Às voltas no grande lago

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Uma história sobre o lago de Alqueva

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Prefácio

Com o propósito de criar um livro digital, a Biblioteca Escolar, em

articulação com o Departamento de Línguas, mais precisamente, com a Área

Disciplinar de Português, lançou o desafio de pôr toda a escola a escrever.

Assim, entre os anos letivos 2009/2010 e 2011/2012, decorreu uma atividade

designada Cabaz da Escrita, onde se pretendia que todos os alunos, do 7º ao

12º anos, se unissem com o objetivo de redigir uma história.

Em primeiro lugar, a escolha do tema ficou ao critério da turma A do 7º

ano, no ano letivo 2009/2010, que, tendo terminado o seu capítulo, passou a

tarefa às turmas seguintes. Cada turma procurou continuar o enredo proposto

pela turma anterior, deixando em aberto a ação de modo a facilitar o processo

criativo da turma seguinte. A ilustração ficou a cargo da turma de Artes (12ºD),

do ano letivo 2011/2012, enquanto os professores de Português e a professora

bibliotecária se ocuparam da revisão.

Tendo em conta a nossa participação, podemos elogiar a iniciativa pela

forma como promoveu a interação alunos-professor e alunos-alunos e, além

disso, estimulou a vontade de ler e escrever, aperfeiçoando o domínio

cognitivo.

Ao longo de três anos, alunos e professores empenharam-se nesta

iniciativa que, efetivamente, contribuiu para a melhoria das aprendizagens dos

discentes. Portanto, a Biblioteca Escolar, sem dúvida, contribuiu para o

desenvolvimento das competências de escrita, aliadas à utilização das novas

tecnologias digitais.

Finalmente, toda a comunidade escolar deixa o seu agradecimento a

alunos e professores envolvidos, bem como à Biblioteca Escolar. Iniciativas

como esta não podem passar indiferentes, na medida em que revelam a

unidade e criatividade da Escola Secundária de Moura. Desta forma, aqui fica o

nosso apelo a que se venham a realizar mais projetos neste âmbito.

Francisco Molho e Vítor Valério

Alunos do 12º ano, turma C (2012/2013)

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Às voltas no Grande Lago

Alqueva é um grande Lago que se formou pela vontade dos homens.

Após muitas chuvas, a barragem atingiu a cota máxima.

Ricardo é um rapaz muito aventureiro, com catorze anos, vive em Moura

com os pais e o irmão mais novo.

Quando teve um acidente, o médico que o atendeu no hospital falou-lhe

de uma aldeia que tinha sido coberta pelas águas. Os habitantes tiveram de

partir para outra aldeia. A história que ouviu provocou-lhe curiosidade.

Um dia, roubou o barco ao pai, que estava na marina. Tinha planeado

cuidadosamente a operação com a ajuda de um amigo. Precisavam de mapas

para saber o sítio exacto onde se afundara a aldeia. Felizmente, como o pai do

Ricardo era marinheiro, tinha tudo: além de mapas, fato de mergulho, garrafa

de oxigénio, óculos e um barco pequeno, mas todo equipado.

Ele e o seu amigo Manuel Farinheira começaram a aprender a manejar o

barco nas idas à pesca nos fins-de-semana. Quando já tinham tudo sabido,

decidiram pôr em prática os seus planos de visitar o fundo da aldeia do Grande

Lago.

Quantos tesouros escondidos, quantos peixes maravilhosos de mil

cores!

O verão era a

altura ideal para fazer a

viagem. E assim

fizeram, numa sexta-

feira, 13 de Agosto, um

dia muito quente.

Levaram muita comida

– bolachas, sandes,

sumos, pato assado – e

sobretudo muita água

potável.

No dia marcado,

acordaram bem cedo e

disseram à família que

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iam pescar, mas foram explorar o Grande Lago. Partiram na mota do pai do

Farinheira.

7º Ano – Turma A 2009/10

A viagem foi rápida

porque estavam ansiosos por

chegar à marina. Por isso,

percorreram a distância em

poucos minutos.

Ao chegarem ao local,

viram muitas pessoas, estava

muito calor. Havia barcos para

todos os gostos, tamanhos e

feitios. No meio daquela

confusão, eles sentiram-se

nervosos e pensaram que não

conseguiriam fazer a sua

aventura naquele dia.

