Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

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Associação da competência motora com a atividade física. Estudo longitudinal em crianças. José Florêncio Dinis Sousa Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação com vista à obtenção do grau de Mestre em Exercício e Saúde Orientador: Professor Doutor Vítor Pires Lopes Bragança abril de 2013

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Associação da competência motora com a atividade física.

Estudo longitudinal em crianças.

José Florêncio Dinis Sousa

Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação com vista à obtenção do grau de

Mestre em Exercício e Saúde

Orientador: Professor Doutor Vítor Pires Lopes

Bragança

abril de 2013

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I

Associação da competência motora com a atividade física.

Estudo longitudinal em crianças.

José Florêncio Dinis Sousa

Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação com vista à obtenção do grau de

Mestre em Exercício e Saúde

Orientador: Doutor Vítor Pires Lopes, Professor Coordenador Principal

Bragança

abril de 2013

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II

Sousa, J. F. (2013) Associação da competência motora com a atividade física. Estudo

longitudinal em crianças. Dissertação de Mestrado, Instituto Politécnico de Bragança,

Bragança.

Palavras-chaves: INFÂNCIA; PEDÓMETRO; COORDENAÇÃO MOTORA;

HABILIDADES MOTORAS; OBESIDADE.

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III

Dedicatória

Aos meus pais e irmã por todo o apoio que me deram ao longo da minha formação.

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V

Agradecimentos

Ao Professor Doutor Vítor Pires Lopes, pela orientação deste trabalho, confiança

depositada, transmissão de conhecimentos científicos e total disponibilidade.

À Carla Dias Sarmento Correia de Sá, pelo constante apoio, incentivo e compreensão,

na elaboração deste trabalho.

Ao Telmo Raul Neto Correia, por toda a amizade e companheirismo que têm pautado a

nossa vida académica.

À Professora Doutora Catarina Margarida da Silva Vasques, pela disponibilidade,

sugestões e ajuda no esclarecimento de algumas dúvidas.

Aos Conselhos Executivos das Escolas e a todos os professores, pela disponibilidade e

apoio prestado.

A todos os Encarregados de Educação dos alunos que participaram neste estudo, por

autorizarem que os seus filhos participassem nas várias recolhas de dados e a todas as

crianças pela sua motivação e empenho na realização dos testes.

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VII

Índice

1. Introdução ..................................................................................................................... 1

2. Problema ..................................................................................................................... 14

2.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 14

2.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 14

3. Hipóteses .................................................................................................................... 15

3.1 Hipótese geral ....................................................................................................... 15

3.2 Hipóteses secundárias ........................................................................................... 15

4. Material e métodos ..................................................................................................... 16

4.1 Desenho do estudo e amostra ................................................................................ 16

4.2 Avaliação antropométrica ..................................................................................... 16

4.3 Avaliação da atividade física ................................................................................ 17

4.4 Avaliação da competência motora ........................................................................ 18

4.4.1 Coordenação Motora ...................................................................................... 18

4.4.2 Habilidades Motoras Fundamentais ............................................................... 20

4.5 Procedimento de análise dos dados ..................................................................... 21

5. Resultados ................................................................................................................... 23

6. Discussão .................................................................................................................... 27

7. Conclusões .................................................................................................................. 37

7.1 Implicações práticas .............................................................................................. 37

8. Referências ................................................................................................................. 38

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IX

Índice de tabelas

Tabela 1. Fatores associados com a atividade física e dispêndio energético em crianças

e adolescentes [adaptado de Malina et al. (38)]. .............................................................. 6

Tabela 2. Sumário dos modelos lineares hierárquicos testados. .................................... 22

Tabela 3. Média e desvio padrão nas diferentes variáveis medidas. ............................. 24

Tabela 4. Resultados da modelação hierárquica da atividade física, presentes no modelo

final. ................................................................................................................................ 26

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XI

Índice de figuras

Figura 1. Mecanismos de desenvolvimento que influenciam a trajetória da atividade

física em crianças [adaptado de Stodden et al. (42)] ...................................................... 10

Figura 2. Percentagem de raparigas e rapazes que cumpriram as recomendações

mínimas do número de passos diários, registada ao longo das observações. As

recomendações mínimas do número de passos diários estão associadas à prática de 60

minutos de atividade física moderada a vigorosa em crianças e adolescentes (33). ...... 25

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XIII

Resumo

Objetivo: Este estudo teve como objetivo analisar longitudinalmente a influência da

competência motora nos níveis de atividade física (AF) das crianças, isto é, a

proficiência em habilidades motoras e os níveis de coordenação motora foram estudados

como preditores dos níveis de AF das crianças num espaço temporal de 4 anos.

Métodos: Estudo longitudinal que decorreu entre o ano de 2009 e 2012, com uma

amostra de 98 crianças do concelho de Bragança. No início do estudo a amostra era

constituída por 24 crianças com seis anos de idade, 40 com sete anos e 34 com oito

anos, que foram seguidas ao longo 4 anos consecutivos, realizando-se avaliações anuais

das variáveis antropométricas, da AF, da coordenação motora e das habilidades motoras

fundamentais. Foi utilizado o pedómetro como instrumento objetivo para avaliar a AF, a

bateria Körperkoordination Test für Kinder (KTK) para avaliar a coordenação motora e

a bateria Test of Gross Motor Development, Second Edition (TGMD-2) para avaliar as

habilidades motoras fundamentais, constituídas por habilidades de controlo de objetos e

habilidades de locomoção. Para a análise dos dados recorreu-se à modelação hierárquica

ou multinível, com o intuito de determinar os preditores da AF, através do sucessivo

ajustamento de cinco modelos. Resultados: O nível de AF das crianças diminuiu

significativamente ao longo do tempo. No início do estudo as raparigas tinham um nível

de AF significativamente inferior ao dos rapazes. A magnitude das diferenças no nível

de AF entre rapazes e raparigas não se alterou significativamente ao longo das

observações. Os níveis de coordenação motora e a proficiência das habilidades de

controlo de objetos não foram preditores da AF, enquanto que a proficiência das

habilidades de locomoção foi o único preditor significativo da AF. Verificou-se uma

grande percentagem de crianças que não cumpriram as recomendações mínimas do

número de passos diários, e esta situação tende a agravar-se com o aumento da idade

das crianças, em especial nas raparigas. Conclusões: As habilidades motoras de

locomoção foram um preditor significativo dos níveis de AF das crianças ao longo de 4

anos.

Palavras-chaves: infância; pedómetro; coordenação motora; habilidades motoras;

obesidade.

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XV

Abstract

Objective: The aim of this study was to analyze the influence of motor proficiency on

children’s physical activity levels (PA) in long-term. Motor skills proficiency and

coordination levels were studied as predictors of children's PA levels in a temporal

space of 4 years. Methods: This longitudinal study took place between 2009 and 2012,

with a sample of 98 children in the municipality of Bragança. At the beginning of the

study the sample was composed of 24 children with six years old, 40 children with

seven years and 34 children with eight years, who were followed over 4 consecutive

years, performing annual assessments of anthropometric variables, PA, motor

coordination and fundamental motor skills. Pedometer was used as an objective

instrument for assessing PA, test of Körperkoordination Test für Kinder (KTK) to

assess motor coordination and test of Gross Motor Development, second edition

(TGMD-2) to assess the fundamental movement skills, composed by objects control

skills and locomotor skills. For data analysis we used the hierarchical or multilevel

modeling, in order to determine the predictors of PA through five successive adjustment

models. Results: The children’s PA levels significantly decreased over time. At

baseline the girls had a PA level significantly lower than the boys. The magnitude of the

differences in PA levels between boys and girls has not changed significantly over the

observations. The motor coordination levels and proficiency in object control skill were

not predictors of PA, whereas the proficiency in locomotor skills was the only

significant predictor of PA. There were a large percentage of children who did not

comply with the minimum recommendations in the number of daily steps and this

situation tends to worsen with increasing age of the children, especially in girls.

Conclusions: The locomotor motor skills were a significant predictor of children’s PA

levels along 4 years.

Keywords: childhood; pedometer; motor coordination, motor skills; obesity.

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XVII

Lista de abreviaturas

AF – atividade física

AFM – atividade física moderada

AFMV – atividade física moderada a vigorosa

AFV – atividade física vigorosa

APF – aptidão física

CDM – coordenação motora

CM – competência motora

CMP – competência motora percebida

DDC – desordem no desenvolvimento da coordenação motora

HCO – habilidades de controlo de objetos

HL – habilidades de locomoção

HLM 7 – Hierarchical Linear and Nonlinear Modeling, versão 7

IC – intervalo de confiança

IMC – índice de massa corporal

KTK – Körperkoordination Test für Kinder

KTKQM – quociente motor geral do KTK

MC – massa corporal

OMS – Organização Mundial de Saúde

SPSS – Statistical Package for the Social Sciences

TGMD-2 – Test of Gross Motor Development, Second Edition

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1

1. Introdução

Nas últimas décadas têm-se registado grandes transformações no estilo de vida das

populações, principalmente nos países desenvolvidos mas também nos países em vias

de desenvolvimento, com implicações no aumento dos níveis de sedentarismo. Um

estudo recente (1) indica que populações de países como Estados Unidos da América,

Reino Unido, Brasil, Índia e China têm apresentado, nas últimas 4 décadas, fortes

reduções na atividade física (AF) realizada e um aumento alarmante do tempo de

sedentarismo, prevendo-se um agravamento desta situação nos próximos anos.

Analisando o significado destes conceitos, consegue-se perceber melhor a gravidade

desta situação, uma vez que o estilo de vida sedentário inclui pouca ou nenhuma AF (2),

sendo a AF definida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos

esqueléticos que resulta num gasto de energia acima do metabolismo de repouso (3).

Esta alarmante diminuição da AF e o aumento do estilo de vida sedentário verifica-se

tanto na população adulta como na população mais jovem, o que tem merecido grande

atenção por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS) (4, 5). A OMS perante estas

alterações no estilo de vida das crianças e adolescentes, criou várias diretrizes com vista

a combater esta situação, como é o caso da fomentação da AF nas escolas (2). Assim o

estudo dos fatores que influenciam a AF nas crianças é considerado uma área de enorme

importância, existindo ainda a necessidade de maior investigação sobre esta temática (6-

10).

Dollman et al. (11) constatou que a falta de dados referentes ao gasto energético de

crianças de há várias décadas atrás impede que exista uma irrefutável confirmação da

tendência de decréscimo da AF entre as crianças ao longo dos últimos anos. O autor

indica que existe principalmente uma alteração dos padrões de AF nas crianças em

muitos países, com uma clara diminuição das deslocações ativas (ex. caminhar), do

tempo das aulas de educação física nas escolas, da participação em desportos

organizados e um aumento de tarefas sedentárias (ex. aumento do tempo a ver televisão

e em vídeo jogos). Este tipo de alterações no estilo de vida das crianças pode implicar

maior taxa de inatividade nas futuras populações adultas, dado que os comportamentos

na AF nos jovens parecem acompanhá-los pela vida adulta (12).

