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Associação de imprensa estrangeira quer sair da...
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Associação de imprensa estrangeiraquer sair da sombraNo trigésimo aniversário da Associação de Imprensa Estrangeira, os correspondentes querem algomais do que apenas assinalar a efeméride. Dar novo fôlego e tornar a AIEP mais interventiva nasociedade portuguesa é o objectivo dos jornalistas estrangeiros em Portugal.
“GOSTARÍAMOS de ser mais visíveis, teruma voz mais activa e dar maiorcontributo à sociedade portuguesa.” Éum desejo formulado por Belén Rodrigo,presidente da Associação de ImprensaEstrangeira em Portugal (AIEP).
“Quando começou, a AIEP tinha umpeso, nomeadamente em conseguirchegar junto das esferas do poder, que foiperdendo ao longo dos anos. Este ano,por exemplo, quando foi a entrega do
prémio personalidade do ano a VanessaFernandes não estava representadoninguém do governo.” No entanto, Belénrecorda sinais animadores: “temos umprograma na Rádio Renascença epublicamos ao sábado uma coluna noDiário de Noticias, a ‘Visto de cá’.”
Espanhola, correspondente do diárioABC, Belén Rodrigo partilha a idade coma associação: 30 anos. A nacionalidade ejuventude reflectem também tendências
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actuais da comunidade, que conta hojecom um numeroso grupo entre os 28 e os35 anos, na sua maioria espanhóis. O paísvizinho é aliás, aquele com maiorexpressão.
É comum haver clubes ou associaçõesde correspondentes estrangeiros emcidades onde existem um númerominimamente considerável decorrespondentes. Portugal não foge àregra e a maioria dos correspondentesagrupa-se em torno da AIEP.Actualmente com 58 membros, aorganização tem ao longo dos anosajudado a criar a ideia de comunidade.
1976, O VERDADEIRO ANO ZEROOs 30 anos que agora se comemoram sãoa idade oficial da associação. A primeiraassembleia dos 33 sócios fundadores foiem Abril de 78, mas desde 1976 que um
grupo de correspondentes trabalhava emreuniões informais. Um grupo formadopor Martha de la Cal, Peter Collis, MárioDujisin e Diana Smith, que se reuniamnos escritórios da Interpress Service,onde trabalhava Mário Dujisin.
Este correspondente chileno, que hojetrabalha para Ansa, recorda em tonsmuito vivos esse “período informal” daassociação, contagiado ainda peladinâmica do PREC português. “Nãoesperámos ser legais para organizar umasérie de encontros com o entãopresidente da república general RamalhoEanes, com o primeiro ministro MárioSoares, com os conselheiros da revolução,Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Freitas doAmaral e com figuras de relevointernacional que visitavam Portugal.”Variedade de actividades que se devemtambém, segundo o correspondente, “à
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Os correspondentes
estrangeiros, unidos na sua
associação, pretendem
dinamizar a sua actividade
em Portugal. A comemoração
dos 30 anos foi um começo.
Na mesa da sessão solene
realizada estavam, como
convidados, Mário Soares e
Mário Mesquita
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grande abertura nessa altura da classedirigente politica e militar, empresarial esindical.”
Abertura que contrasta com o actualpanorama. Uma das queixas maisfrequentes entre os correspondentes é adificuldade de acesso às fontes deinformação, agravada pelo facto de osjornalista estrangeiros normalmentetrabalharem sozinhos. “Os nossos colegasda actual direcção enfrentam problemasde uma classe dirigente blindada porassessores de imprensa muito fechados”,afirma Mário Dujisin, que lamenta ageneralizada falta de reconhecimento dotrabalho dos correspondentes “para dar aconhecer Portugal no resto do mundo.”
Para Belén Rodrigo oscorrespondentes são uma espécie deembaixadores: “sinto que também estoua representar o meu país. E é num duplosentido, já que é evidente que quandovou a Espanha sinto que posso fazermuito por Portugal, para que se tornemais conhecido. Temos poder paratransmitir outras informações que vãoalém das mais comuns.”
