Aula 01
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os1AULA
Metas da aula
Movimento em uma dimenso
Discutir a equao diferencial que descreve o movimento de uma partcula em uma dimenso sob a ao de uma fora geral, o mtodo de soluo numrica,
e o papel das condies iniciais; apresentar mtodos simples de soluo desta equao quando a fora depende somente do
tempo ou somente da velocidade; mostrar a utilidade das expanses em sries nas aproximaes e anlise de resultados.
Esperamos que, aps o estudo do contedo desta aula, voc seja capaz de:
resolver a equao do movimento para foras do tipo F(t) e F(v);
usar a srie de Taylor para obter solues aproximadas simples a partir das solues analticas exatas.
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POR QUE MAIS MECNICA?
Vamos dar incio ao nosso curso de Mecnica Clssica com algumas
observaes gerais sobre seus objetivos. Voc vai ser professor de Fsica
para alunos do Ensino Mdio e nas disciplinas Fsica I e Fsica II j estudou,
provavelmente, mais do que vai poder ensinar de Mecnica para seus
alunos. Ento, qual a relevncia de um aprofundamento maior ainda
nos seus estudos? Primeiro, porque voc vai ser um professor e no um
mero repetidor e no h como ensinar sem um conhecimento slido dos
fundamentos do contedo do que est sendo ensinado. Voc dever ter uma
noo clara das aproximaes envolvidas nas aplicaes que apresentar
aos seus alunos, assim como ser capaz de analisar situaes novas que
certamente surgiro. Depois, importante saber situar a Mecnica Clssica
no contexto da Fsica Moderna e conhecer os limites de validade dos seus
resultados. Com o seu maior e melhor conhecimento, acima de tudo voc
tambm ser mais capaz de motivar seus futuros alunos.
Para concretizar esses objetivos, esperamos trein-lo neste curso
a pensar sobre fenmenos fsicos em termos matemticos. Isso no quer
dizer que voc deva abandonar uma abordagem qualitativa, guiada por
sua intuio do fenmeno mecnico, mas que voc desenvolva uma igual
intuio para a formulao matemtica de problemas fsicos e para a
interpretao fsica de solues matemticas.
O PROBLEMA GERAL DO MOVIMENTO EM UMA DIMENSO
Comearemos estudando o movimento de uma partcula de massa
m ao longo de uma linha reta, que vamos tomar como sendo o eixo
x. A partcula move-se sob a ao de uma fora F dirigida ao longo
do eixo x. O movimento da partcula, como voc j aprendeu, dado
pela segunda lei de Newton,
(1.1)
onde a a acelerao
(1.2)
F ma=
ad xdt
x= =2
2&&
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A fora F em geral depende do que a partcula est fazendo. Para
saber o que a partcula est fazendo, preciso conhecer sua posio
e sua velocidade x(t) = dx(t)/dt num dado instante de tempo t. Logo,
em geral, a fora F alguma funo de x(t), &x t( )0(t) e t, ou seja, F(x, &x t( )0, t).
Ento, a segunda lei de Newton assume a seguinte forma:
(1.3)
Exerccio 1.1. D exemplos de foras: (a) constantes; (b) que dependem da
posio; (c) que dependem da velocidade; (d) que dependem do tempo.
A Equao (1.3) uma equao diferencial de segunda ordem
porque ela envolve uma derivada segunda e nenhuma outra derivada
de ordem superior. Uma equao diferencial de segunda ordem para x
tem, em geral, um nmero infinito de solues que podem ser rotuladas
pelos valores de x e &x t( )0 num dado tempo, digamos, no instante em que
comeamos a observar o movimento. Estas condies que especificam a
soluo so chamadas condies iniciais. Uma vez dadas as condies
iniciais, ou seja, a posio inicial e a velocidade inicial, a soluo da
equao diferencial estar completamente especificada.
Exemplo 1.1. Considere o problema mais simples da mecnica que
o de encontrar o movimento de uma partcula movendo-se em uma
linha reta sob a ao de uma fora constante. Neste caso, F(x, &x t( )0, t) = F0
e a Equao (1.3) fica
(1.4)
Mas d x dt dx dt dv dt2 2 = =& e assim,
(1.5)
Integrando
(1.6)
ou
(1.7)
md xdt
F x x t2
2= ( , , )&
dvF
mdt= 0
vdxdt
vF
mt t= = + 0 0 0( )
d xdt
=F
m= const
2
2
0
dvF
mdt
v
v
t
t = 0 0
0
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Integrando novamente
(1.8)
ou
(1.9)
A soluo geral da Equao (1.4) , portanto,
(1.10)
Dados os valores de e no instante inicial t0 , a soluo x(t) estar
completamente especificada e ser nica.
