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ATIVIDADE 1.1
1- Como você conceituaria currículo?
Hoje em dia, a organização do currículo escolar se dá de forma
fragmentada e hierárquica, ou seja, cada disciplina é ensinada separadamente
e as que são consideradas de maior importância em detrimento de outras
recebem mais tempo para serem explanadas no contexto escolar.
Vários autores apontam para a possibilidade de o currículo não ser
organizado baseando-se em conteúdos isolados, pois vivemos em um mundo
complexo, que não pode ser completamente explicado por um único ângulo,
mas a partir de uma visão multifacetada, construída pelas visões das diversas
áreas do conhecimento. A organização do currículo deve procurar viabilizar
uma maior interdisciplinaridade, contextualização e transdisciplinaridade;
assegurando a livre comunicação entre todas as áreas.
O currículo não é estático, pelo contrário, ele foi e continua sendo
construído. A reflexão sobre isso é importante, porque, conforme Veiga (2002,
p. 7) afirma, “a análise e a compreensão do processo de produção do
conhecimento escolar ampliam a compreensão sobre as questões
curriculares”.
Ainda conforme Veiga (2002) o currículo é uma construção social do
conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta
construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente
produzidos e as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e
assimilação são processos que compõem uma metodologia de construção
coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito.
Assim, isso implica que essa organização – feita principalmente no
projeto-político-pedagógico de cada escola – deve levar em conta alguns
princípios básicos da sua construção. Entre eles o fato de, como já dito, o
processo de desenvolvimento do currículo ter sido cultural e, portanto, não
neutro. Sempre visa privilegiar determinada cultura e, por isso, há a
necessidade de uma criteriosa análise e reflexão, por parte dos sujeitos em
interação, no caso as autoridades escolares e os docentes com o mesmo
objetivo, baseando-se em referencias teóricos.
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2- Qual a importância de se repensar o currículo com foco nas relações étnico-
raciais nos tempos atuais?
Para a promoção e o reconhecimento e a valorização da identidade, da
cultura história dos negros é preciso que o ambiente escolar ofereça condições
favoráveis ao ensino, e também sejam reconhecidas como relações étnico-
raciais. Ainda é preciso um trabalho multidisciplinar e sociocultural, pois as
relações pedagógicas étnico- raciais não se limitam a escol
Refletir, discutir algumas das problematizações sobre as questões
étnico-raciais nas relações culturais, históricas e sociais parecem em primeiro
momento não estar ligadas a questões relacionadas a violência. Entretanto isso
é um equívoco. Pois as questões relacionadas a violência se apresentam como
racismo, preconceito e discriminação, e não são tratadas, por muitas vezes
com a seriedade que a situação exige.
Alunos que são negros não se reconhecem como tal, e por isso tomam
como ofensa o fato de serem chamados de negros. Não tendo argumento para
se posicionar diante disso, acabam se ofendendo e por vezes partindo para
agressão. Daí a importância de mostrarmos e diversidade cultural que os
negros trazem consigo, valorizar seus aspectos intelectuais, históricos e
estéticos.
Diante disso, torna-se imprescindível que educadores, passem a discutir
mais abertamente e com clareza sobre as questões étnico – raciais,
principalmente quando chegam carregadas de preconceitos até nós, tentarmos
buscar respostar ou ações que valorizem aqueles que historicamente viveram
sem elas. Buscando um caminho de respeito e reconhecimento, sempre
colocando-nos no lugar do outro, estaremos então, contribuindo para a
construção de uma escola mais justa, preocupada com a vida, e com as
relações harmônicas da sociedade.
3- Como as legislações que tratam da educação para as relações étnico-raciais
vêm sendo implementadas?