Descobriram o barco na

doca nº 5 e suspiraram de alívio

quando verificaram que estava lá

todo o material, incluindo o motor.

Por azar, ao tentarem ligá-lo não foram bem sucedidos: afinal não tinha

gasolina. Ora bolas!!!

Procuraram a bomba de gasolina mais próxima, que ficava ainda muito

distante. Partiram novamente de mota, perdendo a manhã inteira neste

contratempo. Encontraram a bomba e meteram o combustível numa garrafa de

litro e meio. Estavam com tanta fome que, ali mesmo, devoraram o pato

assado. Depressa regressaram à base.

Desta vez o motor começou a roncar como um tractor. Verificaram se

estava tudo em ordem e partiram. A meio caminho, passaram por um cruzeiro

onde todos perguntavam onde iriam aqueles dois. Os dois amigos acenaram e

prosseguiram tranquilamente a viagem a cantar a sua música favorita:

- Eu vou, eu vou, descobrir o meu tesouro! Eu vou, eu vou, partir para

uma aventura!

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- Devemos estar quase a chegar. – disse o Farinheira a olhar para o

mapa.

- Também acho! – respondeu o Ricardo a custo com uma sandes

atravessada na boca.

- O que é que achas que vamos encontrar?

- O médico falou-me de uma arca cheia de moedas de ouro enterrada na

velha igreja.

O Manuel pensou na vida maravilhosa que poderia levar com tanta

riqueza.

7º Ano – Turma B 2009/10

Enquanto exploravam o lago, avistaram alguém a pedir socorro, apoiado

num tronco de árvore, que boiava nas águas misteriosas do grande lago. Os

dois rapazes resolveram ir ajudar. Após terem ajudado um indivíduo, com cerca

de quarenta anos, questionaram-no sobre o que lhe tinha acontecido. Este

explicou que, enquanto pescava, tinha sido levado por uma corrente de água,

tendo-o arrastado para o meio do lago. Curioso, o pescador perguntou aos dois

jovens o que é que estavam a fazer num barco, no meio do Alqueva! O Ricardo

respondeu que, como eram muito aventureiros, desejavam conhecer melhor

aquele local, explorar os seus recantos e, claro, apreciar aquela bela paisagem!

Agradecido, o pescador revelou-lhes que, quando era mais novo, tinha ouvido

falar da existência de um tesouro, escondido algures no lago. Os rapazes

mostraram-se interessados no assunto, principalmente quando aquele lhes

mostrou uma pista que tinha encontrado junto de alguns documentos deixados

pelo seu pai. Já gasto pelo tempo e desfeito pelo banho que tinha sofrido, no

pedaço de papel podia ler-se:

“ Se o tesouro queres encontrar

Um sino terás que tocar”.

7º Ano – Turma C 2009/10

Com a informação obtida, os amigos não conseguiram disfarçar o seu

entusiasmo. Para não andarem às voltas, o pescador informou-os que

poderiam começar a sua procura junto de uma pequena ilhota, que se avistava

no meio do lago.

O Ricardo e o Farinheira dirigiram-se para esse local onde deram início à

sua verdadeira aventura no lago encantado. O Ricardo, especialista em

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mergulho, pois estava habituado a praticar este tipo de actividades com o seu

pai, começou a sua caça ao tesouro. O Farinheira ficou no barco, à espera que

o seu colega regressasse com novidades entusiasmantes. Entretanto, o

Ricardo ia desvendando aquelas águas enigmáticas na esperança de encontrar

parte da igreja onde supostamente estaria um sino! Depois de algum tempo e já

desanimado, o jovem reparou num objecto estranho e volumoso, que resolveu

investigar. Com a curiosidade que o caracteriza, abana o objecto, este abre-se

ao meio e no seu interior pode ler-se:

“ O sino conseguiste encontrar

Mas um pequeno baú terás de procurar”.

8º Ano – Turma A 2009/10

Entusiasmado com a descoberta, o Ricardo foi à superfície contar a

novidade ao Farinheira. Este ficou desiludido com o facto de ainda não terem

encontrado o tesouro, afinal não era assim tão simples andar à procura de

moedas de ouro!

