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48ARTIGO

ORIGINALNeves PN, Ravelli APX, Lemos JRD. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo-peso (métodomãe canguru): percepções de puérperas. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2010 mar;31(1):48-54.

ATENÇÃO HUMANIZADA AO RECÉM-NASCIDO DE BAIXO-PESO(MÉTODO MÃE CANGURU): percepções de puérperas

Priscila Nicoletti NEVESa, Ana Paula Xavier RAVELLIb, Juliana Regina Dias LEMOSc

RESUMO

A amamentação é uma das principais práticas que promovem a saúde, estando associada à diminuição de doenças e mortalida-de na infância. A partir do trabalho conclusivo de curso, estruturou o presente artigo, que objetivou conhecer as percepções depuérperas frente à utilização do método mãe canguru. De abordagem qualitativa, descritiva e de campo, realizado em Institui-ção Filantrópica na cidade de Ponta Grossa, Paraná, nos meses de agosto a outubro de 2006, participando seis puérperasinseridas no método mãe canguru durante a internação do bebê. Para a coleta aconteceram entrevistas semi-estruturadas e osdados foram analisados pela análise de conteúdo. Este artigo analisou duas categorias, Vivências Maternas com o MétodoMãe Canguru, com as subcategorias: método mãe canguru e o aleitamento materno e vivências na prática canguru; e Conhe-cendo o Método Canguru. Concluiu-se que a enfermagem exerce um papel imprescindível na inserção da família ao método,a partir dos cuidados prestados.

Descritores: Educação em saúde. Humanização da assistência. Prematuro. Enfermagem neonatal.

RESUMEN

La lactancia materna es una de las principales prácticas que promueven la salud, estando ésta asociada a una reducción de la enfermedady la mortalidad de los niños. El estudio es de conclusión de curso de graduación y es una investigación cualitativa, descriptiva y de campoy objetivó conocer las percepciones de las madres con el uso del método madre canguro. Se celebró en un Hospital Filantrópico de la cuidadde Ponta Grossa, Paraná, Brasil, entre los meses de agosto y octubre de 2006, con la participación de seis madres incluidas en el métodomadre canguro durante la hospitalización del niño. La colecta de datos tuvo entrevista semi estructurada y los datos con el análisis decontenido. Este artículo ha analizado solamente dos categorías, Experiencias de la Maternidad con el método madre canguro, con dos subcategorías, método madre canguro y la lactancia materna y, Experiencias en la práctica canguro; y Conociendo el Método Canguro.Concluyó que la enfermería desempeña un papel central en la inserción del método con la familia, con los cuidados.

Descriptores: Educación en salud. Humanización de la atención. Prematuro. Enfermería neonatal.Título: La atención humanizada del recién nacido de bajo peso (método madre canguro): percepción de mujeres en posparto.

ABSTRACT

Breastfeeding is one of the key practices which promote health, being associated with a reduction of diseases and mortality in childhood.Thus, from the course conclusive work, the present article was structured, which aimed to recognize the perceptions of mothers in the faceof the use of the mother kangaroo method. With a qualitative, descriptive and field approach, it was held at the Philanthropic Hospital ofPonta Grossa, Paraná, Brazil, by the months of August to October 2006, in which six mothers were included in the kangaroo mothermethod during the admission of the baby. For the gathering, semi-structured interviews were made and data were analyzed by the contentanalysis. This article analyzed two categories, maternal experience with the mother kangaroo method, with the subcategories: motherkangaroo method and maternal breastfeeding and experiences at the kangaroo practice; and knowing the kangaroo method. As a conclusion,nursing plays an essential role in the insertion of the family to the method, from the provided cares.

