Associações macrofaunais em áreas sujeitas à dragagem do ... · das associações da macrofauna...

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Leonardo Morrissy Hostin Biólogo, Mestre em Zoologia (UFPR) Colaborador do Laboratório de Bentos do Centro de Estudos do Mar (UFPR) [email protected] Leonardo Sandrini-Neto Acadêmico de Oceanografia do Centro de Estudos do Mar (UFPR) [email protected] Verônica Maria de Oliveira Bióloga, Mestranda de Zoologia (UFPR) [email protected] Associações macrofaunais em áreas sujeitas à dragagem do Complexo Estuarino de Paranaguá (CEP) Macrofaunal associations along navigational channels of Paranaguá bay Este trabalho descreve as associações macrofaunais dos canais de acesso e bacias de evolução dos terminais portuários da Baía de Paranaguá. Estes dados servirão como subsídio para a avaliação de impactos de futuras dragagens e deposição de material dragado. Um marcado gradiente ambien- tal com os setores marinho, euhalino, polihalino e mesohalino ocorre no eixo leste-oeste da baía. Poliquetas foram importantes em todos os setores, enquanto os Echinoidea foram numericamente dominantes no setor marinho e o gastrópode Heleobia australis no mesohalino, caracterizado por distúrbios naturais freqüentes. Devido à sua estratégia de vida oportunista, H. australis pode ser con- siderada bio-indicadora de perturbações antrópicas como dragagens e deposição de sedimentos. Palavras-chave: diversidade de Shannon-Wiener, gradiente de salinidade, Heleobia australis, dra- gagem, macrofauna bêntica. This paper describes macrofaunal associations along navigational channels of Paranaguá Bay as a background survey to evaluate potential impacts from dredging activities and sediment disposal. A strong environmental gradient with marine, euhaline, polyhaline and mesohaline sectors occur from the upper to the lower reaches of the bay. Polychaetes were important in all sectors, whereas Echinoidea were numerically dominant in the marine sector and the gastropod Heleobia australis in the mesohaline sector, characterized by frequent natural disturbances. As an opportunistic stra- tegist, H. australis can be treated as a bio-indicator of man-made disturbance, such as dredging and sediment disposal. Keywords: Shannon-Wiener diversity index, salinity gradient, Heleobia australis, dredging acti- vity, benthic macrofauna.

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Leonardo Morrissy HostinBiólogo, Mestre em Zoologia (UFPR)

Colaborador do Laboratório de Bentos do Centro de Estudos do Mar (UFPR)[email protected]

Leonardo Sandrini-NetoAcadêmico de Oceanografi a do Centro de Estudos do Mar (UFPR)

[email protected]

Verônica Maria de OliveiraBióloga, Mestranda de Zoologia (UFPR)

[email protected]

Associações macrofaunais em áreas sujeitas à dragagem do Complexo

Estuarino de Paranaguá (CEP)Macrofaunal associations along

navigational channels of Paranaguá bay

Este trabalho descreve as associações macrofaunais dos canais de acesso e bacias de evolução dos terminais portuários da Baía de Paranaguá. Estes dados servirão como subsídio para a avaliação de impactos de futuras dragagens e deposição de material dragado. Um marcado gradiente ambien-tal com os setores marinho, euhalino, polihalino e mesohalino ocorre no eixo leste-oeste da baía. Poliquetas foram importantes em todos os setores, enquanto os Echinoidea foram numericamente dominantes no setor marinho e o gastrópode Heleobia australis no mesohalino, caracterizado por distúrbios naturais freqüentes. Devido à sua estratégia de vida oportunista, H. australis pode ser con-siderada bio-indicadora de perturbações antrópicas como dragagens e deposição de sedimentos.

Palavras-chave: diversidade de Shannon-Wiener, gradiente de salinidade, Heleobia australis, dra-gagem, macrofauna bêntica.

This paper describes macrofaunal associations along navigational channels of Paranaguá Bay as a background survey to evaluate potential impacts from dredging activities and sediment disposal. A strong environmental gradient with marine, euhaline, polyhaline and mesohaline sectors occur from the upper to the lower reaches of the bay. Polychaetes were important in all sectors, whereas Echinoidea were numerically dominant in the marine sector and the gastropod Heleobia australis in the mesohaline sector, characterized by frequent natural disturbances. As an opportunistic stra-tegist, H. australis can be treated as a bio-indicator of man-made disturbance, such as dredging and sediment disposal.