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2

Segundo a OMS, a inatividade física da população em geral tem sido apontada como

um dos principais fatores de risco para a saúde, sendo responsável por 1,9 milhões de

mortes prematuras no mundo por ano, em que 600 mil ocorrem na Europa (13). O

sedentarismo está associado positivamente com a diabetes mellitus tipo 2 (14) e com o

aumento da predisposição para a síndrome metabólica (15). Warburton et al. (16)

indicou que estes riscos acrescidos de doenças e mortes precoces podem ser revertidos,

através do aumento da AF, em especial para pessoas sedentárias. Este autor defende que

o aumento dos níveis de AF é eficaz na prevenção primária e secundária de várias

doenças crónicas, tais como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, cancro e

osteoporose. Outro estudo (17) indica que embora as doenças crónicas sejam

determinadas por fatores modificáveis e não modificáveis, analisando apenas o fator AF

(fator modificável), este pode contribuir para a diminuição do risco de várias doenças

como por exemplo: 75% para o cancro da mama, 49% para doenças cardiovasculares,

35% para a diabetes e 22% para o cancro do cólon retal.

O problema do sedentarismo não vai acarretar apenas problemas para indivíduos adultos

e idosos, mas também para crianças e jovens e de uma forma bem marcada. Uma meta-

análise recente (18) que analisou a influência dos níveis de sedentarismo em crianças e

o seu estado de saúde, indica que existe associação entre o aumento do tempo de

sedentarismo e os resultados negativos na saúde. A maior evidência encontrada neste

estudo foi que crianças e adolescentes que diariamente veem mais de duas horas de

televisão estão associadas a uma redução da AF, saúde psicossocial e aumento do índice

de massa corporal (IMC). Olhando apenas para o consequente aumento do IMC, esta

situação pode estar relacionada com casos de crianças com sobrepeso/obesidade, que

por sua vez estão associadas à deterioração de várias componentes da saúde, como a

componente cardiovascular, endócrina, gastrointestinal, neurológica, psicossocial,

pulmonar e renal (19).

A AF e o sedentarismo são, portanto, formas comportamentais que se têm vindo a

alterar, e consequentemente estão a modificar o estilo de vida das crianças, onde o

primeiro tem vindo a diminuir e o segundo a aumentar. Poder-se-ia pensar que o facto

de as crianças terem mudado nas últimas décadas, pode estar relacionado com o deixar

de estarem vocacionadas para a prática de AF e que este aspeto da vida das crianças foi

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3

relegado para segundo plano. Rowland (20) refuta esta ideia e indica que as crianças são

por natureza ativas e precisam deste tipo de comportamentos, para se poderem

desenvolver convenientemente. Segundo este investigador, fatores biológicos também

contribuem e determinam em certa parte os níveis de AF das crianças, e portanto, tal

como as crias de muitos animais, as crianças também necessitam de realizar AF para

várias funções, tais como, responder aos constantes estímulos do sistema nervoso, o que

permitirá terem um bom desenvolvimento da estrutura cerebral e o inconsciente

controlo do balanço energético. Assim percebe-se que o simples brincar de uma criança

pode significar muito mais do que um momento lúdico, pode também representar uma

resposta biológica.

Em consequência destas recentes alterações no padrão de vida das crianças e suas

consequências, vários investigadores e organizações internacionais de saúde criaram

recomendações para os níveis de AF das crianças e adolescentes, com vista à

manutenção ou melhoria do seu estado de saúde (21, 22). A maioria das recomendações

indica que as crianças e adolescentes devem praticar AF moderada a vigorosa (AFMV)

durante 60 minutos ou mais por dia (21, 22). Este tipo de recomendações reforçou a

importância da AF nas crianças e permitiu constatar que nos últimos anos muitas

crianças não estão a atingir as recomendações mínimas, pondo assim em risco o seu

bom desenvolvimento (23, 24). Esta degradação do estilo de vida saudável, alertou

ainda mais os investigadores e organizações governamentais para a gravidade da

situação, o que tem levado ao aumento do número de investigações nesta área e ao

aparecimento de mais programas de intervenção que têm o objetivo de reverter esta

situação (2, 22, 25).

Até recentemente, grande parte das investigações e programas de vigilância de saúde

pública recorreram à utilização de métodos subjetivos para a avaliação dos níveis de

AF, como é o caso dos instrumentos retrospetivos (26). O questionário é um destes

instrumentos de avaliação e apresenta alguns problemas de fiabilidade, principalmente

quando é aplicado em crianças, onde o viés de memória está mais presente (27). Nos

últimos anos, os métodos objetivos de avaliação da AF, como o acelerómetro e o

pedómetro, têm vindo a ser mais utilizados na investigação, mesmo nas investigações

de grande escala (28-30). Muitas das recentes investigações e campanhas de vigilância

de saúde pública têm optado pela utilização do pedómetro em detrimento do

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4

acelerómetro, principalmente por ser menos dispendioso, por demorar menos tempo a

programar e por ser mais fácil de aplicar em projetos de saúde pública (27).

O fácil acesso da população a este instrumento de medição da AF deixou em aberto um

novo campo de conhecimento por explorar, uma vez que ainda não estão claramente

definidos os pontos de corte do número de passos diários que estão associados a

benefícios para a saúde (31). Esta lacuna é ainda mais flagrante nos grupos

populacionais mais jovens, o que tem levado ao aparecimento de recentes investigações

que procuram dar resposta a esta necessidade (32, 33). As investigações que estudaram

os pontos de corte para o número de passos diários associados a benefícios para a saúde

em crianças e adolescentes são muito escassos, e os que existem focam-se sobretudo no

número mínimo de passos necessários para o controlo ponderal (32, 34, 35). Como

alternativa a esta lacuna, Colley et al. (33) procurou traduzir as diretrizes existentes da

AF para crianças e adolescentes (60 minutos de AFMV), em pontos de corte para o

número de passos diários. Com base nos resultados deste estudo (33), o autor propõe

que 12000 passos por dia pode ser usado como alvo para determinar se as

crianças/adolescentes entre os 6-19 anos de idade estão a cumprir as atuais

recomendações de 60 minutos de AFMV. Este ponto de corte de 12000 passos diários

para crianças e adolescentes, torna-se assim mais uma ferramenta útil para o controlo do

cumprimento das recomendações de 60 minutos de AFMV, que pode ser empregue em

investigações e programas de vigilância de saúde pública.

Começam também agora a aparecer algumas investigações com valores normativos da

média do número de passos em crianças de várias regiões do mundo. Uma recente

revisão realizada por Beets et al. (36) analisou em termos internacionais, os valores

normativos da média do número de passos diários em crianças e adolescentes, com base

em 13 países. Os resultados indicaram que os países com valores normativos mais

elevados de número de passos diários são a Nova Zelândia, a Austrália e a Suécia. Por

outro lado, as crianças e adolescentes dos Estados Unidos da América e França,

apresentaram valores médios de passos por dia destacadamente abaixo da média

internacional. Beets et al. (36) referiu ainda que grande parte dos fatores que

determinam estas diferenças na AF entre países continua por explicar, podendo estas

serem consequência de fatores socioeconómicos, diferenças do ambiente físico,

políticas locais adotadas, entre outros. Os fatores de constrangimento externo, tais como

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normas nas escolas, fatores ambientais, regras dos pais para proteção dos filhos e para a

sua própria conveniência (ex. ocupação profissional), podem também ser considerados

fatores que contribuem para os níveis de AF das crianças e adolescentes (11). Existe

ainda a necessidade de maior evidência científica na determinação dos fatores que

influenciam os níveis de AF, o que tem levado à incursão de várias investigações que

procuram compreender este comportamento multifatorial complexo.

Uma revisão (9) analisou esta questão através de vários estudos com crianças em idade

pré-escolar (2-5 anos) e concluiu que o sexo da criança, a realização de AF com

familiares e AF despendida em espaços lúdicos, são fatores com maior preponderância

nos seus níveis de AF. Outras revisões (7, 8) que analisaram crianças com um intervalo

de idade mais amplo (3-12 anos) tendem a encontrar um maior número de variáveis

associadas à AF, tais como sexo, excesso de peso dos pais, AF realizada no passado,

dieta saudável, facilidade de acesso a programas de AF, tempo despendido em

atividades ao ar livre, autoeficácia, AF dos pais (para os rapazes) e apoio dos pais. Por

sua vez, as variáveis usualmente associadas aos adolescentes são o sexo, a educação

paternal, atitude, autoeficácia, orientação por objetivos/motivação, influência familiar,

apoio dos amigos, educação física/programas escolares e programas de recreação

comunitária (6, 7, 10). Como se pode constatar, os fatores que afetam os níveis de AF

são diversos e vão alterando desde a jovem criança até à adolescência.

A generalidade das conclusões obtidas anteriormente está muito influenciada pelo tipo

de investigações que estão na base destas mesmas revisões, ou seja, a maioria das

investigações tem-se debruçado sobre a influência de variáveis psicológicas e sociais

nos níveis de AF das crianças. Embora este tipo de estudos apresente alguns fatores

associados à AF nas crianças, o peso que estes têm na variação da AF aparenta ser

reduzido (37). Desta forma, percebe-se que a restrição do campo de estudo é limitado e

não permite perceber todo o processo de interações que existe no âmbito da AF. Deste

modo, Malina et al. (38) procurou alargar a análise das áreas de influência na AF,

definindo algumas variáveis em categorias, que podem explicar de uma forma mais

abrangente este comportamento, sendo estas categorias a biológica, psicossocial, social

e ambiente físico (Tabela 1).

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Tabela 1. Fatores associados com a atividade física e dispêndio energético em crianças e adolescentes* [adaptado de

Malina et al. (38)].