Entretanto, aproximou-se uma tempestade de Verão. Os dois rapazes,

assustados, lembraram-se que era sexta-feira 13 e resolveram sair daquele

local o mais depressa possível, quando se aperceberam que estavam

completamente perdidos! Com a chuva e com o vento, o mapa tinha

desaparecido e o medo começou a persegui-los. Com a agitação das águas, o

Manuel caiu no lago sem que o Ricardo se tenha apercebido, pois estava a

tentar controlar o barco. O Ricardo encontra-se sozinho no barco e entra em

pânico. Decide voltar para trás, à procura do seu amigo, não podia abandoná-lo

no meio do Alqueva! Após a tempestade ter terminado e as águas acalmarem,

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o Manuel foi encontrado pelo colega de aventura, numa pequena ilhota, aos

pulos, a gritar como um doido. Depois de se abraçarem por estarem novamente

juntos, o Manuel exclamou:

- Encontrei, encontrei…iupi…iupi!

- Mas o que é que

encontraste? Descobriste

o tesouro?

- Não, nem

acreditas, temos o baú!

Quando caí ao lago, fui

arrastado pela força das

águas e tive que me

desenrascar. Nadei, lutei

contra as correntes e

uma das vezes em que

tive de mergulhar, embati

neste baú!! Ainda não

acreditas?

- Afinal o dia até

não está a correr mal.

Acho que o número 13

nos está a dar sorte!

Vamos abri-lo já, do que

estamos à espera?

- Pois… só que

temos um pequeno problema…

- Então, vá… fala!

- Não temos… falta-nos… a chave!

- Oh não! Que azar!

8º Ano – Turma B 2009/10

De súbito, o barco começa a afastar-se da ilha. As águas começam a

recuar rapidamente. As colossais comportas tinham sido abertas! A descida das

águas permitia, agora, ver um enorme desfiladeiro na extremidade do qual se

podia observar uma velha e pequena ermida.

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Após algum tempo, entre peixes agonizantes e lismos verdes, os jovens

chegaram à dita capela. Lá, facilmente, encontraram uma tenebrosa e medonha

cripta e, nela, uma estranha criatura. Na sua mão – oh surpresa das surpresas!

– uma chave com a seguinte inscrição: “Con esta llave se abrirá el tesouro que

contiene el oro”.

Os rapazes mal tiveram tempo de fugir. De repente, as águas

começaram a subir. Ricardo interrogou-se, então:

- Será esta a chave?

A aflição era tanta, que Manuel nem respondeu. A água chegava-lhes já

ao pescoço e este debatia-se com o não saber nadar. Arrependia-se

amargamente, agora, de não ter cumprido a vontade dos pais que viam nesta

aprendizagem um importante e imprescindível recurso para quem vivia mesmo

junto ao Grande Lago.

Nestes padecimentos, valeu-lhes a bela Alqueveida (nereida que habita

as águas profundas do Alqueva) que arrastou os corpos dos jovens, quase sem

vida, até à margem mais próxima.

9º Ano – Turma A 2009/10

A vida destes dois jovens inocentes tinha-se acabado de cruzar com a

vida deste ser. Nunca eles tinham pensado que seria este ser, belo e estranho

aos olhos dos homens, que lhes salvaria a vida.

Nos momentos de maior aflição valeu-lhes a sua ajuda, ela levou-os para

a sua casa, tratou-os e preparou-os para partirem à descoberta novamente.

Dito desta maneira até parece que foi um processo simples e rápido,

mas desenganem-se. Foi complicado e demoroso mas, a vontade de ir mais

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além e de descobrir o que antes ninguém tinha descoberto, dava-lhes força

para quererem continuar nesta aventura.

Depois do incidente, os dois jovens estavam abatidos, cansados e

doridos de tantos encontrões e cambalhotas que deram debaixo de água, mas

superaram tudo… Foram viver para uma ilhota, guiados pela sua nova amiga,

que passou a ser a sua morada. Estavam já de tal maneira empenhados em

recuperar e voltar a explorar que, por sua vontade, punham de lado o cansaço

físico e partiam. Os amigos também têm que saber dizer não quando é

necessário e, foi o que aconteceu, foi necessário ouvirem um ‘não’ para se

poderem tratar em condições. Mas, mais vale perder um minuto na vida, que a

vida num minuto, isso já os jovens tinham aprendido.

