Aula 06 - Estudo de Caso

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OFICINA DE “CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES PARA IMPLANTAÇÃO E UTILIZAÇÃO DO PRONTUÁRIO SUAS” A FAMÍLIA ALMEIDA Objetivo: Promover discussão sobre a centralidade do trabalho articulado entre rede de serviços no trabalho com famílias. Material Necessário: Tarjetas, 05 cartolinas brancas. Espaço: Sala ampla, com cadeiras móveis para trabalho em grupos. METODOLOGIA 1- Coordenador deverá dar boas vindas ao grupo. Após, formará cinco subgrupos. Em seguida, entregará uma cartolina em branco e uma tarjeta contendo uma situação de vida de uma pessoa para que o grupo pense em ações para resolução da problemática apresentada. O tempo determinado será de até 30 minutos. 2- O coordenador deverá orientar os participantes as elencarem as ações possíveis na cartolina, de forma que estejam expressas todas as etapas do atendimento à pessoa em questão.

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Estudo de caso (segundo dia)

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OFICINA DE CAPACITAO DE MULTIPLICADORES PARA IMPLANTAO E UTILIZAO DO PRONTURIO SUAS

A FAMLIA ALMEIDA

Objetivo: Promover discusso sobre a centralidade do trabalho articulado entre rede de servios no trabalho com famlias.

Material Necessrio: Tarjetas, 05 cartolinas brancas.

Espao: Sala ampla, com cadeiras mveis para trabalho em grupos.

METODOLOGIA

1- Coordenador dever dar boas vindas ao grupo. Aps, formar cinco subgrupos. Em seguida, entregar uma cartolina em branco e uma tarjeta contendo uma situao de vida de uma pessoa para que o grupo pense em aes para resoluo da problemtica apresentada. O tempo determinado ser de at 30 minutos.2- O coordenador dever orientar os participantes as elencarem as aes possveis na cartolina, de forma que estejam expressas todas as etapas do atendimento pessoa em questo.3- Encerrando o tempo disposto para realizao da tarefa, solicitar que um representante de cada grupo venha frente, cole sua cartolina na parede e faa a apresentao das aes.4- Aps a apresentao das aes elencadas pelos grupos, o coordenador dever ler a histria da famlia Almeida e refletir com o grupo o contedo da histria com as aes realizadas.

TARJETAS COM SITUAES PARA SEREM ENTREGUES AOS GRUPOS

Grupo 1 Dona Maria do Carmo foi procurar atendimento no CRAS. Solicitou uma cesta bsica alegando que o marido se encontra desempregado e o dinheiro do benefcio insuficiente. Tem quatro filhos, de 14 12, 04 e 02 anos, alm do seu pai com 65 anos, que reside junto com a famlia. Maria do Carmo no adere s reunies do servio, falta e, quando est presente, fica calada.

Grupo 2 A escola pede soluo para a situao de um adolescente, Paulo Henrique, de 12 anos, que frequenta as aulas irregularmente e vive perambulando pelas ruas. J foi abordado na rea central da cidade vrias vezes. Quando vai a escola, agressivo, faz consumo de drogas, agride outros alunos e os prprios professores. A escola ameaa dar transferncia compulsria.

Grupo 3 A adolescente Patrcia, de 14 anos, quando consultada pelo posto de sade, pelo setor de ginecologia, apresenta sinais de abuso sexual, identificados alguns hematomas e problemas ginecolgicos, atravs de exame clnico. Questionada pelo mdico, nega ter sido violentada.

Grupo 4 O senhor Marcos Almeida, 45 anos, est desempregado h 8 anos. Foi at a prefeitura procurar uma vaga de emprego, mas se encontrava alcoolizado. Era padeiro, quando tinha emprego fixo; agora, faz bicos de pedreiro, boia-fria, dentre outros.

Grupo 5 O Senhor Joo idoso, 65 anos, e recebe o BPC Benefcio de Prestao Continuada. Foi ao posto de sade passando mal, com diabete elevada devido a no fazer uso do medicamento necessrio e a m alimentao. Apresenta quadro de desnutrio.

A HISTRIA DA FAMLIA ALMEIDA

Dona Maria do Carmo casada com o senhor Marcos h 11 anos, com quem tem trs filhos, Paulo Henrique, Mariana e Joo Pedro. De outro casamento, que no deu certo, porque o marido a agredia diariamente, inclusive na gravidez, trouxe Patrcia, na poca com um ano de idade. Ambas vieram para casa do senhor Marcos desnutridas e machucada, pois o antigo marido da senhora Maria do Carmo, alm de agredir a ela e a criana, ainda as deixava passar fome. Na infncia, dona Maria foi criada por parentes que tambm a agrediam quando no cumpria as tarefas a ela determinadas. Os pais da mesma moravam no interior de Pernambuco e a mandaram para os parentes a fim de no passar fome onde estavam.