Biológico Psicossocial Social Ambiente Físico

Hereditário Autoeficácia Crenças e atitudes familiares Área de residência

Sexo Autoconceito para a atividade Atitudes e comportamentos dos

pares Facilidade de instalações

Estado de adiposidade e

nutrição

Perceção das barreiras para a

atividade Estatuto socioeconómico Condições de segurança

Estado de saúde Perceção da competência física Tempo gasto a ver televisão Dias da semana e feriados

Maturação sexual Atitude sobe a atividade Tempo gasto a jogar jogos de

computador Estação do ano

Proficiência nas habilidades

motoras Crenças sobre a atividade Valores culturais Clima

Aptidão física

*Algumas associações estão estabelecidas outras são sugestões

Para além das extensas investigações realizadas na categoria psicossocial e social, as

questões como a existência de bermas nas estradas, a necessidade de atravessar estradas

movimentadas e a distância entre casa e escola, que estão incluídas na categoria do

ambiente físico, começam a ser mais estudadas (39). Na categoria biológica existe uma

variável que não tem recebido muita atenção por parte dos investigadores, que procura

compreender o fenómeno da AF nas crianças, que é a proficiência nas habilidades

motoras. Autores como Gallahue e Ozmun (40) indicam que uma possível explicação

para esta situação é a convicção de que a aquisição das habilidade motoras em crianças

deve-se a um processo automático e sequencial que decorre quase exclusivamente pela

influência da maturação, o que na realidade não acontece. Uma recente meta-análise

(41) vem mostrar que crianças submetidas a programas de aprendizagem motora

potencializam a aquisição de habilidades fundamentais, como correr, saltar, agarrar e

pontapear. Estas informações vêm reforçar a ideia de que a proficiência das habilidades

motoras é determinada em boa parte, pelo tipo de estímulos externos vivenciados pela

criança. Desta forma, a potencial associação entre a proficiência das habilidades

motoras e a AF proposta por Malina et al. (38), ganha maior força e vai ao encontro das

propostas apresentadas por outros autores (42-44). Para um melhor entendimento desta

temática deve-se partir dos traços gerais do estudo do desenvolvimento motor, que

sustenta outras áreas de investigação como é o caso da competência motora (CM), que

por seu lado engloba os conceitos das habilidades motoras e da coordenação motora.

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O desenvolvimento motor é uma área muito abrangente, que pode ser definido como o

estudo do comportamento do movimento e da associação da mudança biológica no

movimento humano ao longo da vida (45). Quando se procura descrever o grau de

proficiência do comportamento motor, surge outra área comum de investigação que é a

CM. Neste caso, a CM refere-se ao grau de execução das habilidades motoras num

amplo intervalo de tarefas motoras, bem como a coordenação e o controlo de

movimentos subjacentes a um resultado motor específico (46, 47). Embora a

coordenação motora e as habilidades motoras estejam juntas neste conceito, deve-se

compreender que o primeiro fator poderá influenciar o segundo, o que não impede que

os dois sejam vistos de forma separada. A identificação clara dos pressupostos

subjacentes às habilidades motoras e à coordenação motora são fundamentais para um

melhor entendimento dos fatores envolvidos na CM, e em última análise à sua

influência no padrão comportamental que é a AF.

Segundo Kiphard e Schilling [citado por Lopes et al. (48)], a coordenação motora é a

interação harmoniosa e económica do sistema músculo-esquelético, do sistema nervoso

e do sistema sensorial, com o intuito de produzir ações motoras precisas e equilibradas e

reações rápidas adaptadas à situação, exigindo: a) uma adequada medida de força que

determina amplitude e velocidade do movimento; b) uma adequada seleção dos

músculos que influenciam a condução e orientação do movimento; e c) a capacidade de

alternar rapidamente entre tensão e relaxamento muscular. Por outro lado, as

habilidades motoras já podem ser definidas como atos que requerem movimento e

devem ser aprendidos a fim de serem executados corretamente (49). As habilidades

motoras também apresentam três características universais que são: a) ter um objetivo

definido e atingível; b) ser desempenhada de forma voluntária; e c) ter que existir

movimento do corpo para alcançar o objetivo pretendido. Através da caracterização

destes dois conceitos, pode-se concluir que uma determinada tarefa motora pode exigir

um determinado nível de coordenação motora para ser executado corretamente, como

por exemplo colocar um livro numa estante, mas no entanto não cumpre os requisitos

para ser considerado habilidade motora. Por outro lado, existem outras tarefas motoras

de elevado grau de coordenação motora, como o lançamento por cima do ombro, que

cumprem as premissas necessárias para serem consideradas habilidades motoras.

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Gallahue (50) estabeleceu vários estágios no processo do desenvolvimento motor, como

as fases dos movimentos reflexos (in útero - 1 ano), movimentos rudimentares (1-2

anos), movimentos fundamentais (2-7 anos) e movimentos desportivos (7-14 anos).

Mais recentemente foi apresentado o modelo de Gallahue e Ozmun (40) relativo ao

desenvolvimento motor durante a vida, que tem conferido grande importância à fase

motora fundamental. Os movimentos fundamentais são divididos em estágios

sequenciais identificáveis, distribuídos em três estágios separados, mas frequentemente

sobrepostos, que são o estágio inicial (2-3 anos), o estágio elementar (4-5 anos) e o

estágio maduro (6-7 anos). As sequências de desenvolvimento foram elaboradas a partir

de análises cinematográficas, considerando as características das relações espaço-

temporais nos segmentos corporais, que se referem a habilidades fundamentais,

nomeadamente correr, saltar, lançar, pontapear, agarrar, rolar, entre outras (51).

No desenvolvimento dos movimentos fundamentais (processo que ocorre entre o

estágio inicial e o maduro), as crianças vão melhorando o controlo e coordenação

rítmica, aprimorando a sincronização dos elementos temporais e espaciais do

movimento, passando de um padrão de movimentos mais grosseiros para uns mais

refinados. Segundo Gallahue e Ozmun (40), as crianças para avançarem de um estágio

para o outro necessitam de oportunidades para a prática, de encorajamento e de

instrução num meio ambiente que promova a aprendizagem. Estas oportunidades

desempenham um papel importante para alcançar um grau máximo de desenvolvimento

motor, para que estas crianças possam atingir padrões de movimento fundamentais (41).

Desta forma, crianças que não tenham vivido este tipo de experiências poderão estar

impossibilitadas de atingir o estágio maduro em determinadas habilidades nesta fase e

posteriores. Por este motivo, muitas crianças e adultos, não vão além do estágio

elementar em muitos padrões de movimento.

Tal como foi referido anteriormente, é importante perceber que a interação do corpo

humano e o meio ambiente é fulcral para o grau de proficiência motora. As leis gerais

do movimento e da estabilidade estão sempre presentes no processo de desenvolvimento

motor, nas quais se destacam as leis de Newton. Cada uma delas influencia de forma

individualizada cada criança, que sofre constantes alterações com o seu

desenvolvimento e transformação do seu corpo (52). Questões como o comprimento dos

segmentos corporais, alteração da massa corporal ou capacidade de produção de força

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são determinantes para o resultado da execução das habilidades motoras, aspetos aos

quais as crianças têm de estar em constante adaptação. Dufek et al. (53) analisou as

alterações do padrão da marcha em adolescentes com sobrepeso/obesos e adolescentes

normoponderais e concluiu que os adolescentes com sobrepeso/obesos apresentaram um

suporte duplo no ciclo da marcha mais prolongado. Esta situação pode dever-se à

inabilidade destes indivíduos em controlar e acelerar o centro de massa sobre a base de

sustentação durante a fase de apoio, o que vai afetar a proficiência desta tarefa motora.

Estas influências são ainda mais precetivas ao comparar a execução motora entre

crianças com sobrepeso/obesas e crianças normoponderais, uma vez que as primeiras

apresentam um nível de coordenação e habilidades motoras inferior às segundas (54,

55).

O desenvolvimento motor nas crianças é considerado uma área de estudo muito

complexa, no qual fatores hereditários e ambientais representam uma interação

essencial (45). A captação de estímulos provenientes das vivências, que ocorrem desde

o nascimento e durante o ciclo de vida, provocam uma constante adaptação e

desenvolvimento dos componentes da CM (45). Embora a CM possa influenciar os

níveis de AF, também o fornecimento de estímulos provenientes da AF podem

favorecer o desenvolvimento da CM. Este possível mútuo benefício entre a CM e a AF

é defendido por Barnett et al. (56), que considera este fenómeno como um ciclo de

realimentação (reforço) positivo entre estas duas variáveis, em que a maior proficiência

da CM vai promover maior AF, que por sua vez estimulará o desenvolvimento da CM.

Esta visão do desenvolvimento das crianças tem vindo a ganhar força nos últimos anos,

no qual se destaca o estudo de Stodden et al. (42) que apresenta um modelo conceptual

de hipóteses acerca da relação entre AF, competência em habilidades motoras,

competência percebida em habilidades motoras, aptidão física (APF) relacionada à

saúde e à obesidade (Figura 1). Este modelo procura destacar a relação direta entre a

competência em habilidades motoras e a AF, relação que pode ser influenciada por

variáveis mediadoras, como a competência percebida em habilidades motoras e a

aptidão relacionada à saúde. Este modelo conceptual também pressupõe que os níveis

de AF podem aumentar ou diminuir o risco de obesidade, e por sua vez a alteração da

composição corporal irá influenciar o grau de desenvolvimento da competência em

habilidades motoras e assim sucessivamente.

Page 30: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

10

Figura 1. Mecanismos de desenvolvimento que influenciam a trajetória da atividade

física em crianças [adaptado de Stodden et al. (42)]

Stodden et al. (42) sugere que uma criança com baixas competências em habilidades

motoras entrará numa espiral negativa, com consequente afastamento da participação

em atividades físicas variadas, isto porque a criança percebe que não é capaz de

executar as habilidades de forma correta e sente-se inferiorizada em relação aos pares,

passando então a evitar diversas atividades em que possa expor as suas debilidades. Esta

criança inativa, quando tenta executar as habilidades motoras também estará a ser

influenciada negativamente pela sua menor APF, o que dificultará ainda mais o sucesso

da habilidade, o que a leva a afastar-se ainda mais da prática de AF. Como

consequência dos baixos níveis de AF da criança, esta aumentará a probabilidade de

aumentar a massa gorda, que terá uma repercussão negativa na CM, e que em última

análise vai ciclicamente agravar ainda mais esta situação. Por outro lado, uma criança

com elevada competência em habilidades motoras irá entrar numa espiral positiva, com

a participação em diversas atividades que lhe dão prazer e manterá a sua composição

corporal em níveis adequados. O autor defende que as possíveis associações

apresentadas podem alterar a sua força, mediante a alteração de algumas condições,

como por exemplo a idade ou a composição corporal da criança.

Page 31: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

11

Este modelo de hipóteses pode ser comprovado através de várias investigações

realizadas, que analisaram as associações entre as variáveis referidas. A relação entre a

APF e a AF está estabelecida há alguns anos (57, 58), apresentando uma associação

moderada. Por outro lado, ao analisar os fatores que influenciam a APF, constata-se que

esta variável está relacionada com a CM (59-61). Haga (59) analisou a possível relação

entre a CM e a APF e teve como resultados uma moderada a forte correlação entre estas

duas variáveis. Outra investigação (61) analisou, entre outras questões, a influência da

proficiência das habilidades motoras em crianças na APF durante a adolescência,

concluindo que crianças com um bom controlo de objetos estão mais propensas a

tornarem-se adolescentes ativos, e realçou a importância das habilidades motoras como

meio de fomentar a APF a longo prazo.