Tiveram também momentos de descontentamento e tristeza. Já tinham

saudades da sua família, da sua casa, dos seus outros amigos, das suas

brincadeiras, já estavam cansados disto. Nunca antes eles tinham pensado que

esta história chegasse a ter momentos de tanto perigo, não era um jogo,

poderiam estar prestes a perder a sua vida. Contudo, nunca pensariam em

deixar que esta aventura acabasse assim. Mais uma vez, o ser distinto por fora

mas igual por dentro,

acolhe-os e encoraja-os a

continuar.

Já que ainda não

podiam partir para a

grande aventura,

decidiram praticar na

ilhota e começaram-na a

explorar ingenuamente.

- Que estranho,

que será aquela mancha

na rocha?! – Estranhou

um dos jovens.

- Não sei. Mas

desvia as ervas para

vermos melhor. –

Responde-lhe o amigo.

Foi, então, que outro momento inesperado aconteceu, ao desviarem as

ervas viram escrito no chão uma seta a apontar para a esquerda. Decidiram

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seguir a seta e voltaram a encontrar outra e outra e outra… O local onde as

setas acabavam era uma oliveira.

Uma oliveira… que esquisito, que quereria aquilo dizer?... Será que tinha

alguma coisa a ver com o resto da aventura? Poderia aquilo significar alguma

coisa importante que lhes estava a escapar?

Trocaram ideias com a sua indispensável amiga, mas nenhuma ideia

lhes surgia. Ironicamente veio uma coisa à cabeça do ser feminino, a

Alqueveida, e que poderia ajudar…

- Lembrei-me que, antigamente, existia na aldeia um pequeno lagar… -

Disse ela aos rapazes.

-Hum… Não sei, isso poderá não ter nada a ver com nada. –

Respondeu-lhe o Ricardo.

- Não perdiam nada em tentar… - Voltou a Alqueveida a insistir.

- Sim, e aqui parados é que não vamos adiantar nada… - concordou o

outro jovem.

Foi, então, que partiram para a descoberta, já não acompanhados pela

grande amiga, mas em perfeito estado de saúde, para não falar na vontade e

alegria que os acompanhava.

Será que este símbolo tão importante no Alentejo os poderá levar a

algum lado? Uma oliveira?…

9º Ano – Turma B 2009/10

Os dois amigos pararam para pensar, juntar tudo o que tinham visto e

verificar o que possuíam. O baú tinha três fechaduras. Faltavam, pois, duas

chaves para encontrar o tesouro. Será que no Grande Lago de Alqueva

poderiam estar as restantes?

O facto é que estes dois companheiros estavam tão empenhados em

abrir o tesouro que resolveram seguir a pista da oliveira.

Começa, então, a segunda etapa desta aventura: a caça à segunda

chave.

Seguiram, pois, para o lagar que Alqueveida lhes indicara. Ao chegar

repararam que o lagar no lugar de telhas tinha limos, as paredes estavam

verdes e todo o ambiente tresandava a peixe.

Muito curiosos, os dois amigos começaram a vasculhar aquele grande

casarão, que mais parecia uma casa de lagartos. Um grande corredor criou

espanto aos companheiros. Em cada um dos lados do corredor havia grandes

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tanques de cobre, completamente descobertos (supostamente estariam cheios

de água), que tinham pequenas escadas em alvenaria, as quais deveriam servir

aos antigos trabalhadores para subir.

Por mais corajosos e aventureiros que fossem, os dois companheiros

tinham medo de subir para ver o que havia dentro dos tanques.

Foi então que de uma das janelas saltou uma forte luz que parecia

indicar algo no chão, mesmo no fim do corredor. Foram os dois ver se

realmente havia alguma coisa.

A radiante luz apontava para uma laje de granito, de forma quadrada,

que parecia ter sido talhada na época medieval e onde se via uma inscrição:

«Se a segunda chave queres encontrar, no vigésimo tanque terás de

mergulhar».

O Manuel Farinheira ficou nervoso e assustado, pois não sabia nadar e

não hesitou em dizer ao seu amigo Ricardo:

- Vais tu! Eu não me vou jogar no tanque, nem morto!

Ricardo, enchendo os pulmões de ar, disse:

- És mesmo mariquinhas… Eu atiro-me, mas se morrer vou atormentar-

te – vociferou, brincando com o Manuel e, ao mesmo tempo, também ele

nervoso.

Os tanques tinham enormes números, bem destacados. Encontrado o

número 20, Ricardo subiu os degraus escorregadios da pequena escada de

alvenaria.