Keywords: Shannon-Wiener diversity index, salinity gradient, Heleobia australis, dredging acti-vity, benthic macrofauna.

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1 Introdução e objetivoO bentos compreende as associações de organismos aquáticos que vivem dentro ou sobre

os substratos de fundo. Estas características resultam numa certa uniformidade de seus modos de vida, embora possuam distintas origens filogenéticas (Day et al., 1989). Mais especifica-mente, a macrofauna bêntica é o subconjunto deste compartimento formado por pequenos animais com tamanho entre 0,5 e 2 mm.

Em sistemas estuarinos, o bentos desempenha forte efeito estruturador, regulando ou mo-dificando a maioria dos processos físicos, químicos e biológicos (Day et al., 1989; Snelgrove, 1997; Rosenberg, 2001). Estes organismos possuem espécies comercialmente importantes de moluscos e crustáceos, além de servirem como fonte de alimento para peixes de interesse econômico (Soares et al., 1997). Por refletirem com precisão as condições locais integradas ao longo do tempo, as comunidades bênticas são amplamente utilizadas em estudos de impactos ambientais (Warwick, 1993).

As atividades de dragagem e descarte de material dragado são distintas quanto às formas de impacto na estrutura das comunidades bênticas e quanto aos períodos necessários a sua recuperação. De maneira geral, a retirada de sedimentos do fundo provoca uma diminuição no número de espécies e indivíduos, freqüentemente envolvendo alterações nos padrões de dominância e distribuição destes organismos (Soares et al., 1996).

No processo de recolonização de um ambiente alterado, as espécies oportunistas são as primeiras a colonizarem o local, ocupando rapidamente as áreas perturbadas (Soares et al., 1996). Em uma revisão da literatura clássica, observou-se que as comunidades macrofaunais, tipicamente de habitats estressados, são mais resilientes se comparadas a ambientes mais es-táveis. Naqueles, recuperando-se em média após nove meses e, nestes, demorando de um a quatro anos para recobrar as comunidades originais (Bolam, 2003).

Este estudo foi parte integrante do Programa CAD1, e descreve a estrutura e abundância das associações da macrofauna bêntica dos canais de acesso, berços e bacias de evolução dos terminais portuários do Complexo Estuarino de Paranaguá - PR sujeitos às atividades de draga-gem, além da Área Circular Externa (ACE), local proposto para despejo. Estes dados servirão como subsídio a avaliação de impactos de futuras dragagens e deposição de material dragado.

(1) Contaminação, Assoreamento e Dragagem no Estuário de Paranaguá. Ver artigo da Dra. Eliane Bêe Boldrini nesta publicação.

2 Material e métodosForam amostrados 31 pontos nos dias 20 e 21 de julho de 2006, dos quais 25 distribuíram-

se ao longo dos canais de acesso e bacias de evolução dos portos de Paranaguá e Antonina e na área de despejo ACE. Os outros seis, localizados em áreas adjacentes, foram determinados como pontos-controle (Figura 1). Em cada um dos pontos foram coletadas três réplicas com o auxílio de um pegador de fundo do tipo petite-ponar (Wild Co), com área de amostragem de 0,023 m2, totalizando 93 amostras. Durante as coletas, as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos previamente etiquetados. Posteriormente, no Laboratório de Bentos do Centro de Estudos do Mar (UFPR), o material foi lavado em peneiras de malha 0,5mm e 1mm, e fixa-do com formaldeído 4%, por pelo menos 48 horas. Em seguida, as amostras foram transferidas para potes plásticos com álcool 70% e triadas em microscópio estereoscópico. Os organismos

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separados foram identifi cados ao nível específi co ou em morfotipos e quantifi cados com o auxílio de microscópio.

Para fi nalidade de análise, a área estudada foi dividida em quatro setores distintos, se-gundo gradientes ambientais de salinidade e energia descritos em Lana (1986) e Netto e Lana (1997). A divisão dos setores em marinho, euhalino, polihalino e mesohalino seguiu a nomen-clatura utilizada neste último trabalho (Figura 1).

A estrutura das associações da macrofauna foi descrita através do índice de diversidade de Shannon-Wiener (H´), sendo determinado por: H’ = -∑i pi log2 (p1), em que pi é a proporção de cada espécie em relação ao total de indivíduos. Somente os pontos de coleta com réplicas contendo organismos foram incorporados à análise.