A associação de imprensa estrangeiranão tem uma sede, reunindo eminstalações do Palácio Foz, espaço dereferência da comunidade, pois étambém aqui que funciona desde Abrilde 74 a sala de imprensa estrangeira.
Um dos momentos altos destaorganização é a cerimónia de entrega doprémio Personalidade do Ano, votada eatribuída pelos correspondentes a umapersonalidade portuguesa de destaque,desde 1990. Carlos Paredes foi o primeirodistinguido. Depois do mestre daguitarra foram também galardoadosnomes como Pinto Balsemão, Joaquim deAlmeida, Fernanda Ribeiro, Luis Figo ouSiza Vieira.
Desde o período revolucionário,caracterizado por um pico de afluênciados jornalistas estrangeiros, e durante astrês décadas seguintes a comunidade foisofrendo reconfigurações. A partir definais de 1975/76 o seu número foibaixando gradualmente e maisdrasticamente a partir dos anos 80. Hojeuma das caracteristicas da comunidade éa predominância de free-lancers, quevêm para Portugal, muitas vezes poropção, e trabalham para diferentesórgãos de informação. Mudanças que sedevem a factores internos - a evolução dasociedade portuguesa e sua normalizaçãodemocrática – bem como a razões deambito mais global – a reconfiguração dacobertura noticiosa internacional e asnovas tecnologias que têm alterado odesempenho da função decorrespondente um pouco por todo omundo.
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Belén Rodrigo, presidente
da Associação de Imprensa
Estrangeira em Portugal
(AIEP) e Mário Dujisin
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Há mais de 40 anos que transportaa sociedade portuguesa para aspáginas internacionais. Martha dela Cal, correspondente da revistaTime é referência incontornávelquando se fala de correspondentesestrangeiros em Portugal. Era daspoucas que estava em Lisboa a 25de Abril de 74. Durante muitosanos, fez equipa com Peter Collis,seu marido. Peter fotografava,Martha escrevia.Do massacre de Wiriamu às“meninas de Bragança”, passandopelas gravuras de Foz Côa, o humorde Herman José ou o Euro 2004,poucos assuntos lhe escaparam.Deixou os Estados Unidos aos 19anos, viveu em Cuba e emEspanha. No final da década desessenta aportou em Portugal eabraçou o jornalismo - por acaso.Mas os acasos persistem até hoje:a morada continua portuguesa e aspropostas de artigos para Timecontinuam sem cessar.E se já desistiu de tentar falarportuguês correctamente, semmisturar espanhol e inglês, nãotem dúvidas em considerar que“this is my country”.
«Em Portugal sempre me senti em casa»Martha de la CalEntrevista
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Começou a trabalhar como correspondente
do grupo McGraw Hill World News,
quando chegou a Portugal. Como começou
essa colaboração?
Tinha feito um trabalho para eles quandovivi em Cuba. Eu não era jornalista, eraprofessora, tinha um colégio. Mas unsamigos jornalistas de outros jornaisperguntaram se eu podia escrever para aMc Graw Hill... Como Fidel Castro tinhafechado o meu colégio, então eu aceitei.
Depois de Cuba, mudou-se para
Espanha…
Sim. Mas eu não fiz nada de jornalismoem Espanha. Trabalhei somente na escolaamericana. Fundámos a escola americanade Madrid. Que ainda hoje existe.
E porque é que decidiu vir para Portugal?
Não queria estar mais em Espanha. EmCuba toda a gente bailava, eramalegres…Eu achei os espanhóis muitosérios nessa época. Vestiam-se de preto,sempre estavam na igreja. Então viemospara aqui. Eu e Peter e os meus filhos.Alugámos uma casa no Monte Estoril pordois ou três meses. E eu escrevi à McGraw Hill a perguntar se eles queriam
que escrevesse um livro sobre arevolução em Cuba. Eles responderamque já estavam a publicar um livro sobreo assunto, mas perguntaram-me se euqueria ficar como correspondente porqueo senhor que era correspondente emLisboa tinha morrido. Então comeceiassim.
Em 1972 começou a fazer reportagem
para a Time e outras publicações. Nos
anos em que trabalhou antes da revolução,
que artigos fazia?