RESOLVENDO A EQUAO DO MOVIMENTO NUMERICAMENTE
Se voc tiver uma fora complicada, dependendo de x, , e t, voc
no poder, na maioria das vezes, encontrar uma soluo em termos de
funes conhecidas. No entanto, voc sempre poder resolver a Equao
(1.3) numericamente. O modo de resolver seria assim: se voc conhece a
posio x t( )0 e a velocidade &x t( )0 no instante inicial t0, voc pode usar
esta informao para determinar a posio da partcula em um tempo
muito curto t0 + t posterior (ou anterior) atravs da expresso
(1.11)
Esta expresso vem da definio de derivada e tanto mais acurada
quanto menor for t. Ns queremos iterar este procedimento e achar x(t
0 + nt), o que significaria achar x(t) (pelo menos aproximadamente)
em toda uma seqncia de tempos futuros (ou passados). Na etapa
seguinte equao (1.11), isto , para n = 2, teremos:
(1.12)
x x v t tF
mt t = + 0 0 0 0 0 22
( ) ( )
x tF
mt t x t t t x t( ) ( ) ( )( ) ( )= + +0 0 2 0 0 02
&
x t( )0 &x t( )0
x t t x t x t t( ) ( ) ( )0 0 0+ = + &
x t t x t t x t t t( ) ( ) ( )0 0 02+ = + + + &
&x t( )0
dx dt vF
mt t
x
x
t
t = + 0 0
00
0( ( ))
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Note que agora precisamos de que no dado pela
condio inicial. Aqui entra em cena a segunda lei de Newton. Como
, (1.13)
para prosseguir precisamos saber qual o valor de . Mas a segunda
lei de Newton diz que dado dividindo-se a fora no instante t0 pela
massa da partcula
(1.14)
Pondo este valor da acelerao na Equao (1.13), obtemos a
velocidade no instante t0 + t que, por sua vez, substitudo na Equao
(1.12), permite encontrar x(t0 + 2t). Note que a acelerao necessria
em um passo sempre dada em termos dos valores de x, &x t( )0 j calculados
no passo anterior. Na prxima etapa, temos de calcular x(t0
+ 3t),e assim por diante.
Exerccio 1.2. Escreva os passos necessrios para calcular x, &x t( )0
em t0 + 3t.
O mtodo numrico deixa muito claro o papel da segunda lei de
Newton e descreve a estrutura da soluo do problema do movimento
da partcula em uma forma extremamente simples. Quando precisamos
do valor da acelerao em um dado instante, a segunda lei nos diz para
tomar o valor da fora naquele instante e dividir pela massa. Nada
mais simples. Por outro lado, a Equao (1.11), que apresentamos como
conseqncia da definio de derivada, tambm pode ser vista como
obtida a partir da definio da velocidade mdia
(1.15)
Quando t 0 as duas coisas coincidem. O mesmo comentrio vale para a Equao (1.13): vem da definio de acelerao mdia. Voc
j deve estar pensando: no h nada neste mtodo numrico que no
possa ser ensinado a um aluno do ensino mdio. At certo ponto isto
verdade. Voc ver este tema abordado nas aulas de Informtica para o
&x t t( )0 +
& & &&x t t x t x t t( ) ( ) ( )0 0 0+ = +
&&x t( )0
&& &x tm
F x t x t t( ) ( ( ), ( ), )0 0 0 01=
&&x t( )0
&x tx t t x t
t( )
( ) ( )0
0 0= +
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Ensino do Professor C.E. M. de Aguiar. Veja tambm a prxima aula,
na qual voc ter como exerccio resolver numericamente o problema
do oscilador harmnico unidimensional.
Uma outra coisa interessante do mtodo numrico diz respeito
s condies iniciais e unicidade da soluo da equao diferencial.
Observando as Equaes (1.11), (1.13) e (1.14) vemos que duas condies
iniciais bastam para especificar como a partcula se move, ou seja, para
fixar a soluo da equao diferencial. Isto porque a equao que descreve
o movimento uma equao diferencial de segunda ordem. Para uma
equao diferencial de primeira ordem evidente que precisaramos de
somente uma condio inicial. Uma equao diferencial de terceira ordem
iria requerer trs condies iniciais: x t( )0 , &x t( )0 , &&x t( )0 . A derivada terceira
seria dada pela equao diferencial. E assim por diante. A nossa partcula,
por sua vez, est se movendo somente em uma dimenso. Se o movimento
fosse em trs dimenses, teramos uma equao do movimento para cada
dimenso e seriam necessrias seis condies iniciais.
O nmero de graus de liberdade de um sistema igual ao nmero
de modos independentes no qual o sistema pode se mover. Assim,
precisamos de duas condies iniciais por grau de liberdade para dizer
como um sistema se move.
FORA APLICADA DEPENDENTE DO TEMPO
Para comear a desenvolver nossa intuio na soluo de problemas
mais complicados, interessante resolver problemas que possam ser
tratados por mtodos simples e que tenham soluo analtica.
