ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE SO SUL FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PSIQUIATRIA. Dissertação de Mestrado ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR EM EUTIMIA Larriany Maria Falsin Giglio Orientador: Prof. Dr. Flávio Pereira Kapczinski Porto Alegre, julho de 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE SO SUL FACULDADE DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PSIQUIATRIA.

Dissertação de Mestrado

ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR EM

EUTIMIA

Larriany Maria Falsin Giglio Orientador: Prof. Dr. Flávio Pereira Kapczinski

Porto Alegre, julho de 2008

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Dedico este trabalho ao meu pai, que mesmo distante,

tenho certeza, continua acreditando e torcendo por mim.

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Agradecimentos Flávio Kapczinski, obrigada pela oportunidade de conviver com você, exemplo de

profissional. Obrigada principalmente por acreditar no meu trabalho.

Carlos Galia, o primeiro e grande incentivador a iniciar esse mestrado. Importante ter

alguém que acredite que somos capazes.

Ana Cristina, obrigada por acreditar que o sono dos nossos pacientes é importante,

sem isso esse sonho ainda não estaria realizado.

Júlio Walz, incansável, presente em todos os momentos desse trabalho.

A todos os colegas do Laboratório de Pesquisa Experimental, lugar que escolhi como

extensão da minha casa.

Aos pacientes do programa de Atendimento de Transtorno de Humor Bipolar do

Hospital de Clínicas, sem eles nada disso seria possível.

Agradecimento especial a Tainá, ao Luiz e ao Carlos, meu porto seguro.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................7

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................8

2.1 Transtorno de humor bipolar..............................................................................8

2.1.1 - Características clínicas .............................................................................8

2.1.2 Fisiopatologia do THB..............................................................................10

2.1.3 THB e qualidade de vida ..........................................................................13

2.2 Fisiologia do sono...........................................................................................14

2.2.1 Sono normal.............................................................................................18

2.2.2 Insônia.......................................................................................................18

2.2.2.1 Fisiopatologia da insônia ...................................................................19

2.2.2.2 Diagnóstico .........................................................................................20

2.3 Distúrbios do Sono em Psiquiatria..................................................................22

2.3.1 Transtornos do humor ...............................................................................23

2.3.2 Transtornos de ansiedade.........................................................................25

2.3.3 Transtorno do pânico ...............................................................................26

2.3.4 Transtorno de estresse pós-traumático.....................................................27

2.3.5 Esquizofrenia ............................................................................................28

2.3.6 Alcoolismo.................................................................................................29

2.3.7 Demências ................................................................................................30

2.4 Sono e THB .....................................................................................................32

3 REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................34

4 JUSTIFICATIVA .....................................................................................................55

5 OBJETIVOS ...........................................................................................................55

6 METODOLOGIA.....................................................................................................57

7 ASPECTOS ÉTICOS .............................................................................................57

8 ARTIGO..................................................................................................................59

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................69

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LISTA DE ABREVIATURAS

BDNF = fator neurotrófico derivado do cérebro (do inglês brain-derived neurotrophic

factor)

BPD = do inglês, bipolar disorder

CREB = elemento responsivo ao cAMP (do inglês cAMP response element binding)

COMT = catecol-metiltransferase

DA = dopamina

EEG = eletroencefalograma

EMO = eletromiograma

EOG = eletroculograma

GAF = do inglês, Global Assessment of Functioning, Avaliação Global da

funcionalidade

GSK-3b = glicogênio sintase cinase 3-beta (do inglês glycogen synthase kinase 3-

beta)

HAM-D = escala para avaliação de depressão de Hamilton

WHOQOL = instrumento de avaliação da qualidade de vida da organização mundial

da saúde

5-HTTR= receptor do transportador de serotonina

Li+ = lítio

MAO = mono-aminotrasferase

NREM = do inglês Non Rapid Eye Movement, não movimento rápido dos olhos

PB = paciente bipolar

QV = qualidade de vida

PET = tomografia por emissão de pósitrons

PGO = ponto-genículo-occipital

REM = do inglês, Rapid Eye Moviment, movimento rápido dos olhos

SCID = entrevista clínica estruturada para transtornos mentais

SP = sono paradoxal

TAG = transtorno de ansiedade generalizada

THB = transtorno de humor bipolar

VPT = valproato

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Resumo

Introdução: Distúrbios do sono têm sido descrito no transtorno de humor bipolar

(THB). Dentre as queixas específicas podemos incluir: os despertares freqüentes

durante a noite; pobre qualidade de sono; redução do tempo total de sono e

pesadelos. A maioria dos pacientes com THB apresentam problemas relacionados à

insônia, mas uma porcentagem significativa de pacientes apresenta sintomas de

hipersonia com aumento de horas de sono a noite e sonolência excessiva diurna.

Métodos: cento e noventa pacientes bipolares tipo I diagnosticados através de uma

entrevista clínica estruturada para transtornos mentais DSM-IV (SCID), foram

distribuídos em dois grupos baseados na presença ou ausência de distúrbios do sono

verificadas pelas questões 4, 5 e 6 da escala de avaliação para depressão de

Hamilton (HAM-D), qualidade de vida (QV), incapacidade e disfunção global foram

avaliadas usando o instrumento de avaliação da qualidade de vida da organização

mundial da saúde (WHOQOL-Brief), a escala de incapacidade (Sheehan) e a

avaliação de funcionalidade global (GAF), respectivamente. Resultados: as queixas

de sono tiveram um impacto negativo na qualidade de vida geral, observada na

diminuição dos escores da WHOQOL e da GAF e aumento nos escores da Sheehan.

Conclusão: os nossos resultados mostraram que pacientes eutímicos possuem

alterações significativas do sono e, especialmente, que estas alterações estão

fortemente associadas a uma pior qualidade de vida avaliada através da WHOQOL,

GAF e SHEEHAN, indicando a importância de manter um sono normal nos pacientes

bipolares (PB). Futuros estudos são justificáveis para pesquisar o dano do distúrbio

do sono usando escalas mais específicas.

Palavras chaves: Doença Bipolar, Sono, Qualidade de Vida, Insônia, Incapacidade,

Funcionalidade Geral

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1 INTRODUÇÃO

Pacientes com THB freqüentemente apresentam dificuldades sociais,

relações interpessoais e ocupacionais. A avaliação da qualidade de vida (QV) tem

como objetivo determinar a preferência do paciente, além de permitir comparações

entre condições diferentes e detecta diferenças sutis na resposta ao tratamento que

podem ser perdidas pelas medidas de desfecho tradicionais (Michalak et al., 2005).

Pacientes com THB mostraram pior QV principalmente nos domínios físico e

psicológico. O estudo de Gazalle et al (2007) detectou que os sintomas maníacos

estiveram associados a piores escores de QV na maioria dos domínios e que os

itens “irritabilidade” e “sono” foram os mais associados à pior QV (Gazalle et al.,

2007).

Muitos estudos mostraram que aproximadamente metade dos pacientes com

insônia crônica tem um problema de sono que surgiu devido a um transtorno

psiquiátrico. As causas psiquiátricas de insônia são encontradas: nas psicoses, nos

transtornos do humor, ansiedade, transtorno do pânico e demência. Além disso,

problemas do sono são especialmente prevalentes na esquizofrenia, na depressão,

na mania e em outras doenças mentais. Todos os anos, transtornos do sono,

privação do sono e sonolência somam milhões para as contas de seguros de saúde

em países industrializados (Costa e Silva, 2006).

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Transtorno de humor bipolar 2.1.1 Características clínicas O Transtorno de Humor Bipolar (THB) acomete de 1-3% da população em

todo o mundo, e está associado a um alto índice de suicídio e desemprego

(Weissman et al., 1996; Grant et al., 2005; Müller-Oerlinghausen et al., 2002).

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o THB é considerado uma das dez

principais causas de incapacitação (Lopez e Murray, 1998). O curso clínico do THB é

crônico, usualmente caracterizado por períodos de exacerbação dos sintomas

(episódios agudos) intercalados por períodos subsindrômicos e períodos de

remissão (eutimia). Em um estudo de seguimento, que acompanhou pacientes

bipolares tipo I por um período médio de 13 anos, se observou que os pacientes

permaneceram metade deste período sintomático (Judd et al., 2002). Além disto,

observa-se que a persistência de sintomas subsindrômicos está associada a um

maior risco de reagudização da doença (Perlis et al., 2006) e maior índice de

incapacitação (Judd et al., 2005).

Do ponto de vista do diagnóstico, os autores pressupõem que a ocorrência de

pelo menos um episódio maníaco ou hipomaníaco durante a vida é suficiente para a

identificação do THB, na qual a presença de episódio maníaco confere o diagnóstico

de THB tipo I, enquanto a presença de episódio hipomaníaco, definido como

confere o diagnóstico de THB tipo II (Belmaker, 2004). A presença de um episódio

maníaco é definida por uma elevação persistente do humor (humor eufórico ou

irritável), acompanhado por pelo menos 3 dos seguintes sintomas (4 se humor

irritável):

a) aumento da autoconfiança ou grandiosidade;

b) taquilalia ou pressão por falar;

c) diminuição da necessidade do sono;

d) pensamento acelerado ou fuga de idéias;

e) distratibilidade;

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f) alteração do comportamento dirigido para atividades prazerosas,

freqüentemente imprudentes ou perigosas;

g) ou agitação psicomotora.

O episódio hipomaníaco é definido como um período distinto, durante o qual

existe um humor anormal e persistentemente elevado, expansível ou irritável, com

duração mínima de 4 dias O período de humor anormal deve ser acompanhado pelo

menos 3 sintomas (4 se humor irritável) adicionais iguais aos relacionados na lista

de sintomas citados para diagnóstico de mania.

