Não devemos interpretar a Bíblia tirando o texto do contexto. Precisamos explicar o versículo pelo menos no contexto do livro em que está. Quando perguntamos como podemos recebê-Lo, temos de olhar o capítulo quatro, no qual vemos que O recebemos bebendo-O. O Senhor disse: "Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der de modo algum terá sede, para sempre" (v. 14a). Portanto receber o Senhor é bebê-Lo como água viva. Depois no capítulo seis Ele disse: "Eu sou o pão da vida [...] quem Me come, também viverá por causa de Mim" (vs. 48, 57b). Isso nos mostra que receber no capítulo um não é apenas beber no capítulo quatro, mas também comer no capítulo seis. Quando bebemos o Senhor como água viva e O comemos como pão da vida, nós O recebemos. Todos sabemos que se alimentar e beber água são definitivamente subjetivos, e não objetivos. Quando ingiro alimento e bebo água, ambos se tornam um comigo. Tudo o que foí ingerido será digerido em poucas horas a fim de se tornar meu viver, meus componentes orgânicos. Em outras palavras, o que eu como se torna meu ser. Comer é muito subjetivo. Portanto o Evangelho de João nos fala da experiência subjetiva, e não das doutrinas objetivas. Temos de recebê-Lo comendo-O e bebendo-O. Depois, no capítulo sete, Ele diz: "Quem crer em Mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isso, porém, disse Ele com respeito ao Espírito que haviam de receber os que Nele cressem" (vs. 38-39a). O termo "o Espírito" é um título específico. Por meio desse trecho da Palavra vemos que o que recebemos dentro de nós torna-se rios de água viva a fluir de nós.

Nós e o Senhor habitamos mutuamente e estamos mesclados.Isso fica até mesmo mais claro no capítulo catorze: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da realidade, [...] Ele habita convosco e estará em vós. [...] Naquele dia, vós conhecereis que Eu

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estou em Meu Pai, e vós em Mim, e eu em vós" (vs. 16,17, 20). Que é isso? É a mescla subjetiva. Nós estamos Nele, e Ele, em nós. Nunca me esquecerei que certa vez, enquanto eu dava uma mensagem, uma irmã de meia-idade se levantou e perguntou: "Irmão Lee, você pode dizer-me como podemos permanecer no Senhor e Ele pode permanecer em nós? Isso é muito confuso para mim". Eu disse: "Irmã, seja paciente. Uma hora você entenderá", e continuei a falar. Em certo momento eu disse: "O Senhor hoje é simplesmente como o ar que respiramos. Quando você inspira, o ar entra em você. Assim, você permanece no ar, e o ar permanece em você". Quando eu disse isso, ela entendeu. Hoje de manhã neste grande salão de reuniões, todos permanecemos no ar, e o ar, em nós. Portanto vivemos. De modo semelhante, nosso Senhor é o ar espiritual; permanecemos Nele, e Ele, em nós. O Senhor disse: "Naquele dia, vós conhecereis que Eu estou em Meu Pai, e vós em Mim, e eu em vós". Acaso isso é doutrina? Não; é uma experiência subjetiva e prática.

O Senhor é a Palavra [Verbo] desde o princípio

A palavra do Senhor não é tão simples. Pessoas com mente aguçada acham a Bíblia simples demais para ser considerada um escrito religioso. Entretanto gostaria de perguntar-lhe o que quer dizer João 1:1: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Dizer que o Verbo estava com Deus quer dizer que havia dois; dizer que era Deus quer dizer que havia um só. Então há um ou dois? Isso não é tão simples. O livro de João é grande mente misterioso. Que é o princípio? Quando foi isso? Qual é o sentido de dao (Verbo - em chinês)? Significa dao (doutrina), dao (caminho), daode (moral) ou daomen (entrada para a verdade)? O Verbo estava com Deus. Esse Deus é um mistério. Portanto o princípio é um mistério, o Verbo é também um mistério 'e Deus é ainda outro mistério. Havia mistério sobre mistério; por fim o Verbo que estava no princípio era Deus.

Deus é o princípio. O princípio quer dizer o ponto inicial. O início do universo não é espaço ou tempo; é Deus. Se há Deus, há o ponto inicial. Se você não tem Deus, não tem o início. Alguns dizem que a vida humana começa aos quarenta, outros dizem que começa aos setenta. Entretanto quero dizerlhe que, ainda que viva até os quatrocentos anos de idade, mas sem Deus, ainda deverá ter um princípio. Somente quando você tem Deus é que pode ter um início. Muitos podemos testificar que vivíamos de maneira desnorteada e confusa; não tínhamos começo de vida humana; então um dia cremos no Senhor e, quando invocamos: "ó Senhor", Deus entrou, e tivemos um princípio. Portanto Deus é o princípio. Com Deus, há princípio; sem Deus, não há princípio. Então quem é o Verbo? Quem é daode (moral)? Quem é daoli (doutrina)? Quem é dao (caminho)? Quem é daomen (entrada para a verdade)? Tudo isso é Deus. Somente Deus é o Verbo. Isso é muito bom; mas não apenas isso: um dia o Verbo tornou-se carne. Diga-me, a carne é boa ou ruim? O que mais odeio é minha carne, pois já me deu muitos problemas. Eu a detesto, contudo, aleluia!, o Verbo se fez carne, muito embora a carne não seja boa! "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. [...] E o Verbo tornou-se carne" (1:1,14a). O que é precioso não é a carne, mas o Verbo tornando-se carne. Será que se tornou carne, cheio de doutrinas, conhecimento e teologia? Não! Antes, "o Verbo tornou-se carne [...] cheio de graça e de realidade" (v. 14). Graça é o próprio Deus. O fato de Deus ter vindo para ser nosso desfrute é realmente graça. A realidade também é o próprio Deus. Somente Deus é veracidade e somente Deus é realidade. Sem Deus, tudo é vazio; sem Ele, nada é real.

O Verbo tornou-se carne Portanto você pode ver que o princípio é Deus, o Verbo é Deus, Deus é Deus, graça é Deus e realidade é Deus. Isso é maravilhoso! Entretanto não importa quão maravilhoso fosse, isso não podia estar em nós. Por que então o Senhor precisou tornar-se carne? Após ter-se tornado carne, enquanto andava na terra, ouviu-se alguém dizer: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (v. 29). Desse modo, você deve saber que a carne não é boa. O Senhor tornou-se carne não porque a carne seja boa; pelo contrário, tornou-se carne para ser o Cordeiro que tira nosso pecado. Se Ele não se tivesse tornado carne, não teria sangue para derramar por nós. A Bíblia diz que "sem derramamento de sangue, não há remissão" (Hb 9:22b). A fim de haver perdão de pecados, deve haver derramamento de sangue, e a fim de derramar Seu sangue para fazer a redenção por nossos pecados, o Senhor precisava tornar--se carne. Graças ao Senhor que Ele de fato tornou-se carne! Ele se fez carne para ser o Cordeiro redentor que tira nossos pecados - a fim de ter carne e sangue para derramar para que recebamos perdão.

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O Espírito estava sobre a carne do Senhor

Não apenas vemos o Cordeiro em João 1, mas também a pomba descendo sobre Ele (v. 32). A pomba é maravilhosa. O Senhor não é apenas o Cordeiro, que tira nosso pecado, mas é também a pomba que desceu sobre Ele. Ele é o que foi batizado no Espírito Santo. Em outras palavras, esse Redentor nos batizará no Espírito Santo. Isso é de fato maravilhoso. O Evangelho de João não é simples, mas pela graça do Senhor nós o tornaremos simples. Creio que agora vocês todos têm clareza. O princípio é Deus, o Verbo é Deus e Deus é Deus. Deus tornou-se carne e, embora a carne não seja boa, Ele tinha de fazê-lo. Sem a carne, Ele não poderia ter sangue para derramar a fim de cumprir a redenção por nossos pecados e, portanto, não poderíamos ser perdoados dos pecados. Aleluia! Ele se tornou carne, morreu e derramou Seu sangue. Então Ele tinha o Espírito sobre Ele e pode batizar-nos não somente na água, mas também no Espírito. No capítulo três, o Senhor nos diz: "O vento sopra onde quer, [...] assim é todo o que é nascido do Espírito" (v. 8). Isso nos diz que, se recebemos o Senhor, somos regenerados do Espírito. Nascer do Espírito não é algo físico, mas espiritual; é como o vento. Em grego os termos vento, fôlego e espírito são O mesmo: pneuma. Portanto os tradutores da Bíblia tiveram dificuldade aqui, já que num mesmo versículo o termo pneuma é usado duas vezes. Na primeira vez, diz-se que o pneuma sopra onde quer e, na segunda, que se pode nascer do pneuma. Não se conseguia resolver como traduzir esse termo em cada ocorrência mesmo depois de muita discussão. De qualquer forma, o que parece é isto: Quem é nascido dos próprios pais é alguém de carne, físico, ao passo que quem é nascido do Espírito é espiritual. Embora seja invisível e aparentemente intangível, há um soprar. Assim como o vento não pode ser visto ou tocado, contudo você sente o sopro. Hoje todos fomos salvos e regenerados; interiormente nos tornamos outra pessoa, que não é física, mas espiritual. Como sabemos que temos a outra pessoa, a pessoa espiritual? Não é vendo ou tocando, mas sentindo. Uma pessoa pode ter discutido com outra na noite anterior, contudo nesta manhã, sem saber por que, ela diz:"Aleluia! Louvado seja o Senhor! Amém!". O vento soprou sobre ela, e ela já não tem nenhum desejo de repreender os outros ou fazer algo ruim. Pelo contrário, deseja orar, louvar e reunir-se com os santos. Esse é o "vento" que sopra onde quer, e esse sopro torna a pessoa diferente. Isso não é um sopro físico, mas espiritual.

A verdadeira adoração a Deus é beber do Espírito

No capítulo quatro, lemos: "Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e veracidade" (v. 24). Que é adorar? Nesse capítulo vemos que a verdadeira adoração a Deus não é curvar-se, prostrar-se, perante Ele, mas beber Dele. Deus é Espírito. Se você realmente quer render-Lhe verdadeira adoração, precisa beber Dele. Bebê-Lo é recebê-Lo interiormente. Deus é Espírito; bebê-Lo e recebê-Lo são a real adoração que rendemos a Ele.

A água viva e o pão da vida são o Espírito

No capítulo seis vemos que após o Senhor Jesus ter alimentado os cinco mil com cinco pães e dois peixes, o povo ficou maravilhado e tentava "arrebatá-Lo para O fazerem Rei" (v. 15a). O Senhor, sabendo das intenções deles, "retirou-se novamente, Ele sozinho, para o monte" (v. 15b). Isso ocorreu porque o Senhor Jesus não veio para ser rei, e sim alimento para o homem. No dia seguinte, Ele voltou e disse às pessoas: "Eu sou o pão da vida" (v. 35). Ele parecia dizer: "Não sou rei; sou pão. Não Me façam rei. Seria melhor se vocês Me comessem. Sou o pão da vida, e quem Me come vive por causa de Mim". Inicialmente nem Pedro nem João, discípulos do Senhor, entenderam isso, mas gradualmente entenderam. Eu lhes digo: no dia de Pentecostes Pedro comeu e estava realmente pleno. Esse pescador galileu estava satisfeito com Cristo em seu interior. Ele comeu e bebeu Jesus a tal ponto que estava pleno Dele; tudo o que ele tinha interiormente era Jesus.

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Já dissemos que a água viva é o Espírito. O fôlego de vida também é o Espírito. O Senhor disse: O Espírito é o que dá vida; [...] as palavras que Eu vos tenho dito são espírito e são vida" (v. 63).

A água viva é o Espírito, e o pão da vida também é. Então o capítulo sete diz: "Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crer em Mim [...] do seu interior fluirão rios de água viva. Isso, porém, disse Ele com respeito ao Espírito que haviam de receber os que Nele cressem; pois ainda não havia o Espírito" (vs. 37-39). Essa palavra é extraordinária. Naquele tempo havia o Espírito Santo, mas ainda não havia "o Espírito". Muitos leitores da Bíblia não têm clareza sobre isso. Gradualmente temos visto que há diferença entre o Espírito e o Espírito de Deus. O Espírito ainda não era porque Jesus ainda não fora glorificado, ou seja, não ressuscitara dos mortos. Então quando é que o Espírito passou a existir? O Espírito veio a existir depois que o Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos.

A vinda do Espírito da realidade

Então, no capítulo catorze, o Senhor Jesus disse: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, [...] o Espírito da realidade" (vs. 16-17). Esse Espírito da realidade é o Espírito. O Espírito da realidade veio; agora não está apenas conosco para sempre, mas também em nós. Quando Ele está em nós, o Senhor está em nós, porque o Senhor é Ele, e Ele é o Senhor. Portanto o Senhor disse: "Naquele dia, vós conhecereis que Eu estou em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós" (v. 20). Isso é misterioso. O Senhor Jesus está no Pai, nós estamos Nele, e Ele está em nós. Isso é inteiramente no Espírito. Quando se pôs no meio dos discípulos, depois de morrer e ressuscitar, o Senhor estava diferente. De acordo com o relato bíblico, quando Ele veio, as portas estavam trancadas no lugar onde eles estavam (20:19). Maravilhosa e misteriosamente, embora as portas não estivessem abertas, esse corpo físico entrou. Ele lhes pediu que tocassem Seu lado, que era físico. Como o Espírito, Ele veio com corpo ressurreto. Na verdade, Ele não entrou; antes, os discípulos estavam reunidos ali, ele se pôs no meio deles e depois soprou neles e lhes disse: "Recebei o Espírito Santo" (v. 22). Isso indica que, quando o Senhor soprou nos discípulos, Ele era o Espírito. Ele entrou neles pelo sopro. A partir dai, o Senhor estava neles. Desse modo, em João 20 não há registro algum que diga que o Senhor os deixou depois de ter soprado neles. Nem há registro no Evangelho de João da ascensão do Senhor. A razão disso é que a partir daquele dia Ele estava sempre com eles. Quando os discípulos estavam na casa, o Senhor também estava; quando estavam à beira-mar, o Senhor também estava. O Senhor estava neles.

INICIA COM DEUS, QUE ESTAVA NO PRINCÍPIO, E TERMINA COM O ESPÍRITO

Agora compreendemos que o Evangelho de João inicia com Deus, que estava no princípio, e termina com o Espírito. O Deus que estava no princípio passou pela encarnação, pela morte do Cordeiro e pela ressurreição, a fim de se tornar o Espírito. Hoje o Espírito é como o ar. Nele fez..se plena redenção dos pecados, eliminou-se a morte e anularam-se a carne e a velha criação. Nele há Deus, há redenção, há poder, há ressurreição e há vida. Nele há tudo em todos. Hoje tudo foi completado e realizado. Como o Espírito, Ele está na terra e nos céus; Ele é onipresente. Para Ele não há limitação de tempo ou separação de espaço; Ele está bem aqui. Que maravilhoso! Jamais pense que isso é superstição. Isso é a verdade da Bíblia. Não é a verdade objetiva, mas subjetiva. Oh! nosso Deus passou pela redenção e entrou em ressurreição, na qual é o Espírito todo-inclusivo! Por um lado, Ele está sentado no trono; por outro, vem à terra.

Isso pode ser comparado com a eletricidade: por um lado, a eletricidade está nesta sala; por outro, está também na usina de força, a quilômetros daqui. A eletricidade que está na usina pode ser transmitida à nossa casa. Sem a transmissão, ela não é prática. Se há apenas a eletricidade objetiva, e não transmissão subjetiva, ela é inútil para nós. Da mesma forma, podemos dizer ao Senhor: "Senhor, se estás apenas no trono, mas não és transmitido a mim, não tens muito valor". Talvez você diga: "Quer Se transmita a mim, quer não, o Senhor é um tesouro inestimável". Sim, Ele é; porém não é de muito valor para mim, a menos que seja transmitido a mim. Se não é transmitido a mim, que uso posso fazer Dele? Que Ele tem a ver comigo? Essa é exatamente a situação do cristianismo hoje. Muitos ali ainda pensam que o Senhor está nas alturas, portanto não O experimentam neles. Aos domingos, vão aos cultos de adoração de manhã e depois jogam cartas e assistem a filmes à tarde. Isso é ter apenas as doutrinas objetivas, sem as verdades subjetivas. Graças ao Senhor que isso não ocorre na restauração do Senhor hoje. Queremos tanto as doutrinas objetivas como a experiência subjetiva. Queremos a eletricidade na usina e também que seja transmitida à

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nossa casa. Nós a queremos nas duas extremidades, e não apenas numa só. Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

O Verbo no princípio torna-se o Verbo [a Palavra] no coração

Precisamos saber que hoje o Deus do Evangelho de João já não é apenas o Deus que estava no princípio. Ele se tornou o Cordeiro, morreu na cruz e ressuscitou, e hoje em ressurreição é o Espírito, o Espírito todo-inclusivo. Ele não está somente no céu, mas também aqui. Portanto Romanos 10:8 diz: "A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos". Se você estiver disposto a abrir a boca e dizer: "Ó Senhor!", Ele entrará em você, e o Verbo que estava no princípio se tornará o Verbo (a Palavra) no seu coração. Vamos todos dizer: "á Senhor! á Senhor!". Imediatamente Ele já não é o Verbo no princípio, mas a Palavra em nosso coração. O Verbo no princípio é bom, mas não tem efeito sobre nós. Aleluia, a Palavra em nosso coração é eficaz! Depois de recebê-la no coração, se for novamente jogar ma-jong2, Ele "embaralhará" seu coração. Se você discutir com seu cônjuge novamente, Ele "discutirá" com seu coração até que você diga: "Esqueça! Aleluia! Louvado seja o Senhor!". Aleluia! O que tenho hoje não é apenas o Verbo que estava no princípio, porém a Palavra que não apenas estava no princípio, mas também se tornou a Palavra no meu coração. Essa Palavra em nosso coração é o Espírito, e esse Espírito em nós é todo-inclusivo.

ma-jong2 - Jogo de origem chinesa em que 144 pedras semelhantes às do dominó, mas que combinam figuras e números, são distribuídas entre quatro pessoas, que vão descartando-as, até que um dos adversários consiga a mão vitoriosa - Houaiss.

PREFIGURAÇÃO DO ESPÍRITO: O ÓLEO SAGRADO DA UNÇÃO

Agora, por causa dos novos convertidos e dos que recentemente vieram para a igreja, quero dizer algo acerca da história do Espírito Santo. Os que conhecem a prefiguração na Bíblia sabem que há o azeite de oliva que prefigura o Espírito de Deus; é o óleo com os quais os reis, profetas e sacerdotes eram ungidos. Na Bíblia esse óleo simboliza o Espírito de Deus. Antes de o tabernáculo ser erigido, havia somente o azeite de oliva. Depois da construção do tabernáculo, Deus disse a Moisés que adicionasse quatro especiarias ao azeite: a mirra, o cinamomo, o cálamo e a cássia. Esses quatro itens eram adicionados ao elemento básico (azeite) a fim de compor o ungüento. O óleo não era o ungüento; só se tornava o ungüento depois que as especiarias eram acrescentadas. Então, desde o dia em que o tabernáculo foi erigido, ele, todos os seus utensílios e os sacerdotes deveriam ser ungidos com o óleo sagrado da unção para ser santificados. Isso está registrado em Êxodo 30. Mais tarde, quando o apóstolo João escreveu suas Epístolas, ele se referiu ao ungüento mencionado em Êxodo 30. A unção, mencionada duas vezes em 1 João, não foi invenção dele; antes, foi tomada de Êxodo 30. Quando mencionou os candelabros de ouro em Apocalipse, também os citou de Êxodo. Deixe-me dizer-lhe algo: tanto a unção como os candelabros referem-se ao Espírito todo-inclusivo. Entretanto nesta mensagem queremos tocar apenas a questão da unção.