A distribuição espacial dos setores pela estrutura das associações bênticas foi avaliada com a aplicação da análise de escalonamento multidimensional (MDS), com a matriz de si-milaridade calculada pelo índice de similaridade de Bray-Curtis. Para tal, foram excluídos os táxons que ocorreram em menos de três amostras e as réplicas com menos de dois táxons. Com o intuito de reduzir a variabilidade gerada pelas espécies numericamente dominantes, os dados brutos sofreram a transformação log (x+1). A análise de similaridade (ANOSIM) foi empregada para avaliar a signifi cância dos agrupamentos formados no MDS. Finalmente, a ro-tina SIMPER (percentual de similaridade) foi utilizada para hierarquizar as espécies que mais contribuíram para as similaridades e dissimilaridades dentro e entre os grupos, ordenados ini-cialmente pelo MDS e signifi cativamente separados pela ANOSIM (Clark e Warwick, 1994).

O índice de diversidade de Shannon-Wiener e as análises multivariadas (MDS, ANO-SIM e SIMPER) foram gerados a partir do pacote estatístico PRIMER (Plymouth Routines In Multivariate Ecological Research) versão 6 para Windows, com a apresentação gráfi ca dos parâmetros da comunidade gerada no software Statistica (StatSoft®) versão 6 para Windows.

Figura 1 – Mapa do Complexo Estuarino de Paranaguá indicando os pontos de coleta no canal de navegação e pontos controle. Setores estudados: Meso – mesohalino; Poli – poliha-lino; Euha – euhalino; Mari – marinho. ACE – área circular externa (local proposto para depósito das dragagens).

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3 ResultadosForam identificados 91 táxons, dos quais os Annelida compõem 53,9%, os Arthropoda

17,6% e os Mollusca 15,4%. Dos 14.247 organismos contabilizados, 95,16% (13.558 indiví-duos) pertencem ao filo Mollusca; 3,8% (542) ao filo Annelida; 0,32% (46) aos Arthropoda e 0,71% (101) se referem ao somatório dos filos Cnidaria, Phoronida, Nematoda, Nemertea, Echinodermata, Sipuncula e Chordata. Na tabela 1 estão categorizadas todas as espécies e morfotipos encontrados e seu Filo correspondente, indicando suas abundâncias e freqüências relativas.

Ao longo dos setores, a disposição das médias e erros-padrão da diversidade de Shannon-Wiener foi bastante variada, com o euhalino apresentando as maiores amplitudes de variação (Figura 2). As menores médias encontram-se em um ponto no setor polihalino e em três no mesohalino, refletindo a elevada dominância numérica do gastrópode Heleobia australis. De maneira geral, as diversidades médias dos pontos-controle foram similares às médias da maio-ria dos pontos analisados, assim como a dispersão dos erros-padrão. Nos pontos-controle do setor polihalino e em um ponto do setor euhalino não são apresentadas as médias de diversida-de devido a ausência de indivíduos em algumas das réplicas (Figura 2).

A análise de escalonamento multidimensional (MDS) demonstrou que as estações de coleta estão dispostas em um marcado gradiente, que corresponde a sua localização geográfica (Figura 3). Os setores marinho e mesohalino formaram agrupamentos melhores definidos, ao contrário dos setores euhalino e polihalino, situados na porção mais intermediária do comple-xo estuarino. Os baixos níveis de significância (< 5%) encontrados pela análise de similaridade (Tabela 2) demonstram que os quatro setores diferem significativamente entre si, justificando assim essa divisão.

A análise dos percentuais de similaridade (SIMPER) revelou que os setores marinho e mesohalino apresentam a dominância de menos táxons quando comparados ao euhalino e polihalino (Tabela 3). De uma maneira geral, a similaridade média de Bray-Curtis entre os pontos em cada setor foi consideravelmente baixa, refletindo em parte a grande variabilidade e complexidade estrutural das associações bênticas dentro de cada setor.

Quatro táxons contribuíram com 85,98% da similaridade de Bray-Curtis dentro do se-tor marinho, com os Echinoidea detendo 51,22% dessa contribuição, seguido dos Nemertea (15,76%), do poliqueta Hemipodus olivieri (12,67%) e do bivalve Strigilla pisiformis (6,33%). No setor euhalino foram seis os táxons que mais contribuíram para a formação do grupo, com os poliquetas Magelona variollamelata e Capitella sp. 2 acumulando 44,08%. Já no setor polihalino, cinco táxons foram responsáveis por 82,26% da similaridade do grupo, com os poliquetas Neanthes bruaca e Kinbergonuphis nonatoi contribuindo com 53,16%. Finalmen-te, no setor mesohalino, apenas dois táxons mais contribuíram para a sua configuração, com o gastrópode Heleobia australis apresentando uma contribuição de 73,28% (Tabela 3). Em geral, a similaridade média de Bray-Curtis entre os pontos dos setores foi baixa, com exceção do mesohalino, com similaridade média de 33,21% (Tabela 3).