Além disso, o episódio deve ser suficientemente grave para causar prejuízo

significativo no âmbito familiar, social ou ocupacional, ou necessidade de

hospitalização ou ter presença de sintomas psicóticos. Devido ao seu curso crônico

e à freqüente reincidência e gravidade dos sintomas de humor, o tratamento do THB

atualmente baseia-se no manejo dos episódios agudos e no tratamento de

manutenção como prevenção para ocorrência de novos episódios (Yatham et al.,

2005). Além dos episódios serem incapacitantes, estudos mostram que a demora no

diagnóstico e o número maior de crises refletem ou prognosticam uma piora

cognitiva e clínica geral do paciente bipolar. Além disto, estudos ainda indicam que

alterações neuroquímicas induzidas pela mania estão associadas ao surgimento de

efeitos lesionais em células neurais (Post et al., 1982; Friedman et al., 1993;

Johnston-Wilson et al., 2000). Ou seja, a conduta para que os pacientes se

mantenham eutímicos o maior tempo possível, tem um efeito de proteção neuronal,

na medida em que durante as fases maníacas e depressivas os mesmos estão mais

suscetíveis aos efeitos de danos ao ácido desoxiribonucléico (DNA) (Andreazza et

al., 2007). Entretanto, os índices de recorrência e de resistência aos medicamentos de

primeira linha são bastante elevados. Dois estudos que avaliaram indivíduos

bipolares tratados em instituições acadêmicas demonstraram que uma alta

porcentagem dos pacientes permanece sintomática, mesmo quando

“adequadamente tratados” (Post et al., 2003; Dennehy et al., 2005). Embora os

medicamentos de última geração possuam um melhor perfil de tolerabilidade e

segurança em relação aos tradicionais, muito pouco se adicionou, do ponto de vista

da eficácia, em relação aos primeiros medicamentos (Castrén, 2005). Possivelmente

este pequeno avanço no tratamento do THB se deve ao pouco conhecimento que

ainda se tem acerca dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos neste transtorno

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(Zarate et al., 2006). O tratamento do THB tipicamente envolve farmacoterapia.

Entretanto, mesmo em pacientes aderentes a esse tratamento, o risco de recaída

num período de 5 anos tem sido estimada em 73% (Gitlin et al., 1995).

2.1.2 Fisiopatologia do THB Apesar dos crescentes esforços para o entendimento da neurobiologia do

THB, sua exata fisiopatologia permanece indeterminada. As bases biológicas do THB

incluem estudos relacionados à genética, às vias neuro-hormonais, à

neurotransmissão, às vias de transdução de sinal, à regulação da expressão gênica,

ao estresse oxidativo, entre outros (Yatham et al, 2005). As bases biológicas do THB

mostram ser um quadro complexo de interação entre os múltiplos genes que causam

suscetibilidade, bem como a relação destes com os fatores ambientais e suas

conseqüências para o organismo.

Dados provenientes de estudos genéticos demonstram que o risco de um

indivíduo com familiar em primeiro grau portador de THB de desenvolver a doença é

cerca de 10 vezes maior do que a população em geral (Goodwin and Jamison, 1990).

Além disso, estudos com gêmeos homozigóticos mostram que o risco de desenvolver

THB para um indivíduo cujo gêmeo idêntico possui a doença é de 67% (Goodwin and

Jamison, 1990). Embora o THB apresente um elevado padrão de herdabilidade, a

busca por genes de suscetibilidade tem demonstrado que a maioria das pesquisas,

envolvendo estudos de genes únicos, apresenta resultados negativos. Resultados de

meta-análise sugerem, entretanto, que alguns genes funcionais apresentam modesta,

mas significativa associação com aumento de suscetibilidade para THB (Craddock

and Forty, 2006). São eles: o gene do transportador de serotonina (5-HTTR), o gene

da enzima que degrada as catecolaminas, catecol-O-metiltransferase (COMT) o gene

da enzima que degrada as monoaminas, monoamine oxidase A (MAO) e o gene do

fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) (Cradock e Forty, 2006). De fato, esses

achados sugerem que a suscetibilidade para THB pode estar associada a genes

diretamente envolvidos com os sistemas de neurotransmissão (5-HTTR, COMT e

MAO) e maturação, sobrevivência e plasticidade neuronal (BDNF) (Coyle e Duman,

2002).

Estudos neuroanatômicos, baseados nas imagens obtidas por ressonância

magnética, demonstram alterações do volume de determinadas regiões cerebrais

envolvidas na regulação do humor. Achados que têm sido replicados no THB incluem:

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a) diminuição do volume do córtex pré-frontal subgenual (Drevets et al, 2001).

O córtex pré-frontal de pacientes bipolares contém menos neurônios não-piramidais,

particularmente aqueles com fenótipo GABAérgico (Knable 1999; Beasley et al,

2002).

b) aumento do volume da amígdala e do estriado (Hajek et al, 2005;

Strakowski, et al, 2005).

Já os estudos neurofuncionais, baseados em ressonância magnética funcional

e tomografia por emissão de pósitrons (PET), apontam para uma diminuição

significativa do metabolismo do córtex pré-frontal durante a depressão e subseqüente

aumento em algumas regiões do córtex pré-frontal durante a fase maníaca (Malhi et

al., 2004; Strakowski et al, 2005). Além disso, diversos estudos de neuroimagem têm

sugerido níveis aumentados de dopamina durante episódios de mania e que os

efeitos anti-maníacos estão associados à diminuição de dopamina (para revisão ver

Yatham et al, 2005 e Berk et al, 2007). Um estudo de PET demonstrou que o

tratamento com valproato de sódio reduziu a captação de 18F-DOPA no estriado de

pacientes bipolares em episódio maníaco, sugerindo uma diminuição da função

dopaminérgica pré-sináptica após o uso de valproato de sódio (Yatham et al., 2002).

Alterações de receptores dopaminérgicos no THB têm sido demonstradas em dois

estudos que observaram um aumento de 25% da expressão do RNA mensageiro

(RNAm) do receptor dopaminérgico D1 na região CA2 do hipocampo (Pantazopoulos

et al., 2004) e uma menor expressão do receptor D3 em linfócitos de indivíduos

bipolares (Vogel et al., 2004). Mais recentemente, foi sugerido que variações do gene

do transportador de DA podem estar envolvidas na suscetibilidade para o

desenvolvimento do THB (Greenwood et al., 2006). Em conjunto, esses estudos

indicam que alterações do sistema dopaminérgico podem estar envolvidas nos

mecanismos fisiopatológicos do THB. Interessantemente, o aumento dos níveis de

dopamina é importante fonte de estresse oxidativo no cérebro, devido ao

metabolismo de oxidação da dopamina (Rees et al, 2007; Chen et al, 2008).

Em paralelo, tem sido demonstrado que antidepressivos e estabilizadores de

humor atuam modulando diversas cascatas de sinalização celular envolvidas em

neuroplasticidade e sobrevivência neuronal (Manji, Drevets e Charney, 2001;

Schaltiel, Chen e Manji, 2007). A primeira evidência surgiu dos trabalhos do

laboratório do Prof. Ronald Duman, demonstrando que o uso crônico de

antidepressivos e de choques eletroconvulsivos aumentam a expressão do RNAm do

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fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), do seu receptor TrkB (receptor

tirosina-cinase B) e do fator de transcrição nuclear CREB (elemento responsivo ao

cAMP) em hipocampo de ratos (Nibuya et al, 1995; Nibuya et al, 1996). Mais

recentemente, estudos pré-clínicos têm demonstrado que o tratamento crônico com

lítio (Li) ou valproato (VPT) (medicamentos de primeira linha para o tratamento do

THB) também são capazes de aumentar a expressão do BDNF no córtex frontal e

hipocampo (Einat et al., 2003; Fukumoto et al., 2001).

Além disso, os estabilizadores do humor possuem outros mecanismos de ação

em comum, como inibição da GSK-3b. A proteína GSK-3b está envolvida em uma

série de processos que regulam a arquitetura e a função celular. Por exemplo, a

GSK-3b regula a atividade de diversas proteínas que se ligam aos microtúbulos, que

são complexos protéicos que dão estabilidade estrutural para a célula (Coyle e Manji,

2002; Williams et al., 2002). Dessa forma, ao modular a atividade de proteínas ligadas

aos microtúbulos, a GSK-3b é capaz de alterar a plasticidade neuronal, crescimento

dendrítico e, por conseqüência, produzir uma marcada alteração na plasticidade

sináptica (Coyle e Manji, 2002; Williams et al., 2002). Além disso, também regula

fatores de transcrição celular, como o CREB, que estão envolvidos com a regulação

da neurogênese e morte/sobrevivência celular (Castrén, 2005; Coyle e Duman, 2003;

Nestler et al., 2002; Manji et al., 2001). O envolvimento da GSK-3b no THB é uma

importante contribuição do grupo de Housseini Manji. Este autor e seus

colaboradores iniciaram com trabalhos mostrando que o lítio é um potente inibidor da

GSK-3b tanto in vitro como in vivo (Manji et al., 2001). Mais tarde, estudos

subseqüentes demonstraram que o valproato também é um potente inibidor da GSK-

3b, o que propõe um mecanismo de ação em comum entre esses estabilizadores de

humor, que possuem estruturas farmacológicas marcadamente distintas (De Sarno et

al., 2000). Mais recentemente, estudos em modelos animais demonstraram que

camundongos geneticamente alterados que possuem um déficit marcado na

transmissão serotoninérgica apresentam um aumento da atividade da GSK-3b e este

aumento é associado a alterações comportamentais compatíveis com quadros

depressivos (Beaulieu et al., 2008). Além disso, Gould e Manji (2002) demonstraram

que o lítio, quando em concentrações próximas ao limiar de concentração terapêutica

(1-2mM), estimula a neurogênese em células progenitoras hipocampais adultas. Tal

efeito aparentemente envolve a inibição da GSK-3b e ativação da via intracelular Wnt

e B-catenina, mas independe da inibição da via do fosfatidilinositol. Além disso, mais

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rececentemente Gould et al (2007) mostraram que camundongos com super-

expressão de B-catenina apresentam comportamento semelhante ao observado com

administração de lítio. Em conjunto, estes trabalhos sugerem fortemente que a

ativação da via Wnt e a inibição da proteína GSK-3b podem estar envolvidas nos

efeitos terapêuticos dos estabilizadores de humor.

Atualmente acredita-se que os transtornos de humor estão associados a

alterações no sistema de comunicação entre os circuitos cerebrais reguladores do

humor, e que antidepressivos e estabilizadores do humor ativam cascatas de

sinalização que regulam a plasticidade e sobrevivência celular, com subseqüente

melhora gradativa da transmissão da informação nesses circuitos cerebrais (Castrén,

2005; Coyle e Duman, 2003; Nestler et al., 2002; Manji et al., 2001).