O modelo Stodden et al. (42) também sugere que questões psicológicas, como a auto-

perceção têm um papel importante na expressão das atitudes comportamentais (62). Este

efeito traduz-se na possível associação da competência motora percebida (CMP) com a

AF, que nos últimos anos tem vindo a ser confirmada (56, 63-66). Existem ainda

estudos que encontraram uma associação entre a CM e a CMP, embora a força desta

relação possa alterar-se mediante o estágio de desenvolvimento em que a criança se

encontre. Geralmente crianças com menos de 7 anos têm uma perceção exagerada das

suas habilidades motoras devido à fraca capacidade cognitiva da perceção, distinção das

suas habilidades, capacidades e esforço empreendido em comparação com crianças mais

velhas, o que aponta para uma fraca relação entre a CM e a CMP (67, 68). As crianças

mais velhas geralmente apresentam uma capacidade cognitiva superior, percebem com

maior precisão qual o leque de habilidades que conseguem realizar e qual o seu nível de

perfeição, o que torna a sua perceção mais próxima das habilidades que efetivamente

conseguem realizar, apresentando assim uma associação mais forte entre a CM e a CMP

(69, 70).

Vários investigadores têm defendido que a CMP é apenas uma variável mediadora, uma

vez que a CM precede a CMP, levando a que crianças com reduzida CM tenham a

perceção que possuem baixas competências motoras (42, 63, 64). Estas crianças com

reduzida CM também estarão associadas com um menor índice de motivação para a

prática de AF (71). As investigações de Barnett et al. (63) e Cairney et al. (64)

Page 32: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

12

analisaram esta questão e concluíram que a CMP tem um efeito direto na AF das

crianças e adolescentes, mas os autores destacaram que a CMP era fundamentalmente

uma variável mediadora da relação entre a CM e a AF.

Contudo, é importante destacar, que pode existir uma fraca associação entre CM e a AF

em crianças mais jovens, porque crianças com baixa CM têm a perceção exagerada das

suas capacidades e sentem-se mais motivadas para se envolverem em atividades físicas

(68). No entanto, crianças mais velhas com baixa CM já percebem quais as suas reais

capacidades motoras, ficando mais desmotivadas para a prática de AF, com consequente

diminuição dos níveis de AF, o que torna mais forte a associação entre a CM e a AF

(63, 69). Assim, a fase final da infância surge como um período de vulnerabilidade, pois

crianças que eram ativas devido à sua exagerada perceção das competências motoras,

começam a perceber quais são as suas reais capacidades, sentindo que estão abaixo das

expetativas, o que tem como consequência a desmotivação para a prática de AF.

As conclusões das associações referidas anteriormente vêm dando cada vez mais força

às hipóteses apresentadas no modelo conceptual de Stodden et al. (42), que apresenta a

CM como ponto fulcral de todo o modelo. Embora a APF e a CMP contribuam para os

níveis de AF, estas duas variáveis são influenciadas pela CM que as precede, tornando-

se assim duas variáveis mediadoras da CM (63, 69, 72). Apesar da aparente importância

da CM nos níveis de AF das crianças, ainda são escassos os estudos que analisam o

efeito entre estas duas variáveis.

Recentemente a revisão da literatura de Saraiva et al. (73) analisou as relações entre AF,

APF, aptidão morfológica e níveis de coordenação, tanto na infância como na

adolescência, concluindo que os níveis de coordenação são o fator que mais se parece

associar com a AF de crianças em idade escolar (r=0,21 a 0,55) e pré-escolar (r=0,18).

A incapacidade de determinar causalidade presente nas investigações transversais, tem

impedido determinar qual o real impacto da CM em todas estas relações, em especial

nos níveis de AF. Esta ideia foi reforçada pela revisão de Lubans et al. (74) que analisou

entre outras questões, a relação da proficiência das habilidades motoras e os níveis de

AF, concluindo que de uma forma geral existe uma associação positiva significativa

nesta relação, mas são necessários estudos longitudinais, para que se possa provar a

direção das associações encontradas.

Page 33: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

13

Este panorama expõe a necessidade de mais investigações nesta área, onde a realização

de estudos longitudinais deve ser uma prioridade. Assim, este estudo delineou como

principal objetivo a análise do efeito da CM na AF das crianças ao longo do tempo. Esta

CM pode ser subdividida em coordenação motora, habilidades de locomoção e

habilidades de controlo de objetos, que individualmente podem ter efeitos distintos no

comportamento que é a AF.

Page 34: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

14

2. Problema

A principal questão a esclarecer neste estudo é a seguinte: será que, a competência

motora (coordenação motora e habilidades motoras) é preditora dos níveis de AF das

crianças?

2.1 Objetivo geral

Pretende-se analisar longitudinalmente a influência da competência motora nos níveis

de AF das crianças, isto é, a proficiência em habilidades motoras e os níveis de

coordenação motora serão estudados como preditores dos níveis de AF das crianças

num espaço temporal de 4 anos.

2.2 Objetivos específicos

a) Verificar se os níveis de coordenação motora são preditores dos níveis de AF das

crianças ao longo de 4 anos.

b) Verificar se a proficiência em habilidades de locomoção é preditora dos níveis de

AF das crianças ao longo de 4 anos.

c) Verificar se a proficiência em habilidades de controlo de objetos é preditora dos

níveis de AF das crianças ao longo de 4 anos.

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15

3. Hipóteses

3.1 Hipótese geral

Colocamos como hipótese que os níveis de coordenação motora e a proficiência em

habilidades motoras são preditores dos níveis de AF das crianças ao longo de 4 anos,

isto é, os níveis elevados de coordenação motora e de proficiência nas habilidades

motoras corresponderão a níveis elevados de AF.

3.2 Hipóteses secundárias

a) Os níveis de coordenação motora são preditores dos níveis de AF das crianças ao

longo de 4 anos.

b) A proficiência em habilidades de locomoção é preditora dos níveis de AF das

crianças ao longo de 4 anos.

c) A proficiência em habilidades de controlo de objetos é preditora dos níveis de AF

das crianças ao longo de 4 anos.

Page 36: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

16

4. Material e métodos

4.1 Desenho do estudo e amostra

Estudo longitudinal que decorreu entre o ano de 2009 e 2012 e tem como amostra

crianças do concelho de Bragança, do nordeste de Portugal. Em 2009 foram

selecionadas por conveniência 152 crianças de ambos os sexos com idades entre os 4 e

os 9 anos (4 anos: 15 crianças, 5 anos: 14 crianças, 6 anos: 28 crianças, 7 anos: 42

crianças, 8 anos: 34 crianças e 9 anos: 19 crianças), que frequentavam um jardim-de-

infância e três escolas primárias. Estas crianças foram seguidas ao longo 4 anos

consecutivos, realizando-se avaliações anuais das variáveis antropométricas, da AF, da

coordenação motora e das habilidades motoras fundamentais. O foco desta investigação

foi apenas dirigido para as coortes de crianças que em 2009 tinham 6, 7 e 8 anos,

garantindo desta forma que todas elas se encontravam na mesma fase de

desenvolvimento. Das 104 crianças desta faixa etária foram excluídos os dados de 6

crianças (4 com seis anos e 2 com sete anos), por só terem participado no primeiro ano

de observações. O número de crianças avaliadas ao longo dos quatro anos foi variando,

tendo sido avaliadas 98 crianças no primeiro ano (100%), 63 crianças no segundo ano

(64%), 66 crianças no terceiro ano (67%) e 89 crianças no quarto ano (91%). A variação

no número de crianças avaliadas nos vários momentos de observação, não reduziu a

amostra inicial, uma vez que todas as crianças foram avaliadas pelo menos em dois dos

quatro momentos de observação. A recolha dos dados foi aprovada pelas instituições de

ensino onde se realizou a investigação e somente participaram no estudo as crianças

cujos pais ou representantes legais assinaram um termo de consentimento informado.

4.2 Avaliação antropométrica

A estatura foi avaliada através do estadiómetro portátil Invicta

, modelo Leicester

(Birmingham, Inglaterra). Para a realização da medição da estatura, a criança estava na

posição anatómica, com os pés descalços sobre a base do estadiómetro e a cabeça

posicionada no plano horizontal de Frankfurt (75). A estatura registada resulta da média

de duas avaliações consecutivas. Para avaliação da massa corporal foi utilizada a

Page 37: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

17

balança portátil Seca

, modelo M889, (Hamburgo, Alemanha), a criança tinha de

permanecer imóvel em cima da balança, descalça e com roupas leves. O IMC foi

calculado através da divisão da massa corporal (kg) pela estatura (m) ao quadrado

(kg/m2).

4.3 Avaliação da atividade física

O instrumento utilizado para avaliação da AF foi o pedómetro New Lifestyles

modelo

NL-800 (Missouri, Estados Unidos da América). Trata-se de um pequeno dispositivo

(6,5 cm x 3,7 cm x 1,5 cm) com 8 gramas concebido para a contabilização de passos,

através de um mecanismo que deteta oscilações verticais. A medição do número de

passos concretizada pelo pedómetro, reflete sobretudo, um aspeto representativo da

quantidade da AF, tratando-se de um instrumento válido e fiável para a medição da AF

em crianças (76). Este pedómetro possui uma memória interna, que regista o número de

passos realizados num período de 24 horas. O pedómetro pode registar as contagens de

cada dia até a um máximo de 7 dias, podendo-se visualizar o número de passos

realizados em cada dia através do monitor existente no pedómetro.

Para a colocação do pedómetro recorreu-se à utilização de um cinto elástico adaptável

ao corpo da criança, que continha uma bolsa onde se armazena o pedómetro na posição

horizontal. Desta forma os pedómetros foram colocados junto à cintura (crista ilíaca

ântero-superior) da criança e selados com lacre de plástico que foi aberto apenas 7 dias

depois, à mesma hora a que foram colocados. Foi dada a instrução à criança de que ela

devia andar sempre com o pedómetro exceto quando fosse dormir, tomar banho e

realizar atividades no meio aquático. Após retirar os pedómetros foi registado o número

de passos realizados em cada dia da semana, sendo descartados os valores que

apresentassem um número de passos inferior a 500 passos por dia. Foi calculada a

média de passos por dia, através da soma do número de passos realizados em cada dia

da semana considerado válido, dividindo esse valor pelo número de dias da semana em

que foram registados os passos.