Descriptors: Health education. Humanization of assistance. Infant, premature. Neonatal nursing.Title: Humane care newborn low-weight (kangaroo mother method): mother’s perceptions.

a Pós-Graduada em Enfermagem em Centro Cirúrgico, Enfermeira da Prefeitura Municipal de Itapeva, São Paulo, Brasil.b Mestre em Enfermagem, Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),Membro do Grupo de Pesquisa Tecnologias, Informações e Informática em Saúde e Enfermagem (GIATE/UFSC), Professora Assistenteda Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paraná, Brasil.

c Mestre em Patologia, Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Patologia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM),Membro do Grupo de Pesquisa Núcleo de Pesquisa em Patologia Experimental e Humana da UFTM, Professora do Curso de Graduaçãoem Enfermagem da UEPG, Paraná, Brasil.

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INTRODUÇÃO

Ter um bebê em casa é motivo de alegria amuitas famílias e “o diagnóstico positivo é a possi-bilidade real de atender ao desejo de ter o primeirofilho ou ter mais um após outras experiências coma maternidade”(1).

Durante a gravidez, o vínculo afetivo entremãe e bebê tem um desenvolvimento especial a ca-da trimestre, porém é no segundo trimestre que seiniciam os primeiros movimentos fetais, é a pri-meira vez que a mulher sente o feto como uma rea-lidade concreta dentro de si(2).

Tudo o que os futuros pais esperam é umagestação calma, tranqüila e sem intercorrências.Porém, nem sempre isso ocorre, pois muitas vezesacontece um parto prematuro, uma gestação de ris-co, nos quais transtornos inesperados fazem comque o bebê chegue ao mundo antes do tempo pre-visto.

Medo, insegurança, culpa e preocupações, sãosentimentos que invadem a vida dos pais nestemomento, pois se deparam com um bebê recém-nascido, prematuro, frágil, de baixo do peso e ain-da incapaz de sobreviver sem cuidados especiais eintensivos.

O período neonatal compreende os primeiros28 dias de vida após o nascimento. São caracteri-zados como pré-termos, todos os nascidos com ida-de gestacional menor que 37 semanas(3). O concei-to de prematuridade, também sugere “a interrup-ção da gravidez antes de 37 semanas completas(259 dias completos)”(4).

Quando nascem, os bebês pré-termos neces-sitam de cuidados intensificados para garantir amanutenção de sua saúde. Os recém-nascidos pre-maturos apresentam dificuldades respiratórias, di-minuição da temperatura corporal, diminuição dafunção renal, deficiência do aparelho digestivo,maior propensão a hemorragias, maior risco de le-sões retinianas devido ao uso de oxigênio(4). “[...]o número elevado de neonatos de baixo peso aonascimento (peso inferior a 2.500g sem considerara idade gestacional), constitui um importante pro-blema de saúde e representa um alto percentual namorbimortalidade neonatal. Além disso, tem gra-ves conseqüências médicas e sociais (abandono debebês quando a separação é longa e/ou se o custodos cuidados é alto)”(5).

Buscando uma assistência humanizada, o Mi-nistério da Saúde, através da portaria nº 693/2000,

lançou, em 5 de julho de 2000, a Norma de Aten-ção Humanizada do Recém-Nascido de Baixo Peso(RNBP), conhecido como Método Mãe Canguru(MC)(5). Esse método surgiu por volta de 1979 naColômbia, idealizado e implantado pelos doutoresEdgar Rey Sanabria e Hector Martinez, no Insti-tuto Materno-Infantil de Bogotá(6). O MC foi de-senvolvido com a idéia de que, a colocação do re-cém-nascido contra o peito da mãe, promoveriamaior estabilidade térmica, substituindo as incu-badoras, permitindo alta precoce, menor taxa deinfecção hospitalar e conseqüentemente melhorqualidade da assistência com menor custo para osistema saúde(7).