A Lei nº 10.639/03 que estabelece a obrigatoriedade do ensino da
história e cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas públicas e privadas do
ensino fundamental e médio; o Parecer do CNE/CP 03/2004 que aprovou as
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e
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para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas; e a Resolução
CNE/CP 01/2004, que detalha os direitos e as obrigações dos entes federados
ante a implementação da lei compõem um conjunto de dispositivos legais
considerados como indutores de uma política educacional voltada para a
afirmação da diversidade cultural e da concretização de uma educação das
relações étnico-raciais nas escolas, desencadeada a partir dos anos 2000. É
nesse mesmo contexto que foi aprovado, em 2009, o Plano Nacional das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2009).
O percurso de normatização decorrente da aprovação da Lei nº
10.639/03 deveria ser mais conhecido pelos educadores e educadoras das
escolas públicas e privadas do país. Ele se insere em um processo de luta pela
superação do racismo na sociedade brasileira e tem como protagonistas o
Movimento Negro e os demais grupos e organizações partícipes da luta
antirracista. Revela também uma inflexão na postura do Estado, ao pôr em
prática iniciativas e práticas de ações afirmativas na educação básica
brasileira, entendidas como uma forma de correção de desigualdades
históricas que incidem sobre a população negra em nosso país.
É sabido o quanto a produção do conhecimento interferiu e ainda
interfere na construção de representações sobre o negro brasileiro e, no
contexto das relações de poder, tem informado políticas e práticas tanto
conservadoras quanto emancipatórias no trato da questão étnico-racial e dos
seus sujeitos. No início do século XXI, quando o Brasil revela avanços na
implementação da democracia e na superação das desigualdades sociais e
raciais, é também um dever democrático da educação escolar e das
instituições públicas e privadas de ensino a execução de ações, projetos,
práticas, novos desenhos curriculares e novas posturas pedagógicas que
atendam ao preceito legal da educação como um direito social e incluam nesse
o direito à diferença.
As ações pedagógicas voltadas para o cumprimento da Lei nº 10.639/03
e suas formas de regulamentação se colocam nesse campo. A sanção de tal
legislação significa uma mudança não só nas práticas e nas políticas, mas
também no imaginário pedagógico e na sua relação com o diverso, aqui, neste
caso, representado pelo segmento negro da população.
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Não podemos negar que, na construção das sociedades, na forma como
os negros e os brancos são vistos e tratados no Brasil, a raça tem uma
operacionalidade na cultura e na vida social. Se ela não tivesse esse peso, as
particularidades e características físicas não seriam usadas por nós para
classificar e identificar quem é negro e quem é branco no Brasil. E mais, não
seriam usadas para discriminar e negar direitos e oportunidades aos negros em
nosso país.
É importante destacar que, nesse sentido, as raças são compreendidas
como construções sociais, políticas e culturais produzidas no contexto das
relações de poder ao longo do processo histórico. Não significam, de forma
alguma, um dado da natureza. É na cultura e na vida social que nós
aprendemos a enxergar as raças. Isso significa que aprendemos a ver as
pessoas como negras e brancas e, por conseguinte, a classificá-las e a
perceber suas diferenças no contato social, na forma como somos educados e
socializados a ponto de essas ditas diferenças serem introjetadas em nossa
forma de ser e ver o outro, na nossa subjetividade, nas relações sociais mais
amplas. Aprendemos, na cultura e na sociedade, a perceber as diferenças, a
comparar, a classificar. Se as coisas ficassem só nesse plano, não teríamos
tantos complicadores. O problema é que, nesse mesmo contexto, aprendemos
a hierarquizar as classificações sociais, raciais, de gênero, entre outras. Ou
seja, também vamos aprendendo a tratar as diferenças de forma desigual.
4- Por que a urgência em descolonizar o currículo escolar brasileiro?
Descolonizar os currículos é mais um desafio para a educação escolar.