Page 38: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

18

Para além da média do número de passos diários foi ainda analisado o nível de AF

segundo os pontos de corte propostos por Colley et al. (33), que associa a realização de

12000 passos diários ao cumprimento de 60 minutos de AFMV. Foram então criadas

duas categorias para os níveis de AF segundo estas recomendações: a) nível de AF

abaixo das recomendações - média de passos diários inferior a 12000 passos por dia; b)

nível de AF dentro das recomendações - média de passos diários igual ou superior a

12000 passos por dia. Estes pontos de corte permitiram avaliar se a média do número de

passos diários realizados pelas crianças ao longo dos anos cumpriam as recomendações

mínimas do número de passos diários.

4.4 Avaliação da competência motora

4.4.1 Coordenação Motora

Para a avaliação da coordenação motora foi utilizado o teste Körperkoordination Test

für Kinder (KTK) (77), que surgiu de preocupações pedagógicas e clínicas, sendo

válido para a análise da coordenação corporal de crianças dos 5 aos 14 anos de idade. O

KTK advém da análise fatorial a vários testes motores, que resultam num fator

classificado como coordenação motora grossa. Relativamente ao coeficiente de

fiabilidade total, o KTK apresenta um coeficiente de fiabilidade total de 0,97, enquanto

que o coeficiente correspondente para os quatro testes individuais que compõem o KTK

varia de 0,80 a 0,96. Os quatro testes individuais referidos são:

a) Equilíbrio em marcha à retaguarda – a criança tem de caminhar à retaguarda numa

trave de madeira com 3 metros de comprimento e 5 cm de altura, mantendo o

equilíbrio. A criança executa a tarefa em traves com larguras diferentes, 6 cm, 4,5

cm e 3 cm, da mais larga para a menos larga, com 3 tentativas em cada trave. O

número de passos é registado até ao máximo de 8 por tentativa.

b) Saltos monopedais – a criança tem de saltar a um pé (primeiro com o pé preferido e

depois com o outro) por cima de uma placa (50 cm x 20 cm x 5 cm) ou mais placas

de espuma sobrepostas, colocadas transversalmente na direção do salto. A criança

Page 39: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

19

deve começar o salto de acordo com a altura recomendada para a idade: 6 anos – 5

cm; 7 a 8 anos – 15 cm; 9-10 anos – 25 cm; e 11 a 14 anos – 35 cm. Durante a

execução da tarefa a criança não pode tocar nas placas e a receção deve ser feita

com o mesmo pé com que iniciou o salto, não podendo o outro tocar no solo.

Apenas são adicionadas mais placas caso a criança execute com sucesso cada altura

com os dois pés. A criança tem três tentativas para cada pé em cada altura,

registando as alturas que foram ultrapassadas e o número de tentativas que precisou

para obter o sucesso.

c) Saltos laterias – a criança tem que saltar lateralmente, com os pés juntos, durante 15

segundos. A execução deve ser feita dentro de um retângulo (60 cm x 4 cm x 2 cm)

o mais rápido possível, sem tocar com os pés na faixa separadora, que divide o lado

mais comprido do retângulo em duas partes iguais. Existem duas tentativas,

registando-se o número de saltos válidos em ambas as tentativas.

d) Transposição lateral – a criança tem de executar a transposição lateral de duas

plataformas (25 cm x 25 cm x 2 cm, com quatro pés que medem 3,7 cm de altura)

durante 20 segundos, quantas vezes for possível. Antes de iniciar a tarefa a criança

tem os dois pés sobre a segunda plataforma, quando se dá o sinal para iniciar, a

criança deve agarrar com as duas mãos a primeira plataforma, que se encontra na

posição lateral em relação à segunda, transpondo-a transversalmente para o outro

lado do corpo deslocando os pés da segunda para a primeira plataforma e assim

sucessivamente. Cada transferência bem-sucedida de uma plataforma para a outra

obtém dois pontos (um ponto por deslocar a plataforma, e outro para a transferência

do corpo). Existem duas tentativas, registando o número de pontos alcançados em

ambas as tentativas.

O desempenho de cada item é ajustado para o sexo e à idade, mediante os valores de

referência apresentados pelo KTK. A soma das pontuações padronizadas para os quatro

testes resulta no quociente motor geral do KTK (KTKQM), que é utilizado como

indicador da coordenação motora. O KTKQM permite classificar as crianças segundo o

seu nível de desenvolvimento coordenativo: (a) perturbações da coordenação (KTKQM

≤70); (b) insuficiência coordenativa (KTKQM ≥71 e ≤85); (c) coordenação normal

Page 40: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

20

(KTKQM ≥86 e ≤115); (d) coordenação boa (KTKQM ≥116 e ≤130) (e) coordenação

muito boa (KTKQM ≥131 e ≤145).

4.4.2 Habilidades Motoras Fundamentais

A bateria de testes utilizada para avaliar as habilidades motoras fundamentais foi o Test

of Gross Motor Development, Second Edition (TGMD-2) (78). Este teste consiste na

avaliação normativa das habilidades motoras (grosseiras), desenvolvido para crianças

dos 3 aos 10 anos de idade. O TGMD-2 é composto por 12 habilidades motoras

fundamentais, e está dividido uniformemente em dois subtestes de avaliação, o das

habilidades locomotoras e o das habilidades de controlo de objetos/manipulativos:

a) Avaliação das habilidades locomotoras: corrida, galope, deslocamento lateral, pé-

coxinho, pulo/salto e o salto horizontal parado;

b) Avaliação das habilidades de controlo de objetos: lançamento por cima do ombro,

lançamento da bola por baixo, batimento numa bola estática, drible sem

deslocamento, agarrar e pontapear.

O coeficiente de fiabilidade para o TGMD-2 é de 0,85 para o subteste locomotor, 0,88

para o subteste do controlo de objeto e 0,91 para o teste global das habilidades motoras.

A avaliação das habilidades motoras fundamentais está orientada para o processo, que

pretende avaliar a forma da realização do movimento, segundo a incorporação dos

critérios de desempenho, observados em padrões de movimentos maduro. Cada

habilidade inclui 3 a 5 critérios de desempenho, que permitem identificar de forma mais

precisa as características específicas do movimento, refletindo o nível de perícia em que

a criança se encontra. A pontuação é baseada na presença (um) ou ausência (zero) de

cada um dos critérios de desempenho. Antes da execução da habilidade, o avaliador

explica e demonstra qual é a habilidade que se pretende avaliar. Existem 3 tentativas

para cada habilidade, a primeira tentativa é para a criança experimentar e as duas

últimas destinam-se à avaliação da execução da habilidade. A soma destes resultados

para as 6 habilidades em cada subteste é a pontuação bruta, que varia de 0 a 48 para

Page 41: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

21

cada subteste, em que a maior pontuação indica maior proficiência. As avaliações foram

realizadas por observadores previamente treinados, atendendo aos critérios de êxito. Os

resultados do TGMD-2 podem ser apresentados de quatro formas: dados brutos (soma

dos dados obtidos), percentis (posição do indivíduo na distribuição), valores

estandardizados (desempenho padronizado num subteste ou quociente motor de ambos

os testes) e equivalentes etários (relação do resultado obtido com a idade). Para o

processamento dos dados nesta investigação foram usados apenas os resultados brutos

do subteste das habilidades locomotoras e o subteste das habilidades de controlo de

objetos.

4.5 Procedimento de análise dos dados

Uma vez que os dados provenientes deste estudo longitudinal representam um conjunto

informacional com planos hierárquicos ou multinível de grandezas diferentes, recorreu-

se ao procedimento estatístico de modelação hierárquica ou multinível, através do

software Hierarchical Linear and Nonlinear Modeling

, versão 7 (HLM 7) (79).

Através deste programa realizou-se a análise da mudança intra-individual e das

diferenças inter-individuais, que permitem testar, sequencialmente, diferentes modelos

de complexidade crescente, em dois níveis de hierarquia (nível 1: as medidas repetidas,

nível 2: os sujeitos) (80, 81). No nível 1 temos as medidas repetidas que mudam ao

longo do tempo como é o caso da AF (variável dependente). Os potenciais preditores

que influenciam a mudança na AF também pertencem ao nível 1, sendo estes o IMC,

coordenação motora, habilidades de controlo de objetos e habilidades locomotoras

(variáveis independentes) que também se alteram ao longo do tempo. No nível 2 temos

as crianças, que têm como único preditor o sexo.

Foi testada a normalidade das distribuições das variáveis em cada ponto do tempo

através do teste de Shapiro-Wilk. Para a modelação hierárquica da AF recorreu-se ao

sucessivo ajustamento de cinco modelos que estão brevemente explicados na Tabela 2.

A qualidade dos modelos foi garantida através da redução da estatística Deviance entre

modelos, o que indica um melhor ajustamento das sucessivas modelações. O método

estatístico utilizado pelo software HLM 7 para estimar os diferentes parâmetros foi a

Page 42: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

22

máxima verosimilhança (79). A estimação do erro padrão robusto na análise permitiu

controlar a falta de normalidade da distribuição de algumas variáveis.

Os restantes cálculos estatísticos foram realizados através do software estatístico

Statistical Package for the Social Sciences

(SPSS), versão 21 (IBM Corp. Released

2012. IBM SPSS Statistics for Windows, Version 21.0. Armonk, NY: IBM Corp).

Tabela 2. Sumário dos modelos lineares hierárquicos testados.

Modelo

Descrição

1

Modelo linear não-condicional: para estimar a atividade física na baseline e a sua

mudança no tempo.

2 Inclusão do sexo como preditor do nível 2: para testar a diferença do nível

atividade física na baseline entre os rapazes e as raparigas.

3 Interação entre a variável sexo e tempo: para testar se existem diferenças

significativas na velocidade de mudança ao longo do tempo entre raparigas e

rapazes na atividade física.

4 Inclusão dos preditores do nível 1: para testar se o índice de massa corporal,

coordenação motora, habilidades de controlo de objetos e habilidades locomotoras,

têm efeitos significativos na mudança da atividade física.

5 Modelo de efeitos aleatórios: para testar as diferenças inter-individuais na mudança

intra-individual.

Page 43: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

23

5. Resultados

A Tabela 3 apresenta a estatística descritiva das variáveis idade, estatura, massa

corporal, IMC, AF, coordenação motora, habilidades de controlo de objetos e

habilidades de locomoção, ao longo dos momentos de observação, para os rapazes e

raparigas. A percentagem de raparigas que constituiu a amostra ao longo dos anos

variou entre 46,0% a 53,0%. As variáveis morfológicas como a estatura, massa corporal

e IMC apresentaram um aumento progressivo ao longo do tempo tanto nos rapazes

como nas raparigas, à exceção do IMC dos rapazes na 3ª observação que diminuiu

comparativamente à observação anterior. O nível de AF das raparigas e dos rapazes

apresentou uma diminuição no decorrer das observações, à exceção da 3ª observação

que aumentou em relação à 2ª observação. Os níveis de coordenação motora das

raparigas aumentou da baseline para a 2ª observação e depois diminuiu

progressivamente até à última observação, enquanto que os níveis da coordenação

motora dos rapazes aumentou da baseline até à 3ª observação e diminuiu na última

observação. Existiu um aumento da proficiência das habilidades de controlo de objetos

e habilidades locomotoras da baseline até à 3ª observação e uma diminuição na última

observação, para ambos os sexos.