Um artigo que fiz foi sobre o massacre deWiriamu. Entrevistei o bispo da Beiraque estava aqui vigiado pela PIDE etambém estive em contacto com unspadres belgas, creio eu, que diziam tersido testemunhas do massacre deWiriamu. Foi no ano em que MarceloCaetano foi a Inglaterra visitar a rainhade Inglaterra. E como eu tambémescrevia para o The Times, de Londres,quando chegou lá viu o meu artigo afalar do massacre de Wiriamu.
Outro dos artigos que teve repercussões
foi aquele que escreveu para a Time sobre
o livro Novas Cartas Portuguesas e o
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Durante as suas quatro
décadas em Portugal,
Martha tem trabalhado
fundamentalmente para a
‘Time’
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julgamento de Maria Velho da Costa, Maria
Isabel Barreno e Maria Teresa Horta,
conhecidas como as 3 Marias…
Sim isso foi simpático. Eu e o meumarido fomos à casa delas entrevistarcada uma e depois íamos todos os dias àBoa Hora, onde estavam a ser julgadas.Eu estava sempre com elas. Então vieramas feministas de França, da América.
E que mais temas tratou nessa altura?
O vinho do Porto ameaçado. Eu soubeque os espanhóis tinham um projecto deconstruir uma central nuclear perto dorio Douro, a seis quilómetros dafronteira com Portugal. Isso ia destruirtodo o microcosmo que era necessáriopara o vinho do Porto. Ia mudar o clima.Porque eles pretendiam refrescar asturbinas com a água do Douro. Fomosentrevistar as familias do negócio devinho do Porto, os Semington e tambémos Ferreira. Conhecemos toda a gente. Eo projecto acabou por não serconstruído.
Antes do 25 de Abril também escrevisobre Sá Carneiro e Pinto Balsemão.Porque na Time fizeram uma grandereportagem sobre jovens europeus que
iam ser grandes personalidades nofuturo. E tínhamos razão.Sentia pressões da censura? Como era
com os correspondentes estrangeiros?
Eles tinham tido problemas… porqueos Pide perseguiam-nos. Quandoíamos a qualquer sítio, como quandofui entrevistar o bispo de Moçambique,eles seguiram-nos. Mas não faziamnada a não ser observar. Eu não tiveproblemas. Mas eles tinham tudo o queescrevíamos. Porque nessa época nãohavia Palácio Foz, enviávamos ostextos por telex nos Correios. Elesguardavam cópias do quemandávamos e viam.
E nunca faziam nada por causa desses
textos?
Não, não. Recordo uma vez quando omeu marido e eu fomos à rua AntónioMaria Cardoso. Na Time queriam fazerum artigo sobre escutas telefónicas.Então fomos à sede da PIDE, tocámos àcampainha e pedi para falar com o chefe.O senhor recebeu-nos e eu perguntei:queria saber se aqui usam o sistema deescutas telefónicas. Ele respondeu: não énecessário, sabemos o que toda a gente
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está a fazer sem precisar de escutastelefónicas! (risos)
E não se sentia ameaçada? Colocar essas
questões directamente à polícia politica?
Não. Eu já tinha passado a revolução emCuba com metralhadoras, pessoas contraas paredes, fuzilamentos toda a noite…por isso não me assustava. Era horrível,os fidelistas eram horríveis.
Num livro publicado recentemente, ‘Portu-
gal Classificado’, escrito com base em
documentos da administração americana
sobre Portugal em 1974/75, conta-se que
o governo americano, influenciado pela
visão da PIDE estava longe de prever um
golpe como o 25 abril…
(Risos) Ah, eles nunca sabem nada denada. Nada! Nunca sabem o que sepassa. Mas toda a gente sabia que haviaum movimento dos capitães.
E a Martha era das poucas
correspondentes estrangeiras que estava
cá em 25 de Abril de 1974, não é?