O método recebe tal denominação porqueenvolve a colocação do bebê na posição verticalsobre o peito da mãe com a finalidade de obter umcontato pele a pele e promover proximidade entrepré-termos e suas mães. As vantagens do Método:“Favorece o vínculo mãe-filho; Reduz o tempo deseparação mãe-filho; Melhora a qualidade do de-senvolvimento neurocomportamental e psico-afetivo do recém-nascido (RN) de baixo peso; Es-timula o aleitamento materno, permitindo iníciomais precoce, maior freqüência e duração; Permiteum controle térmico adequado; Favorece a esti-mulação sensorial adequada do RN; Contribui pa-ra a redução do risco de infecção hospitalar; Reduzo estresse e dor dos RN de baixo peso; Propicia ummelhor relacionamento da família com a equipe desaúde; Possibilita maior competência e confiançados pais no manuseio do seu filho de baixo peso,inclusive após a alta hospitalar e Contribui para aotimização dos leitos de Unidades de Terapia In-tensiva e de Cuidados Intermediários devido àmaior rotatividade de leitos”(6).

Projetando-se a cidade de Ponta Grossa, Pa-raná, destaca-se que há um único hospital Amigoda Criança que oferece a vivência do binômio fren-te ao método e, a partir de observações nas demaismaternidades da cidade, há necessidade da estru-turação e implantação do MC visando o contatomãe-bebê, aleitamento materno exclusivo em livredemanda e diminuição do tempo de internação dorecém-nascido.

Destaca-se que as atividades desenvolvidasno estudo nortearam a 2ª fase do MC, no qual, “obebê permanece de maneira contínua com sua mãee a posição canguru será realizada pelo maior tem-po possível”(6), ou seja, o estudo aconteceu durantea internação do binômio.

Neves PN, Ravelli APX, Lemos JRD. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo-peso (métodomãe canguru): percepções de puérperas. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2010 mar;31(1):48-54.

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Desta forma, o presente artigo teve por obje-tivo conhecer as percepções de puérperas frente àutilização do MC durante a internação hospitalardo bebê em um hospital Amigo da Criançad na ci-dade de Ponta Grossa. Como hipótese, espera-se apartir dos resultados apresentados chamar a aten-ção para a importância da adesão ao Método Can-guru nas maternidades da cidade de Ponta Grossa,que atendem bebês prematuros e de baixo peso.

MATERIAIS E MÉTODOS

Pesquisa desenvolvida como Trabalho Con-clusivo de Curso (TCC) no Curso de Bachareladoem Enfermagem pela Universidade Estadual dePonta Grossa, no ano de 2006(8). A pesquisa teveum caminho qualitativo, o qual baseia-se na pre-missa de que “os conhecimentos sobre os indiví-duos só são possíveis com a descrição da experiên-cia humana, tal como ela é vivida e tal como ela édefinida por seus próprios autores”(9).

A amostra foi não probabilística não inten-cional, onde todas as puérperas que estiveramvivenciando o MC nos meses de agosto a outubrode 2006, fizeram parte da amostra. Desta forma,participaram do estudo 6 puérperas inseridas noMC, em atendimento em uma instituição filantró-pica na cidade de Ponta Grossa, que é referênciapor ser Hospital Amigo da Criança e por ter aten-dimento intensivo neonatal e no qual, dispõe doMC. As participantes receberam a denominação“C”, que significa Canguru, juntamente com o nú-mero que receberam por ordem de entrevistas, fi-cando C1, C2, C3, C4, C5 e C6.

Ressalta-se que a pesquisa não abordou da-dos clínicos do RN, nem tampouco dados comoPeso, Apgar, Parkins, entre outros. Todas as puér-peras com seus bebês, em atendimento na enfer-maria MC foram convidadas a participar do estu-do e o foco foi a mãe no pós-parto.

Na coleta dos dados utilizou-se de entrevistasemi-estruturada, com cinco perguntas norteado-ras: “Conte-me como foi a sua experiência de par-to?”; “Recebeu orientações quanto a funcionalida-de do Método Mãe-Canguru?”; “O que você en-

tende sobre Método Mãe-Canguru?”; “O que televou a usar o método Mãe-Canguru?”; “Para você,quais os benefícios da utilização do método?” Asentrevistas foram realizadas na enfermaria MC enão tiveram agendamento prévio, visto que, todasas puérperas com bebês prematuros estáveis, queestavam inseridas no MC eram convidadas a par-ticipar da pesquisa. A análise aconteceu com basena Análise de Conteúdo, com o comprimento dastrês etapas(11).