A Figura 2 apresenta a variação da percentagem de rapazes e raparigas que cumpriram

as recomendações mínimas do número de passos diários, registada ao longo das

observações. Estes resultados indicam que a percentagem de raparigas que cumpria as

recomendações é inferior à dos rapazes ao longo dos anos, à exceção da 1ª observação,

em que a percentagem de raparigas que cumpriu as recomendações foi de 51,5% e dos

rapazes foi de 50,0%. Existiu uma diminuição progressiva no cumprimento das

recomendações para ambos os sexos ao longo do tempo, à exceção da 3ª observação

onde se registou um aumento na percentagem de crianças que cumpriram as

recomendações de passos diários. Na última observação, 91,1% das raparigas e 67,4%

dos rapazes realizaram menos de 12000 passos por dia, o que revela um decréscimo

mais acentuado do cumprimento das recomendações ao longo do tempo por parte das

raparigas em comparação com os rapazes.

Page 44: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

24

Tabela 3. Média e desvio padrão nas diferentes variáveis medidas.

Observações

1 – 2009 (baseline)

2 – 2010

3 – 2011

4 – 2012

Raparigas (n=47)

Rapazes (n=51)

Raparigas (n=29)

Rapazes (n=34)

Raparigas (n=35)

Rapazes (n=31)

Raparigas (n=45)

Rapazes (n=44)

Idade (anos)

7,5 (0,7)

7,7 (0,9)

8,4 (0,7)

8,9 (0,8)

9,2 (0,6)

9,2 (0,7)

10,1 (0,7)

10,3 (0,8)

Estatura (cm) 124,0 (6,3) 126,1 (8,6) 129,9 (6,8) 133,6 (10,4) 135,1 (5,7) 136,5 (7,0) 140,3 (7,0) 142,7 (8,8)

MC (kg) 27,6 (6,2) 29,3 (7,2) 31,4 (7,2) 34,7 (8,4) 34,5 (7,2) 35,0 (9,2) 37,9 (8,7) 40,2 (10,4)

IMC (kg/m2) 17,8 (2,7) 18,2 (2,6) 18,4 (2,8) 19,3 (2,9) 18,7 (3,0) 18,6 (3,3) 19,1 (3,4) 19,5 (3,2)

AF (passos/dia) 12323,4 (3863,2) 13565,5 (11685,6) 10461,7 (3247,0) 11720,5 (6554,5) 10815,2 (3658,5) 12330,4 (3498,2) 9278,5 (2528,7) 10511,5 (3635,9)

CDM (KTKQM) 69,6 (11,2) 73,9 (14,1) 86,6 (13,6) 81,5 (16,0) 80,9 (14,3) 87,4 (13,3) 78,4 (13,0) 82,9 (16,7)

HCO (pontos) 26,3 (7,3) 32,0 (6,7) 34,7 (5,8) 38,5 (5,5) 36,7 (5,2) 40,2 (5,1) 27,5 (5,7) 34,8 (5,6)

HL (pontos) 33,5 (7,2) 35,1 (5,7) 39,6 (6,6) 40,3 (6,3) 42,4 (4,0) 40,5 (5,7) 33,3 (4,4) 32,4 (4,8)

MC – massa corporal; IMC – índice de massa corporal; AF – atividade física; CDM – coordenação motora; HCO – habilidades de controlo de objetos; HL – habilidades de locomoção;

Page 45: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

25

Figura 2. Percentagem de raparigas e rapazes que cumpriram as recomendações mínimas do número de

passos diários, registada ao longo das observações. As recomendações mínimas do número de passos

diários estão associadas à prática de 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa em crianças e

adolescentes (33).

A modelação hierárquica para a determinação dos preditores da AF resultou em 5

modelos (Tabela 2). Os resultados do primeiro modelo indicaram que a AF variou de

forma significativa ao longo do tempo desde a baseline. O segundo modelo indicou

diferenças significativas da AF entre rapazes e raparigas na baseline. A interação entre o

sexo e o tempo analisada no terceiro modelo, não apresentou diferenças significativas

na velocidade de mudança ao longo do tempo entre sexos. Este resultado mostrou que a

magnitude das diferenças encontradas no segundo modelo (diferenças entre rapazes e

raparigas), manteve-se ao longo das observações. No quarto modelo foram testados os

preditores do nível de AF, em que apenas as habilidades de locomoção apresentaram um

efeito significativo na mudança da AF ao longo do tempo. No quinto modelo foi testado

o efeito aleatório na mudança da AF ao longo do tempo. Os resultados indicaram que

cada criança possuiu uma mudança própria. A Tabela 4 apresenta os principais

resultados deste modelo final.

Os resultados do quinto modelo indicam que o valor estimado para a AF das raparigas

na baseline foi de 11950,8 passos por dia. Os resultados também demonstram que o

número de passos por dia reduz de forma significativa entre os momentos de

observação, expressando-se num decréscimo de 814,1 passos por dia entre cada ano. O

efeito do sexo foi significativo, os rapazes realizaram mais 1359,7 passos por dia do que

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1 2 3 4 1 2 3 4

48,5

78,6 75,8 91,1

51,5

21,4 24,2

8,9

50,0

64,7

45,2

67,4

50,0

35,3

54,8

32,6

% d

e c

ria

nça

s

Observações

Nível de atividade física dentro

das recomendações (≥ 12000

passos/dia)

Nível de atividade física abaixo

das recomendações (˂ 12000

passos/dia)

Rapazes Raparigas

Page 46: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

26

as raparigas, no primeiro ano de observação. As habilidades de locomoção tiveram um

efeito significativo na AF, estimando-se um aumento de 96,7 passos por dia, por cada

acréscimo de uma unidade na variação do resultado bruto das habilidades locomotoras

entre cada ano de observação. O último modelo apresenta ainda uma variância residual

de 21895730,1 passos por dia, o que significa que há mais variáveis referentes ao nível

1 que poderiam ajudar a explicar a restante variância residual, mas não foram

considerados neste estudo. Também existiu uma variabilidade significativa na baseline,

que representa as diferenças da AF entre crianças na baseline. Registou-se uma

significativa variabilidade na velocidade de mudança da AF ao longo do tempo,

indicando que existiram diferenças na velocidade de mudança entre as crianças.

Tabela 4. Resultados da modelação hierárquica da atividade física, presentes no modelo final.

Efeitos fixos

Coeficiente (Erro-padrão)

(IC 95%)

Baseline

11950,8 (689,0) 10600,4 ― 13301,2

Efeito do tempo -814,1 (314,3) -1430,1 ― -198,0

Efeito do sexo 1359,7 (500,0) 379,7 ― 2339,8

Efeito das HL 96,7 (41,6) 15,1 ― 178,2

Efeitos aleatórios

Variância Valor χ2 p

Variância na baseline

23924231,9 186,0 <0,001

Variância nas velocidades 4084341,9 134,4 0,004

Variância residual 21895730,1

IC – intervalo de confiança; HL – habilidades de locomoção

Page 47: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

27

6. Discussão

Entre os estudos que analisaram a influência da competência motora nos níveis de AF,

este foi o primeiro estudo longitudinal que avaliou a AF através de instrumentos

objetivos (pedometria) e analisou em simultâneo o efeito da coordenação motora e das

habilidades motoras como preditores dos níveis de AF em crianças. O principal

resultado do presente estudo foi que dos três aspetos avaliados da, apenas a proficiência

das habilidades de locomoção foi preditora dos níveis de AF das crianças ao longo de 4

anos. Os níveis de coordenação motora e da proficiência das habilidades de controlo de

objetos não foram preditores significativos dos níveis de AF das crianças.

O efeito da CM pode ser analisado segundo três aspetos que a constituem, ou seja, a

partir dos níveis da coordenação motora, da proficiência das habilidades de locomoção e

da proficiência das habilidades de controlo de objetos, de forma a perceber qual a

importância de cada um destes aspetos nos níveis de AF das crianças. No que concerne

à coordenação motora, os resultados do presente estudo indicam que os níveis de

coordenação motora não são preditores significativos dos níveis de AF das crianças, o

que de uma forma geral vai contra o proposto pela literatura (43, 47, 48, 69, 82, 83).

Wrotniak et al. (69) analisou esta relação numa amostra de 65 crianças com idades

compreendidas entre os 8 e os 10 anos e concluiu que o nível de coordenação motora

das crianças estava significativamente correlacionado com a AF total (r=0,32), com a

percentagem de tempo despendida na AF moderada (AFM) (r=0,33), com a AFMV

(r=0,30) e negativamente correlacionado com a AF sedentária (r=-0,31). Nesta

investigação através da regressão linear múltipla e depois de ajustados os fatores que

podem influenciar a AF, concluiu-se que os níveis de coordenação motora explicam

8,7% da variância da AF. Wrotniak et al. (69) também avaliou a CMP e a predileção

pela AF e concluiu que existe uma correlação significativa entre a coordenação motora

e a CMP (r=0,39) e entre a coordenação motora e a predileção pela AF (r=0,40).

Recentemente a investigação de Lopes et al. (43) veio dar um contributo importante

para o esclarecimento da relevância que deve ser dada à coordenação motora, como

fator essencial na promoção da AF nas crianças. Trata-se de um estudo longitudinal que

teve como objetivo avaliar a relação da coordenação motora, APF e AF, numa amostra

Page 48: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

28

inicial de 285 crianças açorianas com 6 anos de idade, que foram seguidas ao longo de

quatro anos consecutivos. Os resultados indicaram que os níveis de coordenação motora

são preditores significativos da AF em crianças com idades entre os 6 e os 10 anos. Da

bateria de testes da APF, apenas a aptidão aeróbia (prova de corrida/marcha da milha)

apresentou uma associação significativa ao longo dos anos e foi considerada uma

variável preditora dos níveis de AF.

Estas duas investigações (43, 69) apresentaram um ponto fraco comparativamente à

nossa investigação, que é a avaliação da AF realizada através de métodos subjetivos

(questionário). O presente estudo longitudinal utilizou uma amostra com características

similares à da investigação de Lopes et al. (43), que também avaliou a coordenação

motora através do KTK, apenas divergindo no instrumento de avaliação da AF. Desta

forma pode-se questionar se o tipo de instrumento utilizado para a avaliação da AF

(objetivo/subjetivo) pode ter contribuído para as diferenças nos resultados entre o

presente estudo e os estudos de Wrotniak et al. (69) e Lopes et al. (43). No entanto, este

não parece ser um argumento suficientemente forte para explicar as diferenças dos

resultados, uma vez que existem outros estudos que avaliaram a AF através de

instrumentos objetivos e concluíram que existe uma associação significativa entre a

coordenação motora e a AF (47, 83).