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FILO Espécie ou Morfotipo A.T. F.R.CNIDARIA Edwardsia fusca 3 0,021

Hidrozoa 3 0,021

ANNELIDA Oligochaeta 179 1,256Polychaeta n.i.1 2 0,014Capitella sp.1 39 0,274Capitella sp.2 36 0,253

Chaetopteridae sp. 2 0,014Eunicidae sp. 1 0,007

Goniadidae sp. 1 0,007Glycinde multidens 3 0,021

Goniadides carolinae 1 0,007Goniada littorea 1 0,007

Glycera americana 1 0,007Hemipodus olivieri 10 0,07

Magelona sp.1 8 0,056Magelona sp.2 2 0,014

Magelona posterelongata 5 0,035Magelona variollamelata 27 0,19

Clymenella dalesi 1 0,007Nephtys acrochaeta 7 0,049

Neanthes bruaca 37 0,26Scoloplos ohlini 12 0,084

Kinbergonuphis difficilis 8 0,056Kinbergonuphis fauchaldi 3 0,021Kinbergonuphis nonatoi 39 0,274

Armandia hossfeldi 3 0,021Owenia sp. 4 0,028

Aricidea cf. albatrossae 19 0,133Aricidea taylori 3 0,021

Leitoscoloplos sp. 2 0,014Pholoe sp. 3 0,021

Ancistrosyllis sp. 6 0,042Parandalia tricuspis 2 0,014

Sigambra sp. 1 0,007

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Tabela 1 - Filos das espécies e morfotipos identificados com suas respectivas abundâncias totais (A. T.) e freqüências relativas (F. R.).

(1) n.i.= não identificadocontinua...

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FILO Espécie ou Morfotipo A.T. F.R.ANNELIDA Sigambra grubei 5 0,035

Polynoidae sp. 1 0,007

Eunoe serrata 1 0,007Sigalionidae sp. 4 0,028

Sigalion cirriferum 6 0,042Sternaspis sp. 5 0,035

Sthenelais articulata 6 0,042Spionidae sp.1 1 0,007Spionidae sp.2 2 0,014

Paraprionospio pinnata 9 0,063Prionospio dayi 4 0,028Scolelepis sp.1 1 0,007Scolelepis sp.2 1 0,007

Spiophanes bombyx 23 0,161Syllidae sp. 3 0,021Exogone sp. 1 0,007

Syllis magellanica 1 0,007

MOLLUSCA Bivalvia sp. 1 0,007Bivalvia juvenil sp.1 1 0,007Bivalvia juvenil sp.2 1 0,007

Anadara cf. baughmani 1 0,007Bulla striata 5 0,035

Lucina pectinata 4 0,028Nucula sp. 43 0,302

Tagelus plebeius 1 0,007Macoma sp. 2 0,014

Strigilla pisiformis 9 0,063Tellina sp. 3 0,021

Tellina amianta 3 0,021Acteocina candei 2 0,014Heleobia australis 13.482 94,63

ARTHROPODA Crustacea sp.1 1 0,007Crustacea sp.2 2 0,014Crustacea sp.3 1 0,007

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continua...

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FILO Espécie ou Morfotipo A.T. F.R.ARTHROPODA Ogyrides sp. 3 0,021

Larva de Brachyura 1 0,007

Anomura sp. 1 0,007

Paguridae sp. 3 0,021

Amphipoda sp 3 0,021

Platyischnopidae 4 0,028

Caprella scaura 2 0,014

Monocorophium acherusicum 10 0,07

Cumacea 1 0,007

Bowmaniella brasiliensis 3 0,021

Kalliapseudes shubarti 1 0,007

Pinixa sayana 8 0,056

Copepoda 1 0,007

Ostracoda 1 0,007

PHORONIDA Phoronida 1 0,007

NEMATODA Nematoda 27 0,19

NEMERTEA Nemertea 30 0,211

ECHINODERMATA Ophiuroidea sp.1 4 0,028

Ophiuroidea sp.2 1 0,007

Echinoidea sp. 16 0,112

Mellita sp. 1 0,007

SIPUNCULA Sipuncula 1 0,007

CHORDATA Branchiostoma marambaiensis 14 0,098

TOTAL A.T.= 14.247 F.R.= 100%

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Figura 2 - Médias, erros-padrão (±EP) e intervalos com 95% de confiança (±1.96*EP) da Diversidade de Shannon – Wiener (logaritmo na base 2) ao longo dos pontos de coleta. MAR - setor marinho; EUH - setor euhalino; POLI - setor polihalino; MESO - setor mesohalino; CONT – Pontos-controle.