2.1.3 THB e qualidade de vida

Três revisões abordam qualidade de vida (QV) relacionada ao THB (Namjoshi

and Buesching, 2001; Dean et al., 2004; Michalak et al., 2005). Os estudos de

Namjoshi e Buesching (2001) se mostraram muito heterogêneos e os instrumentos

utilizados eram genéricos e específicos para a depressão para avaliar diferentes

aspectos da QV relacionada à saúde. Estes estudos eram relativamente pequenos (a

maioria com menos de 100 pacientes) e os pacientes participantes eram deprimidos

ou eutímicos mais do que com pacientes hipomaníacos e maníacos.

O estudo de Dean et al (2004) avaliaram QV, prejuízos no trabalho ou custos

dos cuidados e utilização dos serviços de saúde de pacientes com THB. A definição

aplicada neste estudo era muito ampla para avaliação de QV, incluindo nesta

categoria estudos que avaliaram funcionamento social ou físico isoladamente. A

revisão identificou 65 estudos de QV em pacientes com THB. Os autores concluíram

que déficits na QV em pacientes com THB eram similares àqueles observados em

pacientes com depressão unipolar e igual ou pior que os níveis de QV observados em

pacientes com outras condições médicas crônicas.

Michalak et al (2005) fizeram uma revisão até novembro de 2004 e a maioria

dos artigos indicou que a QV estava muito prejudicada em pacientes com THB,

mesmo quando eles eram considerados clinicamente eutímicos. Analisando esses

principais estudos conclui-se que a avaliação da QV é considerada uma medida útil

para recuperação/incapacidade tanto funcional (Yatham et al., 2004) como

sintomática (Thunedborg et al.,1995) em centros de atendimento de saúde mental.

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Russo et al (1997), conduziu um estudo com pacientes hospitalizados onde

avaliou pacientes psiquiátricos com uma grande variedade de diagnósticos incluindo

mania aguda, depressão bipolar aguda, depressão unipolar aguda, esquizofrenia,

transtorno esquizoafetivo entre outros. Pacientes maníacos apresentavam altos

escores de QV (subjetiva) em comparação com os outros grupos, apesar dos seus

baixos escores em medidas funcionais objetivas. Os autores sugerem que esta

discrepância em pacientes maníacos pode estar relacionada ao estado eufórico e

diminuição do insight relacionado à doença.

Gazalle et al (2005) observaram que a pior QV está relacionada à depressão e

aos sintomas depressivos dos pacientes com THB, além de que o número de anos

sem diagnóstico de THB pode ser um preditor de pior QV em pacientes bipolares;

Kauer-Sant’ Anna et al (2007) relataram que a comorbidade ansiosa está relacionada

à pior QV entre esses pacientes (Kauer-Sant’ Anna et al., 2007). Além disso, Gazalle

et al (2007) detectou que os sintomas maníacos estiveram associados a piores

escores de QV na maioria dos domínios e que os itens “irritabilidade” e “sono” foram

os mais associados à pior QV.

2.2 Fisiologia do sono Embora o envolvimento do sistema nervoso central na regulação do ciclo sono-

vigilia seja estudado desde o século V A.C., a base neurobiológica do sono foi

mistério até o século XX. Nas últimas décadas, as pesquisas têm demonstrado que o

sono não é simplesmente o resultado da diminuição do funcionamento dos sistemas

de vigília. Ao contrário, é o resultado de um processo ativo que requer a interação de

vários sistemas do tronco encefálico e do cérebro (Rechtschaffen and Bergamann,

2002). O sono normal é considerado um estado ativo e complexo. A evolução dos

potenciais eletroencefalográficos durante o sono reflete a existência de várias fases,

que se agrupam em dois estados distintos. O primeiro caracteriza-se pela presença

de ondas sincronizadas (sono sincronizado – NREM). O segundo, no qual

predominam potenciais de baixa voltagem e alta freqüência (sono dessincronizado –

movimento rápido dos olhos - REM ). Os termos “sincronizado” e “dessincronizado”

referem-se à presença ou à ausência de descargas conjuntas entre neurônios do

córtex cerebral (Rechtschaffen and Bergmann, 2002).

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O sono sincronizado ou NREM ou sono de ondas é caracterizado pela

presença de ondas sincronizadas no eletroencefalograma (EEG) e pode ser

subdividido em quatro fases: estagio 1, 2, 3 e 4 (3 e 4 equivalem ao sono de ondas

lentas, sono profundo ou sono delta). A medida que passamos do estado de vigília

para os estágios de sono cada vez mais profundos, a alteração que ocorre no EEG é

a passagem de uma atividade de alta freqüência e baixa amplitude, típica da vigília,

para a de baixa freqüência e elevada amplitude do sono profundo (Hobson, 1990).

O sono dessincronizado também é conhecido por outras denominações, tais

como: sono REM, sono paradoxal (SP), sono dos sonhos e sono ativo. O sono REM

apresenta um conjunto de características que o distingue bem de outras fases de

sono: EEG dessincronizado, ou seja, ondas de baixa amplitude e alta freqüência;

ritmo teta hipocampal; atonia muscular observada pelo registro da eletromiografia

(EMG); movimentos oculares rápidos observados pelo eletroculograma (EOG).

Diferente do sono sincronizado, o sono REM não é dividido em fases; no

entanto, apresenta algumas características que são divididas em eventos fásicos e

tônicos. Os eventos fásicos são intermitentes, representados pelos movimentos

oculares, abalos musculares e ondas ponto-genículo-occipitais (PGO). Os eventos

tônicos são persistentes, tais como: atonia muscular, dessincronização cortical e ritmo

teta-hipocampal (Aserinsky and Kleitman,1953).

A intensa atividade elétrica e metabólica observada no sono REM é o maior

argumento em favor de que o sono é um fenômeno ativo resultante de várias

estruturas nervosas específicas. A sincronização-dessincrononização das ondas do

EEG do sono NREM-REM e vigília são conseqüência da atividade neural nos

circuitos tálamo-corticias (núcleos reticulares do tálamo e córtex cerebral),

decorrentes da interação entre os núcleos monoaminérgicos e colinérgicos do tronco

encefálico (Aserinsky and Kleitman, 2003). Há um predomínio de sono NREM na

primeira metade da noite, enquanto que o sono REM predomina na segunda metade

da noite. A distribuição dos estágios de sono durante a noite pode ser alterada por

vários fatores, como: idade, ritmos circadianos, temperatura ambiente, ingestão de

drogas e patologias diversas.

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EstEstáágio 2gio 2

Figura 1 – Polissonografia mostrando Estágio 2 do sono (NREM)

Sono delta: ondas lentas e sincronizadasSono delta: ondas lentas e sincronizadas

Figura 2 – Polissonografia mostrando Estágio 4 do sono NREM (sono de ondas

lentas, sono reparador)

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Movimentos ocularesMovimentos oculares

SONO REMSONO REM

Atonia muscularAtonia muscular

Figura 3 – Polissonografia mostrando Sono REM

Transição para atonia muscular

REMNREM

Figura 4 – Polissonografia mostrando a transição do sono NREM para sono REM

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18

2.2.1 Sono normal O sono normal apresenta variações conforme a faixa etária. Do recém-

nascido até o idoso, o sono sofre modificações quanto à distribuição dos diversos

estágios e, quanto ao próprio ritmo circadiano, passando de polifásico para

monofásico na idade adulta, podendo ainda ser mais fragmentado no

envelhecimento. Além disso, o idoso tem maior tendência aos cochilos diurnos. O

adulto dorme em média sete a oito horas por dia. Entretanto, alguns indivíduos

necessitam normalmente de um número menor de horas de sono, denominados de

dormidores curtos, e outros, que necessitam de mais horas, são considerados

dormidores longos (Curzi-Dascalova and Challamel, 2000).

VV

1

2

3

4

REMREM

DESPERTARESDESPERTARESNORMAISNORMAIS

Sono Normal (adulto jovem)Sono Normal (adulto jovem)

Figura 5 – Hipnograma de um paciente com sono normal

2.2.2 Insônia A insônia atualmente é considerada um problema de saúde pública, afetando

10 a 40% da população, com conseqüências médicas, psicológicas e sociais (Leger

et al., 2000), é um sintoma que pode ser definido como dificuldade em iniciar e/ou

manter o sono, presença de sono não reparador, ou seja, insuficiente para manter

uma boa qualidade de alerta e bem-estar físico e mental durante o dia, com o

Page 19: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

19

comprometimento conseqüente do desempenho nas atividades diurnas (Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 1995). Por tratar-se de um

sintoma, o conceito de insônia é muito mais abrangente que o proposto pelo DSM-

IV, podendo ser interpretado como sendo a percepção pelo paciente que seu sono é

inadequado ou anormal. Na maioria das vezes, a insônia está relacionada à redução

da quantidade de horas necessária para um sono satisfatório, podendo ser devido

ao aumento do tempo para iniciar o sono (insônia inicial), ocorrendo em 68% dos

casos, ao aumento de despertares durante toda a noite (insônia de manutenção),

em 64% dos pacientes ou sendo causada por despertar precoce (insônia terminal),

em 32% dos casos (Moul et al., 2002). A quantidade de sono ideal é uma

característica individual. A média da população necessita de sete a oito horas de

sono. Os pacientes com insônia apresentam-se cansados, mal-humorados,

sonolentos, irritados (Morin, 1993).

A escala de avaliação para depressão de Ham-D tem sido usada em pesquisa

como critério de inclusão, medidas de evolução (resposta, remissão, recaída) ou de

recuperação de um episódio depressivo. As questões 4, 5 e 6 avaliam a presença de

insônia inicial, insônia intermediária e insônia tardia (Hamilton, 1960).

2.2.2.1 Fisiopatologia da insônia Um modelo simples tem sido utilizado para entender a evolução temporal da

insônia. Podemos identificar fatores precipitantes, predisponentes e perpetuantes.