Um destes estudos foi realizado por D’Hondt et al. (47), que analisou 117 crianças com

uma idade média de 8,5 anos, de modo a investigar se o equilíbrio estático e dinâmico

estava associado com diferentes níveis de intensidade de AF (acelerómetro). Os

resultados deste estudo mostraram que apenas a AFMV estava significativamente

correlacionado com o equilíbrio estático e dinâmico, indicando que uma criança com

elevados níveis de equilíbrio estático e dinâmico tende a apresentar maior nível de

AFMV em relação a uma criança com baixos níveis de equilíbrio estático e dinâmico. O

facto de D’Hondt et al. (47) só ter analisado diferentes níveis de intensidade de AF, não

permite perceber se esta associação também ocorre na AF total, de forma a poder

comparar com os resultados da nossa investigação.

Morrison et al. (83) já analisou a AF total (acelerómetro) numa amostra de 498 crianças

com idades entre os 6 e os 8 anos, e relacionou-a com os níveis de coordenação motora

(KTK). Mais uma vez, os resultados indicaram que existe uma correlação significativa

Page 49: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

29

entre os níveis de coordenação motora e a AF total, tanto para rapazes (r=0,21) como

para raparigas (r=0,14), depois de ajustados os fatores que podem influenciar a AF.

Desta forma, os resultados do presente estudo, um pouco inexplicavelmente vão contra

os resultados obtidos em outras investigações, tanto nos estudos que avaliaram a AF

com instrumentos subjetivos como nos estudos que avaliaram com instrumentos

objetivos, que de uma forma geral encontraram uma associação significativa entre os

níveis de coordenação motora e a AF. No nosso estudo, não são os níveis de

coordenação motora o aspeto mais importante na determinação da AF, mas sim a

proficiência das habilidades motoras, mais concretamente a proficiência das habilidades

de locomoção.

A proficiência da execução de habilidades locomotoras como a corrida, galope,

deslocamento lateral, salto ao pé-coxinho, pulo/salto e o salto horizontal, são

determinantes para os níveis de AF das crianças. Estes resultados estão em consonância

com os poucos estudos que investigaram a associação entre a proficiência das

habilidades de locomoção e a AF, pois todos eles apresentaram uma associação

significativa entre estas duas variáveis (84-87). Os nossos resultados também indicaram

que a proficiência em habilidades de controlo de objetos não é preditora dos níveis de

AF. Os estudos existentes que analisaram esta associação ainda não permitem esclarecer

claramente qual o grau de importância da proficiência das habilidades de controlo de

objetos na AF das crianças (85-87).

Hamstra-Wright et al. (84) foi um dos investigadores que analisou a relação da

proficiência em habilidades de locomoção (TGMD-2) e os níveis de AF organizada e

não organizada (questionário), utilizando uma amostra de 36 crianças, em que os

rapazes apresentavam uma média de idades de 8,9 anos e as raparigas de 9,4 anos. Os

resultados indicaram que a proficiência em habilidades de locomoção apenas se

correlacionou de forma significativa com a AF não organizada (r=0,36). Este estudo

apoia os resultados da nossa investigação na medida em que apresenta uma relação

significativa entre a proficiência das habilidades de locomoção na AF. Outro aspeto

importante que se destaca no estudo de Hamstra-Wright et al. (84) é a possível

existência de diferenças no efeito da proficiência das habilidades de locomoção na AF

organizada e AF não organizada, o que suscita uma nova questão que deve ser abordada

em futuras investigações.

Page 50: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

30

Uma possível explicação para a existência de diferenças na associação da proficiência

das habilidades locomotoras entre AF organizada e não organizada pode residir nos

motivos para a prática de AF e a própria proficiência motora que a criança possua.

Nestas idades muitas das crianças estão envolvidas em AF organizada, devido à sua

inclusão em equipas de determinada modalidade, não por apresentarem elevada

proficiência motora, mas antes porque os pais querem inscrever os filhos em atividades

desportivas ou porque a própria criança quer praticar as mesmas atividades que os

amigos (11, 88). Assim, pode acontecer que crianças com elevada ou reduzida

proficiência motora apresentem níveis de AF organizada similares, uma vez que os

técnicos desportivos que dirigem estas equipas têm em consideração as idades das

crianças, e procuram que todas elas participem, com o objetivo destas desenvolverem as

suas capacidades motoras e para que se sintam motivadas. O mesmo já não acontece na

AF não organizada, uma vez que nas brincadeiras entre crianças, a proficiência motora

pode ser decisiva para a prática de AF. É expectável que uma criança que queira jogar a

“saltar à corda” desista de o fazer, se estiver num nível abaixo da proficiência motora

em comparação com os seus colegas, uma vez que tenderá a perder mais vezes ou ser o

menos capaz do grupo e por isso fica desmotivado e deixa de participar nas atividades

de grupo (89).

Houwen et al. (85) para além de outras questões, também investigou a relação das

habilidades de locomoção e controlo de objetos (TGMD-2) com a AF total e de várias

intensidades (acelerómetro), analisando 48 crianças com 6 a 12 anos de idade. Os

resultados deste estudo indicaram que a proficiência das habilidades de locomoção está

significativamente correlacionada com a AF total (r=0,31) e com a percentagem de

tempo despendido na AFMV (r=0,38), enquanto que a proficiência das habilidades de

controlo de objetos estava inversamente correlacionada com a percentagem de tempo

despendida na AF sedentária (r=-0,31). Os resultados deste estudo vêm assim apoiar os

resultados do nosso estudo, uma vez que a proficiência das habilidades de locomoção

parece ter um papel de maior relevo nos níveis de AF das crianças, em relação à

proficiência das habilidades de controlo de objetos.

Hume et al. (86) também investigou esta questão numa amostra de 248 crianças com 9 a

12 anos de idade, mas analisou o efeito da proficiência das habilidades motoras na AF

Page 51: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

31

(acelerómetro) em rapazes e raparigas separadamente. Os resultados indicaram que a

proficiência das habilidades de controlo de objetos dos rapazes estava

significativamente correlacionada com a AFM (r=0,24) e com a AFMV (r=0,24),

enquanto que as raparigas não apresentaram nenhuma correlação significativa. Os

resultados demonstraram ainda que a proficiência das habilidades de locomoção dos

rapazes estava significativamente correlacionada com a AFV (r=0,22), tal como a das

raparigas na AFV (r=0,29). Os resultados deste estudo sugerem que o nível de AF das

raparigas apenas é influenciado pela proficiência das habilidades de locomoção,

enquanto que os níveis de AF dos rapazes são influenciados tanto pela proficiência das

habilidades de locomoção como pelas habilidades de controlo de objetos. No entanto,

este estudo apresenta uma forte limitação no instrumento utilizado para avaliar a

proficiência das habilidades motoras, o que pode pôr em causa todos os resultados

apresentados. O facto de só terem sido avaliadas duas habilidades de locomoção e três

habilidades de controlo de objetos, pode ser escasso para uma representação adequada

da proficiência das habilidades de locomoção e de controlo de objetos

Embora os resultados de Hume et al. (86) possam ser postos em causa, estes alertam

para a possível existência de diferentes fatores que determinam a AF entre rapazes e

raparigas. Efetivamente, vários estudos têm vindo a demonstrar diferenças na

proficiência das habilidades motoras entre rapazes e raparigas, em que de uma forma

geral os rapazes têm uma maior proficiência nas habilidades de controlo de objetos

comparativamente às raparigas (63, 90-92), enquanto que as raparigas apresentam uma

maior proficiência das habilidades locomotoras em relação aos rapazes (63, 90, 91).

Estas diferenças podem resultar num efeito distinto da proficiência das habilidades

motoras de controlo de objetos e da proficiência das habilidades locomotoras nos níveis

de AF entre rapazes e raparigas.

Mesmo que os fatores que compõem a CM, que influenciam a AF dos rapazes e das

raparigas, tenham forças diferentes, parece existir um elemento comum entre as três

investigações referidas anteriormente, que é a correlação significativa entre a

proficiência das habilidades de locomoção e a AF, quer quando se analisa rapazes e

raparigas separadamente ou em conjunto, o que já não acontece com as habilidades de

proficiência das habilidades de controlo de objetos. Esta situação também pode ser

encarada como parte da explicação para os resultados obtidos na nossa investigação,

Page 52: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

32

uma vez que no nosso estudo apenas a proficiência das habilidades de locomoção foi

preditora significativa dos níveis de AF. Provavelmente no nosso estudo só não se

registou que a proficiência das habilidades de controlo de objetos era preditora dos

níveis de AF, porque na nossa análise foram englobadas crianças de ambos os sexos,

permitindo que a possível falta desta relação nas raparigas impedisse a predição da AF

de toda a amostra.

Morgan et al. (87) também analisou a relação entre a proficiência das habilidades

motoras (TGMD-2) e a AF (acelerómetro) em rapazes e raparigas separadamente,

utilizando uma amostra de 137 crianças obesas com idades entre os 5 e os 9 anos. Os

resultados deste estudo indicaram que a proficiência das habilidades de controlo de

objetos dos rapazes estava significativamente correlacionada com a AF total (r=0,50), a

AFM (r=0,53) e a AFV (r=0,50), enquanto que a das raparigas apenas estava

significativamente correlacionada com a AFV (r=0,24). Já a proficiência das

habilidades de locomoção dos rapazes estava significativamente correlacionada com a

AF total (r=0,24), a AFM (r=0,28) e a AFV (r=0,31), enquanto que a das raparigas

apenas estava significativamente correlacionada com a AFM (r=0,38). Neste estudo

observou-se que tanto as habilidades de locomoção como as habilidades de controlo de

objetos nas raparigas estão associadas com a AF, o que entra em contradição com os

resultados apresentados no estudo de Hume et al. (86). Pode-se destacar ainda, que nos

rapazes a proficiência das habilidades de controlo de objetos apresenta uma relação

claramente mais forte com a AF em relação às habilidades locomotoras. Esta situação

pode ter ocorrido devido à amostra ser constituída apenas por crianças obesas, o que

pode indiciar que os fatores da CM que influenciam a AF das crianças podem ser

diferentes entre crianças normoponderais e crianças obesas. É conhecido que crianças

obesas tendencialmente apresentam alterações nos padrões de movimentos locomotores,

o que pode prejudicar a execução das habilidades locomotoras. Esta situação pode levar

a que muitas destas crianças obesas apenas pratiquem AF, em atividades que requerem

principalmente habilidades de controlo de objetos, justificando assim a maior

importância da proficiência destas habilidades nos níveis de AF destas.