Diante da análise realizada emergiram qua-tro categorias: Vivências Maternas com o MC, comas subcategorias: MC e o Aleitamento Materno eVivências na Prática Canguru; Conhecendo o MC;Vivências Maternas na Unidade de Terapia Inten-siva (UTI) Neonatal; e Sentimentos no Trabalhode Parto Prematuro. Porém, neste estudo, somen-te as duas primeiras categorias foram abordadas:Vivências Maternas com o MC (MC e Aleitamen-to Materno e Vivências na Prática Canguru); eConhecendo o MC.

A pesquisa atendeu à Resolução 196/96 doConselho Nacional de Saúde(12) e obteve Parecerda Comissão de Ética em Pesquisa (COEP) daUniversidade Estadual de Ponta Grossa, sob o nº07/2006, e aprovação em 25 de maio de 2006. Aspuérperas inseridas ao MC foram convidadas aparticipar do estudo no qual, todas aceitaram, eentenderam, mediante explicação da pesquisado-ra, sobre a pesquisa, assinando o termo de consen-timento livre e esclarecido.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Vivências Maternas com oMétodo Mãe Canguru

As mães que vivenciaram o MC aprenderammuito sobre o método, pois, estar em contato ínti-mo com seu filho depois de tanto sofrimento, an-gústia, separação frente à prematuridade, faz comque as mães se sintam vitoriosas, pois é uma novaetapa, se tornando cada dia mais próximo de levaro seu bebê para casa. Essa vivência que proporcio-na um contato pele a pele, faz com que elas sintamas diferenças na respiração, sono, temperatura e oganho de peso dos bebês. A puérpera C1 relata suasatisfação dizendo:

É muito bom tanto para a mãe quanto para eles, porestar em contato com o corpo um do outro, faz com que

d Ao ser reconhecido com o título Hospital Amigo da Criança, os es-tabelecimentos se tornam referência em amamentação para seumunicípio, região e estado. Nestes hospitais, as mães são orienta-das e apoiadas para o sucesso da amamentação desde o pré-natalaté o puerpério, aumentando dessa forma os índices de aleitamen-to materno exclusivo e continuado e reduzindo a morbimortalidadematerna e infantil(10).

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a criança se recupere bem, cresça, ganhe peso, e é bemgostoso ficar assim sabe? (C1).

Muitos são os benefícios da utilização do MC,como por exemplo, prevenir “o aparecimento dossinais de estresse, pois o contato pele a pele favore-ce a estabilidade fisiológica”, para os mesmos au-tores: “é extremamente importante para a recupe-ração da fadiga, pois o ambiente do alojamento Mãe-Canguru contém muitos estímulos que se asseme-lham ao ambiente uterino”(13). Ainda para a puér-pera C1:

[...] eu esperei seis meses pra ver meu bebê e agora fi-car assim, corpo a corpo sentindo o calor, sentindo o co-raçãozinho é muito, muito gostoso, ele fica muito maiscalmo aqui do que se tivesse na cama, ele dorme melhor,fica bem mais calmo (C1).

[...] ele fica no caso sem roupa, só de fralda, a gentetambém fica sem a parte de cima, então é um contatocompletamente direto com o corpo da gente, passa ocalor, a respiração dele é bem mais calma, a gente sentemuita diferença neste método sabe. [...] (C1).

Percebe-se com os relatos a importância docontato pele a pele entre mãe-bebê, pois é um mo-mento em que ambos se reconhecem. Essa vivênciafaz com que os prematuros sintam a presença eproteção materna, ficando bem mais calmos. A mãe,também chamada de puérpera, se depara com no-vos desafios a serem enfrentados, ou seja, cuidar dedo bebê, salientando aqui seu bebê prematuro, ne-cessitando e apoio de profissionais capacitados paraauxiliarem e orientarem suas dúvidas, seus medose anseios(14).