Como fatores precipitantes podemos citar o estresse social (divórcio, desemprego,

etc), estresse por problema médico (doença, efeito de drogas, gravidez, etc),

estresse por inadaptação circadiana (jet lag, trabalho em turnos, etc) e estresse

ambiental (viagem, barulho, parceiro, casa nova, etc.); como fatores predisponentes

o cognitivo (atividade ruminativa), os fatores fisiológicos (estar mais alerta de dia,

maior taxa metabólica, aumento da temperatura corporal e aumento de ondas

rápidas no estágio 1) e os fatores afetivos (maior ansiedade, depressão e

somatização); e como fatores perpetuantes a má higiene do sono, a persistência dos

fatores precipitantes, o uso de álcool ou medicações, a ansiedade e a depressão, a

ruminação sobre o sono e o condicionamento, as alterações secundárias do ritmo

circadiano e o surgimento de qualquer condição médica após a insônia original

(Spielman, 1996).

Page 20: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

20

Se transitória e de curta duração, comumente identificamos um fator

precipitante, que usualmente está relacionado à causa da insônia. Na insônia

crônica, no entanto, esta relação é menos óbvia, uma vez que o fator precipitante

ocorreu há meses ou anos antes da avaliação e pode não ser mais relevante para o

paciente. Nesta situação, fatores perpetuantes e predisponentes podem explicar a

sua persistência a partir de um episódio inicial (Spielman, 1996).

Os fatores predisponentes são basicamente os fatores de risco para a

insônia, anteriormente mencionados, acrescidos de predileção por estar acordado

até tarde, da presença de um ciclo vigília- sono irregular e da condição do

hiperalerta. A condição de hiperalerta refere- se à inabilidade desenvolvida em obter

sono adequado, com aumento do alerta total nas 24 horas do dia.

Os pacientes com insônia crônica tais como os deprimidos, têm uma alta

incidência de queixas médicas e procuram mais serviços médicos do que a

população em geral, tendo uma qualidade de vida reduzida (Bonnet et al., 1995).

Durante o sono existe um balanço da atividade dos componentes do sistema

nervoso autônomo. Uma ativação simpática pode prejudicar o sono. Além disso, é

rapidamente desencadeada, tardando muito a se dissipar. Uma descarga

autonômica também pode ser condicionada. São exemplos de fatores exógenos e

endógenos associados com o aumento da atividade simpática: cafeína, nicotina,

exercício intenso, calor, ruídos, preocupações, fome, dor, medo e esforço intenso

para dormir, que devem, portanto ser evitados. (Benca, 2000). O despertar do sono

por qualquer razão está automaticamente associado à ativação simpática com uma

resposta reflexa de aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca. Muitas

vezes, esses sintomas fazem parte do despertar psicofisiológico, onde os pacientes

contam que se sentem tão alertas que mal podem continuar na cama, com sensação

de taquicardia (Bonsignores et al., 1994).

2.2.2.2 Diagnóstico Na clínica e nos estudos sobre o sono devem-se observar sempre dados

sobre hábitos de sono, noturnos ou diurnos, possível associação com fatores

ambientais, desempenho no trabalho e atividades diárias, presença de fadiga e

sonolência diurna. Dever ser investigada a presença de condições clínicas,

especialmente quadros dolorosos, história positiva para depressão, ou transtornos

de ansiedade e presença de pânico noturno. Investigar história de medicações já

Page 21: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

21

utilizadas e em uso, como estimulantes, tranqüilizantes, hipnóticos ou

antidepressivos. Questionar uso de álcool, tabagismo, ingestão de café e prática de

atividade física, freqüência e horário das mesmas. Deve também ser identificada a

presença de fatores desencadeantes e perpetuantes da insônia. Por fim, pode-se

investigar condições familiares e profissionais que podem funcionar como

desencadeantes ou perpetuantes da insônia, tais como conflitos conjugais,

separações, lutos, drogas, abuso sexual, dificuldades de relacionamento no

trabalho, aposentadoria, perdas econômicas etc.

Um roteiro mínimo de perguntas pode ser realizado no primeiro atendimento:

1. início da insônia

2. fator desencadeante

3. fatores de piora e melhora

4. tratamentos já realizados

5. horário que vai para cama

6. atividades na cama antes de adormecer

7. tempo que demora para adormecer

8. despertares durante a noite

9. presença de ronco ou sono agitado

10. horário em que acorda

11. horário em que se levanta

12. como se sente ao despertar

13. ambiente em que dorme

14. como passa durante o dia: cansaço, sonolência, irritabilidade

15. dores no corpo

16. atividade física: freqüência e horário

17. trabalho: tipo e horário

18. refeições, café, refrigerantes

19. medicamentos: tipo e horário

20. ansiedade

21. depressão

22. relacionamento social e familiar

23. uso de álcool

24. demais doenças

Page 22: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

22

2.3 Distúrbios do Sono em Psiquiatria Nós gastamos um terço da nossa vida dormindo. Se vivermos 70 anos,

aproximadamente 27 deles dormimos. O dormir é um estado ativo crítico para o

nosso bem estar físico, mental e emocional. De fato, é uma necessidade básica da

vida, tão fundamental para a manutenção da saúde como o ar, os alimentos e a

água. Mais de 90 patologias do sono têm sido identificadas, e, quando o sono é

interrompido, as pessoas param de funcionar efetivamente. Insônia é a alteração do

sono mais comum em psiquiatria (Coleman et al., 1982).

Muitos estudos mostraram que aproximadamente metade dos pacientes com

insônia crônica tem um problema de sono que surgiu devido a um transtorno

psiquiátrico. As mais proeminentes causas psiquiátricas de insônia são as psicoses,

transtorno do humor, ansiedade, transtorno do pânico e demência. Problemas do

sono são especialmente prevalentes na esquizofrenia, na depressão, na mania e em

outras doenças mentais, e todos os anos, transtornos do sono, privação do sono e

sonolência somam milhões para as contas de seguros de saúde em países

industrializados (Costa e Silva, 2006).

Alterações do sono são notáveis na maioria dos transtornos psiquiátricos

(Benca et al., 1992). Em um levantamento realizado em diversas cidades

americanas, 40% dos entrevistados que relataram insônia e 46,5% dos que

relataram hipersonia preenchiam os critérios para doença mental segundo o DSM-IV

(Ford et al., 1989).

Nota-se uma divergência em relação à classificação de transtornos mentais,

na qual os transtornos do pânico fazem parte dos distúrbios ansiosos. A justificativa

para esta separação na classificação internacional dos distúrbios do sono é que

alguns transtornos do pânico podem ter somente manifestações episódicas durante

o sono. Os quadros psiquiátricos por sua vez, têm mudanças nos padrões do sono

como critérios diagnósticos, tais como: depressão maior, estresse pós-traumático,

transtorno de ansiedade generalizada (American Psychiatry Association, 1994).

Serão abordados os transtornos psiquiátricos que mais freqüentemente

apresentam alterações de sono na prática clínica e os principais achados

polissonográficos descritos. Alguns estudos realizados sobre a fisiopatologia destas

Page 23: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

23

alterações em determinados transtornos e modificações no sono causadas por

tratamentos medicamentosos mais utilizados serão também referidos.

2.3.1 Transtornos do humor Os transtornos do humor geralmente acarretam despertar precoce pela

manhã como observado na figura 6.

VV

1

2

3

4

REMREMREM

LATÊNCIA de SONO PROLONGADALATÊNCIA de SONO PROLONGADA

DESPERTAR PRECOCE

DESPERTAR PRECOCE

INSÔNIA FINALINSÔNIA FINAL

Figura 6 – Hipnograma típico de pacientes com depressão

a) Depressão

Cerca de 80% dos pacientes com depressão se queixam de mudanças nos

padrões do sono. Destes, a maioria apresenta insônia terminal, despertando horas

antes do necessário (despertar precoce). Nos casos de sintomas ansiosos

associados o paciente apresenta dificuldade para iniciar o sono, a insônia inicial

também é freqüente (Guerra et al., 2004). Em estudos epidemiológicos longitudinais,

a insônia é um importante preditor do aumento do risco de depressão no seguimento

de 1 a 3 anos (Rieman et al., 2003). Além disso, a persistência de insônia é

associada com o aparecimento de um novo episódio depressivo (Ohayon et al.,

2003).

Page 24: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

24

Queixas específicas podem incluir despertares noturnos freqüentes, sono não

restaurador, redução do sono total e sonhos perturbadores (Benca et al., 2000).

Embora queixas de hipersonolência diurna sejam raras no transtorno depressivo

maior, alguns pacientes com insônia relatam aumento da fadiga e tentam

compensar com cochilos diurnos (Wooten et al., 1999).

Uma pequena porcentagem de pacientes com depressão maior tem queixas

de sonolência excessiva, sendo a maioria destes adultos jovens (Wooten et al.,

1999). A maioria dos pacientes com transtorno bipolar também relata insônia quando

em depressão, mas uma significativa porcentagem de pacientes relatam sintomas de

hipersonia, com alargamento do período noturno, dificuldade de despertar e

sonolência excessiva diurna Os pacientes com transtorno afetivo sazonal e com

depressão atípica também relatam hipersonia (American Psychiatric Associantion,

1994; Benca et al., 2000).

Achados polissonográficos: As alterações polissonográficas na depressão

podem ser divididas em três categorias principais referentes à continuidade do sono,

ao sono de ondas lentas e ao sono REM. Na primeira pode-se observar aumento da

latência do sono, aumento de despertares durante sono e despertar precoce, que

resulta em fragmentação do sono e redução da eficiência deste (Gann et al., 2004).

Estudos comparando grupos de depressivos e controles pareados por idade

confirmaram estes resultados (Benca et al., 1992; Benca et al., 2000).

O déficit no sono de ondas lentas é fato encontrado em numerosos relatos,

mas nem todos os estudos mostraram esta redução (Benca et al., 1992; Benca et

al., 2000). A redução do sono de ondas lentas parece ser mais significativa no

primeiro período NREM, o que altera sua distribuição no decorrer da noite. Também

se observa redução na potência de delta em estudos de eletrencefalografia

quantitativa durante o sono (Kupfer et al., 1986).