O significado dos números

Estamos falando não do óleo da unção, mas da unção do ungüento. O óleo consiste de somente um elemento, o azeite. O ungüento, entretanto, é esse elemento mais quatro especiarias. Se estudar a prefiguração com cuidado, você descobrirá vários itens. Primeiro, são quatro especiarias. Na Bíblia, o número quatro representa as criaturas. De acordo com nossa criação, somos todos quatro; somos os quatro seres viventes. Segundo, as quatro especiarias são vegetais. Em tipologia bíblica, a vida vegetal simboliza a humanidade do Senhor. Uma vez que quatro se refere às criaturas e a vida vegetal se refere à humanidade, isso nos diz que as quatro especiarias referem-se ao homem criado. Este está mesclado com o número um. O elemento único é o azeite; é singular. Na Bíblia o número um denota o Deus único. Aqui nessa prefiguração vemos o homem criado mesclado com o Deus único a fim de se tornar cinco. Na Bíblia, o número cinco indica responsabilidade. Olhe suas mãos: um polegar mais quatro dedos podem arcar com a responsabilidade de fazer muitas coisas. Entretanto, se o polegar ou qualquer dos credos faltar, é difícil realizar qualquer coisa. Sem o homem Deus não tem caminho, e sem Deus o homem não tem caminho. "Quatro", as criaturas, mais "um", o Criador, torna-se "cinco". Isso é muito bom. Hoje, a condição de algumas pessoas é tal que Deus é "um", e eles são "quatro", mas não se tornam "cinco". Entretanto hoje somos todos "cincos". Aleluia! Originalmente éramos o número quatro, mas agora, já que o número um foi

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acrescentado a nós, tornamo-nos o número cinco. Estou muito contente de ser cinco, pois tenho Deus e assim "tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4: 13). Somos originalmente homens criados, mas agora o Deus Criador foi acrescentado a nós.

O significado dos ingredientes

Além disso, vemos que originalmente o óleo sagrado da unção era apenas azeite, mas, com a adição de quatro especiarias, os ingredientes nele aumentaram, e se tornou o ungüento. As quatro especiarias representam o homem criado, e cada uma delas é plena de significado. O Senhor Jesus é a mirra. Isso se refere ao fato de Ele ser um Homem cheio de doçura ao sofrer e ao morrer. Ele sofreu a vida toda na terra e foi obediente até a morte, e morte de cruz. Tanto Seu sofrimento como Sua morte foram cheios de doçura. Isso é a mirra. Ele foi um Homem que sofreu e morreu. Ele era alguém que sofreu docemente e morreu docemente. Ele de fato é a doce mirra. Ele também é o cinamomo odoroso, um excelente condimento. Os ocidentais geralmente usam cinamomo, ou canela da Índia, ao cozinhar, por ser saboroso. O viver humano do Senhor em Seu proceder é realmente um condimento e faz com que nosso viver humano seja cheio de fragrância. Quando você acrescenta o Senhor Jesus a você, torna-se cinamomo odoroso. Ele é também o cálamo. De acordo com o significado em hebraico, cálamo é um junco que cresce em pântanos e lugares alagados. Ele representa a ressurreição do Senhor. Ele não apenas um Homem que morreu, mas também ressuscitou. Ele ressurgiu do pântano da morte. Finalmente, Ele é a cássia. De acordo com os judeus antigos, a cássia tinha o poder de repelir serpentes e insetos venenosos. Nos tempos antigos, as condições sanitárias não eram boas. Havia muitos insetos venenosos, mas, se houvesse cássia numa sala, os insetos venenosos e serpentes em particular iriam embora. Isso representa o poder de ressurreição do Senhor Jesus. O poder de Sua ressurreição repele o diabo, as cobras e os escorpiões. Portanto você pode ver que essas quatro especiarias representam o Senhor Jesus que sofreu a morte, foi fragrante e doce, ressuscitou e rechaçou o diabo. Ele foi acrescentado ao Deus único. Em outras palavras, antes da encarnação, morte e ressurreição do Senhor Jesus, o Espírito de Deus possuia apenas a divindade: o azeite singular. Entretanto, depois da encarnação, morte e ressurreição, Ele adicionou Sua humanidade, com o elemento de morte e doçura, à divindade. Ele também adicionou Sua ressurreição e o poder dela que repeliu o diabo, à divindade. Hoje esse Espírito é todo-inclusivo. No Espírito de Deus, não há somente divindade, mas também humanidade. Há ainda o poder do sofrimento do Senhor Jesus, Sua ressurreição e o poder dela, que é o poder de rechaçar o diabo. Portanto esse não é apenas o azeite, mas o ungüento; não é apenas o Espírito de Deus, mas "o Espírito". Antes da morte e ressurreição do Senhor, o Espírito ainda não era. Após a ressurreição do Senhor, o Espírito veio à existência. Hoje esse é o Espírito de Deus, o Espírito de Cristo, o Espírito de Jesus e o Espírito de Jesus Cristo. É o Espírito todo-inclusivo.

O significado das medidas

As medidas das quatro especiarias também têm seu significado. A primeira (mirra) e a última (cássia) pesavam quinhentos siclos. Quinhentos, que é composto de cem vezes cinco, representa responsabilidade centuplicada. Contudo as duas especiarias do meio (cinamomo e cálamo) mediam duzentos e cinqüenta siclos cada uma, e juntas compunham uma unidade. Havia três unidades de quinhentos siclos; a primeira e a última eram inteiras, mas a do meio era dividida na metade. Aqui você pode ver que há não apenas o "um" e o "quatro", mas também o "três". Esse três é o Deus Triúno, e o "do meio" foi de fato partido. Ele foi dividido e partido por nós na cruz. Isso é maravilhoso! Aqui temos o Deus único, o "três" da Trindade e o "quatro" do homem criado, compostos e mesclados como o ungüento sagrado. Nesse ungüento estão Deus, o homem, a morte do Senhor e a eficácia dele, Sua ressurreição e o poder dele, a doçura da morte e a fragrância da ressurreição. Esse é o Espírito hoje. Ele é o Espírito da realidade de João 14 e também o Espírito que os discípulos receberam em João 20 quando o Senhor soprou neles. Ele é o Espírito todo-inclusivo. Aleluia! Hoje no universo esse Espírito foi consumado.

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O Espírito é o ungüento todo-eficaz Como analogia, vou chamar esse Espírito de ungüento todo eficaz que pode curar todas as enfermidades. Não somente mata os germes, mas também nos supre de vida. Não estou brincando; falo por experiência. Em 1954, em Hong Kong, dei mensagens dizendo que a morte do Senhor é no Espírito Santo. Com boa intenção, um irmão me aconselhou a mudar a expressão a morte do Senhor no Espírito Santo para a eficácia da morte do Senhor no Espírito Santo. Mas na verdade a morte do Senhor é no Espírito Santo. Nem todas as mortes são iguais. A morte de Adão é diferente da de Cristo. Quando Adão morreu, nós terminamos; quando Cristo morreu, todos vivemos. No Espírito Santo não há a morte de Adão, mas de Cristo. A morte de Adão é detestável, mas a de Cristo é doce. Se Ele não tivesse morrido, como poderíamos viver? Hoje a morte de Cristo na cruz foi incluída no Espírito. Sabemos disso pelas duas prefigurações de Sua morte. Primeiro, a mirra simboliza a morte. Depois, das três unidades de quinhentos siclos, a do meio foi dividida na metade: duzentos e cinqüenta siclos cada. Oh! O Espírito hoje é misterioso demais, abstrato demais e difícil demais para ser expresso em palavras! Entretanto, em Sua sabedoria, Deus nos mostrou uma figura no Antigo Testamento: o óleo sagrado da unção. Em dado momento havia o azeite de oliva usado para ungir reis; entretanto, no tabernáculo, que representa a igreja, apenas o azeite não é suficiente; precisa ser composto de quatro especiarias, que prefiguram a pessoa do Senhor, sua morte e a eficácia dela, Sua ressurreição e o poder dela. Tudo que Ele experimentou entrou em composição com o azeite, que assim se tornou o ungüento. O apóstolo João não disse: "O óleo que dele recebestes", mas: "A unção que dele recebestes". Jovens, espero que percebam que hoje o Espírito que está em vocês é o ungüento, e não apenas o azeite. Essas quatro especiarias - a morte do Senhor com sua eficácia e Sua ressurreição com seu poder - estão compostos no Espírito Santo. Sua experiência testifica que você não tem de exercer nenhum esforço para se considerar morto. Basta invocar o Senhor mais frequentemente. Quando invoca das profundezas de seu ser: "ó Senhor Jesus! Ó Senhor Jesus!", sua carne é mortificada. Essa é nossa experiência. Quando aplicamos o Espírito como o óleo da unção a nós, esse ungüento, como ungüento todo-eficaz, mata os germes e nos supre de todos os nutrientes. Aleluia! Esse é o Espírito, e hoje está conosco. Esse é o Evangelho de João. Ele começa com o Deus que estava no principio e termina com o Espírito que entrou em nós para ser nosso fôlego, nossa água viva, nosso alimento espiritual, nossa vida e nossa provisão vital. Podemos comê-Lo, bebê-Lo e viver por Ele.

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CAPÍTULOS TRÊS

AS VERDADES SUBJETIVAS ACERCA DA IGREJA NO EVANGELHO DE JOÃO

Leitura Bíblica: Jo 12:24; 20: 17; 15:5a; 3:28·29; 14:2, 23;1 Co 10:17; Hb 2:12; Ef 5:30·32; 1 Tm 3:15a

O Evangelho de João fala repetidas vezes acerca de como devemos ter experiências subjetivas do Senhor. Ele se tornou carne para Se trabalhar em nós, a água viva para que O bebamos, o pão da vida para que O comamos e o fôlego de vida para que O inalemos. Nada pode ser mais subjetivo do que as experiências subjetivas' produzidas quando água, pão e ar entram em nós. Temos de receber o Senhor em nós tão subjetivamente que seja como receber água, alimento e ar. Entretanto temos de ver que essas experiências subjetivas visam à produção da igreja. Todas as experiências subjetivas relacionadas com o Espírito dependentes da vida visam à produção da igreja. O resultado de receber o Senhor em nós é que nos tornamos os constituintes da igreja. Com certeza, o Evangelho de João nos apresenta as experiências subjetivas e, embora não cite o termo igreja, não devemos negligenciar que ele fala como os constituintes da igreja são produzidos.

SOMOS OS MUITOS GRÃOS MOÍDOS NUM SÓ PÃO

Na leitura bíblica acima, há cinco pontos cruciais. Primeiro, o Senhor disse ser o grão de trigo que caiu na terra e morreu, e gerou muito fruto (12:24). Esses muitos grãos são o aumento de Cristo, Sua reprodução. Originalmente era apenas um grão, que depois morreu e cresceu a fim de se tornar muitos grãos. Cristo era o grão único, e nós, os muitos grãos. Não éramos os muitos grãos pelo nascimento humano. Quando a vida do Senhor entrou em nós e Ele Se dispensou a nós, fomos regenerados para nos tornar os muitos grãos que compõem um só pão. Embora sejamos muitos, "somos unicamente um pão" (1 Co 10:17). Originalmente os muitos grãos eram indivíduos, mas foram moídos em fina flor de farinha e mesclados para se tornar um só pão, que prefigura a igreja. Toda vez que partimos o pão à mesa do Senhor, testificamos que a igreja é uma só. Esse pão é o Corpo, e o Corpo é a igreja. Aqui devemos ver que a igreja não é uma composição originada pela vontade humana nem uma organização produzida por um grupo de pessoas. Isso não é a igreja; é uma sociedade. Uma sociedade é organizada por pessoas, ao passo que a igreja é produzida de Cristo: é resultado de Seu dispensar a nós por meio de Sua morte e ressurreição para fazer de nós grãos de trigo. Quando, como grãos de trigo, somos mesclados em unidade, tornamo-nos um só pão, que simboliza o Corpo único. Portanto temos de ver aqui que a igreja é produzida pela entrada de Cristo em nós. Em outras palavras, é produzida por nossa experiência subjetiva de Cristo. Se Cristo não tivesse entrado em você, você teria permanecido apenas na raça adâmica; não seria parte de Cristo. Contudo, visto que entrou em você, como o grão de trigo Ele fez de você um grão de trigo também. É assim que a igreja é produzida.

SOMOS OS MUITOS IRMÃOS DO SENHOR

Segundo, em João 20, após ressuscitar,o Senhor disse a Maria: "Vai ter com os Meus irmãos, e dize-lhes [...]" (v. 17). Antes de morrer e ressuscitar, o Senhor jamais chamou os discípulos de irmãos; chamou-os de amigos, mas nunca de irmãos. Por quê? Porque nessa ocasião a vida do Senhor ainda não entrara nos discípulos. Foi por meio da ressurreição e em ressurreição que Sua vida entrou neles. Agora, visto que tinham Sua vida, tornaram-se Seus irmãos. De acordo com Hebreus 2:12, esses irmãos são a igreja: "A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação". [O termo congregação é o mesmo que igreja, em grego.] Que é a igreja? A composição dos muitos irmãos do Senhor. Individualmente, somos Seus irmãos; coletivamente, somos a igreja. A igreja é a composição do Primogênito e os muitos filhos de Deus. Aleluia! Agora, porém, como podemos tornar-nos irmãos do Senhor? Precisamos ver que não é por adoção; antes, somos Seus irmãos legítimos. Somos Seus irmãos de fato porque temos Sua vida e natureza. Somos semelhantes a Ele. Assim como Ele tem a vida divina, nós também a temos. Assim como Ele tem

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a natureza divina, nós também a temos. Ele é o Primogênito de Deus, e nós, os muitos filhos de Deus. Portanto somos Seus muitos irmãos. Coletivamente nós, os muitos irmãos, somos a igreja. Uma pessoa não se torna constituinte da igreja simplesmente sendo batizada e "ingressando em uma igreja", contudo sem receber o Senhor nela. Na juventude eu ia a uma capela todos os domingos para a escola dominical. Em certo momento, o pastor e os presbíteros consideraram que eu era muito bom e, portanto, me batizaram num domingo de manhã. Desse modo eu me tornei membro da "igreja" deles. Entretanto o fato é que eu não havia orado nem confessado meus pecados, nem mesmo lia a Bíblia. Você diria que isso é ser a igreja? Não. Hoje você e eu devemos ter clareza de que a igreja é a composição dos irmãos do Senhor. O Senhor Jesus é o Primogênito de Deus, e nós somos os muitos filhos de Deus. Cada um de nós, os filhos, tem a vida e a natureza de Deus Pai e, quando estamos juntos, somos a igreja. A igreja torna-se real quando experimentamos o Senhor dessa forma subjetiva.

SOMOS OS MUITOS RAMOS DA VIDEIRA E OS MUITOS MEMBROS DO CORPO

Terceiro, em João 15 o Senhor disse: "Eu sou a videira, vós os ramos" (v. 5a). Os ramos não são ramos se não tiveram uma experiência subjetiva absoluta da videira. Eles e ela são um só e não podem ser divididos. A vida nela é a vida neles; a natureza dela é a natureza deles; e a substância dela é a substância deles. Não há diferença entre a videira e os ramos. Rigorosamente falando, todos os ramos são parte da videira. Então como é que os ramos são produzidos? Cada um deles cresce da árvore. Assim que um brotinho surge do solo, não há ramo nenhum. Depois de certo tempo de crescimento, os ramos aparecem um após o outro. Por meio disso vemos o que é a igreja. Ela é composta dos ramos que brotaram de Cristo. Ela é o agregado de todos os ramos de Cristo. Cada um de nós que cremos Nele é um ramo de Cristo, porque é Ele que entra em nós e cresce em nós. Desse modo, somos todos membros de Seu Corpo, e, quando os membros estão juntos, são o Corpo. Considere meu corpo. Você não pode dizer que meus dedos ou meus braços não sejam meu corpo. Na verdade, meu corpo é feito dos dois membros superiores mais os dois inferiores e todas as outras partes. Quando todas essas partes - que possuem a mesma vida - estão juntas, isso é o corpo. Temos de conhecer a igreja desse modo. Que é a igreja? É formada de todos os membros de Cristo na vida de Cristo como o Espírito. Assim, nossa experiência de Cristo é absolutamente subjetiva, sem a qual não somos Seus membros e não somos a igreja. Entretanto, louvado seja o Senhor, hoje quando me sento entre vocês, de fato, sinto que entre nós e em nós há um fluir de vida assim como a circulação sangüínea em todas as partes do meu corpo. Esse fluir de vida é o Espírito, e Espírito é Cristo. É essa vida, esse Espírito e esse Cristo que fazem de nós a igreja.

SOMOS A ÚNICA NOIVA

Novamente gostaria de dizer que, mesmo que o Evangelho de João não tenha o termo igreja, ele menciona os grãos, os irmãos e os ramos. Acaso isso não representa a igreja? Talvez você diga: "Isso não é tão claro, pois os grãos, os irmãos e os ramos são todos indivíduos. Você não pode dizer que são a igreja". Mas, além disso, você pode examinar João 3:28 e 29, onde João Batista disse a seus discípulos: "Eu disse: Eu não sou o Cristo, [...] O que tem a noiva é o noivo". O Noivo é Cristo. Então quem é a noiva? É a igreja. Isso é coletivo, e não individual. Essa é a noiva única em totalidade. A primeira noiva do universo foi Eva. Como foi produzida?Quando freqüentava a escola dominical na infância, ouvi um professor dizer que Deus fez o homem do pó da terra. Pensei que Deus fizera duas pessoas: homem e mulher. Essa impressão ficou comigo até que fui salvo. Quando comecei a ler a Bíblia, queria descobrir onde estava registrado que Deus fizera o homem e a mulher do pó da terra. Não encontrei essa passagem, por isso fiquei imaginando como a mulher teria sido feita. Pondo de lado todas as impressões tradicionais, cuidadosamente li Gênesis 1 e2 novamente e descobri que Deus criou apenas um homem; não criou a mulher. Depois que o homem foi criado, Deus lhe trouxe todos os animais e aves, e o homem lhes deu nome. Entretanto não se encontrava para ele alguém que lhe fosse semelhante. Somente então ficou claro para mim que Deus não criara duas pessoas; antes, criara somente um homem, pois vemos que Adão não podia encontrar uma companheira. Então vi que Deus fez Adão dormir profundo sono e, enquanto Adão dormia, Deus tirou de seu lado uma costela e transformou-a numa mulher [Gn 2:21-22]. Em hebraico o termo para transformar é edificar. Deus tomou uma costela do homem e a edificou numa mulher, portanto precisamos saber que Eva não foi criada; foi edificada.