Quanto à subcategoria MC e o AleitamentoMaterno, destaca-se que, o contato direto entremãe-bebê faz com que haja um maior reconheci-mento entre ambos, no momento em que o bebêprocura o seio para se alimentar. C1 conta sua per-cepção, dizendo que:

[...] Ele quer mamar toda hora! Eu sei que ele estácom fome porque ele começa a mexer muito, abrir a boca,coloca a mãozinha na boca então eu já sei, mas assimtoda hora quer [...] (C1).

A posição Canguru, a qual a mãe fica sem aparte de cima das vestimentas e o bebê só de fral-das, envolto pela bolsa canguru, faz com que, o con-tato pele a pele facilite o encontro do bebê com oseio materno, como mostra o relato de C3:

[...] ela está direto no meu colo, a hora que ela vira proladinho ela já acha o seio, aí ela já quer mamar, entãoeu acho que é uma aproximação bem forte entre mãe efilho. [...] (C3).

Em uma pesquisa comparando a sucção derecém-nascidos prematuros inclusos ao MC comos submetidos aos com cuidados tradicionais, mos-trou que, os prematuros submetidos ao MC apre-sentaram melhor sucção e menos tempo de inter-nação, “pois a estabilidade fisiológica, a eficiênciada sucção foram mais efetivos com a proximidadematerna”(13).

Com isso percebe-se que a aproximação dobinômio, promovida pelo método, além de fortale-cer o vínculo, faz com que o prematuro se alimen-te com mais freqüência. Dessa forma, a puérperaC5, relata a aproximação vivida a partir do uso doMC:

[...] Porque agora eu fico perto dele toda hora, numpreciso ficar descendo lá [UTI Neonatal] dar de ma-mar daí eu fico mais pertinho dele, vendo ele, mamar ahora que ele quiser, vou ficar aqui direto com ele (C5).

A aproximação do binômio facilita à ama-mentação e fortalece sentimentos de amor e cari-nho. De acordo com a literatura, o MC “[...] con-tribui para a efetividade da amamentação, dimi-nuindo o tempo de permanência hospitalar, acar-retando menores custos para a saúde pública”(13).

Estudo realizado nos serviços que praticamo MC mostrou que, as mães inseridas no método,devido ao contato pele a pele, apresentaram ummaior volume diário na produção de leite, compa-rando a um grupo controle(6). Atentando a este fato,assim que possível, deve-se colocar o bebê prema-turo a sugar, orientando a mãe a ter paciência e serpersistente. Com o relato de C4, percebe-se a com-preensão dessa frente a sua inserção ao MC:

[...] ele não expirava tanto cuidado, daí aprendeu asugar tudo, daí faz 3 dias que ele está sugando direto,daí por isso que eu subi pro mãe canguru (C4).

Vale lembrar que, “Valer-se do calor do corpomaterno, do contato pele a pele, do leite maternoque não só alimenta, mas imuniza, do amor queestimula e fortalece a criança, são elementos sim-ples, que combinados salvam vidas em locais on-de recursos humanos e materiais são escassos”(15).O leite materno além de possuir propriedades

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nutricionais indiscutíveis para o crescimento edesenvolvimento do bebê, faz com que, fortaleçao vínculo do binômio repleto de carinho e amor.O MC devido à aproximação que promove entremãe e filho, faz com que seja um grande incentiva-dor da amamentação.

Com destaque para a segunda subcategoria,Vivências na Prática Canguru, a utilização do MCpelas mães é benéfica por permanecerem integral-mente com seus bebês, ainda mais para as mães queresidem em outras localidades, pois permanecem24 horas com seus filhos, alojadas nas enfermariasmãe-canguru, não sendo necessário procurar umlocal para permanecer enquanto seus bebês encon-tram-se internados. Dessa forma, tem-se o relatode C2 que tinha dificuldades por morar em umacidade próxima de Ponta Grossa:

[...] como eu sou de Castro eu tinha que vim e ficar nacasa de apoio e ficava muito pouco tempo com eles, vi-nham me trazer e de tarde já vinham me buscar e pramim foi melhor fazer este método, daí eu ficava maisperto deles (C2).