O primeiro achado relativo ao sono REM foi à redução de sua latência

(período de tempo entre o início do sono e o início do REM) (Benca et al., 1992;

Benca et al., 2000; Wooten et al., 1999). Com o passar dos anos, este provou ser o

fator mais freqüentemente descrito em pacientes com depressão maior, embora

ainda não se saiba se a latência do REM é um indicador específico para depressão

corrente ou passada, podendo estar ligado à hiperatividade colinérgica (Benca et al.,

2000). Outros achados dizem respeito ao aumento do primeiro período de sono

Page 25: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

25

REM, aumento da densidade REM (aumento na taxa de movimentos rápidos de

olhos) e aumento da porcentagem de REM (Benca et al., 1992; Benca et al., 2000;

Wooten et al., 1999; Gann et al., 2004).

Em estudo que procurou correlacionar queixas subjetivas de sono e dados

polissonográficos em pacientes com depressão, estes não foram capazes de estimar

acuradamente o número de despertares durante a noite. A avaliação subjetiva da

qualidade do sono pareceu estar associada à continuidade do mesmo e da

quantidade do sono de ondas lentas (Argyropoulos et al., 1986).

b) Mania

Durante episódios maníacos, os pacientes relatam quantidades reduzidas de

tempo total de sono, com uma sensação subjetiva de redução da necessidade de

sono. Em vários casos, a mudança para a fase de mania é precedida por períodos

de falta de sono. Também foi sugerido que a passagem da eutimia ou depressão

para a fase maníaca ocorre durante sono (Wooten et al., 1999).

Achados polissonográficos: A principal característica parece ser a redução

do tempo total de sono; o paciente maníaco parece ter uma inabilidade para

adormecer. Quando adormece, ele desperta duas ou três horas depois, totalmente

revigorado. Como para a depressão, a duração dos estágios 3 e 4 pode estar

encurtada, mas os achados relativos ao sono REM foram menos consistentes

(Benca et al., 1992; Benca et al., 2000; Wooten et al., 1999).

2.3.2 Transtornos de ansiedade Os transtornos de ansiedade geralmente acarretam aumento da latência do

sono e múltiplos despertares durante a noite como mostrado na figura 7.

Page 26: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

26

VV

1

2

3

4

REMREMREM

Aumento da LatênciaAumentoAumento dada LatênciaLatência

INSÔNIA INICIALINSÔNIA INICIAL

Figura 7 – Hipnograma típico de paciente com transtorno de ansiedade

generalizada

a) Transtorno de ansiedade generalizado (TAG)

Os pacientes com TAG têm freqüentemente queixas de que não conseguem

relaxar ou parar de se preocupar com seus problemas quando estão no leito (Uhde,

1994). O distúrbio de sono mais freqüentemente associado a quadros de ansiedade

generalizada é a insônia de manutenção do sono (Monti et al., 2000) e também a

dificuldade de iniciar o sono (insônia inicial). Além disso, queixas de sono não

reparador e interrompido são relatadas (Uhde, 2000; Wooten et al., 1999; Monti el

al., 2000).

Achados polissonográficos: Pacientes com ansiedade generalizada tem

aumento da latência do sono (sendo que esta latência freqüentemente ultrapassa

uma hora) aumento dos estágios mais superficiais do sono, menor porcentagem de

sono REM e, com exceção de casos isolados, latência para o sono REM aumentada

ou normal (Benca et al., 1992; Uhde, 2000; Wooten et al., 1999).

2.3.3 Transtorno do pânico As queixas mais comuns de pacientes com transtorno do pânico, em relação

ao sono, incluem insônia inicial ou de manutenção (aproximadamente 70% dos

Page 27: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

27

pacientes), e sono não restaurador, fragmentado (Uhde, 2000; Wooten et al., 1999;

Sheik et al., 2003). Os ataques de pânico podem ocorrer durante o sono. Nos

pacientes que tem ataques noturnos de pânico, os níveis de ansiedade e a duração

dos ataques parecem ser maiores; há maior presença de sintomas somáticos e

maior ocorrência de co-morbidades com outras doenças psiquiátricas,

principalmente depressão (O”Mahony et al., 2003). Sintomas similares associados

com ataques de pânico durante o sono podem ser encontrados em pacientes com

arritmias, refluxo gastro-esofágico, apnéia do sono, terror noturno, distúrbios

comportamentais do sono REM (Wooten et al., 1999). É necessário levar isto em

conta na avaliação diagnóstica diferencial.

Talvez a mais importante complicação de ataques de pânico noturno seja a

privação crônica do sono. De fato, estes pacientes desenvolvem ansiedade

antecipatória e comportamentos de esquiva, como vistos para ataques diurnos. No

caso especifico de ataques de pânico no sono muitos pacientes desenvolvem medo

de dormir e relutam em adormece (Uhde, 2000; Sheik et al., 2003).

Achados polissonográficos: quando comparados com indivíduos controles,

pacientes com distúrbio do pânico têm latência do sono discretamente elevada e

redução da eficiência do sono (Uhde, 2000; Sheik et al., 2003).

Há um aumento no tempo de movimentação durante o sono, mas não há uma

relação temporal entre esta movimentação e os ataques noturnos de pânico (Brown

and Uhde, 2003). Os ataques de pânico durante o sono geralmente acontecem no

final do estágio 2 ou início do estágio 3 do sono NREM (Uhde, 2000; Wooten et al.,

1999; Sheik et al., 2003).

2.3.4 Transtorno de estresse pós-traumático As principais queixas de sono em pacientes com estresse pós-traumático são

insônia, despertares ansiosos ou pesadelos, sendo comum encontrar um estado de

hiperatividade autonômica, com hipervigilância e insônia (Uhde, 2000; Wooten et al.,

1999; Sheik et al., 2003).

Pesadelos freqüentes ocorrem em 59 a 68% dos pacientes e são um

marcador desta doença, envolvendo tanto experiências revividas como cenários

imaginários de conteúdo assustador ou de ameaça à vida. Os despertares ansiosos,

por sua vez, parecem estar mais relacionados ao sono REM (Uhde, 2000; Wooten et

al., 1999; Sheik et al., 2003).

Page 28: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

28

Achados polissonográficos: estresse pós-traumático tem sido associado

com aumento da latência do sono, redução de sua eficiência, aumento do tempo em

vigília após o início do sono, redução do tempo total de sono, redução do estágio 2 e

aumento do estágio 1 do sono NREM (sono mais superficial) (Uhde, 2000; Wooten

et al., 1999; Sheik et al., 2003).

Há controvérsias entre os autores sobre os efeitos no sono REM. Alguns

autores relatam parâmetros de REM normais, enquanto outros relatam latência

reduzida para o sono REM e aumento na densidade REM (Benca et al., 1992;

Wooten et al., 1999; Sheik et al., 2003).

2.3.5 Esquizofrenia Embora os distúrbios do sono em esquizofrenia sejam suficientemente

severos para garantir atenção clínica, eles raramente são a queixa predominante

(Monti and Monti, 2004). Em estado de agitação psicótica há períodos prolongados

de total falta de sono; quando a agitação melhora, uma insônia expressiva tem lugar.

Há relatos de quase total reversão do ciclo vigília-sono, com o paciente dormindo

durante o dia e ficando acordado durante a noite. A insônia severa também é

descrita em exacerbações do quadro esquizofrênico e pode preceder o

aparecimento de outros sintomas por ocasião de recaídas (Benson et al., 2000). Os

pacientes esquizofrênicos podem vivenciar alucinações hipnagógicas aterrorizantes

e pesadelos. Podem ter vários distúrbios primários de sono associados, como

higiene de sono inadequada e aumento de movimentos periódicos de membros

inferiores (Benson et al., 2000). A co-morbidade da apnéia do sono, quando existe,

pode agravar os sintomas esquizofrênicos (Wooten et al., 1999).

Existem vários estudos relacionando esquizofrenia e os achados

polissonográficos, como veremos a seguir. Com referência ao sono de ondas lentas

parece haver uma relação inversa entre a quantidade deste e a manutenção do sono

e o tamanho dos ventrículos cerebrais; sugere-se que a redução deste tipo de sono

e aumento dos sintomas negativos da esquizofrenia podem estar relacionados a um

metabolismo cerebral reduzido e envelhecimento acelerado ou atrofia cerebral

(Keshavan et al., 1995).

A primeira tentativa de estabelecer uma conexão entre anormalidades do

sono REM e esquizofrenia foi relatada por Dement em 1955. Neste estudo, feito

Page 29: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

29

antes do advento dos neurolépticos, o autor encontrou redução da latência para o

sono REM, mas não observou diferença na densidade deste em esquizofrênicos

(Dement, 1955). Seguiram-se a estes diversos estudos com achados distintos nos

parâmetros do REM (Benca et al., 1992; Wooten et al., 1999; Benson et al., 2000).

Esta variação pode ser explicada por diferentes fases da doença, pelo grau do

desequilíbrio de neurotransmissores e pelo uso de medicação de curto e longo prazo

(Wooten et al., 1999). Apesar destes conflitos, a semelhança entre a atividade

alucinatória que ocorre normalmente no sono REM e as alucinações encontradas na

esquizofrenia continua a intrigar pesquisadores e várias teorias foram aventadas

para tentar explicá-la (Wooten et al., 1999; Benson et al., 2000).

Achados polissonográficos: foram observados distúrbios da continuidade

do sono, redução no sono de ondas lentas, redução na latência do REM, aumento

da porcentagem REM e redução da quantidade do sono NREM em minutos (Benca

et al.,1992; Wooten et al., 1999; Monti and Monti, 2004; Benson et al., 2000). Os

antipsicóticos atípicos olanzapina, risperidona e clozapina aumentam

significativamente o tempo total do sono e o estágio 2. Além do mais, olanzapina e

risperidona aumentam o sono de ondas lentas. Os antipsicóticos típicos haloperidol,

tioxitene e flupentixol reduzem significativamente o estágio 2 e aumentam a

eficiência do sono (Monti and Monti, 2004).