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Rigorosamente falando, Adão foi criado, e Eva foi edificada. Com que material ela foi edificada? Com uma parte de Adão, portanto podemos dizer que ela procedeu de Adão; era osso dos ossos dele e carne da carne dele. Visto que Eva era parte de Adão, os dois podiam ser uma só carne. Na edificação de Deus, Eva procedeu de Adão. Quando Deus os uniu, Eva voltou para Adão. Ela foi a primeira noiva. Essa primeira noiva prefigura a igreja, a noiva de Cristo. A rigor, essa noiva não é criada, e sim edificada. Com que material é edificada? É edificada com o material que procedeu do lado ferido de Cristo na cruz. Quando Cristo "dormiu" na cruz, Seu lado foi ferido e daí saiu não somente sangue para redenção, mas também água para dispensar vida. Essa água é a vida eterna, retratada pela costela de Adão. A costela não podia ser quebrada porque a vida eterna jamais pode ser destruída pela morte. Ela é o material para a edificação da igreja. Portanto precisamos ter vida eterna em nós, sem a qual não temos o material para a edificação da igreja. Considere isto: antes de ser salvo, talvez seus pais já estivessem na igreja e lhe disseram quão amável e doce ela é. Você não estava interessado porque dentro de você não havia o material para a igreja. Então, um dia, você foi atraído pelo Senhor e comovido pelo Espírito, assim você disse ao Senhor: "Senhor, sou um pecador. Creio em Ti. Ó Senhor Jesus!". Que maravilha! Uma vez que se arrependeu e invocou o nome do Senhor desse modo, você começou a sentir que a igreja era muito boa e amável. No passado você criticava os pais por sempre ir às reuniões; agora você também vai sempre às reuniões, e não apenas às reuniões da noite, mas até mesmo às vigílias matinais. Eu lhe digo: se não houvesse a igreja na terra hoje, eu não gostaria de viver. Tenho família e muitos filhos e netos, e os amo a todos, mas é difícil estar com eles todos por cinco minutos. Todavia, quando venho à reunião da igreja, sinto-me bem mesmo após cinco horas e meia. Dentro em mim há o amor pela igreja. Se você disser que sou "viciado em igreja", confessarei que sou. Todos aqui nos tornamos "viciados em igreja". E ainda mais: se você não se aproximasse do Senhor, não O invocasse por uma semana e não orasse a Ele por quinze dias, seu amor pela igreja esfriaria. Mas, se invocar: "ó Senhor!", você amará a igreja. Se orar ao Senhor de manhã, não conseguirá deixar de ir à reunião à noite. Se não está disposto a ir às reuniões, é sinal certo de que você está distante do Senhor. Esse é um princípio imutável. Você precisa saber que quanto da igreja está em você depende de quanto você a ama. Posso de fato testificar que reluto em gastar um dólar comigo mesmo, mas fico muito contente em gastar dez dólares com a igreja. Por vezes, meus amigos e parentes riem de mim e me dizem que sou tolo. Eles dizem: "Você não quer comprar isso e tenta economizar naquilo, mas quando se refere à igreja, você não se preocupa com quanto deve gastar. Que há com você?". Não sou tolo. Estou aqui a desfrutar a doçura da igreja. A igreja não é algo organizado nem produzido por apertos de mão. Nos Estados Unidos, observei que após terminar o sermão o pastor vai rápido para a porta da capela a fim de apertar a mão das pessoas e convidá-las a voltar na semana seguinte. Todavia, para alguns deles, quanto mais apertam as mãos, menos pessoas vêm. No passado recebi cartas de um ou dois amigos, aconselhando-me que, como servo de Deus, eu não deveria ter aparência séria e precisava apertar a mão das pessoas. Entretanto tenho de dizer que não é meu rosto que atrai as pessoas; é Cristo. A expressão em meu rosto não pode atrair você, mas Cristo pode. A igreja não é organizada nem fabricada pelo homem. Antes, procede do desfrute de Cristo. Os que O desfrutam não se afastarão, não importa o que você lhes faça. Isso é o que nos torna diferentes do cristianismo. Na reunião da mesa do Senhor, não somos uma organização nem um grupo religioso; somos, antes, os que desfrutam Cristo interiormente. Sua água da vida fluiu a nosso interior de Seu lado ferido, e com a costela Dele em nós somos edificados a noiva de hoje. Não somos americanos, chineses, alemães ou japoneses, mas o Cristo fluente flui a nosso interior. Por isso, todos temos o mesmo tipo de material, uma só costela, com a qual Deus edifica a mulher universal, que é a noiva, a igreja. Aqui você pode ver que não apenas há muitos grãos, muitos irmãos e muitos ramos, mas também uma só noiva edificada de uma costela. Portanto no Evangelho de João há a igreja, produzida de nossa experiência subjetiva de Cristo.

A IGREJA É A CASA DO PAI E A HABITAÇÃO DE DEUS O capítulo catorze diz: "Na casa de Meu Pai há muitas moradas" (v. 2). Creio que entre vocês alguns ainda retêm o velho e errôneo conceito de que a casa do Pai aqui se refira a uma mansão celestial. Já li muitas vezes as Escrituras e nunca encontrei nenhum versículo que diga que a casa

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do Pai seja uma mansão celestial. Essa expressão é usada duas vezes no Evangelho de João. A primeira, em 2: 16, refere-se ao templo (v. 15), o Corpo de Cristo. Com base nisso, essa expressão no capítulo catorze ainda deve referir-se ao templo, o Corpo de Cristo. Devemos interpretar as Escrituras por meio das Escrituras. Por isso, a definição de a casa de Meu Pai no capítulo catorze deve ser de acordo com o capítulo dois. A casa de Meu Pai é o templo, o Corpo, que é a igreja hoje. João 14:2 diz: "Na casa de meu Pai há muitas moradas". A forma singular do termo moradas nesse versículo é usada no versículo 23 do mesmo capítulo, quando se refere a um crente. Ali o Senhor diz: "Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra; e Meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos com ele morada". O sentido desse versículo é implícito. Parece que o senhor diz: "Por um lado, Meu Pai e Eu faremos nele morada. Por outro, Meu Pai e Eu seremos Sua morada. Meu Pai e Eu viremos a ele para fazer morada com ele, de forma que ele terá morada, e nós também teremos morada". Além disso, em 15:4 lemos: "Permanece i em Mim, e Eu permanecerei em vós". Essa é uma permanência, ou morada, mútua. Então nas Epístolas aprendemos que essa morada é a casa de Deus, a igreja do Deus vivo (l Tm 3:15a).

A IGREJA É PRODUZIDA COMO RESULTADO DE NOSSA EXPERIÊNCIA SUBJETIVA DE CRISTO Temos de perceber que o Evangelho de João refere-se à igreja de cinco modos diferentes. Primeiro, muitos grãos são moídos até virar a fina flor de farinha para se tornar um único pão. Segundo, muitos irmãos coletivamente se tornam a igreja. Terceiro, muitos ramos unidos à videira tornam-se uma só entidade. Somos membros de Seu Corpo e, embora os membros sejam muitos, são um só Corpo. Isso é similar aos ramos; embora sejam muitos, ainda são uma só videira. Quarto, há uma só noiva. Quinto, a noiva única é a casa de Deus: "a casa de Meu Pai". Todos esses termos retratam a igreja de vários ângulos e aspectos. Todavia o ponto principal que não podemos esquecer é que a igreja é produzida como resultado de nossa experiência subjetiva de Cristo. Não basta conhecer teologia e doutrinas, ou apenas ler a Bíblia. Se jamais contatou Cristo invocando-O, e comendo-O, bebendo-O e respirando-O, mesmo tendo todo o conhecimento, você ainda não tem nada a ver com Ele. Você pode ser membro do cristianismo, e até ocupar alta posição ali, mas talvez ainda não seja um elemento constituinte da igreja. Para tornar-se elemento constituinte da igreja, você deve invocar o nome do Senhor e recebê-Lo em seu espírito bebendo-O como a água viva. Precisa também recebê-Lo em você comendo-O como alimento espiritual para que Ele seja assimilado nas partes interiores de seu ser orgânico. Depois Ele se tornará você, e você terá uma união subjetiva com Ele. Além do mais, você pode até mesmo inalá-Lo como ar. É apenas recebendo-O em seu interior que você pode tornar-se um constituinte da igreja. Você é um grão, um dos Seus irmãos e um ramo, ou seja, membro, do Seu Corpo. Você também é parte da noiva e é parte de Sua habitação eterna. Isso é a igreja. Irmãos e irmãs, aqui eu gostaria de dizer que nestas duas mensagens abordamos todos os vinte e um capítulos do Evangelho de João. Nesse livro vemos que um dia o Deus que estava no princípio tornou-se carne a fim de realizar a redenção pelos nossos pecados como Cordeiro de Deus e tornou-se o Espírito todo-inclusivo em Sua ressurreição dentre os mortos Esse Espírito todo-inclusivo pode ser tocado por nós a qualquer hora e em qualquer lugar. Ele é nossa água viva, nosso alimento espiritual e nosso ar. Quando O bebemos, comemos e respiramos, nós O desfrutamos. Quando O desfrutamos desse modo, temos uma experiência subjetiva que faz de nós Seus grãos, Seus irmãos e seus ramos (os membros) do Seu Corpo. Isso também faz de nós Sua noiva e a habitação de Deus.

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O PRINCÍPIO E O FIM DOS ESCRITOS DE JOÃO SÃO COERENTES

Finalmente, você deve lembrar-se de que a conclusão de toda a Bíblia é a Nova Jerusalém. Por um lado, ela é a noiva; por outro, é o tabernáculo de Deus com os homens, ou seja, a habitação de Deus. A Bíblia toda termina com uma noiva e uma cidade santa como habitação; os dois itens foram mencionados no Evangelho de João, que diz que somos a noiva e a morada de Deus. Como nos tornamos a noiva e a habitação de Deus? Pela nossa experiência de Cristo. Nos últimos dois capítulos de Apocalipse vê-se que a Nova Jerusalém é a noiva, a cidade santa, a habitação e o tabernáculo. Ali há o rio da vida a fluir na cidade e a árvore da vida a crescer nas duas margens do rio. À medida que somos supridos pela água viva e nutridos pela árvore da vida, tornamo-nos a noiva, o tabernáculo e a habitação de Deus.

Os escritos de João incluem seu Evangelho, as Epístolas e finalmente Apocalipse. Ele termina Apocalipse da mesma maneira que começou o Evangelho. No Evangelho ele falou sobre Deus fluir para que O bebamos e nos tornemos a noiva e a habitação de Deus. Quando escreveu a conclusão em Apocalipse, ele nos deu exatamente o mesmo quadro: o próprio Deus a fluir do trono como água viva e, à medida que O bebemos e comemos, tornamo-nos a noiva e a habitação, a Nova Jerusalém. Aleluia, isso é a igreja! Ela é produzida porque temos a experiência subjetiva de Cristo em vida. Agradecemos ao Senhor porque hoje todos estamos nessa experiência.

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CAPÍTULO QUATRO

DEUS PASSOU POR UM PROCESSO PARA SE TORNAR O ESPÍRITO QUE DÁ VIDA

Leitura Bíblica: Mt 28:19; At 19:5; Gl 3:27; Rm 6:3; 1 Co 12:13, 3; Rm 8:9,10; 9:21, 23; 10:12

Por meio da revelação do Novo Testamento podemos claramente ver que a intenção de Deus é que O experimentemos subjetivamente. Para isso Ele se tornou o Espírito que dá vida. O termo Espírito que dá vida une os termos Espírito e vida. Deus uniu vida ao Espírito para que O experimentemos subjetivamente. Visto que Ele é o Espírito que dá vida, podemos recebê-Lo e também desfrutá-Lo, e o resultado é que a igreja é produzida. Portanto nossa experiência subjetiva de Deus é no Espírito e na vida, e resulta na igreja.

DEUS PASSOU POR UM PROCESSO PARA SE TORNAR O ESPÍRITO QUE DÁ VIDA Nesta mensagem eu gostaria de ter comunhão com vocês acerca de certa questão que foi clara e totalmente revelada no Novo Testamento, mas completamente suprimida no cristianismo tradicional. Em outras palavras, há uma revelação básica no Novo Testamento que o cristianismo não viu. Que revelação é essa? A fim de falar disso, precisamos ter as palavras adequadas que não foram usadas pelo cristianismo. Todos sabemos que, antes da encarnação do Senhor Jesus, Deus era Deus. Ele era o Deus eterno e perfeito. Nesse tempo, Deus era apenas Deus e não tinha a humanidade em Si; tinha somente a divindade. Ele não passara pela morte. Em Si mesmo Ele não precisava passar pela morte; logo Ele não morreu e ressuscitou. Esses são três itens grandiosos: não havia humanidade em Deus; Ele não passara pela morte; Ele não ressuscitara dos mortos. Ele era o Deus eterno e perfeito. Entretanto, um dia esse Deus na eternidade entrou no tempo a fim de se tornar um homem, revestindo-se da natureza humana. Ele era Deus, mas vestiu-se do homem. Ele era Deus, mas entrou no homem. Ele era Deus, o Deus eterno, o Deus perfeito, contudo uniu-Se ao homem a fim de Se mesclar com ele e ser um só. Desse dia em diante no universo houve alguém na terra que não era apenas Deus, mas também homem; havia alguém que não era apenas homem, mas também Deus. Nele, Deus e o homem tornaram-se um só: havia Deus e também havia o homem. Se você diz que Ele era Deus, está absolutamente certo; se diz que era homem, também está absolutamente certo. Você pode dizer que Ele era Deus e ainda assim homem, e também que era homem e ainda assim Deus. Nesse momento Ele já não era apenas Deus; Deus tornou-se homem. Ele era um homem-Deus. Nele havia o elemento humano e a natureza humana. Nele não havia apenas a divindade, mas também a humanidade. E não apenas isso: após ter vivido trinta e três anos e meio em Sua humanidade, Ele voluntariamente entrou na morte. Aparentemente essa pessoa que era Deus e ainda assim homem, Jesus Cristo, foi morto mediante a crucificação pelos homens. Na verdade, Ele entrou na morte por vontade própria. Ele tinha a autoridade absoluta para rejeitar a morte. Todo o mundo está destinado a morrer. Ninguém morre voluntariamente; pelo contrário, o homem morre porque é cativo da morte. Quando o homem morre, é capturado pela morte. Somente Jesus Cristo, que era Deus e ainda assim homem, morreu não porque foi capturado pela morte, mas porque entrou voluntariamente nela. Ele entrou na morte, passou por ela, deu uma boa observada nela, venceu-a e conquistou-a; depois saiu da morte. Isso é ressurreição. Quando se encarnou, Ele Se revestiu da carne e da natureza humana. Quando Ele entrou na morte e saiu dela, essa humanidade da qual Se revestira passou por um "processo" pelo qual foi elevada, transformada. O resultado é que, após a ressurreição, embora Ele ainda tivesse um corpo humano e natureza de homem, Seu corpo já não permanecia como antes. Antes da ressurreição, era corpo de humilhação; após a ressurreição, tornou-se corpo de glória. Antes da ressurreição, era um corpo sob limitação; após a ressurreição, já não estava limitado.

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Sabemos que antes da ressurreição do Senhor, quando estava na Galiléia, não podia estar em Jerusalém. Seu corpo era limitado. Contudo, após ressuscitar, Ele não estava sob nenhuma limitação. Ele tinha um corpo que ninguém podia entender. Ele podia estar em Jerusalém e na Galiléia ao mesmo tempo. Seu corpo era de fato glorioso e sem limites. Todos conhecemos o relato de João 20. Ao cair da tarde do dia em que o Senhor ressuscitou, os discípulos estavam reunidos a portas fechadas quando o Senhor veio e se pôs no meio deles com Seu corpo ressurreto. Isso é realmente um mistério. Não podemos entendê-Lo mas podemos crer. O Senhor Jesus estava ressurreto e tinha um corpo ressurreto que era físico, contudo sem limitações. Esse corpo não estava limitado fisicamente; nem estava limitado por tempo ou espaço. Hoje Ele é esse Espírito. Esse é o Espírito que dá vida. É o Espírito do Deus que se encarnou, que passou pelo viver humano na terra e pela morte na cruz por nós, pecadores. Esse é o Espírito que Se revestiu da carne humana a fim de verter Seu sangue na cruz para a redenção de nosso pecado. É também o Espírito Daquele que mediante a morte na cruz anulou a morte para o homem e destruiu o diabo, o que tem o poder da morte. Assim, Ele lidou com o pecado, a morte e Satanás. Sua morte na cruz pôs fim a todas as coisas negativas do universo. Depois de ter realizado tudo, Ele entrou no sepulcro, no Hades, e descansou por três dias. Ali Ele não decaiu nem sofreu nenhum dano; ele apenas descansou três dias. Depois desse descanso, saiu, vencendo a morte, o Hades, a autoridade das trevas e o sepulcro. Nesse momento tornou-se o Deus que passou por um "processo". Os teólogos talvez digam que jamais ouviram essa expressão. Quer você tenha ouvido ou não, eu lhe pergunto de acordo com os fatos: o Deus que se tornou o Espírito que dá vida passou por um "processo"? Sim, Ele passou pela encarnação, entrou na morte, foi sepultado e saiu do sepulcro e do Hades. Acaso isso não é um processo? Antes da encarnação, Deus era Deus, mas não fora "processado". Após a encarnação, morte e

A PREFIGURAÇÃO DO CORDEIRO PASCAL

Talvez possamos usar uma prefiguração para ilustrar. Todos sabemos que na Festa da Páscoa os filhos de Israel tinham de comer o cordeiro pascal, que primeiro devia ser morto e seu sangue aspergido nos umbrais e na verga da porta para sua proteção, a fim de que tivessem paz. Porém não bastava o cordeiro pascal ser imolado; precisava ser cortado em pedados e assado para ser comido. Ser imolado, cortado, assado e posto na mesa quer dizer que esse cordeiro passara por um processo. Eles não o comiam cru; comiam o que fora processado, imolado, cortado e queimado. E não apenas isso, enquanto comiam, havia outro processo.

Para exemplificar mais, depois que vamos ao supermercado comprar mantimentos, não os colocamos na mesa e os comemos crus. Isso seria barbárie. Pelo contrário, nós os trazemos de volta, lavamos, cortamos, preparamos e cozinhamos. Isso é processá-los. Depois do processo, nós os pomos na mesa. Então, enquanto os ingerimos, há outro processo. Não simplesmente devoramos a comida; antes, nós a pomos na boca, mastigamos e engolimos. Os nutrientes do alimento são assim assimilados em nós. O Senhor Jesus disse: "Eu sou o pão da vida". Eu pergunto: sem passar por um processo, acaso Ele pode tornar-se pão? O cordeiro pascal prefigura o Senhor Jesus. Deus disse que o cordeiro pascal não poderia ser comido cru ou cozido; deveria ser assado. Para ser nosso pão da vida, o Senhor Jesus teve de passar por um processo. Ele não é um Cordeiro cru; é processado. Então, quando O comemos, Ele passa por outro processo em nós.

REVELAÇÃO TOTALMENTE CONTRÁRIA AO CONCEITO RELIGIOSO Essa revelação é totalmente contrária ao conceito religioso, que considera Deus grandioso e digníssimo e por isso devemos exaltá-Lo nas alturas e nos prostrar perante Ele para adorá-Lo. Quando você pensou em adorar a Deus pela primeira vez, não foi esse seu conceito inicial? Quando eu me arrependi, por volta dos vinte anos de idade, e adorei a Deus pela primeira vez, eu me arrumei dos pés à cabeça e então me ajoelhei lentamente para orar: "ó Deus, eu Te rendo adoração". Você não fez o mesmo quando começou a adorar a Deus? Creio que não há exceção. Em 1958 fui a Jerusalém e visitei o lugar onde se encontra a segunda maior mesquita do mundo e vi os árabes adorarem Alá. Primeiro eles tomavam banho para purificar o corpo e depois vestiam roupas limpas; então iam para a adoração: por fora de fato tinham uma atitude de reverência. Entretanto essa adoração é religiosa. Os que estão na religião não percebem que um dia o Senhor veio como Cordeiro. João 1:29 diz: "Eis o Cordeiro de Deus!". Esse era o cordeiro pascal. Como tal, Ele

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não apenas foi morto para derramar Seu sangue para a redenção de pecados, mas também foi “partido em pedaços” e “assado” para que Seu povo O coma. Não se pode achar esse conceito de ser "processado" e "comido" na religião. Até hoje, alguns teólogos se opõem a esse tipo de discurso. Crêem que falar de comer Deus é blasfêmia. Entretanto sabemos que em João 6:55 e 57 o Senhor claramente disse: "Minha carne é verdadeira comida, ... assim, quem Me come também viverá por causa de Mim".

Jamais esquecerei a primavera de 1958, quando estava no salão de reuniões da Rua Jen Ai em Taipé e pela primeira vez falei sobre o Senhor ser comestível. Um dia, após eu ter falado, um irmão que era professor universitário veio a mim e disse: "Irmão Lee, sua mensagem hoje foi muito boa. Contudo dizer que o Senhor é comestível foi muito selvagem. Não dá para mudar o modo de falar?". Eu lhe disse: "Irmão, isso não é minha invenção. É o que o Senhor disse em João 6. Não sou eu que sou selvagem. Visto que o Senhor Jesus se entregou a nós como alimento, por que não ousamos comê-Lo? Se você quiser algo civilizado ou que soe melhor, não terá como desfrutar o Senhor". Se você quer desfrutar o Senhor, não deve atentar se algo soa bem ou não. Apenas coma. No passado a maioria dos cristãos pensava que comer o Senhor é comer as Escrituras. Eles diziam: "As escrituras são o maná. Comer maná é ler as Escrituras com meditação". Eles criam que meditar na Palavra era comê-la. Eu costumava ter o mesmo conceito e até ensinava a comer a Palavra desse modo. Entretanto ninguém podia comer nada. Meditar não é comer. Por exemplo, pode haver aqui um peixe. Depois de meditar no peixe por duas ou três horas, você ainda não o terá comido. Então uma simples criança pode vir; ela não medita. Enquanto você medita no peixe, ela o come. Você está vazio depois de meditar, ao passo que ela está satisfeita depois de comer. A Bíblia não nos diz que meditar na Palavra é comer o Senhor. Em João 6, depois de o Senhor Jesus ter dito que podia ser comido, os religiosos judeus disseram: "Dura é essa palavra; quem a pode ouvir?" (v. 60). Assim, um por um, todos O deixaram. O Senhor disse aos doze discípulos: "Porventura quereis também. vós retirar-vos?" (v. 67). Além disso, disse: "O Espírito é o que dá vida; a carne para nada aproveita" (v. 63). O Senhor estava dizendo: "Eu posso ser comido porque sou o Espírito. O Espírito pode ser comido. Os que Me comem são os que usam seu espírito para Me receber. As palavras que eu tenho falado a vocês não são meras letras ou doutrinas; antes, são espírito e vida. Vocês devem usar seu espírito para Me contatar".