O atual companheiro de Maria do Carmo no a agride e, apesar de estar desempregado, sempre faz bicos para tentar sustentar a casa, esforando-se ao mximo para por comida na mesa. Infelizmente, ele usurio de lcool e acaba, quando bbado, ofendendo Dona Maria. Alm disso, ele sempre tratou bem sua filha Patrcia, como se fosse filha dele. Sempre gostou de cuidar dos filhos, at banho com as crianas ele tomava (quando eram pequenos). Para a menina, comprava roupas, sapatos e, depois que ela fez seis anos, comeou a comprar-lhe enfeites. s vezes, Dona Maria se recente disso, e fica um pouco enciumada porque ele nunca comprou nada para ela. Ele gosta muito de ficar em casa sozinho com a menina, que hoje tem 14 anos. Dona Maria do Carmo prefere sair e ir para a casa de uma vizinha conversar e tentar esquecer as coisas que s vezes, passa pela cabea dela.

Dona Maria gosta de ficar sempre quieta, fala s quando necessrio, principalmente porque o marido anterior a deixou com trs dentes quebrados e ainda no conseguiu arrum-los. Esse seu maior sonho. Mas j desistiu dele. Queria tambm trabalhar, talvez de costureira, mas analfabeta, porque teve que trabalhar cedo para ajudar os pais. Quando casou, o marido mandou que ficasse em casa e ela obedeceu, apesar de querer ao menos voltar a estudar, coisa que j desistiu.

Paulo Henrique, o filho de Maria, muito revoltado, sai e no fala pra onde vai. Anda com uma turma de barra pesada, envolvida com traficantes. A famlia no sabe se ele usa drogas e, quando o pai tenta question-lo, ele fica furioso e at j tentou agredir o mesmo. Sua revolta grande, porque sabe que o pai vem abusando de sua irm Patrcia, e a me nada faz para impedir. Ele tambm se revolta contra todos que esto volta, os vizinhos, a escola, a igreja, porque ele acha que todo mundo sabe e ningum faz nada. Busca atividades perigosas, usa drogas, fica pelas ruas, envolve-se em confuso, mas na verdade, queria que algum olhasse para ele e visse seu sofrimento. Seu maior medo pela irm de 04 anos.

O senhor Marcos Almeida, quando criana, sofreu abuso sexual de um vizinho. Quando cresceu, apresentou problemas sexuais, mas tentou de qualquer forma escond-los. Abusa da sua enteada desde quando tinha 05 anos. Acha errado, mesmo assim continua. Sabe que em sua casa quem manda ele, e este poder lhe do o direito sobre todos. Est desempregado h oito anos, mas sempre foi trabalhador. Os vizinhos tem orgulho de t-lo por perto. prestativo e respeitador para com os outros, nunca arrumou uma briga fora de casa, e nunca ergueu um dedo contra a mulher. Sabe que ela e a filha devem dar graas a Deus por terem vindo morar com ele. Infelizmente no consegue controlar a bebida, mas no reconhece isso, pois acha que pode parar quando quiser. Foi um excelente padeiro, porm depois que foi mandado embora, nunca mais conseguiu emprego, tambm no se qualificou, e hoje no sabe mexer com as mquinas mais modernas de padaria. Sente-se um lixo, humilhado e envergonhado por causa disso. E quando vai procurar emprego, sabe que no vai conseguir. Ento, para aguentar a humilhao e a frustao, acaba bebendo alguns goles.

O Senhor Joo vivo, perdeu a mulher h dois anos. Antes vivia somente ele e a esposa. Est na cidade h dez anos e ainda no se acostumou, pois morava no interior de Pernambuco. A filha Maria do Carmo, junto com o marido, senhor Marcos Almeida, no conseguiram mais pagar o aluguel e tiveram que vir morar com ele h cerca de um ano. Apesar de ser diabtico e viver apenas com o benefcio, ele conseguia comprar comida e os medicamentos, alm daqueles que conseguia no posto. Agora, a coisa ficou difcil, porque so muitas bocas em casa alimentar, e juntando o seu dinheiro com o pouco que o genro ganha, mal d para a comida. A alimentao que o mdico recomendou ele no pode mais fazer e isso o tem deixado mais debilitado. Acha que sua famlia tem muitos problemas, mas ningum d muita ateno ao mesmo. Ele est com depresso, sente falta da mulher e s vezes pensa na morte, porque seria uma libertao. Tem pena dos netinhos que tero que trilhar todo o caminho de sofrimento que essa vida oferece.

SANTOS, Adriana Aparecida. et al. Trabalho com famlias vulnerabilizadas: dinmicas orientadas na perspectiva do SUAS. Londrina: Ed. Mdia, 2006.