2.3.6 Alcoolismo O álcool é provavelmente a substância indutora do sono mais usada pela

população geral. Quando administrado a voluntários normais antes da hora de

dormir, de forma aguda, tem a tendência de encurtar a latência para o sono,

aumentar o sono NREM e reduzir o sono REM nas primeiras horas após

administração. No entanto, o álcool é rapidamente metabolizado. Quatro a cinco

horas após a ingestão, as concentrações no sangue baixam substancialmente e o

indivíduo pode apresentar sono interrompido por irritação gástrica, cefaléia,

pesadelos, taquicardia e suores abundantes. Pode haver também rebote do sono

REM (Castaneda et al., 1998).

Pacientes alcoolistas geralmente relatam insônia, hipersonia, distúrbios do

ritmo circadiano e parassonias. Os sintomas da abstinência do álcool podem ser

Page 30: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

30

confundidos com os de ataque de pânico e o diagnostico diferencial deve ser

realizado (Lotufo-Neto and Gentil, 1994).

O álcool aumenta a probabilidade de roncar, a resistência respiratória e da

ocorrência de eventos apneicos mesmo em indivíduos sem história de apnéia do

sono ou ronco (Castaneda et al., 1998).

Achados polissonográficos: latência do sono aumentada, eficiência do sono

reduzida, diminuição do tempo total de sono, do sono de ondas lentas e do sono

REM (Castaneda et al., 1998). O álcool inibe o sono REM de uma maneira dose-

dependente, ainda que na presença de um débito de sono REM fisiológico, como a

privação de sono (Lobo and Tufik, 1997).

2.3.7 Demências As demências não são homogêneas no que se refere ao sono. No entanto, na

demência com corpos de Lewy e na demência frontotemporal também existe déficit

na transmissão colinérgica, com conseqüente redução percentual do sono REM, tal

como na doença de Alzheimer. A demência com corpos de Lewy tem a

particularidade de apresentar maior freqüência de distúrbio comportamental do sono

REM. Isto ocorre porque a perda de neurônios colinérgicos no núcleo reticular

magnocelular da ponte é mais precoce nesta demência causando prejuízo da

conexão excitatória desse núcleo com o locus coeruleus, responsável pela atonia do

REM (Ferman et al., 1999).

Na demência vascular as alterações do sono são bastante heterogêneas,

dependendo da distribuição das lesões corticais e subcorticais, mas se observa uma

redução importante da porcentagem de sono de ondas lentas (Autret et al., 2001).

Faltam, no entanto, estudos mais completos sobre o sono em demências que não a

de Alzheimer.

a) Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é a mais estudada de todas as demências. Muitas das

alterações do sono presentes no envelhecimento normal também ocorrem no

paciente com esta doença, porém de forma mais intensa. Assim, ocorre redução do

tempo total e da eficiência do sono (Montplaisir et al., 1995), adiantamento de fase

com tendência a deitar-se mais cedo e a despertar precocemente (Richardson et al.,

Page 31: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

31

1982), diminuição da amplitude de diversos ciclos circadianos, tais como o de

secreção hormonal, de atividade e de temperatura, (Sakai et al., 1990; Witting et al.,

1990) redução do sono de ondas lentas (estágios 3, 4) e do sono REM, com

aumento do estágio 1 (Montplaisir et al., 1995; Vitiello et al., 1990). Além disso, os

pacientes com doença de Alzheimer apresentam episódios de agitação noturna,

alucinações hipnagógicas e deambulação sem finalidade (Johnson, 1987).

Algumas das disfunções presentes na doença de Alzheimer podem ser

atribuídas à crescente desorganização nos ciclos circadianos, possivelmente

associada à atrofia do núcleo supraquiasmático (Swaab et al., 1985). Essa

desorganização aumenta de acordo com a gravidade da doença (Aharon-Petetz et

al., 1991). Também foi observado que a falta de um padrão rítmico na secreção de

melatonina altera o sono desses pacientes e que a administração de melatonina

exógena, ou o estímulo de sua produção por meio da fototerapia matinal, ajudam a

corrigi-lo parcialmente (Jean-Louis et al., 1998). Na doença de Alzheimer, as

disfunções que afetam o sono REM são de especial importância devido à sua

fisiopatologia, uma vez que uma das estruturas mais afetadas no início da doença

de Alzheimer é justamente um núcleo colinérgico envolvido na atividade cortical

durante este estágio, o núcleo basal de Meynert. Especula-se, por esse motivo, que

a relação entre sono REM e doença de Alzheimer é funcional, uma vez que o sono

REM está relacionado a processos de aprendizagem, intensamente prejudicados

nesta doença (Christos, 1993). De fato, quando os pacientes recebem drogas que

potenciam a condução colinérgica ocorre um aumento da percentagem de sono

REM paralelamente à melhora cognitiva (Moraes et al., 2001). Achados polissonográficos: Como já foi discutido, observa-se redução

acentuada da percentagem de sono REM, menor freqüência de movimentos

oculares rápidos durante o sono REM (menor densidade de REM), e menor

eficiência do sono devido ao aumento do número de despertares após o seu início.

Na análise espectral do EEG durante o sono REM observa-se diminuição do ritmo

de base (Petit et al., 1992). Segundo alguns autores, a diminuição do ritmo de base

do sono REM na análise espectral é um marcador sensível para diferenciar a doença

de Alzheimer do envelhecimento normal (Hassainia et al., 1997). Nota-se também a

presença de ritmos delta e teta difusos, tanto no sono como na vigília, com

alentecimento geral do eletroencefalograma nas derivações temporal e frontal

(Montplaisir et al., 1995; Moraes et al., 2001).

Page 32: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

32

A depressão do idoso pode simular a demência de Alzheimer, porém na

depressão o quadro polissonográfico indica hiperatividade colinérgica, com aumento

da percentagem e redução da latência do sono REM (Bahro et al., 1993).

2.4 Sono e THB Os ritmos diários são importantes para a regulação do ciclo sono/vigília,

temperatura corporal, níveis de hormônios, e mesmo cognição, atenção e humor

(Bunney and Bunney, 2000; Reppert and Weaver, 2001). Os rompimentos nos

ritmos biológicos estão fortemente associados com transtornos do humor. De fato

alguns das características de algumas doenças como depressão maior e transtorno

de humor bipolar são anormalidades no ciclo sono/vigília, apetite, e nos ritmos

sociais (Boivin, 2000; Bunney & Bunney, 2000; Lenox et al., 2002; Grandin et al.,

2006). Sintomas depressivos são também diurnos com a maioria dos sintomas

ocorrendo tipicamente pela manhã (Rusting & Larsen, 1998), e depressão é mais

prevalente em áreas do mundo que recebem pouca luz na maior parte do tempo

(Booker et al.,1991). Estudos têm evidenciado que os transtornos do humor como

depressão maior e transtorno do humor bipolar podem ser mais prevalentes em

indivíduos que nasceram com pulso de disparo anormalmente deslocado ou

arrítmico. O ritmo circadiano anormal está relacionado a uma variedade de funções

fisiológicas incluindo temperatura corporal, cortisol plasmático, pressão arterial,

pulso, e melatonina que se demonstram alterados em pacientes com depressão e

transtorno de humor bipolar (Atkinson et al., 1975; Kripke et al., 1978; Souetre et al.,

1989).

Queixas especificas de sono podem incluir despertares durante a noite,

despertar precoce, dificuldade de manter o sono, pobre qualidade de sono, redução

do tempo de sono, sensação de que dormiu e não descansou e pesadelos. As

maiorias dos pacientes com transtorno de humor bipolar também relatam insônia

quando em depressão, mas uma percentagem significante desses relata sintomas

de hipersonia, com dificuldade para levantar, tempo prolongado de sono durante a

noite e/ou excessiva sonolência diurna.

Três linhas de pontos de evidências apontam para a importância do sono em

transtorno bipolar. Primeira indução experimental de privação de sono está

associada com o inicio de hipomania ou mania em uma proporção considerada de

pacientes (Wu & Bunney, 1990). Segunda, em uma revisão sistêmica de 11 estudos

Page 33: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

33

envolvendo 631 pacientes com transtorno bipolar, alterações de sono foram o

pródromo mais comum de mania (relatado por 77% dos pacientes) e o sexto

pródromo mais comum em depressão bipolar (relatado por 24% dos pacientes)

(Jackson & Scott, 2003). Terceira, o ciclo sono/vigília tem sido o componente central

da conceitualização teórica do transtorno bipolar. Hipóteses têm sido levantadas que

pacientes com transtorno bipolar tem uma condição genética que pode levar a uma

instabilidade do ritmo circadiano. Estresses psicossociais são possíveis causas de

rompimento da rotina e do sono, que, em conseqüência, alteram o ritmo circadiano

tornando-se um gatilho para um episódio (Goodwin et al. 1990.; Wehr et al. 1990). A

relação entre mania e diminuição do tempo de sono é particularmente aparente no

início de um episódio maníaco, quando uma escalação típica de três estágios foi

descrita (Carlson and Goodwin, 1973). No começo de um episódio maníaco clínicos

freqüentemente observam uma privação espontânea de sono devido a uma

hiperatividade do paciente, resultando em um aumento dos sintomas maníacos e

depois uma subseqüente perda do sono. Então, a perda de sono parece agir não

apenas como um fator provocando a mania, mas também como um fator que

aumenta durante um episódio maníaco resultando na piora dos sintomas seguidos

por uma consistente perda de sono. (Barbini et al.,1996). Muitas hipóteses considerando a função do sono têm sido propostas. Uma

dessas sugere que os períodos de sono são favoráveis para a plasticidade cerebral

(Benington & Frank,2003). Esta capacidade do cérebro mostrar plasticidade

possibilita-o realizar novas funções por mudanças dos elementos do núcleo central

dos nichos (lugares) e/ou conecções em resposta as restrições ambientais (Vayman

& Gómez-pinilla, 2005). Sugeriu-se que o papel do sono em favorecer a plasticidade

cerebral pode ser multidimensional e abranger os processos que variam da

reativação dos ensembles neuronais durante o sono no pós-treinamento as

mudanças celulares (Maquet,2001).

Harvey e col. mostraram em um estudo de sono em pacientes bipolares que

os distúrbios de sono eram um problema significativo em 70% desses pacientes,

definitivamente, mesmo quando estavam eutímicos, e 55% fechavam critério para o

diagnóstico de insônia. Esses achados somados as evidências prévias indicam que

os pacientes bipolares apresentam sintomas relacionados aos distúrbios de sono

mesmo quando não estão na fase aguda da doença (Hlastala at col. 2003).