A vista do alto das escadas era espectacular. Ricardo podia ver o seu

amigo lá em baixo do tamanho de uma formiga. Então, enchendo novamente os

pulmões de ar com cheiro a peixe, cerrou os punhos e mergulhou no grande

tanque cheio de água com limos.

Instantaneamente, uma grande faísca de mil cores saiu do tanque onde

este mergulhara e uma grande nuvem com todas as cores do arco-íris em

caracol esbarrou contra o céu. Ricardo tinha desaparecido.

Vendo isto, Manuel encheu-se de coragem e foi ver o que se passava.

Eis que um forte vento soprou por detrás dele e empurrou-o também para o

tanque, acabando por fazê-lo desaparecer.

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Claro está: era um portal mágico…

10º Ano – Turma A 2010/11

E de repente acordaram sobressaltados sobre uma aparente pedra que,

estranhamente, se mexeu. Sentiram-se elevados no ar e ficaram atónicos sem

entenderem o que se estava a passar.

Lá no alto observaram uma extensa floresta e, no meio dela, uma

clareira com uma casa de madeira de grandes dimensões de cuja chaminé saía

um fumo intenso e negro que denunciava a existência de vida humana.

Nesse momento, um estridente ruído acordou-os para a sua realidade:

estavam sobre o dorso de um monstruoso animal pré-histórico, que até àquela

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data só tinham visto em livros. E não era o único! Estavam cercados por muitos

outros, com aspecto igualmente terrível e ameaçador.

Os dois amigos estavam desesperados, sem saber o que fazer, quando,

subitamente, os movimentos do animal os fizeram escorregar pela sua cauda

até ao chão.

Um medo aterrador paralisou-os por alguns segundos, mas não podiam

desistir. Apesar do cansaço e da fome precisavam de manter alguma

esperança!

Entre eles e a casa, a distância era muita e o percurso perigoso.

Gastando a sua última energia, correram apressadamente em direcção a esta.

Completamente exaustos e abatidos, foram milagrosamente salvos por

um velho de longas barbas brancas que os levou para a casa que antes tinham

descoberto no meio da vegetação.

Uma vez lá dentro, observaram um novo mundo, cheio de poções,

antídotos e mezinhas.

E de repente, uma miragem fantástica: um banquete estava sobre uma

mesa antiga de madeira, grande e ornamentada.

Saciaram a sua fome e sede e, depois disso, tiveram uma longa

conversa com o proprietário da casa. Ficaram a saber quem ele era, o que fazia

e como tinha ido ali parar.

Era um druida que tinha sido enviado para aquele lugar para ser o

guardião de uma das chaves que abriria o baú do tesouro.

Para a surpresa dos dois rapazes, eis que a tão desejada chave lhes é

entregue e, nesse mesmo momento, o guardião transforma-se em pó.

De novo sozinhos, vêem-se no dilema: como sair dali?

Chuvas torrenciais começam a abater-se sobre aquele local, um

autêntico dilúvio e, mais uma vez, a bela Alqueveida aparece em seu auxílio.

10º Ano – Turma B 2010/11

Então, a diligente nereida, não suportando a aflição dos dois rapazes,

proferiu as seguintes palavras:

- Ecce Deorum Via. (Eis o caminho dos deuses)

E raios de sol romperam o céu plúmbeo, numa resposta ao sopro

emanado pela divindade. Resplandeceu um caminho que, num ápice, os

conduziu a terra firme.

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Perplexos, olharam em seu redor na tentativa de saberem onde estavam

e perceberam que a Alqueveida os abandonara, regressando ao seu ambiente

natural, a água. Reconheceram tal sítio como a Barca.

Anoitecia…

Entretanto, ao olharem fixamente para a vastidão das águas, avistaram

um brilho que não poderia passar indiferente. A nado, seguiram-no e nele

mergulharam. Depararam-se com uma construção de pedra que mereceu uma

cuidada inspecção por parte dos amigos. Voltaram à superfície.

- Farinheira, sabes o que isto é? Isto é um moinho! O moinho submerso

da Barca!!!

- Pois é, tens toda a razão!

- Quase não reconhecia o local por causa da tão forte luz que de lá sai.

Reparaste como brilhava? – perguntou Ricardo com alguma preocupação.