O exemplo mais simples de uma lei de fora para a qual a Equao
(1.3) pode ser resolvida formalmente por integrao uma fora que
depende somente de t, F(t). Como a t dv t dt d x dt( ) ( )= = 2 2 , escrevemos a Equao (1.3) como
(1.16)
Integrando ambos os lados da Equao (1.16), obtemos
(1.17)
ddt
v tm
F t( ) ( )= 1
v tm
dt F t v tt
t( ) ( ) ( )= +1
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onde usamos a condio inicial = v(t). Como v(t) = dx(t)/dt,
repetindo o procedimento, temos para x(t)
(1.18)
Ento, substituindo a Equao (1.17) na (1.18),
(1.19)
ou
(1.20)
Esta a soluo procurada, x(t), em termos de duas integrais
que podem ser calculadas quando a fora F(t) dada. Uma integral
definida pode sempre ser calculada. Se uma frmula explcita no puder
ser encontrada, ento ela pode ser computada por mtodos numricos
com a preciso que for desejada. Os termos na soluo (1.20) so fceis
de entender. O primeiro onde a partcula comeou, a posio inicial.
O segundo termo descreve um movimento com velocidade constante v(t0),
que o que a partcula teria feito se no houvesse uma fora atuando
sobre ela. E o ltimo termo o efeito da fora.
Exerccio 1.3. Faa F(t) = F0 na soluo (1.20) e recupere a Equao (1.10).
Exemplo 1.2. Como uma aplicao menos trivial da Equao (1.20),
considere uma fora do tipo
(1.21)
Esta poderia ser a fora sobre uma partcula livre carregada
quando submetida a um campo eltrico oscilante ao longo da direo
x, de freqncia angular . A primeira integral na (1.20) d, tomando o instante inicial como sendo igual a zero,
(1.22)
&x t( )0
F t F t( ) cos( )= +0
x t x t dt v tt
t( ) ( ) ( )= + 0
0
x t x t dt v tm
dt F tt
t
t
t( ) ( ) ( ) ( )= + +
0 0
0 0
1
x t x t v t t tm
dt dt F tt
t
t
t( ) ( ) ( )( ) ( )= + +
0 0 0
10 0
F
mdt t
F
mt
t0
0
0 + = +
cos( ) [ ( ) ] sen sen
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Fazendo a segunda integral obtemos
(1.23)
O resultado final para x(t), supondo, por simplicidade, que a partcula
est inicialmente em repouso em x = 0,
(1.24)
Deixamos para voc, como exerccio, explicar a origem do termo
constante e do termo linear em t na Equao (1.24) em termos da fase
da fora no instante inicial.
EXEMPLOS DE FORAS DEPENDENTES DE VELOCIDADE
Considere uma fora dependente da velocidade, F(v), aplicada a
uma partcula que se move em uma dimenso. A segunda lei de Newton,
F = ma, toma a forma
(1.25)
Usando v = dx/dt, podemos reescrev-la
(1.26)
Para integrar esta equao, conveniente express-la como
(1.27)
Agora integramos os dois lados
(1.28)
onde, como de costume, colocamos uma linha nas variveis do integrando
para distingui-las dos limites de integrao.
A Equao (1.28) determina implicitamente v(t) em termos de
(t t0) e da condio inicial v(t
0). Uma vez determinado, podemos integrar
x tF
m
F
mt
F
mt( )
coscos( )= +0
20 0
2
sen
md xdt
F v2
2= ( )
mdvdt
F v= ( )
dt mdvF v
=( )
100
0
0
0
mdt dt F t
F
mdt t
F
m
tt t = +
=
( ) [ ( ) ]cos
sen sen
20 0
2 F
mt
F
mt
sencos( )+
dt t t mdvF vt
t
v t
v t = = 0 00 ( )( )( )
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A Figura 1.1 mostra uma van (que tem uma forma nada
aerodinmica mas simplifica nossos argumentos) movendo-se com
velocidade v. A van est sujeita a uma fora de arrasto de intensidade
dada por
(1.29)
onde S a rea da seo reta da van, o coeficiente (adimensional)
de arrasto e a densidade do ar. A fora (1.29) tem uma interpretao simples. A quantidade
(1.30)
para obter x(t) usando a outra condio inicial x(t0). Vejamos como isso
funciona em dois casos envolvendo uma fora dissipativa dependente da
velocidade, a fora de arrasto: (a) F = v, (b) F = mv.Antes, diremos o que uma fora de arrasto. Se voc apaixonado
por carros esportivos provavelmente j leu ou ouviu citarem coeficientes
de arrasto para realar as qualidades aerodinmicas de um carro. Ento
o que significa isso?
Figura 1.1: Van de seo reta S movendo-se atravs do ar com velocidade . a fora de arrasto.
F C SvA=12
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