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4 JUSTIFICATIVA

Considerando que as alterações de sono são um problema de grande

repercussão na saúde geral e na fisiologia e patologia, ainda não existem estudos

que associem alterações de sono com a qualidade de vida dos pacientes com

Transtorno de Humor Bipolar em eutimia.

Page 56: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

56

5 OBJETIVOS 5.1 Objetivo geral Este estudo visa avaliar a prevalência de pacientes com THB em eutimia, que

apresentam distúrbio do sono. Além disso, avaliar o impacto do distúrbio do sono na

qualidade de vida, na incapacidade e em seu funcionamento global.

5.2 Objetivo específico

• Avaliar a prevalência do distúrbio do sono através das questões 4,5 e 6 da

escala Hamilton Depressão em pacientes bipolares do tipo I em eutimia

diagnosticados pelo DSM IV;

• Avaliar se os pacientes com distúrbio do sono apresentam prejuízo na

qualidade de vida, avaliada através de escores da WHOOQOL.;

• Avaliar se os pacientes bipolares com distúrbio do sono apresentam

incapacidade, avaliada através da escala Sheehan.

• Avaliar se os pacientes bipolares com distúrbio do sono apresentam prejuízo

na funcionalidade global, avaliada através da Global Functional Assessment

Scale (GAF).

Page 57: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

57

6 METODOLOGIA

6.1 Delineamento Estudo transversal com amostragem por conveniência.

6.2 População Pacientes com diagnóstico de pacientes com diagnóstico de transtorno bipolar

atendidos no Ambulatório de Transtorno Bipolar do HCPA (PROTAHBI) e na

Unidade de Internação Psiquiátrica do HCPA.

6.3 Critérios de inclusão para pacientes 1) Diagnóstico de Transtorno de Humor Bipolar – eutímico, de acordo com os

critérios do DSM-IV.

2) Idade entre 18-60 anos.

3) Capacidade de entender e fornecer consentimento informado.

6.4 Critérios de inclusão para controles 1) Sem diagnóstico psiquiátrico ou história de tratamento psiquiátrico.

2) Sem história familiar de transtorno bipolar, esquizofrenia, depressão ou

outro transtono psicótico.

3) Capacidade de entender e fornecer consentimento informado.

6.5 Critérios de exclusão: 1) Doença clínica importante (HIV, diabetes melitus, hepatite, doença renal).

7 ASPECTOS ÉTICOS

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58

Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento informado

previamente ao estudo. Foi assegurada a ausência de vinculação da concordância

em participar do estudo com a continuidade do atendimento no programa de

atendimento de transtorno de humor bipolar (PROTAHBI).

Este estudo abrangeu os princípios bioéticos de autonomia, beneficência,

não-maleficência, veracidade e confidencialidade, sendo aprovado pelo Comitê de

Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Page 59: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

59

8 ARTIGO

Submetido para a revista Sleep and Breathing

Sleep in bipolar patients

Larriany M.F. Giglioa, Ana C. Andreazzaa,b, Mônica Andersen, Keila M. Cereséra

Julio C. Walza , Laura Sterza, Flávio Kapczinskia

a Bipolar Disorders Program, Centro de Pesquisas, Hospital de Clínicas de Porto

Alegre

b Department of Biochemistry, ICBS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

Porto Alegre, RS, Brazil

Corresponding author: Larriany Giglio

Bipolar Disorders Program-Centro de Pesquisas

Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Rua Ramiro Barcelos, 2350

90035-003

Porto Alegre, RS

Brazil

Tel.: +55 51 32227309

Fax: +55 51 21018846

E-mail address: [email protected]

Page 60: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

60

ABSTRACT Background: Sleep disturbance has been described in bipolar disorder

(BPD). Specific complaints may include frequent nighttime awakenings, poor quality

of sleep, reduction in total sleep time and nightmares. Most patients with BPD also

report insomnia when in depression, but a significant percentage of patients report

hipersomnia symptoms with prolonged night time sleep, difficult in wakening and

excessive day time sleepiness. Objectives: The present study aims to investigate

whether bipolar patients with sleep disorders presented impairment in quality of life,

disability and global function. Methods: One hundred ninety bipolar patients type I

diagnosed by application of Structured Clinician Interview for DSM-IV Disorders

(SCID), were distributed in two groups based on absence or presence of sleep

disorders. Quality of life, disability and global dysfunction were evaluated using the

Health Organization’s Quality of Life instrument (WHOQOL-Brief), the Sheehan

Disability Scale and the Global Assessment of Functioning (GAF), respectively.

Results: Sleep complaints have negative influence on general quality of life,

observed by decreased scores in WHOQOL and GAF domains and increased

Sheehan scores, indicating the importance of maintenance of normal sleep in bipolar

patients. Conclusion: Our results suggest that sleep complains impair quality of life

and global function. Collectively, further studies are warranted to investigate the

impairment of sleep disturbance on others neurotrophic factors and neurochemical

pathways.

Key words: Bipolar Disorder, Sleep, Quality of life, Insomnia, Disability, GAF

Page 61: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

61

INTRODUCTION

Sleep is an active state, critical for our physical, mental and emotional well-

being and is favorable for brain plasticity [1-3]. Several studies showed that sleep

periods encompass processes ranging from reactivation of neuronal ensembles

during post-training sleep to molecular changes [1, 4]. Further, sleep is important for

optimal cognitive and overall functioning [5]. However, sleep disorders are very

common in the general population, affecting 10-20% of adults [6, 7] with an impact in

daytime functioning [8].

Sleep disorder coexists with a number of physical and psychiatry conditions,

including psychoses, anxiety disorders and mood disorders [5-7]. The sleep-wake

cycle has been a core component of theoretical conceptualizations of bipolar disorder

(BPD) and circadian rhythm instability is a frequent complaint in these patients [9].

Insomnia as well as hypersomnia with prolonged night time sleep, difficulty in

awakening and excessive daytime sleepiness are often experienced by depressive

bipolar patients [10]. Longitudinal studies have shown that the insomnia is often

perceived as a symptom of depression, but it is also associated with a substantial

increase in the relative risk of major depression [5, 6]. Moreover, a systematic review

showed that seep disturbance was the most common prodrome of mania [9, 11].

BPD is frequently associated with difficulties with social, interpersonal

relationships and occupational functioning [12]. Bipolar patients showed poor quality

of life, particularly in physical and psychological domains when assessed by the

WHOQOL [13, 14]. Individuals with both depressive symptoms and sleep complaints

showed lower QOL and more difficulties in work activities than patients without mood

symptoms [8]. Moreover, sleep disturbance and depressive symptoms are especially

related to exhaustion, fatigue and reports of extra bed time [11].

Thus, we questioned if sleep plays an additional role that contributes to

the difficulties persons with BPD experience in physical, psychological, social and

environmental domains. This study was therefore conducted to evaluate the influence

of sleep disturbance in quality of life assessed by WHOQOL in euthymic bipolar

patients.

Materials and methods One hundred ninety bipolar patients’ type I diagnosed by application of SCID

[15] from General Hospital of Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil were assessed

Page 62: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

62

in a cross-sectional design. The entire evaluation included, besides SCID I, a

questionnaire for demographic, social and clinical information; Hamilton Depression

Rating Scale [16]; Young Mania Rating Scale [17]; Global Assessment of Functioning

[18]; Sheehan Disability Scale [19] and WHOQOL-Brief [20]. Trained researches

made all interviews and the General Hospital of Porto Alegre ethical committee

approved this project (07553). After being provided with a complete description of the

study, written informed consent to participate was obtained from all participants. The

inclusion criteria was patients have bipolar disorder type I, diagnosed by SCID and

was in euthymia (HAM-D <7 and YMRS<7).

The patients were separated in two groups, presence and absence of sleep

complaints. Patients were present score equal or higher than 17 in the questions 4, 5

and 6 of the Hamilton Depression Rating Scale were considered to have sleep

problems.

Data analysis

Histograms and the Kolmogorov–Smirnov test were used to check variables for

normality. This sample presented normal distribution. In order to test the hypothesis

that there would be a discrepancy between self-reported QOL and functional

(objective) measures in bipolar patients we used Chi-square tests for verify the

differences in proportions between the groups, while t-tests were employed to

compare means between groups. Statistical significance was set at p<0.05.

RESULTS Table 1 describes the patients in terms of demographic and socioeconomic

variables. There were more women than men in our sample and half of the patients

were aged 40-59 years. 58.42% (111) of bipolar patients presented sleep problems.

Table 2 show alteration in QOL, disability (Sheehan disability) and global

assessment function (GAF) in bipolar patients. Patients with sleep problems showed

worse quality of life scores in all domains (physical;t=5,041; df=178 p<0.001,

psychological; t=4,67; df178; p<0.001, social; t=2,407; df=178; p=0.017 and

environmental;t=2,843; df=178 p=0.005). We also observed that the score of physical

and psychological domains presented worse impairment than social and

environmental domains (14.72%, 14.15%, 8.35% and 6,.68%, respectively). Sheehan

disability scales verify impairment in tree domains: work social comportment and

Page 63: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

63

familial, since that bipolar patients with sleep alteration presented high scores in

every domain indicating functional impairment in these patients (2.46%, 2.05%,

1.63%, respectively). Confirming the results obtained in the Sheehan scale, the GAF

presented a diminished score in BP with sleep dysfunction representing 6.66% of

worse, representing functional impairment in these patients.

Discussion Our aim was to investigate the sleep-related quality of life in euthymic bipolar

patients. Although patients experienced symptomatic recovery with low scores of

HAM-D and YMRS, the sleep disturbance remained 58.42% of our sample. One

reason for high rates of sleep disturbance reported in the current study is the lack of

proper routine experienced by bipolar patients. Furthermore, patients with both BPD

and sleep disturbance showed lower quality of life than bipolar patients that did not

experienced insomnia. Bipolar patients with impaired sleep might feel especially

exhausted with need for more time in bed which could explain the physical disability.