Já C6, descreve sua dificuldade em locomo-ver-se de sua cidade de residência para visitar seufilho durante o internamento na UTI Neonatal.

[...] eu sou de outra cidade, daí ficava difícil pra mimvim, todos os dias, ver ele na UTI, aí eu vinha as ter-ças, quintas e sábados com o pessoal da hemodiálise. Aítinha vezes, que eu não conseguia vaga no carro doSUS, aí eu ficava até uma semana sem vim, sem verele. Aí que eles tiveram essa idéia de me trazerem paraa mãe canguru, daí agora acho que fica mais fácil (C6).

A distância entre o binômio pode dificultar aformação do vínculo, pois estando a mãe residindoem outra localidade e não podendo permanecerintegralmente com seu bebê enquanto estiver sobinternação, pode promover pioras no estado clíni-co do bebê prematuro pelo distanciamento fami-liar. Estar inserida no MC possibilita uma maiortroca de calor e amor, o que torna-se essencial navida do bebê em recuperação(15).

Em relação à posição estabelecida no método,o bebê deve ser colocado em posição vertical oudiagonal elevada, entre as mamas, na bolsa cangu-ru por maior tempo possível. Entretanto, há algunsmomentos em que as mães se sentem incomoda-das com a posição. C1 conta um pouco de sua vi-vência:

[...] Atrapalha em alguns momentos é lógico, mas is-so é o de menos, na hora de ir no banheiro, na hora dese alimentar, que daí fica um pouco complicado ficarcom ele assim, à noite também pra dormir. Pra ir nobanheiro aí eu tiro, pra comer, mas já teve vezes de eucomer com ele assim, quando ele tava bem quietinho,quentinho aí dava dó de tirar, pra não ficar gelado...quando dá eu tiro [...] (C1).

O frio também é outro fator que pode dificul-tar a correta utilização do método. Cabe salientaraqui que, a cidade do estudo está localizada geo-graficamente na região Sul do estado do Paraná epossui invernos rigorosos.

A informação acima foi comprovada em estu-do, onde mães que não colocavam seus bebês só defralda na bolsa canguru, e sim, devidamente vesti-dos, ou que não usavam o método durante a noite,mostraram alterações na prática(16), mas C2 relataque mesmo com o frio, seu bebê ficou bem protegi-do e quentinho:

[...] Está um pouquinho frio, porque a gente tambémtem que ficar [referindo sem a parte de cima], elaainda fica bem protegidinha, mas é gostoso. Sentir ocalorzinho dela. Pra comer, pra ir no banheiro eu tiro ecoloco ela deitadinha aqui (C2).

Em âmbito hospitalar, a prática “[...] da posi-ção canguru [...] era geralmente descrita pelasmulheres como desconfortável, incômoda, expon-do o corpo da mulher, tolhendo-lhe os movimen-tos e afastando-a de suas tarefas cotidianas e doconvívio com a família. O desconforto dessa práti-ca, contudo, não implicava que o programa deixas-se de ser reconhecido por elas como importante ouque não valorizassem sua participação nele. De fa-to, a prática era tolerada em função das vantagensque as mulheres obtinham através de sua partici-pação”(16).

Outro fator importante é a presença de ape-nas um bebê na bolsa canguru, mas em nesse estu-do, observou a vivência de uma das puérperas par-ticipantes com bebês gemelares, onde a mãe, emespecial, deu preferência ao prematuro de menorpeso, segundo relato de C2:

[...] Num dá pra pôr os dois na mesma bolsinha, aí eucoloco mais ele que é mais pequenininho, ele tem que termais atenção (C2).

Assim, evidencia-se que a prática do métodonão foi em nenhum momento dada como imprati-

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cável pelas puérperas participantes, sendo as res-trições contornadas com facilidade. Para elas, a prá-tica do MC é vista como a melhor forma de ajudarna recuperação de seus bebês, e o que é melhor,com a vivência canguru, elas mantêm-se próximasdeles, trocando amor e carinho.