Outro estudo longitudinal que avaliou o efeito da proficiência das habilidades motoras

nos níveis de AF foi desenvolvido por McKenzie et al. (90). Este autor avaliou a

proficiência das habilidades motoras (salto lateral, agarrar uma bola e equilíbrio com

Page 53: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

33

um pé) em crianças com 4, 5 e 6 anos e investigou se esta variável era preditora da AF

destas mesmas crianças aos 12 anos. Os resultados indicaram que a proficiência das

habilidades motoras das crianças entre os 4 e os 6 anos não foi preditora da AF aos 12

anos. Estas conclusões podem ser postas em causa, uma vez que esta investigação

apresenta algumas limitações, o que pode resultar no enviesamento dos resultados. Uma

destas limitações pode ser o facto de ser apenas avaliadas 3 habilidades motoras, como

também a avaliação da AF feita através de auto-reportagem em crianças muito jovens,

dado ao risco de viés de memória. Outra limitação pode estar relacionada com a

incapacidade de execução das habilidades por parte das crianças, devido à fase de

desenvolvimento em que se encontravam e à falta de experiências que permitissem a

estas crianças adquirir estas habilidades, que frequentemente ocorre com a entrada na

escola e a frequência de aulas de educação física.

Barnett et al. (44) também teve como objetivo avaliar se a proficiência das habilidades

motoras em crianças era preditora da AF das mesmas na adolescência. Inicialmente foi

avaliada a proficiência das habilidades motoras em crianças com uma idade média de 10

anos e depois voltou a avaliar a AF destas mesmas crianças após 6 anos. Os resultados

indicaram que a proficiência das habilidades de controlo de objetos em crianças é um

preditor da AFMV em adolescentes. Embora a proficiência das habilidades motoras em

crianças continue associada com a AF na adolescência (93), esta é exercida

fundamentalmente pelas habilidades de controlo de objetos em vez das habilidades de

locomoção.

Os resultados do nosso estudo e da investigação de Barnett et al. (44) evidenciam que a

AF das crianças e adolescentes pode ser predita pela proficiência das habilidades

motoras enquanto crianças. Mais especificamente, a AF das crianças é predita pela

proficiência das habilidades locomotoras e a AF dos adolescentes é predita pela

proficiência das habilidades de controlo de objetos dos mesmos aquando crianças. As

diferenças entre o efeito das habilidades locomotoras e as habilidades de controlo de

objetos na AF em crianças e adolescentes podem ser explicadas em parte pelo tipo de

AF que estas desenvolvem nas escolas. Estas atividades desportivas desenvolvidas pelas

crianças nas escolas, como correr, saltar à corda ou jogar futebol, provavelmente tem

como fator determinante para o seu sucesso, a proficiência das habilidades locomotoras.

Por exemplo, se analisarmos o jogo da “macaca” tipicamente desenvolvido pelas

Page 54: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

34

crianças, é expectável que uma criança com elevada proficiência do salto ao pé-coxinho,

consiga ter mais sucesso ao desenvolver esta atividade, e com isso retire maior prazer da

prática desta atividade em comparação com outra criança com baixa proficiência nesta

habilidade locomotora. Por sua vez, as atividades desportivas que os adolescentes

normalmente realizam podem ter como principal fator de sucesso a proficiência das

habilidades de controlo de objetos, dado que começam a ser ministradas nas escolas

modalidades como voleibol, andebol ou basquetebol, que requerem maior competência

na manipulação de objetos. Por exemplo, a capacidade de executar um passe ou remate

com qualidade no voleibol, pode ser mais importante para o rendimento individual e de

equipa, em comparação por exemplo com a correta execução do salto vertical. Também

se prevê que seja mais fácil para os pares, detetar os erros na execução de habilidades de

controlo de objetos do que os erros nas habilidades locomotoras, o que pode

desencadear uma situação de inclusão/exclusão nas atividade desportivas desenvolvidas

em grupo, mediante a proficiência das habilidades de controlo de objetos que a criança

possua (63).

Este conjunto de informações vem assim comprovar a importância da CM, como

instrumento fundamental para a promoção da AF em crianças/adolescentes, tal como é

defendido no modelo de Stodden et al. (42). Este modelo representa um ciclo, que pode

seguir dois caminhos, o da espiral positiva ou o da espiral negativa. Atualmente muitas

das crianças estão provavelmente predispostas para terem uma espiral negativa, devido

à alarmante prevalência da obesidade nesta faixa etária (94). Esta predisposição deve-se

ao efeito negativo do elevado IMC sobre a CM, uma vez que uma criança com

sobrepeso/obesidade tem uma distribuição corporal alterada, o que afeta o equilíbrio

estático e dinâmico da criança, que são aspetos determinantes da CM (47).

Estes dados expõem a interdependência existente entre a CM, a AF e a composição

corporal, proposta no modelo de Stodden et al. (42). Uma criança com baixa CM, ao

brincar a saltar ao pé-coxinho com os colegas, provavelmente vai exibir uma baixa

performance (55), sendo incapaz de estar ao nível que desejaria. Esta baixa performance

deve-se, em boa parte, à baixa CM e à consequente baixa APF (59-61). A criança ao

perceber que não é capaz de executar os movimentos mais básicos, que as crianças ao

seu redor esperam que ela seja capaz de realizar, toma uma atitude de afastamento das

brincadeiras com os colegas, tornando-a mais inativa (89). Em consequência o seu IMC

Page 55: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

35

tenderá a aumentar, o que vai dificultar mais a execução dos movimentos corretamente

(54, 55). Recentemente surgiram dados que associam a coordenação motora com a AF,

independentemente da quantidade de gordura que uma criança tenha (83). Por outras

palavras, uma criança com elevada coordenação motora tenderá a ser fisicamente ativa

independentemente da sua adiposidade. Esta situação vem reforçar ainda mais o papel

de destaque que deve ser dado à CM, como fator determinante na influência que exerce

na AF e consequentemente na composição corporal.

A descoberta dos fatores que determinam a AF nunca foi tão necessária como nos dias

de hoje, onde se observa uma dramática alteração no estilo de vida das crianças, que em

consequência tem afetado os níveis de AF (11). Segundo os resultados da modelação

hierárquica do presente estudo estima-se que as raparigas apresentaram níveis de AF

significativamente mais baixos comparados com os dos rapazes, e ambos diminuíram

significativamente os seus níveis de AF com o aumento da idade. Os resultados também

indicaram que não existe uma interação significativa entre o sexo e o tempo,

demonstrando que a magnitude da diminuição dos níveis de AF entre rapazes e

raparigas era idêntica ao longo do tempo. Embora na literatura existam alguns estudos

que demonstrem que com o aumento da idade as raparigas diminuem de forma mais

acentuada os seus níveis de AF do que os rapazes (38), é consensual que a magnitude do

decréscimo da AF entre rapazes e raparigas seja semelhante até à adolescência, onde se

passa a registar uma maior diminuição dos níveis de AF das raparigas em relação aos

rapazes (38, 95). A ausência de diferenças significativas na magnitude da diminuição

dos níveis de AF ao longo do tempo entre os rapazes e raparigas do nosso estudo,

impossibilitou investigar, de forma individualizada, o efeito da proficiência motora nos

níveis de AF nos diferentes sexos.

Ao comparar a média de passos diários dos rapazes e das raparigas ao longo dos anos

do presente estudo, com os valores normativos da média de passos diários das crianças a

nível internacional, verifica-se que o nível de AF em ambos os sexos apenas esteve

dentro dos valores normativos no início do estudo, ficando nos anos seguintes sempre

abaixo da média internacional (36). Os nossos resultados são ainda mais preocupantes,

tendo em conta as recomendações mínimas do número de passos diários para as

crianças (33), uma vez que uma grande percentagem de crianças não cumpre estas

Page 56: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

36

recomendações, e esta situação tende a piorar com o aumento da idade das crianças, em

especial nas raparigas.

Estes níveis de AF são indicadores preocupantes, que alertam para os perigos de saúde

que as crianças do concelho de Bragança estão a incorrer (21, 22). Os baixos níveis de

AF nas crianças podem contribuir para um aumento excessivo de massa gorda (96), que

por si só está associado a problemas cardiovasculares, endócrinos, gastrointestinais,

neurológicos, psicossociais, pulmonares e renais (19). Este estilo de vida das crianças,

marcado pela inatividade, não acarreta problemas apenas a curto prazo, mas também a

médio e a longo prazo, uma vez que os níveis de AF na juventude tendem a permanecer

ao longo da vida (12) e consequentemente as populações adultas vão sofrer os efeitos

dos comportamentos inadequados realizados no passado (13).

O presente estudo apresenta algumas limitações, sendo uma delas a utilização de uma

coorte de crianças com idades diferentes. Esta situação pode levar à existência de

diferentes níveis de desenvolvimento motor entre crianças, embora esta situação seja

pouco provável, devido ao pequeno intervalo de idades existente entre elas (40).

Também se supõe que a fase de desenvolvimento destas crianças se tenha mantido

semelhante ao longo de todo estudo, uma vez que seja expectável que nenhuma delas

tenha atingido a puberdade (38). A incapacidade de transmissão da informação relativa

à qualidade e riqueza dos estímulos da AF por parte do pedómetro, também pode ser

encarada como outra limitação, embora a obtenção deste tipo de informação não fosse

indispensável para o objetivo do presente estudo.

Page 57: Associação da competência motora com a atividade física. Estudo ...

37

7. Conclusões

Em síntese, verifica-se que as habilidades motoras, mais concretamente a proficiência

em habilidades de locomoção é um preditor significativo dos níveis de AF das crianças

ao longo de 4 anos. Estes dados indicam que a proficiência na execução de habilidades

locomotoras como a corrida, galope, deslocamento lateral, salto ao pé-coxinho,

pulo/salto e o salto horizontal, são determinantes para os níveis de AF das crianças. Os

níveis de coordenação motora e a proficiência em habilidades de controlo de objetos

não são preditores significativos dos níveis de AF das crianças ao longo de 4 anos.

7.1 Implicações práticas

A importância das habilidades locomotoras nos níveis de AF das crianças pode dever-se

ao tipo de atividades desportivas que as crianças desenvolvem nas escolas, que

provavelmente tem como fator determinante para o seu sucesso a proficiência das

habilidades locomotoras. Deste modo, os programas escolares devem garantir o

desenvolvimento da proficiência das habilidades de locomoção, através da

implementação de projetos ministrados por professores de educação física/técnicos

desportivos, o que contribuirá para a promoção da AF ao longo da infância.

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