Figura 3 - Análise de escalonamento multidimensional (MDS) gerada sobre a matriz de similaridade da macrofauna bêntica para os diferentes setores do complexo estuarino de Paranaguá (Stress: 0,14).

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ANOSIM unifatorialR global Nível de significância (%)

0.445 0,10Testes pareados

Setores R estatístico Nível de significância (%)Marinho, Euhalino 0.392 0.1Marinho, Polihalino 0.486 0.1

Marinho, Mesohalino 0.595 0.1Euhalino, Polihalino 0.193 0.1

Euhalino, Mesohalino 0.618 0.1Polihalino, Mesohalino 0.425 0.1

Setor Táxon Abundância média

% contribuição

% acumulada

MarinhoSimilaridade

média de Bray-Curtis: 17,85

Echinoidea 0,57 51,22 51,22Nemertea 0,29 15,76 66,97

Hemipodus olivieri 0,23 12,67 79,64Strigilla pisiformis 0,25 6,33 85,98

EuhalinoSimilaridade

média de Bray-Curtis: 18,88

Magelona variollamelata 0,55 22,98 22,98Capitella sp. 2 0,60 21,10 44,08Pinixa sayana 0,35 15,64 59,71

Neanthes bruaca 0,29 10,09 69,81Nucula sp. 0,49 9,86 79,67Nemertea 0,17 3,24 82,90

PolihalinoSimilaridade

média de Bray-Curtis: 17,75

Neanthes bruaca 0,61 40,42 40,42Kinbergonuphis nonatoi 0,51 12,74 53,16

Nucula sp. 0,46 11,55 64,71Oligochaeta 0,62 9,68 74,39

Capitella sp.1 0,32 7,88 82,26MesohalinoSimilaridade

média de Bray-Curtis: 33,21

Heleobia australis 3,75 73,28 73,28

Aricidea cf. albatrossae 0,56 10,96 84,24

Tabela 2 - Análise de similaridade unifatorial aplicada sobre a composição da macrofauna bêntica, considerando os setores como fator.

Tabela 3. Percentual de similaridade (SIMPER) para os setores Marinho, Euhalino, Polihalino e Mesohalino.

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4 DiscussãoTodas as espécies e morfotipos identificados no presente estudo foram relatados em tra-

balhos pretéritos efetuados no Complexo Estuarino Baía de Paranaguá, ou seja, não houve ne-nhuma ocorrência nova. Em geral, estudos na região apresentam resultados com fauna similar, entretanto indicam riquezas específicas distintas, devido principalmente às particularidades naturais da área analisada e a esforços amostrais variados.

O MDS apontou uma forte distinção entre os setores, com os agrupamentos marinho e mesohalino sendo melhores definidos. Os valores relativamente altos do R estatístico gerado pela ANOSIM, associados aos baixos níveis de significância, indicam que a similaridade das réplicas dentro dos setores é mais elevada do que entre os setores. Somente a comparação en-tre os setores euhalino e polihalino apresentou um R baixo, indicando uma certa similaridade entre as suas estações. A baixa coesão dos pontos atribuídos aos setores euhalino e polihalino está associada às maiores variações no diâmetro médio dos grãos, grau de seleção e concen-tração de matéria orgânica dos sedimentos (Lamour et al., 2006). A elevada complexidade na composição e textura dos sedimentos nestes setores, possivelmente, contribui para a formação de agregados de organismos (patches), que podem variar em pequena escala espacial.