Muito já denunciamos sobre a rigidez das grades curriculares, o
empobrecimento do caráter conteudista dos currículos, a necessidade de
diálogo entre escola, currículo e realidade social, a necessidade de formar
professores e professoras reflexivos e sobre as culturas negadas e silenciadas
nos currículos. No entanto, é importante considerar que há alguma mudança no
horizonte. A força das culturas consideradas negadas e silenciadas nos
currículos tende a aumentar cada vez mais nos últimos anos. As mudanças
sociais, os processos hegemônicos e contra-hegemônicos de globalização e as
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tensões políticas em torno do conhecimento e dos seus efeitos sobre a
sociedade e o meio ambiente introduzem, cada vez mais, outra dinâmica
cultural e societária que está a exigir uma nova relação entre desigualdade,
diversidade cultural e conhecimento. Os ditos excluídos começam a reagir de
forma diferente: lançam mão de estratégias coletivas e individuais. Articulam-se
em rede. A tão falada globalização que quebraria as fronteiras aproximando
mercados e acirrando a exploração capitalista se vê não somente diante de um
movimento de uma globalização contra-hegemônica, nos dizeres Santos
(2006), mas também de formas autônomas de reação, algumas delas duras e
Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos 103
violentas. Esse contexto complexo atinge as escolas, as universidades, o
campo de produção do conhecimento e a formação de professores/as.
Juntamente às formas novas de exploração capitalista surgem movimentos de
luta pela democracia, governos populares, reações contra-hegemônicas de
países considerados periféricos ou em desenvolvimento. Esse processo atinge
os currículos, os sujeitos e suas práticas, instando-os a um processo de
renovação. Não mais a renovação restrita à teoria, mas aquela que cobra uma
real relação teoria e prática. E mais: uma renovação do imaginário pedagógico
e da relação entre os sujeitos da educação. Os currículos passam a ser um dos
territórios em disputa, sobretudo desses novos sujeitos sociais organizados em
ações coletivas e movimentos sociais (ARROYO, 2011).
A descolonização do currículo implica conflito, confronto, negociações e
produz algo novo. Ela se insere em outros processos de descolonização
maiores e mais profundos, ou seja, do poder e do saber. Estamos diante de
confrontos entre distintas experiências históricas, econômicas e visões de
mundo. Nesse processo, a superação da perspectiva eurocêntrica de
conhecimento e do mundo torna-se um desafio para a escola, os educadores e
as educadoras, o currículo e a formação docente. Compreender a
naturalização das diferenças culturais entre grupos humanos por meio de sua
codificação NILMA LINO GOMES 108 com a idéia de raça; entender a
distorcida relocalização temporal das diferenças, de modo que tudo aquilo que
é não-europeu é percebido como passado (QUIJANO, 2005) e compreender a
ressignificação e politização do conceito de raça social no contexto brasileiro
(MUNANGA; GOMES, 2006) são operações intelectuais necessárias a um
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processo de ruptura epistemológica e cultural na educação brasileira. Esse
processo poderá, portanto, ajudar-nos a descolonizar os nossos currículos não
só na educação básica, mas também nos cursos superiores.
5-Como implementar um currículo com foco na narrativa étnico-racial?
O currículo como um conceito de uso pedagógico é relativamente
recente entre nós, começando a ser usado em linguagens especializadas, e
nem mesmo entre o professorado seu uso é corrente. Isto porque, a cultura
pedagógica tratou problemas de programas escolares, o trabalho escolar, etc.
como capítulos didáticos, sem a amplitude que o currículo merece.
Segundo Gimeno Sacristán (2000), a prática a que se refere o
currículo, no entanto, é uma realidade prévia muito bem estabelecida através
de comportamentos didáticos, políticos administrativos, econômicos, etc.,
através dos quais se encobrem muitos pressupostos, teorias parciais,
esquemas de racionalidade, crenças, valores, etc. que condicionam a
teorização sobre o currículo.
Assim, não podemos pensar em currículo apenas como um recurso
didático, mas como um conceito que pressupõe a concretização de fins sociais
e culturais na escola, como afirma Grundy (1987), que o currículo não é um
conceito, mas uma construção cultural.