A intenção do Senhor é dar-Se a nós como alimento. Irmãs mais velhas, vocês devem mudar seu conceito. Já foram ao Senhor e disseram: "Senhor, obrigada porque Tua intenção é dar-Te a mim como alimento"? Eu sempre agradeço' ao Senhor desse modo. De manhã vou ao Senhor e digo: "Senhor, venho novamente a Ti para Te comer. Tu és o pão da vida para mim".

O DEUS PROCESSADO TEM RICOS INGREDIENTES

Entretanto o que de fato quero dizer é: antes de se encarnar, o Senhor Jesus era o Deus perfeito na eternidade. Nessa ocasião Ele não podia ser comido porque não se encarnara nem passara pela morte e ressurreição. Isso quer dizer que Ele não fora processado. Depois de Sua encarnação, morte e ressurreição, Ele pôde ser comido. Em terminologia bíblica, esse Senhor que podia ser comido tornou-se o Espírito que dá vida, representado pelo óleo sagrado da unção no Antigo Testamento. O óleo sagrado da unção não era apenas azeite; era um ungüento com vários ingredientes. Depois que morreu e ressuscitou, o Senhor se tornou o óleo sagrado da unção. Nele há muitos elementos: os elementos de Deus, homem, morte e sua eficácia, ressurreição e seu poder. Ele é o ungüento. Devemos saber que, após o Senhor Jesus ter-se encarnado, morrido e ressuscitado, Deus tornou-se plenamente mesclado com o homem. O Senhor morreu a fim de lidar com o pecado, anular a morte, destruir Satanás e livrar-Se de todas as coisas negativas. Ele também elevou a humanidade e entrou em ressurreição para se tornar o Espírito todo-inclusivo, no qual estão o Deus Triúno, a humanidade elevada, a morte todo-inclusiva com sua eficácia e a ressurreição com seu poder. Tudo está nesse Espírito. Ele é o Espírito da unção, o Espírito todo-inclusivo. Depois de tudo ter sido cumprido, em Mateus 28 lemos que em ressurreição o Senhor veio aos discípulos e lhes disse: "Ide, portanto, faze i discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (v. 19).

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BATIZADOS NAS RIQUEZAS DO DEUS TRIÚNO O cristianismo pobre fez do batismo um ritual. Falam de "batizar a pessoa em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Também fui batizado desse modo. Depois que freqüentei a escola dominical várias vezes, o pastor decidiu batizar-me. Um dia fui à capela, e os que iríamos ser batizados ficamos em pé lá na frente. O pastor tomou uma pequena tigela e quando veio a mim disse: "Eu te batizo no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Então aspergiu algumas gotas de água na minha cabeça. Depois desse batismo eu me tornei "membro da igreja". O cristianismo pobre interpreta Mateus 18:29 dessa forma.

Meio ano depois de meu batismo, eu de fato fui salvo. Desse dia em diante comecei a orar e a ler a Bíblia. Quando li Mateus 28:19, fiquei meio perplexo e não entendi o que realmente queria dizer. Então olhei na versão interlinear grega e descobri que batizar as pessoas no3 nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é introduzi-Ias nesse nome. A preposição grega traduzida por em equivale a dentro de. Assim, esse versículo pode ser traduzido: "Introduzindo-os, pelo batismo, no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".

A preposição grega eis quer dizer em, a, para ou dentro de, dependendo do caso. Em Mt 12:4 lemos "entrou na casa"; em Mt 10:21 lemos "entregará à morte"; em Mt 10:10 lemos: "para o caminho"; em Hb 13:11 lemos: trazido para dentro do Santo dos Santos" - em todos esses versículos a preposição grega é eis. Com o verbo batizar essa preposição é normalmente traduzida por "em", por causa da regência desse verbo em português: "batizar no nome". Contudo a dificuldade reside no fato de a locução "no nome" indicar representação: "falar no nome de alguém" (no lugar de alguém); mandado: "pedir: um favor em nome de alguém"; apreço: "em nome da amizade", etc. Devemos lembrar que esses sentidos todos não se aplicam ao verbo batizar, que quer dizer originalmente mergulhar, imergir, por isso: "batizar no nome" é imergir, mergulhar, inserir no nome.

Nesse momento entendi o significado de "batizar em" mas ainda não pude entender o termo "nome" nessa frase: Não era capaz de descobrir nada, mesmo depois de ler vários livros de consulta, e também era muito difícil explicar pela minha experiência. Um dia recebi um livro intitulado Word Studies in the New Testament (Estudo das palavras do Novo Testamento) de M. R. Vincent. Quando li o estudo sobre Mateus 28:19, descobri que o que estava escrito ali correspondia completamente com minha experiência. Vincent diz que o "nome" do Pai, do Filho e do Espírito Santo denota a realidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O nome da pessoa não é uma expressão vazia; antes, denota a realidade da pessoa. Quando chamo o nome de um irmão, estou chamando o próprio irmão. Se houvesse apenas um nome sem a pessoa, o nome seria vão. Assim, o nome do Pai, do Filho e do Espírito não é vazio; é a realidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O Pai, o Filho e o Espírito são a realidade desse nome. Vincent diz ainda que a preposição grega eis [em, ou dentro de] indica a união divina da pessoa batizada com o Deus Triúno. Isso é tremendo! Daí em diante meus olhos foram abertos. Percebi que o batismo não é um ritual de iniciação ou religioso, mas é imergir em Deus alguém que estava fora de Deus. "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo". Ser batizado no nome é ser batizado na pessoa. Ser batizado no nome é ser batizado na realidade. Daí em diante, tive clareza de que o batismo não é um ritual, e sim uma ação concreta. Depois de arrepender-se e crer, a pessoa é imersa no Deus Triúno. Porque usar o nome? É porque o Deus Triúno - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - é misterioso demais. Nossos olhos não podem vê-Lo nem nossas mãos tocá-Lo; portanto, se Ele não fosse denotado pelo nome, seria muito difícil tê-Lo. Se eu digo: "Eu o batizo no Pai, no Filho e no Espírito", você pode perguntar: "Onde estão o Pai, o Filho e o Espírito?". Por isso, há a necessidade de usar o nome para denotá-Lo. Esse princípio está na Bíblia. João 1: 12 diz: "Mas a todos quantos O receberam, [...] aos que crêem no Seu nome". Se você diz apenas: "Mas a todos quantos O receberam", alguns talvez não entendam. Uma vez que o pronome "O" não pode ser visto nem tocado, como podemos recebê-Lo? Onde Ele está? Entretanto o versículo diz: "Mas a todos quantos O receberam, [...] aos que crêem no Seu nome". Embora você não O veja nem toque ou encontre, você tem Seu nome. Você pode dizer: "Senhor Jesus". Não pode vê-Lo nem tocá-Lo, mas pode clamar Seu nome: "Jesus". Você pode dizer: "Jesus, Jesus, amado Jesus, eu creio em Ti, Jesus". Eu lhe digo: quando você diz isso, você toca o Senhor. Portanto ser batizado no nome do Pai, do Filho e do Espírito é ser batizado no Deus Triúno - o Pai, o Filho e o Espírito. Hoje esse Deus Triúno é o Espírito todo-inclusivo, o Espírito que dá vida. Ele é como o ar. Enquanto estamos reunidos aqui hoje, estamos reunidos Nele. Se, neste exato momento, alguém fosse tocado e me dissesse: "Eu me arrependo e creio", eu lhe diria: "Visto que você se arrependeu e creu, Eu o batizarei em o nome do pai, do Filho e do Espírito". Isso não é ritual, mas realidade.

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Mateus 28: 19 diz: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Então Atos 19:5 diz: "Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus". Isso nos mostra que o nome do Senhor Jesus equivale ao nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E não apenas isso; mais adiante nas Epístolas, lemos: "Todos quantos fostes batizados em Cristo" (Gl 3:27). Isso indica que Cristo equivale ao nome do Senhor Jesus. Portanto batizar alguém no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo é batizá-lo no nome do Senhor Jesus e em Cristo. Além disso, batizar as pessoas em Cristo é batizá-las na Sua morte e até mesmo no Seu Corpo. "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo" (1 Co 12:13). Portanto o batismo não é algo insignificante. Anteriormente eu não tinha muita clareza, mas agora tenho. Quando uma pessoa se arrepende, crê e é batizada, esse batismo a imerge no Deus Triúno, no nome do Senhor Jesus, em Cristo, em Sua morte e em Seu Corpo. Isso é de fato maravilhoso. Realmente espero que de agora em diante, sempre que haja um batismo na igreja, esses cinco itens sejam ressaltados: o nome do Deus Triúno, o nome do Senhor Jesus, Cristo, Sua morte e Seu Corpo. No batismo, não apenas imergimos as pessoas na água exteriormente. A água é um símbolo que representa do Deus Triúno, o próprio Cristo, Sua morte e Seu Corpo. Quando imergimos as pessoas na água, nós as batizamos no Deus Triúno, em Cristo, na morte de Cristo e no Corpo de Cristo. Desde que o Senhor me deu essa revelação, não posso deixar de dizer que o cristianismo é realmente pobre. É tão pobre que a água do batismo consiste de apenas algumas gotas. Pela aspersão, não fui imerso no Deus Triúno, ou em Cristo, ou em Sua morte, ou em Seu Corpo; não fui batizado em nada. Ao voltar para casa, vivi e agi do mesmo modo que antes. Esse foi o meu batismo lamentável. É também a condição lamentável do cristianismo. Pelo contrário, doravante na igreja em cada cidade não devemos batizar as pessoas nessa água pobre; precisamos usar muita água como símbolo do Deus rico, do Cristo glorioso, de Sua morte todo-inclusiva e de Seu Corpo universal. Hoje devemos inserir os pecadores arrependidos nesses itens todos. Precisamos batizar dessa forma. Os que batizam outros devem orar assim: "Senhor, dá-me o poder do Espírito Santo, dá-me autoridade e dá-me fé. Todo aquele que eu colocar na água hoje será batizado no Deus Triúno, em Cristo, em Sua morte e em Seu Corpo". Não apenas os que são batizados precisam de fé; os que os batizam precisam ainda mais. Se a fé das duas partes se junta, eu lhes digo, quando uma pessoa sai da água, ela pulará, louvará e declarará: ''Aleluia! Hoje estou no Deus Triúno; estou em Cristo; estou em Sua morte todo-inclusiva; estou em Seu Corpo glorioso! Meus pecados se foram, o mundo está sepultado, a morte foi anulada, Satanás foi destruído e eu estou sepultado. Hoje estou no Cristo todo-inclusivo e estou na igreja gloriosa!". Esse é o batismo rico e glorioso da igreja. Essa deve ser nossa condição hoje. Cada vez que a igreja tem um batismo, se você não tem essa confiança, essa fé, então não deve batizar os outros. Você precisa ter esse tipo de autoridade viva, fé viva e certeza viva: "Eu represento o Deus de tudo ao imergir você, pecador arrependido, Nele, em Cristo, na Sua morte e no Seu Corpo glorioso!". Isso não é glorioso? Esse batismo nos transfere das trevas para a luz, da morte para a vida e do reino de Satanás para o reino de Deus. Precisamos desse tipo de batismo. Muitos que foram batizados dessa forma podem testificar que depois do batismo os pecados e os vícios desapareceram. Eles puderam testificar que após o batismo a angústia interior terminou porque foram batizados no Deus Triúno como o Espírito todo-inclusivo que dá vida. Essa é uma experiência subjetiva. Nossa experiência subjetiva começa nesse ponto. Conheço muitos que se tornaram totalmente diferentes ao voltar para casa do batismo, porque foram imersos no Espírito que dá vida.

BEBER DE UM SÓ ESPÍRITO Que fazer após o batismo? Primeira Coríntios 12:13 diz: "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, [...]E a todos nós foi dado beber de um só Espírito". Nesse versículo há duas palavras importantes: batizar e beber. Ser batizado quer dizer entrar na água, e beber quer dizer ingerir água. Depois desse batismo glorioso deve haver o beber. Você precisa beber sempre. Beber segue o batismo. Uma vez batizado, você precisa beber. O batismo o põe na posição em que você tem a qualificação, a base e a autoridade de beber. A água para o batismo é a água para beber. É a mesma água. Esse Espírito que dá vida é o Espírito para o batismo e para beber. Após o batismo você precisa beber.

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Como bebemos? Primeira Coríntios 12:3 diz: "Ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo". Em outras palavras, quem diz "Jesus é o Senhor!" está no Espírito Santo. Portanto, cada vez que você diz: "ó Senhor!", você está no Espírito Santo. Cada vez que invoca:”Ó Senhor Jesus!” você bebe do Espírito. A irmã Margareth Barber escreveu um hino cuja segunda estrofe diz: "Bendito Jesus, poderoso Salvador! / Em Teu nome tenho tudo o que preciso; / Respirar o nome de Jesus / É beber da Vida de fato" (Hymns, n° 73 - em inglês). Essa é uma evidencia de que essa irmã de fato tinha a experiência de beber. Precisamos apenas respirar o nome de Jesus, ou seja, invocar: "ó Senhor Jesus! Ó Senhor Jesus! Ó Senhor Jesus!", e bebemos de Sua vida. Esse invocar não precisa ser em voz alta. A fim de não perturbar os demais ao redor, podemos às vezes invocar baixinho: "ó Senhor Jesus! Ó Senhor Jesus!". Devemos beber sempre. Quando invocamos suavemente: "ó Senhor Jesus!", somos primeiro saciados interiormente e depois iluminados. Depois de alguns minutos de invocar, a luz interior se torna mais intensa e passamos a lidar com os pecados. Isso é de fato maravilhoso! Precisamos beber dessa forma. Finalmente gostaria de mencionar Romanos 8 a 10. Aparentemente esses três capítulos não estão conectados, mas na verdade estão. O capítulo oito fala de a água viva estar em nós. Os versículos 9 e 10 mostram que o Espírito de Deus habita em nós; esse é o Espírito de Cristo em nós e também é Cristo em nós. Isso se refere à água viva. O capítulo nove fala que nós, que bebemos dessa água viva, somos vasos. Por exemplo, a água é posta num copo, portanto o copo é um vaso, um recipiente. Somos vasos para ser cheios de água viva. Como somos cheios? Romanos 10:12 diz que o Senhor é "rico para com todos os que o invocam". Como vaso, você deseja desfrutar as riquezas do Senhor? Só há um modo: invocar Seu nome. É bom ouvir mensagens porque podem ajudá-lo, mas você precisa invocar o nome do Senhor pessoalmente. Quando O invoca, você tem Suas riquezas como bebida e provisão. Então, como vaso, você será cheio das riquezas do Senhor de todos. É assim que se pode ter a experiência subjetiva do Senhor. Aleluia! Deus passou por um processo a fim de se tornar água bebível, e está aqui. Somente precisamos invocar Seu nome, e, como o Espírito, Ele entrará em nós para que desfrutemos Suas riquezas.

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CAPÍTULO CINCO VIVER POR CRISTO PARA EXPRESSÁ-LO

Leitura Bíblica: 2 Co 13:5; Cl 1:27; Gl 2:20a; 4:19; Ef 3:16-17a, 19b

NÃO ESTAMOS ACOSTUMADOS A VIVER POR CRISTO

Entre nós, cada um conhece esta verdade: "Cristo vive em mim" _ Embora todos a conheçamos, talvez não tenhamos a experiência adequada dela, pois até hoje não estamos acostumados a permitir que Cristo viva em nós. Desde o dia em que nascemos, vivemos por nós mesmos; hoje, já crescidos, nós é que ainda vivemos. Fazemos tudo por nós mesmos. Tudo o que queremos dizer ou fazer, fazemos por nós mesmos. Se há alguma dificuldade, nós a resolvemos. Se há alguma fraqueza, nós lidamos com ela. Se há algum pecado que nos assedia, nós tentamos vencê-lo. É raro não viver por nós mesmos. Sabemos que Gálatas 2:20 diz: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Falamos isso e cantamos também, mas a realidade é que ainda sou "eu" quem vive. Não importa quantas vezes tenhamos falado, cantado, gritado ou orado esse versículo, quando chega o momento do viver prático, ainda é o "eu" que vive.

Talvez os jovens aqui não se recordem, mas os mais idosos se lembram que, desde que esta obra do Senhor começou em Taiwan em agosto de 1948, a mensagem central pregada por nós tem sido: "Cristo vive em mim". Ainda me lembro que nossa mensagem na primeira conferência foi sobre "Cristo e a cruz". Se você ler a revista "The Ministry of the Word" (O ministério da Palavra) de vinte anos atrás, verá que a primeira série completa de mensagens foi sobre "Cristo e a cruz". Portanto a verdade acerca de "Cristo vive em mim" não é nova. Hoje, vinte e oito anos depois, retorno a isso. Por um lado, estou cheio de gozo porque vejo o crescimento dos jovens. Por outro, estou cheio de sentimentos misturados quando vejo irmãos idosos que conheço há mais de vinte anos. Desde 1948 a igreja em Taipé começou a ter marchas de evangelho. Especialmente em 1949 começamos a ir ao New Park (Parque Novo) todos os domingos à tarde a fim de pregar o evangelho. Cada vez que fomos, reunimos cerca de três mil pessoas para ouvir o evangelho e trezentas ou quatrocentas delas forneciam o nome para nós. Muitos foram salvos ali. Uma vez salvos, vinham para nossas reuniões e ouviram esta verdade central: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Entretanto, após ouvir isso por tanto tempo, o sabor se perdeu. Muito embora nas reuniões ainda digamos: "Já não sou eu quem vive", quando voltamos para casa ainda somos nós que vivemos. Isso se dá porque o ensinamento é vazio, sem efeito. Esta noite, antes vir para a reunião, o Senhor me disse que falasse esta mensagem já familiar: "Cristo vive em mim". Entretanto Ele também me disse que não devo falar doutrina, mas preciso "negociar" com vocês. Eu pergunto: depois de salvos por tantos anos, vocês vivem por Cristo todos os dias? Esse é meu encargo nesta noite. Temo que, entre nós aqui, ainda haja muitos que não estejam acostumados a viver por Cristo. Por exemplo, aqui está um irmão. Quero perguntar-lhe: "Suponha que sua mulher, que sempre resmungou, faça isso hoje de novo. Que você faz?". Esse irmão pode dizer: "Como alguém de Hunan, não posso suportá-lo, então primeiramente fico bravo. Depois, quando sinto que não deveria ser tão bravo, fico mais brando". Eu diria que isso não é Cristo, e sim ele mesmo. Mesmo a repreensão interior que ele sente pode não ser de Cristo, pois não somente um cristão, mas até os chineses agem dessa forma. Você vê que o resultado de vinte anos de ouvir mensagens é "Já não é Cristo quem vive, mas um hunanês vive em mim". A dificuldade é esta: embora tenhamos Cristo, não estamos acostumados a viver por Ele. Porém não devemos ficar desanimados. Podemos começar a praticar novamente. Como? Se sua mulher resmungar hoje, não considere quem você é; antes, ore: "Senhor, Tu estás em mim, e eu vivo por Ti. Senhor, agora minha mulher está de novo a resmungar; que farei?". Tenho certeza de que, se você estiver disposto a perguntar ao Senhor dessa forma, Ele logo dirá: "Deixe-a resmungar um pouco mais. Os resmungos dela não são como música? Enquanto ela resmunga, Eu estou em você e levarei você a dançar". Desse modo, já não é você. Já não é sua braveza, sua paciência ou sua educação; pelo contrário, é Cristo em você que o leva a dançar. Isso é "já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim"

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Sei que muitas irmãs gostariam de não ter mau temperamento, porque a ira destrói a boa impressão que os outros têm delas. Assim, vocês todas detestam perder a calma, e prefeririam ser gentis e ganhar elogios dos outros. Mas que acontece? Por um lado, vocês sempre perdem a calma; por outro, não sabem o que fazer quanto a isso. Já tentaram todas as maneiras possíveis de não perder a calma. Agora sabem que isso não corresponde com a luz que receberam da verdade. Essa luz é: "Estou crucificada com Cristo. Não importa se perco a calma ou não, já fui crucificada. Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Não se importe com seu temperamento, importe-se com Cristo. Não lide com seu temperamento; lide apenas com Cristo. Todavia, poucas conseguem ignorar seu temperamento e importar-se apenas com Cristo. Isso não é fácil. Ensinamento é uma coisa; experiência é outra. Isso é especialmente verdade com relação a esse ensinamento específico. Por quê? Porque esse ensinamento diz respeito a Cristo vindo a nós para ser nossa disposição, vida e pessoa. Isso não é simples. Você tem sua disposição, vida e pessoa, contudo hoje em seu interior há outro que quer ser tudo isso em você. Você precisa pôr de lado sua disposição, vida e pessoa e tomá-Lo como esses itens em você. Isso não é fácil. É fácil ouvir o ensinamento e entendê-lo, mas é difícil aplicá-lo ao viver diário. Não importa o que você faça, ainda há demais de você mesmo. Uma coisa é falar o ensinamento, mas outra bem diferente é vivê-lo.