Sim, porque estavam quase todos fora,num cruzeiro no Caribe. E depoisestiveram três dias sem poder entrarporque fecharam as fronteiras. Peter e euéramos quase os únicos. E também recordooutra coisa. (Risos) Eu envio muitíssimomaterial para a redacção central da Time.Eles tinham escritórios em Nova Iorque
com jornalistas muito bem pagos, pagos sópara escrever. Agora é para Londres, masnessa época mandava o material paraNova Iorque. Então a Time envia-me devolta o que eles escrevem para que eu façacorrecções. E a primeira coisa que memandaram naquele dia 25 de Abril dizia:“Not since Ferdinand and Elisabeth ofSpain…” Eles confundiram Espanha comPortugal!! (risos). E eu mandei de volta adizer: “Não!! Não é Espanha, estamos emPortugal!” O mundo sabia muito poucosobre Portugal.
Um contraste com o que se passou a
seguir.
Sim. Todas as semanas saía alguma coisana Time.
Quem eram as suas fontes? Portuguesas,
norte-americanas?
Não, todos portugueses. Mas naembaixada americana, Carlucci tinhamuito interesse em contactar oscorrespondentes estrangeiros. Convidavaa tomar café e tal, mas eles não sabiamnada, perguntavam-nos a nós para terinformação, era ao contrário.Estavamassustadíssimos. Mas eu nunca acrediteina história da ameaça comunista.
Mas chegou a haver uma célebre capa da
Time intitulada Red Threat in Portugal.
Sim, mas esse artigo não fui eu que
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A associação conta
actualmente com 58 sócios,
na sua maioria espanhóis
com idades entre os 28 e 35
anos
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escrevi, eu estava na Turquia.
Tem afirmado muitas vezes que aqui
sempre se sentiu em casa. O facto de
gostar tanto de Portugal, sentir este país
como seu, influenciou a cobertura
jornalística que fez? Fê-la noticiar o país
de uma forma mais positiva?
Possivelmente, possivelmente. Mas eutrato de ser objectiva. E, por exemplo,também fizemos as meninas deBragança… (risos) As pessoas semprerecordam esse artigo. Nunca falam dosartigos que salvaram Foz Côa, nem dosque fizeram parar a construção dacentral, só falam da de Bragança. Aspessoas não entenderam o artigo. Era umartigo sociológico. Era um exemplo doque se está a passar em todo o mundo.
Foi por causa da capa?
Isso foi um erro. Amanda Ripley (a outraautora do artigo) contestou e foi mesmoa Londres dizer que não era justo. Nãoera um Red Light district, era umfenómeno das casas de alterne. Nadatinha a ver com as casas de Amesterdão!
E quem decidiu a capa?
Um editor em Londres.
Continua a propor coisas à Time?
Sim. Eu quero agora estou a propor, fazeruma comparação sobre o sistema de
saúde, o facto de em Portugal se estarcoberto desde que se nasce até que semorre. Há problemas, claro, mas querocomparar o sistema português com o dosEstados Unidos onde há 50 milhões depessoas que não têm nenhum tipo deprotecção/ sistema de saúde. É uma dascoisas mais importantes que propõemBarak Obama e Hillary Clinton, por issoé a hora de fazer essa comparação, essepaís que se supõe ser o mais pobre daEuropa ocidental, comparado ao maisrico. Porque pode Portugal fazer isto e osEstados Unidos não?
E já escreveu sobre o tema?
Não, estou à espera que alguém noministério da Saúde me dê dados. Hátrês semanas que os pedi. Esse é umproblema. Chamo “fire wall” àssecretarias e assessores de imprensa: nãodeixam passar nada.
Que ideia é que actualmente as redacções
centrais da Time fazem de Portugal? Que
feed-back tem dos seus editores de lá?
Esquecem-se de Portugal. Estãopreocupados com a União Europeiacomo um todo, a China e o MédioOriente. Não se interessam porque nãoestamos a causar nenhum problema. Setivéssemos outra revolução talvez!(risos)
Ana Luísa Rodrigues
Nas fotos em cima, com
Martha e outros membros da
Associação, estão Mário
Soares, Artur Baptista, Vasco
Gonçalves, Rosa Coutinho e
Otelo Saraiva de Carvalho
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