Schubert (1986) também mostra algumas “impressões” globais, que
segundo ele, como imagens, que vem à mente trazendo o conceito de
currículo. Que seria: currículo como um conjunto de conhecimentos ou
matérias a serem superadas pelo aluno dentro de um ciclo; currículo como
programa de atividades planejadas, sequencializadas, ordenadas
metodologicamente; currículo como resultados pretendidos da aprendizagem;
currículo como conhecimentos, valores e atitudes; tarefa e habilidades a serem
dominadas; e talvez o mais importante: o currículo como programa que
proporciona conteúdos e valores para que os alunos melhorem a sociedade em
relação à reconstrução social da mesma.
Uma outra definição de currículo muito interessante é a de Tomaz Tadeu
da Silva (1999) o qual afirma que o currículo é lugar, espaço, território. O
currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O
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currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja
nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é
documento de identidade.
A partir desses conceitos, podemos observar que o conceito de currículo
é muito abrangente, complexo, diferentes perspectivas e pontos de vista, mas
são os enfoques alternativos com diferente amplitude que determinam a visão
“mais pedagógica” do currículo. E é nessa visão pedagógica que discutiremos
a relação étnica racial dentro de tal.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) considera a Pluralidade
Cultural _ onde se insere a étnica e a raça_ como um tema transversal, isto
porque se tratam de questões sociais, que norteia a construção da cidadania e
a democracia, questões que envolvem múltiplos aspectos e diferentes
dimensões da vida social. Essa educação para a cidadania requer que essas
questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos
alunos, buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e
sua dinâmica, dando ao currículo, então, uma flexibilidade e abertura, uma vez
que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as
diferentes realidades locais e regionais, e que novos temas sempre podem ser
incluídos.
Portanto, é fato que a escola se encontra marcada por práticas cultural e
historicamente arraigadas, bem como por teorias que deslocaram a
responsabilidade da escola para o aluno, além de currículos e formação de
professores insuficientes. O estabelecimento de condições que revertam esse
processo inclui, necessariamente, o reconhecimento e valorização de
características especificas e singulares de regiões, etnias, escolas, professores
e alunos.
Uma proposta curricular que evidencie o tema da etnia e da raça,
voltado para a atuação na escola, com cunho eminentemente pedagógico,
operante em uma reflexão que integre de maneira ímpar, teoria e prática,
reflexão e ação, tem algumas disciplinas tomadas como base para tal
orientação. Como: os conhecimentos do campo da História e da Geografia,
noções e conceitos originários de Antropologia, da Linguística, da Sociologia,
da Psicologia e aspectos referentes a Estudos Populacionais.
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Ana Célia Silva (2005) afirma que nos livros didáticos, nos currículos
escolares e nas falas dos professores, ainda há uma invisibilidade ou a
visibilidade subalterna de diversos grupos sociais, como os negros, os
indígenas e as mulheres. O preconceito instituído e manifestado na prática
pedagógica pode levar tais grupos a uma autorrejeição e rejeição ao seu grupo
social, comprometendo os processos constitutivos de sua identidade(s).
Uma ação pedagógica realmente pautada na diversidade cultural deve
ter como princípio uma política curricular da identidade e da diferença. Tem
obrigação de ir além das benevolentes declarações de boa vontade para com a
diferença, ela coloca em seu centro uma teoria que permita não só reconhecer
e celebrar a diferença, mas também questioná-la, a fim de perceber como ela
discursivamente está constituída. Pois, identidade e diferença dependem uma
da outra, construídas dentro do discurso, sendo necessário que os professores
encaminhem seus alunos para essa construção.
BRASIL, Diretrizes curriculares nacionais para a educação das
relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-
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![Page 9: atividade 1](https://reader036.fdocumentos.com/reader036/viewer/2022083010/563dba8f550346aa9aa6ad5d/html5/thumbnails/9.jpg)
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