TER A PRÁTICA DE PRESTAR ATENÇÃO SÓ A CRISTO, E NÃO A PESSOAS, QUESTÕES E COISAS O Senhor precisa ter misericórdia de nós. A medida da realidade, peso, altura e glória de nossa vida da igreja é determinada pela extensão de viver por Cristo e expressá-Lo em nosso viver. Assim, meu encargo é ter comunhão com vocês sobre esse tópico. Quando vocês tiverem a luz, concentrarão os olhos em Cristo. Se você tem um problema com o marido, esqueça o marido; se tem um problema com a esposa, esqueça a esposa; se tem um problema com o temperamento, esqueça-o; se tem um problema com as circunstâncias, esqueça-as. Só não se esqueça de Cristo. Você não precisa lidar com as circunstâncias ou consigo mesmo porque não há como fazer isso. Quanto mais tentar, mais difícil será; quanto mais conseguir, mais coisas terá com as quais lidar. Essa é nossa experiência. Não importa o que seja, a verdade subjetiva real não é lidar consigo mesmo, mas contatar Cristo. Não lide com seu temperamento, fraqueza, falha ou circunstância. Não se concentre em si mesmo ou em qualquer pessoa, questão ou coisa. Você só precisa contemplar Cristo, contatá-Lo e deixá-Lo viver em seu viver. Certo irmão sempre vinha a mim e me perguntava: "Irmão Lee, que você pensa da maneira como fiz aquilo? Foi bom ou não?". Ou então perguntava: "Irmão Lee, que acha do meu corte de cabelo? Está bom ou não?". Quando me fazia essas perguntas, eu nunca lhe disse que o que ele fizera era bom ou mau ou que o corte de cabelo estava bom ou não. Eu sempre lhe dizia: "Para cortar o cabelo, você precisa contatar o Senhor. Em vez de prestar atenção ao cabelo, contate o Senhor. Quando você encontrar certa questão, grande ou pequena, primeiro coloque-a de lado e contate o Senhor". Algumas irmãs também me perguntaram: "Irmão Lee, você aprova nossa roupa?". Eu sempre lhes dizia: "Não se preocupem com a roupa; antes, preocupem-se com Cristo. Vocês precisam contatar o Senhor sobre o que vestir. Perguntem a Ele: 'Senhor, és Tu que vives em mim. Que queres que eu vista?"'. Não foi apenas vinte e oito anos atrás no local de reunião da Rua Jen Ai em Taipé que eu falei sobre essa verdade; quando voltei em 1967, falei solenemente sobre Cristo como nossa pessoa. Mas agora pergunto: "Hoje, neste exato dia, quanto você já permitiu que Cristo fosse sua pessoa de modo prático?". Não muito. A verdade continua sendo a verdade - nós de fato prestamos atenção demais a pessoas, questões e coisas, lidando com elas o tempo todo. Diariamente estamos preocupados com: "Que farei com meu temperamento?"; "Sou apressado demais, que devo fazer?"; "Sou lento demais, que devo fazer?"; "Não consigo me coordenar com os irmãos em minha reunião de casa, que devo fazer?"; "Não me dou bem com meu marido e sogros, que vou fazer?". Irmãos, temos de ver que esses são todos enganos de Satanás, planos seus para nos distrair e cativar nosso coração, levando-o para longe de Cristo. Você e eu precisamos ver que devemos ser como Pedro e João no Monte da Transfiguração: "A ninguém viram, senão só a Jesus" (Mt 17:8). Em casa, não se deve ver seu temperamento, sua impaciência, sua esposa, seu marido, seus filhos, seus parentes ou você mesmo; deve-se ver apenas Jesus. Isso é não ver a ninguém, senão só a Jesus. Não me preocupo com meu temperamento; só me preocupo em contatar o Senhor. Ele é minha vida, minha disposição e até minha pessoa. Irmãos, se o Senhor quiser ter na igreja hoje um grande avivamento que seja de acordo com Seu padrão, deve haver entre nós muitos que vivam por Cristo essa forma.

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CRISTO VIVE, É FORMADO E HABITA EM NÓS

Ontem de manhã eu disse que a luz na igreja é sete vezes intensificada. Quando você estiver para perder a calma, a luz brilhará. Uma vez que brilhe, sua ira se vai. Entretanto esse é apenas o lado negativo. O que estou falando hoje à noite é do lado positivo. Não basta refrear-se de perder a calma e não se irar; você precisa permitir que Cristo viva em você. "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". No cristianismo pobre não existe isso. Alguns até dizem: "Cristo está somente sentado no céu; Ele não pode estar nos crentes". Dizem também: "Os crentes não têm a natureza de Deus neles". Isso é de fato heresia. O Novo Testamento claramente nos diz: "Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós?" (2 Co 13:5). E diz ainda: "Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl 1:27). E não só isso, mas Paulo também diz: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:20). Não é que Cristo apenas faça as coisas por mim, ajude-me e me fortaleça; Ele vive em mim. Devemos saber que permitir que Cristo viva em nós não é algo insignificante. Suponha que eu o visite em casa. Posso sentar ali por horas, mas isso não quer dizer que eu viva ali. Somente os membros de sua família é que vivem em sua casa. O Senhor Jesus não apenas fica em nós; Ele vive em nós. Hoje muitos somente vêem o registro bíblico de Cristo ter ascendido após a ressurreição. Por isso, não entendem como Cristo pode sentar-se no céu e viver em nós ao mesmo tempo. Eles têm uma verdade de um só lado, prestando atenção somente ao lado objetivo e negligenciando o lado subjetivo. Por um lado, é verdade que Cristo está sentado no céu; mas, por outro, também é verdade que está em nós e até mesmo vive em nós.

E não apenas isso, em Gálatas 4:19, Paulo diz: "Sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós". Cristo está em você, mas ainda não foi formado. Que quer dizer isso? Isso indica que, por um lado, os cristãos na Galácia criam em Cristo e O tinham neles; por outro, estavam influenciados pela religião judaica e cheios de conceitos judaicos, idéias legalistas e pontos de vista do Antigo Testamento. Portanto eles não davam total espaço para Cristo expandir-Se neles. Assim, Paulo parecia dizer-lhes: "Preciso novamente ter dores de parto por vocês para que dêem toda a base em vocês a Cristo, livrando-se de todos os conceitos do judaísmo, das idéias relativas à lei e todas as coisas verotestamentárias que ainda permanecem em vocês. Desse modo, Cristo será plenamente formado em vocês". Isso nos mostra quão real e subjetivo é Cristo estar em nós! Depois, em Efésios 3, Paulo diz: "Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, [...] para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (vs. 14, 16). Isso é ser fortalecido em nosso espírito, em nosso novo homem, para que "habite Cristo no vosso coração, pela fé" (v. 17). O sentido de "habitar" aqui é fazer morada. Depois de se mudar para uma casa nova, você começa a mobiliar os cômodos e torná-los aconchegantes. Você pensa na melhor disposição para a cama, a sala de jantar e a escrivaninha. Provavelmente Cristo ainda não foi formado em nós, muito menos fez morada em nós. Portanto hoje precisamos que Deus nos conceda graça fortalecendo-nos em nosso homem interior para que Cristo habite em nosso coração. Nosso coração é composto de várias partes, inclusive a emoção, mente e vontade. Precisamos abrir todas elas para permitir que Cristo habite em cada uma, assim como quando nos mudamos para uma casa nova e arrumamos todos os cômodos. Suponha que haja dois cômodos ainda fechados; isso quer dizer que ainda não moramos neles. Hoje Cristo em nós precisa ser tão subjetivo que habite em nosso coração e resida em todo o nosso ser. O resultado é que somos "tomados de toda a plenitude de Deus" (v. 19b). Tudo isso não deve ser mera doutrina. Talvez poucos cristãos tenham ouvido esse ensinamento, mas entre nós já o ouvimos muito. Portanto, irmãos, esta noite perante o Senhor vocês devem solenemente considerar essa questão e perguntar: "ó Senhor, em meu viver prático dia a dia, Tu vives em mim? Estás sendo formado em mim? Acaso tenho cedido cada espaço dentro de mim para Ti? Ó Senhor, eu sou Teu lar?". Isso não é doutrina. Talvez aqui surja uma pergunta: quem é esse Senhor que está em nós? Ele é o Deus Triúno. O Senhor que está em nós não é apenas Cristo, mas também a corporificação de Deus. Ele é o Deus Triúno. O Pai está no Filho, e o Filho é o Espírito. Ele não está em nós como mero representante e acima de tudo não está em nós como doutrina. Ele está em nós hoje não apenas como nossa vida, mas também como o Senhor de todos, uma pessoa completa e única. Ele é o Deus Triúno como o Espírito que dá vida em nós. Irmãos, quero perguntar-lhes: "Isso é doutrina ou experiência para você?". Temos de dizer: "ó Senhor, tem misericórdia de nós. Se isso não se tornou nossa experiência, oramos para que Tu a tornes nossa experiência".

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A RESTAURAÇÃO DO SENHOR É RESTAURAR NOSSA EXPERIÊNCIA SUBJETIVA DO SENHOR Todos dizemos que somos pela restauração do Senhor, porém que é essa restauração? É a restauração de nossa experiência subjetiva do Senhor a fim de que a igreja seja percebida de modo prático. A igreja é resultado de nossa experiência subjetiva. Quanto do elemento da igreja há em nós, quanto peso a igreja terá e quão elevada será a vida da igreja dependem de quanto Cristo é vivido e expresso em nós. Precisamos ser fervorosos em espírito. Isso é bom, mas não é suficiente. Devemos ser capazes de dizer: "É Cristo que vive em mim, é Cristo que está sendo formado em mim e é Cristo que habita em mim. Minha vida é Ele, minha disposição é Ele e minha pessoa é Ele. Sou Sua habitação, morada, e vivo por Ele. Não me importo com o mundo, o pecado ou minhas circunstâncias, inclusive as pessoas, questões e coisas ao redor. Nem mesmo me importo com minha disposição ou temperamento. Somente me importo com esse Cristo precioso e quero viver por Ele. Quando Ele está contente, eu estou contente. Quando Ele sofre, eu sofro. Quando Ele opera, eu opero. Quando Ele pára, eu paro. É por isso que Ele é minha vida e pessoa". Precisamos experimentar Cristo a esse ponto. Não fique alegre porque se sai bem ou porque sente que é perfeito. Não! Você precisa perguntar: "Será que realmente expresso Cristo? Acaso Ele de fato fez morada em mim? Porventura vive livremente em mim? Eu O tomo como minha vida, disposição e pessoa de verdade?". Essas são perguntas que você deve fazer a si mesmo.

O TESTEMUNHO DA IGREJA É A EXPRESSÃO DE CRISTO EM NOSSO VIVER

A razão de o cristianismo ter caído numa religião é que muitos negligenciam viver Cristo, prestando atenção, antes, à conduta religiosa exterior, como ser cortês com os outros, amar o próximo, ser compassivo com os demais e estar disposto a sofrer perda. Eu lhes digo: todos esses são conceitos religiosos. Em termos de conduta humana, são bons, mas a igreja não é formada dessas coisas. Como, então, ela é formada? É formada pelo Cristo expresso em nosso viver. O que a igreja precisa hoje não é a expressão de bom comportamento, e sim desse Cristo glorioso em nosso viver. A igreja, como candelabro, não resplandece o bom procedimento humano, e sim o próprio Cristo. Somente quando Cristo Se expressa em nosso viver e resplandece em nós é que pode haver a vida da igreja. Nesta manha, fui intrépido em encorajar os jovens a sair para espalhar o testemunho da igreja a todo lugar. Espero que não repitam a história do cristianismo; antes, espero que, não importando quantos vão a uma cidade, logo sejam ali um testemunho vivo. Que é um testemunho vivo? É Cristo. Vocês precisam deixar que as pessoas vejam que a igreja não é o cristianismo, uma religião ou conduta exterior, e sim é o Cristo glorioso expresso no viver de Seus membros. Precisamos ter esse tipo de experiência subjetiva; deve ser tão subjetiva que consigamos dizer: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Além disso, deve atingir tal estágio que não apenas consigamos dizer isso, mas até os que nos observam testifiquem: "Eu os tenho visto por meio ano e de fato percebo que são extraordinários. O que vocês expressam em seu viver não é humanamente possível". Essa deve ser a condição adequada da igreja. Talvez os outros só consigam dizer: "Sua paciência é tremenda. Vocês são também muito mansos. Em todas as coisas vocês estão dispostos a sofrer perda enquanto os outros levam vantagem sobre vocês. Vocês são bons, muito benevolentes!". Se vocês forem a um lugar e receberem esse tipo de elogio, eu lhes digo, seu testemunho é um fracasso, pois não estão testificando a igreja. A igreja não é um testemunho de benevolência, e sim de Cristo. Vocês precisam ter um viver que ninguém consiga descrever, contudo admitam que não é nada humanamente possível. Esse é o testemunho da igreja. Essa é a restauração que o Senhor busca hoje. Essa restauração não são doutrinas e regulamentos, mas o Cristo vivo em nosso interior expresso em nosso viver.

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SER VIGILANTES EM ORAÇÃO PARA ENTRAR NA EXPERIÊNCIA EM REALIDADE Nesta mensagem usei versículos bíblicos muito familiares a vocês. Espero que vocês os leiam-orem com cuidado e tenham muita comunhão sobre eles até que essas palavras penetrem em vocês, e vocês também entrem de fato nelas. Assim poderão ter esta experiência: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Todos os dias, cedo todo o espaço em mim a Cristo. Diariamente permito que Ele seja formado em mim. Dia a dia deixo que Ele faça morada em mim. Eu O tomo como minha vida, disposição e pessoa. Deixo-O ser meu 'eu'. Para mim, o viver é Ele". Isso é Cristo, e não cristianismo. Isso é a igreja, e não organização. Isso requer que vigiemos e oremos. Precisamos ser vigilantes em tudo e não permitir que nada nos distraia de Cristo. Não devemos permitir que nosso temperamento e disposição nos perturbem, fazendo-nos ficar distraídos de Cristo. Devemos dizer: "Satanás, para trás de mim! Não vou prestar atenção a meu temperamento ou disposição. Somente darei atenção ao Cristo que vive em mim. Eu O deixo viver em mim, ser formado em mim e fazer morada em mim". Essa é a condição que o Senhor quer hoje. Se doravante essas palavras calarem fundo em todos nós, conduzindo-nos a essa experiência, então tudo será bem sucedido. As igrejas em todas as cidades definitivamente serão vivas e terão um testemunho adequado. Precisamos orar e orar, orar de todas as maneiras, orar até que saiamos de nós mesmos e entremos em Cristo. Ore a ponto de não prestar mais atenção às circunstâncias nem cuidar da própria condição. Ore até que esteja no Monte da Transfiguração, onde não vê ninguém senão Jesus somente. Continue a orar para que as igrejas em todas as cidades tenham o testemunho do Cristo vivo.

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CAPÍTULO SEIS SANTIFICACÃO, TRANSFORMACÃO E CONFORMAÇÃO

Leitura Bíblica: 1 Pe l:2a; Rm 15:16; 6:19b, 22; 12:2a; 8:29; 2 Co 3:17-18

Nosso conhecimento das escrituras é sempre velado pelos conceitos naturais. Parece que não somos capazes de evitar esses conceitos quando vamos ler a Bíblia. Portanto não temos nenhum entendimento de muitas verdades profundas nas Escrituras relativas às experiências subjetivas. Ao ler a Bíblia, quase todos os cristãos lêem apenas a letra; lêem superficialmente. Por conseguinte, não ganham nenhuma luz ou revelação acerca do que é real nos lugares ocultos.

TRÊS TERMOS DIFÍCEIS Há três questões que podemos notar nos versículos bíblicos citados acima. Com relação a esses itens, muitos só conhecem os termos, mas não têm nenhuma idéia do que significam. Que são esses três itens? O primeiro é a santificação. Isso geralmente é chamado de "pureza santa" em chinês. Entretanto, na língua original das Escrituras, essa palavra não tem noção de pureza; antes, é plena do significado de separação. Portanto vemos que não é pureza; é santificação. Ser de fato santificado não é questão de ser purificado, mas separado, posto de lado. O segundo item é a transformação. A maioria dos chineses conhece o termo, mas não o entende de modo preciso e adequado. Esse termo denota não apenas mudança, mas mudança química, como em química. O terceiro é conformação. Não é difícil entender esse termo em chinês, mas não é tão fácil entendê-lo com respeito às experiências espirituais subjetivas. Por falta de experiência espiritual subjetiva, parece que conhecemos esses termos quando lemos a Bíblia, mas na verdade não os entendemos.

Comecei a ler a Bíblia há cinqüenta anos. Quando me deparei com termos como santificação, transformação e conformação, meu entendimento era totalmente segundo os conceitos naturais. Com respeito à santificação, ou "santo e puro" em chinês, eu pensava que, desde que não cometesse nenhum pecado ou algo errado, eu era santo e puro. Se parecesse sério e ficasse quieto quando os outros estivessem brincando e rindo, então era santo e puro. Com relação à transformação, eu não entendia o significado espiritual. Com relação à conformação, visto que a Bíblia em chinês traduzira ser conformado por imitar, eu sabia o significado literal, mas nada entendia do significado espiritual. Eu carecia de experiência espiritual subjetiva e também não tinha orientação dos que eram mais experientes. Cinqüenta anos atrás, quando tinha a mesma idade que muitos jovens aqui, eu não tinha a ajuda que vocês recebem hoje. As experiências que ganhei em dez anos não se comparam com as que vocês ganham agora em meio ano. Por causa da orientação que recebem, é fácil entender as coisas espirituais. Contudo, mesmo hoje à noite ainda não tenho total confiança que entre nós haja experiência completa dessas três questões.

Que é santificação? Que é transformação? Que é conformação? Sei que muitos de vocês já ouviram mensagens e leram livros a esse respeito; contudo ainda gostaria de dizer que provavelmente não tiveram experiências suficientes. Desta vez veremos que a orientação do Senhor entre nós é que tenhamos uma visão cabal dessas experiências subjetivas e interiores. Nosso encargo é ajudá-los, a geração mais jovem, a conhecer o caminho da restauração do Senhor.