O percentual de similaridade (SIMPER) indicou que os Equinoidea foram os principais representantes do setor marinho. De uma maneira geral, os poliquetas contribuíram fortemente na constituição de todos os setores, particularmente no euhalino e polihalino, onde as espécies Magelona variollamelata, Capitella sp2 e Neanthes bruaca apresentaram elevados percen-tuais de contribuição. No mesohalino, a alta porcentagem do microgastrópode H. australis refletiu suas maiores abundâncias neste setor, contribuindo para formação de um agrupamento coeso no MDS e para a elevada dissimilaridade em relação aos demais setores. Embora o agru-pamento do setor mesohalino tenha sido nítido na análise de escalonamento multidimensional, e sua significância confirmada pela ANOSIM, dois pontos destacam-se do agrupamento prin-cipal. Tal dispersão gráfica está associada à ausência de H. australis nestas amostras.

A distribuição espacial dos parâmetros sedimentares ao longo destes pontos revela um decréscimo acentuado nas porcentagens de matéria orgânica e um aumento nos tamanhos médios dos grãos (Lamour et al., 2006). Esta disposição dos sedimentos pode estar condicio-nando a ausência de H. australis nestes locais, corroborando com os resultados obtidos por Tommasi (1970), que também encontrou grandes densidades deste gastrópode em áreas de baixas salinidades e com altas concentrações de matéria orgânica.

H. australis ocorre nos diversos setores da Baía de Paranaguá, desde os manguezais até fundos sublitorais, com maiores concentrações em áreas submetidas a rápidas e amplas varia-ções de salinidade, como a desembocadura de rios e gamboas. Considerados comedores de epistrato, alimentam-se do filme orgânico que se desenvolve sobre os grãos de sedimento e pa-recem bem adaptados às regiões sob influência marinha, ocorrendo em grandes densidades nos períodos de inverno, devido à maior disponibilidade de alimento. Soares et al. (1996) também encontraram altas densidades, acima de 26 mil indivíduos por m2, enquanto os outros organis-mos encontrados neste estudo não ultrapassaram as densidades de 20 indivíduos por m2.

Considerada uma espécie oportunista, por possuir alta capacidade de dispersão em curtos períodos de tempo, através de migração ativa ou transporte passivo, H. australis apresenta-se como excelente recolonizadora ocupando rapidamente áreas perturbadas por eventos ambien-

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tais ou antrópicos. Tais características atribuem a esta espécie a qualidade de bioindicadora por presença, como sugerido por Lana et al. (1999) em um diagnóstico de impacto e monito-ramento da macrofauna bêntica.

5 Agradecimentos• À Dra. Eliane Bêe Boldrini, da Associação de Defesa do Meio Ambiente e do De-

senvolvimento de Antonina (ADEMADAN), coordenadora do Projeto CAD – Con-taminação, Assoreamento e Dragagem, no qual este trabalho foi desenvolvido;

• Ao Terminal Portuário da Ponta do Félix, à Cattalini Terminais Marítimos Ltda e ao Terminal de Contêineres de Paranaguá pelo financiamento deste trabalho;

• Ao Professor Dr. Paulo da Cunha Lana, pela revisão do manuscrito e por disponibi-lizar o Laboratório de Bentos do Centro de Estudos do Mar/ UFPR;

• Ao Professor Dr. Carlos Alberto Borzone do Centro de Estudos do Mar/ UFPR, pelo auxílio na identificação dos crustáceos;

• À Professora Dra. Theresinha Monteiro Absher do Centro de Estudos do Mar/ UFPR, pelo auxílio na identificação dos moluscos;

• Ao MSc. Marcelo Lamour por nos conceder o mapa da área de estudo.

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DAY Jr., J.W.; HALL, C.A.S.; KEMP, W.M. & YAÑEZ-ARANCIBIA, A. Estuarine ecology. John Wiley; Sons, New York, 558 p. 1989.

LAMOUR, M; SOARES , C. R; SÁ F.; MACHADO, E; HOSTIN, L. M.; SANDRINI-NETO, L. & OLIVEIRA, V. M. PROGRAMA CAD: Histórico das taxas de assoreamento e das áreas de despejo de material dragado, e caracterização dos sedimentos de fundo, comunidade bentônica, contaminantes e toxicidade do canal de acesso aos portos na Baía de Paranaguá, para fins de licenciamento ambiental de dragagem. Coordenação Eliane Beê Boldrini. In Convênio Técnico Científico ADEMADAN entre Terminais Portuários da Ponta do Félix, Cattalini Terminais Marítimos e Terminais de Contêineres de Paranaguá. Antonina, 2006. Relatório Técnico.

LANA, P. C. Macrofauna bêntica de fundos sublitorais não consolidados da baía de Paranaguá (Paraná). Nerítica, Pontal do Sul, PR, v. 1, nº 3. p. 79-90, 1986.

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