- Não, mas vi que ficou sem se mexer quando chegámos – respondeu

Farinheira com pouca assertividade.

- Ora bolas! Vamos mergulhar outra vez, para ver se conseguimos

perceber do que se trata.

- Está bem – concordou Farinheira – Aos três, mergulhamos.

Um…dois…três!

Page 15: Às voltas no grande lago

Os jovens submergiram e espreitaram para dentro do moinho,

novamente. A luz tornava-se, agora, mais intensa. Aproximaram-se da mó e

numa inscrição de cor áurea leram:

“ai-alata”

10º Ano – Turma C 2010/11

Os dois rapazes, sem perceberem nada daquilo, decidiram emergir à

superfície e clamar pela sua amiga. Afinal, quantas vezes já os tinha ajudado!

Desta feita, porém, Alqueveida não respondia, nem dava sinal de vida.

Ali ficaram na margem, tentando decifrar o raio da palavra. Anoitecia e

nada, nem uma pista. Parecia tudo surreal.

Já tarde na noite sentiram o marulhar da vegetação. Voltaram-se

assustados. Era um velho pescador, que vinha recolher as suas redes.

Também ele ficou espantado ao ver os dois rapazes àquelas horas,

naqueles descampados.

Depois de muitas explicações, os dois rapazes lá “abriram o jogo”.

Contaram todas as suas aventuras ao seu novo velho amigo.

O pescador pediu, então, para ver tão misteriosa palavra. Com alguma

relutância, os jovens lá cederam renitentes.

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Olhou, olhou, olhou e, após algum tempo, disse eufórico:

- Mas é um anagrama!

Os rapazes estavam perplexos. Como era possível um velho pescador

ser mais esperto que eles, jovens estudantes e participantes de aventura tão

intrigante.

Com gosto, o velho pescador lá explicou que um seu sobrinho delirava a

decifrar anagramas, mas ele nem que lhe abrissem a cabeça conseguia.

Os nossos dois aventureiros lá ficaram mais satisfeitos. Afinal, o velho

era burro, como tinham pensado, o que os fazia mais importantes.

Burro ou não, o certo é que a hipótese do vetusto pescador era plausível.

Porém, nenhum dos dois tinha também jeito ou paciência para estas charadas.

Perguntaram, pois, ao pescador onde vivia o sobrinho, a fim de o

consultarem.

- Vêem aquela ilha no meio do lago, aquela grandona. Aí vive –

respondeu o ancião.

Os dois rapazes rapidamente se despediram e procuraram um meio para

chegar à misteriosa ilha apontada pelo pescador.

10ºAno – Turma D 2010/11

Tanta água, meu Deus! Aquilo assustava o mais valente dos mortais. Era

tarefa para algum herói grego do passado, daqueles que o professor de

Português tanto gostava e nos aborrecia solenemente. Agora dava mesmo jeito

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ter o contacto dum desses jeitosos. Alto lá! Mas as criaturas já estariam mortas,

certo? Estavam confusos, cansados, inquietos e já exaustos. Pensaram em mil

maneiras de chegar à bendita ilha. Nada.

Sem um barco é

impossível, pensavam para

consigo.

Nenhum dos dois

queria, porém, desistir.

Estavam tão perto, quase

estendiam a mão e podiam

alcançar a tal ilha indicada

pelo velho pescador, lar do

sábio sobrinho decifrador de

anagramas.

No meio daquele desespero, Alqueveida deu o ar da sua graça.

Finalmente alguém capaz de os ajudar, pelo menos a chegar ao destino

tão almejado.

-Vocês estão doidos, só pode ser – dizia a bela Alqueveida irritada e

prosseguiu:

- Ali vive um feiticeiro poderosíssimo, cujo génio é conhecido. Nada nem

ninguém se atreve a entrar na ilha. Até olhar para ela assusta o mais valente.

Deixem-se de maluquices e voltem para casa – desabafou.

-Era bom era – retorquiu Farinheira.

-Ricardo, vamos a nado. Com tanta queda nas águas já devemos

desenrascar-nos, não? – continuou Farinheira.

-Se vocês se atreverem, não contem comigo, ouviram? – ameaçou

Alqueveida.

Apesar da pena que sentiam em desiludir tão grande amiga, os nossos

aventureiros tinham de prosseguir. Nada os faria parar. Nem mesmo

Alqueveida.