SANTIFICAÇÃO

Com base nas experiências de muitos anos, posso dizer que a santificaçã6 é a adição do elemento divino a nós. Por exemplo: há cinco copos de água pura aqui, e você pode ver que são todos iguais. Mas quando adicionamos chá a um deles, os componentes do copo ficam diferentes. Entre os cinco copos de água, somente um tem chá, e os outros quatro não. Portanto esse copo de água que tem chá passou pela "chaificação". Esse exemplo explica o significado de santificação. Antes de ser salvos, éramos no máximo copos de água pura.Na verdade, não éramos puros; éramos copos com água contaminada. No dia em que fomos salvos, entretanto, o Espírito de Deus entrou em nós. Esse Espírito é o elemento divino, que é o próprio Deus. Deus mesmo se acrescentou a nós. Temos algo a mais em nós, que é o elemento divino. Ter esse elemento adicional é ser santificado.

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Dos cinco copos de água, quatro não tem chá adicionado a eles; são comuns. Somente um tem chá, portanto é separado. Há distinção entre esse copo e os outros quatro, e essa distinção reside no elemento do chá. Quando o chá foi acrescentado à água, somente o centro mostrou mudança de cor, mas depois de algum tempo e de mexer a água, o elemento do chá se espalhou do centro para a borda. No início, a aparência do chá estava presente apenas no meio da água, mas depois de certo tempo a característica do chá permeou todo o copo de água. Assim, o copo todo de água foi "chaificado". Esse é o sentido da santificação falado nas Escrituras. Naturalmente, na Bíblia, a santificação possui dois aspectos: o objetivo, posicional, e o subjetivo, disposicional. A santificação posicional é registrada em Mateus 23: 17. Quando um pedaço de ouro está numa casa comum, é comum. Contudo, quando é colocado no templo santo para revestir as paredes, imediatamente é santificado. Isso ocorre porque esse pedaço de ouro é diferente em posição de todos os outros pedaços. Os demais pedaços de ouro estão em posição comum; somente esse que foi colocado no templo é que foi santificado. Isso é santificação posicional. Entretanto a santificação mencionada em Romanos 15:16; 6:19 e 22 não é posicional, e sim disposicional. Isso pode ser comparado ao copo de água que tem a adição de um ingrediente. Não há mudança de posição; antes, há adição na composição. Por isso, essa não é santificação posicional, mas disposicional. Agora eu gostaria de fazer uma pergunta. Depois que somos salvos, amamos o Senhor e queremos buscá-Lo. Nós buscamos "santidade" porque a vemos em nossa leitura da Bíblia. Desse modo, os que antes sempre faziam piadas já não as fazem. Os que antes eram precipitados e abruptos no falar e assim facilmente ofendiam os outros agora aprendem a diminuir o ritmo ao falar. Os que costumavam criticar os outros agora se restringem de falar levianamente. Que você diria disso? Eu digo que essa é a santificação em nosso conceito natural; não é a santificação falada na Bíblia. A santificação a que as Escrituras se referem é que nos abramos para o Senhor a partir do nosso espírito e permitamos que Ele entre em nós. Não se trata de fazer piadas ou não, de criticar ou não; não é nada disso. Essas coisas estão todas na esfera religiosa. Não permaneça nessa esfera. Hoje não estamos no âmbito da religião, mas da vida. Não é que mudamos nosso comportamento por fora; antes, abrimos todo o nosso ser a partir do interior e permitimos que o Senhor, o Espírito vivo, Se infunda em nós. Quando Seu elemento divino é infundido em nós e cresce em nós, isso é santificação. Não é importante se você faz piadas ou não, se ofende os outros ou não, se os critica ou não. Esqueça tudo isso! Eu sempre digo que, se quem não faz piadas e não critica os outros for considerado santo, então uma estátua de Maria nas catedrais católicas deve ser a mais santa. Essa estátua de pedra não perde a calma, não ofende os outros, não critica ninguém nem faz piadas; ela mantém a mesma postura do início ao fim do ano. Você acha que isso é santidade? Não é; é algo que pertence à esfera religiosa. Já ficamos no ambiente religioso tempo demais. Não fique mais lá. Perdoe-me por dizer isto, mas mesmo alguns dos jovens que vieram para a igreja ainda são um tanto influenciados pela religião de tentar viver uma vida "santa". Temo que até agora você ainda tenha tal conceito.

Vou contar uma história. Depois da guerra em 1946, os irmãos em Nanking me convidaram para visitar a igreja ali. Um dia uma irmã que viera de Xangai agiu como a estátua de Mátria que se vê nas catedrais católicas. Ela era bem refinada, nem muito rápida nem muito lenta, e os irmãos a admiravam bastante. Ela foi a Nanking quando eu estava em Xangai participando de uma conferência. Quando voltei para Nanking, os irmãos vieram a mim e disseram: "Irmão Lee, que bênção! Agora temos uma irmã que é realmente santa!". Imediatamente respondi: "Somente a estátua de Maria na catedral católica é melhor do que essa irmã!". Não eram apenas os irmãos de Nanking que tinham esse conceito, mas creio que nesta noite muitos de vocês também o têm. Suponha que eu carregue a Bíblia e entre neste salão com passos controlados e então abra a Bíblia bem devagar; vocês todos certamente gostarão de mim. Suponha, porém, que eu entre aqui com passos rápidos e ponha a Bíblia sobre o púlpito. Certamente vocês pensariam: "Esse irmão Lee não é muito santo ou espiritual". Não estou certo? Dou essas ilustrações para mostrar a vocês que hoje não apenas os incrédulos, mas mesmo os cristãos, inclusive entre nós, não são tão sérios com relação às coisas da esfera religiosa; eles não entendem o que é santificação. Santificação não é nem ser quieto nem ser barulhento. Não é refrear-se de perder a calma nem estar livre para perdê-la. Em vez disso, santificação é a adição do elemento divino a você para torná-

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lo distinto dos outros. Essa distinção não está no fato de você se refrear de rir quando os outros riem ou ficar parado quando os outros correm. Essas coisas podem distingui-lo, mas não o tornam santo. Ser santificado é ter o elemento divino acrescentado a você quer você ria quer não. A fim de ter esse elemento divino, você precisa abrir-se para o Senhor e invocá-Lo a partir de seu espírito: "ó Senhor!". Sempre que tiver essa pequena abertura e invocar: "ó Senhor!", Seu elemento, Seu Espírito, será acrescentado a você e crescerá em você. Desse modo você será santificado.

Essa santificação disposicional, naturalmente, possui graus variados. Ao adicionar chá à água, quanto mais você adiciona, mais forte se torna o sabor do chá; quanto menos chá você coloca, mais fraco é seu sabor e menos intensa a cor. De semelhante modo, nossa santificação possui graus distintos. Em certos irmãos você pode sentir um sabor bem forte do elemento divino; já em outros você sente que há o sabor do elemento divino, do elemento da santificação, mas não é muito forte.

TRANSFORMAÇÃO

Qual é então o efeito da santificação? A santificação é a causa e o efeito é a transformação. Esta não é apenas mudança exterior; é um processo metabólico. Além disso, é pela vida; é orgânico. Sabemos que o metabolismo é uma função fisiológica; não pode ocorrer em coisas não orgânicas. Vou-lhes dar uma boa ilustração. Suponha que alguém esteja pálido. Como pode tornar seu rosto corado? Geralmente se aplica algum cosmético vermelho para deixar o rosto bonito. Mas isso não é transformação; antes, é semelhante ao trabalho dos agentes funerários. A reforma advogada por muitos moralistas e religiosos é exatamente esse tipo de obra. Essa mudança exterior não envolve o processo orgânico de metabolismo. Entretanto, se essa pessoa se voltasse para o caminho da vida ingerindo boa quantidade de alimento nutritivo e fazendo exercícios diários, isso melhoraria seu metabolismo de modo que novos nutrientes substituiriam os antigos elementos nela. Assim, depois de um mês, a cor de sua face mudaria e ficaria rosada. Esse é o significado da transformação falada nas Escrituras. No processo do metabolismo espiritual, algo novo substitui o elemento antigo. Que é esse elemento "novo"? Já dissemos que santificação é a adição do elemento divino a nós. Esse é o elemento novo. Quando fomos salvos, nosso espírito foi reavivado. Esse espírito regenerado, o homem interior, é um organismo. Quando o elemento divino, que é o Espírito de Deus, é acrescentado a nós, a função orgânica em nós é ativada para eliminar as coisas velhas e substituí-ias com o novo elemento. Esse metabolismo espiritual nos traz transformação orgânica. Eu cresci no cristianismo e sempre ouvi a pregação dos pastores. Enquanto crescia, também li vários livros chineses antigos que davam ênfase especial a devoção filial, submissão fraterna, honestidade e modéstia. Depois de ler esses escritos, comecei a questionar o cristianismo. Pensava assim: "A Bíblia fala de amar o próximo, e os ensinamentos de Confúcio se referem a perdoar os outros. Qual é a diferença entre os dois?". Além disso, um dia um pastor estrangeiro nos falou que a Bíblia ensina exatamente o mesmo que Confúcio. Depois de ouvi-lo falar, disse a mim mesmo: "Se é assim, por que deveríamos crer na religião cristã?". Fui tão afetado pelo que ele falou que esfriei com relação à religião cristã. Um tempo depois, quando vi que os pastores também fumavam e bebiam, fiquei mais convencido ainda que não havia diferença. Portanto fiquei distante do cristianismo. Entretanto o Senhor foi misericordioso. Um dia Ele me trouxe de volta, e eu fui salvo de verdade. Depois disso, fiquei intrigado com a diferença entre o "amor" mencionado na Bíblia e o "perdão" ensinado por Confúcio. Por muitos anos não obtive resposta. Então, depois de ler as Escrituras e alguns bons livros espirituais, e após algumas experiências pessoais, gradualmente percebi que o perdão do qual Confúcio falava é o resultado de ser ensinado, ao passo que o amor mencionado nas Escrituras é o resultado de Deus Se expressar em nosso viver. Isso não é um feito exterior; antes, é o transbordar da vida.

Um dia, essa luz brilhou sobre mim, e fiquei tão contente que perdi a fala. Aleluia! Nesse dia vi que as virtudes mencionadas nas Escrituras não resultam da obra ou do feito humano; pelo contrário, são a expressão, o transbordar, de Deus em nosso viver. Foi isso que vi inicialmente. Depois de alguns anos também vi que essas virtudes procedem da transformação. Hoje à noite, se você se abrir e permitir que o Espírito o encha, você ficará pleno de amor. Por certo esse amor é um transbordar, mas ainda não é o amor que provém da transformação. Leva tempo para se ter o amor que vem da transformação.

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Há dois tipos de amor genuíno que se originam de Deus: um vem como transbordamento e o outro procede da transformação. O amor transbordante é mutável. Hoje você pode ser agitado em seu espírito, e o amor flui de você. Amanhã você pode não ser agitado, e não haverá o transbordar do amor. Deixem-me dizer algo aos jovens: tenho observado que os jovens podem facilmente transbordar no espírito invocando o nome do Senhor e, às vezes, estão dispostos a fazer qualquer coisa pelos irmãos. Todavia vocês devem saber que, embora hoje estejam transbordantes, amanhã talvez não estejam. Na verdade, talvez estejam "gelados". Nessa hora vocês precisam da reunião para avivar sua chama interior. Depois de uma hora de reunião, sua face se iluminará; depois de outros quinze minutos, vocês se descongelarão; depois de mais quinze minutos, estarão cheios a ponto de transbordar novamente. Esse tipo de amor muda muito facilmente. Que é o amor que procede da transformação? Perdoem-me por compartilhar um testemunho pessoal. Hoje para mim não é fácil ser transbordante ou gélido, e é ainda mais difícil ser árido. Hoje o amor com que os amo procede da minha transformação. Que é transformação? É o elemento divino sendo constituído em nosso elemento e mesclado com ele. No Novo Testamento o termo transformar é usado somente em dois lugares. Um é 2 Coríntios 3:18, que diz: "E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito". Esse versículo nos diz que devemos ter o rosto desvendado. Que é o véu? É o nosso conceito. Os primeiros discípulos tinham o conceito da lei, que se tornou um véu sobre o rosto. O apóstolo Paulo lhes disse que quebrassem seu conceito com relação à lei e voltassem o coração da lei para o Senhor. Assim teriam o rosto desvendado e seriam como espelho a contemplar o Senhor diretamente a fim de refleti-Lo. O resultado disso é que seriam transformados na própria imagem do Senhor de um grau de glória para outro, como pelo Senhor, o Espírito. Outro lugar que menciona o verbo transformar é Romanos 12:2, que é até mais claro: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente". Nossa mente não é apenas parte de nosso ser interior, mas é a principal, por isso aqui só ela é citada. Contudo, quando diz que a mente precisa ser transformada, sabemos que a emoção, a vontade e a consciência também precisam. Cada parte dentro de nós precisa ser transformada. Como podemos ser transformados? Precisamos abrir-nos a partir do mais profundo do nosso ser para o Senhor e permitir que Seu elemento seja acrescido a nós. Depois que o elemento do Senhor nos for acrescentado, não seremos transformados instantaneamente; antes, levará algum tempo. O Espírito do Senhor, como o elemento acrescentado a nós, se move em nosso interior, permeando e saturando pouco a pouco nossa mente. Isso é transformação. Quando nossa mente é permeada do Espírito do Senhor, é renovada e transformada. No mesmo princípio, nossa emoção, vontade e consciência também precisam ser transformadas desse modo. Dia após dia, somos santificados por um lado e transformados por outro. Por um lado, o elemento divino é acrescido a nós; por outro, esse elemento permeia todas as partes de nosso interior, ativando a função metabólica a transformação orgânica, em cada uma delas. O resultado é transformação. Nesse momento, nosso amor não será como um transbordar, mas resultará de transformação. Esse tipo de amor não seca e não se congela. Não somos afetados por pessoas, coisas e questões ao redor. Esse tipo de transformação é a mescla do elemento do Senhor com o nosso e também é o fato de nos tornarmos um com Ele. "Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele" (1 Co 6:17). Essa experiência é subjetiva.

CONFORMAÇÃO

O próximo passo é ser conformados à imagem do Senhor. A transformação segue a santificação, e a conformação vem depois da transformação. Após um período de santificação vem a transformação, e o resultado disso é a conformação à imagem do Senhor. Segunda Coríntios 3:18 coloca transformação e conformação juntas. Aí lemos: "Somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem". Isso é conformação. Não é apenas ser transformados, mas também moldados. Isso requer nossas experiências. Depois de ouvir estas palavras, gradualmente você experimentará esses itens passo a passo. Precisamos abrir-nos para o Senhor e permitir que Seu Espírito vivo penetre em nós, acrescentando-nos o elemento divino. Assim seremos santificados. Graças ao Senhor que, quando temos essa experiência, lá no fundo sentimos que somos diferentes dos demais. Isso não é ser orgulhoso, de forma alguma; esse sentimento procede da realidade da santificação interior.

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Quando você permitir que essa santificação continue em seu interior por algum tempo, ela introduzirá um processo metabólico, fazendo-o ter uma mudança orgânica. Isso é transformação. Sua mente será transformada, sua emoção será transformada e sua vontade será transformada. Sua maneira de ver as coisas e considerar as questões será diferente. Seus sentimentos de alegria, raiva, dor e prazer serão diferentes. Além disso, suas decisões, resoluções e escolhas serão diferentes. Isso é porque um processo de transformação metabólica ocorre em sua mente, emoção e vontade. Como resultado disso, quando você considerar certa questão, seu pensamento será o mesmo do Senhor Jesus. Seu modo de pensar quando considera uma questão terá a estampa do Senhor Jesus. Seu modo de amar os outros e de tomar decisões sobre qualquer coisa também será o mesmo do Senhor Jesus. Isso quer dizer que em seu viver prático você terá a imagem do Senhor. Isso não é melhoria de comportamento exterior nem imitação externa; antes, é que você é interiormente possuído pelo Senhor e permeado Dele, e Seu elemento divino permeia sua mente, emoção e vontade. Nesse momento, seus pensamentos, preferências e decisões são o mesmo que os do Senhor. Assim, espontaneamente você tem Sua imagem. Isso é conformação. Isso não é ler as Escrituras várias vezes, aprender mais doutrinas ou ouvir mensagens; essas questões são todas objetivas. A experiência subjetiva é que você começa por abrir-se para o Senhor a fim de permitir que o Senhor Espírito entre em você e Seus elementos sejam adicionados a você; assim você será separado, distinto, dos demais e já não será comum. Você não é separado pelo comportamento exterior, mas pelo elemento divino em seu íntimo, que o permeia e satura interiormente e acrescenta o elemento divino a sua mente, emoção e vontade até que todo o seu ser interior seja pleno do elemento divino. Então sua mente será a mesma que a do Senhor, seus desejos serão como os Dele e suas decisões serão iguais às Dele. Tudo isso quer dizer que você tem a imagem do Senhor. Irmãos, a igreja de hoje deve ser a composição e a totalidade desse grupo de pessoas. O que o Senhor quer hoje é uma igreja assim, em que todos os membros sejam plenos do Senhor Espírito e todas as suas partes interiores sejam saturadas Dele, resultando em que cada parte é conformada à imagem do Senhor. Esses são os membros adequados do Senhor, e na totalidade esse é o Corpo de Cristo, a igreja do Senhor.

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CAPÍTULO SETE

CRESCIMENTO E EDIFICAÇÃO

Leitura Bíblica: Ef 4:15-16, 22-24

Nas últimas mensagens vimos como Deus passou por um processo a fim de se tornar o Espírito que dá vida. A despeito de tempo e espaço, todo aquele que creu no Senhor foi batizado nesse Espírito e lhe foi dado beber desse Espírito. Essa pessoa está no Corpo de Cristo e é um constituinte da igreja. Assim, Cristo está nessa pessoa, vivendo nele, sendo formado nele e até fazendo morada em seu coração. Nesse estágio, todo o seu ser é tomado de toda a plenitude de Deus. Além disso, vimos como essa pessoa é também santificada pelo dispensar gradual do elemento divino ao seu ser, transformada mediante esse dispensar e por fim conformada à imagem de Deus.

DEUS DESEJA RESTAURAR AS VERDADES SUBJETIVAS QUE SE PERDERAM Se de fato vimos essa luz, teremos de confessar que todos esses itens importantes se perderam nos séculos passados. No cristianismo de hoje raramente ouvimos algo acerca dessas verdades subjetivas. O que se ouve são conceitos humanos, idéias religiosas ou ensinos éticos. Portanto precisamos ver que essas verdades subjetivas são o que Deus deseja restaurar hoje. Embora eu saiba que no passado vocês ouviram alguns desses tópicos, temos de confessar que nossa experiência prática é insuficiente. Não temos tanta experiência de permitir que o elemento divino santifique e transforme todo o nosso ser, e temos muito pouca transformação metabólica, orgânica. Facilmente caímos no conceito de melhorar a conduta exterior. Depois de crer no Senhor, nós O amamos, buscamos, vivemos na vida da igreja e até participamos de serviços espirituais. Nesse momento, espontaneamente tentamos melhorar ou mudar a nós mesmo. Nossa intenção é adequada e pura; queremos viver perante o Senhor de modo digno dos santos e ser como alguém que serve a Deus na igreja. Não obstante, devemos admitir que essas idéias ainda são conceitos humanos e pensamentos religiosos que também tem sabor de ética. Não são experiências subjetivas do Deus que foi processado por meio da encarnação, morte e ressurreição a fim de Se unir conosco para que nos tornemos parte Dele. Ainda carecemos dessas experiências. Portanto espero que primeiro falemos dessas coisas e, falando delas repetidas vezes, elas se tornarão nossa experiência.