Conhecendo o Método Canguru

Esta categoria analisa o conhecimento adqui-rido das mães inseridas ao método, destacando aatuação da equipe de enfermagem como cuidadorese educadores permanentes, para promoção do ensi-namento às puérperas inseridas no MC. Com isso,a puérpera C3 diz:

Que a mãe canguru seria no caso a incubadora do ne-ném agora [...] (C3).

No entanto, C5 ressalta que:

[...] pelo que eu entendi é pra criança ficar mais emcontato com a mãe, sentir o cheiro, eu acho que assimele ia ganhar mais peso, sente o cheiro do mamá, elemama mais, eu acho que é isso pelo que eu entendi [...](C5).

A educação em saúde é importante práticaeducativa do profissional enfermeiro, no qual, uti-lizando uma linguagem clara, estabelecendo umainteração com a mãe, esse profissional facilita oaprendizado e promove autonomia. Desta forma, aeducação em saúde, utilizando linguagem clara eobjetiva, com recursos facilitadores do ensino-aprendizado, pode facilitar a compreensão mater-na, aqui destacando o MC, sua finalidade, seus be-nefícios fazendo com que, a mãe compreenda a im-portância deste, para ela e para seu filho(17).

A enfermagem destaca-se nesse sentido, poisé a profissão que mais se aproxima da família e doscuidadores, orientando e esclarecendo todas as in-formações frente ao MC.

Toda a preparação institucional frente à es-truturação e implementação do MC advém de cur-sos para toda a equipe multiprofissional, uma es-pécie de treinamento que segue as normas do ma-nual técnico para a implantação do método(7). As-sim, é imprescindível ter uma equipe bem prepara-da, com subsídios teórico-práticos, além de saberinformar e divulgar a importância do mesmo. Con-tudo, C1 salienta que:

[...] Eu não conhecia o método, eu fui conhecer quandoeu subi pra cá, aí me disseram, aí eu fiquei sabendo (C1).

Dessa forma, a equipe de enfermagem pode edeve esclarecer as mães, por meio da educação semsaúde, sobre a importância e finalidade do MC, poiscom o aprendizado materno, compreendendo comoproceder frente ao método, a mãe garantirá alémda rápida recuperação do RN um forte elo entre sie seu filho.

CONCLUSÕES

O MC é amplo em benefícios para a puérperae principalmente para o seu bebê. Pode promoveruma vivência única, deixando-as próximas de seusbebês de um jeito semelhante ao intra-útero. Comesse contato, há o favorecimento do aleitamentomaterno, evidenciado pelos relatos das puérperas,pela facilidade do bebê em buscar o seio por meioda posição do método, tornando-o efetivo graças àproximidade. Essa vivência faz com que as mães sesintam integralmente inseridas na recuperação doseu bebê, com a vivência no MC.

Já nos relatos das puérperas que moravam emoutras cidades e não na cidade do estudo, perce-beu-se que o método favoreceu o contato entre obinômio, ou seja, facilitou pra mãe estar integral-mente com seu bebê. Quanto às dificuldades en-contradas devido aos aspectos sazonais e incômo-dos surgidos durante a prática do método, os rela-tos mostraram que estes podem ser contornados,pois a maior satisfação é estar junto a seus filhos.

Para elas, estar inserida ao método é sinôni-mo de proximidade à alta hospitalar, bem como avolta pra casa com seu filho em condições clínicasrecuperadas. Desta forma, a atuação da equipe deenfermagem é de extrema importância, por meiodo cuidado humanizado, atento e acolhedor, escla-recendo às mães suas possíveis dúvidas e dificul-dades encontradas na utilização do método. Por-tanto, a enfermagem deve educar no decorrer davivência materna no MC, promovendo uma assis-tência humanizada e educativa, visando o restabe-lecimento do vínculo mãe-bebê, que será impres-cindível para toda a vida familiar.