Furthermore, the poor quality of sleep promotes difficulties in concentration, learning

and memory. Although a body of evidence reported that quality of life was inversely

correlated with the level of depression, a comparison study between bipolar and

unipolar patients suggested that the level of depression did not fully explain the lower

quality of life within patients with BPD [21, 22]. We demonstrated here that the sleep

alteration was another factor that contributes to low quality of life experienced by

bipolar patients. In accordance with our results, Harvey et al. [9] have reported that

70% of bipolar patients experienced sleep alteration and it was associated with low

daytime activity levels.

In addition to being associated with quality of life, three lines of evidence

point to the importance of sleep in bipolar disorder. First, experimentally induced

sleep deprivation is associated with the onset of hypomania and mania in a

considerable proportion of patients. Second, in a systematic review of studies of

patients with bipolar disorder, sleep disturbance was the most common prodrome of

mania and the sixth most common prodrome of bipolar depression. Third, the sleep-

wake cycle has been a component of theoretical conceptualizations of bipolar

disorder. It has been hypothesized that bipolar disorder patients have a genetic

diatheses that may take the form of circadian rhythm instability [9].

Page 64: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

64

In fact, sleep disturbance has been considered as a cardinal symptom of

endogenous depression, and it is known that sleep deprivation exerts an

antidepressant effect [23]. It is rare that some form of sleep “change” is not

associated with the presence of clinical depression. The essential linkage of sleep

disturbance and clinical depression has long been recognized [24]. The relationship

between mania and sleep loss is particularly apparent at the beginning of a manic

episode, when a typical three-stage escalation has been described [25]. At the

beginning of a manic episode, clinicians often observe spontaneous sleep

deprivation, due to the hyperactivity of the patient, resulting in an increase in manic

symptomatology and then in subsequent sleep loss [26]. Thus, sleep loss appears to

act not only as a triggering factor of mania, but also as an augmenting factor during

the manic episode, with worse symptomatological outcomes following consistent

sleep loss [26].

Finally, it has been suggested that sleep periods are favorable for brain

plasticity [27]. Recent studies have provided evidence that the expression of genes

involved in synaptic plasticity is affected by sleep-wake state. For example, the

phosphorylated form of cAMP response element binding protein (CREB), important

transcription factor, is present at higher levels after periods of waking than periods of

sleep [28]. Down-regulation of phosphorilated CREB was observed in post-mortem

brain tissue of affective patients [29]. Furthermore, selective REM sleep deprivation

(6h) suppresses brain derived neurotrophic factor (BDNF) protein levels in the

cerebellum and brainstem without producing changes in the hippocampus [30]. Our

group has demonstrated that BDNF levels were decreased in manic and depressed

BPD patients [31] and this was negatively correlated with manic symptoms [32]. Of

note, BDNF has been involved in memory and learning [33], and trophic actions,

such as altered neuronal plasticity and cellular morphology while CREB is a

transcription factor and one of the genes regulated by the cAMP-CREB cascade is

BDNF [34].

Consideration that (1) sleep dysfunction leads to alteration in

neurotrophic and transcription factors; (2) these factors are very important for

maintaining the normal neuronal plasticity; (3) sleep dysfunction has been described

in BPD, our results suggest that sleep complains impair quality of life and global

function. Collectively, further studies are warranted to investigate the impairment of

sleep disturbance on others neurotrophic factors and neurochemical pathways.

Page 65: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

65

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Page 68: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

68

Chi-square SigGender Female 0,001 0,974 Male

Mean SD Mean SD T-test SigYear of Age 40,26 9,75 44,05 12,08 -2,23 0,126Age of on set 23,32 11,08 26,94 12,29 -2,24 0,044Years of illness 16,96 11,31 17,15 11,72 -0,11 0,913NYU 5,04 8,75 7,32 11,61 -1,4 0,16HAM-D Score 5,36 5,25 12,68 7,04 -7,58 0,001YMRS 3,88 5,67 5,23 5,76 -1,55 0,122

38,90%61,40%61,10%

Sleep DisfunctionAbsence (n=69) Presence (n=111)

38,60%

Mean SD Mean SD F Sig t df Sig (2-tailed)WHOQOLPhisical Domain 61,56 19,62 46,84 18,57 0,31 0,578 5,041 178 0,001Psychological Domain 60,24 21,23 46,09 18,79 2,605 0,108 4,67 178 0,001Social Domain 57,97 24,01 49,62 21,7 0,448 0,504 2,407 178 0,017Environmetal Domain 58,85 17,2 52,17 14,04 3,712 0,056 2,843 178 0,005

SHEEHAN DISABILITYWork Domain 3,52 3,64 5,98 3,46 1,717 0,192 -4,595 178 0,001Social Domain 3,75 6,05 3,45 2,704 0,102 -3,801 178 0,001Familial Domain 3,02 3,49 4,83 3,34 0,56 0,455 -3,523 178 0,001

GAF 66,54 16,22 59,88 12,87 7,262 0,008 3,101 178 0,002

t-test for Equality of MeansSleep Disfunction

Absence (n=69) Presence (n=111) Levene's Test

Table 1. Sociodemographic variables among patients

Table 2. QOL, disability (Sheehan disability) and global assessment function (GAF)

in bipolar patients.

Page 69: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

69

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nosso objetivo foi investigar a qualidade de vida relacionada ao sono em

pacientes bipolares - tipo I em estado de eutímia. Apesar dos pacientes terem

apresentado uma recuperação sintomática mostrada pelo baixo índice na HAM-D e

YMRS, as questões que se referem a alterações de sono mostraram-se alteradas

em 58,42% da nossa amostra. Um das razões para as altas taxas de distúrbio do

sono apresentada nesse estudo é a falta de uma rotina adequada dos pacientes

bipolares, o que é facilmente observado na clinica. Além disso, pacientes com THB e

distúrbio do sono apresentaram pior qualidade de vida que os pacientes com THB

sem queixa de insônia. Os pacientes com distúrbio do sono sentem-se

especialmente exausto com maior necessidade de tempo no leito o qual pode

explicar a incapacidade física. Ainda a pobre qualidade do sono promove

dificuldades na concentração, no aprendizado e na memória. Embora existam

evidências mostrando que a qualidade de vida é inversamente correlacionada com o

grau de depressão, um estudo comparativo entre pacientes bipolares e unipolares

sugere que o grau de depressão não explicava completamente à baixa QV dentre

pacientes com THB (Berlim et al., 2004; Yathan et al., 2004).

Neste estudo nós demonstramos que a alteração do sono pode ser um

importante fator para a baixa QV dos pacientes bipolares. Em consonância com os

nossos resultados, Harvey et al. (2005) reportaram que 70% dos pacientes bipolares

apresentaram alteração de sono e estava associada com baixos níveis de atividades

diária.

Além do distúrbio de sono estar associado com a qualidade de vida, três

linhas de evidência apontam para a importância do sono no THB. A primeira mostra

que a indução de privação de sono está associada com o início da hipomania e

mania em uma proporção considerável de pacientes bipolares. Em segundo, o

distúrbio do sono foi associado como um dos pródomos mais comuns para o inicio

de um episódio de mania e o sexto pródromo mais comum de depressão bipolar. Em

terceiro, o ciclo sono/vigília tem sido um componente de conceptualizações teóricas

do THB. Tem sido hipotetizado que pacientes bipolares têm uma diástese genética

que pode levar a instabilidade do ritmo circadiano (Harvey et al., 2002).

Page 70: ASSOCIAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES DO SONO E QUALIDADE DE ...

70

O distúrbio de sono tem sido considerado como um sintoma cardinal de

depressão endógena (Adrien, 2002), além disso, é raro que alguma forma de

“mudança” no sono não esteja associada com a presença de depressão clinica

(Kupfer, 2006). Os distúrbios de sono não estão associados somente a depressão,

mas também a quadros de mania (Carlson and Goodwin, 1973). Tem sido

demonstrado que no início de um episodio maníaco os clínicos freqüentemente

observam uma privação espontânea do sono, devido à hiperatividade do paciente,

resultando em um aumento dos sintomas maníacos e então na subseqüente perda

do sono. Conseqüentemente, a perda de sono parece agir não só como um gatilho

para a mania, mas também como um fator agravante no episodio maníaco levando a

um pior resultado sintomatológico seguido de consistente perda de sono.

Finalmente, foi sugerido que períodos de sono são favoráveis a plasticidade

do cérebro (Guzman-Marin et al., 2006). Estudos recentes têm disponibilizado

evidências que a expressão dos genes envolvidos na plasticidade sináptica está

alterada no ciclo sono-vigilia. Por exemplo, a forma fosforilada do CREB, importante

fator de transcrição, está presente em altos níveis após períodos de vigília quando

comparados aos períodos de sono. Baixa regulação do CREB fosforilado em tecido

cerebral pós-morte de pacientes bipolares (Young et al., 2004). Além disso, privação

do sono REM (6h) suprime os níveis protéicos do fator neurotrófico derivado do

cérebro (BDNF) no cerebelo e tronco cerebral sem mudança na produção no

hipocampo (Sei et al., 2000). Nosso grupo demonstrou que níveis de BDNF estavam

diminuídos em pacientes maníacos e deprimidos e isso tem correlação negativa com

os sintomas maníacos (Machado-Vieira et al., 2006). O BDNF está envolvido em

memorização, aprendizado (Tramontina et al., 2007), assim como as ações tróficas,

como a plasticidade neuronal alterada e morfologia celular, enquanto CREB é um

fator de transcrição e um dos genes regulados pela cascata AMPc-CREB.

Considerando que (1) distúrbio do sono leva a alterações nos fatores

neurotróficos e de transcrição; (2) esses fatores são muito importantes para manter a

plasticidade neuronal normal; (3) distúrbios do sono foram descritos em pacientes

bipolares, nossos resultados sugerem que queixas de sono interferem na QV e na

função global. Assim, futuros estudos devem ser realizados para investigar o efeito

do distúrbio de sono em outros fatores neurotróficos e caminhos neuroquímicos.

Futuros estudos são justificáveis para pesquisar especificamente alterações

no ritmo circadiano, dentre elas os distúrbios do sono em pacientes bipolares, pelo

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impacto observado na vida desses pacientes. Uma escala específica seria relevante

para avaliação e tratamento desse distúrbio concomitantemente com o tratamento

medicamentoso.

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