O estratagema de Satanás é sempre afastar de nós o que ouvimos. É como nos disse o Senhor na parábola do semeador de Mateus 13: a palavra do reino dos céus é como a semente que caiu à beira do caminho e logo foi devorada pelos pássaros. O princípio hoje é o mesmo. As mensagens que pregamos não são doutrinas religiosas ou éticas, nem são segundo o conceito humano natural; antes, procedem da revelação de Deus. Entretanto devemos confessar que, mesmo tendo ouvido essas palavras, ainda carecemos de experiência subjetiva. Portanto espero que essas palavras sejam restauradas entre nós primeiro. Precisamos ter comunhão acerca delas e falá-las várias vezes, para que de fato entendamos o que quer dizer ser batizado no Deus Triúno, em Cristo, na morte de Cristo e em Seu Corpo, e nos ser dado beber de um só Espírito. Também precisamos entender o que é Cristo viver em nós, ser formado em nós e fazer morada em nós para que sejamos tomados de toda a plenitude de Deus. Precisamos ainda compreender o que significa o aumento do elemento divino em nós para nos santificar e saturar de modo que sejamos organicamente transformados e assim conformados à imagem do Filho de Deus. Por fim, seremos plenos Dele, permaneceremos Nele e nos tornaremos o único Corpo, que é a igreja. Repito: precisamos ter constante comunhão sobre essas questões por meio da oração até que entremos de modo prático nessas experiências.

SEGUIR A VERDADE EM AMOR

Agora quero falar sobre alguns tópicos de Efésios 4:15-16 e 22-24. Essas podem ser consideradas as verdades que estão mais profundamente enterradas no cristianismo. As pessoas ali não mencionam esses itens e, mesmo se o fazem, seus ensinamentos são segundo conceitos religiosos e não cuidam da essência da revelação. Portanto nesta mensagem cada item desses versículos bíblicos será novo.

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O primeiro item é seguir a verdade em amor (v. 15). Creio que oito por cento de vocês aqui saibam de fato o que isso quer dizer. A Bíblia em chinês traduz essa expressão por "falar a verdade em amor", mas isso é muito natural. Uma vez que os tradutores da Bíblia não tinham nem a experiência nem o conhecimento, só puderam arranjar essa tradução, a despeito de todo o tempo e esforço despendido. Quando eu era jovem e me reunia com jovens cristãos, sempre nos encorajávamos mutuamente a "falar a verdade em amor". Isso era muito superficial e básico. O sentido aqui, entretanto, é seguir a verdade em amor. O amor aqui não é apenas amar aos homens, mas amar a Deus e amar Sua economia, Seu mover e Seu plano eterno.

CRESCER EM TUDO NAQUELE QUE É A CABEÇA, CRISTO

O versículo continua: "Cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo". É verdade que já estamos em Cristo, e Ele, em nós, mas você precisa saber que em muitas coisas você não está em Cristo; pelo contrário, está ainda fora Dele. Por quê? Porque não há crescimento suficiente em sua vida espiritual. É como ter um copo de água no qual se põem algumas folhas de chá. Primeiro a água do centro do copo se torna da cor do chá, mas a periferia ainda não. Se você disser que esse copo não tem chá, está errado; mas ainda há nele muita água sem chá. Do mesmo modo, embora você tenha sido salvo e esteja em Cristo, quando olha para seu viver prático, você é quase igual aos gentios. Nada em seu viver é em Cristo; antes, tudo é fora Dele. Isso é porque você não cresceu, o que quer dizer que não há suficiente elemento divino acrescido a seu ser. Portanto você não cresceu em tudo em Cristo.

Graças ao Senhor, que, a despeito de nossa situação anterior, quando viemos para as igrejas na Sua restauração, ouvimos esse tipo de palavra. Lembro-me claramente, em 1958, da primeira vez que falei uma mensagem em Manila (Filipinas) sobre crescer em tudo Naquele que é a Cabeça, Cristo. Eu disse que, para a edificação da igreja, precisamos todos crescer em tudo de modo prático em Cristo. Em que precisamos crescer Nele? Por exemplo: em nossa atitude e falar precisamos crescer em Cristo. “Tudo” quer dizer todas as coisas sem exceção. Vou dar outro exemplo: é bom que os jovens se casem, mas é também uma prova. Antes de se casar, os dois pensam que são "santos", mas depois de casados, sua "santidade" é posta à prova. São forçados a confessar que não cresceram em Cristo em muitas coisas, especialmente na questão de falar com o cônjuge. As irmãs todas falam como Maria quando estão com os irmãos responsáveis, mas com o marido a história é completamente diferente. Os irmãos são muito corretos quando falam nas reuniões da igreja, mas a verdadeira cor deles se mostra quando estão sós com a mulher. Quase não há crescimento em Cristo em seu falar; pelo contrário, falam dez mil por cento fora de Cristo. Talvez seus lábios cresçam em Cristo apenas temporariamente durante a vigília matinal, mas, quando essa comunhão acaba e você volta para casa, seus lábios crescem de novo em Adão. Hoje, todavia, precisamos ter a realidade de seguir a verdade em amor. Que é a verdade? Ou, que é a realidade? A verdade é o Cristo que você experimentou. Não deve ocorrer que somente quando comparecemos à vigília matinal é que comecemos a ser sérios e permitamos que nossos lábios, língua, palavras e tom de voz cresçam em Cristo, mas depois, quando a vigília matinal acaba, tudo volta para Adão. Isso não é a verdade; isso não é a realidade. Precisamos seguir a verdade em amor; não devemos apenas segui-la fora do horário da vigília matinal, mas mesmo em sonhos. Os chineses têm um ditado que quer dizer "entregar-se aos devaneios", mas eu digo aos jovens que não dêem a seus devaneios nenhum espaço; antes, cresçam em Cristo. Precisamos crescer. Isso não é fruto de esforço ou obra; é questão de abrir constantemente nosso ser e permitir que o elemento divino sempre aumente em nós. Apenas pelo aumento do elemento divino é que podemos crescer em Seu elemento. A razão por que estamos fora de Cristo é que carecemos do elemento divino. Este deve ser continuamente acrescentado a nós para que, nesse elemento, cresçamos na Cabeça, Cristo. Quando o elemento divino é acrescentado a certa parte de nosso ser, crescemos na Cabeça, Cristo, nessa parte. Qual é o objetivo disso? A edificação da igreja. Assim seguimos a verdade em amor e em tudo crescemos Naquele que é a Cabeça, Cristo.

BEM AJUSTADO E CONSOLIDADO

O versículo 16 diz: "De quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado" [ou, "conjuntado e coligado"]. A expressão de quem é continuidade da frase cresçamos em tudo naquele. Se você não cresceu Nele, como pode proceder Dele? Eu diria que, se neste momento, você cresceu na Cabeça, Cristo, eu cresci Nele e todos crescemos Nele, em todas as coisas, então o Corpo todo agora procede Dele, bem ajustado, ou conjuntado. Esse tipo de ajuste não é em nosso ser natural, no qual sua disposição combina com a

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minha, e assim ficamos juntos. Esse tipo de ajuntamento logo termina em discussão. Estar juntos por nós mesmos não é confiável de modo algum; nosso estar juntos ou conjuntados deve proceder Dele. Esse versículo continua: "Pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte". Nosso corpo tem muitas juntas de suprimento, como os ombros, joelhos e quadris. No Corpo de Cristo, alguns são tendões e outros são juntas. Os tendões são para as juntas, e as juntas são para suprir. "Pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte" quer dizer que cada parte tem sua função. Considere meu dedo mínimo. Não é uma junta de suprimento, mas uma parte. Sempre que meu ouvido coça a ponto de eu já não suportar, este dedinho é muito útil. Se eu não o tivesse, e sim apenas meu polegar, não seria prático. Do mesmo modo, você pode não ser um largo ombro ou grande joelho, mas é pelo menos um dedinho com sua função. Se você não crescer na Cabeça, contudo, sua função não pode manifestar-se; você só pode ser como os membros de igreja nos cultos de adoração do cristianismo de hoje. Os "membros de igreja" no cristianismo de hoje nada fazem senão assistir aos cultos. Por essa razão, em situações assim não há nenhuma edificação do Corpo. Isso não é a restauração do Senhor. Somos contra isso e renunciamos a isso. Hoje desejamos ter um Corpo vivo e uma igreja que testifica. Onde está ela? Ela vem quando cada parte exerce sua função. Entretanto isso não quer dizer que, só porque eu o encorajo, você é capaz de funcionar; antes, você precisa crescer na Cabeça, Cristo. Você deve crescer. À medida que cresce, sua função se torna manifesta. Quanto mais você cresce, mais ela se manifesta. A medida da função que é manifesta depende inteiramente da medida de seu crescimento. É por meio de toda junta do rico suprimento e pela operação na medida de cada parte que o Corpo é bem ajustado, ou conjuntado. Conheci alguns irmãos e me coordenei com eles por mais de trinta anos, e pela graça do Senhor podemos dizer que certamente fomos bem ajustados. Qual é a razão? É que praticamos crescer em Cristo para que cada junta do rico suprimento libere seu suprimento e a operação de cada parte se manifeste. Desse modo somos ajustados. Não é por causa de uma amizade de trinta anos no Senhor nem porque nos firmamos ombro-a-ombro lutando juntos pela restauração do Senhor e tenhamos afeto inexplicável um pelo outro. Esse relacionamento não é confiável e esse tipo de ajuste não é sólido. Nós, entretanto, podemos testificar que, pela graça do Senhor, a condição entre nós é de ajuste. Além do mais, há muitos irmãos dos Estados Unidos aqui hoje com os quais posso gabar-me diante do inimigo que existe entre nós uma condição de estar bem ajustados e consolidados, ou coligados. Isso não é emocional nem uma questão de ter gostos e interesses comuns; antes, é por meio de cada junta do rico suprimento e mediante a operação na medida de cada parte.

EFETUAR O AUMENTO DO CORPO PARA A EDIFICAÇÃO DE SI MESMO

Esse ajuste efetua o aumento do Corpo para a edificação de si mesmo em amor. Que é isso? É a experiência prática subjetiva. Isso é crescimento e edificação. Na mensagem anterior falamos de santificação, transformação e conformação; nesta, veremos crescimento e edificação. Você pode sempre orar: "ó Senhor, edifica-nos". É um fato que o Senhor ouvirá sua oração, mas Ele logo vai exigir que você cresça. Onde está o segredo do crescimento? Na santificação, transformação e conformação. Se você não for santificado, transformado e conformado interiormente, será difícil crescer. Crescer é outra forma de dizer ser santificado, transformado e conformado. Em outras palavras, vendo isso de outro ângulo, santificação, transformação e conformação são simplesmente crescimento. A quantidade de transformação que você tem determina a medida de seu crescimento. Seu crescimento depende de sua transformação, e esta depende de o elemento divino ser acrescentado a você. Quando o elemento divino é acrescido a você, você é transformado e conformado interiormente. Quando você tem crescimento, você cresce em Cristo. Não basta ser zelosos e fervorosos; você e eu precisamos ser transformados e crescer. Precisamos ter o elemento divino sempre acrescentado a nós até que sejamos saturados dele. Desse modo cresceremos em Cristo. Então, se somos juntas de suprimento, nosso suprimento poderá fluir; se somos partes, nossa função será manifesta. Assim, seremos conjuntados e efetuaremos o crescimento do Corpo para a edificação de si mesmo em amor. Amados irmãos, acaso se pode achar esse ensinamento no cristianismo de hoje? Absolutamente não. Entretanto hoje entre nós não basta apenas ter esse ensinamento; o objetivo do Senhor entre nós é restaurar essa realidade: a realidade do crescimento e da edificação.

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DESPIR-SE DO VELHO HOMEM E REVESTIR-SE DO NOVO HOMEM Agora chegamos a Efésios 4:22-24, que está ligado aos versículos 15 a 16. O versículo 22 diz: "No sentido de que [...] vos despojeis do velho homem", e no 23 lemos: "e vos renoveis no espírito do vosso entendimento". Depois o versículo 24 diz: "e vos revistais do novo homem". O cristianismo hoje também fala essas palavras, mas não as aplica adequadamente. Que é o velho homem? Que é o novo homem? Você deve saber que nenhum termo na Bíblia é definido pelo termo em si. É preciso olhar para o contexto em que ele se encontra e até para todo o livro; deve-se até considerar a Bíblia inteira para defini-lo. Se você olhar para o contexto aqui, perceberá que o velho homem e o novo homem não são individuais, mas coletivos. O novo homem é a vida da igreja. Efésios 2:14-15 diz que o Senhor em sua carne derrubou a e inimizade para dos dois, judeus e gentios, criar em Si mesmo um só novo homem. Vemos no livro de Efésios que o novo homem não é individual, mas coletivo, e se refere à igreja. Visto que o novo homem é coletivo, naturalmente o velho homem também deve ser coletivo. Em linguagem simples, o velho homem é a sociedade. O velho homem em Efésios é a vida social, e o novo homem é a vida da igreja. Despir-se do velho homem é despir-se da vida social, e revestir-se do novo homem é revestir-se da vida da igreja. Despir-se da vida social e revestir-se da vida da igreja não depende de nenhuma mudança nas atividades exteriores; antes, depende totalmente de em tudo crescer em Cristo. Se você crescer em Cristo em todas as coisas, ainda conseguirá ter vida social? Será impossível! Por exemplo: por volta do festival de outono, cada família come bolos de lua e envia esses bolos de presente umas às outras. Se nessa ocasião você não cresceu em Cristo em todas as coisas, não conseguirá deixar de seguir os outros na celebração dessa festa. Você pode dizer que é difícil demais evitar, mas eu tenho certeza de que, se em tudo você crescer em Cristo, as festas de outono vão "cair" de você como uma roupa velha que não pode ser mais usada. Posso testificar que, por viver no novo homem há muito tempo, nem mesmo sei quando é o festival de outono dos chineses, a despeito de eu ser um chinês idoso. Graças ao Senhor - o festival de outono pertence ao passado para mim. Nós nos despimos do velho homem e nos vestimos do novo homem porque crescemos em Cristo. Para ajudá-los a entender, às vezes eu uso a questão de vestir uma roupa para ilustrar essa questão. Alguém pode vir para a igreja; ele se veste da vida da igreja e grita: "Aleluia! Eu vi a igreja!". Mas na verdade é como se colocasse um casaco nos ombros, e o casaco caísse depois de pouco tempo. Esse é um tipo exterior de revestir-se. Outra pessoa talvez tenha um pouco mais de clareza e diga: "Eu vi a igreja". Mas seu caso é como vestir apenas um braço do casaco; depois de algum tempo, quando ela se movimenta, o casaco ainda cai. Contudo outro pode ser até melhor e dizer: "Eu vi a igreja. Graças ao Senhor, é muito bom estar na vida da igreja hoje! A igreja é meu lar. Lar, lar, doce lar". Esse caso é como vestir o casaco direito. Mas no dia seguinte, de repente, um dos presbíteros talvez seja rude com ele, assim ele fica descontente e desabotoa um dos botões do casaco. Na semana seguinte outra pessoa é grosseira com ele, assim ele desabotoa outro botão. Depois de duas semanas, um jovem o ofende, e nessa hora sua vida da igreja quase acaba. Ele se despe da vida da igreja do mesmo modo como se vestiu, dizendo: "Ah! esqueça. Que tipo de igreja é essa?". Então tira o casaco e o joga no chão. Esses tipos de revestir-se não são crescimento. Não se esqueça que o revestir-se no versículo 24 é o crescer nos versículos 15 e 16. Na Bíblia revestir-se quer dizer crescer. Não significa que você tenha uma camada de pele e sobre ela coloque uma camada de roupa; antes, quer dizer que uma camada de pele cresce. Quando você crescer, não importará se os presbíteros o deixarem triste ou se certo irmão o ofender, ou mesmo se todos os anjos forem rudes com você; você não terá como despir-se da vida da igreja porque ela terá crescido e se tornado parte de você. A vida da igreja crescerá na sua pele, sangue e medula; você ainda será pela igreja mesmo depois de morrer. Não estou brincando de modo algum sobre isso. Há já quarenta e cinco anos desde que vim para a igreja em julho de 1932. Nesses quarenta e cinco anos tenho provado várias coisas azedas, doces, amargas e apimentadas. Não comi "pudim de amêndoa" todos os dias. Muitas vezes a situação foi mais apimentada do que a comida de Szechwan ou Hunan, mas tive de comer mesmo que não gostasse. Por vezes tive de tampar o nariz para engolir.

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O novo homem não é apenas uma veste que se põe exteriormente; ele cresce do interior. Sabemos disso ao ler Efésios 4. Entre o despir-se do velho homem e o revestir-se do novo homem, lemos: "E vos renoveis no espírito do vosso entendimento". Isso não é interior? Não é atividade externa. Não se trata de dizer: "Hoje todas as outras pessoas celebram as festividades de outono, mas eu não. Antes, vou correr para a reunião da igreja". Não, é questão de ser renovado no espírito do entendimento, ou mente. Isso não é exterior, mas interior. É também subjetivo, e é tão subjetivo que dentro de você há somente Cristo e a igreja. Todas as outras coisas são dispensáveis: se você as tiver, você as tem; se não as tiver, não importa. Somente Cristo e a igreja são absolutamente necessários. Além disso, Cristo e a igreja foram constituídos em cada célula de seu ser. Os outros podem forçá-lo a comer bolos de lua, mas isso não importa. Não quer dizer que, porque comeu bolos de lua, você tenha jogado fora sua vida da igreja. Mesmo depois de comer bolos de lua, você ainda pode dizer: "Cristo é minha satisfação, e a igreja é meu viver. Não importa se como bolos de lua ou não; o que importa é Cristo e a igreja". Essa deve ser nossa experiência. A igreja não é um grupo social ou associação familiar; é Cristo trabalhado em nós. Nós nos despimos da velha vida social e nos revestimos da vida da igreja. Do começo ao fim, tudo e todas as coisas são Cristo manifestado na igreja. Esse é o candelabro de ouro. Todos devemos ser batizados nesse Cristo e todos beberemos Dele. Esse Cristo vive em nós, é formado em nós e faz morada em nós. Ele nos acrescenta Seu elemento divino o tempo todo, saturando todo o nosso ser completamente, e assim somos transformados e conformados à Sua imagem. Espontaneamente crescemos Nele em todas as coisas e nos despimos do velho homem (a vida social) e nos revestimos do novo homem (a vida da igreja). Essa é uma grande mudança metabólica em que novos elementos entram e substituem os antigos, que se tornaram descartáveis. Todos temos uma transformação orgânica interior cujo resultado é a igreja. Essa é a vida da igreja. Amados irmãos, hoje nossa luta é por isso, nossa oração é por isso e nosso testemunho é por isso. Essa é a restauração do Senhor. O Senhor precisa ter esse testemunho em cada cidade na terra antes de poder voltar e Seu reino ser estabelecido. Que o Senhor tenha misericórdia de nós para que vejamos essa verdade que foi perdida e agora restaurada. Isso é a restauração; é algo subjetivo e é uma experiência subjetiva. Essas questões não são doutrinas; antes, devem todas ser nossa experiência. Entre nós, quer jovens ou idosos, quer irmãos ou irmãs, todos devemos dizer: "ó Senhor, dá-me misericórdia para eu participar desse testemunho. Ó Senhor, não me deixes nem permitas que eu perca esse Teu testemunho". Nos últimos vinte séculos, essa verdade subjetiva esteve sepultada, mas, graças ao Senhor, foi ressuscitada a fim de se tornar uma verdade restaurada e viva entre nós. Devemos viver nela.

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CAPÍTULO OITO

O GRANDE MISTÉRIO DA PIEDADE: DEUS MANIFESTADO NA CARNE

Leitura Bíblica: 1 Tm 3:15-16; Rm 8:30; Cl 3:4; 1 Co 2:7; 1 Pe 5:10a; 2 Ts 1:10

Nos últimos dias vimos com clareza cada vez maior que a igreja é o resultado de nossa experiência subjetiva do Senhor. Também vimos que nossa experiência subjetiva do Senhor deve ser inteiramente no Espírito e relacionada com a vida, precisa ser o próprio Senhor entrando em nós, não apenas como nossa vida, mas também como o constituinte de nosso ser espiritual. Essas questões não são objetivas, mas experiências subjetivas em nosso interior. Hoje o Senhor é o Espírito que dá vida. Podemos recebê-Lo em nós, e Ele pode entrar em nós como nossa vida e até viver em nós como nossa pessoa. Assim Ele se torna nosso elemento e constitui nosso ser espiritual interior. Todos experimentamos esse Senhor juntos e somos edificados Nele a fim de nos tornar um só Corpo. Essas são absolutamente experiências interiores, subjetivas. Não se trata de mudança exterior ou mera expressão externa. Antes, tornamo-nos completamente novos em essência, vida e natureza. Esse Cristo que morreu e ressuscitou e agora é trabalhado em nós torna-se o elemento constituinte de nosso ser espiritual, e isso também é a igreja.