REFERÊNCIAS

1 Caetano LC, Scochi CGS, Angelo M. Vivendo noMétodo Canguru a tríade mãe-filho-família. Rev La-tino-Am Enfermagem. 2005;13(4):562-8.

Neves PN, Ravelli APX, Lemos JRD. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo-peso (métodomãe canguru): percepções de puérperas. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2010 mar;31(1):48-54.

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2 Guimarães GP, Monticelli M. (Des)motivação dapuérpera para praticar o Método Mãe-Canguru. RevGaúcha Enferm. 2007;28(1):11-20.

3 Ramos JLA. O recém-nascido normal. In: MarcondesE, organizador. Pediatria básica. São Paulo: Sarvier;2002. p. 75-97.

4 Orlandi OV, Sabra A. Patologia do feto e do recém-nascido. In: Rezende J. Obstetrícia. 9ª ed. Rio de Janei-ro: Guanabara Koogan; 2000. p. 1366-1426.

5 Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Políticas deSaúde, Área Técnica da Saúde da Criança. Manual docurso: atenção humanizada ao recém-nascido de baixopeso: Método Canguru. Brasília (DF); 2001.

6 Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saú-de, Área de Saúde da Criança. Atenção humanizada aorecém-nascido de baixo peso: Método Mãe-Canguru.2ª ed. Brasília (DF); 2009. (Série A. Normas e Manu-ais Técnicos; 145).

7 Venâncio SI, Almeida H. Método Canguru: aplicaçãono Brasil, evidências científicas e impacto sobre o alei-tamento materno. J Pediatr [Internet]. 2004 [citado2009 mar 05];80(5):173-80. Disponível em: http//www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a09.pdf.

8 Neves PN, Ravelli APX. Método Mãe-Canguru: per-cepções de puérperas [monografia]. Ponta Grossa:Universidade Estadual de Ponta Grossa; 2006.

9 Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa emenfermagem. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.

10 Ministério da Saúde (BR). Iniciativa Hospital Ami-go da Criança [Internet]. Brasília (DF); 2008 [cita-

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11 Bardin L. Análise de conteúdo. Paris: Edições 70;1977.

12 Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saú-de. Resolução 196, de 10 de outubro de 1996: dire-trizes e normas regulamentadoras de pesquisa en-volvendo seres humanos. Brasília (DF); 1996.

13 Andrade ISN, Guedes, ZCF. Sucção do recém-nasci-do prematuro: comparação do método Mãe-Cangu-ru com os cuidados tradicionais. Rev Bras SaúdeMater Infant. 2005;5(1):61-9.

14 Ravelli APX. A consulta puerperal de enfermagem:uma realidade na cidade de Ponta Grossa, Paraná,Brasil. Rev Gaúcha Enferm. 2008;29(1):54-9.

15 Furlan CEFB, Scochi CGS, Furtado MCC. Percep-ção dos pais sobre a vivência no método mãe-cangu-ru. Rev Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2003[citado 2009 mar 11];11(4):444-52. Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/rlae/v11n4/v11n4a06.pdf.

16 Moura SMSR, Araújo MF. Produção de sentidossobre a maternidade: uma experiência no Progra-ma Mãe Canguru. Psicol Estud [Internet]. 2005 [ci-tado 2009 mar 13];10(1):37-46. Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/pe/v10n1/v10n1a05.pdf.

17 Ravelli APX. A inserção da música no ensino supe-rior de enfermagem: um relato de experiência. CiêncCuid Saúde. 2005;4(2):177-81.

Endereço da autora / Dirección del autor /Author’s address:Priscila Nicoletti NevesRua Prefeito Felipe Marinho, 369, Jardim Ferrari18405-070, Itapeva, SPE-mail: [email protected]

Recebido em: 07/09/2009Aprovado em: 09/03/2010

Neves PN, Ravelli APX, Lemos JRD. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo-peso (métodomãe canguru): percepções de puérperas. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2010 mar;31(1):48-54.