Cheios de coragem, despediram-se:

- Obrigado, Alqueveida. Mesmo sem ti, um tesouro espera por nós e

desistir é coisa de fracos. Podemos não chegar lá, mas pelo menos tentaremos

– disseram em uníssono.

10º Ano – Turma E 2010/11

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-Ora, ora quem ele é! – exclamou Farinheira.

Diante deles, o velho druida, desfeito em cinzas diante dos seus olhos,

recompunha-se e assumia novamente a sua forma inicial. Os dois jovens

estavam boquiabertos, parecia coisa de ficção.

Já sei que querem consultar Meldmort. Ummmmm… Não aconselho,

mas já vos conheço. Não descansarão enquanto não o fizerem – desabafou o

druida.

-Bem, vamos a isso! Para trás de mim e não se assustem. Sigam sempre

as minhas pegadas. Um erro pode ser mortal – gritou para os dois amigos.

Num instante levantou os braços e agitou um grande cajado. As águas

abriram uma barreira desde a margem até à ilha.

-Atrás de mim, rapazes – gritou de novo o velho.

Os companheiros avançavam na esteira do velho druida. Tudo parecia

estranho. Parecia um sonho. E se acordassem agora? Morriam afogados?

Depois duns quantos passos, grandes espectros começaram a surgir das

barreiras de água. Todos aqueles que lá tinham ficado se juntavam para

proteger a ilha. O druida afastava cada um deles com a palavra misteriosa, o tal

anagrama que tentavam decifrar.

Ao chegarem à margem, os dois rapazes perguntaram atónitos:

- Mas tu conheces a palavra misteriosa?

- É verdade, é palavra de grande poder, pois da terra e suas gentes

obtém a sua energia. Mas apenas Meldmort vos poderá iniciar em tão grandes

mistérios. Deixar-vos-ei em sua casa. O resto é convosco. E dito isto

desapareceu. Diante de si tinham uma fortificação imensa, guardada por

centenas de esqueletos, espectros e afins.

-Que embrulhada, meu Deus! Onde nos fomos meter! – gemiam os dois

amigos, acabrunhados.

10º Ano – Turma F 2010/11

Já um pouco cansados, pensaram em desistir. De repente, daqueles

esqueletos viram algo a brilhar, uma luz igual a todas as outras que tinham

aparecido antes. Era a terceira e última chave! Mas ainda faltava a palavra-

chave, aquela que diria a sequência das três chaves.

Ao observarem melhor os esqueletos, repararam que dentro do osso do

crânio de um deles estava um pequeno pedaço de papel enrolado, onde se lia:

“Para a sequência encontrares, ao local onde tudo começou tens de regressar!”

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Exaustos, resolveram voltar para casa e contar aos pais tudo aquilo que tinha

acontecido para que no dia seguinte pudessem ir no barco do pai do Farinheira

ao local onde tudo tinha começado. E assim fizeram.

No dia seguinte, conforme tinham planeado, pegaram no barco do

Farinheira e foram até Alqueva. Olharam em redor e a única coisa que viram foi

água e mais água. Rapidamente, o Ricardo começou a pensar que talvez o

cofre só se abrisse dentro de água.

Com algum medo e receio, os dois mergulharam naquelas águas

mágicas e quando sucessivamente foram metendo as chaves na fechadura,

repararam que tudo à sua volta ia mudando. Depressa perceberam que o que

continha o cofre não era uma grande quantia de dinheiro, mas sim uma chave

em ouro que iria trazer, novamente, à superfície, a linda aldeia submersa.

Muito espantados e inquietos, voltaram à superfície e contemplaram o

que estava a acontecer. A linda, mas submersa aldeia a pouco e pouco estava

a aparecer.

Orgulhosos pelo que tinham feito, desapareceram no horizonte rumo às

margens do rio para poderem ir para casa e descansarem daquela que foi a

grande aventura das suas vidas.

9ºAno – Turma A 2011/12

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Ficha Técnica:

Título: Às voltas do grande lago

Autores: Alunos da Escola Secundária de Moura 2009/12

Ilustração: Alunos da turma D do 12º ano 2011/2012 – Curso de Artes Visuais

Edição: Biblioteca da Escola Secundária de Moura

Colaboração: Biblioteca Escolar, Área Disciplina de Língua Portuguesa, Direção

março 2013