Esse conhecimento do aspecto subjetivo da igreja foi completamente perdido nos últimos dezenove séculos. Se você ler a história da igreja, verá que, mesmo depois de Lutero ter realizado a Reforma, os cristãos puros de coração não tiveram essa compreensão tão profunda da igreja. Eles não viram que a igreja é Cristo constituído nos crentes. Visto que essa luz estava enterrada, essa verdade subjetiva ficou oculta na Bíblia e não foi liberada. Nas últimas centenas de anos houve muitos crentes no Senhor, e todos sentiram que estavam na igreja e se tornaram a igreja. Contudo na realidade eles não tiveram a luz de a igreja estar unida a Cristo como um só espírito. Hoje o Senhor quer restaurar o que planejou no princípio e foi percebido como realidade na época de Pentecostes. Se ler o livro de Atos com cuidado, verá que a condição dos primeiros santos descrita nos capítulos dois a quatro era simplesmente Cristo vivendo neles. Cristo tornou-se a vida, a natureza humana e a pessoa deles. Para eles o viver era Cristo, assim como disse o apóstolo. Portanto, segundo a revelação do Novo Testamento, a igreja é o mistério da piedade, que é Deus manifestado na carne.

O MISTÉRIO DA PIEDADE Que é a igreja? É Deus manifestado na carne. Esse é um mistério. Neste momento, se estamos numa condição normal que esteja no padrão divino, Deus se manifestará quando nos reunirmos em Seu nome e em Seu Espírito. Aparentemente somos pessoas comuns, que por fora não diferem das demais, contudo há um mistério em nós. Esse mistério é a manifestação de Deus na carne. Que tipo de mistério é esse? É o mistério da piedade. No Novo Testamento, o termo piedade não se refere a bom comportamento, boa compostura ou temor de Deus; mas é Deus a manifestar Sua imagem. Deus é manifestado por causa de certa condição em nosso ser, e essa condição é piedade. Por exemplo: uma pessoa pode honrar e obedecer bastante os pais, mas o que se manifesta é essa pessoa a honrar os pais. Alguns são muito morais, adequados e corretos, bem-comportados em tudo, portanto neles se vê moralidade. Entretanto os cristãos não devem manifestar apenas essas coisas. Rigorosamente falando, quando de fato vivemos nos sete Espíritos e andamos pelo Espírito, a condição mostrada em nós não é somente honrar os pais ou moralidade, mas também Deus manifestado. Isso é muito superior a honrar os pais ou moralidade. Há uma condição num irmão que não pode ser descrita pela linguagem humana. É difícil dizer se é honra, humildade ou outra virtude. De acordo com a Bíblia, isso é piedade, que é Deus manifesto. Deus se manifesta nessa pessoa por certa condição, de modo que os outros não podem deixar de dar glória a Deus. Essa condição é piedade. Que significa o mistério da piedade? Significa que, embora sejamos homens - alguns chineses, alguns americanos e alguns japoneses - quando cantamos e louvamos, certa condição se manifesta que nos faz perguntar: "Que é isso?". Não é honrar os pais nem é moralidade; em vez disso, é uma espécie de condição indescritível. Não são atividade barulhenta nem empolgação. Essas pessoas estão aqui numa espécie de condição difícil de descrever e muito misteriosa, por isso é complicado entender.

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Se você fica empolgado quando assiste a um jogo de basebol ou basquetebol, então os outros logo sabem que você é fã de esportes. Quando os fãs de basebol assistem a uma partida, ficam animados. E quanto a nós? Aqui não há basebol, basquetebol e nenhum outro tipo de "bol". Há apenas um grupo de pessoas sentadas bem-comportadas. Não são empolgadas demais nem formais demais; não riem alto demais nem riem suavemente mas apenas sorriem calorosamente. Que acontece aqui de fato? Além disso, sempre vêm toda manhã e toda noite só para ouvir essa pessoa falar. Ele não fala de astronomia, geografia, política ou ciência militar, e não sabe nada de matemática, tecnologia ou outras matérias. Contudo parece que eles são "viciados" e sempre voltam para ouvir. Que espécie de "vício" é esse? Isso é "vicio de Deus", que é um mistério, o mistério da piedade. Nessa piedade Deus Se manifesta - Ele está aqui. É por isso que 1 Coríntios 14 diz que, se entrar algum incrédulo na reunião, “prostrando-se com a face em terra adorará a Deus,testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós" (vs. 24,25). Esse é o mistério da piedade.

DEUS MANIFESTADO NA CARNE

Esse mistério da piedade é Deus manifestado na carne. Estamos aqui não como anjos, mas como homens na carne contudo Deus é manifestado na carne. Alguns teólogos tradicionais dizem que Deus manifestado na carne refere-se apenas ao Senhor Jesus, que Se manifestou na carne por meio da encarnação, e não se refere à igreja. Quando demos esse testemunho nos Estados Unidos, por nossa intrepidez no falar, alguns teólogos tradicionais disseram que cremos em evolução do homem a Deus. Dizem que nós, que estamos nas igrejas, cremos que estamos evoluindo até nos tornar Deus, que nosso falar é uma teoria elevada de evolução e fazemos de nós mesmos deuses. Alguns dizem: "Nas chamadas igrejas locais há uma grande heresia, pois eles adoram a si mesmos como deuses nas reuniões. Afirmam que sempre que se reúnem, Deus é manifestado entre eles, que são deuses e são um com Deus. Portanto esse ensinamento faz deles o objeto de adoração". Isso é difamação. Os opositores dizem isso porque estão cegos e não entendem o que ensinamos.

TANTO CRISTO COMO A IGREJA SÃO A MANIFESTAÇÃO DE DEUS NA CARNE Sim, de fato dissemos que, quando a condição de nossas reuniões é normal, podemos dizer: "Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne" (l T m 3:16). Os críticos, contudo, dizem que essa palavra não se refere à igreja, mas a Cristo. Então eu agora gostaria de pedir a você que leia 1 Timóteo 3:16 em sua Bíblia. Espero que entre nós não haja "cegos". Todos os entendidos da Bíblia confessam que a questão mais difícil no tocante a expor a Bíblia é descobrir o sentido da língua original. Creio que alguns de vocês tenham a versão interlinear grego-português do Novo Testamento. Se observá-la, verá que em 1 Timóteo capítulo três, entre os versículos 15 e 16 há a preposição kai, que equivale a "e" em português. A Versão Atualizada de João Ferreira de Almeida (VRA), contudo, omitiu essa conjunção em sua tradução. Segundo a língua original, o versículo 15 diz: "Casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade", e o versículo 16 continua, dizendo: "e ..."; essa conjunção claramente mostra que a igreja não é somente os três itens mencionados no versículo 15: a casa de deus, a coluna da verdade e o baluarte, ou a base, da verdade, mas indica que a igreja é algo mais. Essa conjunção aqui é muito importante; não é vazia de significado. A igreja é a casa do Deus vivo, a coluna e baluarte da verdade e o grande mistério da piedade, Deus manifestado na carne. Portanto, segundo o original grego, aquele que foi manifestado na carne certamente modifica a igreja. Podemos dizer que essa expressão modifica "a igreja" no versículo 15. Que é a igreja? É a casa do Deus vivo. "A casa do Deus vivo" modifica "a igreja", e "coluna e baluarte da verdade" também modifica "a igreja". A casa de Deus e a coluna e base da verdade descrevem o que a igreja é. O versículo 16 continua dizendo: "E [...] grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne". Assim como "a casa de Deus" e "coluna e baluarte da verdade" descrevem a igreja, a expressão "aquele que foi manifestado na carne" também descreve a igreja. Assim, se o texto é lido segundo o original grego, ninguém pode negar que aqui a expressão Deus manifestado na carne refere-se à igreja. Além disso, há ainda outra prova concreta que não pode ser descartada: os cinco itens que vêm a seguir: justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória (v. 16). Eu pergunto: o Senhor Jesus foi recebido na glória antes ou depois de ser crido no mundo? Todos sabemos que o Senhor Jesus ascendeu aos céus após a ressurreição, portanto foi recebido na glória antes de ser pregado entre os gentios e crido no mundo. Isso indica que a frase: "Aquele que foi manifestado na carne [...] recebido na glória" não se refere a Cristo, pois Ele foi recebido na glória antes de ser pregado entre os gentios. O Senhor Jesus foi primeiro recebido na glória e, no dia de Pentecostes, Ele então foi pregado entre os gentios.

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Prestem atenção ao fato de que há um homem universal cuja Cabeça é Cristo e cujo Corpo é a igreja. A Cabeça é esse homem universal na glória hoje, mas o Corpo ainda não está na glória. A Cabeça já está nos céus ao passo que o Corpo ainda está na terra. Portanto, de acordo com 1 Timóteo 3:16, o fato de "recebido na glória" vir depois de "pregado entre os gentios" prova que essa manifestação de Deus na carne não se refere somente a Cristo, mas a Seus dois aspectos: a Cabeça e o Corpo. A Cabeça já foi recebida na glória, mas o Corpo ainda não. Quer seja a Cabeça quer seja o Copo, ambos são o grande mistério da piedade, Deus manifestado na carne. Não estou aqui discutindo, mas mostrando a vocês que a teologia tradicional danificou profundamente as pessoas. Os que se apegam a ela, por um lado, confessam que a igreja é o Corpo de Cristo, ao passo que, por outro, confessam que Cristo é Deus manifestado na carne. Contudo ficam presos em seus conceitos tacanhos e não estão dispostos a confessar que o Corpo é também a manifestação de Deus na carne. Isso é o mesmo que dizer que a cabeça de um irmão vem de Taiwan e seu corpo não. Isso é uma anedota. Segundo a lógica comum, todos sabemos que, se a cabeça é taiwanesa, então o corpo também o éj se a cabeça é americana, o corpo também é americano. Portanto, uma vez que a Cabeça é Deus manifestado na carne, espontaneamente o Corpo também o é. O Senhor Jesus sempre considerou Seus membros na terra como Ele mesmo. Lembre-se do registro em Atos 9. Um dia Saulo de Tarso perseguia os cristãos, e o Senhor lhe apareceu no caminho para Damasco e disse: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" (v. 4). Saulo ficou perplexo e pensou: "Tu falas a mim do céu, mas eu nunca fui ao céu perseguir ninguém. Apenas persigo pessoas na terra, então por que uma voz do céu fala comigo hoje: 'Por que Me persegues?'''. Por isso ele perguntou: "Quem és tu, Senhor?". E o Senhor disse: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (v. 5). O Senhor queria dizer: "Quando perseguias Estevão, perseguias a Mim; quando persegues Meus discípulos, persegues a Mim". Aqui vemos claramente que o Corpo e a Cabeça são um só. Aleluia!

A IGREJA É O GRANDE MISTÉRIO DA PIEDADE, DEUS MANIFESTADO NA CARNE

Que é a igreja? Nos últimos dias aprendemos muitos termos novos. A igreja é a reimpressão do Espírito Santo com Cristo e o lugar da infusão de Deus. Agora precisamos dizer que a igreja é Deus manifestado na carne. Que é a igreja? Em linguagem um pouco mais poética, é o grande mistério da piedade, que é Deus manifestado na carne. Quero, porém, perguntar: "Se você vive por si mesmo, eu vivo por mim e todos vivemos pelo ego, então acaso a igreja é a manifestação de Deus na carne?". Não! Isso não passa da manifestação do homem natural na carne. A fim de a igreja ser a manifestação de Deus na carne, precisamos viver não pelo ego, mas por Deus. Se vivemos por Deus e O tomamos como nosso viver e pessoa, então, quando nos reunimos, há a manifestação de Deus na carne. Vou dar uma pequena ilustração. Suponha que alguns jovens que vivem juntos conversem, riam e joguem pingue-pongue antes da reunião; alguns perdem a calma e outros criticam os santos. Então um irmão diz: "Tá na hora da reunião. Vamos!". Todos vão para a reunião e, um por um, entram e sentam. Você acha que nessa hora isso é o "grande é o mistério da piedade"? Eu não acho; pelo contrário acho que se deve dizer: "Ai da carne miserável!". Alguns são casados; a reunião é às 7h30, mas às 6h30 eles talvez discutam e briguem até as 7h00. Nessa hora a irmã que vive na casa ao lado entra e diz: "Tá quase na hora da reunião!". Portanto o casal reluta, mas vai à reunião. Que é isso? Isso é: "Ai da carne briguenta". Simplesmente não se consegue dizer que essas condições demonstram o grande mistério da piedade. Que é a igreja? É um grupo de pessoas chamadas por Deus, que receberam Sua vida e natureza, que vivem para Ele e têm o elemento divino acrescentado a elas diariamente, transformando-as e sendo formado nelas. Elas crescem nessa vida, despem-se do velho viver e revestem-se do novo viver, que é a vida da igreja. Assim, quando se reúnem, não precisam nem falar; tudo o que precisam fazer é sentar juntos, e os anjos dirão: "Eis o grande mistério da piedade: Deus foi manifestado na carne". Isso é a igreja. A igreja não é uma organização religiosa nem um ajuntamento humano; é um grupo de pessoas que foram redimidas e regeneradas e agora vivem por Deus. Deus é a vida, a natureza, a pessoa e o viver delas; quando se reúnem, todos os anjos podem dizer: "Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne". Isso é a igreja.

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Precisamos conhecer a igreja a esse extremo para conhecê-la como o "grande mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne". Em outras palavras, a igreja é a manifestação de Deus na carne. Graças ao Senhor que, embora eu não ouse dizer que toda reunião das igrejas locais seja a manifestação de Deus na carne, atrevo-me a dizer que muitas vezes, quando os santos na restauração do Senhor se reúnem, até os anjos meneiam a cabeça e dizem: "Isso é Deus manifestado na carne". Eles dizem com alegria: "Diabo e pequenos demônios, vejam; acaso essa não é a manifestação de Deus na carne?". Até os demônios precisam admitir: "É, essa é a manifestação de Deus na carne". Hoje à noite enquanto falamos aqui creio que há essa condição. Aleluia! Essa é a igreja.

A IGREJA É O CAMINHO PARA A GLORIFICAÇÃO

A igreja é o Corpo e a Cabeça é Cristo, portanto a manifestação de Deus na carne aqui se aplica a ambos. A Cabeça já foi recebida na glória, mas o Corpo ainda está a caminho disso. Hebreus 2:10 diz que Deus está "conduzindo muitos filhos à glória" a fim de aperfeiçoar o "Autor da salvação deles". Ele é o Autor, o Capitão, o Precursor e já entrou na glória. Nós ainda estamos a caminho. Gostaria de dizer-lhe que, embora você não saiba disso, os anjos o sabem. Repetidas vezes quando nos reunimos trilhamos o caminho da glória. Sempre que nos reunimos, por um lado, somos a manifestação de Deus na carne e, por outro, rumamos para a glória. Estamos a caminho da glória. Talvez um dia estejamos reunidos, e os anjos estejam ao nosso redor a dizer: "Veja! Deus é manifestado na carne!". Antes que terminem de falar, os santos serão arrebatados um por um para a glória. Se isso acontecer, não vou achar nem um pouco estranho. Espero não estar em casa com cara de desanimado e reclamando para minha mulher quando o Senhor vier. Então talvez minha mulher seja arrebatada, e eu, deixado para trás. Espero estar na reunião com os santos experimentando o grande mistério da piedade, a manifestação de Deus na carne, quando for arrebatado. Creio que isso ocorrerá, porque toda vez que nos reunimos estamos no caminho correto para entrar na glória. Nossas reuniões rumam para a glória.

A igreja é a casa de Deus e a coluna e base da verdade. Além disso, é o grande mistério da piedade como manifestação de Deus na carne e será recebida na glória. Assim, essa passagem tem aplicação dupla: aplica-se aos dois lados, o do Senhor Jesus e o nosso: a Cabeça e o Corpo. Espero que nossos olhos sejam bem abertos para ver que a igreja não é doutrina. Se fosse, haveria pouco que dizer. Entretanto, quando se refere a nossas experiências subjetivas, podemos todos cantar aleluias! Toda vez que nos reunimos, há a manifestação de Deus na carne e vamos em direção à meta da glória e para ela avançamos. Agora estamos aqui a permitir que Deus Se expresse; um dia seremos recebidos na glória. Portanto o último passo da experiência subjetiva da igreja é a glorificação.

Paulo disse: "Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória" (Cl 3:4). Se hoje vivemos por Ele e O tornamos como nossa vida, um dia Ele será nossa glória. Oh! Cristo em nós é a esperança da glória (1:27)! Estamos a caminho da glória e a cada reunião estamos mais próximos dela. Nós nos reunimos todos os dias e rumamos para glória dia a dia. Nossa meta é simplesmente a glória. Quando Ele se manifestar, nós também seremos manifestados com Ele em glória. Quando você lê Romanos 8, pode ver que aos que Deus chamou, Ele primeiro os predestinou, justificou e conformou, depois os glorificou (vs. 29-30). O último passo é a glorificação. Essa glória não é coincidência nem é temporária; antes, Deus nos predestinou para ela na eternidade passada (l Co 2:7). Antes da fundação do mundo, Deus tinha o plano de nos glorificar. Que é glorificação? Hoje estamos todos na carne, e Deus quer ser manifesto na carne. Entretanto, no instante em que formos arrebatados, nossa carne será transfigurada. Hoje Deus está na carne, mas naquele dia nossa carne entrará na glória. Isso será exatamente o que ocorreu com o Senhor no Monte da Transfiguração. Antes de subir ao monte e ser transfigurado, Ele era Jesus, o nazareno em carne, mas, ao ser transfigurado, Sua carne entrou na glória. Quando Ele vier, seremos arrebatados, e nossa carne entrará na glória e será completamente transfigurada, de modo que seremos conformados ao corpo da Sua glória. Isso será nossa glorificação. Hoje somos a manifestação de Deus na carne; naquele dia entraremos na glória, e nosso corpo será transfigurado numa condição de glória. Essa questão é muito subjetiva. Jamais pense que a glória é apenas uma esfera, que hoje você é um cristão apenas na terra, mas um dia o Senhor usará Sua mão poderosa para arrebatá-lo da terra para o céu, colocando-o instantaneamente na glória, quando você resplandecerá e será glorificado. Não é assim. Eu lhe

Page 45: AS VERDADES SUBJETIVAS - Igreja em Serra · Este livro é composto de mensagens dadas em chinês pelo irmão Witness Lee na conferência internacional realizada em Taipé, Taiwan,

digo que hoje essa glória está em você e em mim, e é na verdade o próprio Senhor Jesus. Ele hoje está em nós como vida, mas naquele dia será manifestado de dentro de nós como glória. "Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl 1:27). Segunda Tessalonicenses 1:10 diz: "Quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia". Quando formos arrebatados na Sua volta, não apenas entraremos na glória, mas o Senhor também será glorificado em nós. Hoje o Senhor Jesus ainda está oculto em nós e não se manifestou, por isso não pode sair em glória. Mas, quando vier e nos arrebatar para Si, saturará todo o nosso ser para ser completamente glorificado de dentro de nós. Essa será Sua glorificação em nós, e Ele será admirado naquele dia em todos os que cremos. Glória é uma semente que temos plantada em nosso interior. Ela irá crescer e se desenvolver até que rompa a casca do nosso corpo. Essa será a redenção de nosso corpo, e esse será nosso arrebatamento, nossa entrada na glória. Assim, seremos introduzidos na glória a que Deus nos predestinou. Por isso, no final a igreja será um grupo de redimidos que foram completamente transfigurados em glória. Essa será a manifestação extrema da igreja. Hoje a igreja aqui é a manifestação de Deus na carne, mas naquele dia será um grupo de redimidos transfigurados em glória. Isso é a igreja. O Senhor já falou a nós, e espero que tenhamos luz e visão a fim de enxergar que isso é a igreja. Ela é a reprodução do Espírito Santo com Cristo, o lugar da infusão de Deus, a manifestação de Deus na carne e, por fim, a carne transfigurada em glória. Aleluia! Essa é a igreja!